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 HISTÓRIA E DOENÇA: imagens histórico representativas de algumas doenças antigas e novas e da dislexia na escola. 1 José Arnaldo Vieira 2 Resumo: As doenças tem sido usadas pela humanidade como forma de explicar determinados acontecimentos, há muito tempo. Muitas vezes criaram-se imagens e símbolos em torno delas para justificar acusações de pecados, corrupções, ou injustiças praticadas em uma dada sociedade. Este artigo se propõe a tratar de algumas doenças, como a lepra, a peste negra, a sífilis, o câncer e a AIDS no seu campo representacional, e as decorrentes disso no convívio social do tempo, à luz de historiadores como Jacques Le Goff, Jean Delumeau, Michel Foucault ensaístas como Susan Sontag.  Ainda de forma particular, no meio educacional, focando as imagens em torno de um distúrbio de aprendizagem freqüente na escola, e que faz parte do delicado e complexo processo educacional, a dislexia.  A discussão deste tema estará ancorado em relatos biográficos e em estudos e pesquisas realizadas por entidades ligadas à análise das dificuldades de aprendizagem e das incompreensões vividas pelos disléxicos. Por fim, será observado como a escola, os educadores e as políticas setoriais, tem participado das discussões concernentes a este tema. Palavras chaves: História e doença. Educação. Escola. Dislexia. Abstract: The diseases has been used by mankind as a way to explain certain events, long time. Often they have created images and symbols around them to justify accusations of sin, corruption, or injustice committed in a given society. This article aims to address some diseases such as leprosy, plague, syphilis, cancer and AIDS as a representational field, and due also in social time in the light of historians such as Jacques Le Goff, Jean Delumeau, Michel Foucault and Susan Sontag essayists. Even so particular in the educational environment, focusing on the images around a common learning disabilities in school, and part of the delicate and complex process of education, dyslexia. The discussion of this topic will be anchored in biographical accounts and studies and researches conducted by entities linked to the 1  Trabalho realizado como parte das atividades do programa educacional PDE/2008, sob orientação do prof. MS. Marco Aurélio Monteiro Pereira da UEPG. 2  Professor de História da rede pública do Paraná, formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, especialista em História e Sociedade. 1

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 HISTÓRIA E DOENÇA: imagens histórico representativas de algumas doenças 

antigas e novas e da dislexia na escola.1

José Arnaldo Vieira2

Resumo:  As doenças tem sido usadas pela humanidade como forma de explicar determinados acontecimentos, há muito tempo. Muitas vezes criaram­se imagens e símbolos   em   torno   delas   para   justificar   acusações   de   pecados,   corrupções,   ou injustiças praticadas em uma dada sociedade.  Este artigo se propõe a  tratar  de algumas doenças, como a lepra, a peste negra, a sífilis, o câncer e a AIDS no seu campo representacional, e as decorrentes disso no convívio social do tempo, à luz de historiadores como Jacques Le Goff, Jean Delumeau, Michel Foucault ensaístas como Susan Sontag.   Ainda de forma particular, no meio educacional, focando as imagens em torno de um distúrbio de aprendizagem freqüente na escola, e que faz parte do delicado e complexo processo educacional, a dislexia.  A discussão deste tema estará ancorado em relatos biográficos e em estudos e pesquisas realizadas por   entidades   ligadas   à   análise   das   dificuldades   de   aprendizagem   e   das incompreensões vividas pelos disléxicos. Por fim, será observado como a escola, os educadores e as políticas setoriais, tem participado das discussões concernentes a este tema.

Palavras chaves: História e doença. Educação. Escola. Dislexia. 

Abstract:  The diseases has been used by mankind as a way  to  explain  certain events,   long  time.  Often  they have created  images and symbols around  them  to justify accusations of sin, corruption, or injustice committed in a given society. This article aims to address some diseases such as leprosy, plague, syphilis, cancer and AIDS as a representational field, and due also in social time in the light of historians such   as   Jacques   Le   Goff,   Jean   Delumeau,   Michel   Foucault   and   Susan   Sontag essayists. Even so particular in the educational environment, focusing on the images around a common learning disabilities in school, and part of the delicate and complex process of education,  dyslexia.  The  discussion of  this  topic will  be anchored  in biographical accounts and studies and researches conducted by entities linked to the 

1 Trabalho realizado como parte das atividades do programa educacional PDE/2008, sob orientação do prof. MS. Marco Aurélio Monteiro Pereira da UEPG.2 Professor de História da rede pública do Paraná, formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, especialista em História e Sociedade.

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analysis of learning difficulties and misunderstandings experienced by dyslexics. Finally, it will be observed 

as   the   school,   educators   and   sectoral   policies,   has   participated   in   discussions concerning to this topic. 

 Key words: History and disease. Education. School. Dyslexia

                                     CONSIDERAÇÔES INICIAIS

  Está   produção   tem   sua   origem   na   percepção   e   no   entendimento   da 

complexidade inerente que cerca o trabalho cotidiano dos professores na sua tarefa 

de participar da formação intelectual, ética e moral de jovens e adolescentes em 

idade escolar.  O ofício  pedagógico  no  Brasil  no  ensino  básico  é  marcado entre 

outras características pela excessiva carga horária em sala de aula, no caso do 

Paraná, são 40 horas semanais, das quais 32 presenciais, em salas com 35 alunos 

em média, segundo dados da Secretaria de Educação. Obviamente que tal situação 

tende a afastar o professor da possibilidade de pesquisar e até mesmo investir com 

qualidade   na   sua   capacitação   e   formação   continuada.     Os   altos   índices   de 

repetência e a evasão escolar se constituem também num desafio a ser enfrentado 

pelos educadores nacionais. Dados publicados em 2007 pelo INEP/MEC, dão conta 

que no Paraná  13,8% dos estudantes do ensino fundamental não completaram o 

ano  escolar,   e   no  ensino  médio  esse  percentual   sobe  para  22,2%.  Em  termos 

financeiros apurou­se que a evasão e repetência causaram no Brasil um prejuízo de 

15,1 bilhões de reais aos cofres públicos, no ano de 2007. 

  Na tentativa de enfrentar as necessidades e limitações presentes no campo 

educacional,   o   Paraná   vem   desenvolvendo   desde   2007   o   Programa   de 

Desenvolvimento Educacional (PDE), que possibilita ao professor, depois de passar 

por um processo seletivo, ausentar­se por um ano de suas atividades profissionais 

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de   docência   e   ao   longo   deste   tempo,   desenvolver   um   projeto   de   pesquisa 

acompanhado de orientação acadêmica, que posteriormente será aplicado na escola 

de origem do docente, além outras atividades, que somadas impulsionam a carreira 

do  professor  e  buscam dar  melhor  qualidade ao ensino  paranaense,  bem como 

compreendê­lo nas suas diversidades.

  Como aluno do programa em 2008, surgiu oportunidade de pesquisar um 

objeto,  desde  que  este  estivesse   vinculado   à  área  de   formação  profissional   do 

cursista,   neste   caso,   história.   A   seguir   o   projeto   deverá   ser   inserido   nas 

normatizações   do   programa   PDE:   produção   de   um   material   didático,   uma 

intervenção prática  na  escola  e  por   fim um artigo  científico,   todas as  atividades 

vinculadas a um projeto inicial.

 As doenças na História, no contexto das representações sociais e mentais 

historicamente construídas a cerca de algumas delas, foi a temática escolhida. Para 

atender à necessidade de adequação do tema à uma ação efetiva escola, fez­se a 

opção   por   direcionar   os   estudos   de   um   campo   mais   amplo   de   doenças 

historicamente simbólicas, como a lepra, a peste negra, a sífilis, o câncer e a AIDS 

para o universo educacional, onde será analisado o sentindo imagético que cerca a 

dislexia  e  seus  portadores,   pois   esta  dificuldade  de  aprendizagem,  mesmo  não 

sendo  tomada como doença é  a  que mais  afeta  os estudantes,  de  acordo com 

dados nacionais e internacionais das entidades que pesquisam essa condição, entre 

elas, Associação Brasileira de Dislexia (ABD) e o Instituto Karolinska, na Suécia, 

entidade   ligada   à   Universidade   de   Helsinque,   na   Finlândia,   que   apontam   na 

população mundial um número entre 3 e 10% de disléxicos.  

A escolha da dislexia e suas representações no meio educacional, respalda­

se na experiência cotidiana de 15 anos de contato com as produções textuais dos 

estudantes, nos quais em muitos casos, claramente observava ­ se uma dificuldade 

de organização das  idéias,  de como redigi­las, e ainda o uso de um vocabulário 

demasiado estreito, sinais da presença de um distúrbio de aprendizagem típico dos 

disléxicos. Também, da percepção de que mesmo imensamente presente no espaço 

escolar e causando sérios transtornos aos seus portadores, a dislexia era totalmente 

ausente das exíguas discussões pedagógicas ao longo do ano escolar. Assim, por 

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entender que a saúde psíquica dos alunos é um fator que interfere no seu sucesso 

ou   fracasso  escolar  e  no  processo  de  ensino  e  aprendizagem,   é  que   julgou­se 

oportuno dedicar uma investigação sobre este assunto e levá­lo ao conhecimento de 

meus pares, numa perspectiva de melhor compreender e avaliar, considerando não 

apenas absorção demonstrativa dos conteúdos, em forma de nota, mas  também 

atentar para aquilo que está em torno das dificuldades de aprendizagem. 

A clareza de que, uma maior cientificidade no trabalho do professor, poderá 

enfrentar o abandono escolar, o preconceito gestado em torno dos disléxicos e a 

reprovação, indicavam que os grupos que mais poderiam ser tocados pela temática 

seriam os professores e professoras do Instituto de Educação de Ponta Grossa e os 

formandos e formandas do curso de Formação de Docentes daquela instituição, a 

eles e para eles, foi pensado e construído o projeto de pesquisa e as ações que o 

seguem. Esta etapa foi cumprida ao longo do primeiro semestre do ano letivo de 

2009,   sob   a   forma   de   encontros   dirigidos,   na   Semana   Pedagógica   para   os 

professores e nas aulas de Prática de Ensino de História para os estudantes.

   Nítido ficou que esse projeto era inteiramente viável do ponto de vista do 

campo historiográfico e de atuação do historiador, graças a todas as inovações e 

alargamentos   temáticos   e   de   objetos   trazidos   pela   Escola   dos   Annales   (1929), 

donde brotaram vertentes que questionaram as “verdades” e mostraram que o ponto 

de vista é  que é  o ponto da questão, com diria o músico/poeta Raul Seixas, na 

canção   “Que   luz   é   essa?”,   gravada   em   1978.   Junto   a   isso   uma   variedade   de 

historiadores que escrevem e pesquisam as doenças e suas reverberações sociais, 

como   é   o   caso   de   (LE   GOFF,   1997),   (DELUMEAU,   1989),   (NASCIMENTO   & 

CARVALHO,   2004),   e   ainda   trabalhos   publicados   por   (FOUCAULT,   1978)   e 

(SONTAG, 1989).

  Muito   embora   essas   duas   últimas   não   sejam   produções   realizadas   por 

historiadores de ofício, ainda assim são obras de leitura recomendada quando se 

deseja mergulhar no universo das doenças e das compreensões que a sociedade 

faz das mesmas ao longo do tempo histórico. 

Aforante   as   questões   pedagógicas   e   de   cumprimento   das   normas   do 

programa PDE, a  identidade com a ciência histórica e com a  licenciatura agiram 

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como potentes  motivadores  de   tal  empreitada,  pois  estava claro  que se poderia 

contribuir, ainda que singelamente, para que professores e alunos se reconheçam 

em   suas   capacidades   e   dificuldades,   e   assim   tornar   mais   justa   e   coerente   as 

relações científicas e humanas que os cercam.  Pensar, vislumbrar 

e   promover   pequenas   ações   para   que   a   escola   cumpra   sua   função   social 

republicana e responda às expectativas nela depositadas pela sociedade, é sempre 

um agente influente quando a ação visa canalizar nossas energias em torno de um 

projeto.   Finalmente,  a certeza de obter uma melhor qualificação e ascensão na 

carreira profissional, foi mais um elemento nas diversas motivações que levaram à 

execução do projeto inicial, que desembocou por fim no artigo presente.   

A doença no campo historiográfico

  O campo de pesquisa e de interesse pela história das doenças é recente, 

porém nos últimos anos tem tido uma importante expansão, em que os historiadores 

tem buscado escapar das limitações da História da Medicina, em parte centrada na 

biografia de médicos famosos, no progresso enexorável do saber, dos tratamentos e 

das práticas médicas ao longo dos tempos. Credite­se a isso às novas concepções 

do  que  seja  História,  que   tem como ponto  de   referência  a  Escola  dos  Annales 

(1929),  e à   interligação da ciência histórica com outros ramos do saber como, a 

antropologia social e cultural, a literatura, a sociologia médica, a arte, a ecologia, 

dentre outras possibilidades de análise criadas por aquele marco referencial.

 Os novos estímulos gestados pelo “saber Annaliste”, como diz o historiador 

Roy Porter,   (PORTER, 1992),   renovou o amplo  aspecto que circunda a História 

Social   e   suas   vertentes,   demonstrando   que   existe,   toda   uma   historicidade   nas 

doenças   que   permeiam   inúmeros   acontecimentos   da   vida,   tanto   nas   suas 

superfícies duras, quanto nas imagens e símbolos edificadas no viver de cada um e 

de todos.   Charles Rosenberg, citado por (SILVEIRA E NASCIMENTO, 2004), no 

artigo “A doença revelando a história. Uma historiografia das doenças”, afirma ele, 

um estudioso das três epidemias de cólera ocorridas nos Estados Unidos, nos anos 

de  1832,   1849  e  1866  que   “a   doença  é   um amálgama  que  envolve   tanto   sua 

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natureza   biológica,   como   também   os   sentidos   que   lhes   são   atribuídos   pelas 

sociedades, sendo, por isso, uma construção intelectual complexa”.

No mesmo artigo Allan Brant,  que estudou algumas doenças venéreas no 

século XIX e  início do XX, acredita que as doenças não podem ser examinadas 

somente   como   entidades   biológicas,   devendo   ser   vistas   como   fenômenos   mais 

amplos,  isto é,  que envolvem certas atitudes, valores e crenças sociais.  Em sua 

abordagem, a análise de símbolos e das imagens associadas a uma determinada 

doença tem uma importância crucial, pois é por meio delas que podemos determinar 

os   valores   e   os   padrões   de   julgamentos   que   guiam   as   práticas   sociais   em 

determinadas sociedades. (BRANDT, 1985).

 Embora a doença esteja presente nas narrativas dos historiadores desde a origem 

da crônica, ela só é tomada como objeto específico muito recentemente.

Um dos estudos pioneiros a respeito das doenças, sob a ótica dos Annales é 

escrito em 1972 e publicado em 1976, pelos historiadores Jacques Revel e Jean­

Pierre Peter, numa obra dedicada aos novos objetos da História, em que eles se 

perguntam. Que sabemos nós sobre a doença? A partir desta questão inicial os dois 

passam a mostrar que as doenças, são um fator influente nos arranjos e desarranjos 

sociais,   tanto  por  sua natureza biológica,  quanto  pelos  sentidos  que a elas  são 

atribuídos.  Eles   tecem  relações  entre  o  corpo,  o  médico,  o  doente,  a  medicina 

popular e os processos e  linguagens que os constituem, demonstrando que “nas 

palavras e no corpo a doença é uma experiência do limite”, portanto buscar saber 

sobre elas é um caminho que ajuda a explicar determinados fenômenos sociais reais 

e imaginários, edificados no tecido social. Para muitos intelectuais, os autores ao se 

debruçarem sobre o tema das doenças, indo além da mera objetividade do corpo, 

preenchem um espaço até  então faltante na análise histórica social.  Segundo os 

autores:

[...].  O  acontecimento  mórbido  pode  ser  o   lugar  privilegiado  de  onde  melhor  observar  a 

significação real dos mecanismos administrativos ou das práticas religiosas, as relações entre 

os poderes, ou a imagem que uma sociedade faz de si mesma. (REVEL; PETER, 1972. p. 

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 A partir da década de 70, a expansão da pesquisa histórica no campo das 

doenças e  de  áreas  correlatas   foi  notável.   Isso  possibilitou  que o conhecimento 

sobre as doenças, sejam elas, endêmicas, epidêmicas e crônicas, as resultantes 

políticas,   sociais   e   ecológicas,   advindas   das   trocas   genéticas   continentais,   os 

saberes médicos e populares, maiores compreensões do que venha a ser doença e 

seus cuidados, medos e mecanismos sociais de controle, o paciente, todas essas 

variáveis   passam   ser   analisadas   pelos   historiadores   das   doenças   e   da   saúde, 

demonstrando a riqueza do objeto e os múltiplos envolvimentos delas nas mudanças 

sociais e mentais pelas quais passam a humanidade. (SILVESTRE; NASCIMENTO, 

2004).

Alguns historiadores tomaram as doenças nos seus aspectos sócio­ políticos, 

como   foram os  casos  de  Nicolau  Sevcenko   (1984),   e   José  Murilo   de  Carvalho 

(1987), que estudaram a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro no início do século 

passado,   movimento   de   contestação   social   popular   originário   nas   formas   dos 

governantes   e   sanitaristas   tratarem   uma   série   de   doenças   que   assolavam   a 

população carioca, como a varíola, a febre amarela, a peste bubônica associado a 

um projeto modernizador excludente em curso na capital federal à época.  No esteio 

da revolta não deixaram de existir os usos políticos da mesma, como a tentativa de 

golpe de estado impetrado pela oposição ao presidente Rodrigues Alves, e pesadas 

críticas ao então prefeito da cidade capital federal, Pereira Passos. No final, diante 

do imenso desgaste político, as forças governamentais tiveram que recuar de sua 

intenção   inicial   de   obrigarem  a   população  à   vacinação   compulsória,   bem  como 

refazer  os métodos até  então utilizados para  proceder  o  saneamento da    então 

capital do Brasil. 

 A doença como “arma biológica” de profundas implicações, foi dissecada por 

Willian Mcneill  (1976), ao ler os impactos causados por elas nos encontros entre 

povos   com   vivências   imunológicas   diferentes,   como   ocorreu   no   contato   entre 

europeus e ameríndios no final do século XV a ao longo do XVI, em que as doenças 

viróticas infecciosas trazidas pelo estrangeiro, como a gripe, o sarampo e a varíola, 

foram   determinantes   no   processo   de   fixação   destes   nos   territórios   dos   antigos 

moradores da Pachamama,  e ao mesmo tempo,  causaram milhões de mortes e 

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extermínios  de  vários  grupos da população nativa  das Américas,  que devido ao 

isolamento   oceânico   não   possuíam   anticorpos   para   enfrentar   este   novo   e 

desconhecido inimigo, que  mesmo seus pajés e xamãs invocando os espíritos mais 

poderosos,   pareciam     pouco   poder   fazer   em   favor   daquele   mar   de   doentes   e 

moribundos.  (MCNEILL, 1976).  

Dentre as discussões teóricas que cercam o fato dos homo sapiens terem se 

tornado   a   única   espécie   humana   vivente   na   atualidade,   após   competir   com   os 

neanderthais,  especula­se  que   é   plenamente  possível   que  as   trocas   viróticas  e 

bacteriológicas entre ambos e transmutadas em doenças, sejam um dos elementos 

que influenciou na extinção destes e na conseqüente supremacia dos sapiens. Afinal 

como se tratava do convívio de espécies com vivências micro biológicas diferentes, 

os neanderthais não conseguiriam responder aos ataques de seres estranhos ao 

seu   corpo,   ainda   que   isso   tenha   acontecido   de   forma   involuntária.   Se   esta 

especulação é parte integrante desta história, a ciência responderá, no entanto uma 

coisa é certa, as doenças são participantes ativos nos destinos da humanidade. 

O britânico, Peter Burke, um dos já clássicos historiadores da Nova História, 

comentando em sua coluna mensal em um jornal de circulação nacional no dia 03 

de maio de 2009, a respeito da “gripe suína”, também chamada de Influenza A, uma 

epidemia  que  nos  primeiros  meses  de  2009   causou   temor  e  preocupações  em 

grande parte do mundo, levando a fechamento de escolas, interrupção das aulas, ao 

sumiço de álcool gel e das máscaras das prateleiras das farmácias, bem como a 

milhares  de  mortos  por   toda a  parte.  Afirma ele  que uma das desvantagens da 

globalização é  que ela ajuda as doenças a se espalhar mais rápido hoje que no 

passado, tornando os pesadelos humanos muito mais freqüentes e preocupantes. A 

atual experiência da gripe ocorreu no Brasil, no México, na Argentina, nos EUA e em 

vários outros países simultaneamente, numa transcontinentalidade que  lembra de 

perto os eventos do século XV, estudados por Mcneill.

Jacques Le Goff (1997), historiador intimamente ligado à Escola dos Annales, 

também voltou parte de sua produção acadêmica para a História das doenças, no 

rumo da História das mentalidades. “Uma idéia”,é como ele se refere à doença, logo 

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na apresentação da coletânea de artigos de historiadores e médicos, nominada “As 

doenças tem História”, nele assim pronuncia­se:

 A doença pertence à História, em primeiro lugar, porque não é mais do que uma idéia, um certo abstrato numa “complexa realidade empírica” (M. D. Grmek), e porque   as   doenças   são   mortais.   (...)   A   doença   pertence   não   só   à   História superficial  dos progressos científicos e   tecnológicos como  também à  História profunda   dos   saberes   e   das   práticas   ligadas   às   estruturas   sociais,   às representações, às mentalidades. (LE GOFF,  1997, p. 7e 8).

O autor mostra ainda que as atitudes humanas face às doenças não mudam 

desde idos tempos, de um lado tem­se a ciência médica em permanente evolução 

em busca da cura, de outro, um sem número de orações, ervas, curandeirismos, 

magias também garantem a expulsão do mal temporário que afeta o doente, como 

esta oração publicada em 1996 em uma brochura  popular chamada “Chás, banhos 

simpatias e orações”e colocada à venda em bancas de jornais: 

ORAÇÃO CONTRA TODAS AS DOENÇAS

‘Em nome do poder + do pai, do Amor + do filho, e da 

Sabedoria   +   do   espírito   Santo.   Pela   gloriosíssima   Encarnação,   gloriosíssimo 

Nascimento,   Santíssima   Paixão,   Ressurreição   e   Ascensão   de   Nosso   Senhor 

Jesus Cristo. Por esses altos e santíssimos Mistérios, nos quais eu creio, suplico 

a Santíssima Trindade do Pai,  do filho, do espírito Santo, pela  intercessão da 

Santíssima Virgem Maria, nossa advogada, livre e cure (diga o nome da doença). 

Por São Roque e São Sebastião, pelas onze mil virgens, por todos os Santos e 

Santas da corte celeste. Assim seja Jesus, Jesus,  Jesus.  Senhor,  meu Jesus 

Cristo,   nosso   Redentor,   encomenda­me   a   Vós,   suplicando­vós   curar­me   (ou 

fulano) deste mal. Adoremos, reverenciemos, obedeçamos sempre à vontade de 

Nosso Senhor Jesus Cristo.  Assim seja,  Jesus,  Jesus,  Jesus.  (Chás,  Banhos 

simpatias e orações. 1996. p. 64 e 65).

  Este   tipo   de   enfrentamento   que   caberia   na   idéia   braudeliana   da   “longa 

duração”, permanece ativo, a ciência e o divino unem­se na luta contra a fatalidade 

das doenças e de suas imagens aterradoras. Outra área explorada na obra, são as 

representações  em   torno  das   doenças,   os   sentidos   socialmente   construídos   de 

culpabilidade de cada um e de todos, os medos, os julgamentos religiosos e morais, 

os preconceitos, todos participantes simbólicos desta “História dramática” no dizer 

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de   Le   Goff   (1997,   p.   7),   que   junta   a   dor,   a   culpa   e   os   juízos   humanos,   num 

amálgama terrível. Para o mentalista, lepra, no seu sentido ainda medieval, a peste 

negra, cancro, sífilis, tuberculose e AIDS são doenças às quais cabem observações 

deste gênero. 

Como não poderia ser diferente, as preocupações acadêmicas em torno das 

doenças necessitaram de novas fontes para responder às inquietações e hipóteses 

dos historiadores, assim toda uma nova gama delas passou a ser explorada dentre 

as  quais  podemos  lembrar  dos  prontuários,   livros  e  artigos  médicos,   literaturas, 

relatórios   de   instituições   públicas   e   privadas.   Outros   tipos   de   fontes   foram 

revisitadas  e   relidas,   como  relatos  de  época,  obras  memorialistas  e  biográficas, 

artigos e colunas de jornais e uma série de documentos de estado. Isso garantiu ao 

campo   histórico   solidez   e   plausividade   nos   resultados   e   inúmeros   créditos   à 

contribuição dada por estes estudos na compreensão do processo histórico vivido 

pela humanidade.     

 

 

Doenças e significados representativos simbólicos

No   âmbito   geral   do   estudo   das   doenças,   a   questão   representacional   ou 

simbólica tem recebido muita atenção por parte dos estudiosos. Estudos apontam 

que   várias   delas   transfiguraram   o   sentido   médico   biológico,   passando   a   serem 

portadoras de um conjunto de sentidos, invariavelmente de caráter moralista, que 

junto   com   os   sintomas   de   dores   e   desânimo   também   causavam   ao   paciente 

algumas aflições a mais, como o abandono familiar, o desprezo social, a pecha de 

pecador, a vergonha, idéias essas, fruto de uma construção social historicamente 

passível   de   compreensão   no   tempo.   Tais   estudos   apontam   que   a   lepra,   (hoje 

hanseníase), a peste negra, a sífilis, o câncer e mais recentemente a AIDS como 

casos preferenciais, quando se trata de atribuir a uma doença do corpo, uma feição 

metafísica. É o caso de várias publicações do francês  Michel Foucault, em que o 

tema da doença, pensado neste viés, é o objeto alvo. Em “A História da loucura na 

idade clássica” (1978), Foucault se refere ao mundo imaginário gerado pela lepra, a 

partir da análise dos prontuários e estatutos das gafarias (leprosários) e do cotidiano 

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nos hospitais medievais. Neles o autor percebe a dimensão simbólica que enraizar – 

se ­ á profundamente em torno da doença:

Aquilo que sem dúvida vai permanecer por muito mais tempo que lepra, e que se manterá ainda numa época em que, há anos os leprosários estavam vazios, são os valores e as imagens que tinham aderido à personalidade do leproso. (FOUCAULT, 1978, p. 6).

O pensador francês observa em seus escritos a exclusão social do leproso 

tendo em determinadas épocas sua morte civil declarada ritualisticamente, e garante 

que isso era parte integrante do tratamento, pois só assim ele poderia reintegrar­se 

à vida espiritual, pois a doença era um sinal da cólera divina, mas ao mesmo tempo 

de sua bondade,  uma vez que,  a  punição e  a exclusão ocorriam como medida 

pedagógica para que o sujeito pecador pudesse pagar pelo erro e ainda tornar viável 

sua entrada no paraíso.  O modelo  de  análise   “Foucaultiano”  da  História  e  suas 

representações mentais, tornou­se fundamental para muitos trabalhos na área da 

história e de saberes correlatos.

“O medo da Lepra”,  dá   título  ao  artigo  de  Françoise  Béniac,  que é  parte 

integrante do  livro  ‘As doenças tem história”, e onde a historiadora assistente da 

Universidade de Bordéus mostra que os leprosos eram obrigados pela igreja católica 

a usar símbolos nas roupas para distingui­los dos saudáveis e tocar uma matraca 

para  avisar  que estavam em público.  Ainda eram proibidos de  comercializar,  de 

entrar nos mercados, de ter acesso ao sacerdócio e deveriam ser alimentados pelos 

paroquianos   para   que   não   precisassem   tocar   nos   alimentos,   conforme   ordem 

emitida   pelos   padres.   Estas   constatações   feitas   pela   historiadora   evidenciam 

claramente a intima relação simbólica da sociedade com os portadores do mal de 

lázaro, e à carga preconceituosa que eram vítimas. Obviamente que o afastamento 

temporal precisa ser levado em conta nas possíveis análises destes fenômenos.   

Em sua  dissertação de  mestrado,  a  pesquisadora  Vivian  da  Silva  Cunha, 

mostra que muitos termos simbólicos  ligados à   lepra sobrevieram ao passar dos 

séculos,   tais   como:   lazarrento,   morfético,   gafeirento,   gafo,   mal   de   Lázaro,   mal 

bíblico. Assim o tempo não alterou o significado dessas palavras e o verdadeiro 

doente de lepra, ou seja, aquele que, de fato carregava o Microbacterium Leprae em 

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seu corpo, continuou a ser rejeitado e temido pela sociedade. O imaginário social 

fortemente enraizado não possibilitou que, mesmo após a definição da doença, seu 

agente causador, sua terapêutica e profilaxia, se pusesse fim ao estigma milenar 

que acompanha o doente e sua família, mostrando que na construção social das 

doenças, a linguagem funciona como uma invenção sobre um fenômeno biológico. 

(CUNHA, 2005).  

Apesar  de ser uma doença conhecida pelos médicos e curável,  ela  ainda 

suscita no presente imagens que a ligam a um passado remoto de incompreensões 

e   preconceitos,   a   ponto   de   no   Brasil   ocorrer   em   1981   a   fundação   do   Morhan 

(Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), a partir da 

iniciativa de Francisco Augusto Vieira Nunes, um portador vitimado pela doença que 

hoje faz frente à luta dos hansenianos por indenizações, devido à obrigatoriedade 

legal imposta pelo estado brasileiro à época de Getúlio Vargas, para que os doentes 

fossem   isolados   em   colônias   de   tratamento   espalhadas   pelo   país.   Essa 

obrigatoriedade só  deixou de existir a partir de 1976, quando a lei de isolamento 

compulsório   dos   pacientes   de   hanseníase   foi   revogada   pela   portaria   165,   do 

ministério da saúde a qual tornou proibido o direito da polícia sanitária levar à força 

os doentes para hospitais colônias. Informação e esclarecimento à sociedade do que 

seja o “mal de hansen”, também faz parte do projeto do Morhan de enfrentamento 

da ainda forte e presente ignorância em torno desta patologia médica.

 No mesmo campo estão os estudos dos historiadores George Duby (1998), e 

Jean Delumeau (1989), que entre outros escritos dedicou um deles à  História do 

medo.   Para   ele   as   doenças   estão   entre   os   grandes   medos   da   humanidade, 

exemplifica sua tese discorrendo sobre a Peste Negra, que devastou a Europa no 

século XIV levando à morte “a terça parte do mundo”. Delumeau mostra que não 

foram poucas as representações sociais criadas em torno da Peste, idéias como “um 

novo   dilúvio”,   “funestas   conjunções   astrais”,   “Deus   encolerizado”,   e   “chuva   de 

flechas”,   permeiam   as   inúmeras   tentativas   mentais   de   compreender   o   que   se 

passava e de livrar­se do mal temido.  (DELUMEAU, 1989, p. 112).

Tal  como a Peste  Negra,  e  a  Lepra,  a  Sífilis  e  a  AIDS  igualmente  foram 

geradoras de influentes interpretações que colocavam seus portadores na lista dos 

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malditos, notadamente pelo fato destas duas doenças estarem ligadas, entre outras 

coisas, à sexualidade humana, tema perigoso e cheio de nuances que perpetraram 

visões   de   uma   possível   identidade   sexual   exagerada   e   devassa   de   seus 

hospedeiros. Vera Regina Beltrão Marques (2004),  escrevendo sobre a sífilis em 

Curitiba  nos  anos  1920,  afirma  que  havia  uma percepção  que  ela  e  o  sifilítico, 

comprometeriam o futuro da nação, dado o contágio da moléstia. Segundo ela, os 

discursos produzidos por médicos e educadores daquele período, na maioria das 

vezes destacavam o perigo da “degeneração da raça” por meio da consangüinidade 

e   da   imoralidade   sexual   dos   homens   que   graças   às   suas   “senvergonhices” 

manchavam   a   sociedade,   a   família   e   a   si   mesmos   com   este   comportamento 

degenerado.   Socialmente o doente de sífilis possuía além da doença em si, uma 

doença moral, sobre a qual recaía uma diversidade de imagens, mitos e símbolos. 

O   tema   do   “morbus   gallicus”,   como   ficou   sendo   chamada   a   doença   na 

Europa, após um surto epidêmico em Nápoles em fins do século XV, foi objeto de 

interesse   da   ensaísta   norte­americana   Susan   Sonatg,   ela   aponta   que   o   hábito 

difundido na classe média de forrar os assentos das privadas públicas é vestígio das 

crenças de que se podia pegar sífilis “por meios inocentes”. Histórias mentalmente 

amedrontantes que até hoje nos perseguem (SONTAG, 1989, 33.).

  A AIDS e suas representações compõem parte  integrante do  trabalho de 

Sontag, nele ela discute o imaginário em torno desta doença que transforma seu 

possuidor   aos  olhos  do  público  em geral,   um  irresponsável,   um delinqüente  de 

sexualidade perversa, cujo castigo reflete seu comportamento transgressor. Mesmo 

os hemofílicos são personagens das incompreensões e valores negativos criados 

em torno destes “decadentes morais”, no dizer de Sontag (1989, p. 73), ao comentar 

o simbolismo presente na figura do soropositivo.   Para a escritora, as metáforas e 

mitos espalhados sobre certas enfermidades, podem ser mais doloridos e fatais que 

a própria doença, já que estigmatiza o paciente a ponto de impedi­lo de buscar um 

tratamento   conveniente   à   dor   que  o   aflige   e   torna­o   um   símbolo   de   vergonha, 

vergonha  essa  edificada  popularmente  e  muitas  vezes   interiorizada  pelo  próprio 

paciente. A portadora do vírus HIV, C.M., ao ser entrevistada pela jornalista Maria 

Gizele da Silva, em matéria publicada pelo jornal Diário dos Campos no dia 01 de 

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dezembro de 2003, assim se pronunciou ao comentar sua situação de mãe recente 

e soropositiva: “Eu não amamentava ele e tinha vergonha de dizer às enfermeiras 

que estava com AIDS”. 

A   posição   tomada   por   C.M.   evidencia   todo   o   estigma   vivido   por   estes 

pacientes, que mesmo diante de um profissional de saúde se sente constrangida em 

afirmar sua condição, tamanha é a carga imagética construída pela sociedade em 

torno   desta   doença.   Para   Susan   Sontag,   as   metáforas   criadas   em   torno   das 

doenças   provocam   uma   mobilização   excessiva,   uma   representação   exagerada 

dando   uma   contribuição   de   peso   para   o   processo   de   excomunhão   social 

estigmatização dos doentes, que ao interiorizá­las sentem­se os únicos culpados por 

estarem vivendo uma situação dramática, esquecendo­se de que há toda uma visão 

moralizante evocada pela sociedade que não corresponde à  sua situação de ser 

apenas um doente clínico, muitas vezes temporariamente.  

As  imagens em torno da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS, 

também já tiveram um uso de caráter político e ideológico, como ocorreu na África 

do Sul à época do Apartheid, em que no discurso político antiterrorista da direita se 

afirmava que “ os terroristas agora estão nos atacando com uma arma mais terrível 

que o marxismo: a AIDS”. O campo do discurso religioso também  foi fertilizado e 

fertilizou o imaginário, exemplo disso é a afirmação do cardeal arcebispo de Brasília, 

D. José Falcão que assim pronunciou­se a respeito da AIDS: “ AIDS é conseqüência 

da decadência moral”. “Castigo de Deus” e “ vingança da natureza”, foram termos 

utilizados por D. Eugênio Sales, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, ao referir­se à 

SIDA, e citados por Sontag em seu trabalho.

Ainda no campo metafórico das doenças, a ensaísta reflete sobre as mais 

variadas   imagens   criadas   em   relação   ao   câncer,   desde   as   punitivas,   morais   e 

religiosas,   muitas   das   quais   herdadas   da   tuberculose,   e   outras   “inventadas”   na 

modernidade, como a da “guerra contra o câncer”, numa clara alusão à militarização 

simbólica da doença, presente no discurso médico quando se reportam ao câncer 

como  inimigo  que   invadiu  as  defesas  do corpo.  Não  é   de  hoje  que a   literatura 

médica mostra o emprego de metáforas militares na medicina, isso é corrente desde 

a década de 1880, época da afirmação de que bactérias causavam doenças. Idéias 

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e   discursos   como   a   “luta”   ou   “cruzada”   contra   o   câncer,   o   câncer   é   doença 

“assassina”, são na visão da autora evidências que convencionam “tratar o câncer 

não como uma simples doença, mas como um inimigo demoníaco” (SONTAG, p. 

53). 

A   autora   usa   como   fontes   uma   variedade   de   obras   literárias   artísticas   e 

médicas, diários e poemas onde situações e personagens doentes revelam suas 

aflições geradas pelas metáforas socialmente construídas em torno da doença, ela 

mesma, portadora. Entre os escritos médicos está o de Wilhelm Reich (1873/1957), 

que  afirmava  ser   o   câncer  originário   na  privação  do  prazer   imposta  pela  moral 

burguesa, o que levaria o paciente a perder o “orgone”, a energia cósmica, e assim 

adoecer. Um sentido à doença crivado de imagens.

Esse   caleidoscópio   imagético,   ao   mesmo   tempo   que   dá   esperanças   ao 

paciente, graças às tecnologias usada nessa “guerra”, o destrói aos poucos, face ao 

bombardeio  que  ele  sofrerá  no   tratamento  químico  e  no  convívio  com  todos os 

simbolismos  que  passará   a     ser   portador,   todos  eles  basicamente   apontam  na 

direção da morte, ou do milagre divino. De fato, trata­se de uma doença cujas visões 

lembram os mais antigos flagelos da humanidade na luta do bem contra o mal, ou da 

vida contra a morte.

A doença e a escola. A dislexia e suas imagens

No   que   diz   respeito   às   relações   entre   doença   e  desempenho   escolar,   o 

campo ainda é insípto, e boa parte das pesquisas nesta área acaba ficando restrita 

ao   meio   acadêmico,   mas   alguns   apontamentos   médicos   defendem   que 

determinados   traumas   e   doenças   incidem   significativamente   na   capacidade   de 

aprendizagem.   Nutricionistas   alertam   que   a   não   ingestão   de   uma   determinada 

quantidade   mínima   de   calorias   na   infância,   o   uso   de   drogas   lícitas   e   ilícitas 

compromete o desenvolvimento escolar da criança e do futuro adolescente jovem. 

No entanto fatores como esses, mesmo influenciando todo o percurso de ensino e 

aprendizagem, não são considerados quando se trata de aferir o desempenho de 

um aluno ou do sistema escolar como um todo. A escola, via de regra, considera 

todos os alunos como iguais, logo com a mesma capacidade de aprendizagem, o 

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que de acordo com a ciência, não procede, já que indivíduos com histórias de vidas 

diferentes,   tem   ritmos   diferentes   de   assimilação.   Além   da   questão   alimentar   e 

psicológica,   outras   patologias   interferem   na   vida   estudantil,   como   as   chamadas 

dislexias e até mesmo doenças de alto grau de transmissão como gripes, sarampo, 

varíola, meningite, entre outras, que levaram e levam às vezes suspensão das aulas 

e   alterações   no   calendário   escolar,   prejudicando   a   aprendizagem   e   o   trabalho 

pedagógico.  

Nos últimos anos o Brasil tem avançado no tratamento e controle de várias 

doenças e atitudes como separar doentes de sadios, tem ajudado a escola a não ser 

um   foco   disseminador   de   epidemias.   Exemplo   clássico   recente   ocorreu   com   a 

suspensão das aulas nas semanas iniciais do mês de Agosto de 2009, em vários 

estados   da   região   sudeste,   motivado   pelo   surto   da   influenza   A   (H1N1), 

popularmente chamada de “gripe suína”.

Muito embora tenha ­ se obtido sucesso no controle de certas moléstias em 

que   a   escola   é   um   potente   foco   irradiador,   uma   situação   que   compromete 

sensivelmente o rendimento escolar e que mesmo não sendo atribuído a ela um 

caráter de doença, faz seus portadores viverem dramas parecidos com o daqueles 

doentes,  cujo  mal  biológico  é  associado  a  uma série  de  esteriótipos  e   imagens 

distorcidas, é a dislexia.

Este   distúrbio   ou   transtorno   na   aprendizagem,   de   caráter   neurológico   e 

genético, que nada tem a ver com condição social ou psicológica do sujeito, sendo 

um funcionamento peculiar do cérebro para o processamento da linguagem, cuja 

evidência maior é uma dificuldade no campo da leitura e escrita. É é o que ocorre 

em maior  incidência na escola,  segundo os estudos realizados por entidades da 

área  como a  Associação  Brasileira  de  Dislexia   (ABD),  o   Instituto  Karolinska,  na 

Suécia e a Universidade de Helsinque.  Estes estudos apontam que entre 3 e 10% 

da   população   mundial   sofre   de   dislexia.  Nos   EUA,   onde  existem   estudos   mais 

freqüentes, as estatísticas indicam que em média 20% da população tem algum grau 

de dislexia, já nas salas de aula de cada 10 alunos 2 apresentam sintomatologia 

desta   condição   hereditária,   alguns   inclusive   apelando   pro   suicídio,   como   forma 

enfrentar todo os preconceitos de que são vítimas. Os números das percentagens 

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mundiais  podem  ser   transferidos  para  a  escola,   já   que   todos,   ou  quase   todos, 

passam pelos  bancos  escolares,  o  que  nos   remete  a  pensar  sobre  o  quanto  é 

significante os casos de dislexia nas escolas brasileira mundiais.

 Além das escassas pesquisas, experiências pessoais vividas por professores 

e portadores, dão conta da presença incidente da dislexia na sala de aula e que 

muitas vezes não é diagnosticada. Ilustro este trabalho com dois exemplos de partes 

de   textos produzidos por  alunos que demonstram dificuldade de organização de 

idéias e confusão ortográfica, letra irregular (o original foi escrito à mão) potenciais 

sintomas da dislexia.  O primeiro   texto  foi  produzido por  um aluno do 2º  ano do 

ensino médio, no ano de 2007, em que o estudante foi convidado a escrever um 

relatório após ter assistido um vídeo sobre as lutas operárias no Brasil e no mundo. 

Eis um fragmento do documento:

“mostra a realidade de uma época onde que as pessoas  tinhão que trabalhar de 

forma escrava direitos não aviam mostrara ambém o domineo de pessoas que tinhão 

o poder que fazia mulheres e crianças menores de 14 anos trabalhar mas conforme o 

tempo os trabalhadores forãm tendo coragem e fiserão a grande revolta ou seja uma 

grade greve onde que seus direitos fosem reconhecidos aumento de salario 8 horas 

de serviso e crianças menores de 14 não trabalhar esses direitos forão conquistados 

com a união dos trabalhadores que apenas so querião seus direitos”

O segundo texto também foi escrito por um aluno do ensino médio do último 

ano, no ano letivo de 2007, em que ele faz um comentário a respeito do filme “ O 

que é isso companheiro?”, cuja temática é a ditadura militar no Brasil entre os anos 

de 1964 à 1985. Reproduzo aqui uma parte do escrito:

COMENTÁRIO – O QUE É ISSO BRASILEIRO

“A ditadura militar foi um ato marcante para a historia do Brasil poi foi ocorrida em 

1964, qandos uma força revolucionária os MR18 sequestram o embaixador dos EUA, 

em troca de seus direitos humanos, mas também e filme mostrou o que era ocorrido 

na quela época que era domina pelo exercito brasileiro no poder mas naquela época 

não se podia publicar nada, nem televisienada e via rádio, o então com o decorrer do 

seqüestro o embaixador dos EUA foi solto no dia 7 de Setembro de 1969, e seus 

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diireitos exercidos, mas com tudo isso eles foram caçados um por um e torturados ou 

até mesmos algum mortos e exi lados para a Eugélia”

Como pode­se observar, os textos apresentam dificuldades na ortografia, na 

pontuação, na organização das idéias e na atenção à redação e ao tipo de trabalho 

que foi solicitado pelo professor, notadamente no segundo texto, em que foi pedido 

um comentário acerca do filme, mas o mesmo não foi realizado pelo aluno. Por se 

tratar  de  alunos do ensino  médio  em  fase de conclusão desta  etapa escolar,  é 

evidente que em ambos os casos percebe­se uma clara dificuldade do aluno em 

relação à língua portuguesa, o que não significa necessariamente má alfabetização, 

mas   sim   um   sinal   de   uma   possível   dislexia,   mesmo   que   não   diagnosticada 

oficialmente.   Então,   como   mostram   as   pesquisas,   e   as   experiências   empíricas 

vividas pelo professores, a dislexia é uma realidade presente e mal compreendida 

pelos profissionais da educação.

O estudante autor do primeiro texto, escrito em 2007, é neste ano de 2009, 

aluno no 3º ano do ensino médio, já que cursou novamente a 2ª série em 2008. A 

repetência é comum nos casos de dislexia, quando esta não é detectada e passa a 

ser confundida com negligência ou baixa inteligência do aluno. Neste ano letivo, ele 

apresenta praticamente o mesmo quadro dos anos anteriores, o papel da escola em 

ajudá­lo restringiu­se a impedir sua progressão à série seguinte.

Além destas vivências cotidianas é possível encontrar uma literatura, ainda 

que   bastante   biográfica,   de   casos   de   estudantes   disléxicos   que   viveram   duras 

experiências sociais e escolares em razão de serem mal compreendidos na sua 

condição   de   portador.   È   o   caso   de:   “Dislexia:   ultrapassando   as   barreiras   do 

preconceito” de James J, Bauer (1997), um estudante norte americano expulso de 

vários colégios e que chegou a pensar em suicídio diante de todo o preconceito que 

viveu, só não o fez, por que foi “salvo” pelas músicas politicamente engajadas do 

cantor Bob Dylan, em especial “Times they are a changin” (Os tempos, eles estão 

mudando).   Depois   de   procurar   ajuda,   este   ativista   anti­vietnã   dos   anos   60, 

conseguiu adquirir um nível de leitura de um aluno de 8ª série, mesmo já estando 

com mais de 20 anos.

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 Outra experiência biográfica relatada é: “Dislexia: você sabe o que é ?”, de 

autoria de Zeneida Luczynski (2002), que trata da história de seu filho estudante 

portador, também expulso de várias escolas do Paraná, e que teve a sua condição 

diagnosticada   após   procurar   ajuda   especializada   nos   Estados   Unidos.   Estes   e 

outros   relatos  dão conta  que  a  dislexia  é   situação  presente  na  escola  e  que é 

geradora   de  uma   policemia   de   sentidos   representativos   que   tornam   o   disléxico 

personagem   de   histórias   de   incompreensões   e   juízos   de   valor   deslocados   da 

realidade. Nesta,  está  a errônea  idéia  de que se  trata de uma doença,   talvez a 

primeira   representação   errônea   colada   à   dislexia.   Imagens   como   “desleixado”, 

“desorganizado”,   “disperso”,   “preguiçoso”,   “baixa   inteligência”   “doente”,   são  parte 

integrante destas representações em torno dos disléxicos que estão em fase escolar 

e vivenciam situações dramáticas que interferem em suas vidas e no seu sucesso, 

diante da “máquina de aprender” (BAUER, 1997, 74).

Pesquisas   na   área   de   educação   indicam   que   a   dislexia   está   ligada   ao 

abandono escolar, à repetência, ao bullyng e a baixa estima demonstrada por alguns 

alunos, inclusive sua recusa em proceder leituras em sala, já que este distúrbio afeta 

a   capacidade   de   leitura   e   compreensão   do   que   se   lê,   além   de   influenciar   na 

dificuldade geral de aprendizado. Essas situações concretas, somadas às imagens 

anexadas à  dislexia  e  à  pouca discussão e conhecimento  que a envolvem,  não 

permitem   que   escola   brasileira,   em   geral,   tenha   uma   política   efetiva   de 

enfrentamento da questão.  Salvo tentativas isoladas como ocorreu em São Paulo, 

em que uma lei  aprovada na Assembléia  Legislativa, obriga o estado a oferecer 

tratamento psicopedagógico adequado, quando se constata um caso de dislexia, ou 

como   a   criação   do   Método   das   Boquinhas   pela   Dra.   Renata   S.   R.   Jardini, 

fonoaudióloga e psicopedagoga que desenvolveu essa estratégia para alfabetizar e 

reabilitar a leitura e a escrita de disléxicos nas séries iniciais. O modelo foi aprovado 

pelo MEC e é indicado como uma forma eficiente de lidar com as dislexias.

A dedicação dos historiadores ao ofício de estudar as doenças, pelo seu viés 

representacional, tem mostrado que elas, a longo tempo, vêm interferindo em vários 

sentidos nas relações entre os seres históricos. Leprosos, sifilíticos, pestiados, soro 

positivos,   disléxicos,   atrás   de   todas   essas   pessoas   e   desses   males,   está   uma 

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história pulsante,  capaz de nos  fazer entender melhor os sentidos  tomados pela 

humanidade no seu viver, criando um campo de pesquisa fértil, aberto a inúmeras 

possibilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado  das   leituras  e  das   investigações   realizadas  permitem afirmar, 

como  tantos  outros   já   fizeram,  a  importância  da  Escola  dos Annales  e de  suas 

vertentes, como norteadoras das novas concepções de história que possibilitaram a 

observação de aspectos da vida humana, até então negligenciados ou considerados 

a   –   históricos.   Seu   método   de   análise,   que   privilegia   a   compreensão   e   não   o 

julgamento constitui­se numa outra inovação que permitiu uma nova leitura sobre a 

historicidade de vários novos objetos. Também o tratamento e a seleção das fontes 

renovou ­ se largamente, oferecendo novas conclusões e novíssimas indagações 

aos estudiosos do campo social, oxigenando vários elementos do saber histórico e 

de outras ciências humanísticas.

Claro   ficou   que   é   perfeitamente   possível   compreender   alguns   caminhos 

imaginários  trilhados pela humanidade a partir  do estudo das doenças,   tanto as 

mudanças   políticas   e   as   convulsões   sociais   em   que   as   mesmas   foram 

preponderantes quanto às visões e idéias que as sociedades fazem das doenças e 

suas associações com pecados, magia, castigos, catástrofes, punições, quando na 

realidade está se lidando apenas com mal biológico que danifica o corpo e altera seu 

equilíbrio   funcional.  Nas   representações  de  saúde  e  doença  persiste  uma certa 

dinâmica   de   influências   recíprocas   da   órbita   cultural.   Tal   idéia   encaixa­se 

perfeitamente na expressão “circularidade cultural”, cunhada pelo historiador italiano 

Carlo Ginzburg em seu livro “o queijo e os vermes”. 

Nem mesmo a área educacional e pedagógica escapa deste bombardeio de 

imagens   construídas   em   torno   de   doenças.   Um   caso   exemplar   ocorre   com   a 

dislexia, que mesmo não sendo uma doença no sentido clássico, é revestida de uma 

série   de   símbolos   em   torno   de   seus   portadores,   quase   todos   pejorativos   – 

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desleixado, preguiçoso,  mal  alfabetizado, desinteressado, baixa  inteligência ­  que 

causam uma multiplicidade danos ao estudante disléxico, incluso aí, a reprovação 

escolar,   por   pura   dificuldade   de   entendimento   e   de   informação   por   parte   dos 

profissionais da educação e da falta de uma política educacional que considere tais 

variáveis no processo de formação de crianças,  jovens e adultos, muito além da 

piedade, camaradagem da mera afeição, ou de uma nota. 

Neste sentido o professor é um participante essencial, pois é ele que convive 

mais   tempo com os  alunos  e  pode  detectar  possíveis   sinais  de  dificuldades  de 

aprendizagem. Assim não basta que este profissional tenha apenas conhecimentos 

na sua área de atuação, é preciso que ele seja sensível ao ler e perceber o universo 

em que atua, dado que neste espaço estão sujeitos com capacidades, necessidades 

e tempos de aprendizagem diferentes. Pensar que o micro universo de uma sala de 

aula é um todo homogêneo, mostra­se cada vez mais uma idéia equivocada e que 

precisa ser percebida, não só pelos professores, mas por todos aqueles que estão 

envolvidos na educação dos brasileiros.      

Esse tipo de situação evidencia uma carência de discussões e preparação da 

escola para enfrentar situações além sala de aula, mas que afetam dramaticamente 

o processo de ensino e aprendizagem. Some­se a  isso a ausência na estrutura 

escolar de profissionais da área da saúde e da psicologia que deveriam fazer parte 

do   corpo   geral   do   sistema   educacional   público,   para   que   os   estudantes, 

principalmente os das camadas populares, pudessem ser acompanhados na sua 

trajetória   formativa   e   humana   possibilitando   aos   mesmos   conhecerem­se   a   si 

mesmos   e   assim   tornarem­se   cidadãos   plenos   de   direitos   e   participantes 

esclarecidos na construção da sociedade e no convívio entre os seres históricos. 

Se queremos uma escola realmente inclusiva que pratique a justiça no seu 

amplo campo, é urgente adotar políticas que levem em consideração os aspectos 

psíquicos relativos à aprendizagem que diferem ­ se de um aluno para outro. Aliar 

saber e saúde, fora de imagens metafóricas, é uma ferramenta que possibilitará à 

escola   melhores   resultados   na   sua   tarefa   de   combater   o   abandono   escolar,   a 

reprovação,   o   buillyng,   o   analfabetismo   funcional   e   tantos   outros   aspectos   do 

cotidiano,  bem como,   torná­la   realmente  significativa  e   transformadora  aos  seus 

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usuários e à sociedade que a mantém e confia no seu caráter de ser uma entidade 

poderosa na diminuição das desigualdades sociais.      

    

REFERÊNCIAS:

 

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