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/ Nossa capa / l Março 2005 l l .20 l l www.cultivar.inf.br l v A produção pecuária no Brasil, em função da extensão territorial e viabilidade econômi- ca, está fortemente embasada em pastagens. Embora a mai- oria das áreas com pastagens cultiva- das, quando bem manejadas, sejam con- sideradas áreas com cultura perene, o que se verifica na prática é que grande parte destas pastagens (60 a 80%) apre- sentam algum grau de degradação, ne- cessitando de ações de recuperação ou renovação destas áreas para atingir/ manter os índices de produção deseja- das pelo produtor. Neste sentido, a degradação de pas- tagens pode ser vista como o processo evolutivo de perda de vigor, de produ- tividade e de capacidade de recupera- ção natural das pastagens para susten- tar, economicamente, os níveis de pro- dução e de qualidade exigida pelos ani- mais, assim como o de superar os efei- tos nocivos de pragas, doenças e plan- tas daninhas, culminando com a de- gradação avançada dos recursos natu- rais, em razão de manejos inadequados. De uma maneira mais simples, a de- gradação da pastagem, dependendo do grau em que ela esteja, pode provocar a redução na produção de forragem, o aparecimento de invasoras, a diminui- ção da área de solo coberta pela vegeta- ção e a erosão do solo provocada pela chuva. O processo de degradação das pas- tagens pode ser comparado a uma es- cada, onde, no topo, estariam as con- dições que garantiriam maiores produ- tividades de forragem (Figura 1). No entanto, à medida em que se desce os degraus, avança-se no processo de de- gradação. Até um determinado ponto, ou um certo degrau, haveria condições de se conter a queda na produção de forragem e manter a produtividade do Além da redução na produção de forragem, a degradação provoca ainda o aparecimento de invasoras e a erosão Miguel compara o processo de degradação das pastagens a uma escada; no topo estariam as condições ideais do pasto Walter Ney Ribeiro Embora a maioria das áreas com pastagens cultivadas, quando bem manejadas, sejam consideradas áreas com cultura perene, o que se verifica na prática é que grande parte destas pastagens (60 a 80%) apresentam algum grau de degradação

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Aprodução pecuária noBrasil, em função daextensão territorial eviabilidade econômi-ca, está fortemente

embasada em pastagens. Embora a mai-oria das áreas com pastagens cultiva-das, quando bem manejadas, sejam con-sideradas áreas com cultura perene, oque se verifica na prática é que grandeparte destas pastagens (60 a 80%) apre-sentam algum grau de degradação, ne-cessitando de ações de recuperação ourenovação destas áreas para atingir/manter os índices de produção deseja-das pelo produtor.

Neste sentido, a degradação de pas-tagens pode ser vista como o processoevolutivo de perda de vigor, de produ-tividade e de capacidade de recupera-ção natural das pastagens para susten-tar, economicamente, os níveis de pro-

dução e de qualidade exigida pelos ani-mais, assim como o de superar os efei-tos nocivos de pragas, doenças e plan-tas daninhas, culminando com a de-gradação avançada dos recursos natu-rais, em razão de manejos inadequados.De uma maneira mais simples, a de-gradação da pastagem, dependendo dograu em que ela esteja, pode provocara redução na produção de forragem, oaparecimento de invasoras, a diminui-ção da área de solo coberta pela vegeta-ção e a erosão do solo provocada pelachuva.

O processo de degradação das pas-tagens pode ser comparado a uma es-cada, onde, no topo, estariam as con-dições que garantiriam maiores produ-tividades de forragem (Figura 1). Noentanto, à medida em que se desce osdegraus, avança-se no processo de de-gradação. Até um determinado ponto,

ou um certo degrau, haveria condiçõesde se conter a queda na produção deforragem e manter a produtividade do

Além da redução na produção de forragem, a degradaçãoprovoca ainda o aparecimento de invasoras e a erosão

Miguel compara o processo de degradação das pastagens auma escada; no topo estariam as condições ideais do pasto

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Embora amaioria dasáreas compastagenscultivadas,quando bemmanejadas,sejamconsideradasáreas comcultura perene, oque se verificana prática é quegrande partedestas pastagens(60 a 80%)apresentamalgum grau dedegradação

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pasto por meio de ações de manejomais simples, diretas e com menorescustos operacionais. A partir desseponto, estabelece-se o processo de de-gradação propriamente dito, em queapenas ações de recuperação ou reno-vação, muitas vezes mais drásticas e dis-pendiosas, apresentariam respostas ade-quadas. O final do processo culmina-ria com a ruptura dos recursos natu-rais, representada pela degradação dosolo com alterações em sua estrutura,evidenciadas pela compactação e a con-seqüente diminuição das taxas de in-filtração e capacidade de retenção deágua, causando erosão e assoreamentode nascentes, lagos e rios.

As principais causas da degradaçãodas pastagens são apresentadas no Qua-dro 1 (página 22).

É importante destacar que quanto

maior o grau de degradação da pasta-gem (mais baixo o degrau da escada),maiores serão os custos financeiros e anecessidade de máquinas e equipamen-tos para a recuperação/renovação des-ta área, valendo a máxima que é sem-pre melhor prevenir do que remediar,estando o produtor atento às boas prá-ticas de manejo da pastagem, evitandoações que ocasionem a degradação daspastagens (Quadro 1) e, conseqüente-mente, comprometa a sustentabilidadedo sistema de produção.

Assim, na Fase de Manutenção (Fi-gura 1), ações simples e diretas, combaixos custos operacionais, como ajus-tes nas taxas de lotação, a vedação daárea e a realização de correções e adu-bações sem o revolvimento do solo sãocapazes de restaurar a produtividade daárea. Na Fase de Degradação da Pasta-

gem, normalmente são necessáriasações mais drásticas e dispendiosas:necessidade de revolvimento do solo(arações e gradeações); correções e adu-bações mais pesadas com necessidadede incorporação; controle de pragas(cupins, formigas etc.); e controle quí-mico ou mecânico de plantas invaso-ras. Finalmente, na Fase de Degrada-ção do Solo serão necessárias práticasde conservação do solo (terraceamen-tos, diques de contenção, aterros etc.)bastante onerosas.

Conceitualmente, a recuperação depastagem seria o restabelecimento daprodução de forragem, de acordo como interesse econômico, mantendo-se amesma espécie ou cultivar, enquantoque a renovação da pastagem seria orestabelecimento da produção de for-ragem, com a introdução de uma nova

Recuperarou renovar?A partir do início do processo de degradação, apenas ações derenovação ou recuperação, muitas vezes drásticas e caras, podemdevolver à pastagem condições de manter a produção de forragem

Recuperarou renovar?A partir do início do processo de degradação, apenas ações derenovação ou recuperação, muitas vezes drásticas e caras, podemdevolver à pastagem condições de manter a produção de forragem

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Quanto maior ograu dedegradação dapastagem (maisbaixo o degrauda escada),maiores serão oscustosfinanceiros e anecessidade demáquinas eequipamentospara arecuperação/renovação destaárea

Josimar Lima

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Quadro 1- Principais causas da degradação das pastagens

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espécie ou cultivar em substituiçãoàquela em degradação. A recuperaçãoou renovação da pastagem pode ser fei-ta de maneira direta: sem a utilizaçãode culturas anuais/agricultura; ou indi-reta: com o auxilio de culturas anuais/agricultura (por exemplo: milheto, sor-go forrageiro, milho, arroz, soja etc.), oobjetivo desta prática é o de aproveitara adubação residual empregada no pas-to anual ou lavoura para recuperar aespécie da pastagem existente ou intro-duzida com menores custos.

Uma vez instaurado o processo dedegradação da pastagem, e tomada adecisão, por parte do produtor, de de-ter o processo de degradação e restau-rar a capacidade de produção de forra-gem da área, a pergunta a ser respondi-da será: como recuperar ou renovar apastagem? Quanto da área de pastagem,quando recuperar ou renovar e quaisas técnicas e insumos a serem utiliza-dos na recuperação/renovação é fun-ção de diversos fatores, sendo aconse-lhável o produtor utilizar assistênciatécnica especializada, uma vez que deve-se levar em consideração aspectos comoo grau de degradação da pastagem (di-agnóstico da área: stand da espécie for-rageira, presença de banco de semen-tes, fertilidade do solo, presença deinvasoras etc.), qual a utilização futu-ra da área recuperada/renovada (esco-lha da espécie forrageira, utilizaçãomais ou menos intensiva, exigêncianutricional dos animais que utilizarãoa pastagem etc.), disponibilidade demáquinas, conhecimento das técnicasa serem empregadas e capital disponí-vel. Somente após uma análise criteri-osa destes fatores é que o produtor de-verá definir como recuperar ou reno-var sua área de pastagem.

Lavoura-pecuária

O sistema de integração lavoura-pecuária tem se mostrado uma alter-nativa bastante interessante e eficientede manutenção da produtividade depastagens e de recuperação/renovaçãoindireta de pastagens nos Cerrados doBrasil. Este sistema permite um usomais racional de insumos, máquinas emão-de-obra na propriedade agrícola,além de diversificar a produção e o flu-

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Figura 1 - Representação esquemática dor processo de degradaçãode pastagens em suas diferentes etapas no tempo (Macedo, 2001)

• Germoplasma (espécie / cultivar) inadequado ao local

• Implantação inadequada da pastagem

•utilização de sementes de baixa qualidade•ausência de práticas de conservação do solo (terraceamento)•preparo inadequado do solo•ausência de correção da acidez (calagem) e/ou adubação•plantio inadequado (época, distribuição, profundidade,incorporação etc. das sementes)•manejo animal inadequado na fase de formação da pastagem

• Manejo e práticas culturais

•uso de fogo como rotina•métodos, épocas e excesso de roçagem•ausência ou uso inadequado de adubação de manutenção

• Ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras

• Manejo animal

•excesso de lotação (superpastejo, principalmente na época seca)•método inadequado de pastejo

O sistema deintegraçãolavoura-pecuáriatem se mostradouma alternativabastanteinteressante eeficiente demanutenção daprodutividade depastagens e derecuperação/renovaçãoindireta depastagens nosCerrados doBrasil

Custo (@/ha) (R$/ha)

Receita(@/ha) (R$/ha)

Lucro (@/ha) (R$/ha)

Lucro de 2ha (R$)

Past. semrecup/renov

--

1,582,50

1,582,50

165,00 1.270,00@ de boi: R$55,00 • sc de soja: R$25,00

Integração

Tabela 1- Simulação de custos, receitas e despesas para renovação/recuperação de pastagens e integração lavoura-pecuária

Pastagemrecup/renov

14,5800,00

20,01.100,00

5,5302,50

605,00

Pastagem(1ha)

7,0385,00

20,01.100,00

14,0770,00

Soja(1ha)

35 sc875,00

55 sc1.375,00

20 sc500,00

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Figura 2 - Sugestão de integração lavoura-pecuária (área dividida em dois talhões) com rotação a cada dois anos

Miguel M. Gontijo Neto,Embrapa Gado de Corte

xo de caixa dos produtores.A integração lavoura-pecuária sugere

um sistema de exploração em esquema derotação, onde se alternam, em determina-da área, anos ou períodos de pecuária coma produção de grãos ou fibras (Figura 2).

Evidentemente que alguns requisitos sãonecessários para implementar o sistema,tais como, aptidão da área/região para aprodução da cultura a ser utilizada, cor-reções das limitações físicas e químicasdo solo, disponibilidade de máquinas e

implementos agrícolas, mão-de-obra qua-lificada e domínio da tecnologia de la-vouras anuais e pecuária.