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VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA NA ESCOLA: COMPREENDER PAR A
INTERVIR
Autora: Soeli Terezinha Scorsim Profª PDE
Orientadora: Maria das Graças do Espírito Santo Tigre
Mestre em Educação – Professora de Didática da UEPG
Resumo: O presente artigo faz parte das atividades de formação continuada previstas ao professor PDE. O mesmo trata da temática da violência e indisciplina na escola. O trabalho discute a evolução do conceito de violência e as suas diversas manifestações no ambiente escolar. Aponta a metodologia utilizada e a sua aplicabilidade à situação. Aborda a caracterização da escola alvo, busca traçar o perfil dos alunos e as características da comunidade, em que a escola está inserida. Destaca também a trajetória percorrida durante a intervenção. Culmina com uma análise sobre a intervenção, a metodologia utilizada e os resultados parciais dos trabalhos, em que se verificou a aplicabilidade da metodologia utilizada no contexto, ambiente escolar.
Palavras-chave: Violência na escola. Indisciplina. Intervenção. Contratos
pedagógicos. Assembléias de classe.
Abstract: This article is part of the activities of continuing education provided to the PDE teacher. It deals with the topic Indiscipline and Violence at school. This article discusses the evolution of the violence concept and its various manifestations into the school space. Indicates the methodology and its applicability to the situation. It approaches the characterization of the school at issue, tries to trace the students’ profile and the characteristics of the community, where the school is inserted. It also highlights the trajectory covered during the intervention. Culminates with an analysis of the intervention, the methodology used and the partial results of the works, where the methodology applicability used in context, the school space, was found to succeed.
Key words: Violence at school. Indiscipline. Interv ention. Teaching Contracts. Class Assemblies.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado da necessidade sentida em intervir na problemática da
violência, fenômeno observado freqüentemente na sociedade e que ressoa no
ambiente escolar, mesmo apresentando-se de diferentes formas, rompendo com o
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ideal da escola, lugar de conhecimento, de educação e de socialização do ser
humano.
Ao longo do mesmo temos um breve relato sobre os trabalhos que
precederam a intervenção, o desenvolvimento de todo o processo, assim como as
primeiras impressões dos resultados, uma vez que intervir na questão da violência e
indisciplina não pode ser pontual e sim processual.
O artigo foi dividido em cinco seções sendo que, a Seção I, denominada A
importância do PDE na formação docente, descreve de forma sucinta a caminhada
que precedeu os trabalhos.
A seção II busca conceituar o termo violência considerando sua evolução, que
serviram de base para o desenvolvimento do trabalho e que foram empregados no
presente artigo.
Na seção III aborda-se a Metodologia utilizada para a execução dos
trabalhos.
A seção IV é dedicada à efetivação dos trabalhos desenvolvidos durante a
Intervenção na realidade escolar. Finalizando, na V seção são apresentadas
algumas considerações e conclusões a respeito dos trabalhos efetivados.
2 A IMPORTÂNCIA DO PDE NA FORMAÇÃO DOCENTE
A Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED) em parceria com a
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior instituiu através do
programa PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, espaço ímpar para a
Formação Continuada dos professores da rede pública estadual.
Preocupados com a formação permanente dos educadores e visando a
melhoria da qualidade de ensino dos nossos educandos oportunizou tempo livre
para os estudos, em parceria com as Instituições Públicas de Ensino Superior do
Paraná, viabilizando “uma real integração entre a formação de graduação e a
formação continuada dos egressos do Ensino Superior” (SEED – Pr, Curitiba, 2006,
p. 02).
Durante um ano letivo, foram efetuados estudos direcionados ao tema
proposto para posterior intervenção para ser articulada a teoria com a prática. Entre
os diversos estudos foi de fundamental importância o Grupo de Estudos criado pela
professora, orientadora do trabalho. No grupo de estudos, foram discutidos textos de
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autores reconhecidos e especializados no estudo do tema violência na escola. Entre
os principais autores destacam-se: Gotzens (2003), Fante (2005), Smith in:
Debarbieux Blaya (2002), Aquino (2003), Fortuna, in: Xavier, Merino (Org.) (2002),
Fernandez (2005). Este espaço serviu para o embasamento teórico, propiciou a
discussão e troca de experiências entre os pares e que muito auxiliou em toda a
jornada de intervenção.
3 ENFOCANDO OS CONCEITOS UTILIZADOS
Hoje, não basta ao professor apenas dominar os conteúdos, é necessário a
ele conhecer o aluno que compõe a sala de aula em sua totalidade, como realmente
se apresenta, seus anseios e também suas atitudes comportamentais. Os
profissionais da educação devem estar preparados para despertar nos alunos o
interesse pelo saber historicamente acumulado, bem como, intervir na indisciplina e
possíveis casos de violências, tanto físicas quanto psicológicas, que ocorrem na
sociedade e que refletem na escola. Apesar de conviver e ter que intervir nessa
situação o currículo de formação dos professores não contempla assuntos relativos
à violência e à indisciplina, isso inviabiliza o preparo sobre a problemática, para a
atuação efetiva e consciente na realidade atual, em que a ação esteja pautada em
medidas preventivas e não repressivas.
É necessário buscar fazer da escola um local onde todos os envolvidos em
educação sintam-se bem e, conseqüentemente, um local propício ao ensino-
aprendizagem.
Na construção do referencial teórico que norteou esse trabalho, foi necessário
partir da definição de violência e indisciplina, pois existe uma grande variedade de
conceitos a respeito dos termos, os quais denominam uma multiplicidade de atos.
Para saber distinguir e identificar cada caso, é importante conceituar os termos,
tanto para melhor compreender o que significam, quanto para que o educador possa
dosar e adequar as penalidades cabíveis, conforme a ação praticada pelo aluno.
O termo “violência” pode ser definido como: “qualidade de violento; ato
violento; ato de violentar; no sentido jurídico: constrangimento físico ou moral; uso
da força; coação” (Ferreira, 1999, p. 2076).
Para conceituar a violência, as formas diferenciadas de percepção e
abrangência, ficam evidentes como podemos notar nos conceitos abaixo:
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Uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, 2002; in: Silva, 2005, p.15) Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. (Michaud, 2001; in: Silva, 2005, p. 15) A violência tem uma expressão multifacetada: seria tudo o que se vale da força para ir contra a natureza de um agente social; todo ato de força contra a espontaneidade, à vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); todo ato de transgressão contra o que uma sociedade define como justo e como direito. Conseqüentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. (Chauí apud Sallas, 1999, p. 25; in: Silva, 2005, p.15).
Analisando esses conceitos, percebemos a forma abrangente em que a
violência se revela e, que as relações escolares estão permeadas pela mesma, tanto
na forma das manifestações ou das medidas adotadas no sentido de coibi-las.
Autores como Dupâquier (1999) alertam sobre a necessidade de estarmos
atentos para os diversos tipos de violência na escola, tanto àqueles que ferem os
direitos humanos, como pela sua expressão e crescimento. A clareza da
conceituação das diferentes manifestações de violência escolar oportunizará a
implementação de medidas de combate específicas.
Para que o trabalho de intervenção seja mais adequado é necessário
considerar os avanços da conceituação de violência escolar. Charlot (1997)
classificou-a em três níveis:
I – Violência – agressões físicas, vandalismo, etc. II – Incivilidade – violências físicas ou psicológicas com caráter de espetáculo. III – Violência simbólica ou institucional – vivenciadas de forma oculta no ambiente escolar e sobre as quais detemos pouco ou nenhum poder decisório.
Estes avanços na conceituação da violência escolar colaboram para definir a
problemática vivenciada nas escolas, pela variedade de situações e formas que
apresentam. Hoje as relações escolares apresentam diferentes
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... formas de conflito que incorporam uma capacidade de resistência ao trabalho com o conhecimento e uma dificuldade em respeitar as normas e regras da escola, expressando-se quer sob uma aparente submissão, quer através de excessos de todos os tipos: depredação, pichações, zombarias, riso, ironia, tagarelice, maus comportamentos, tumulto, atitude de desrespeito, de intolerância aos acordos firmados (TIGRE, 2002, p. 39-40).
Essas atitudes podem ser consideradas como indisciplina, pois se referem à
negação da disciplina, pela quebra de normas, uma vez que disciplina é um
“conjunto de normas e procedimentos dos quais dependem a ordem e a harmonia
de que a sala de aula necessita para poder trabalhar e conviver”. Gotzens (2003, p.
24), tendo como valor básico favorecer a consecução dos objetivos propostos ao
longo do processo de ensino-aprendizagem do aluno (Genovard, Gotzens e
Montane, 1981). Aquele que transgride ou ignora as normas estabelecidas,
demonstra comportamento inadequado.
O termo indisciplina, por sua vez, vem do verbo discere, que significa
aprender. A sua origem etimológica é a mesma que discípulo ou discente. Seu
sentido é muito variado.
No dicionário de Língua Portuguesa é traduzida como
Regime de ordem imposta ou mesmo consentida; ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização (escolar, militar); relações de subordinação do aluno ao mestre; observância de preceitos e normas; submissão a um regulamento (Ferreira, 1999, p.689).
Segundo Gotzens, (2003, p. 24) um dos principais obstáculos para o bom
desenvolvimento do tema é o desconhecimento da sua dimensão conceitual.
Segundo a autora, disciplina na perspectiva de ensino “é o conjunto de normas e
procedimentos dos quais dependem a ordem e a harmonia de que a sala de aula
necessita para poder trabalhar e conviver”. Consiste “em um enfoque global da
organização e da dinâmica do comportamento na escola e na sala de aula, coerente
com os propósitos de ensino”.
Os conceitos de indisciplina referem-se essencialmente ao não cumprimento
de regras, conforme conceito abaixo.
indisciplina é não-cumprimento de regras; é rebeldia contra qualquer regra construída; é desrespeito aos princípios de convivência combinados, sem uma justificativa viável; é o não-cumprimento de regras criando transtornos; é a incapacidade de se organizar e de se relacionar de acordo com normas e valores estabelecidos por um grupo “(Fortuna, 2002, p.90)”.
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Outra resposta também revela a idéia de rebeldia quando Fortuna (2002)
afirma que “indisciplina é contestar, rebelar-se e romper com a forma harmônica do
meio”.
No meio escolar percebem-se outras formas atitudinais inadequadas que
podemos classificar como incivilidades, por não se tratar de comportamento ilegal
em seu sentido jurídico, mas infrações à ordem estabelecida, presentes no
cotidiano. Referem-se a condutas de pouca gravidade e previsibilidade, sendo difícil
a sua identificação como as transgressões cotidianas. Engloba comportamentos que
rompem as normas de convivência social e com a expectativa do que é considerada
uma conduta social apropriada, conforme percebemos no conceito abaixo
Por incivilidade se entende uma grande gama de fatos indo da indelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo, passando pela presença de vagabundos, grupos juvenis. As incivilidades mais inofensivas parecem ameaças contra a ordem estabelecida transgredindo códigos elementares da vida em sociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordem do barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem... (Debaribeux, apud Latterman, 2000, p. 37).
As incivilidades expressam-se na forma de insensibilidade aos direitos
humanos. Como tal não se restringe somente aos comportamentos dos alunos,
estende-se aos problemas administrativos como a inadequação do funcionamento
escolar, a omissão, o desrespeito e falta de diálogo dos profissionais da educação.
No ambiente escolar, expressam-se de formas complexas e atendem a
diferentes finalidades e representam a principal ameaça para o funcionamento e à
convivência no ambiente escolar.
Outra forma de manifestação da violência no cotidiano escolar é o Bullying.
Para a abordagem do tema, o presente artigo baseia-se nos estudos de Fante
(2005). Bullying fenômeno relacionado a atitudes agressivas, intencionais e
repetidas num período prolongado de tempo, ocorrendo sem motivações evidentes
e, em que um ou mais agressores atacam a(s) mesma(s) vítima(s), causando dor,
angústia e sofrimento, levando a vítima à exclusão, causando danos físicos, morais
e materiais, numa relação pautada pelo desequilíbrio de poder.
Ainda segundo a autora, Bullying pode ser definido como “subconjunto de
comportamentos agressivos, caracterizado por sua natureza repetitiva e por
desequilíbrio de poder”, e também pela incapacidade da vítima em defender-se
facilmente.
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Inexiste um termo da língua portuguesa para definir o Bullying. A palavra é de
origem inglesa, adotada para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar
uma outra pessoa e colocá-la sob tensão. Nos estudos sobre o problema de
violência escolar é utilizado para conceituar os comportamentos agressivos e anti-
sociais.
A autora apresenta também o significado do termo e as respectivas
definições. Bully (subst.) = valentão, tirano; como verbo = brutalizar, tiranizar,
amedrontar.
Definição: Subconjunto de comportamentos agressivos, caracterizado por sua
natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder, caracterizado pelo fato de que a
vítima não consegue se defender com facilidade.
Definição universal: conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas
que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra
outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, levando a vítima à exclusão,
causando danos físicos, morais e materiais (Fante, 2005, p.28).
Comportamentos deliberados e danosos como; pressão, intimidação,
gozação, apelidos, e outros podem evidenciar o bullying.
Para fins de esclarecimento relatamos algumas ações que caracterizam o
Bullying: apelidar, zoar, gozar, humilhar, causar sofrimento, discriminar, excluir,
isolar, ignorar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar,
agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences ou usurpá-los.
Podem ocorrer de duas formas, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo
da vítima. Diretamente, utilizando-se de agressões físicas (bater, tomar pertences)
verbais (insultar, apelidar pejorativa e discriminatoriamente). Indiretamente, forma
que provoca maior prejuízo e pode criar traumas irreversíveis ao psiquismo de suas
vítimas, “acontece através da disseminação de rumores desagradáveis e
desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social”
Fante, 2005, p.50).
4 DEFININDO A METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO
Para o encaminhamento da investigação educativa foi adotada a pesquisa-
ação, por ser o “instrumento ideal para uma pesquisa relacionada à prática” (Engel,
2000), e, hoje amplamente aplicada na área de ensino. Trata-se de uma pesquisa
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participante, empregada para unir a pesquisa à ação, desenvolvendo “o
conhecimento e a compreensão como parte da prática,... uma maneira de se fazer
pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja
melhorar a compreensão desta” (Engel, 2000, p. 182), buscando intervir de modo
inovador, já no decorrer do próprio processo de pesquisa, com o intuito de interferir
no curso dos acontecimentos.
A pesquisa-ação tem a intenção de colaborar com os professores na solução
de seus problemas em sala de aula, envolvendo-os na pesquisa, com o intuito de
melhorarem o processo ensino-aprendizagem em seu ambiente de atuação, pois
fornece subsídios razoáveis para a tomada de decisões, mesmo que de caráter
provisório, levando a soluções imediatas para problemas educacionais urgentes. Na
pesquisa-ação, o objeto de investigação são as ações humanas consideradas
inadequadas e suscetíveis de mudança através de resposta prática. A interpretação
dos dados é baseada “nas representações em que os diversos atores (professores,
alunos, diretores, etc.) têm da situação” (Engel, 2000). Tem por finalidade verificar
se o procedimento de intervenção é eficaz ou não, possibilitando efetivar mudanças
de direção e redefinição, beneficiando o processo.
Essa metodologia é situacional e auto-avaliativa, e, constitui-se em uma
maneira de progresso profissional, uma vez que “parte das preocupações e
interesses das pessoas envolvidas na prática, envolvendo-os em seu próprio
desenvolvimento profissional” (Engel, 2000). É utilizada para implementar a teoria
educacional na prática de sala de aula.
4.1 Caracterização do público alvo
Além de compreender as diversas manifestações da violência na escola,
fundamental para planejarmos ações voltadas à transformação do ambiente escolar
em um espaço mais acolhedor, que proporcione uma convivência harmoniosa, justa,
solidária e de respeito aos direitos de todo ser humano, faz-se necessário
conhecermos a clientela do trabalho. Para tanto partimos de um trabalho de
caracterização da escola alvo, com o objetivo de diagnosticar o problema, e que
servir de base para os estudos, propostas de ações e intervenção direcionada.
Na caracterização foram colhidas informações sobre as características da
comunidade onde a escola está inserida. É uma vila basicamente residencial e sua
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população é de classe média/ baixa e pertencentes a várias correntes religiosas,
dispõe de infra-estrutura básica, possui inúmeras casas de comércio de pequeno
porte. A vila é desprovida de locais de lazer, como clubes, quadras desportivas,
praças e outros, fazendo com que os jovens não disponham de locais próprios para
encontros a não ser o espaço escolar e sua infra-estrutura.
Também foram colhidas informações sobre a estrutura física e material da
escola. O colégio alvo possui boa infra-estrutura e é considerado de médio porte.
Conta com 15 (quinze) salas de aula que funcionam em três turnos, conta também,
com sala de recurso e sala de apoio, além de possuir uma quadra poli-esportiva,
biblioteca com um ótimo acervo bibliográfico, laboratório de informática, de uso
exclusivo de professores e alunos, não disponível para a comunidade externa ao
colégio.
A instituição conta com diversos recursos materiais didático-pedagógicos,
recursos audiovisuais de uso coletivo, onde todos os profissionais têm acesso, em
acordo com a sua função, seu planejamento possibilitando um melhor
desenvolvimento do trabalho escolar.
Os espaços que estão disponíveis na escola são, na medida do possível,
aproveitados da melhor forma para o bom desempenho do aluno, visando ao bem
estar, à socialização e ao aprendizado de uma maneira global.
Foi levantado também o perfil da população atendida pela escola assim como
a relação família-escola-comunidade. Há uma grande diversidade étnica, entretanto,
nos aspectos sócio-econômico, cultural e educacional existe um certo nivelamento.
A renda familiar média fica entre um e três salários mínimos. O grau de instrução
das mães dos alunos concentra-se na primeira fase do ensino fundamental e
geralmente trabalham apenas no lar, as poucas que possuem emprego fora de casa
são em sua maioria mensalistas, diaristas, auxiliares de serviços gerais, operadoras
de caixa, vendedoras.
O nível de instrução dos pais é pouco mais elevado que o das mães,
aparecendo uma porcentagem maior com ensino fundamental completo, outros com
ensino médio, apenas uma quantidade mínima de pais tem curso superior. Em
relação à profissão dos pais há uma ampla variedade, no entanto, é possível
observar que a grande maioria enquadra-se nos trabalhos braçais, nível operacional.
Há um pequeno número de desempregados, aposentados e sub-empregados. Há
também um reduzido número de analfabetos.
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O Colégio atende aos alunos de diversas vilas da região leste da cidade, a
maioria dos alunos vem para o Colégio a pé, poucos se utilizam do transporte
urbano, além, dos provindos da zona rural que necessitam do serviço municipal de
transporte escolar. São atendidos alunos com necessidades especiais e os alunos
das 5as séries com dificuldade na aprendizagem são atendidos na sala de apoio em
contra-turno nas disciplinas de matemática e língua portuguesa.
Apesar da baixa renda familiar, grande parte possui casa própria com água
encanada, energia elétrica e banheiro.
A relação família-escola-comunidade é de importância inquestionável,
entretanto, não há uma relação ativa, ela apresentando-se bastante precária,
limitando-se a informações individuais sobre notas ou para denunciar ou esclarecer
sobre atitudes agressivas em que tenham se envolvido. Devido aos fatores sócio-
econômico e cultural os pais ainda são muito alheios à vida escolar dos filhos,
mantendo-se distante do processo ensino-aprendizagem, relegando aos
profissionais da escola toda a responsabilidade pela educação dos seus filhos.
Todos os pais expuseram que buscam educar seus filhos com base nos
valores morais e éticos tendo como base o respeito, a honestidade, a
responsabilidade e o valor na educação instrucional como meio para a conquista de
um futuro melhor. Tal posicionamento é consoante com a visão dos alunos que em
sua maior parte vêem no estudo o melhor meio para preparar-se para o mundo do
trabalho, ascensão cultural e social para a obtenção de uma melhor qualidade de
vida.
Para a caracterização do grupo de alunos contemplamos a movimentação
dos mesmos nos últimos dois anos (2005-2006), assim como as porcentagens dos
resultados obtidos. Para que se tenha um olhar global da realidade escolar, foi feito
um levantamento dos resultados obtidos pelos alunos em dois anos anteriores, cujos
resultados estão abaixo discriminados.
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Evadidos Reprovados Aproveitamento Séries Total de
Alunos N° % N° %
5ª 287 78 27% 209 73%
6ª 221 74 33% 147 67%
7ª 166 37 22% 129 78% F UND
8ª 153 47 31% 106 69%
1ª 182 97 53% 85 47%
2ª 147 74 50% 73 50% MED
3ª 118 37 31% 81 69% Tabela 1: Porcentagens de resultados obtidos pela movimentação de alunos do ano letivo de 2005
do Colégio Pe. Carlos Zelesny – EFM.
Evadidos Reprovados
Aproveitamento Séries Total de
Alunos N° % N° %
5ª 314 63 20% 251 80%
6ª 272 79 29% 196 72%
7ª 145 34 23% 111 77% F UND
8ª 162 22 14% 140 86%
1ª 226 76 34% 150 66%
2ª 153 41 27% 112 73% MED
3ª 116 32 28% 84 72% Tabela 2: Porcentagens de resultados obtidos pela movimentação de alunos do ano letivo de 2006.
Analisando estes dados, constatamos que o menor índice de aproveitamento
encontra-se no período noturno especificamente no ensino médio, o que motivou a
intervenção.
O trabalho de intervenção encontra-se apoiado no Projeto Político
Pedagógico da escola que contempla em seus objetivos:
− Refletir criticamente sobre a realidade do nosso colégio, possibilitando a seleção
de valores a serem atingidos e consolidados à busca de pressupostos teóricos e
metodológicos postulados por todos da comunidade escolar.
− Dar condições para a implementação de práticas pedagógicas que contribuem
para o projeto social de cidadania.
− Enfrentar o desafio da mudança e da transformação constante que a sociedade
sofre e que atingem, também e/ou principalmente, as instituições de ensino.
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Com esses dados em mãos definiu-se o público alvo, 1ª série do Ensino
Médio do turno noturno de um colégio da rede estadual de ensino, localizado na
periferia da cidade de Ponta Grossa – Paraná, assim como a linha de intervenção:
combate e prevenção da violência e indisciplina.
5 EFETIVAÇÃO DO TRABALHO
5.1 Relatando a intervenção
Identificar as diferentes manifestações da violência é primordial para que se
dirijam ações eficazes no sentido de amenizá-las possibilitando a construção de um
ambiente mais propício à tarefa educativa.
Devido à complexidade e abrangência do tema, o problema da violência
escolar e suas diversas formas de manifestação, assim como a sua interferência no
processo ensino-aprendizagem, optou-se pela intervenção na problemática violência
e indisciplina.
Para a coleta dos dados, que serviram de base para a elaboração do
presente artigo, foram utilizados os seguintes instrumentos: reuniões com
professores, com alunos, questionários semi-estruturados, observações, análise
documental. Esta pesquisa-ação envolveu principalmente professores e alunos uma
vez que a relação interpessoal entre eles é mais intensa no processo ensino-
aprendizagem.
Após a coleta de dados optou-se pela intervenção especificamente sobre a
violência e indisciplina, visto que, a problemática necessita de tratamento preventivo
e não terapêutico, como normalmente ocorre no colégio alvo da intervenção.
Verificou-se também que a repressão e a punição são muitas vezes excludentes e
ineficientes não desencadeando mudanças comportamentais positivas e
duradouras. A tomada de consciência de que existe um problema e que deve ser
abordado junto à coletividade dando-se ênfase no caráter educativo em detrimento
do punitivo, motiva a tentativa de implementar ações preventivas de conflitos, para
melhorar as relações interpessoais na classe e na escola em geral.
Tendo como foco essas constatações é que a implementação contemplou
atividades no sentido de valorização da vida, resgate de valores essenciais à
convivência respeitosa e harmônica. As atividades envolveram principalmente
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professores e alunos uma vez que a relação interpessoal entre eles é mais intensa
no processo ensino-aprendizagem.
A Intervenção junto aos docentes teve como foco sensibilizar os docentes
sobre a problemática, mobilizando-os para trabalhar com a violência e a indisciplina,
e também apresentar a proposta de intervenção.
A primeira etapa, com início na semana pedagógica referiu-se à apresentação
da proposta à comunidade escolar: diretores, pedagogos, professores e
funcionários. Através da mensagem “Utopia” buscou-se chamar a atenção para a
inversão de valores da atualidade. Seguindo-se de atividade com ênfase direcionada
aos problemas disciplinares e às diversas formas de intervenção, tendo como
objetivo demonstrar os fatores que desencadeiam os comportamentos inadequados
e analisar os resultados das intervenções pontuais.
Para chamar a atenção às diversas situações vivenciadas pelos alunos e que
podem desencadear situações de violência e indisciplina, foi exibido o filme Bang
Bang! Você Morreu.
Através da discussão dos conceitos de violência, indisciplina, incivilidade e
bullying, buscou-se esclarecimentos dos mesmos, seguindo-se do levantamento dos
principais problemas enfrentados, para definir algumas ações a serem
implementadas. Esses fatores são essenciais para uma intervenção eficaz.
Questões como a elaboração de contratos pedagógicos acompanhados de
assembléias de classe e ações como construção de mural, caixinha disque denúncia
e sugestões de atividades visando à educação para a paz.
Foram definidos os Contratos Pedagógicos, como forma de gerir conflitos e
problemas disciplinares, uma vez que, são acordos construídos, combinados e
aceitos pelo coletivo sobre as normas de convivência entre o grupo em questão.
Para sustentar o êxito na aplicação dos contratos pedagógicos, as Assembléias de
Classe constituem-se em espaços para auto-reflexão, tomada de consciência e
elaboração e discussão das regras de convivência.
O trabalho com os docentes foi bastante pontual, uma vez que não houve
tempo hábil para um aprofundamento nos estudos sobre a problemática. Procurou-
se suprir esse entrave através de textos trabalhados em reuniões e que visavam a
subsidiar, mesmo que superficialmente, a implementação da proposta.
Para compreender e definir ações junto aos alunos foi aplicado um
questionário, que abordou alguns temas julgados pertinentes.
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Partimos do levantamento da faixa etária dos alunos que compõem as
referidas turmas e constatamos que a grande maioria encontra-se fora da idade
correspondente à série, como demonstra o gráfico abaixo:
Faixa etária dos alunos Porcentagem
15 anos 19%
16 anos 24%
17 anos 39%
18anos ou mais 18%
Tabela 3: Representação da porcentagem de alunos pela faixa etária.
Esta heterogeneidade de faixa etária despertou a atenção para os percalços
vivenciados pelos alunos e que culminaram com o insucesso escolar, assim como o
porquê deles persistirem na escola. As turmas são formadas em sua maioria por
alunos egressos (desistentes em anos anteriores), de múltiplas repetências e/ou
trabalhadores. Para detectar os motivos dessa realidade foi elaborado um
questionário aberto, com questões pertinentes ao objeto de pesquisa.
Dos 55 alunos presentes e que responderam ao questionário aberto,
obtiveram-se os seguintes resultados. Na visão dos alunos a respeito do porquê e
para quê existe a escola, eles assim se posicionaram: 54% dos alunos acredita que
a escola existe como oportunidade de crescimento, de melhorar o mundo e formar
cidadãos críticos, e para 46% como local de transmissão de conhecimento e
educação.
Na seqüência, buscou-se obter dados a respeito da escola que freqüentam, e
os alunos assim a consideraram: 71% considera a escola como essencial para a
vida e que a escola que freqüenta é boa, 20% considera local de aprendizagem e
diversão e 9% considera a direção muito rígida e a escola com muitas normas a
serem seguidas.
Por se tratar de alunos que se encontram em série incompatíveis com a
idade, foi contemplada a pergunta sobre o porquê dos alunos ainda efetivarem a
matrícula e freqüentarem, mesmo que de forma irregular, e as respostas
concentraram-se em 82% dos alunos que vêm à escola para realizar o sonho de ter
um futuro melhor, ser um profissional competente, “ser alguém na vida” e apenas
9% vêm à escola para estudar.
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Outros fatores que podem gerar a heterogeneidade da idade escolar dos
alunos das 1ª séries do ensino médio noturno também foram investigados. Eles
referiram-se à percepção que têm dos professores que na opinião de 78% dos
alunos foram considerados como muito bons, competentes, interessados,
preocupados com a aprendizagem dos alunos. Sobre o relacionamento do aluno
com a direção, pedagogo, funcionários e professores, os resultados foram: 56% dos
alunos participantes consideram as relações muito boas, respeitosas e 44% acham
que pode melhorar, sendo menos rígida, menos exigente e sendo atendidos mais
prontamente.
Outro fator abordado no questionário foi em relação aos problemas
enfrentados pelos alunos com os seus colegas, tanto dentro do ambiente escolar
quanto nas circunvizinhanças. Dos entrevistados, 31% dizem não ter qualquer tipo
de problema com colegas, 38% citam como problema que atrapalha o seu dia-a-dia
estudantil a indisciplina, bagunças, intrigas, brigas, roubos. 31% citam como maior
problema à discriminação, o preconceito, o desrespeito aos seus semelhantes.
Questionou-se também, sobre a reação de cada aluno frente aos problemas
vivenciados e aos depoimentos foram: medo, raiva, indignação, isolamento, tristeza,
entre outros. Chama a atenção o fato de que 24% dos alunos não responderam a
esta questão específica do questionamento e 27% deles admitirem que não
apresentam nenhuma reação. Entre a não reação e a abstenção obtivemos 51% dos
envolvidos.
Na relação com os colegas, 36% consideram-na boa e 41% acreditam que
deveria haver mais companheirismo, mais amizade, mais respeito. Destes 23% não
responderam.
Quando indagados como seria a escola na opinião deles, uma grande parte a
considera boa da maneira que se apresenta. Entretanto, 52% acham que pode
melhorar sendo mais acolhedora, menos rígida e ofertando outros cursos (pós-
médio ou outras atividades), entre outros. Quanto às aulas, a maioria acredita que
as aulas poderiam ser mais criativas, diversificadas, dinâmicas, assim haveria
menos indisciplina.
Refletindo sobre os dados coletados, pode-se perceber que o ambiente
escolar exerce grande influência na permanência dos alunos na escola. A exclusão
ocorre por fatores diversos, desde a relação com os colegas até o relacionamento
diretor-aluno. Outro fator que interfere de maneira significativa é a questão da
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violência tanto interna quanto externa, assim como da indisciplina. Cabe aos
profissionais da educação dirigir ações numa constante busca do local seguro e
propício à aprendizagem. Afinal, a escola é “veículo por excelência de
aprendizagem, de socialização em ética e da comunicação por diálogo” (Abramovay,
et all, 2002).
O espaço criado pelo PDE-Pr. oportunizou um “olhar de fora” para os
problemas vivenciados, e os estudos sobre a temática muito contribuíram para
mudar a minha visão a respeito da questão violência e indisciplina, assim como das
diferentes maneiras de abordá-las.
Apoiados nos resultados obtidos optou-se por dirigir ações no resgate da
auto-estima, a fim de conscientizar sobre a importância da vida humana e dos bens
públicos; perceber a importância da educação como agente de transformação
pessoal e social e oportunizar que o educando reconheça a obra de Pablo Picasso
como instrumento de denúncia social. Estas abordagens oportunizaram aos alunos
discussões sobre os assuntos que interferem negativamente nos seus estudos e que
afetam a sua auto-estima desestimulando-os a prosseguir em sua jornada escolar,
bem como a sair da passividade denunciando os fatos, para que intervenções sejam
feitas no sentido de reverter à situação através da construção partilhada de soluções
para se alcançar os objetivos comuns. Para concretizar esses objetivos os
professores de Língua Portuguesa e Língua Inglesa da 1ª séries do ensino médio
noturno da referida escola, idealizaram e efetuaram um Ciclo de palestras, intitulado
“Por uma escola melhor” e que foram complementadas com atividades
desenvolvidas pelos professores em suas respectivas turmas, buscando estimular a
reflexão e o exercício do olhar sobre a temática.
A intervenção junto aos alunos, além das palestras abordando a valorização
da vida, buscou o engajamento no projeto da escola: “Vivendo Valores na Escola”,
visando o resgate de valores, assim como a utilização dos Contratos Pedagógicos e
das Assembléias de Classe para o enfrentamento da violência e da indisciplina no
ambiente escolar.
5.2 Decisões e responsabilidades partilhadas
A opção pelo Contrato pedagógico ocorreu por remeter-se especificamente
às pautas de ação e convívio em sala de aula, diferente do regimento escolar que é
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mais geral. São os “acordos” ou “combinados” e visam à partilha da
responsabilidade pelas decisões acerca das rotinas de trabalho e das regras de
convivência. Segundo Aquino ( 2003)“O combinado não sai caro”, e a exeqüidade
dos contratos exige a contrapartida de todos os envolvidos.
Tal proposta implica desde o estabelecimento dos parâmetros de conduta
para ambas as partes até a explicação dos objetivos, limites e horizontes da relação.
“Primeiro, diga-me o que espera que eu faça e seja, para que eu possa
esperar algo de você” – desse modo, passamos a cultivar expectativas acerca do
outro e de nós mesmos, bem como a contar com parâmetros de julgamento das
ações. O primeiro dia de aula é o momento mais propício para a celebração dos
contratos (Aquino, 203, p. 69).
Vale a pena, no primeiro dia de aula, narrar um pouco da história profissional
do professor, bem como de ouvir as que os alunos têm para revelar, buscando aqui
a potencialização da alteridade e a recusa da idealização excessiva do outro. É
fundamental esclarecer o que esperam um do outro.
Um grupo passa por diferentes etapas progressivas no que se refere à
validação e à tomada de consciência das regras: da imposição (não consciência do
valor da regra) ao consentimento (o aluno faz a sua parte se professor fizer a dele –
controle externo) e, por fim, à autodisciplina (os alunos sabem o que deve ser feito e
fazem-no por vontade própria, encarando tais regras como parte de seu repertório
pessoal e dispensando o professor da função de supervisão coletiva).
As sanções para quem não cumpre as regras estabelecidas em conjunto
devem ser de responsabilidade coletiva, no entanto, as sanções não podem mais
ser tomadas como mecanismo de exclusão compulsória. As penalidades devem ter
um caráter inclusivo e sempre de reparação ao andamento acordado pelo grupo-
classe.
A penalização não pode, sob hipótese alguma, incluir maus-tratos físicos ou
psicológicos – devem sempre ser acompanhadas de diretrizes sobre como agir.
Os contratos pedagógicos não são auto-suficientes como mecanismos de
regulação do convívio democrático, eles requerem manutenção constante e para a
sustentação dos mesmos optou-se pelas Assembléias de Classe.
A Assembléia de classe é um evento escolar organizado para que o grupo-
classe possa discutir as questões que lhe pareçam pertinentes ou necessárias, a fim
de otimizar a ação e a convivência democrática.
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Para que as assembléias sejam organizadas de modo a atingir seus objetivos
faz-se necessário destinar uma pequena parte do tempo semanal a esse tipo de
reunião, de modo que se torne uma atividade habitual; dispor o espaço da sala de
aula de forma distinta do habitual; usar o tempo atribuído à assembléia para a
discussão conjunta sobre tudo o que ocorre na turma; dialogar com a disposição de
se entender, de organizar o trabalho e de solucionar os conflitos; e, finalmente,
considerar que o modo de realizar as assembléias de sala de aula depende da idade
dos alunos.
As escolas devem ser tomadas como “comunidades democráticas”, uma vez
que é um espaço social regido pelos critérios próprios dos sistemas democráticos,
cuja expressão máxima seriam as assembléias de classe.
As assembléias facilitam a formação de capacidades morais e a aquisição de
atitudes e valores e, representam o momento institucional em que o grupo-classe
viabiliza a auto-reflexão, a tomada de consciência sobre si mesmo e a conversão em
tudo àquilo que seus membros considerarem oportuno.
No desenvolvimento das assembléias fez-se necessário seguir três momentos
diferenciados: a preparação, o debate dos temas e a aplicação de acordos. (Aquino,
2003, p. 85-86).
Na “preparação” devem ser estabelecidos os temas que demandam debate.
Fazer uma lista dos diversos assuntos para que o encarregado de conduzi-la
confeccione a ordem do dia de cada sessão.
Os encarregados pela assembléia devem presidi-la e iniciar a discussão, dar
a palavra e anotar os nomes dos que querem intervir e redigir os acordos em papel
que posteriormente serão expostos em sala. “O professor têm um papel duplo:
intervém pedindo a palavra como mais um do grupo, dando a conhecer suas
opiniões, adotando uma atitude de ajuda no que diz respeito à maneira de conduzir
os trabalhos e à observância do conteúdo e da orientação do debate” (Aquino, 2003,
p. 86).
O segundo momento da assembléia, o “debate dos temas”, constitui o núcleo
dessa prática educativa baseada no diálogo. É importante ordenar os temas e não
perder de vista o objetivo que se pretende em cada caso. Assim, evita-se as
discussões intermináveis.
Alguns critérios de qualidade do diálogo devem ser observados nas
assembléias: intervir ordenadamente e pedir a palavra, intervir sobre o tema tratado
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naquele momento, expor idéias pertinentes e com máxima claridade, escutar os
companheiros, recordar o que foi dito, buscar acordos construtivos e estar disposto a
cumpri-los.
O papel do professor é fundamental e exige-se dele algumas atitudes
humanas consideradas imprescindíveis, tais como: respeito para com todos,
capacidade para acolher a diversidade de opiniões, exigência com os alunos nos
momentos em que se requer.
O terceiro momento da assembléia, a “aplicação dos acordos”, tem como
principal objetivo fazer com que os acordos se traduzam e se cumpram no cotidiano
da classe.
Os resultados que costumam ser obtidos nas assembléias são de três tipos:
análise de certas situações difíceis; acordos e planos de ação; normas de
comportamento e propostas de trabalho.
Os trabalhos relativos aos contratos pedagógicos e assembléias de classe
foram efetivados pelos próprios professores das turmas, com orientação
pedagógica, por se constituírem momento único e essencial de discussões dos
alunos sobre o que ocorre na turma, quais são os problemas e dificuldades
encontrados assim como os avanços conseguidos propiciando a formação de
capacidades morais e a aquisição de atitudes e valores positivos. A análise das
normas por eles estabelecidas oportuniza o diálogo na tentativa de solucionar os
conflitos, dando aos alunos o sentimento de pertencimento ao ambiente de sala
assim como de responsabilidade pelo convívio democrático efetivação do processo
ensino-aprendizagem. Tornar o ambiente escolar em um local exigente, mas, de
respeito mútuo, elaborando normas conjuntas, oportunizará maior sucesso e,
conseqüentemente torna o ambiente menos violento como também reduzindo as
possibilidades de transgressão.
6 CONCLUSÃO
Para abordar os problemas de convivência é essencial a “conscientização” de
que “aqui temos problemas” e que os problemas de classe trazem uma
responsabilidade compartilhada, que começa pelo professor que os vivencia,
continuando com o apoio dos demais professores, bem como da equipe pedagógica.
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Conhecer e apresentar a possibilidade de implementar ações preventivas
para a melhoria das relações interpessoais na classe e na escola em geral significa
começar a tomar consciência de que existe um problema que deve ser abordado
junto à coletividade.
A intervenção chamou a atenção dos professores para os problemas que
enfrentam no cotidiano escolar e sensibilizou-os a buscar formas de intervenção
preventivas com o intuito de inibir os comportamentos inadequados ao processo
ensino-aprendizagem.
O trabalho desenvolvido foi acompanhado visando a subsidiar a
implementação e os encontros com os docentes constituíram-se em momentos vitais
para a interação com a professora PDE e para a troca de informações, análise da
implementação, dificuldades encontradas, pontos positivos e negativos assim como,
resultados e alterações que se fizeram necessárias.
A avaliação que permeou todo o processo esteve em consonância com a
concepção de avaliação do âmbito PDE que assume que a avaliação deva ser um
processo contínuo, sistemático e progressivo das atividades desenvolvidas, o que
corresponde a uma concepção diagnóstica de avaliação. O processo de avaliação
por estar intimamente vinculada a um projeto social deve servir para analisar,
compreender, desvelar, descobrir, pesquisar, estabelecer correlações, ampliar a
visão de mundo do aluno, aprofundar questões, dialogar, construir significados de
aprendizagem para os sujeitos e para a coletividade. Os momentos avaliativos
buscaram avaliar a eficácia da proposta e analisar os resultados obtidos.
A avaliação do trabalho de intervenção desenvolvido na escola teve como
espaço as reuniões com os professores envolvidos que apresentaram seus
depoimentos sobre a eficácia da proposta, as dificuldades percebidas e o
acompanhamento efetuado pela professora PDE com vistas a redimensionar as
ações para a continuidade e posteriores implementações uma vez que este trabalho
não apresenta resultados a curto prazo, por constituir-se num processo a longo
prazo.
Analisando a metodologia utilizada percebe-se que ela é promissora e de fácil
aplicabilidade no contexto escolar, estando em consonância com a proposta de
trabalho.
Apesar da violência e da indisciplina estarem presentes no cotidiano escolar,
e ser responsabilidade do professor intervir quando elas se apresentam, percebeu-
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se que alguns termos como incivilidade e bullying eram desconhecidos de grande
parte dos professores, o que motivou a participação nas reuniões efetivadas.
Na intervenção contamos com a adesão e participação ativa da grande
maioria dos professores, que repensaram e mudaram sua postura em relação às
diversas situações de atitudes inadequadas ao convívio escolar. Optaram por
trabalhar, segundo as orientações propostas e declararam obter grandes êxitos. O
esclarecimento sobre o porquê da sala de aula estar sujeita a um conjunto de
normas, já no início do ano letivo, melhorou bastante o ambiente. Estabelecer
limites, criar normas conjuntas e antecipadamente não criou traumas, ao contrário,
fez com que o aluno se sentisse mais responsável e pertencente à turma, capaz de
ouvir e ser ouvido. Durante a intervenção pode-se perceber que os professores que
mantiveram suas atitudes autoritárias continuaram enfrentando alguns problemas,
demonstrando que os mesmos alunos apresentam diferentes comportamentos para
diferentes professores. Nos dois casos de intervenção direta da pedagoga em
situação de conflito, o embasamento teórico foi fundamental, a direção da
intervenção foi pautada em todo o conhecimento adquirido e obteve êxito, uma vez
que os envolvidos passaram a conviver pacificamente.
Os estudos oportunizados pelo PDE-Pr constituíram-se em suporte ímpar
durante todo o processo. As intervenções deixaram de ser intuitivas e passaram a
ter aporte teórico, mostrando-se bastante eficazes apesar do curto espaço de tempo
de intervenção.
Com base nos êxitos obtidos a intervenção passará a fazer parte do programa
da escola, pois essa problemática faz parte do cotidiano escolar e buscar novas
formas de intervenção é primordial no combate à violência e à indisciplina.
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