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SLLVANE MARIA MARCHESlNl o mSCURSO UNIVERSlTARJO NA PERS.PECTIVA LACANIANA Trabalho de monogralia apresentado para cumprimento das exigencias para 0 titulo de Pos-Gradual'iio em Psicanalise, em nivel de especializa- l'aO, it Universidade Tuiuti do Parana, sob oriental'ao da Professora Rosane Shirabayashi. (} () CURlT[BA 1997

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SLLVANE MARIA MARCHESlNl

o mSCURSO UNIVERSlTARJO NA PERS.PECTIVA LACANIANA

Trabalho de monogralia apresentadopara cumprimento das exigenciaspara 0 titulo de Pos-Gradual'iio emPsicanalise, em nivel de especializa-l'aO, it Universidade Tuiuti do Parana,sob oriental'ao da Professora RosaneShirabayashi.

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CURlT[BA1997

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SUMARJO

1 DELIMITA(:AO DO PROBLEMA2 JUSTIFICATTVA .3 OBJETTVO .4 REVISAo DE LITERATURA.

1233

4.1 INTRODU(:AO A TEORIA PSlcANALincA LACANIANA DAPRODU(:AO DOS QUATRO DISCURSOS ..

4.2 ESTRUTURA DOS DISCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICALACANIANA ... 6

4.2.1 0 discurso do mestre ..4.2.2 0 discurso da histerica4.2.3 0 discurso universitario ..4.2.4 0 discurso do ana1ista ..

7889

4.3 ALTERA(:AO EM NivEL DE EQUIVALENCIA DAS ESTRUTU-RAS DOS DISCURSOS NA TEORlA PSICANALiTICA LACANIANA. 10

4.4 0 DISCURSO UNIVERSITARIO E SUAS RELA(:OES COM OSDEMAIS DISCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICA LACANIANA. 13

4.50 DISCURSO UNIVERSrrARIO E POSSIBILIDADES DE ALTERA(:AO EM NiVEL DE EQUIV ALENCIA COM RELA(:AO AOSDEMAIS DISCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICA LACANLA-NA. 16

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 19

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I DELTMITACAO DO PROBLEMA

Verificayiio das possibilidades de a1terayao em nivel de equivalenciado funcionamenlo do discurso universilario, com relay8.o aos discursos domestre, da histerica e do analista, na perspectiva Lacaniana, teorizada noesquema denominado de quatro patas, para dernonstrayao da produyao dosdiscursos.

Jacques Lacan, em 1969, no seminario 0 avesso da psicamilisefazendo uma retomada do projeto Freudiano "pelo avesso", buscou distinguir"0 que estil em questao no discurso como wna estrutura necessilria, queultrapassa em muito a palavra sempre mais ou menos ocasional"

Prel'erindo urn discurso sem palavras, propos uma operayao logica,representada por maternas, denominada esquema de qualro patas, que fom13muma cadeia, uma sucessao de letras, uma illgebra que nao pode serdesarrumada, sendo possivel, uma operayao de quarto de giro, e a produyao dequalro estruluras, nao mais.

Discurso do Seuhor Discurso da Universidade

impossibilidllde

SI------->S2 S, --> a

$_--- a -----$impotcncia

- se esclarece por regressao do: - se esclarece por "progresso"no:

Discurso da Histcrica Discurso do Analista

impossibilidade

$----_S, a--------->$

a (-------S, S2_-----S,impotcncia

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Os lugares sao de: Os tennos sao:

o agente S"o significante (se-Io) mestreS,.o saberS, 0 sujeitoa, 0 mais-gozar

o outro

a verdade a produyao

Nesta logica, partin do da interpreta,ao do inconsciente, atraves daexterioridade do significante S,. que representa 0 sujeito junto a um outrosignificante, situa sua definiyao de discurso, do discurso concebido comoestatuto do enunciado S" que intervem numa bateria dos significantes, estadesignada pelo signo S" que integra a rede do que se chama um saber, nocampo ja estruturado do grande Outro.

Retomando, ponanto, em ordem inversa, 0 que fora inaugurado porFreud, embasado na tese do significante aquem do significado, do "significadopuro", neste aspecto antecedido pelo filosofo alemao Heidegger, penniteconceber 0 inconsciente (estruturado como uma linguagem que nao e do campoda lingOistica), levando a afmna,ao de uma confonnidade entre a linguagem eo ser, de uma verdade ontologica.

Especi ficando, ponanto, um aparelho inscrito na realidade doproprio discurso, do discurso que ja esta no mundo e que 0 sustenta, demonstraa "verdade parcial" do desejo inconsciente, a "verdade parcial" que surge daarticulayao de um significante que representa 0 sujeito junto a urn outrosignificante.

Tendo Lacan, ponanto, proposto quatro estrutmas de discurso, quaissejan], 0 discurso do senhor, 0 discurso universitario, 0 discurso da histerica eo discurso analitico, afmnando que somente neste ultimo, 0 saber doinconscieote surge 00 lugar da verdade, quer nos parecer que a melhorcompreensilo destes conceitos, possa nos remeter a llma veri ficayao priorizada,das possiveis alterayoes em mvel de equivalencia do discurso universihiriocom relayiio aos demais discursos, denotando-se quais os seus verdadeirospropulsores e respectivas enunciayoes.

2 JUSTlFICATIVA

A proposta desta exposiyao, e de que partindo-se do estudo daproduyao dos quatro discursos estruturados por Jacques Lacan, no esquema

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denominado de qualro palas, na leoria psicanalilica, assim como do lugar efun~ao em que se siluarn os elementos articulatorios representados pormalemas, e quais os seus reais propulsores e respectivas enuncia~oes,possamos verificar das possibilidades de altera~ao em nivel de equivalencia dodiscurso universilario com 0 discurso do mestre, da histerica e do analista.

Tendo eSle trabalho como principal tonica, 0 "discursouniversitario", e suas possiveis rela~oes com os demais discursos quecompiiem a estrutura proposta por Jacques Lacan, e de se enfatizar aqui, que sehi! uma preocupa~i!o contemporanea com 0 ensino universitario, e a busca denovas produ~oes cientiticas de modo geral, e em especial, no campo daschamadas ciencias human as, onde se constata que os metodos cientificosortodoxos sao de certa torma, insatisfat6rios a busca do saber, parece que 0estudo da produ~iio dos quatro discursos na estrulura psicanalitica pode noslevar a um melhor esciarecimento do que se passa na urtiversidade, ou seja, doque causa crise no ensino universitario.

Eo esperado que esta incursao no dispositivo Lacaniano pass a noslevar tambem, a uma reflexao, e a uma melhor compreensao do queefetivamente causa crise nas institui~oes em geral, e dos reais propulsores quecausam estagna,ao de paradigmas de conhecimento.

A inten,ao fundamental da presente exposi~ao e antes de mais nada,no tocante a sua teleologia, pensar "a partir do saber psicanalitico", numa"postura etica" diante dos conflitos hurnanos e sociais emergentesconcomitantemente com a ciencia contemporanea, que tenha como criteriobasico, 0 respeito ao primado da categoria do "vazio" e 0 principio da"alteridadc".

3 OB.IETIVO

Tendo Lacan proposto quatro estruturas discursivas possiveis, quaissejam, discurso do mestre, discurso da histerica, discurso do analista ediscurso univcrsitario, nos propomos, privilegiando a analise deste ultimo, averificar as possibilidades de articula,iio e a1tera~ao em seu nivel deequivalencia em rela~ao aos demais.

4 REVlSAO DE LITERA TURA

4. I INTRODU<;:AO A TEORIA PSICANALiTICA LACANlANA DAPRODU<;:AO DOS QUATRO D1SCURSOS

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Jacque Lacan, num esquema denominado de qualro patas, na teoriapsicanalitica, eslruturou a produ~ao de qualro discursos, quais sejam, discursouniversitfuio, discurso do mestre, discurso da hisu!rica e discurso do analista,utilizando-se de uma opera~ao logica, de uma algebra, para demonstrar lugar e[lm~ao em que se situam elementos aniculatorios representados por matemas:

u m h a

S, S,S, S, $ a $a

s, $ $ s, s, s,a

Os lugares sao de:

o agente o outro

a verdade

Os termos sao:

S,.O significante (se-Io) mestreS,.O saber$,0 sujeitoa, 0 mais-gozar

Oeste modo, portanto, lemos urn discurso sem palavras, paradistinguir 0 que esta em questao no discurso. Considerou, que mesmo sempalavras, 0 discurso pode muito bern subsistir em cenas rela~oes fundamentais,as quais, por sua vez nao subsistem sem a iinguagem, instrumento este, queinstaura rela~1ies instaveis, no interior das quais pode inscrever-se algo bemmais anlplo do que as enuncia~oes efetivas.

Para explicar como isto [uDciona, partindo da interpreta~ao doinconsciente, em nivel de eslrutura signi licante, atraves da exterioridade dosignificante mestre St, primeira marca a partir da qual surge a fala, e quedistingue, ou seja, representa 0 sujeito junto a um outro significante, situou suadefini~ao de discurso, do discurso concebido como estatuto, do enunciado S"

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que intervem numa bateria de significantes, esta designada pelo signo 5" queintegra a rede do que se chama um saber no campo ja estruturado do grandeoutro.

Este sistema, representado por esquema algebrico denominado dequatTO patas, surge de um quarto de giro, no qual outras raziles surgem, alemdo puro acideme de representa,6es imagimirias.

Especifica portanto, urn aparelho no qual s6 e possivel obter quatTOestruturas, nao mais, que produzem os discursos inscritos no mundo e que 0sustentam.

Nesta cadeia simb6lica, pouco importa a fomm das letras, mas sim 0algo de rela,6es que nela se manifestam. Ela situa 0 momento em que 51,intervem no campo ja constituido dos OUlrOS significantes 5" que ja searticulam entre si, e que ao intervir junto a um outro, do sistema, surge S(sujeito barrado), que e 0 sujeito como dividido. Sempre, desse trajeto deinterven,ilo de significantes, surge uma perda que se designa na teoria comosendo objeto a, representado pela letra a. E 0 que se denomina objeto perdido,ilusao do todo, que demonstra uma falta estrutural, sempre um resto de umaopera,ao, uma fenda, um furo, que causa 0 desejo.

E de sua fun,ao, do objeto a, do objeto perdido que surge 0 senti doda repetil'ao no ser falante.

naD se trata, na repetil(ao, de qualquer cfcito de memoria no sentidobioJ6gico.A repetic;ao [scm negrito no original] tern uma certa relac;:ao com aquila que,desse saber, e 0 limite - e que se chama gozo [scm negrito no original).Eis porque e de uma articulm;ao logica, que se trata na f"onnula pela qual 0

saber e 0 gozo do Outro [scm negrito no original]. Do Outro, obviamente, namedida em que faz surgir como campo - posta que naD ha nenhum Outro - ainterven,ao do significanle. (LACAN, 1992, p. 13).

o gozo mostra, portanto, 0 ponto de inseryao do aparelho,reportando aos limites, ao campo. Sai do que esta em questao no saber, do quee reconhecivel como saber, resultando a confusao, a qual, leva a reflexaoquanto aos "Iimites do saber", da "dimensao da verdade", e ainda quanto a"sair do sistema", em busca de sentido.

o limite, 0 obstaculo a que 0 saber se constitua como uma totalidadefechada, advem, portanto, das pr6prias vias do inconsciente, ou seja, dadialetica do saber com 0 gozo que produz um sentido obscuro de verdadc, aqual s6 pode ser dita por um scmi-dizcr, pois esconde a castr3l'aO, aimpotencia.

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Nesta linha de pensamento, a verdade sempre se apresenta como urnenigma, ganhando sentidos opostos, dependendo do lugar que ocupa nasestruturas dos discursos, quais sejarn, discurso do mestre, do universitario, dahisterica e do analista, numa rela~ao de tranm, de texto, de tecido, onde "nada etudo", "ou tudo como tal se renna, mesmo se baseia, em ter que ser reduzidoem seu emprego".

o verdadeiro s6 se encontra fora de toda a proposi~ao. E inseparaveldos efeitos da linguagem, incluindo-se ai 0 inconsciente, 0 inconsciente, dosujeito nao univoco."Ali onde penso nao me reconhe90, nao sou - e 0 inconsciente. Ali on de sou,e mais do que evidente que me perco."(LACAN, 1992, p. 96)

4.2 ESTRUTURAS DOS DlSCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICALACANlANA

Para demonstrar como se operam os discursos, Lacan se utilizou deuma opera9ilo 16gica, propondo uma dinamica, com quatro lugares, quatroletras, uma (mica seqUencia e urn operador: 0 um quarto de giro. Advem dai,discursos vizinhos, que segundo a teoria Lacaniana, se eSclarecem, e discursosque se situarn em posil'ao de avesso mn ao outro.

2 3 4

b d b c da

b d d a ba

Os discursos I e 2, I e 4, 2 e 1, 2 e 3, 3 e 2, 3 e 4, 4 e 3 e 4 e 1, saovizinhos. Sao discursos, para os quais se pode atravessar, com uma (micaOperal'aO de um quarto de volta. Jit os discursos I e 3, 2 e 4 sao avessos um emrela9ao ao outro, pois, se faz necessario duas operal'oes de urn quarto de giro,nao bastando apenas uma volta.

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Nilo M como passar de urn discurso que esteja em posiyao de aves soem relayao a oulro, sem passar pel a estrulura de urn lerceiro discurso.

Sempre nesta mesma orienta930, quatro lugares, quatro letras, cadauma com um nome, quais sejam:

Discurso do Senhor

impossibilidade

S, ----->S,

$~---

- se esclarece por regressilo do:

Discurso da Histcrica

$----~S,

a <-------S,impotencia

Os lugares sao de:

o agente o outTO

a verdade

4.2.1 0 discurso do mestre

8, 8,- -->-$ a

Discurso da Universidade

S, _ a

a S, ~----$impotcllcia

- se esciarece por "progresso" no:

Discurso do Analista

impossibilidllde

--------->$

S,~-----S,

Os termos sao:

S,.o significante (s1\-lo) mestreS, 0 saber$:0 sujeitoa, 0 mais-gozar

o agente o outro

a verdadc

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se apoia sobre a flm~ao de S,. 0 significanle mestre ocupa um lugar de umsignificanle idealizado, que prelende enunciar a verdade, ignorando que ela s6pode ser, um semi-dizer. 0 discurso do mestre, reduzido a um (micosignificante, representa algo que tem que ser elucidado, desdobrado para licarlegivel.

o S, se constitui do puro imperativo do mito do Eu ideal, do Eu quedomina, do Eu identico a si mesmo, "ou nao pen so, ou nao sou". Ele seesclarece por regressao do discurso da histerica, em apenas um quarto de giroem sentido contritrio.

4.2.2 0 discurso da histerica

S o agente o outro---> -

S, a verdade a produ~ao

tem 0 lugar do outro ocupado pelo S, e confere 0 estatuto de um Pai saber,enquanto verdade, um Pai ideal. A divisao do sujeito (S) e quem sustenta 0discurso no lugar de agente. Produz a ilusao de que 0 desejado pelo agente e 0saber.

o lugar da verdade e ocupado pelo objeto a, que juslifica tanlaprodu~ao de saber (S,), assim como demarca 0 dilaceranlento sintomatico dosujeilo no lugar de sua verdade.

o discurso da histerica nao e privilegio das mulheres, enquantoestrutura. Ele motiva 0 desejo de saber. lnterroga 0 discurso do mestre. Averdade surge como queda, como objeto a, ou seja, surge como queda do efeitodo discurso quebrado em algum ponto.o agente nesta estrutura de discurso, quer que se saiba, que a linguagemderrapa na amplidao daquilo que ele, 0 agente pode abrir para 0 gozo. 0agente, e 0 objetivo preciso neste contexto de discurso. 0 discurso hislericoinlerpreta 0 discurso do mestre.

4.2.3 0 discurso universililrio

S, a o agente o outro

s a verdade a produ~ao

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situa 0 significante mestre (8,), no lugar da verdade, de onde vai deduzir seusaber, saber este de estrutura universit<ina. Todo 0 saber deste discurso sebaseia no significante mestre (S,), que funciona como urn modeloidentif"icat6rio - oj um saber que se reveste das referencias aos mestres.

o significante mestre (S,) , a primeira marca, enquanto lugar deverdade f"ica ai acobertada. 0 sujeito dividido ($) oj 0 que ocupa 0 lugar daproduyao, e, 0 objeto a (a) enquanto falta e apontado no lugar do outro. 0discurso universitario reverencia 0 saber universal que 0 mestre propoe. 0lugar do agente, de dominante, e ocupado pelo (S,), batena de significantes,que se especifica por scr, nao sabcr-de-tudo, mas tudo saber. 0 que se afirmaai e a burocracia, por nao ser nada mais do que 0 saber. 0 lugar de ordem, demandamento e ocupado pelo (82), gerando tixavao de ideias ou acomodayaomental. 0 discurso universitario e a perversao do discurso do mestrc.

4.2.4 0 discurso do analista

$ o agentc o outro

S2 a verdade a prOdUy30

conf"igura 0 signiticante mestre S" em outro estilo, situando-o no lugar daproduvao e decretando que "0 pai oj aquele que nao sabe nada da verdade dosujeito". Este discurso en uncia 0 inconsciente, colocando 0 seu saber (82) nolugar da verdade, sobre a qual s6 se pode serni-dize-Ia. Sobre a qual s6 se podeintcrrogar.

OS, significante mestre, nos demais discursos, acha-se em condivaode alienavao, pois se apoia ao travo lmanO do Ideal de ED. Ja, no discursoanalitico articula-se ao Urn do Real, onde nao ha uma relavao identificat6ria, eremete para a ordem da letra, apontando para a impossibilidade de fazer 0 Urn.o lugar da verdade, aqui e ocupado pelo saber S" 0 qual para se estruturarcorretamente, precisa distanciar-se das origens, atravessando algo da estrutura.

o 8, ocupando lugar da produvao e interrogado, pois e nele que 0sujeito pode fazer Funcionar 0 seu saber em temlOS de verdade, ou seja, acordardaquilo que sabe.

o funcionarnento da experiencia analitica e a histerizavao dodiscurso, mediante condiyoes artificiais. Da ao outro, como sujeito, 0 lugardominante, como no discurso da histerica.

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4.3 AL TERACAO EM NivEL DE EQUTV ALENCIA DAS ESTRUTURASDOS DISCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICA LACANlANA

A no,30 psicanalica do discurso, no aporte Lacaniano, cujas origensnos remetem as fontes da descoberta freudiana, implica 0 sujcito em suacstrutu ra, e na sua genese, dil forma ao desenvolvimento de urna cisaosubjetiva.

Lacan caracteriza seu percurso pelo privilegio conferido em suainvestiga,30 ao imaginario, ao simbOlico e ao rcal, seguindo na interpreta,3oda fantasia em sua dependencia de urn corte da cadeia de significante,culminando na concep93o de uma T6pica "Borromeana" que situa 0 real noestatuto do impossivel. Esse desenvolvimento e sustentado peloreconhecimento, em cada urn desses domini os do imaginilrio, do simb61ico edo real, pelo primado da categoria do vazio.

Liga 0 discurso ao registro do real, pois no pr6prio interior dofenomeno da fala e possivel integrar os tres pianos, do simbOlico, representadopelo significantc, do imaginario, representado pel a significa~iio e do real, queeo discurso mantido realmente em sua dimens30 diacronica.

o fundamento da divcrsifica~iio, no registro da realidade, daestrutura geratriz do simb61ico - a da melilfora - e que opera na constru,aodas fom1as de discurso. 0 simb6lico sendo representado pelo significante,obedece suas leis, sobretudo a da constru,ao, decorrendo que 0 significantereprescnta urn sujeito para urn outro significante.

Sen do 0 discurso a reaUdade social da comunicaC;30, indaga-seacerca da cadeia significante: significado, signilicante substitutivo, e Lacan osdistingue sob a designa,ilo: "sitios" permanentes, "tcrmos" m6veis.

"Sitios" au "Iugares" pennanentes, compariveis aDs detenninantes estruturais da fala,na medida em que ocupam, na configura~'io do discurso, urna posiCao compamvcl adeles: na mctafora simbolica, 0 significado nao c representado imediatamente por urnsignificantc, mas remetido a 11m Dutro significa11lc; no discurso, a verdade nao Creprescntada imediatamente pOl' sell "agcnte" - na acep9ao do agentc de um poder audo mandauirio - mas junto ao "outro" que supostamcntc deve receber suacomllnica9ao. A esses tres detenninantes estmturais do diseurso se associani aindn umquarto, correspondente ao estatuto da "'signifieu9ilo", no {oennte it diacronia da fala-isto e, no rcgistro do diseurso, 0 si60 de uma "produ9iio" qualquer resultante doprocesso que sc acaba de descrcvcr.Quanto aos "tennos" moveis, chamados a ocupar altemadamentc cada uma dessasposi90es estTuturais, eles sao os elementos constitutivos de toda cadein falada,

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designados como significante Mestre au S[ , batcria significante au $2 , sujeito au Sbarrado, a au mais-gozar, residua da fala.Em suma, cada lipo de disCllfSO tem por funyao distribuir as quatro elementosdeslocaveis da cadeia significantc - SI , S2 , S barrado, a - entre as quatTO posiyoesconstitutivas da estmlura pennanente de todo discurso: verdade, agente, outro,prodw:;:ao.Numa aprcscntuyuo esqucnmtica, resta ainda inscrever 0 corte que proscreve, de urnlado, a imediayao entre a verdade e sua rcprescm3yao numa re\ay8o dual, de outro, aimcdia9ao entre 0 Jugar de encaminhamento da mensagem social e sua produyuo. Issasera assegurado pela, reintcgra<;ao da Barra, herdada da Saussure, do significante aosignificado, sob a fanna de uma barra representativa do duplo corte discursivo.Temos assim uma figurayao dos quatro discursos: do Mestre, do Histerico, doUniversitario, do Analista, sendo 0 genitivo tornado em sua acep<;ao objctiva de "arespcito de"

Discurso do Mestre Discurso do Universitario

s, s, s,-}

$ a s, $

oDiscurso do Histerico o Discurso do Analista

$ s, a $

a s, s, s,

Nao podcmos esquecer, de fato, 0 carater social de todo 0 discurso, e seu corol:irio: "0discurso do analista", dizia Lacan em seu seminurio de 1971-72 (coloquios de Sainte- Anne sobrc Le Savoir de psychanalyste), "nao apareceu por acaso ... Bern entendido,ja que e urn discurso do analista, ele assume, como todos os meus discursos, os quatroque nomeei, 0 sctltido do genitiv~ objetivo: 0 discurso do rnestre e 0 discurso sobre 0

Mestre, como bern vimos no Akme da epopeia filosofica de Hegel 0 discurso doanalista, e a mesma coisa, fala-se do analista, e ele 0 objeto a, como muitas vezessublinhei". (DICIONARIO ENCICLOPEDlCO DE PSICANALlSE: 0 Jegado de Freude Lacan, 1996, p. 131/132).

A sistematica dos "quatro discursos" no legado Lacaniano,detenninando quatro lugares em que se situam os elementos articulatorios,trata, portanto de urn nivel de equivalencia neste funcionamento, e da

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consistencia que pode surgir entre esses discursos, em busca de sentido, dadimensao da verdade, a qual so pode ser enunciada em urn semi-dizer, urnenigma. Do saber e do seu limite, - 0 gozo. Cada discurso, em sua disposiyaofundamental, mostra onde se alicerya, 0 que pretende dominar, amestrar, etambem mostra por onde pode pecar.

... A verdade, i550 se expcrimcnta, 0 que de modo algwn quer dizer que por isto ciaconhe~a mais do real, sobretudo se falamos do conhcccr, e se noslembramos doslineamentos do que indico sabre 0 real... e impassivel demonstrar-se como verdadciro 0 registro de uma articuiayao simb61icaque 0 real se situa, se 0 real se define como 0 impassive!. Eis 0 que pode servir-nospara mcdir nasso aIllor pela verdadc - c tambcm 0 que nos fazer toear de perto porque govcmar, educar, analisar tambem., e - pOf que mie? - fazer dcsejar, paracompletar com uma definiyao 0 que caberia ao d.iscurso da hislcrica, sao operayoes que,falando propriamcnte sao impossiveis. (LACAN, 1969 - 1970, p. 164/165).

Propos Lacan entilo uma relayao giratoria entre as posiyoes dosquatro discursos em busca de esclarecimento, das dimensoes da verdade e deseus limites, afimlando:

... Se quisermos que algo gire - e claro que em ultima instancia jamais pode girar, jasublinhei baslante 1SS0 - , nao e certamente por progressismo, mas simplesmenteporque isso nao pode parar de girar. Se OliO giru, range, bern onde as coisas colocamproblemas, quer dizer, no nivel do posicionamcnto de algo que se escreve a. (LACAN,1969 - t970, p. 170).

Objeto pequeno "a", que na teoria Lacaniana responde a diversosproblemas, mas sobretudo qualifica nosso objeto, designa nosso semelhante -quem e 0 outro? Quem e um semelhante? - nomeia a di ficuldade, surge nolugar de uma nao-resposta. Da-Ihe umnome, em vez de responder 0 problema.Nomeia um problema na~ resolvido, expressa uma ausencia. Uma perguntaque insiste sem parar.

Essa impossibilidade, portanto, designada pelo objeto a, disignatambem urn ponto de resistencia ao desenvolvimento teo rico fazendo surgira questao do - limite do saber -, sua dialetica com 0 gozo, dan do senti do arepetiyilo e a sua continua busca.

- Qual seria entao, 0 limite da proposta Lacaniana de giro nasposi,oes fundamentais dos quatro discursos, numa altemancia de equivalencianeste fUI1cionarnento?-

Na concep,ilo da topica borromeana, tomando-se 0 discurso como arealidade social da comunical'ao parece que 0 limite do giro proposto por

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Lacan, nas posi.,:oes radicais dos qualro discursos, - e da ordem da alteridadccomo tal, da subjetividade do outro discurso - , surgindo como corte naflexibiliza,ao e altemancia, em nivel de equivatencia do funcionamento dasestruturas dos d.iscursos.

Ou seja, a altera,ao em nivel de equivalencia das estruturas dosdiscursos na teoria psicanalitica Lacaniana, parece encontrar seu limite de giro,dos denominados "sitios permanentes" e "termos moveis", exatamente nasposi,oes radicais definidoras dos quatro discursos, quais sejam, do Mestre, doHisterico, do Universitario e do Analista, constituidoras da alteridade de cadadiscurso como tal, sendo possivel somente como tentativa de giro, uma especiede aproximavao atraves da altemiincia das divers as posi,oes de discurso,consideradas as suas diferen,as. Talvez, uma histeriza.,:ao dos demaisdiscursos, mediante condi,oes arlificiais como tecnica, para suscitar 0questionarnento dos demais, sem no en tanto, acabar com as diferen.,:as deposicionanlento de cada discurso, como lugar de posi,1lo estruturaL Demanulen,ao da ordem exislente no mundo.

4.4 0 DlSCURSO UNTVERSITARJO E SUAS RELACOES COM OSDEMArS DISCURSOS NA TEORIA PSICANALiTICA LACANTANA

A fonnula do discurso universitario (au discurso "dn" universidade) intervem noScmimirio 17 de Lacan, 0 avesso da Psicamilise (1996 - 1970) em contraponto aodiscurso da cicncia, na medida em que supostamemc manifcsta aquila de que esteultimo sc certifiea.o saber $2 ocupa nela 0 lugar dominante - 0 do sembi ante - lugar da ordem, doeamando, lugar primeiramcnle ocupado pela Mestre.

s,

"Como pode ser", pergunta Lacan, "que m10 se enconlrc nada de difcrcnte 110 nivel desua vcrdade semlo 0 significante mestrc 51 , na medida em ele que opera para transmitira ordcm do Mestre?".A razao e que apareceu como dominante - no lugar do scmblantc - "um saberdesnaturado de sua localizaC<10 primitiva no nivel do escravo, por ler se tornado purosaber do mestre, e rcgido por seu comando".Na segunda venente do diagrama, no lugar que 0 discurso do mestre e ocupado peloescravo, sc situa, no discurso da cicncia, a causa do desejo, a, a cstudante; quanto itp~odu'ta? ~esse di~curso da Univcrsidadc, ,Lacan the dtJ. como ~detennina}.ii?~~ClrcunstanClaS da epo~a, em t 969) as "umdades de valor" ~Illao conced~.(cjiIsaos . J'''')estudantcs. (D1CIONARIO ENCICLOPEDICO DE PSICANALiSE: 0 [<;gado de '"

Frcud c Lacan, 1996, p. 562). ~,~Ir::::;~::::;.~I~/

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Considerando-se que todo 0 discurso tern urna consistencia que is arnesma da estrutura do incollsciente, e que pressupoe urna questao que busca 0

saber sobre 0 ser em geral, saber especulativo, saber do gozo, faz-se necessarioesclarecer aqui, que se trata do gozo puro, diferente do gozo sexual, eslevinculado ao sofrimento, 0 gozo falico no qual esta implicada a negatividade(pulsao de morte). 0 Gozo puro, "constitutivo do ser falante enquanto gozo dosignificante verbal - Gozo do outro, da fala e da escrita ("0 escrito is 0 gozo",diz Lacan)". Gozo do saber, que coloca urn elemenlo do mundo comosignificante, decorrente de urna temporalidade di ferente, e que nao pode sersabido de modo absoluto. Isso 0 caracteriza como saber inconsciente. 0inconsciente is 0 saber e, por defini~ao, e um saber que nao sabe de si. Somenteo discurso pode enunciar realmente 0 illconsciente, quando nao desmente seudito por seu ato, apresentando-o como saber e gozo.

Todo 0 discurso pressupoe urna questflo indagatoria sobre 0 ser, edepende da atividade do pensamento, porem, persistindo juslamente pela faltado pensarnento, pel a falta da plenitude, ou seja, pela falta do gozo. Portanto,todo 0 discurso afirma-se como saber especulativo, ilusorio, saber do gozo.

Segue a estrutura timdamental do illconsciente, num nivel dearticula,ao significante que nao e da fala, pois subsiste sem ela visto que asenuncia~oes efetivas sao secundilrias face a presen~a constante de certosenunciados primordiais .

... Ha primeiramente 0 outro, [scm negrito no original] sem 0 qual 0 discurso na~ seproduziria. 0 outro nao e simpiesmente aqueJe a quem 0 discurso se dirigc, mas aqucleque questiona: 0 discurso advem como resposta signillcante a esse "~UITO", [semnegrito no original] Jugarda qucstao. rela questao que caloca, 0 Dutrocontcsta a ordemdo simb61ico e do mundo, e 0 Jugar que ele acupa na estrutura do discurso correspondeao do sujeito e do falo oa eadeia do inconscientc. Para esse Dutro, aque\e que sustenta 0discurso c, enquanto tal, significante. Lacan 0 determina como agentc. E por seu "ato"de discurso que 0 efeito se produz. Elc enuncia a tese fundamental, que e mIo apenascmcrgencia do significado, mas posiyao, no significado, do que c significante. 0discurso diz: Eis 0 que e preciso fazer, 0 que e 0 bem. E 0 discurso mio podcria lerconsistencia se a "verdadc" rsem negrito no original] que ele enuncia mio fossetambcm a verdade do agentc. Presenya do cspeculativo no discurso. 0 ultimo e1ementoda estrutura do discllfso e 0 cfeito produzido no outro e sabre 0 outro, 0 que Lacanchama dc produ~ao [sem negrito no original]. 0 discurso inteiro so e significante porcausa desse efeito. A estrutura do discurso aparcce, assim, constituida de elementos,cada urn dos quais c "significantc" [scm negrito no original] para aquele que 0precede, confonne a propria ordcm da cadeia do inconsciente. (JURANVILLE, 1984,p. 296/297).

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No discurso do Mestre, 0 mais comllm, tudo que lui no mundo devesubmeter-se a lei. Pressupoe um saber sobre tudo. A totalidade do saber.Segundo Lacan, a id6ia de que 0 saber possa consliluir uma totalidade 6imanente ao politico. 0 que surge no lugar da verdade 6 0 $, 0 sujeito barradoda castra,ao. Provoca no outro 0 aparecimento, a emergencia do objeto a,caracterizado como 0 mais gozar. Sustenta a realidade apenas da fantasia,bloqueando a sublima,ao. 0 senhor, Sl , (significante mestre), agente dodiscurso assujeitou-se a lei da castral'ao. Ele sublimou, renunciou ao "gozoabsoluto". Esse discurso nao caracteriza um modelo identificatorio queconduziria ao odio, pois ningucm quer se identificar com 0 mestre, que e quemsustenta 0 saber e faz com que os homens em sua existencia cotidianacontinuem a ser aquilo que eram. Nao permite a emergencia do novo. Naopossibilita a produ,ao no outro, do significante-mestre. E 0 discurso do desejo.

No discurso da Universidade 0 que se busca 6 a "verdadeira"mestria. AI6m do "discurso do senhor". Uma mestTia interior, (tese oposta aid6ia do inconsciente), colocada como ideal, e que por isso mesmo, se tornairrealizavel. Sua forn13 mais comum 60 discurso moral. Produz no outro comoefeito, faze-Io experimentar a sua falta ($). 0 agente do discurso, S, ,signiFicame-mestre em que se baseia, detem 0 "saber", mas nada al6m dosaber. Conserva e transmite 0 saber ja constituido experimentado pelos"grandes autores". E um saber verdadeiro, mas de referencia aos mestres. Nemo agente, nem 0 outro, acedem a sublima,30. 0 saber sublimatorio ( 0 escrito)nao se transmite ao outro. Tem como efeito um modelo identificatorio, afascina,ao por um modelo da lei, pelo qual sao assujeitados e que nao podematingir. 0 que se produz e 0 guardiao da letra.

No "discurso da Histerica", 6 que aparece 0 impeto da ciencia.Apesar de afimlar que 0 que e signi:ficante 6 0 objeto como mais-gozar, abusca do prazer, este aparece barrado, provocando 0 saber, por6m, um sabernao pleno, por ser animado pelo desejo. Quem 1l1ante1l1 esse discurso e 0sujeito, que sublimou como todos os outros agentes dos demais discursos, masnao excessivamente. Supoe 0 outro como sendo 0 senhor, que adquiriu saberverdadeiro, tambem pela sublima,ao. 0 faz seu ideal e 0 ama como "sujeitosuposto saber". A situa,ao que instaura 6 a da "transfereocia", comoresistencia a analise. A verdade do saber nesse discurso esta no sintomaevocado, e que pemll111eCe exterior ao discurso. Ha jogo de identifica,aoneurotica do sujeito com 0 outro. Provoca a prodU,30 do saber, ainda queinc01l1pleto, e, suscita a ilusao de que 0 que e desejado 6 0 saber.

No discurso do analista, 0 que surge no lugar da verdade 6 0 saberinconsciente, que nao falta e que ja se tern. 0 saber 6 que 6 significante, e quecoloca como significante supremo um outro significante. 0 analista no lugar doagente, provoca no outro a produl'aO do significante paterno, Sl , assegurando a

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identifica,iio imagillliria com 0 pai simb6lico. Possibilita a passagem doanalisando il sublima,iio, atraves do trabalho do luto .

.. Etc nao pode senao suportar a identifica<;3o com 0 pal simbalieo que a situat;aoanalitica produz, e que suscita. pela trunsferencia, 0 aparecimento da estrutura propriado discurso da histenca. A "impotencia", no discurso analitico, assume seu sentidopositivQ de ser 0 proprio desejo, de um lado, e a libcrdade, do outro. 0 analista na~ esimplesmente 0 objeto, mas a Coisa, rsem negrito no original] e sublimar, para 0

sujcilo, e suportar que 0 analista nao seja apenas 0 objeto de sua fantasia, e "eleva!" 0objeto a dignidade da Coisa" [scm ncgrito no original], tomando a realizar 0 atoeriador peJo qual desde 0 lugar do Outro simballeD, a letra se produz sabre a pagina-que C, no caso, 0 proprio analista. Essa identificU(;:ao imaginiuia com 0 pai simbolico,propria da sublima~ao, nao constitui nenhuma mestria em si mesma. Nao lui "efeito demestria" no contexto do discurso analitico. E, se Lacan nota que 0 discurso analitico fazreaparecer 0 discurso do senhor, que no entanto e seu "avesso", isso se da por urnaruptura do processo sublimatorio. "Ter adquirido a sublimayao", se podemos dize·10,leva a descmpcnhar 0 papel do senhor e a portar seu discurso. 0 discurso analitico naovisa a nenhuma mcstria como faz 0 discurso universitfuio. Tampouco c ato de senhorque introduza 0 sujeito nessa mesma mestria. Nao ha inicia~ao, diz Lacan. Se ele e umsaber nao iniciatico, esclarece Lacan, c por nao ser cnsinado pe1as vias diretas do gozo,todas eondicionadas pelo fracasso fundador do gozo sexual. Ele se estabelece, aocontnllio, no ponto onde se separam 0 gozo sexual e 0 gozo constitutivo do ser falante.Separa~ao suja efloresccncia e scmpre curta e limitada, segundo a fonnula que jamencionamos. Essa formula sublinha, efetivamente, que a situa~ao analitiea, quepennite 0 acesso a sublima~ao e ao gozo puro, impliea scm duvida 0 gozo sexual, masdeve rcmctc·lo a outros campos. 0 diseurso analitico scpara 0 gozo do OUtTOdo gozosexual. Fazendo camprovar a verdade do inconscientc em seu gozo especifico, aomesmo tempo que enuncia 0 inconsciente como saber inconsciente, ele e plenamente- (mico entre os outTOS discursos - urn discurso sabre 0 inconsciente.(JURANVILLE, 1984, p. 303/304).

4.5 0 D1SCURSO UNIVERSIT ARlO E POSSIBILIDADES DEALTERA<':AO EM NIVEL DE EQUIV ALENCIA COM RELA<':AO AOSDEMAIS D1SCURSOS NA TEO RIA PSICANALITlCA LACANIANA

Dianle da fundamenta,ao te6rica apresentada, e em conseqiiencia dorecorte doutrinilrio realizado no presente trabalho, parece possivel, nestemomento, pensar na possibilidade de, - respeitadas as posi,oes radicais dosquatro discursos no dispositivQ psicanalitico - propor como altera,ao em nivelde equivalencia do Discurso Univcrsihirio com rela,iio aos demais discursos-, wua aproxima~ao com 0 discurso do Senhor, da Histerica e do Analista.aproxima~iio esta, a ser considerada dentro das varianles metod016gicas queoperacionalizam a busca do saber, numa tentativa de suscitar no sujeito, comodiz Lacan (1992, p. 100): 0 "desejo de saber" - pulsiio epstemo16gica".

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Esta proposta pensa na possibilidade de apjica~ao nas universidadese nas institui~oes em geral, da tentativa de ocorrencia de Transmissao doSaber, como forma particular de ensino ou produ,ao, que encerre umaforma~iio dialCtiea, na qual 0 sujeito cifrado deve estar implicado,interrogado, enquanto sujeito da experiencia. A rela~ilo girat6ria, dentro deseus limites, surgiria com aiterniincia dos "termos moveis", nos lugaresdenominados "sitios permanentes", numa tenlativa nao s6 de expor 0Diseurso do Senhor, mas de questionamento desse discurso alraves doDiseurso da Histeriea e de analise critica em busca de verdades, atraves doDiseurso do Analista, considerando-se que, a verdade, con forme afirmaLacan (1992, p. 166): " ... algo a protege, algo que chamaremos irnpotencia".

"A epsteme se constitui par uma intcrrogavao, par uma dcpuracilo do saber", (LAC AN,1992, p. 140).

Portanlo, em conformidade com a teoria psicanalitica, para que algogire, ainda que 0 giro nao seja possivel em iJltima insHincia, e 0 DiseursoUniversitario, possa se renovar, numa tenlativa de busca de saber, nilo apenasreproduzindo atraves da comunica,ao e assirnila~ao, 0 saber constituidoexperimentado pelos mestres, - mas produzindo uma subversao da rela~ao dosujeilo com 0 saber, atraves da Transmissao que esta vinculada ao trabalho deTransfereneia, (meio de aceder ao saber pelo vies do la~o amoroso,descoberta Freudiana, cujo desdobrarnento conceitual, os tins e os limites dopresente trabalho nao comportam) -, e que considera "a dissimetriafundamental que afela a rela,ao do sujeito ao Outro", e a "funyao do sujeito-sujeito do inconsciente -, na fomla,ilo", (CABAS, p. 15), e - de se destacarque:

.•... 56 se enconira 0 verdadciro fora de tada a proposiyao. Dizer que a verdade einscpanivei dos cfcitos da linguagem tomados como tais e incluir ai 0 inconscientc."LACAN, 1992. p. 59).

- e ainda, que:

"... de que 0 saber interrogado em fnneao de vcrdade tcnha tim scntido ... " (LACAN,1992, p. 102).

- A contribuiyao da teoria psicanalitica na atualidade para 0Discllrso Universitilrio, de modo geral, pode-se dizer, se constitue nao s6 de

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um arcabou90 te6rieo, mas tambem de sua experiencia analitica em que possase instituir a "histcriza~ao do diseurso", mediante condi,oes artificiais.

Se para a psicanalise 0 discurso demostra a "verdade parcial" dodesejo inconsciente, a "verdade parcial" que surge da articula9ao de umsignificante, que representa 0 sujeito junto a um outro significante, e que,somente atraves do Diseurso Analitico, 0 saber do iDeoDscicnte surge DOlugar da verda de, quer nos aparecer que, nesta 16gica de discurso concebidocomo estatuto do enunciado S, (0 significante (se-Io) mestre), que intervemnuma bateria de significantes S, (a rede que se chama um saber), maisproducente e menos repetitivo, poderia vir a ser 0 Diseurso Universitario, senas institui,oes, se Jlossibilitasse uma 'Iproxima,iio a1temada com as demaisposi90es radicais de discursos para que as verdades dos saberes ja constituidosdos meSlres (S,), nao ficassem fixadas, acobertadas, mitificadas, e emergisse,islo sim, mais conhecimento decorrente da articula,iio dos inumerossignificantes. Assim, provavelmente, se possibilitaria 0 surgimento constantede novos conhecimentos, procurando-se, evitar a rotina de ensino ou deprodu9ao e a estagna,ilo de pensamento.

Relembrando-se que, todo 0 discurso tem a consistencia que e amesma da estruturada do inconsciente, e que pressupoe LUnaquestiio que buscao saber sobre 0 ser em geral, seria de se procurar manter atraves daTransmissao, a qual deve se constituir numa experiencia dialelic",analogican1ente ale onde for possivel, com 0 que ocorre no fenomeno analitico,a questao da dimensao do sujeito, e do la90 anlOroso da TransfereDeia,apontando para 0 real que ele (0 la90) encobre, por uma via que Transeendeao sentido. De se procurar lidar com "algo" que resiste e que faz embara90,obstaculo ao simb6lico, buscando a implica,ilo do sujeito do ineonseiente nafo011a930, visando nao s6 a sua compreensiio das coisas, mas interrogando asua pr6pria posi,ao em rela,ilo a experiencia, enquanto sujeito cifrado. De setentar, portanto, lima "aproxima~ao" das posi~5es radicais dos quatrodiscursos expostos no dispositivo lacaniano, experimentando altera,oes nosrespectivos niveis, e, considerando-se 0 "vazio" que faz corte demarcando a"alteridade" dos respeclivos campos.

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