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É POSSÍVEL PENSARMOS EM SELEÇÃO MERITOCRÁTICA PARA OCUPAÇÃO DE CARGOS COMISSIONADOS: OS CASOS
DE PERNAMBUCO E DO RIO DE JANEIRO
Laura Angélica Moreira Silva
Rosandra Elizabeth Padron Armada Renata de Araújo Rodrigues
Bruno Bondarovsky
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Painel 03/001 Dimensionamento da Força de Trabalho, Alocação de Pessoal e Ocupação de Cargos
É POSSÍVEL PENSARMOS EM SELEÇÃO MERITOCRÁTICA PARA OCUPAÇÃO DE CARGOS COMISSIONADOS: OS CASOS DE
PERNAMBUCO E DO RIO DE JANEIRO1
Laura Angélica Moreira Silva Rosandra Elizabeth Padron Armada
Renata de Araújo Rodrigues Bruno Bondarovsky
RESUMO
Partindo do pressuposto de que o servidor público, enquanto recurso humano conduz
as políticas públicas, tenta-se traçar aqui um breve debate sobre como a gestão de
recursos humanos é tratada. Previamente pode-se afirmar que há, por parte da
população, certa desconfiança no servidor público, principalmente naqueles que
ocupam cargos comissionados. Frente o exposto, o objetivo deste trabalho é resgatar
a importância da seleção meritocrática para a ocupação de cargos comissionados por
meio de processos seletivos públicos que se sujeitem a critérios e avaliação
sistemática e transparente do seu desempenho. A metodologia se debruça no escopo
qualitativo, a saber, levantamento bibliográfico e documental acerca da temática e
estudo de dois casesaqui considerados de sucesso, um no estado de Pernambuco, e
um na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados mostram que ferramentas voltadas
para a meritocracia favorecem a alocação de pessoas, principalmente se o método
seguir o perfil de competências individuais, para além do conhecimento técnico. Para
além, infere-se que o método de seleção não foi o mesmo, afinal cabe à administração
considerar suas especificidades e necessidades.
1 Este trabalho é o resultado parcial do Curso Master em Liderança e Gestão Pública, coordenado pelo Centro de Liderança Pública.
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1. INTRODUÇÃO
É de conhecimento que a partir dos anos 90 a gestão de políticas públicas no
país incorpora algumas variáreis presentes na chamada “Nova Gestão Pública”
(NGP). A NGP possui algumas características próprias, a saber, em sua vertente
econômica, a presença de ajustes estruturais, ideais de reengenharia, contabilidade
gerencial e o equilíbrio fiscal. Já em sua vertente administrativa absorve-se a ideia de
qualidade nos serviços públicos, a busca por uma gestão estratégica com foco em
resultados, a incorporação de ideias acerca do governo eletrônico e a transparência
administrativa. Em uma última vertente, a chamada sociopolítica, a administração
pública possui foco na sustentabilidade, na democracia participativa, na gestão e no
controle social, na territorialidade das políticas públicas e no cooperativismo, além do
desenvolvimento humano integrado (COELHO, 2012).
No Brasil as vertentes acima são passíveis de implementação, contudo as
mesmas acabam por ocorrer sempre muito aquém da qualidade e efetividade
desejáveis gerando, por consequência resultados considerados irrelevantes ou
mudanças lentas que o cidadão tampouco (re)conhece.
Frente à existência do pacto federativo, União, estados e municípios possuem
responsabilidades e colaboram com o desenvolvimento das políticas públicas,
contudo, pode-se inferir previamente o quão complexas são as competências de cada
ente federado e na esteira desse debate o quão complexas podem ser as habilidades
dos servidores públicos, além dos conhecimentos necessários que cada servidor
público deve adquirir para que as políticas públicas alcancem seu público alvo.
A expressão “servidor público”, surgiu em conjunto com a Carta Magna de
1988. Anteriormente, esses sujeitos recebiam a nomenclatura de “funcionários
públicos” e independente do título são comumente compreendidos como “burocratas”
que tendem a dificultar quaisquer processos. Resumindo, os “servidores públicos” não
são bem avaliados e tendem a serem colocados na berlinda. Esse capital humano
considerado por alguns pouco valorizado e tecnicamente visto como deficiente é o
recurso disponível, ou à mão, para o desenvolvimento de tarefas meio, que deságuam
na atividade fim da administração pública, ou é até mesmo alocadoem áreas
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finalísticas possuindo a capacidade (ou não) de implementar as políticas públicas em
si.
A renovação de quadros para gerar maior profissionalização do serviço público
é neste trabalho compreendida como primordial, contudo, poucos modelos de
recrutamento e seleção de pessoal ocorrem e existem de forma meritocrática no País.
O concurso público, tal como se encontra estruturado na atualidade, como elemento
de entrada na administração pública, é aqui compreendido como um formato de
entrada, contudo, não se configura como ferramenta mais adequada para o
provimento de cargos frente os desafios da nova gestão pública.
A alternativa utilizada por muitas instituições públicas é valer-se de cargos
comissionados de livre provimento para o recrutamento de especialistas não
disponíveis entre os servidores públicos. Todavia, questiona-se se a ocupação desses
cargos comissionados ocorre, tal como se consideradesejável, por meio de processos
seletivos públicos, ou, se na prática, verifica-se o que podemos intitular de “loteamento
político”, ação de contratação em que o líder do Executivo local, estadual ou federal
se utiliza dos cargos disponíveis como estratégia para acomodar pessoas, seja por
vontades próprias ou partidárias, ou se tais profissionais são nomeados por meio de
convites devido ao conhecimento e know-how que o mesmo possui em outros setores
(que não o público). A importância de se discutir tais pontos também se ampara na
falta de um debate empírico sobre o tema, o que acaba por ofuscar demais variáveis
inerentes a esta ferramenta de nomeação para as posições de confiança.
No sistema político-administrativo atual, os chamados cargos comissionados
apresentam-se para os servidores públicos e porque não para a população como algo
dual, ora avaliado de forma positiva, frente à possibilidade de ocupação por
profissionais capazes de agregar à administração pública, ora como ferramenta
privada de alocação de pessoal. Dito isso, este trabalho pretende resgatar a
importância da seleção meritocrática para a ocupação de cargos comissionados por
meio de processos seletivos públicos que se sujeitem a critérios e avaliação
sistemática e transparente do seu desempenho. A metodologia escolhida se debruça
no escopo qualitativo, a saber, levantamento bibliográfico e documental pertinente à
temática e estudo de dois casesaqui considerados de sucesso, um no estado de
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Pernambuco, que se destaca pela criação de uma metodologia de seleção e
recrutamento interno para servidores interessados nas vagas disponibilizadase umna
cidade do Rio de Janeiro, o chamado “Programa Líderes Cariocas”. Após análise de
ambos os casos, os resultados demonstram que ferramentas voltadas para a
meritocracia favorecem a alocação de pessoas, principalmente se o método seguir o
perfil de competências individuais, para além do conhecimento técnico. É possível
inferir também que o método de seleção não foi o mesmo, afinal cabe à administração
considerar suas especificidades e necessidades, contudo ambas partem de um
mesmo princípio, o da meritocracia.
2. MERITOCRACIA NA GESTÃO PÚBLICA BRASILEIRA ATUAL
Historicamente, a Constituição Federal (CF) de 1988 é compreendida como
marco, frente à possibilidade de analisarmos a burocracia e a política no Brasil em
dois principais momentos: a CF marca a transição de um regime autoritário para um
regime democrático, além da transição de uma administração pública burocrática para
formas de administração pública gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2010). Ressalta-se
que este não é um movimento completo, existindo ainda desafios a serem superados
pela gestão pública brasileira, ao passo que há conquistas, como por exemplo, os
avanços em alguns processos de controle social e transparência, gerando, por
consequência, certo cuidado e preocupação por parte dos governantes com a oferta
a qualidade dos serviços prestados.
A literatura pertinente ao tema e que elenca as ferramentas de gestão reforçam
o uso de métodos em busca da eficiência. Ou seja, nos é de conhecimento que
incorporada à literatura acerca da Nova Gestão Pública, percebe-se que “a
administração pública tem-se tornado mais eficiente, mais transparente e voltada para
o usuário; mais flexível e mais focada em desempenho” (PACHECO, 2010, p.187).
Compreendem-se como