Post on 26-Nov-2018
Wampir – Ilha da Magia
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Sei de uma criatura antiga e formidável, Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável. Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira do abismo, Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo; Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e egoísmo. Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme, E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme; E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto arealum vasto paquiderme. Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo. Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto, E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto; Começa e recomeça uma perpétua lida; E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a morte; eu direi que é a vida.
Machado de Assis
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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Dedico este material aos loucos e todos aqueles que sabem
apreciar o caos, o imprevisto e o banho de chuva
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Introdução
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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"Crime com requintes de crueldade, estorrica os miolos
d’os moradores de bairro nobre da capital carioca.
Encontraram-se dois corpos horridamente sem sangue,
vestes ou cabeças na casa do famoso bon vivant Sr.
Carlinhos de Albuquerque. Eis que porém os peritos fazem
análises, com o intuído de comprovar se elle fora vitimado.
O Sr. Carlinhos é desaparecido faz dias e não o é de sumir
por tanto tempo. Disse-nos o estrompado mordomo..."
BARBOSA, W. P. de. Crime atormenta moradores da
capital carioca. Diário da Plebe, Rio de Janeiro 17 mar.
1955. Cotidiano, p. 4.
sta foi uma das últimas publicações que li naquela
época e me lembro muito bem, que por alguns
momentos eu desejei ser culpado por tal crime. Não tive
nenhuma relação com o ocorrido, mas digamos que tenha
sido uma época complicada. Fiz muita merda e daquelas
que geram insônias perpétuas ou pensamentos
ridiculamente suicidas.
Para ter ideia eu estava tão ensandecido que a solução mais
plausível foi aceitar a proposta de alguns membros do meu
clã e iniciei minha primeira hibernação. Uma espécie de
coma no qual me submeteram até meados de 2005 e que foi
suficiente para reestabelecer minha sanidade mental. Ok.
Eu sei que isso tudo que eu te falei até agora gerou uma série
de dúvidas, então vou tentar deixar esse meu jeito
E
Wampir – Ilha da Magia
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geminiano de lado e contarei detalhes da minha morte a
seguir.
Nossa senhora do Desterro, algum momento no século XIX:
- É bem simples. Tu colocas o carvão quente aqui, apertas
estes dois parafusos para prender a tampa e libera a água
por essa corda...
Eu juro que sempre tentei fazer tudo conforme ele me
falava, mas por diversas vezes me dei mal...
- Adolffffffffffffffffffffff seu pamonha, a corda soltou de
novo!!!
Assim como em várias outras vezes, lá estava eu
reclamando, xingando e mandando para o inferno todas as
invenções do meu irmão. Apesar de tantas brigas e
discussões, que por vezes acabavam entre socos e pontapés,
assumo que Adolf era muito inteligente e sendo honesto
possivelmente até mais que eu.
Tínhamos quatro anos de diferença e vivíamos juntos.
Aliás, não consigo me lembrar de qualquer fato importante
de minha infância e adolescência no qual ele não estivesse
presente. Diziam que Adolf era a paciência em pessoa e
talvez por isso tivesse muitas ideias. Seus inventos
possuíam muitos defeitos, claro, mas eram ricos em
funcionalidades e originais para a época, inclusive
ajudavam a nossa mãe Gertrud no trabalho de casa ou da
fazenda.
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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Por falar em minha mãe, ela se chamava Gertrud Marie
Wulffdert, era esposa de meu pai Arthur Sieppo di Vittori e
ambos haviam se conhecido na modesta cidade de
Desterro, uma ilha ao sul do Brasil e capital da província de
Santa Catarina. Dona Gertrud, como todos a chamavam,
era descendente de alemães e possuía uma beleza rara. O
conjunto de seus cabelos escuros ondulados, com olhos
azuis da cor do céu transmitiam a sensação de que os anos
não lhe faziam mal. Já meu pai era um homem forte, alto,
possuía olhos negros penetrantes e um bigode farto e
volumoso. Era o legítimo casal de dar inveja,
principalmente por serem trabalhadores honestos e que
viviam em paz com todos.
Naquela época eu não sabia de outros parentes, tinha
apenas o conhecimento de que meu pai era filho único e que
meus avós haviam falecido em um acidente trágico, logo
depois que ele havia se casado com minha mãe. Fato que
sempre o incomodava, principalmente quando alguém
comentava algo sobre a fatídica noite. Minha mãe, no
entanto, era órfã e foi abandonada quando bebê em um
convento de freiras. Entre os pertences deixados com ela
havia apenas um cobertor de algodão e uma pulseira com
seu nome entalhado. Aliás, ela conta que depois de ser
acolhida pela irmandade, viveu com as religiosas até pouco
tempo antes de conhecer meu pai. Ela fazia compras na casa
de comércio, que na época pertencia ao meu avô e rolou
aquele famoso “amor à primeira briga”. Sim, meu pai lhe
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deu o troco errado e eles discutiram até ficarem amigos,
namorados...
No geral, minha família sempre foi muito unida, tivemos
poucos desentendimentos durante os vários anos que
ficamos juntos e morar em Desterro era agradável. Nossa
Senhora do Desterro fora colonizada em meados do século
XVII por imigrantes europeus e isso fez com que o
comportamento da maioria dos habitantes tivesse forte
influência do velho mundo. Sua posição geográfica, no
entanto, fazia com que ela fosse o último porto seguro antes
do extremo sul do continente. Em função disso, recebia
muitos navios que atracavam em nosso porto em busca de
água e mantimentos. Fato que contribuía para que a casa de
comércio de especiarias de meu pai prosperasse muito,
obrigando por necessidade, que meu irmão e eu
trabalhássemos juntos no negócio da família.
Falando um pouco sobre mim, meu nome é Ferdinand
Wulffdert di Vittori. Conforme disse anteriormente sou o
filho primogênito, acredito que isso possa dizer muito sobre
minha personalidade, além do fato de eu ser um geminiano
convicto. Até os meus 14 anos estudei em uma escola
mantida por alguns padres e nunca tive interesse em fazer
algo mais aprofundado, pois na época acreditava que meu
destino seria cuidar da casa de comércio de meu pai, até que
algum dia também pudesse fazer isso junto de um filho ou
neto.
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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Nesta época eu possuía 25 anos e era do tipo de cara
confiante, que nunca teve problemas com a aparência.
Inclusive minha mãe falava que algumas vizinhas e clientes
da loja me viam como um “bom partido” para suas filhas.
Por esse motivo, eu acabei me aproximando e tendo um
“affaire” com Helga, filha de Edmound o presidente da
província. Nada muito sério na verdade, pois no fundo
éramos mesmo grandes amigos, no entanto, por diversas
vezes o clima entre nós pegava fogo.
Bons tempos, momentos que ficarão para sempre em
minha memória e não posso negar que sinto muita falta. Foi
sábio quem disse que os verdadeiros sentimentos são
revelados apenas quando perdemos algo importante. Digo
perder, pois depois de todos estes anos, 162 para ser exato,
praticamente tudo o que existia naquela época, se foi ou
mudou completamente. Neste momento tu deve estar te
perguntando: como eu ainda estou vivo? Calma, isso é uma
longa história no qual vou detalhar adiante.
Sinceramente o momento exato em que minha vida mudou
e eu me transformei no que sou hoje, se perdeu com o
tempo dentro de minhas memórias. No entanto, a grande
passagem ocorreu na madrugada do dia 07 de março de
1852, quando meu corpo foi morto e eu fui transformado
num Wampir.
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Eu já fui humano (capítulo 1)
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ra sexta-feira, havíamos trabalhado muito ao longo da
semana e estava próximo do final do expediente,
quando meu irmão voltou afobado de sua última entrega.
Ele parou rapidamente seu cavalo em frente ao mercado,
amarrou as rédeas no cavalete e com um sorriso de orelha
a orelha trouxe consigo um folhetim. Aquele jornal mal
escrito e com péssimo acabamento, era a melhor forma de
comunicação em massa da época. Talvez por isso, tenha
sido escolhido para divulgar a primeira festa oficial de
carnaval da capital.
Foram os descendentes de portugueses, que trouxeram
para Desterro o hábito de comemorar o famoso carnaval.
Na verdade, era uma grande bagunça popular chamada de
jogo do Entrudo, onde todos os anos na mesma época
algumas pessoas se reuniam em grupos e faziam
brincadeiras pelas ruas da cidade. Eram muitos indivíduos
insanos que corriam, lançavam água, pós de todos os tipos,
cinzas das fogueiras, perfumes ou até mesmo urina sobre
quem passasse por perto. Uma grande balburdia, que
sempre terminava com pessoas bêbadas, machucadas ou
até mesmo mortas.
Algo visivelmente problemático que estimulou a imprensa
local, junto de alguns moradores mais puritanos, a criar um
movimento contrário, que brevemente chegou aos ouvidos
do populista presidente da província. Criatura esperta, que
não quis perder tempo, ou votos e agiu rapidamente.
Inventando um baile especial, baseado nas pomposas festas
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a fantasia da Europa, no qual ele só ouvia falar, mas tendo
como local um dos clubes elitistas de Desterro.
Lembro-me inclusive de várias pessoas comentando sobre
o evento. Muitos foram contrários, achavam que iriam ser
obrigados a agir com educação como os burgueses ricos e
que a festa perderia a sua importância popular. No entanto,
apesar da agitação contrária, a grande maioria apoiou a
ideia do presidente Edmound. Afinal, convenhamos.
Mesmo naquela época, qual pai não gostaria de ver seu filho
ou filha festando em um lugar vigiado, ao invés de sabe-se
lá onde?
À noite, no jantar deste mesmo dia, conversamos com meu
pai sobre a festa e ele se mostrou tranquilo quando
manifestamos nossa vontade de participar do evento. Ele
não era uma pessoa muito fácil de lidar, sorrisos limitados
e pouco papo eram suas marcas pessoais. Todavia, como
éramos bons filhos e sempre fazíamos o que ele nos pedia
não foi difícil convencer o velho italiano. Ele inclusive
brincou dizendo que gostaria de levar a mãe junto, mas ela
disse que preferia ficar em casa descansando para ir à missa
de domingo de manhã na catedral metropolitana.
Ao final do que seria meu último jantar em família meu
irmão comentou sobre suas ideias de fantasia para a festa.
Minha mãe reclamou de um empregado da fazenda que
bebia muito, já meu pai disse que as vendas estavam indo
muito bem e que pensava em ampliar os negócios. Eu por
outro lado não tinha nenhuma novidade, a não ser o fato de
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que estava muito cansado pelo excesso de trabalho da
semana e portanto, estava calado, ouvindo apenas o que
eles tinham para dizer. Até que entre piscadas longas de
sono e momentos no qual eu não conseguia mais manter o
equilíbrio sobre a mesa, pedi licença e fui para a cama.
No dia seguinte, lembro-me que era muito cedo, o sol mal
havia surgido e fui acordado pelos gritos estridentes e já
habituais de minha mãe:
- Ferdinannnnnnnnnnnd levanta rápido!
Impressionantemente os gritos de dona Gertrud eram
quase uivos e saiam sob medida para acabar com meu sono.
Então, só para variar dei um descomedido salto da cama e
inclusive parei no meio um belo sonho que estava tendo
com a Helga, onde ela trajava apenas um espartilho e me
provocava...
- O que foi mãe?
- Filho, vai lá ao galpão ver o que teu irmão está fazendo,
acabei de ouvir uns barulhos estranhos vindos de lá.
Nessa hora certas pessoas vão concordar comigo que ser
irmão mais velho não é nada fácil, principalmente quando
se tem um irmão genioso igual ao meu. Mesmo mal
humorado tive de acatar o pedido de minha mãe. Arrumei
a cama, vesti alguma roupa qualquer e fui ver o que o dito
cujo estava inventando daquela vez. Confesso que estava
bem irritado, principalmente ao sair de chinelo de casa e
logo de cara pisar numa poça de lama.
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Minha casa era um pouco longe do centro da cidade. Na
verdade, era uma fazenda de porte médio, onde criávamos
alguns cavalos, havia especiarias plantadas, além de aves e
vacas leiteiras. Alguns empregados que eram ex-escravos
faziam os serviços mais pesados, contudo minha mãe que
tinha de cuidar de tudo por lá, pois meu pai quase sempre
estava envolvido com as atividades do mercado. Além da
nossa casa e a casa dos empregados, havia também um
galpão onde inicialmente se guardava ferramentas, mas que
nos últimos anos havia sido tomado pelas invenções
mirabolantes de meu irmão.
Depois de uma tentativa frustrada de secar ou remover a
lama de meu pé eu continuei o caminho até o velho galpão
de madeira. Abri a porta e de imediato fui recebido por uma
fumaça cinza clara. Essa fumaça tinha forte odor de enxofre
e ao passar por mim forçou meus olhos a lacrimejar de tão
forte que era. No fundo do galpão e perto do que parecia ser
um forno a lenha, estava meu irmão com uns óculos
escuros, trajando uma roupa de couro marrom, luvas do
mesmo material e tudo bem sujo e feito por ele mesmo. Em
suas mãos havia uma grande colher de metal e com ela
mexia o recipiente com o conteúdo visualmente
incandescente. Quando percebeu minha presença ele
acenou com a cabeça e logo em seguida despejou o
conteúdo do recipiente no que parecia ser uma bacia em
formato de concha.
Depois de colocar todo o líquido na bacia ele tirou os óculos
e visivelmente feliz me disse:
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- Mano há tempos que eu estava tentando fazer este
material e acho que consegui...
Enquanto falava comigo ele pegou um balde com água e
molhou aos poucos o material incandescente. O que
produziu muita fumaça e me fez entender de onde vinha o
maldito mau cheiro. Na sequência ele virou a bacia ao
contrário, derrubando sobre a velha mesa de madeira, uma
chapa rígida de cor meio amarelada e escura.
Sem que ele pedisse ajudei a remover a pesada roupa de
couro, o que provavelmente lhe deu confiança para me
contar parte do que planejava:
- Este é um novo tipo de material, no qual ainda não dei
nome, mas é uma espécie de borracha endurecida, feita com
a seiva da seringueira e um pouco de enxofre. A minha ideia
é usá-lo para fazer minha fantasia, afinal é bem leve e posso
dar a forma que quiser...
Anos mais tarde essa combinação produzida por Adolf se
tornaria o que chamamos hoje de plástico. No entanto, ele
não ganhou nada pela invenção, haja vista que ela também
foi concebida na mesma época por um norte americano,
que patenteou o produto e ficou com todos os direitos.
Como todos os serviços estavam encaminhados e a fantasia
de meu irmão já estava definida, resolvi pensar no que eu
poderia vestir. Lembro-me que ao comentar com minha
mãe ela sugeriu ir de índio e obviamente rimos, pois não ia
ficar legal um alemão branquelo feito eu de tanga. Porém,
depois de um tempo minha mãe veio até meu quarto e
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trouxe consigo um casaco verde musgo e deu outra ideia
que acabei aceitando. Juntei mais alguns aparatos, um
coldre, uma boina e fui de soldado.
Nessa época, apesar de eu já estar na fase de casar, eu não
possuía namorada. Meu pai sempre insistia que tínhamos
de trabalhar para ser alguém na vida, antes de se amarrar
com qualquer rabo de saia. Apesar desse conselho
ditatorial, eu já havia conhecido os prazeres da vida
inclusive com Helga, filha do presidente Edmound, no qual
iria acompanhar logo mais na festa. O meu irmão também
não iria sozinho, pois alguns dias antes Helga havia ficado
encarregada de arrumar uma companhia para ele. Não
seria nada fácil, mas por ser a filha do presidente ela tinha
muitos contatos em nossa cidade ou nas vizinhas.
Durante todo o resto do dia não fiz nada de muito
interessante. Descansei por alguns momentos nas sombras
das árvores, li um livro qualquer e conversei sobre fatos
aleatórios com alguns poucos desocupados pela fazenda.
Antes de escurecer resolvi preparar meu cavalo, um puro
sangue marrom, chamado Silvester, que havia ganhado de
presente em meu aniversário de 20 anos. Além disso,
lembro-me também de ter ajudado meu atrasado irmão
com o seu pangaré malhado, chamado Thor.
Adolf produziu uma fantasia de cavaleiro medieval a partir
do seu novo invento e depois de nos arrumarmos, seguimos
atrasados em direção à festa. Bem antes de chegarmos ao
clube 12 de janeiro onde seria o baile via-se muito
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movimento, principalmente carruagens e seus cocheiros
trazendo os ricaços junto de seus filhos e filhas. Inclusive
tivemos um pouco de dificuldade em achar um bom lugar
para amarrar os cavalos, mas por sorte encontrei um cliente
da mercearia que me permitiu prendê-los em seu quintal.
Um fato engraçado é que em função dos galopes dos
animais, a fantasia de meu irmão foi se desfazendo e caindo
pelo caminho. Tanto que antes chegarmos ao clube, Adolf
não parecia mais um cavaleiro negro, mas sim um bárbaro,
com cara de mal e cheio de trapos ao redor do corpo. Por
fim, ele até que tentou consertar o que havia sobrado, mas
aproveitou o calor que fazia, o cabelo desarrumado, alguns
panos e ainda passou um pouco de carvão na cara, para
assumir de vez o seu lado “homem das cavernas”.
Percorremos em seguida duas ou três ruas e finalmente
chegamos ao clube. Logo na entrada muitas pessoas
fantasiadas tentavam entrar e eram barradas por não
possuírem seus nomes na lista. Foi chato atravessar a turba,
mas conseguimos nos aproximar da recepção onde
rapidamente vi Helga junto de seu pai e de mais alguns
convidados. Imaginava que ela estaria dentro do salão, mas
pelo visto estava ali em função de seu pai querer fazer a
velha política do bom anfitrião. Ao sermos vistos a
empolgada ruiva veio a minha direção cheia de sorrisos e
deu um leve beijo em minha bochecha. Já Adolf não teve a
mesma recepção calorosa e para o seu azar foi logo
ovacionado. Sendo o prefeito o primeiro a zombar do
jovem:
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- Adolf meu filho, me parece que foste atropelado por uma
manada de elefantes selvagens, tudo bem com ele
Ferdinand? hehehe...
Tentei me manter sério, não gosto quando provocam
pessoas próximas a mim, mas era impossível olhar para
meu irmão e não rir de seus trajes. Na pior das hipóteses
caímos na brincadeira, gargalhamos juntos e
cumprimentamos o restante dos convidados antes de
entramos no baile. Por um tempo enquanto entrávamos
vislumbrei o local e percebi que havia uma boa iluminação,
mas o cheiro de óleo queimado incomodava a quem
chegasse. Nessa época a decoração era colorida, bem
criativa em função dos poucos materiais que existiam, no
entanto, basicamente feita com papeis e tecidos para tentar
dar um ar elegante. Percebi também que apesar de não ser
um baile de máscaras, havia muitos mascarados entre
vários malabares e palhaços contratados para animar os
foliões.
Andamos pelo lugar até o final do salão, onde havia uma
porta no qual entramos e subimos por algumas escadas até
um dos camarotes. No lugar exclusivo tínhamos a nossa
disposição algumas cadeiras e uma bela mesa de frios. Onde
dois garçons serviam destilados, como a tradicional
cachaça da região e alguns refrescos para os abstêmios.
Minutos mais tarde na festa eu conversava com Elga sobre
a amiga, no qual ela iria trazer para acompanhar meu
irmão, quando fomos interrompidos abruptamente pelo
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senhor Edmound. O presidente da província e pai de Helga
era um velho sisudo, de olhar perdido e sorriso constante.
Alguém que emanava ares de arrogância por onde passava
e que certamente nunca havia trabalhado em algo pesado,
como os membros da minha família.
De início ele me perguntou sobre os negócios. Argumentei
que iam bem, que meu pai pensava em expandi-los e que eu
estava me preparando para assumir maiores
responsabilidades. Neste momento seu sorriso diminuiu,
dando lugar a um olhar demasiadamente concentrado em
minhas palavras, que inclusive o fez proferir um pequeno
discurso cheio de segundas intenções:
- Sabe Ferdinand, seu pai e eu sempre fomos muito
próximos, nos conhecemos há muitos anos e não é de hoje
que vejo um futuro promissor entre nossas famílias. Diga
para ele vir a minha casa um dia destes, pois precisamos
colocar as novidades em dia. Afinal, não é apenas de
trabalho que a vida é feita, não é mesmo? Helga, minha filha
vá se divertir com teu amigo!
Ao ouvir aquelas palavras falsas, improvisei um sorriso de
canto de boca e lhe respondi prontamente:
- Obrigado senhor, tenho certeza que meu pai ficará feliz
com o convite!
Diante tal falsidade levantei-me pedi licença e logo em
seguida inclinei-me em frente da Bela ruiva, que havia
invadido meus sonhos na noite anterior. Estendi a mão
direita em sua direção, dando a entender que a convidava
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para dançar e a aguardei. Sem pestanejar ela me retornou
um sorriso, se levantou e me acompanhou.
Quando nos afastamos um pouco de seu pai e próximos a
mesa de quitutes ela se virou para mim e comentou:
- Fê eu sei que tu ficas todo sem graça diante das falácias
políticas de meu pai, mas fiques tranquilo, pois no fundo ele
possui muito apreço por ti e tua família. Sem contar o fato
que de que certamente ele desconfia de tudo o que já
fizemos juntos.
Diante tais palavras recheadas de carinho eu lhe retornei:
- Doce Helga, sabes que minha desconfiança acerca dos
métodos de teu pai é grande. Todavia, fiques tranquila
estamos numa festa, não é mesmo ruivinha?
Porém antes que o clima entre nós pudesse esquentar,
fomos interrompidos por meu irmão, que nos falou todo
afoito e de boca cheia:
- Mano os quitutes estão muito bons, prova este aqui...
Bem que tentei recusar, mas rapidamente ele empurrou
uma empadinha na minha boca, uma empadinha muito
gostosa para falar a verdade, mas que me fez engasgar,
tossir, se afogar e ainda rendeu boas risadas. Digamos que
Adolf era um pouco empolgado com comida e deixava tudo
de lado, até mesmo à educação diante de um bom petisco.
Devido aos fatos aproveitamos um pouco mais do banquete
e na sequencia descemos. Já no salão em meio às pessoas,
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Helga encontrou a amiga no qual havíamos combinado de
apresentar para o meu irmão. O nome dela eu não lembro,
somente de sua aparência. Uma loirinha jovial, bonita, de
pele rosada e um pouco tímida. Achei de início que ela e
meu irmão ficariam parados um em frente ao outro sem se
falar, pois Adolf também era tímido, mas com o passar das
horas a realidade foi bem diferente.
Em meio às danças Adolf se engraçou com a menina e
quando menos percebi vi que eles estavam se agarrando e
trocando carícias intensas em meio ao salão lotado.
Momento no qual cutuquei Helga e saímos à francesa para
um lugar mais tranquilo, uma espécie de bosque dentro do
clube, onde por alguns instantes conversamos sobre a vida.
- Helga, vou ser direto e franco contigo. Sabes que odeio
milongas e gostaria de saber quando que confessaremos aos
nossos pais sobre nossa relação?
Ela de imediato se corou e me respondeu sorrindo.
- Não quero te magoar Fê, mas preciso te dizer que ainda
estou pensando naquela possibilidade de eu ir estudar
medicina na Inglaterra. Sabes tu que meu pai sempre foi
envolvido com política e agora que assumiu a presidência
da província temos condições melhores para isto.
De imediato, confesso que fiquei um pouco constrangido
com a resposta, afinal depois de todo o tempo no qual já nos
divertíamos, eu achava que nossa relação estava evoluindo
para algo maior. Lembro-me muito bem que em meio a
toda a libertinagem que havia surgido naquela época, ser
Wampir – Ilha da Magia
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casado e construir uma família ainda eram valores
importantes para qualquer homem. Mesmo assim mantive-
me aparentemente controlado, engoli os pensamentos
ruins e lhe respondi com um longo beijo.
Flertamos por mais alguns minutos, até que novamente
fomos interrompidos pelos guinchos de alguns morcegos
que rondavam a região. Desterro, aliás, sempre teve muitos
morcegos e por mais que eu argumentasse a favor dos
pobres animais o apavoro repentino de Helga nos fez voltar
às pressas para dentro do salão. Fato que me incomodou
muito, pois tudo e todos nos interrompiam naquela noite.
Logo na entrada reencontramos meu irmão com sua
companheira em um sofá. Os dois estavam muito
empolgados conversando e em função disso decidi não os
interromper, apenas indiquei que voltaríamos para o
camarote. Era inusitado ver meu irmão demonstrar tal
entrosamento com uma garota, mas lembro-me de que
quase sempre ele exercia um tipo de atração diferente sobre
as mulheres. Provavelmente por causa de seu jeito
desleixado, corte de cabelo irreverente e bonitos olhos
amêndoa. No entanto, a resposta mais óbvia é que
possivelmente ele tenha puxado para o lado italiano da
família.
Os ponteiros do relógio da parede indicavam que nos
aproximávamos do final da festa, algo em torno de duas ou
três horas da madrugada. Momento no qual várias pessoas
já dormiam pelos cantos, a banda tocava musicas tranquilas
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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e Helga não parava de bocejar ao meu lado. Eu devia estar
muito entediante, acho inclusive que eu estava cochilando
do seu lado, quando Adolf me fez voltar à realidade:
- Acorda... acorda.... Vamos!
Esfreguei, limpei os olhos e lhe dei atenção.
- Te importas se eu não voltar cavalgando contigo? É que
fui convidado para voltar dentro da carruagem com minha
companhia. Então sabes o que isso quer dizer... incomodas-
te em nos seguir levando os cavalos?
Minha reação foi um sorriso sarcástico seguido de um gesto
de consentimento feito com a mão direita. Afinal, sempre
tive bom senso e o jovem precisava de um pouco de suor
para acalmar sua cabeça criativa e sempre cheia de ideias.
Além disso, estávamos no final do verão, uma época ainda
quente, mas que a cavalo podia-se sentir pelo menos uma
convidativa brisa refrescante soprar ao corpo.
Adolf me acenou com a cabeça, agradeceu e com um sorriso
estampado e foi-se falar com a loira. Logo em seguida
cutuquei Helga, ela murmurou um pouco, mas acordou.
Lembro que a sua maquiagem já estava um pouco borrada,
no entanto isso apenas a deixava com um aspecto mais
ousado. Sonhos e desejos a parte, procurei ao redor por seu
pai, mas não o encontrei. Então nos levantamos e fomos
para a saída.
Enquanto descíamos a banda parou de tocar e ao
chegarmos ao salão vimos algumas pessoas reclamando que
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a festa estava terminando muito cedo. Inclusive havia um
beberrão que gritava “Eu quero mais” “Na rua era bem
melhor”, todavia, depois de alguns instantes de incômodo
ele foi convidado a se retirar por alguns policiais a paisana
que lá estavam.
Já próximo da porta de saída encontrei um segurança do
presidente que nos levou até a carruagem deles. Lá
chegando percebemos que o seu velho pai já dormia e
resolvi aproveitar a situação para dar um longo beijo em
Helga. No entanto, rapidamente ela virou o rosto e consegui
apenas sentir de leve a pele macia de sua bochecha. Depois
de beijá-la percebi muita tristeza em seu olhar e já cansado,
decidi de imediato que deveria lhe abraçar. Mesmo com a
melhor das intenções ela me empurrou, subiu rapidamente
e disse algumas poucas palavras acalentadoras:
- Venha comigo Ferdinand, o velho continente pode fazer
muito bem a nós dois!
Nesse momento fiquei hipnotizado por seus grandes olhos
verdes, que refletiam algumas poucas luzes das lamparinas
e deixavam implícito seu olhar de carência. Diante tal
circunstância, as palavras não desgrudavam de minhas
cordas vocais, fato que gerou mórbidos segundos de muito
silêncio e por fim foram rompidos drasticamente pelo bater
da porta da carruagem.
Enquanto a carruagem ia-se rua frente, fiquei pensando nas
palavras que eu podia ter dito a Helga. Certamente, eu não
queria perder a amiga, confidente de muitos anos e alguém
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que possivelmente poderia se tornar minha esposa. No
entanto, havia o outro lado da história junto de minha
família e todas as raízes que eu possuía em Desterro.
Situação no qual divaguei por algum tempo, até que senti
uma pesada mão em meu ombro. Minhas pernas
amoleceram com o susto e ao olhar para trás vi que era
apenas Adolf junto de sua companheira.
- Estamos indo, segue-nos? – Disse meu irmão estampando
um sorriso longo e sincero.
Aspirei aliviado após ouvir sua voz e lhe pedi uma carona
até a casa onde havíamos amarrado os cavalos. No caminho
o silencio tomou conta de mim, mas não pude deixar de
perceber as mãos ligeiras de Adolf, que percorriam
sorrateiramente as pernas da loira, indicando que o
caminho até nossa casa seria longo e divertido para ambos.
Cerca de 10 minutos depois chegamos ao local onde
havíamos amarrados os cavalos. Tão logo que desci da
carruagem, inspirei fundo o ar abafado da noite e tentei
ignorar os pensamentos ruins. Despedi-me deles o mais
breve possível e como o dono do lugar estava
aparentemente dormindo, tomei cuidado para não fazer
muito barulho. Em seguida, chequei rapidamente a
montaria, passei a mão no pescoço e nariz do Silvester para
ver se ele estava bem e a trote moderado, acompanhei a
carruagem.
No caminho é provável que meus pensamentos tenham
fugido completamente a realidade e acabei ficando para
Wampir – Ilha da Magia
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trás. O que de certa forma foi bom, pois não engoli tanta
poeira ou tive de invejar a felicidade alheia. Além disso,
como era um caminho conhecido, não me preocupei e segui
numa velocidade de passeio. Algum tempo depois
havíamos acabado de passar por uma ponte de madeira,
quando Silvester resolveu diminuir o trote. Sem mais nem
menos ele foi dando leves empinadas, acompanhadas de
curtos relinches e empacou de vez metros a frente do
riacho.
Fiquei bastante preocupado, pois uma cobra ou qualquer
outro imprevisto seria um grande problema para alguém
desarmado. Olhei para todos os lados, mas como não havia
lua, não encontrei nada de diferente além dos habituais
insetos e anfíbios noturnos. Com o tempo passando resolvi
desmontar, porém no exato momento em que soltei um dos
estribos, Silvester empinou bruscamente e me jogou para o
lado oposto.
Por sorte uma pequena moita amorteceu minha queda, mas
não evitou que eu apagasse por alguns segundos. Ao voltar
à realidade tenho uma surpresa diferente e vejo a minha
frente um sujeito fantasiado de pirata. Inclusive até onde eu
consegui ver suas roupas eram muito bem produzidas, a
ponto deu eu achar que estava vendo um pirata legítimo.
Estranhamente, ele não me assustou, era como se o sujeito
transmitisse uma impressão boa, ou como se eu o
conhecesse de algum lugar e me fosse confiável.
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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Inicialmente o sujeito ficou apenas me observando e
percebi que não era uma assombração, por causa de um
tique nervoso, no qual ele mexia impaciente em seu bigode
com a ponta dos dedos da mão esquerda. Estávamos
naquele momento em que ambos esperam uma reação
alheia e ao se dar conta disso, ele teve a iniciativa e me
estendeu a mão desocupada. Então sem me preocupar
peguei apoio e me levantei. Foi quando senti muita dor no
braço direito, vinda de um galho com a espessura de um
dedo e que penetrou minha carne na região próxima do
ombro.
- Espere não toque nesse galho, vai sair sangue e não vais
querer ter mais uma cicatriz, não é mesmo?
- Mais uma cicatriz, como sabes.... Hei, por acaso te
conheço?
Depois destas perguntas ele saiu tranquilamente da minha
frente, começou a andar em volta dos cavalos, que agora
estavam calmos pastando e continuou falando:
- Talvez, mancebo. Como tu podes perceber através do meu
sotaque, eu não sou daqui. Sou um viajante, um
explorador...
Depois de pronunciar a palavra “explorador” ele sumiu
instantaneamente atrás de Silvester. Aquilo havia me
chocado e resolvi ir atrás do cavalo para localizá-lo, mas o
pirata havia realmente sumido por completo. Até achei que
estava delirando, talvez estivesse ainda deitado ou até
mesmo no meio de um sonho por causa de tanta bebida.
Wampir – Ilha da Magia
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Quando senti uma abrupta fisgada no ombro machucado e
a maldita dor indicou que tudo aquilo era mais do que real.
“Um simples galho enfiado no braço não é nada”, pensei
comigo. Por isso, fechei os olhos, respirei fundo e puxei -
Ahhrrrrrrrrrrrrrrgggg - A dor contraiu minhas entranhas.
Fiquei por alguns instantes reclamando e blasfemando até,
que finalmente consegui me acalmar para tirar o casaco e
poder ver melhor o estrago. Em seguida, também tirei a
camisa, que estava com a manga completamente ensopada
e improvisei um torniquete para estancar o sangramento.
Assim que dei o último nó, olhei para o lado e de relance
percebi o pirata encostado a uma árvore. O filho da mãe
estava bem tranquilo, como se nada estivesse acontecendo.
Porém, antes mesmo de eu falar algo ele se desencostou e
deu um salto em minha direção. Um fato importante deste
momento é que ele estava a uns cinco passos de mim, mas
sua aproximação foi tão rápida que a distância parecia ser
mínima para ele. Depois disso, fui obrigado a esfregar os
olhos e voltei a pensar que ainda estava delirando.
Ainda com os olhos fechados senti meu braço sendo
puxado, em seguida tive o torniquete arrancado como se
fosse papel e se ainda não bastasse, ao reabrir as pálpebras
tive de sentir sua língua nojenta lambendo minha ferida.
Imediatamente tentei empurrar o dissimulado para longe,
porém ele parecia ser mais forte do que aparentava e só
consegui afastá-lo a distância de um passo. Suas feições
estavam diferentes e aterradoras, no entanto ele apenas
Ferdinand Wulffdert di Vittori
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engoliu o que havia em sua boca e me falou mais
informalmente:
- Desculpe Ferdinand, eu tentei conversar amigavelmente
com o teu cavalo, mas ele preferiu manter a lealdade a você
e tentou me ignorar... antes que tu aches que sou algum
louco ou mal-educado eu quero me apresentar. Pode me
chamar simplesmente de tio...
Lembro que tentei responder, porém ele agiu novamente
muito rápido, tirou um pano escuro do bolso e o apertou
contra minha boca e nariz. O pano continha um cheiro
forte, um sabor levemente adocicado e depois de alguns
segundos me deixou sonolento. Em seguida, o mundo
inteiro parecia girar e a última imagem que tenho daquela
noite, é que tentei me segurar nos braços de “meu tio”, mas
provavelmente e fui ao chão.
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Ilustrações: J. J. Grandville
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