PerSe · DESVENDANDO O KARDECISMO..... 63 10. NOVAS PRÁTICAS E DESUNIÃO ENTRE OS ESPÍRITAS ........
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PerSe
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Título: Bastidores do Espiritismo
Ano de publicação: 2015
Local: Curitiba – Paraná – Brasil
Autoria: Leal, Evoti
Capa: Carlos Eduardo Leal
Formatação/Diagramação: Ana Paula Leal; Maurício Schneider
Revisão: Sílvia Regina Leal Zabaleta
Publicadora: PerSe
Pedidos: www.perse.com.br
Falar com o autor: [email protected]
Blog do autor: bastidoresdoespiritismo.blogspot.com.br
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Sumário
Prefácio ................................................................................................................ 4
Agradecimento ..................................................................................................... 6
Apresentação.................................................................................................................... 7
1. PRIMEIRA SESSÃO ESPÍRITA ................................................................................ 16
2. FALSA DOUTRINA .................................................................................................. 24
3. BAIXO E ALTO ESPIRITISMO ................................................................................ 28
4. UMA FANTÁSTICA FÁBRICA DE LOUCOS......................................................... 32
5. O ESPIRITISMO E A HOMOSSEXUALIDADE ...................................................... 38
6. ESTRANHA RELIGIÃO ............................................................................................ 45
7. UM CRISTO E UM DEUS DIFERENTES ................................................................ 49
8. OS VERDADEIROS ESPÍRITAS .............................................................................. 57
9. DESVENDANDO O KARDECISMO ........................................................................ 63
10. NOVAS PRÁTICAS E DESUNIÃO ENTRE OS ESPÍRITAS ................................. 70
11. OS ESPÍRITOS MANIFESTANTES ........................................................................ 80
12. PROIBIDO CONSULTAR OS MORTOS ................................................................. 87
13. SOBRE A TERCEIRA REVELAÇÃO ...................................................................... 94
14. AS DUAS SUPOSTAS GRANDES FRAUDES ESPÍRITAS ................................. 105
15. O INFERNO DE CHICO XAVIER ......................................................................... 119
16. PERTURBAÇÕES E DESENVOLVIMENTO DA MEDIUNIDADE .................... 128
17. DOENÇAS E CURAS ESPÍRITAS ......................................................................... 137
18. CASA DIVIDIDA CONTRA SI MESMA............................................................... 145
19. SENTENÇA CONTRA OS MÉDIUNS EM GERAL.............................................. 150
20. O ESPIRITISMO E A IDOLATRIA ........................................................................ 156
21. NÃO DEIS CRÉDITO A QUALQUER ESPÍRITO ................................................ 164
22. ANULAÇÃO DA GRAÇA DIVINA ....................................................................... 170
23. BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO ...................................................... 176
24. JUSTIÇA IMPLACÁVEL ....................................................................................... 182
25. OS ARTIGOS DE FÉ NEGADOS PELO ESPIRITISMO ...................................... 198
26. RADIOGRAFIA DE UM CENTRO ESPÍRITA ...................................................... 235
27. EFEITO ESPIRITISMO NOS LARES .................................................................... 248
Bibliografia ...................................................................................................... 253
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Prefácio
A chegada de um bom livro deve ser sempre comemorada. Temos
motivos de sobra para nos regozijarmos com o nascimento da tão
aguardada publicação de “Bastidores do Espiritismo”. Certa vez li, não me
recordo onde, que a vida não se mede pelo número de vezes que
respiramos, mas pelos momentos que nos tiraram o fôlego. Confesso que o
convite do Evoti para prefaciar seu livro me tirou o fôlego. Isto porque não
sou um estudioso do espiritismo e nem sequer praticante. Considero-me
um espiritualista que acredita no Bem, na amizade, na caridade e nas
pessoas de boa fé, e que tem amor pelo próximo. Creio que por esse modo
de pensar e pela amizade que temos é que o Evoti me tenha dado a honra
de prefaciar seu livro. Livro este do qual acompanhei a elaboração, em
toda a sua trajetória, capítulo a capítulo, frase a frase.
O livro em questão faz uma análise concreta e objetiva do espiritismo
frente ao despreparo e descrença das pessoas em relação a esta filosofia já
tão propalada em todos os continentes, há mais de um século e meio. A
abordagem dá-se de uma maneira pedagógica e concisa e os textos nos
mostram, de maneira objetiva, como devemos enfrentar, segundo a ótica
do espiritismo, as mais diversas situações vividas pelo ser humano. Muito
embora o livro tenha sido escrito considerando os inúmeros “ataques” que
a filosofia e/ou religião espírita sofreu, e continua sofrendo, de inúmeras
religiões ditas cristãs, não creio que o autor tenha se motivado a fazê-lo só
por esta razão. Conhecendo seu passado, sua trajetória de vida direcionada
para os estudos, pesquisas e prática da fé cristã e da caridade, tenho a
convicção de que cada capítulo do mesmo está relacionado com a sua
vida, com sua vivência e não com uma possível desforra frente à
“avalanche” de artigos e pregações que são proferidas contra o espiritismo.
Muitos são os temas abordados, todos eles capitulados e com inúmeras
citações relevantes, bem fundamentados, inclusive bibliograficamente,
acerca do pensamento de pessoas ou entidades que, segundo o autor, não
estão preparadas a discorrer sobre o espiritismo.
O autor revela, dentre tantos assuntos, o que pensam os pregadores, das
mais diversas denominações religiosas sobre a Doutrina Espírita, porque a
chamam de falsa doutrina, fábrica de loucos, religião estranha; que crê em
um Cristo como Espírito evoluído e em Deus não como algo uno, que
aceita o evangelho de Jesus, mesmo não sendo católico ou protestante, que
consegue desmistificar e explicar a homossexualidade segundo a ótica das
reencarnações, que mostra sua versão sobre as doenças e as curas, que
mostra que todos nós seres humanos somos dotados de matéria e espírito,
e que a matéria é finita, mas o espírito não, ou seja, é eterno e evolui
sempre. E consegue tudo isto com muita sensatez, racionalidade e
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simplicidade, desvendando este mistério a respeito do pensamento
equívoco sobre o Kardecismo, que nos tem mostrado, através de anos de
estudos científicos e práticas como a fluidoterapia, a evangelhoterapia, a
desobsessão, a educação mediúnica e a caridade, como bem diz o autor,
que o espiritismo é uma doutrina sólida, que revela Deus como um pai
imparcial, justíssimo e bom para com todos os seus filhos. E vai mais
além, revelando que o verdadeiro espírita não é simplesmente o
Kardecista, mas o que age de acordo com os preceitos que compõem a
Doutrina codificada por Kardec e, acima disto, revelado pelos espíritos.
Contrário a muitos pensadores, a respeito do espiritismo, o autor revela-se
como profundo respeitador das mais diversas crenças, religiões, seitas,
cultos, etc., contrapondo-se a pensamentos dos mais diversos, mas nunca
com desrespeito, pois mostra claramente nas linhas e entrelinhas que
ninguém é dono da verdade absoluta e que qualquer um pode escolher seu
credo conforme lhe convier. O autor, no decurso do livro, quer-nos
mostrar em síntese e com toda a transparência que lhe é característica que
o Espiritismo não tem mistérios nem teorias secretas; tudo nele deve ser
dito claramente, a fim de que cada um possa julgá-lo com conhecimento
de causa. Que todos os que se dispuserem a ler este livro tenham uma boa
leitura e que julguem este trabalho conforme sua consciência e de acordo
com o que o autor lhes quis transmitir, com lucidez, honestidade e
conhecimento.
Ricardo Sopeña Ladeira
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Agradecimento
Por tratar-se de um número muito grande de pessoas às quais tenho
devo minha gratidão eterna, em vista da importante colaboração que delas
recebi durante a feitura desta obra, haja sido de forma direta ou indireta,
deixo de citar nomes, para que não me ocorra cometer qualquer injustiça e
provocar mágoa em quem quer que me tenha dado o seu apoio, o seu
incentivo, ou outra qualquer modalidade de auxílio, sem o que não teria
jamais chegado a bom termo na tarefa a que me propus.
Agradeço, pois, de uma maneira geral, a todos os amigos e familiares
que de alguma forma se envolveram com esta minha atividade, durante o
longo tempo que transcorreu de seu início até o final.
Rogo a Jesus as bênçãos de que cada qual em particular necessite, a
fim de seguir em frente na caminhada terrena. Que possamos compartilhar
a alegria de ver o sucesso deste empreendimento, que a mim me custou
apenas um tanto da dedicação obviamente necessária e prazerosa, para que
de uma simples ideia pudesse ele tornar-se realidade.
Muito obrigado a todos.
Evoti Leal
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Apresentação
O presente trabalho, realizado ao longo de mais de cinco anos de
estudos, reflexões e pesquisas, com alguns intervalos, mais algum tempo
dedicado a revisões e ajustes em seus textos originais, somando-se os
conhecimentos acumulados em muitas décadas de experiência pessoal,
visa a descortinar para o leitor as atividades e os preceitos relacionados
com a Filosofia Espírita, também entendida como religião, particularmente
no Brasil. O próprio codificador definiu o Espiritismo como uma Doutrina
de tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, embora alguns
seguidores achem mais merecedor de crédito o termo “moral”, no lugar de
“religioso”. Isto se deve, dizem eles, ao fato de que a religião tanto trata da
moral do homem, como dos cultos à Divindade, ou divindades, passando
pelos rituais e obrigações normalmente exigidos por seus líderes. Para
diferenciar o Espiritismo das demais correntes religiosas, posto que este
não empregue qualquer tipo de adorno ou cerimonial em suas práticas, é
que muitos de seus adeptos preferem atribuir-lhe o caráter moral, em vez
do religioso. Para outros, no entanto, essa diferenciação pouco importa e
preferem mesmo declarar que a sua religião é o Espiritismo.
É sabido que muitas pessoas têm a curiosidade de desvendar os
“mistérios” que cercam as verdadeiras práticas do Espiritismo, sem,
contudo, encorajar-se a entrar em um Centro Espírita e fazer suas próprias
investigações. Geralmente, aquelas pessoas que professam um
determinado credo mais por tradição familiar, do que por opção própria,
ao escutarem certas referências ao Espiritismo e sobre os espíritas, ficam
curiosas em descobrir se os feitos e fatos aludidos são verídicos ou não
passam de simples fantasias de quem em verdade não sabe do que está
falando. Às vezes, ao encontrarem-se, por qualquer casualidade, com um
adepto do Espiritismo, passam a fazer-lhe perguntas sobre sua crença, na
tentativa de sanarem suas dúvidas. Mas, nem sempre o adepto da Doutrina
se acha preparado para responder de modo claro e objetivo a um
questionamento desses. Seja por não possuir ainda um conhecimento
profundo, dado à falta de leituras, ou o pouco tempo de vivência na esfera
doutrinária, seja pela indisponibilidade de tempo para uma resposta mais
abrangente, ou, ainda, pela falta de argumentações consistentes, acaba
deixando o interlocutor sem as respostas esperadas. Há, também, casos em
que o perquirido não apreende a profundidade das perguntas a ele
dirigidas, ou seja, não percebe a intenção com que o outro formula as suas
arguições. É que, dentre os que se dignam a questionar, uns o fazem de
coração aberto e receptivo, enquanto outros investem argutamente na
possibilidade de um deslize ou da falta de conhecimento do arguido, a fim
de derrotá-lo, com os argumentos que os seus mestres religiosos lhes
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forneceram de antemão, e, assim, confirmar a superioridade de suas
próprias crenças.
Muitos espíritas não desconhecem o fato de que líderes de diversas
religiões, mormente das denominações evangélicas, costumam emitir
falsos conceitos sobre a Doutrina Espírita. Sabem mesmo que a
conceituam, ordinariamente, como uma doutrina demoníaca, apostando
que a reencarnação é um engodo e que as comunicações com os “mortos”
são proibidas por Deus. O que esses espíritas às vezes não sabem é que os
críticos e adversários do Espiritismo costumam implantar na mente de seus
ouvintes comuns um punhado de acusações caluniosas e graves,
verdadeiros absurdos. Assim, fragilizada fica a sua defesa, quando
afrontado por um crente perspicaz, desses que dominam a Bíblia,
buscando vários versículos-chaves, a que recorrem com destreza, a fim de
embasarem suas acusações contra o Espiritismo. É muito comum, nesses
casos, a tentativa de converter o espírita, mostrando-lhe, na Bíblia, a
condenação a que está sujeito, enquanto persista em “prestar culto aos
demônios”. Quando, porém, nesta respeitável missão, depara-se o crente
fervoroso com um veterano praticante e estudioso da Doutrina dos
Espíritos, infrutíferos e totalmente inúteis se tornam seus mais inflamados
discursos. Em geral, o espírita consciente evita qualquer embate estéril,
por saber que o seu contendor não irá ceder a qualquer argumento em
contrário à crença nele arraigada, assim como ele próprio também não se
demoverá da sua, nem que aquele debulhe a Bíblia inteira à sua frente,
citando todos os profetas e os apóstolos. Na contrapartida, um espírita
novato, embora já convicto, fica como paralisado, às vezes, não por
recusar-se a contender com o outro, mas, por não possuir base doutrinária
suficiente, para ao menos rebater algumas colocações impróprias feitas
pelo fortuito opositor.
Aqui estão, portanto, as duas principais finalidades deste trabalho:
primeiro, municiar os novatos no Espiritismo, os que ainda não se sentem
seguros das próprias convicções, e se reconhecem vacilantes ante as
críticas dirigidas à sua nova crença, a fim de que consigam, no mínimo,
permanecer estáveis, diante dos acintes de um pretenso dono da verdade.
Este, por vezes, chega a parecer verdadeiro inquisidor, pronto a difamar
uma doutrina que sequer conhece, constrangendo o seu seguidor, com
frases humilhantes, levando-o a sentir-se um perfeito ingênuo, manipulado
pelos demônios e desprezado por Deus. A segunda meta é abrir as cortinas
da aparentemente indevassável Doutrina dos Espíritos e do Movimento
Espírita, alvos de tanta malevolência, àqueles que realmente possuem um
mínimo de interesse sadio, ou uma secreta curiosidade, em conhecê-los de
fato. A esses, que vêm desarmados, sem preconceito, destituídos de pré-
julgamento, buscando apenas informações sobre algo para eles ainda
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desconhecido, para uma posterior avaliação, é que pretendo fornecer os
dados de que necessitam para o seu julgamento. Pretendo demonstrar-lhes
a seriedade com que o Espiritismo trata das mais graves questões humanas
e espirituais, firmando-se, invariavelmente, no trinômio da lógica, da razão
e do bom-senso.
Além disto, valho-me do gratificante ensejo, para mostrar aos críticos
contumazes do Espiritismo, a grande vantagem que ele oferece ao seu
adepto, de poder, com plena liberdade, perscrutar outras filosofias e
religiões, estudá-las, discutir seus pontos de vista em reuniões de estudos e
mudar, se assim o desejar, para outro segmento, com o qual venha a sentir
maior afinidade. Atento para este fato em particular, já que é bem comum
observarmos o quanto os pastores costumam exortar as suas ovelhas para
que não desviem os olhos da doutrina que eles lhes pregam. Costumam
preservá-las de qualquer mínima influência alheia, pelo que as proíbem de
consultar livros de outras filosofias ou manter contato amistoso com
pessoas de religiões muito diferentes da sua. A simples leitura de um livro
profano, um livro espírita, por exemplo, será considerada à conta de uma
heresia. O crente que assim o faça poderá perder o direito à graça divina,
por intrometer-se com Satanás, mentor daquele tipo de literatura. Os
alertas a esse respeito são constantes e eivados de ameaças morais e,
espiritualmente falando, mortais. Ai dos que não escutem tais alertas, pois
serão presas fáceis do Inimigo de Deus. Assim, pelo medo que lhes
infundem seus orientadores religiosos, certos crentes viram o rosto, ao
verem na vitrine de uma livraria um título que sugira tratar-se de livro
espírita, esotérico, etc. Só olhar para ele já significa estar correndo perigo
ou profanar a sua fé.
Foi por estas e outras razões que os primeiros livros de Allan Kardec
foram queimados em praça pública, numa versão mais branda, apenas
simbólica, da Santa Inquisição católica. Já que não podiam mais queimar
os hereges, feiticeiros, autores de obras espúrias, blasfemos e inimigos da
Igreja nas “fogueiras santas”, o jeito era queimar os livros e proibir a
venda e a simples leitura dos mesmos. A verdade é que o tiro saiu pela
culatra, pois esse ato público aguçou a curiosidade popular, fazendo com
que muitos que não haviam sequer demonstrado qualquer interesse,
anteriormente, fossem à procura, ainda que ocultamente, daquelas obras
condenadas pela Igreja.
No Brasil, entre o crepúsculo do século XIX e o alvorecer do século
XX, o Movimento Espírita já contava com a adesão de importantes
membros da sociedade, de norte a sul deste vasto território. Alguns desses
corajosos cidadãos, ao vestirem a camisa da nova agremiação religiosa,
um tanto estranha no contexto do cristianismo vigente, e ao se exporem de
peito aberto nos lugares públicos e rodas sociais, ostentando a nova
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crença, viam-se de imediato perseguidos ou, no mínimo, importunados por
líderes e seguidores das religiões oficiais de então, quando não boicotados
em suas atividades comerciais ou profissionais.
Um dos ícones da divulgação da nova doutrina em chão brasileiro,
conhecido, aliás, como “bandeirante do Espiritismo”, foi o cidadão Cairbar
de Souza Schutel (Rio de Janeiro/RJ, 1868 – Matão/SP, 1938). Em agosto
de 1896, chegou à pequena povoação do Senhor Bom Jesus das Palmeiras
do Matão, interior do estado de São Paulo. Ali se estabeleceu com sua
residência e abriu uma farmácia. Militou na política local, ajudando a
elevar a pequena vila à categoria de município, ato consumado em agosto
de 1898. Fez parte da sua primeira Câmara Municipal, instalada em 28 de
março de 1899, como vereador, sendo escolhido pelos seus pares para ser
o primeiro intendente (cargo equivalente hoje ao de prefeito), exercendo
essa função até outubro de 1899 e, depois, de junho a outubro de 1900. Em
1904 converteu-se ao Espiritismo e em julho do ano seguinte fundou o
“Centro Espírita Amantes da Pobreza”, atual “Centro Espírita O Clarim”.
Um mês depois fundou o jornal O Clarim. Em 1912, já conhecido como
“Pai dos pobres”, ou “Amigo dos Pobres de Matão”, fundou o pequeno
Hospital de Caridade, para atender gratuitamente aos doentes pobres da
cidade. Em 1925, junto com Luiz Carlos de Oliveira Borges, fundou a RIE
– Revista Internacional de Espiritismo, publicada pela Editora O Clarim,
que circula até aos nossos dias, como um dos vários e importantes veículos
de divulgação da Doutrina em seus múltiplos aspectos.
Por essa época, um sacerdote reacionário e profundamente intolerante
resolveu promover gestões no sentido de fechar as portas do Centro
Espírita, cerrando uma campanha persistente para que a farmácia do
senhor Schutel fosse boicotada pelo povo. Com o apoio do delegado de
polícia, conseguiu ordem para o fechamento do Centro. Destemido,
porém, Cairbar Schutel levantou a barreira da sua autoridade moral contra
o padre e o delegado, indo à praça pública a fim de protestar contra o
desrespeito à letra da Constituição Federal de 1891. O padre, ao tomar
conhecimento da manifestação promovida por Cairbar, tratou de organizar
uma passeata de desagravo. Outros sacerdotes já se encontravam em
Matão apregoando a necessidade de se manter o “herético” circunscrito,
compelindo os fiéis a nada adquirirem em sua farmácia e, sobretudo,
proibindo a todos de frequentarem o Centro Espírita. Poucos tiveram a
coragem de enfrentar as possíveis represálias dos padres, em
comparecendo à praça para ouvir o discurso do farmacêutico. Aliciando
um grupo de fiéis, o sacerdote marchou até a praça, em procissão,
cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso, vários tipos de
armas, com o objetivo de abafar a voz do orador e atemorizar os seus
ouvintes. A barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas
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pessoas cultas da cidade, as quais, dirigindo-se ao local, pediram a
aquiescência do orador para, de público, registrar sua desaprovação
àquelas manifestações, responsabilizando o padre pelas consequências
danosas daquele desrespeito à Carta Magna e afirmando que o concidadão
Cairbar Schutel tinha todo o direito de expor suas ideias e de se defender
dos ataques sofridos. Ante tal reação, o padre ficou assombrado e decidiu
dispersar os companheiros. Dessa forma, o senhor Schutel manteve-se em
seu posto de divulgador obstinado da Doutrina dos Espíritos, causando
polêmica em meio à sociedade local, mas sem grandes reações dos
opositores, por se haver tornado querido de muita gente, uma vez que a
todos tratava com consideração e respeito, além de fazer o bem a tantos
necessitados.
A biografia completa deste herói dos primeiros alvores da difusão do
Espiritismo no Brasil encontra-se à disposição dos interessados no site da
Federação Espírita do Paraná (feparana) e no livro Os Grandes Espíritas
do Brasil, de Zeus Wantuil, editado pela FEB.
Em 1908 ocorreu um caloroso debate entre Cairbar Schutel e o ilustre
professor Faustino Ribeiro Júnior, este um protestante, através das colunas
de “O Alfa”, órgão de comunicação dedicado em favor do bem e da
justiça, publicado em Rio Claro. A polêmica gira em torno dos evangelhos
e da ciência, sendo transformada em livro, sob o título Espiritismo e
Protestantismo, de dupla autoria (isto é, de ambos os contendores). O
exemplar que adquiri recentemente é de sua 6ª edição, de 1987, da Casa
Editora O Clarim. Neste pequeno acervo, Cairbar responde aos ataques do
professor Faustino à Doutrina Espírita, da qual diz este possuir pleno
conhecimento e falar “ex-cátedra”. O pequeno volume de 145 páginas
reflete um trabalho semelhante ao que aqui pretendo entregar aos leitores,
com a diferença de que me disponho a trazer para a pauta da lógica espírita
as críticas provindas de variadas fontes, mas sem o sabor do debate que
aquele possui, em que ambas as partes se manifestam alternadamente,
contrapondo-se uma à outra, conforme suas reações imediatas e através de
um mesmo órgão mediador. Proponho-me aqui a fomentar uma nova
discussão sobre as divergências entre o Espiritismo e as inúmeras religiões
que não o aceitam como uma ramificação do Cristianismo, de onde elas
mesmas procedem.
Já a título de exemplificação disto, no livro O Que a Bíblia Realmente
Ensina? - das Testemunhas de Jeová (TJ), a sugestão, quase uma ordem
aos novos adeptos daquela Instituição, é bem clara:
“Pessoas que desejam servir a Jeová precisam livrar-se de todas as
coisas ligadas ao espiritismo. Isso inclui livros, filmes, pôsteres e músicas
que incentivam a prática do espiritismo e fazem-no parecer atraente” (TJ,
2005, p.103).
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Um espírita, ao contrário, desde que o queira, pode ler um livro das
Testemunhas de Jeová, da Igreja Adventista, do Catolicismo, da Umbanda,
da Seicho-No-Ie, dos Mórmons, do Budismo, do Islamismo, da Igreja
Universal, Mundial, Internacional ou “seja lá qual for”, sem nenhum
problema. O espírita sente-se totalmente livre para, como recomendou o
apóstolo Paulo, “examinar tudo e reter o que há de bom”.
Foi exatamente isto o que passei a fazer, desde que mantive o meu
primeiro contato direto com a Doutrina Espírita. Lá se vai mais de meio
século. Foi precisamente no início do ano de 1960. Contava eu com apenas
10 para 11 anos de idade. Influenciado pelas aulas de religião, ministradas
na escola pública por padres da Igreja Santo Antônio do Partenon, em
Porto Alegre, onde eu fora batizado, havia pedido ao meu pai, como
presente de natal, naquele dezembro de 1959, uma Bíblia. Tão logo a tive
em minhas mãos, passei a lê-la, afoito, a partir do seu primeiro livro:
Gênesis – de Moisés. O restante da história, que me perdoem os leitores
mais curiosos, contarei lá no capítulo 25 deste livro, quando tratarei do
assunto: “Os Artigos de Fé Negados pelo Espiritismo”. Só o que
adiantarei, aqui, é que não chegara à metade do Gênesis bíblico e já me
assaltaram dúvidas sobre o que estava escrito. Pareceu-me algo desconexo.
A mente se me embaralhou. Fui ter com o meu genitor, que era espírita,
embora naquele momento afastado de qualquer atividade no Movimento, e
dele recebi algumas explicações que considerei plausíveis e bastante
esclarecedoras. Meu pai, então, diante do meu interesse, apresentou-me o
livro A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec, ao qual passei a ler com entusiasmo crescente.
A partir da leitura desse livro, senti-me desejoso de conhecer um
Centro Espírita. Solicitei ao meu pai e ele levou-me até a Sociedade
Espírita Allan Kardec, localizada no centro da cidade de Porto Alegre.
Posteriormente, li outras obras, a começar pela de autoria mediúnica de
Francisco Cândido Xavier, ditada pelo Espírito André Luiz, intitulada
Obreiros da Vida Eterna, outra joia de valor inestimável.
Segui o curso de minha vida, crescendo, trabalhando, casando-me,
gerando filhos, sempre lendo e aprendendo, inclusive conhecendo melhor
a Bíblia, ao manuseá-la com frequência. Aos dezenove, casei-me com uma
jovem de dezessete anos, frequentadora da Primeira Igreja Batista, da qual
me separei com menos de dois anos de tumultuada convivência no lar.
Contraí uma nova relação conjugal, que perdura até hoje. Em 1976 fui,
com minha família, à época: esposa e dois filhos pequenos, para São Paulo
– capital. Lá, envolvido com o trabalho em empresas de transportes, com
pouquíssimo tempo disponível para o lazer familiar, perdi o contato com
as leituras. Não íamos a nenhum Centro Espírita, sequer para tomar um
passe, até porque não havia nenhum nas proximidades de nossa residência.
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Apenas mantínhamos alguns livros que já havíamos lido guardados em
uma caixa fechada, desde a nossa mudança de moradia e de cidade. Tive
um grande amigo e colega, na última empresa em que trabalhei, o qual era
adepto das Testemunhas de Jeová. Com ele costumava trocar ideias e
discutíamos, às vezes, certos pontos fundamentais de nossas crenças.
Fazíamos isso, sem nos alterarmos, sadia e civilizadamente.
Depois de cinco anos residindo em São Paulo, estávamos de volta ao
Rio Grande do Sul, desta vez para morar em Pelotas, terra natal de minha
esposa. Era o mês de julho de 1981. Nos últimos dois anos em São Paulo,
frequentáramos a Igreja do Evangelho Quadrangular do Brasil (IEQB),
localizada no bairro de Vila Ema. Meu irmão mais velho, Pedro, foi pastor
dessa mesma denominação, em Viamão-RS, atuando nessa Organização
por cerca, talvez mais de trinta anos. Hoje ele está em outra denominação
evangélica, já ultrapassando, certamente, quatro décadas de ministério.
Minha esposa e eu já éramos cooperadores, quando, por motivos que aqui
não vêm ao caso, nos afastamos da referida Igreja. Em seguida e até
mesmo em consequência disto, mudamo-nos para a nossa querida Pelotas
(Capital Nacional do Doce), distante 250 quilômetros da capital rio-
grandense.
Pouco tempo depois de aí chegados, estiveram em nossa casa dois
jovens adventistas e propuseram marcarmos um dia para um estudo
bíblico. Combinamos o encontro para o domingo imediato, pela manhã.
Recebemo-los com entusiasmo, pois já estávamos sentindo falta de uma
palavra amiga e do contato com os ensinamentos de Jesus. Não havíamos
ainda refletido na possibilidade de uma volta ao meio espírita. Depois de
uma conversa bastante amistosa e animada, em que lhes contamos nossas
experiências na Igreja Quadrangular e concordamos sobre alguns pontos
em discussão, um deles deu-nos, de presente, para lermos e posteriormente
comentarmos, o livro O Grande Conflito, de autoria da pastora Hellen
White, uma das fundadoras da Igreja Adventista Sétimo Dia. Nesse livro
deparei com um capítulo inteiro dedicado a demonstrar “a fraude do
Espiritismo”, conceituando-o como seita diabólica. Após a leitura desse
capítulo, decidi desencaixotar alguns livros, havia muito tempo guardados.
Eram eles das autorias de André Luiz e de Emmanuel (Espíritos),
psicografados pelo médium Chico Xavier, além de O Evangelho Segundo
o Espiritismo, de Allan Kardec, e outros títulos de autorias diversas. Nós
os havíamos adquirido nos tempos em que morávamos em Porto Alegre,
antes de nossa mudança para São Paulo. Quis fazer uma simples
comparação entre o que dizia a pastora Hellen White em seu livro, acerca
do Espiritismo, e o que diziam os livros espíritas, que denunciassem eles
mesmos o que havia de “diabólico” em seus conteúdos.
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O resultado disto foi que acabei indo parar dentro de um Centro
Espírita, o qual conhecia somente de passagem: a Sociedade União e
Instrução Espírita, com sede à Rua Quinze de Novembro, número 461, no
centro de Pelotas. Na Igreja do Evangelho Quadrangular, como em
conversações com amigos e parentes adeptos de outras congregações
evangélicas, sempre escutara alusões ao Espiritismo, como sendo uma
religião de procedência demoníaca.
Meu colega, lá de São Paulo (paranaense de nascimento), testemunha
de Jeová, me havia mostrado, na Bíblia, várias passagens em que Deus
“condena” as práticas espíritas. Meu filho primogênito, Alexandre, fruto
do primeiro casamento, criado pela mãe, orientado na fé pelo tio-pastor, na
Igreja Quadrangular de Viamão, sendo hoje frequentador da Igreja
Universal do Reino de Deus, também me dirigiu vários alertas quanto à
prática dos ensinos da Doutrina Espírita, tentando “salvar-me das garras
do inimigo de Deus e dos homens”. Tanto o meu filho como o meu irmão
pastor nunca desistiram da intenção de converter-me e convencer-me de
que estou no caminho errado. Mas eu voltei a estudar o Espiritismo e
passei, depois de algum tempo, a integrar o quadro de trabalhadores da
Sociedade União, chegando a participar da atividade de expositor
evangélico-doutrinário, entre outras, até o ano 2000, quando me licenciei,
a fim de concorrer ao cargo de vereador. Após as eleições, em que não
logrei ser eleito, dediquei-me, por algum tempo à vida política,
secretariando o partido a que me havia filiado. Fiquei, assim, por esse
tempo, afastado das lides espirituais, não deixando, no entanto, de praticar
o Espiritismo no meu dia-a-dia, porquanto procurei sempre vivenciar os
seus conceitos doutrinários em todas as relações sociais, como cidadão.
Recentemente, agora já residente em Curitiba/PR, desde o ano de 2001,
chegaram-me às mãos os seguintes livros: O Que a Bíblia Realmente
Ensina, das Testemunhas de Jeová (TJ); Falsas Doutrinas – Seitas e
Religiões, de autoria do professor Felipe Aquino, sendo o autor um
católico confesso, com várias outras obras editadas; Espiritismo – A Magia
do Engano, cujo autor, missionário R. R. Soares, é nada menos que o
ilustre fundador da jovem Igreja Internacional da Graça de Deus;
Religiões, Seitas e Heresias, do professor evangélico J. Cabral; além de,
novamente, O Grande Conflito, da pastora adventista Ellen G. White.
Em cada uma das duas primeiras obras, assim como destas duas
últimas, ressalta um capítulo relacionado com o assunto em questão.
No livro das TJ, percorrendo as páginas de 98 a 105, o tema é
abordado a partir dos seguintes subtítulos: “Criaturas espirituais
inimigas”, “Como os demônios desencaminham” e “Como resistir aos
espíritos maus”. Sobressaem, do segundo destes três itens, algumas
afirmativas dignas de serem aqui reproduzidas, tais como: “para
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desencaminhar as pessoas, os demônios usam o espiritismo” e “a Bíblia
condena o espiritismo e nos alerta que evitemos qualquer coisa relacionada
com ele”.
Já o livro do missionário Soares é dos mais completos que já tive
oportunidade de ler, por isto lançarei sobre ele o meu olhar de estudioso do
assunto, extraindo daí a maior quantidade de subsídios para o trabalho a
que me proponho. Irei transcrevendo alguns trechos dessa obra, fazendo de
imediato os meus comentários pessoais. Quando oportuno, tornarei às
outras obras citadas, valendo-me ainda de outras fontes, como artigos de
jornais, revistas, etc., com o intuito de enriquecer minhas considerações,
por ser o tema bastante extenso e, verdadeiramente interessante, com
muitas nuanças, o que o faz merecedor da maior atenção e de um estudo
deveras profundo.
Meu objetivo central é demonstrar que o Espiritismo não tem nenhuma
magia, que é uma doutrina muito simples, e que a ninguém engana ou
tenta enganar acerca daquilo que realmente propõe-se a ensinar. Espero
que o leitor se sinta bem à vontade, pois em momento algum pretendo
pressioná-lo a crer no que estarei expondo, seja sob meu ponto de vista
pessoal, seja sob o ponto de vista do Espiritismo.
Entrego, pois, ao caro leitor, este trabalho, esperando que o analise e o
critique seriamente, capítulo por capítulo, tirando suas próprias
conclusões, que sempre merecerão o meu maior respeito e minha total
consideração.
Aproveito o ensejo do encerramento desta apresentação, para
homenagear meus primeiros mestres: meu pai, João Batista Leal (1900-
1974) e minha mãe, Olinda dos Santos Leal (1918-1980), aos quais
pleiteio minha gratidão eterna.