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o VINHO NA HISTÓRIA E PA TRIMÓNIO da cidade do Funchal
Funchal nos séculos XV III e XIX era sem dúvida a cidade do vinho. Ele significava quase tudo para os funchalenses e projectava uma nova realidade pautada pela plena afirmação da vinha no espaço rural , das loj as de vinho no recinto urbano, todos contribuindo para o seu embelezam ento. A riqueza resultante do vinho fez com que a cidade ganhasse em m onumentalidade e beleza. Os grandes proprietãrios de vinhas aformosearam as casas de residéncia , dando-lhes as impo
nentes torres e apostando no aconchego e riqueza dos aposentos. Os mercadores, nomeadamente os ingleses, transformaram as vivendas de sobrado em lojas e escritórios de convivio e as casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao novo gosto e ex igências de conforto.
O turismo e o vinho estão indissociavelmente ligados aos ingleses. Foram eles os principais m entores, intervenientes e usufrutuãrios. No vinho traçaram o m ercado colonial e. por isso mesmo de finiram a partir do século XVII , um processo de vinificação adeq uado ao seu paladar e às contingências da rota e destino. Para o turismo a presença é por demais evidente. Foram e les os primeiros turistas na ilha e também os principais promotores dos hotéis. desde finais do sêculo XIX. O Reid 's hote l é o seu emblema dourado.
O cosmopolitismo britãnico era um facto que coroava todo
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um processo histórico de forte impacto desta com unidade. Algumas das páginas mais significativas da História da ilha escreveram-se pelas suas mãos e impulso. Note-se que os ingleses foram os últimos (há quem diga que teriam sido os primeiros, baseando-se na fatidica aventura de Machim) a serem envolvidos pelo fascinio da ilha. Primeiro. foram os portugueses a desbravar as clareiras e a abrir os caminhos para a presença europeia_ Depois, surgiram os italianos, franceses e nam engos a fruir as suas riquezas_ E só mais tarde vieram os ingleses, atraidos pelo aroma da célebre malvasia. A sua fama , proclamada na obra de Shakespeare, foi o mote para a imposição ao paladar apurado da aristocracia britãnica, que se deliciava até ao afogamento nos tonéis cheios deste vinho. Na verdade, ela encantou a aristocracia e coroa inglesas, animando os serões dos súbditos de Sua Majestade, dentro e fora da grande ilha.
A malvasia foi o mote para que o inglés viesse à descoberta das infindáveis qualidades terapéuticas da ilha. a raridade das suas espécies botãnicas e, por fim , o deleite das infindáveis belezas do interior da ilha, que passou a ser devassado a pé, a cavalo ou de rede. São inúmeros os testemunhos desta realidade, captados na pena de alguns registos ou no traço de alguns
eX imias aguarelistas e gravadores. Aqui os ingleses tiveram o mérito de descobrir duas inigualáveis marcas que defin em este rincão: o vinho e as belezas paisagisticas. E, como tal, foram os seus primeiros e principais fruidores. Durante muito tempo a ilha foi para eles apenas sinónimo disso. Depois, com a plena afirmação da hegemonia britãnica no Atlãntico e Indico, a Madeira foi um pilar importante do vasto império: ela foi base imprescindível para o corso marítimo (a (orma usual de represália nos mares) e porto obrigatório para o abastecimento dos porões das embarcações de malvasia , tão procurada nas tabernas londrinas como nas messes das hostes britãnicas além-Atlãntico.
Os sécu los XVIII e XIX foram momentos de ev idente aposta na va lorização da arqu itectura e arte madeirenses. Apagados os momentos difíceis que se
sucederam ã euforia açu-careira dos sécu-los XV e XVI. de novo a ilha estava envolta num novo momento de fulgor económico criado pelo vinho. A grande aposta na cultura da vinha e a valorização do vinho no mercado consumidor colonial conduziram inevitavelmente a uma desusada riqueza que foi usada em benefício próprio por todos os intervenien tes. Os grandes proprietários aformosearam as casas de residéncia . Os mercadores, nomeadamente os ingleses, transformaram as modestas casas da cidade em lojas, no rés do chão, e escritórios e espaços de convívio, no sobrado. As casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao seu gosto e exigências de conforto.
O espaço interior foi valorizado. A casa tornou-se no principal centro de convívio con-
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duzindo à transformaçào dos espaços interiores com as amplas sa las ou sa lões de música, palcos de inúmeras festas e saraus dança ntes. Isabe lla de França em meados do sécu lo XIX descreve-nos um destes bailes em que participou na casa do cõnsu l inglês. É um entre muitos os testemunhos deste luxo e ex uberància da soc iedade oitocentista, gerados pela riqu eza do v inho. O espectácu lo é m ais ev idente no cerimonial de recepçào que no baile propriamente dito. As file iras de ca rros de bois e palanquins transportam as senhoras ve rgadas pelos su mptuosos vestidos. As tais "sa ias de ba lào" que deram título ao ro m ance de Ricardo Jardim que tem como pano de fundo o utro ambientem do quotidiano da época. Os tectos das amplas sa las para os saraus dançantes o u para recepçào aos convivas são cobertos de estuques profusamente trabalhados e muitas vezes pintados. Em muitos dos edifícios da época sào ev identes esta moda trazida pelos ingleses para a ilh a. As decorações a lusivas às da Gréc ia e Pompeia c riadas por Roberto e James Adam sào a principal ev idência disso e ti ve ram na casa de cap itão Eusêbio Ge rardo de Freitas Barreto, hoje sede da Marconi na ilha a sua m ais perfeita expressào nos tectos do salão d E; música.
A Madeira havia abraçado o universo britànico. Os artefactos ingleses invadiram o mercado madeirense e atribuiram os meios m ais adequados para a afirmação do conforto d iário. A isso juntou-se o gosto pe lo clássico. A tosca e utilitária mobilia,
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muitas vezes feita de madeira que do Brasil transportava o açúcar para a ilha deu lugar a outra estilizada. As cade iras e sofás Chippendale e Hepplewhite deram o toque de classe e criou o ambiente para os saraus dançantes ou ao chá das cinco. Os museus da Quinta das Cru zes e Frederico de Freitas são hoje os depositários de alguns dos exemplares mais signifi cativos desta rea lidade que resistiram ao uso secular.
A Histó ri a de muitos dos préd ios que se anicham nas ruas vizinhas do cabrestante e da alfândega sâo o alvo preferencia l dos mercado res estrange iros que chegam ao Funchal, no decurso do século XVIII , atrai dos pe lo comércio do vinho . Muitas das pequenas casas térreas fo ram d em o lidas para dar lugar âs sobradas servidas de amplas caves para as pipas, sobrad os de habitaçâo e escritó ri os. Uma impo nente fachada o rnada de cantarias e ferragens, uma to rre avista-navios dava o tom caracteristi co da arquitectura do vinho na ilha.
As ac tu ais insta laçóes do Tri bunal de Contas, â Rua de Joâo Esm era ldo, surgem hoje um espaço com uma relevante protagonismo, que o filia na presença de Joâo Esm eraldo na rua de seu no me. Sabem os que este mercado r fl am engo fez erguer em fi nais do século XV defronte do im ponente palâc io umas casas térreas para .Q seu serviço. Foi aqui q ue Eusébio da Silva Barreto fez constru ir o utras de sobrado, o nde se instalo u após o casamento a 27 de Maio de 1686. A 23 de Março de 17 I 8 ele vergava sobre os efeitos da doença e ve lhice.
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Morreu. deixando um vasto patrimó nio que foi dividido pe los herde iros. A Nicolau Geraldo de Freitas Barreto coube o imóve l da Rua do Esm era ldo o nde fez pintar na capela o seu brasão de armas. que recebeu da coroa em 173 1.
Em 1794 as referidas casas passaram para as mãos de Lamar Hill Bisset & Coo Esta transacção marcou o inic io de uma nova fase de vida da rua. O com ércio do
v inho estava no auge e quase todos os edificios dela estavam reservados a arm azém de vinhos. Algumas das principais casas comerciais de Súbd ilos ingleses tinham ai ou nas proximidades as instalaçóes. A atracção estra nge ira por esta rua surgiu em 1704 com Benjam im Heming l que alugou os ve lhos aposentos de João Esm eraldo a Agosti n ho Dornelas e Vasconcelos. Em 1727 foi a vez de John Bissett. seguido do Dr. Richard Hill . que
em 1739 montou escritório no número 39. A estes juntaram-se em 1802 a firma Newton Gordon. Murdoch & Co que arrematou em praça pública um prédio da Miseri córdia por I 150$000rs. Depois t ivemos Gordon Duff & Coo que comprou O
imóve l de José do Egipto da Costa. foreiro da Santa Clara. por 3626$700rs. Em data que desconhecemos Gordon Duff & Co adquiriu o préd io que fora de
Nicolau Geraldo ã firma am ericana. Hil Bisset & Co e ampliou com os granéis fronle iriços do lado do Beco do Assucar. de Nuno de Freitas Lomelino . Ambos foram vendidos em 1859. por 3800$000rs a James Adam Gordon Duff. ficando o ed ificio que o confrontava a norte na posse da viúva. O acto de venda teve lugar no número doze. pertencente ã propriedade da viúva do proprietário do imóvel transaccionado. onde. enlão. vivia Diogo Bean . Pelo menos desde 1855 usufruia de todos os aposentos. onde residia e tinha o escritó rio e. parte deles. subalugados a diversos inquilinos. Na
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posse de James Adam Gordon Duff o edifício conheceu um momento de fulgor e por isso ter-se-ão sucedido algumas alterações no espaço interior, sendo desta época a construção da sala de música e os estuques p intados_ De novo as dificuldades começaram a surgir aos seus inquilinos_ Para isso contribuiu a contracção do m ercado do vinho desde os inicios do século dezoito e as crises de produção motivadas pelo o idio ( 1852) e filoxera ( 1872), que quase deram o golpe de finados a este produto. E com isso a maior parte dos ingleses fez as malas e rumou a outras paragens. As casas, até então apinhadas de pipas de m alvasia, quase parec iam fantasmas. Deste modo Elisa Jennet Duff, viúva de James Adam Gordon Duff, optou em 1875 pela venda dos aposentos ã 50c iedade Cooperativa de Consumo e Créd ito do Funchal 5ARL, representada por personalidades ilustres da cidade: José Leite Monteiro, Manuel José Vieira e Augusto Mourão Pitta . O imóvel foi mais tarde, ce rtamente em 19 16, vendido a José Figueira Júnior por quarenta contos. Termina aqui a fase de ampliação e engrandecimento, iniciando-se a de prolongada decadênc ia.
A cidade de hoje é ainda testemunho disso. Basta apenas percorrer as Ruas da Carre ira, Netos , Pretas, Mouraria, Mercês, Nova de 5. Pedro,
Conceição, Aran has, Ferreiros, João Gago e não serã difícil ao transeunte o reencontro com os prédios de fachadas rendilhadas em cantaria negra, rasgados por inúmeras janelas servidas de varandas em ferro forjado. Aos que tém franqueado as portas é possíve l redescobrir os tectos de estuque pintado. A muítos destes imponentes palãcíos junta-se um elemento arquitectónico típíco da ilha, isto é, a torre avista-navios, considerada um ex-libris de muitos dos ed ifíc ios da época que persistem na malha urbana da cidade. A torre av ista-navios preenche para a época uma dupla função. Como mirante lançado sobre a baía permite saber-se da chegada e partida dos navios, daí o nome. É também um local de convív io diãrio na casa. É o homónimo da casa de prazeres das quintas madeirenses. Esta evidéncia persiste em alguns prédios da rua do Bispo, Rua João Esmeraldo e na sede do IVM ã rua Ci nco de Outubro.
Dos d iversos imóveis que a riqueza do vinho fez erguer alguns são merecedores da nossa atenção: O Palãcio de S. P.edro, hoje Museu Municipal. mas que se ergueu para residéncia do Conde de Carva lhal; os paços do Concelho do Funchal. conhecido também como Palãcio Torre Bela. A estes juntam-se os armazéns e escritórios pas empresas de comércio de vinho, de que existem vestígios na Rua dos Ferreiros e dos Netos. Em todos estes últimos é evidente a mesma distribuição do espaço. Uma fachada imponente que dá entrada para um grande pátio coberto ou não de latada que serve de logradouro comum ãs diversas arrecadaçóes: as lojas de fermentação e envelhecimento do vinho, a ofícina de tanoaria , a estufa. O bom gosto com que alguns souberam combinar e o cuidado que lhes atribuíam não passaram despercebidos ao o lhar atento de Henry Vizetelly que na casa de Blandy Brothers leva-o a afírmar q ue estava perante um "verdadeiro museu de vinho"
Os actuais paços do conce lho estão insta lados num imóvel de 1758 erguido pelo morgado Francisco António da Cãmara Leme . A sua aqu isição pela cãmara remonta a 1883, depois de um período de fulgor ligado
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ao comércio do vinho, uma vez que pertenceu à firma Robert Blacbun & Ca e ao cônsul britânico George Stodard.
Junto da igreja de 5. Pedro situa-se um dos mais imponentes palâcios da cidade erguido em finais do século XVIII pela famil ia dos Carvalhais. Depois de vârios usos no decurso do sécu lo XIX acabou em 192 1 por ser adquirido pela câm ara do Funchal. Aí instalou-se em 1929 o museu municipal e em 1933 deu-se guarida ao acervo documentai da regiâo recolhido no entâo Arqu ivo Distrital que havia sido criado em 193 1.
A anglicizaçâo do Funchal só foi possível pela importânc ia que assumíu para os súbditos de Sua Majestade o comércio da presença da comunidade britânica foi e ainda é importante. O rumo de finido para o vinho é deles que cedo se tornaram nos principais apreciadores e beneficiârios das riquezas que propiciou. A importânCia desta comunidade nâo foi suficiente para abater alguns estigmas. As suas vivencias
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As quintas são uma criação madeirense, mas foram os ingleses que, a partir do século XVII. as transformaram em locais de aprazível convívio. Os vastos espaços que contornam a habitação foram revestidos de jardins colo niais, transformados em vive iros de p lantas e nores exóticas. Foram vã rias funçóes. Primeiro casas de habitação dos seus construtores. Depois, hotéis e pousadas para acolherem os inúmeros bri tãnicos em busca de cu ra para a tisiça pu lmo nar ou de passagem para as colónias. São inúmeras as quintas que polvilham os arredores do Funchal. nomeadamente em Santa Luzia e Monte, e por isso merecedoras da nossa atenção e ansiado Pela nossa visita.
Mu itas das quintas madeirenses mudaram de mãos no decurso do século XVIII. Os ingleses, enriquecidos com o comércio do vinho, fazem investimentos fundiãrios na ilha, com especial destaque para as quintas e serrados de vinhas. Alguns adq uirem as habitações já ex istentes e transformam-nas em amplas quintas ajardinadas ã moda da época. Outros do espaço arável ou de pascilgo fazem erguer imponentes casas. Estão neste último caso a Quinta do Vale Paraiso na Camacha de John Halloway, a Quinta do Jardim da Serra, Calaça e do Santo da Serra de Henry Veitch , a Quinta do
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Monte de Jam es David Gordon, as Quintas do Belo Monte e Monte Palace de Charles Murray. Das demais adquiridas por ingleses podemos sa lientar: a Quinta do Til de James Gordon desde 1745 e que passou à Familia Miles em 1933 ; a Quinta da Achada que Foi desde inícíos do século XIX pertença da Família PenFeld e que em 1881 flcou na posse da Família Hinton; a Quinta do Palheiro do 10 Conde de Carvalhal que Foi adquirida em 1885 por J. B. Blandy.
De entre todas as quintas sobressaem as actuais Quinta Vigia e Quinta do Palheiro; enquanto a primeira se integrava num conjunto de quintas geminadas sobranceiras ao mar (Angústias, Vigia, Pavào e Bianchi)tendo sido a principal morada de acolhimento da aristocracia europeia(Rainha Adelaide de Inglaterra ( 1847-1848), Duque Leuchtenberg ( 1849-1850). Imperatriz do Brasil , D. Amélia ( 1852), a última, Fora do Funchal. Foi construida pelo primeiro Conde de Carvalhal que também planeou e os seus extensos e variados arvoredos. Esta é considerada a mais extensa da Peninsula Ibérica com 324 ha. O seu recinto serviu de palco para as grandes recepções aos ilustres visitantes que nesses longínquos anos da centúria oitocentistã demandavam a ilha. Destes destacam-se: em 1817 da Imperatriz Leopoldina do Brasil. em 1858 do inFante D. Luis e em 190 I do rei D. Carlos e Rainha D. Amélia.
O testemunho e a ambiéncia destes espaços estào lavrados na numerosa literatura inglesa de viagens. Alguns desses britànicos que tiveram oportunidade de pri-
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var nessas quintas não se cansam de exa ltar o ambiente paradisiaco que ai foram encontrar. Já em 1778 Maria Riddel não hesita em afirmar que "a maioria dos negociantes tem pequenas casas de campo nas encostas. rodeadas de jardins e vinhedos o que confere um e fe ito muito aprazive l ã paisagem ." .
A arte re ligiosa dos seclllos XVIII e XIX e tambem testemunha e consequencia da riqueza gerada pela economia viti-vinicola. Os templos ex istentes ganham nova vida e riqu eza e a depor-se as contempo rãneas ex igencias do culto os novos seguem uma nova geom etria e gramática decorativa. O vinho tem expressão plástica particular no cade irado da Se do Funchal do seculo XVI onde são visiveis os borracheiros e os bebedores de vin ho. evidências que testemunham já a importãncia da cultura nesta epoca. Os cachos e parras fazem parte da gramática decorativa do barroco. Os motivos de talha dourada são ev identes na Igreja do Colegio.
Os Jesll itas chegaram ã ilha em 1570 mas só em final da centúria começaram a
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madeirense adquirisse uma posição dominante no mercado atlãntico. fazendo aumentar a riqueza dos ingleses. os principais comerciantes e consumidores. Esta oferta de vinho era assim sim bólica, o mesmo sucedendo com a renitência do imperador em fazer de le o antidoto para as agruras do exílio. Diz a trad ição que o tonel com O precioso rubinêctar regressou ã ilha, reclamado pelo doador. O vinho regressado ã ilha desmultiplicou-se. em 1840. em centenas de garrafas, que fizeram as delicias de inúmeros ingleses. Churchill, de visita ã ilha em 1950, foi um dos feli zes contemplados.
A conj untura politica envolvente ao governo imperial de Napoleão Bonaparte repercutiu-se de forma ev idente no espaço atlântico, provocando uma alteraçâo no movimento comercial. O mútuo bloqueio continenta l entre a França e a Inglaterra lançaram as bases para uma nova era na economia atlântica. Os trad ic ionais circu itos com erciais que se in iciavam e finalizavam nos portos europeus, desapareceram, por algum tempo. pois o cordâo um bilical q ue os mantinha foi cortado. Neste contexto é evidente a va lorização das ilhas que passaram a dispor de um mercado aberto para os seus produtos, como o vinho, até aqui alvo da concorrência do europeu. A COI]
juntura em ergente das guerras napoleónicas propiciou o momento mais alto da economia viti-v inicola, enquanto a derrota de Waterloo ( 18 15) foi o p re lúdio de uma próx ima fata lidade para o vinho e a ilha.
A Madeira dispõe de uma notâvel colecçâo de gravuras, maioritariamente do sécu lo do sécu lo XIX e de mâo inglesa. Elas fazem parte de registos de viagem ou de tratados cientificos. Tudo isto porque ;ii Madeira se apresentava neste momento como um eixo fundamenta l para a navegação e contactos entre a Inglaterra e as colón ias na América e no índico. Também a ilha se havia transformado numa estânc ia de turismo terapêutico que acolhia doentes de tisica de diversas proveniéncias, com forte incidência nos súbditos de Sua Majestade. Aristocratas. cientistas e aventure iros chegaram â ilha â procura do clima am eno como forma de alivio e cura das doenças. A Madeira entrou rapidamente no universo da ciê nc ia europeia dos sécu los XVIII e XIX. Daqui resultou
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dois tipos de literatura com publicos e incidências temáticas distintas. Os textos turisticos. guias e memó ri as de viagem, apelavam ao leitor para a viagem de sonho á redescoberta deste recanto do para iso que se demarca dos demais pela be leza incomparáve l da paisagem . variedade de fiores e plantas. Já os tratados cientificos apostaram na divulgação deste recanto através daquilo que o identifica . Hoje a riqueza p ictórica da ilha é devedora desta situação, existindo va liosas colecçóes separad as ou em livro. No primeiro grupo enquadra-se a maioria e riqueza da colecção de gravuras inglesas. Destas podemos destacar as de Andrew Picken ( 1840), Rev. James Bulwer ( 1927), P. H. Springett ( 1843), J. Selleny, Susan V. Harcourt ( 1851 ), Frank Dillon ( 1856). R. Innes, Joahn F. Eckersberg. Os tem as são comuns a todos os intervenientes. O Funchal apresenta-se através da sua baia e o deslumbramento do casario da encosta tudo em várias perspectivas ou nos pormenores mais caracteristicos de sua arquitectura - A Sé. Os Conventos de Sta. Clara e S. Francisco. O interior da ilha mantém a mesma insistência nas loca lidades que mais chamavam ã atenç_áo do visitante e se encontravam no traçado das rotas de visita: Cabo Girão, Curral das Freiras. Encumeada, Boaventura. Rabaçal.
A visão do pintor é atente e em alguns casos parece-se com um registo fotográfico. As perspectivas aproximam-se da realidade e o quadro enche-se com dados de observação directa. A vegetação é rainha logo seguida das quedas de água. Em quase todos o hom em é uma presença obrigatória a sua pose é de contemplação. de êxtase face as belezas que o rodeiam, e raramente de total integração no conjunto. Mesmo assim esta presença, a pé ou cavalo. é secundária e anicha-se quase sempre no canto esquecido ' Através de algumas estampas e gravuras é possivel descortinar a presença de algum as espécies arbóreas. Aquelas que assumem valor alimentar- como a vinha e a bananeiraassumem algum destaque, seguindo-se o dragoeiro . Todavia toda a tenção está desviada para a natureza se lvagem que se afirma como o cumulo da beleza.
Os retratos do quadro natural madeirense não são tão variados nos temas, mas sim nos motivos
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e pormenores que enquadram e dão harmonia ao conjunto. A grande atenção estã nas encostas onde o casario se entrelaça ou não com o arvoredo. O céu. a luz. não pertencem ao universo destes artistas. pois aquilo que mais clama pela sua atenção é as encostas e o litoral abruptos. onde se an icham aS quedas de água. o homem. o casario e o variado arvoredo. este último quase que parece ausente das encostas e vistas próximas ã cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se esca lvadas. Os efeitos da acção do homem são notórios. Só quando se penetra no interior. em Encumeada. Curral das Freiras. Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberãncia da noresta. Aliás. é este o motivo fundamental que domina o pincel do artista. O sul está cheio de motivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da sua acção como o casario. pontes. etc. No grupo de textos cientificos a atenção reparte-se entre a nora. destacando-se a variedade de nores. e as formações geológicas. Estas últimas surgem com grande evidéncia em Edward Bowdich ( 1825).
No decurso dos séculos XVIII e XIX o quotidiano do vinho é retratado pela pena de diversos pintores e desenhadores europe us. nomeadam ente ingleses. que tiveram oportunidade de passar pela ilha. Parte significativa delas serviu para ilustrar livros sobre a ilha ou com capítulos a ela dedicados. Ainda no livro de Henry Vizetelly temos o mais evidente retrato desta realidade. Estamos perante uma gravura-reportagem que se detém de forma clara nos mais importantes armazéns de vinho da primeira metade do século XIX. Os principais motivos são os lagares. os borracheiros. e as balseiras. Os dois últimos elementos são os mais abundantes em toda esta iconografia visível hoje no Museu Frederico de Freitas no Funchal.