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NEUROMODULAÇÃO NÃO INVASIVA: REVISÃO SISTEMÁTICA
NON-INVASIVE NEUROMODULATION: SYSTEMATIC REVIEW
Amanda Carolina Senhorini Dias-amandasenhorini@hotmail.com
Juliane de Oliveira- jujuliveira_75@gmail.com
RESUMO
Com o decorrer dos anos, houve um aumento significativo de doenças neurológicas. Assim, foram realizados vários estudos sobre a neuromodulação e seus benefícios. Essa consiste em estimular ou inibir regiões cerebrais ao qual se pretende modular dependendo do tipo da doença. Seu objetivo é melhorar as funções cerebrais, com o intuito de diminuir o tempo de tratamento e associar essa técnica a fisioterapia. Atualmente, existem dois equipamentos que realizam a neuromodulação, a Estimulação magnética transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua. Mesmo com o avanço dessa tecnologia, existem poucos estudos e por isso, é de grande relevância uma revisão sistemática. O objetivo foi de reunir esses dados e aumentar o estudo sobre o assunto abordado. De acordo com a análise dos bancos literários, a neuromodulação é uma alternativa de tratamento eficaz ao paciente com alguma doença neurológica, como por exemplo, o Acidente Vascular Encefálico, Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Paralisia Cerebral, Depressão e Dor crônica.
Palavras-chave: Neuromodulação. Estimulação Cerebral. Função Cerebral.
ABSTRACT
Over the years, there has been a significant increase in neurological diseases. Thus, several studies have been conducted on neuromodulation and its benefits. It consists in stimulating or inhibiting brain regions to be modulated depending on the type of disease. Its goal is to improve brain functions in order to reduce treatment time and associate this technique with physical therapy.
There are currently two devices that perform neuromodulation, transcranial magnetic stimulation and transcranial direct current stimulation. Even with the advancement of this technology, there are few studies and therefore a systematic review is of great relevance. The objective was to gather this data and increase the study on the subject. According to the analysis of the literary banks, neuromodulation is an effective treatment alternative to patients with some neurological disease, such as Stroke, Alzheimer's Disease, Parkinson's Disease, Cerebral Palsy, Depression and Chronic Pain.
Keywords: Neuromodulation. Brain stimulation. Brain function.
INTRODUÇÃO
De acordo com Gomes e Martins (2016), o treino funcional e o estímulo
sensorial são técnicas fisioterapêuticas importantes para o tratamento de
pacientes que apresentam déficits neurológicos. Possuem alta capacidade de
estimular o cortéx, mas podem não ser suficientes para estimular todo o
Sistema Nervoso Central.
Gomes e Martins (2016) discorrem acerca da estimulação transcraniana
não invasiva. Para eles, essa técnica possui a capacidade de modular a função
cerebral, através da inibição ou excitação da área que se deseja tratar. As duas
técnicas que possuem esses benefícios são a Estimulação Magnética
Trancraniana (EMT) e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua
(ETCC). Ambas promovem a neuroplasticidade de maneira focal, indolor e com
segurança ao paciente.
Ribeiro (2017) relatou que em 1985 na Inglaterra, surgiu o primeiro
equipamento com a finalidade de estimular o córtex motor, conhecido como
Estimulação Magnética Transcraniana (EMT). Este emite pulsos magnéticos
que excitam o córtex, o que provoca movimentos involuntários na região do
corpo correspondente a área do Sistema Nervoso Central que está sendo
estimulada.
De acordo com Okano et al. (2013), a Estimulação Transcraniana por
Corrente Contínua (ETCC) induz alterações de excitabilidade no córtex motor.
Consiste na colocação de um eletrodo na região que se deseja estimular
(eletrodo vermelho- ânodo) e outro (eletrodo azul- cátodo) na região supra-
orbital ou ombro contralateral. O ânodo possui alta frequência e por isso causa
estimulação. Já o cátodo porta baixa frequência, causando inibição.
O objetivo do estudo foi de investigar na literatura a finalidade da
neuromodulação, seus princípios, técnicas e seu uso em pacientes que
apresentam as seguintes doenças neurológicas: Acidente Vascular Encefálico
(AVC), Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Paralisia Cerebral,
Depressão e Dor crônica, através de bancos de dados.
Pergunta-problema: Quais as finalidades da neuromodulação no
paciente que apresenta doença neurológica?
A utilização da eletricidade como recurso medicinal da estimulação
elétrica no cérebro não é algo recente, uma vez que os primeiros relatos datam
da antiguidade, e desde então vem sendo aprimorada e seu uso cada vez mais
ampliado (BRUNONI, BOGGIO, e FREGNI, 2012).
De acordo com Gomes e Martins (2016), a estimulação cerebral é um
recurso para o diagnóstico, monitoramento e tratamento de pacientes que
apresentam doenças neurológicas e psiquiátricas.
Para alcançar o objetivo proposto, a metodologia consistiu na analise de
artigos recentes (2008 a 2019) sobre a neuromodulação, seleção dos melhores
trabalhos e o uso destes na pesquisa.
1 DESENVOLVIMENTO
1.1 Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)
Para Okano (2013), as técnicas não invasivas vêm sendo desenvolvidas
por meio do avanço tecnológico, com a finalidade de modular as funções
cerebrais. Entre as duas técnicas existentes, a que se destaca nos estudos
atuais é a Estimulação Trancraniana por Corrente Contínua (ETCC).
A ETCC caracteriza-se por uma técnica não invasiva de alterações da
excitabilidade cortical por meio da indução da alteração do potencial de
repouso da membrana neuronal. O baixo custo e a simplicidade de manuseio
fizeram com que a ETCC fosse utilizada em diversas frentes terapêuticas na
última década. (BRUNONI, BOGGIO, e FREGNI, 2012)
De acordo com Brunoni (2012), a ETCC consiste em dois eletrodos
(ânodo e cátodo) que possuem efeitos polaridade-dependentes. Ou seja, o
ânodo causa excitabilidade e o cátodo inibição. Estes efeitos podem durar,
clinicamente, algumas horas ou até semanas.
Para Gomes e Martins (2016), na ETCC não ocorre despolarização dos
neurônios. A estimulação do córtex acontece por meio dos eletrodos
posicionados no couro cabeludo, através do movimento das cargas entre o
ânodo (positivo) e o cátodo (negativo).
Brunoni (2012), relata que a ETCC não desencadeia estimulação
neuronal de forma direta, através do potencial de ação, e sim por meio dos
eletrodos posicionados corretamente na área a ser estimulada.
Imagem 1: Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC)
Fonte: Google, 2019.
1.2 Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)
Gomes e Martins (2016) relatam que a aplicação da Estimulação
Magnética Transcraniana (EMT) ocorre por meio de uma bobina que gera um
campo elétrico, podendo ser modulado com alta frequência (5,10 ou 20 Hz) ou
baixa frequência (0,5 a 1 Hz), dependendo do objetivo a ser alcançado,
aumentar ou diminuir a atividade cortical, respectivamente.
Para Gomes e Martins (2016), na EMT ocorre despolarização do
neurônio, diferentemente do que acontece na ETCC. Além disso, a EMT emite
três tipos de pulsos: pulso simples (mapeamento cerebral), pulso pareado
(avaliações neurológicas) e pulso repetitivo (tratamento de doenças
neurológicas).
Figura 2: Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)
Fonte: Google, 2019.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1 Modulação no Acidente Vascular Encefálico (AVC)
De acordo com Ribeiro (2017), no caso de um AVC unilateral, ocorre o
aumento da atividade do hemisfério sadio e redução do hemisfério lesionado.
Com isso, a ETCC consiste em diminuir a atividade do hemisfério não afetado,
fazendo com que melhore o funcionamento do hemisfério que sofreu uma
lesão.
Boggio et al., (2008) utilizaram a ETCC sobre os hemisférios
contralateral e ipsilateral à lesão e observaram que ao final de 5 dias
consecutivos houve uma melhora significativa da função motora nos pacientes
após-AVC submetidos à ETCC catódica sobre o hemisfério não afetado e dos
pacientes submetidos à ETCC anódica sobre o hemisfério afetado.
2.2 Modulação na Doença de Alzheimer (DA)
Ribeiro (2017) relata que a Doença de Alzheimer (DA) é uma doença
neurodegenerativa com perdas de células nervosas, atividade neuronal
descontrolada devido ao acúmulo de proteínas, perdas sinápticas e falha na
função neurológica.
Para Ribeiro (2017), a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)
melhora a função cognitiva, modula a excitabilidade cortical e induz a
mudanças plásticas na DA. Já a Estimulação Transcraniana por Corrente
Contínua (ETCC), altera a atividade neuronal, aumenta o fluxo sanguíneo
cerebral, melhora a função sináptica e cognitiva na DA.
2.3 Modulação na Doença de Parkinson (DP)
A Doença de Parkinson (DP) é considerada uma das doenças
neurodegenerativas mais comuns com sintomas típicos motores, incluindo
bradicinesia, instabilidade postural, rigidez, lentidão e comprometimento
cognitivo, estando entre os males crônicos potencialmente incapacitantes.
(RIBEIRO,2017)
De acordo com o estudo de Hayduk-Costa et al. (2013), ocorreu uma
diminuição significativa das discinesias em pacientes submetidos a
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC).
2.4 Modulação na Paralisia Cerebral
A paralisia cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não progressiva da
infância, é definida como um grupo de desordens do movimento, tônus e de
postura consequentes a lesões que ocorrem no sistema nervoso central (SNC)
em fase de maturação. (GOMES E MARTINS,2016)
Gomes e Martins (2016) constataram em seus estudos que a ETCC é
uma técnica de tratamento usada nos pacientes que apresentam PC. Já a
EMT, possui a finalidade diagnóstica, por meio do mapeamento do córtex.
De acordo com Gomes e Martins (2016), houve um efeito positivo no uso
da Estimulação Transcraniana associada com técnicas da fisioterapia, como
Bobath, Hidroterapia, Terapia de contensão induzida, Realidade virtual e
Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, com relação a marcha do paciente.
2.5 Modulação na Depressão
A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é uma ferramenta não
invasiva utilizada na depressão para a modulação da função cerebral utilizando
campos eletromagnéticos. Ela consiste na aplicação de impulsos magnéticos
breves e de alta intensidade no cérebro com intenção de alterar sua função.
(SCALCO, 2018)
De acordo com Scalco (2018), a EMT deve ser realizada em alta
frequência, para que ocorra a neurotransmissão inibitória mediada pelo GABA.
Por isso, os protocolos da neuromodulação na depressão é baseado em altas
frequências.
Outro parâmetro importante para a determinação dos parâmetros da
EMT é o limiar motor. O limiar motor diz respeito ao mínimo estímulo
necessário para ativação de área motora com resposta física (contração) que é
observada pelo eletromiógrafo ou visualmente. Essa pequena contração é
denominada potencial motor evocado. (SCALCO, 2018)
De acordo com o estudo de Meron et al. (2015), a Estimulação
Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é uma opção de tratamento para
os pacientes que não toleram medicamentos.
Para Scalco (2018), a neuromodulação é uma possibilidade de
tratamento principalmente em casos de depressão refratária.
2.6 Modulação na dor crônica
A dor aguda possui um caráter fisiológico e protetor, é autolimitante e
responde às terapias convencionais. Geralmente cessa após tratamento do
fator causal. Já a dor crônica não tem caráter biológico e persiste após
remoção da causa, com tendência a não responder as terapias convencionais,
sendo necessário tratamento multidisciplinar para o controle da dor. (SILVA e
GALDINO, 2017)
Para Silva e Galdino (2017), a dor crônica persiste mesmo eliminando a
causa, pois mecanismos de neuroplasticidade levam a memorização daquela
dor. Dessa forma, a estimulação cerebral surge como uma possível estratégia
terapêutica com ação direta no Sistema Nervoso Central
A aplicação de protocolos de estimulação tem se mostrado promissora
em alguns estudos, com resultados satisfatórios quanto à redução dos
sintomas dolorosos em pacientes com dor crônica. O efeito analgésico
proporcionado pela ETCC tem sido relatado por meio da estimulação anódica,
principalmente, no córtex motor primário. (SILVA e GALDINO, 2017)
De acordo com Silva e Galdino (2017), a ETCC restabelece a ativação
normal dos centros de processamento da dor.
CONCLUSÃO
Devido o alto custo e a baixa disponibilidade dos equipamentos, há
poucos estudos sobre a neuromodulação não-invasiva, e por isso, é de grande
relevância um estudo sistemático acerca do assunto. Por ser um tratamento de
grande custo, tanto com relação ao valor monetário quanto o deslocamento dos
pacientes até os locais que tem acesso, o tratamento fica limitado.
A estimulação cerebral associada com a Fisioterapia é um tratamento
adequado que visa a melhora da função cerebral, motora e sensorial em
pacientes que apresentam alguma doença neurológica. Os resultados obtidos
através dos estudos, demonstra uma alta chance de uma recuperação mais
rápida, menor uso de medicamentos, melhora do desempenho físico e das
Atividades de vida diária. Isso faz com que o paciente tenha uma escolha a
mais com relação ao seu tratamento, não buscando solução apenas em
medicamentos. Aqueles que tem o acesso, podem se beneficiar com mais uma
forma de terapêutica.
Por existir pouca pesquisa sobre o assunto abordado, seria de grande
relevância estudos posteriores, abordando o uso da neuromodulação em
outras doenças neurológicas, psiquiátricas, motoras e sensitivas.
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