Post on 27-Dec-2015
CENTRO DE ENSINO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ
CESUMAR
CRISTIANE VILELA
Vinho Novo e Odres Novos
Trabalho apresentado ao Centro
Universitário de Maringá, como parte
da avaliação para o 2º bimestre na
disciplina: Exegese e Estudos
Bíblicos no NT, do curso de Bacharel
em Teologia.
Prof.: Marcelo Aleixo Gonçalves
MARINGÁ
2014
IGREJAS, TEMPLOS E TABERNÁCULOS
A aliança mosaica e os quarenta anos no deserto não se limitaram a formar a fé dos
hebreus; eles têm muito a nos ensinar também sobre a natureza da comunidade do
povo de Deus sobre a igreja. Os três elementos centrais na aliança mosaica eram
sacrifício, sacerdócio e tabernáculo. Juntos, como partes da lei mosaica e acoplados a
ela, constituíam a base revelada para relação de aliança entre Deus e seu povo
escolhido. Também é verdade, mas bem menos enfatizado, que Jesus Cristo é o
cumprimento do tabernáculo (Hb 8-9). “Porque Cristo não entrou em santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por
nós, diante de Deus” (Hb 9.24). O corpo de Cristo é, em certo sentido, “o verdadeiro
tabernáculo”. Assim, a comunidade dos crentes, o “corpo de Cristo”, é também parte
do verdadeiro tabernáculo, pois a igreja é “casa de Deus” (Hb 3.6; 1Tm 3.15),
“santuário” (Ef 2.21; 2Co 6.16), “habitação de Deus” (Ef 2.22).
Na aliança mosaica, o tabernáculo era o símbolo da presença de Deus. “E me farão
um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Ex 25.8). A ideia central era
habitação de Deus no meio do seu povo. Deus não podia habitar de verdade no
coração das pessoas por causa dos seus pecados e rebeldia; sua habitação tinha de ser
simbólica. Mas para Igreja, o tabernáculo tem seu cumprimento no corpo de Cristo,
como já vimos. Agora Deus habita com o seu povo nos corações e nos corpos da
comunidade dos crentes, mediante a habitação interior do Espírito Santo.
A idéia central do tabernaculo é, claramente, a habitação de Deus. Mas no Novo
Testamento, Deus habita no coração das pessoas, e não apenas entre elas de medo
simbólico. O povo de Deus habitando eternamente em comunhão, na Koinonia, do
Espírito Santo. Dessa forma, vemos uma tríplice progressão: primeiro, Deus habitando
simbolicamente entre o seu povo numa estrutura física chamada tabernáculo.
Segundo, Deus realmente habitando dentro do coração e na comunidade do seu povo
mediante o Espírito Santo. Terceiro, Deus habitando eternamente com o seu povo, em
perfeita e inquebrantável comunhão, na era vindoura.
O tabernáculo é o símbolo da presença de Deus junto ao seu povo e, como tal, acima
de tudo, é um símbolo móvel. Tudo é feito para ser desmontado e carregado com
facilidade. E isso Não foi ideia de Moisés; era de acordo com o modelo revelado no
monte, como a Escritura repete várias vezes. Se o tabernáculo representa a presença
de Deus, representa com certeza a natureza dinâmica de Deus e a mobilidade do povo
de Deus. Deus começou a peregrinação; ele determinou que ela durasse quarenta
anos; ele criou um povo peregrino. Isso foi para Israel uma grande lição objetiva sobre
a natureza do seu Deus. Segundo o mandado do Senhor, os filhos de Israel partiam e,
segundo o mandado do Senhor, se acampavam; por todo o tempo em que a nuvem
pairava sobre o tabernáculo, permaneciam acampados. Às vezes, a nuvem ficava
desde a tarde até a manhã; quando, pela manhã, a nuvem se erguia, punham-se em
marcha; quer de dia, quer de noite, erguendo-se a nuvem, partiam.
O tabernáculo foi idéia de Deus; foi seu projeto. Ele ordenou sua construção. Mas e
quanto ao templo? Deus enviou palavras ao rei Davi. O rei Davi era rico, próspero e
estava em período de paz. Desse modo, o templo foi ideia de Davi, não de Deus. Além
disso, Davi era rei, e a monarquia também não era ideia de Deus (1Sm8.4-9). Deus
permitiu a construção do templo, mas não por Davi. Este fez os preparativos, mas foi
Salomão quem construiu. Em contraste com o tabernáculo, o projeto não veio o
Monte Sinai. Deus não foi o arquiteto. Enquanto Salomão estava construindo o
templo, uma palavra veio de Deus: “Quanto a esta casa que tu [observe, tu, não eu]
edificas, se andares nos meus estatutos, e executares os meus juízos, e guardares
todos os meus mandamentos, andando neles, cumprirei para contigo a minha palavra,
a qual falei a Davi, teu pai. E habitarei no meio dos filhos de Israel e não desampararei
o meu povo” (1 Rs 6.12-13).
O sinal mais exato da presença de Deus em sua igreja aqui na terra é o tabernáculo,
e apenas de modo secundário o templo. O tabernáculo é o verdadeiro símbolo, pois
mostra de modo mais acurado como Deus age na história. Mas o significado primário e
escatológico. Na realidade concreta Davi peca, a monarquia se degenera, a cidade
santa está cheia de sangue e o culto no templo acaba no final mergulhado num
institucional ismo morto. A glória desta última casa será maior do que a da primeira
(Ag 2.3-9). Aqui se faz uma referência ao futuro escatológico (como em outras
passagens similares) e não no futuro imediato do templo material, que não podia (e
nunca conseguiu) se comparar ao primeiro templo, se Salomão.O templo material é
apenas a sombra do que está para vir no reino futuro de Deus, quando o Senhor irá
abalar o céu e a terra, o mar e a terra seca (Ag 2.21-23). O templo e o reino
representam mais exatamente o reino escatológico de Cristo, a ser consumado na era
vindoura. Tanto o tabernáculo como o templo representam a habitação de Deus com o
seu povo. Um templo já não é mais necessário. Tudo o que precisavam era de um lugar
para se reunirem como comunidade cristã. O lugar mais natural era o lar (At 2.46;
5.42). O tabernáculo do Testemunho estava entre os nossos pais no deserto, como
determinara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha
visto... até os dias de Davi.Eles resistem ao Espírito Santo por confiar no templo físico,
e não vêem Jesus Cristo como o cumprimento tanto do tabernáculo como do templo,
como sacerdote e rei ao mesmo tempo.
Eles rejeitaram a Jesus Cristo e estão confiando naquilo que já não tem mais
significado. Teologicamente, a igreja não precisa mais de templos. Edifícios não são
essenciais para a verdadeira natureza da igreja, pois o tabernáculo simbolizava a
habitação de Deus, e Deus já habita dentro da comunidade humana dos crentes
cristãos. Um prédio de igreja não ode ser um “lugar santo” em nenhum sentido
especial, pois lugares santos não existem mais, e toda criação é sagrada. O cristianismo
não possui lugares santos, apenas povo santo. Os cristãos sabem que Deus está
presente em todos os lugares, pois a terra é do Senhor.De qualquer forma, a igreja
primitiva não construiu prédios.
A conclusão de que a igreja, teologicamente, não precisa de edifícios é reforçada
pela diferença que já vimos que existe entre o tabernáculo e o templo. Notamos que
aparentemente Deus prefere o tabernáculo ao templo como o sinal de sua habitação
com seu povo, pois o primeiro enfatiza que o Senhor é dinâmico, não estático, móvel,
um Deus de surpresas. E dessa forma, o tabernáculo mostra que o povo de Deus –
igreja – é móvel e flexível, formado por peregrinos. Um templo não pode ser movido;
ele só pode ser destruído. Ele é estático. E assim, na Bíblia Deus não manda a igreja
construir templos. O tabernáculo é o sinal mais exato de sua presença, e mesmo ele já
se cumpriu e passou. Além disso, edifícios se tornam um retorno à sombra do Antigo
Testamento e uma traição contra a realidade do Novo.
Do ponto de vista teológico, edifícios de igrejas são na melhor das hipóteses
desnecessários e, na pior, idolátricos. Todos os três deixaram de ser instituições e se
tornaram algo vivo, mediante o Espírito de Cristo que dá vida e por meio do seu Corpo,
que somos nós. Segundo John Havlik em people-Centred Evangelism: “A igreja nunca é
um lugar, mas sempre um povo; nunca um curral, mas sempre um rebanho; nunca um
edifício sagrado, mas sempre uma assembleia dos que crêem. A igreja é você que ora,
não onde você ora. Uma estrutura de tijolos mármore não pode ser igreja mais do que
sus roupas de sarja ou cetim podem ser você. ” A igreja é a comunidade do povo de
Deus, a habitação do Espírito de Deus.
A igreja primitiva possuía essas duas qualidades, e os dois primeiros séculos d.C.
foram o período da maior vitalidade e crescimento da igreja até os tempos recentes.
Em outras palavras, a igreja cresceu mais rápido quando não havia a ajuda ou o
impedimento de suas instalações. As instalações de igrejas são uma espécie de
testemunho. Existe cinco coisas acerca da igreja de hoje:
Em primeiro lugar, edifícios de igrejas São um testemunho de nossa imobilidade. Os
cristãos devem ser um povo móvel. No Antigo Testamento, o tabernáculo portátil era o
símbolo da presença de Deus em comunhão com seu povo, como vimos no capítulo
anterior. Antigo Testamento não se cumpre em edifícios impressionantes, mas em
templo feito de carne, ou seja, pessoas comuns. Segundo lugar, edifícios de igrejas são
um testemunho de nossa inflexibilidade. A comunicação será de mão única (se é que
isso é comunicação) – pregador para o povo – isso é ditado pela arquitetura petrifica o
programa. Em terceiro lugar, edifícios da igreja são um testemunho de nossa falta de
comunhão. Não são feitos para comunhão, para a koinonia no sentido bíblico. Prédios
de igrejas são feitos para culto, mas culto sem comunhão se torna frio e divorciado da
realidade. Mas se devemos prestar culto ao Senhor juntos, precisamos estar juntos.
Para que possamos nos comunicar um com outro enquanto cultuamos, precisamos
enxergar um ao outro. E assim, um visitante pode frequentar uma igreja durante
semanas e nunca encontrar a comunhão cativante, calorosa e amorosa que atrai uma
pessoa a Cristo. Em quarto lugar, edifícios de igrejas são um testemunho do nosso
orgulho. Mas pode ser que tal pensamento não passe de uma racionalização do
orgulho carnal. Podemos esquecer que nosso rei escolhe ser um servo, e somos
chamados para servir a ele servindo a outros. É a igreja que deve buscar o perdido, e
não o contrário. Segundo, a motivação está errada. Tentamos atrair o pecador
apelando ao orgulho (“Temos hoje o prazer e a honra de receber em nossa escola
dominical a visita da Sra. Hackett, mãe da nossa querida Sandra. Esperamos que ela
volte no próximo domingo, com o seu esposo...”). Essa não era a abordagem de Cristo.
Muitas vezes, nossas igrejas acabam competindo entre si no plano arquitetônico. Essa
é a pior face da evangelização.
Um evangelho segundo os padrões do Novo Testamento não precisa causar boa
impressão mediante um edifício atraente. A igreja deve se levantar por Cristo contra as
vaidades da cultura humana. Por fim, edifícios de igrejas são um testemunho das
nossas divisões de classe e raça. A igreja primitiva era uma mistura de ricos e pobres,
judeus e gregos, negros e brancos, incultos e instruídos. Mas com seus prédios, as
igrejas estão anunciando publicamente que isso não é verdade hoje. Escolhem uma
que parece ser “do seu tipo” – uma igreja formada por pessoas com aproximadamente
o mesmo nível de renda e de educação, posição política e cor. Mas o edifício é um
testemunho. É uma placa sinalizadora denunciando ao mundo a consciência de classe
e o exclusivismo da igreja. Nossos prédios, portanto, dão testemunho da imobilidade,
inflexibilidade, falta de comunhão, orgulho e divisões de classes na igreja de hoje.
“Igreja” significa pessoas, a comunidade dos discípulos. Naqueles dias a igreja era
móvel, flexível, acolhedora, humilde, envolvente – e crescia que era uma loucura. “Mas
as pessoas não vão ser atraídas para uma escola ou um pequeno salão. ” Bem, há dois
tipos de pessoas – as que são comprometidas com Cristo e as que não são. As que são
realmente comprometidas com Cristo e sua igreja vão se reunir em qualquer lugar. As
que não são, é verdade, provavelmente não se reunirão num humilde escritório. Mas
isso é irrelevante se a igreja for uma comunidade missionária e se a unidade básica for
o grupo pequeno. Nesse caso, a evangelização ocorre fora da igreja. Por isso, não deve
haver preocupação em atrair os não-comprometidos ao lugar de culto, nem há
motivos para isso. Quando eles encontraram a Cristo, virão para o culto. A igreja deve
formar duas congregações quando crescer e suas instalações ficarem pequenas. A
unidade básica de uma organização seria o grupo pequeno, e a tese é que toda função
essencial da igreja pode ser desenvolvida efetivamente por meio desses grupos.
A Igreja –Corpo. Programa suas reuniões de culto de acordo com o espaço
disponível em casas, escolas, salões alugados ou outras instalações. Sua estrutura é
orgânica, baseada numa rede de grupos pequenos interligados por experiências de
cultos coletivos de grupo grande. Sua estrutura celular é vista como normal, e não
provisória ou transicional. Essa igreja é espiritualmente completa.
A Igreja-Catedral. É o edifício que determina toda a programação e o estilo de vida
da igreja. Membros desse tipo de igreja só conseguem pensar que uma igreja sem
prédio é como um corpo sem esqueleto.
A Igreja-Tabernáculo. Essa igreja tem um edifício, mas este é estritamente
secundário e funcional.
A Igreja-Fantasma. Esse último tipo se orgulha de não ter nenhum edifício. Sua
existência nebulosa é baseada em reuniões ocasionais, realizadas quase de improviso;
e a despeito de todo o seu discurso acerca da comunidade, pode ser altamente
individualista.
Resumindo; enquanto a Igreja-Corpo reproduz do modo mais claro a experiência do
Novo Testamento, a Igreja-Tabernáculo pode ser uma legítima encarnação da
comunidade do povo de Deus em alguns contextos. Os modelos Catedral e Fantasma
esqueceram ou não conseguiram discernir o significado real da “igreja”.
Uma pequena análise deve revelar se uma igreja é realmente fiel à visão bíblica do
povo de Deus ou se ela sucumbiu ao complexo de edifício. Como podemos descobrir?
Parece-me que qualquer igreja que...
- gaste mais dinheiro em prédios que em projetos na comunidade e em evangelização;
- realize todas as suas reuniões somente “na igreja”;
- coloque manutenção e construção antes da missão e evangelização;
- recuse-se a usar instalações para qualquer atividade que não seja “sagrada”;
- meça a espiritualidade pelo número de corpos humanos dentro das quatro paredes;
Nesses dias, tão semelhantes aos tempos do Novo Testamento, os edifícios
tradicionais de igreja são um anacronismo que ela mal consegue manter. Isso não quer
dizer que uma igreja nunca deveria possuir propriedades. Mas significa que qualquer
propriedade, qualquer prédio, deve ser encarado sem apego, deve servir para a missão
da igreja e ser uma expressão de uma compreensão mais bíblica da verdadeira
natureza da igreja. Qualquer edifício encarado dessa maneira deve ser funcional – um
meio, não um fim.
A igreja precisa de mais pastores qualificados, melhor treinamento. Mais atenção
para encaminhar aqueles jovens talentosos que Deus pode estar chamando “para o
ministério”. Melhor trabalho de caça-talentos para descobrir os superstars. Uma
quantidade abundante de dons permanece enterrada porque esses talentos são
aparentemente desnecessários. É verdade que ninguém na igreja dá mostras de que
vai se tornar um superstar como o Pastor Jones. Como era a igreja primitiva? Paulo
tinha um impressionante desprezo em relação à ideia de superstar:
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos
serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo
Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um
visando a um fim proveitoso... Parque, assim como o corpo não é um só membro, mas
muitos. Se disser o pé: porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de
ser do corpo... Mas Deus dispôs os membros, mas um só corpo...
Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em
terceiro lugar, mestres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas (1Co 12.4-7, 12, 14-15, 18-20, 27-28).
Se o pastor é um superstar, então a igreja é um auditório, não um corpo. Essas
palavras são para a igreja de todos os tempos, mesmo que hoje pareçam supérfluas
por termos agora todos os dons organizados. Não precisamos do Espírito para atiçar
dons para o ministério. Só precisamos de superstars para fazer a organização
funcionar. Mas a igreja de Jesus Cristo não pode ser movida a combustível para avião a
jato. Como foi que a igreja primitiva “teve sucesso” sem nossa organização, catedrais
ou superstars? Suas congregações nunca ouviram que tinham de ter um superstar à
frente delas; por isso, todos os crentes trabalhavam juntos, edificando a comunidade
da fé. Muitos ministros em cada congregação. Como um corpo, cada parte exercendo
sua própria função.
A verdadeira comunhão cristã – que o Novo Testamento grego chama koinonia – é o
dom do Espírito para a igreja.
Essas passagens implicam duas dimensões: a dimensão vertical, da comunhão dos
crentes com Deus, e a dimensão horizontal, da koinonia deles, juntos, mediante o
Espírito Santo. Como James Reid escreveu sobre 2Coríntios 13.13: “Isso não significa
comunhão com o Espírito. É uma comunhão com Deus que ele compartilha, mediante
o Espírito que habita no seu povo, com os que membros do corpo de Cristo. A
comunhão do Espírito Santo é a verdade descrição da igreja. A comunhão espiritual na
igreja que é verdadeira koinonia é dádiva do Espírito; não é só uma característica da
nossa humanidade. É algo sobrenatural. Portanto, há duas coisas que a comunhão do
Espírito Santo não é:
1) não é aquele ambiente social superficial que a palavra comunhão significa em
nossas igrejas hoje. Em geral, esse tipo de “comunhão” não é sobrenatural; é a mesma
coisa que a reunião semanal.
2) por outro lado, Koinonia não é simplesmente uma comunhão mística que existe sem
nenhuma relação com a estrutura da igreja. Mas normalmente você não pode ter
comunhão com outra pessoa que não esteja presente. A comunhão do Espírito Santo
não é um poder que liga espiritualmente as pessoas enquanto estão separadas
fisicamente. Antes, é a profunda comunhão espiritual em Cristo que os crentes
vivenciam quando se reúnem como igreja de Cristo. 1. A Koinonia do Espírito Santo é
comunhão entre os crentes que o Espírito Santo concede. 2. É a comunhão de Cristo
com seus discípulos.
3) É a comunhão da igreja primitiva, descrita no livro de Atos. Os primeiros cristãos
conheciam uma unidade bem especial, unicidade de propósito, amor fraterno e
compartilhamento mútuo – em outras palavras, koinonia.
4) É a contraparte terrena e antegozo da comunhão eterna do céu. A alegria do céu é a
liberdade da comunhão eterna com Deus e com os companheiros de fé, sem
limitações físicas.
5) É análoga à unidade, companheirismo e comunhão entre Cristo e o Pai. Existe um
paralelo entre a comunhão dentro da Trindade e a koinonia entre os crentes, e dos
crentes com Deus. A oração de Cristo em João 17 é especialmente sugestiva. Jesus
pede que os discípulos sejam um, como ele e o Pai são um.
No Pentecoste, o Espírito Santo deu à igreja nascente, entre outras coisas, o dom da
koinonia. Essa é a única explicação para a comunhão cristã primitiva descrita em Atos.
A criação da comunhão genuína é uma parte essencial da obra do Espírito. Nesse
sentido, a obra do Espírito Santo em cada crente não pode ser separada do que ele
está fazendo na igreja toda – a igreja não como grande número de crentes separados,
mais precisamente como comunidade de fé. A igreja deve fazer provisão suficiente
para poder se reunir a fim de vivenciar a koinonia. A igreja não experimenta a
comunhão do Espírito Santo se ela não se reúne em um ambiente propício à operação
do Espírito Santo.
Em segundo lugar, a comunhão do Espírito Santo naturalmente é ligada à
comunidade. Comunhão sem comunicação seria uma contradição de termos. Assim, a
igreja deve se reunir de tal modo que permita e encoraje a comunicação entre os
membros. O culto tradicional em geral não é a melhor estrutural para se vivenciar a
comunhão do Espírito Santo. Paulo dá-nos o princípio: “Onde está o Espírito do
Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17). O Espírito Santo é o libertador. A liberdade do
Espírito e a koinonia do Espírito caminham juntos. A igreja deve providenciar
estruturas suficientes informais e íntimas para permitir a liberdade do Espírito. O culto
é indispensável como reunião semanal da comunidade cristã. Mas é eficaz somente se
for o compartilhamento integral, por todas as pessoas, da amizade em Cristo que
tiverem experimentado durante aquela semana. A estrutura da igreja deve
proporcionar o estudo da Bíblia no contexto da comunidade.
A koinonia do Espírito Santo é vivenciada com maior probabilidade quando os
cristãos se reúnem informalmente na comunhão dos grupos pequenos. O grupo
pequeno pode satisfazer os critérios acima. Põe os crentes juntos num ponto no
tempo e no espaço. Seu tamanho pequeno e sua intimidade permitem um alto grau de
comunhão e intercomunicação. Não requer uma estrutura formal; pode manter a
ordem sem sufocar a informalidade e a abertura favorável à liberdade do Espírito. E
por fim, oferece um contexto ideal para o estudo bíblico em profundidade.
No Antigo Testamento, laos “é a sociedade nacional de Israel de acordo com sua
base religiosa e distinção. ” No Novo Testamento, laos ocorre acerca de 140 vezes. É a
palavra que Paulo e Pedro usam para descrever a igreja como um povo, o novo Israel.
Assim, no Novo Testamento “um conceito cristão novo e figurado surge ao lado da
antiga visão biológica e histórica e a empurra para fora. ” A obra de Deus consiste no
chamamento de um povo, seja na Antiga Aliança seja na Nova. Biblicamente, podemos
distinguir pelo menos cinco características do povo de Deus.
1) A igreja é um povo escolhido. É Deus que age para escolher e formar um povo para
si. A igreja é o resultado da soberana graça de Deus (2Tm 1.9). Ela existe porque Deus
agiu graciosamente na história.
2) A Igreja é um povo peregrino. Adão e Eva não foram criados para serem peregrinos.
Deus lhes fez um lar que devia ter sido permanente. Adão e Eva se sentiam em casa no
mundo e em harmonia com seu ambiente – em termos morais, físicos e psicológicos.
Essa era a ecologia original da criação de Deus. Dessa forma, daí para frente a história
da redenção é a história dos atos de Deus chamando um povo para si. A igreja é um
povo peregrino, de “estrangeiros residentes”. A missão da igreja ainda é reconciliação.
3) A igreja é um povo da aliança. A relação entre Deus e seu povo é específica e tem
bases morais e éticas. Um dos principais significados da aliança é que ela coloca o povo
de Deus na história real. A Bíblia é um Livro da Aliança da igreja. O povo de Deus é um
povo “da Palavra”. A Bíblia é normativa para a vida da igreja não por causa de alguma
doutrina particular de inspiração, mas precisamos porque ela é o Livro da Aliança. A
igreja deve dar testemunho acerca dos atos pessoais de Deus através da história – e,
como o livro de Atos deixa claro, principalmente da ressurreição de Jesus Cristo At
2.32; 3.15; 4.33). Yoder enfatiza: a novidade política que Deus traz ao mundo é uma
comunidade dos que servem em vez de dominar, que sofrem em vez de infligir
sofrimentos, cuja comunhão transpõe fronteiras sociais em vez de reforça-las. Essa
nova comunidade cristã... não é apenas um veículo ou fruto do evangelho; são as
próprias boas novas. Por fim, a igreja é um povo santo.
Em primeiro lugar, cada crente precisa se sentir parte de uma unidade orgânica
maior do povo de Deus. A igreja deve se reunir de um modo que encoraje e expresse
sua condição de povo. A igreja deve reunir-se regularmente como uma grande
congregação. Ela precisa se reunir efetivamente como um povo. O essencial é reunir
um grande grupo de crentes de modo regular e frequente – reuniões periódicas de
congregações menores e células num grande ajuntamento. A igreja precisa de festivais
periódicos que tenham um significado pactual. A igreja precisa de comemorações
análogas ao Dia da expiação e à Festa dos Tabernáculos, não análogas a grandes
concentrações, réveillon ou final de campeonato.
1) Celebração dos atos de Deus: alguns salmos recontam em sequência bíblica os atos
de Deus em relação ao seu povo. Esses salmos provavelmente eram usados nas
grandes assembleias reunidas para culto. Com certeza os atos de Deus podem ser
reconhecidos em vários momentos e pessoas, e isso pode ser legitimamente
celebrado, para dar glórias a Deus.
2) Renovação da aliança: envolve necessariamente o arrependimento, confissão e
nova dedicação a Deus. 3. Avaliação e definição. 4. Renovação de uma visão para o
futuro. Portanto, a base de existência da igreja como um povo deve estar sempre no
centro da própria estruturação da igreja. A igreja se constitui povo de Deus pela
Palavra de Deus.
A mente humana é meramente uma “máquina digital modificada de baixa
velocidade, com múltiplos em água salgada”. Mas a igreja deve conhecer a mente de
Cristo, a imagem renovada de Deus. Essas declarações revelam duas coisas: o caráter
de Jesus Cristo é o padrão para a igreja.
O Novo Testamento está se referindo à totalidade da pessoa humana, como um ser
racional, moral e espiritual. A imagem de Deus faz dos homens seres singulares em um
mundo de coisas, animais e máquinas. Essa singularidade será entendida de maneira
ligeiramente diferente em diferentes épocas e culturas. Elementos que foram
claramente demonstrados na personalidade e caráter de Jesus Cristo e são, dessa
forma, significativos para a igreja, o seu Corpo.
Espontaneidade é básica à personalidade. Espontaneidade é a imprevisibilidade de
Jesus, que nunca se encaixou nos moldes de ninguém. Espontaneidade é o criativo no
homem e na mulher, a capacidade e o impulso para agir livremente. Kahn e Wiener
escreveram: a moderna sociedade industrial é altamente diferenciada e, por isso
mesmo, requer grande integração para poder funcionar... a maior riqueza e tecnologia
aperfeiçoada nos proporcionam uma gama bem mais ampla de alternativas; mas,
assim que uma dessas alternativas é escolhida, tornam-se indispensáveis regularmente
e imposição de ordem. Essa espontaneidade, singular à personalidade humana e
proporcionada pelo Espírito Santo, está sendo ameaçada pela sociedade tecnológica.
A sociedade tecnológica, é claro, não está muito interessada no que é singular em
cada pessoa, mas sim naquilo que elas têm em comum – o que pode ser contado,
padronizado, computado, manipulado. Precisamos hoje de um medo saudável de
qualquer tendência de reduzir a evangelização e a experiência religiosa a mera
tecnológica. Diante da quantificação da sociedade e da manipulação das pessoas, os
cristãos precisam apregoar que a individualidade é um dom de Deus e parte essencial
da mente de Cristo.
A tecnologia comportamental ira, quando solicitada, gera uma moralidade que
venha ao encontro das necessidades sociais. Tal moralidade tecnológica é totalmente
oposta à fé cristã. A igreja, contudo, é chamada para aprofundar nossa capacidade
moral e dar-lhe significado por meio de relacionamentos centralizados em Cristo, tanto
horizontais como verticais. Nossa consciência moral – que nos foi dada como um
capacita dor de relacionamentos verdadeiros, amorosos e santos – pode muito
facilmente ser manipulada por técnicas “espirituais” que visam manter as pessoas na
linha. Mandar uma criança ficar quieta na igreja porque ali é a casa de Deus, além de
ser uma teologia ruim, pode ser simplesmente uma técnica para induzir um
comportamento desejado.
Autoconsciência. A igreja de Jesus Cristo não pode nunca se esquecer de que a
autoconsciência é um dom de Deus. Mas como o fundamento indispensável para a
comunicação, para o amor, para os atos de vontade e, portanto, para o culto.
Vontade. A vontade é parte da imagem de Deus e da mente de Cristo. As pessoas
comportam-se de certas maneiras, mas acreditar que esse comportamento brota de
uma escolha consciente é uma ilusão. Os cristãos bíblicos assumem um Deus pessoal,
volitivo e consciente, em lugar da visão embaçada de uma pressuposição empírica. A
fé cristã é impensável sem o fato da vontade de Deus – e por derivação, da vontade do
homem e da mulher.
A mente de Cristo não transforma o cristão num robô controlado pelo Espírito.
Nosso alvo não é ser “controlado” pelo espírito. Antes, mediante a presença do
Espírito, os cristãos são capacitados a exercer livremente sua vontade para fazer a
vontade de Deus. Em nenhum lugar as Escrituras dizem que devemos ser controlados
pelo Espírito; antes somos guiados pelo Espírito, manifestando o fruto do domínio
próprio (Gl 5.22). De todas as pessoas, os cristãos devem ser as mais “voluntariosas”,
mas com sua vontade submissão a Deus, como criaturas diante do Criador.
A igreja deve ser estruturada de forma a afirmar a singularidade e o valor da
personalidade humana. Deve insistir em que o que é verdadeiro acerca de cada pessoa
é verdadeiro também acerca da igreja: ela tem valor porque é obra de Deus. A igreja
existe não para si mesma, mas para servir. Isso é verdade, mas apenas uma meia-
verdade. A igreja é o corpo de Cristo. Se Cristo morreu pela igreja e a ama, então a
igreja tem um valor singular. Independentemente do que ela faz no mundo, a igreja
tem valor e significa porque Deus a criou. A estrutura da igreja deve reconhecer e
honrar a pessoa toda para que a mente de Cristo se torne uma realidade na igreja.
Toda a esfera da vida da pessoa deve ser o campo especial de ação da igreja.
A educação e o treinamento devem focalizar a pessoa e não permitir que ninguém
se perca no grupo, até mesmo durante o uso de dinâmicas de grupo e interação. Em
todas as áreas da vida da igreja deve haver um reconhecimento de que Cristo chama,
salva e habita pessoas específicas para sua glória, e sua obra se manifestará de
maneiras tão variadas quanto os cristais de neve ou as falhas de uma árvore – tão
variadas como a própria personalidade humana. Nos planos de Deus, a igreja é a
família de Deus e a família é a igreja de Deus.
A estrutura da igreja deve ser flexível e variedade. A estrutura da igreja deve
proporcionar uma variedade de oportunidades para o ministério e para a expressão do
significado da fé em Cristo. A vida da comunidade cristã deve produzir os tipos de
mudanças sugeridas no exemplo a seguir. A tarefa da igreja não é tirar os cristãos das
ruas, mas enviá-los equipados para as tarefas do reino. A comunidade cristã deve ser
estruturada para tal capacidade. A estrutura da igreja deve ser construída sobre os
dons espirituais.
A estrutura da comunidade deve ser baseada em modelos e figuras bíblicos, e não
em modelos tomados da indústria, educação ou governo. O plano de Deus ainda é
“fazer convergir nele, ..Todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.10). A
igreja compartilha com Cristo o segredo de que a presente batalha será ganha por
Jesus, porque a vitória foi conquistada na cruz. A encarnação da mente de Cristo na
igreja requer pensamento claro e reavaliação do modelo estrutural básico da igreja.
A igreja como Corpo de Cristo é um organismo vivo. Todas as figuras da Bíblia para a
igreja indicam modelos de igreja vivos, flexíveis e organizados em células, como já
vimos. O equilíbrio ecológico que sustenta uma igreja saudável, a medida que ela
experimenta a koinonia do Espírito, encarna a mente de Cristo. A vida da igreja pode
ser vista ecologicamente como uma interação dinâmica de muitas partes. Entender a
ecologia da igreja significa discernir os elementos-chave e o modo pelo qual eles se
relacionam entre si. Paulo descreve um quadro ecológico da igreja em 1 Coríntios 12,
usando a analogia do corpo humano. Cada crente é um membro do corpo, e a saúde
do corpo como um todo depende do funcionamento apropriado e da interação de
todos os membros. Ef 4.15-16, Paulo enfatiza igreja como organismo vivo, carismático,
dependente da graça de Deus.
O modelo começa com o propósito da igreja. A igreja deve ser sinal, símbolo e
precursora do Reino de Deus. A igreja existe para o Reino. Falando de modo mais
simples, propósito da igreja é glorificar a Deus. Sendo assim, um modelo ecológico
orienta avida da igreja para a glória de Deus.
Ao descrever a igreja como a família ou casa de Deus (oikos no grego do Novo
Testamento), é útil enxergar a igreja como uma comunidade de adoração, comunhão e
testemunho. A igreja é uma comunidade ou uma fraternidade de vida compartilhada,
uma koinonia. A igreja desempenha o serviço de adoração, mas mediante uma vida de
louvor a Deus – a igreja como uma contínua doxologia.
Adoração. Os cristãos primitivos “perseveravam... no partir do pão e nas orações”.
Reunindo-se em suas casas bem como em cultos com grupos maiores, os cristãos do
primeiro século mantinham a vitalidade da igreja mediante constante louvor e oração.
A adoração – louvor a Deus e ouvi-lo falar através da Palavra – é central na vida do
povo de Deus. A adoração é, acima de tudo, a igreja louvando a Deus. Na adoração, a
igreja celebra quem Deus é e tudo o que ele tem feito pelo seu povo, e também
renova o compromisso de viver para a glória de Deus.
A adoração é uma janela em um mundo totalmente fechado em si. A adoração muda
nossas vidas, pois por meio dela percebemos novamente que, de fato, vivemos em
dois mundos. A oração individual se completa no louvor coletivo. Deus nos fez para
que o glorifiquemos juntos. Devemos ser uma comunidade de adoração e louvor.
Edificar é oikodomein, construir uma família (oikos) ou comunidade de fé. “No Novo
testamento, a edificação não é usada no sentido subjetivo de intensificação do Espírito
Santo mediante a qual ele cria o povo de Deus e molda sua vida. ” Biblicamente,
edificação é a construção da comunidade tendo como alvo a pessoa e o caráter de
Jesus. Biblicamente, comunhão significa vida compartilhada com base em nosso novo
ser em Jesus Cristo. Ser comunidade cristão significa levar a sério o fato de que os
crentes são membros uns dos outros e, por conseguinte, assumir a responsabilidade
pelo bem-estar dois irmãos em Cristo em suas necessidades sociais, materiais e
espirituais.
Testemunho. Na vida da igreja, a adoração e a comunhão impulsionam o
testemunho da igreja. Antes de sua ascensão, Jesus disse a seus seguidores: “Sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos
confins da terra”. (At 1.8). O livro da Atos é a história do testemunho da igreja por todo
o mundo romano, em resposta às palavras de Jesus. Uma igreja fraca em adoração tem
pouca vontade de testemunhar. Aliás, nem tem muita coisa a testemunha. De modo
semelhante, uma igreja sem uma vida comunitária vigorosa tem testemunho fraco
porque os crentes não estão crescendo em maturidade e aprendendo por um
individualismo exacerbado. Uma comunidade cristã viva tem a inclinação e o poder
para testemunhar. Ela testemunha por causa da sua preocupação com a necessidade
humana e por ter em vista o Reino de Deus que se aproxima. Ecologicamente, o
testemunho não é o propósito principal da igreja, mas o fruto inevitável e necessário
de uma comunidade que adora a Deus e cuida de seus membros com amor.
Adoração, comunhão e testemunho podem ser analisados de várias maneiras. Uma
delas, que parece ter certa lógica natural e equilíbrio, é a que vê a adoração como uma
interação entre instrução, arrependimento e celebração; a comunhão como um
elemento que consiste em disciplina, santificação e dons do Espírito; e o testemunho
como uma combinação de evangelização, serviço e justiça.
Celebração é a igreja no ato de louvar a Deus. Na adoração, a igreja celebra a pessoa
e a obra de Deus usando a música, liturgia, oração espontânea e outros meios.
Adoração não só glorifica a Deus, mas também nos liberta, nos purifica e nos fortalece.
A igreja em adoração celebra um Deus de ação, não de abstração. Adoração é celebrar
os atos de Deus na história e especialmente em Jesus Cristo. A adoração liberta a igreja
para o Reino. Louvamos a Deus não só pelo que ele tem feito, mas também por aquilo
que irá fazer. A Ceia do Senhor é um elemento muito importante nessa grande
celebração. A igreja é a comunidade da Palavra na mesma medida em que ela é a
comunidade do Espírito. A instrução é um componente básico da adoração. Pregação
significa a proclamação pública da Palavra aos não-crentes e o ensino da Palavra aos
crentes como parte da adoração regular. A disciplina significa discipulado, edificação
de uma comunidade de pessoas que sejam verdadeiros discípulos de Jesus.
A santificação é obra do Espírito, pela qual Deus restaura sua imagem nos crentes e
na comunidade da fé. É a manifestação do caráter de Cristo em seu corpo. Em suma,
podemos dizer que a disciplina, a santificação e os dons espirituais constituem a
ecologia da vida comunitária da igreja. O propósito de seu funcionamento conjunto é a
edificação da família de Deus de modo que ela possa de fato viver “para louvar da
glória de sua graça” (Ef 1.6).
O serviço significa a ação da igreja como serva no mundo, segundo o exemplo de
Cristo. Na ecologia bíblica, a evangelização e o serviço combinam com o testemunho
profético da igreja a favor da justiça, renovando a sociedade e apontando de maneira
genuína para o Reino. Do ponto de vista ecológica, então, a evangelização, o serviço e
a justiça se combinam e interagem para constituir o testemunho da igreja no mundo.
Esse testemunho é alimentado e autenticado pela qualidade da adoração e vida
comunitária da igreja. Este modelo pode ser usado também para explorar as questões
de estrutura da igreja.
A fé cristã dá espaço para dons e criatividade com base na importante doutrina
bíblica dos dons do Espírito. Dons são dados para a comunidade e no contexto da
comunidade. A tendência de negar ou desacreditar os dons espirituais. A negação dos
dons espirituais é sinal de um equívoco básico quanto à natureza dos dons e, no fundo,
sobre a natureza da igreja. Os dons espirituais não podem ser desprezados sem que
haja uma correspondente desvalorização da visão bíblica de igreja e de vida cheia de
Espírito.
A tendência de superindividualizar os dons espirituais. A cada um, porém, é dada a
manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Cada dom, concedido pela graça, é
equilibrado pela responsabilidade da comunidade e interação com ela. Cabe ressaltar
neste ponto que os pequenos grupos de estudo bíblico são especialmente úteis. O
grupo pequeno conduzido pelo Espírito constitui uma comunidade e oferece o
contexto tanto para despertar dons como para disciplinar seu uso. Mediante várias
células desse tipo, a comunidade maior da igreja é edificada.
A tendência de confundir os dons espirituais com capacidade inata. Os dons
espirituais resultam da operação do Espírito na vida do crente, de modo que são algo
mais do queo simples uso sábio e fiel de habilidades inatas. A tendência de exagerar
alguns dons e desprezar outros. Todos os dons são importantes, todos os dons são
necessários e todos são dados por Deus para o bem comum. A igreja, em vez de
capacitar todas as pessoas a desenvolver seus dons para o ministério, não só dentro da
igreja, como também junto à sociedade.
A tendência de separar os dons espirituais da cruz. Cuidar da sua própria vida e
esquecer o bem-estar do grupo e as necessidades do mundo. O ministério não é
determinado exclusivamente pelo desejo pessoal, mas, sim, pela cruz. Mas precisamos
nos aprofundar mais para descobrirmos o verdadeiro significado da crucificação
quando começamos a realmente exercer nossos dons.
A igreja precisa descobrir hoje o que os cristãos primitivos já sabiam: reuniões de
grupos pequenos são essenciais para a vivencia e crescimento cristão. O sucesso de
uma reunião não é medido pelo número de pessoas. Sem o grupo pequeno, a igreja
numa sociedade high-tech simplesmente não experimenta um dos fundamentos mais
básicos do evangelho – a verdadeira, rica e profunda comunhão dos cristãos, a
koinonia.
As Estruturas dos pequenos grupos possuem uma vantagem tais como: maiores
flexibilidades das tarefas, planos, e até sua concentração é eficaz. Além disso, tem
mobilidade, é exclusivo, é pessoal, pode crescer por divisão, pode ser um meio eficaz
para evangelização, requer um mínimo de líderes profissionais e é adaptável a igreja
institucional.
Jess Moody diz: “venceremos o mundo quando percebemos que a comunhão, e não
a evangelização, deve ser nossa ênfase prioritária. Quando demonstramos o Grande
Milagre do Amor, não nos será necessário sair – eles virão até nós” eu diria que nossa
ênfase deve ser a evangelização através da comunhão, e em especial através de
koinonia. Isso é casar o milagre do amor com o convite de Cristo.
É preciso uma nova estrutura de vida congregacional que possibilite encontros
genuínos entre pessoas, um ambiente onde as máscaras do autoengano e da
desconfiança só serão mantidas com muita dificuldade e onde homens e mulheres
começarão a se relacionar uns com os outros no nível de sua verdadeira humanidade
em Cristo. Isso deve ser inserido na própria estrutura da vida da igreja. As igrejas em
geral não têm uma estrutura normativa para verdadeiro compartilhamento e
comunhão. O grupo pequeno, deve ser tanto suplementar como normativo:
suplementar porque não substitui o culto coletivo; normativo no sentido de ser uma
estrutura básica da igreja, tão importante quanto a celebração dos cultos.
A experiência em muitos lugares ensina que tais reuniões devem ser tanto
normativas como regulares para uma igreja. No momento em que passam a ser
frequentadas por uns poucos piedosos, correm o risco de perder o seu impacto. Isso
não quer dizer que a maioria da congregação participará necessariamente, mas
significa que o padrão ideal de igreja, compartilhado pela liderança responsável, é
centrado em grupos pequenos. O ponto crucial é que as unidades pequenas sejam
vistas, não como um expediente temporário ou uma fórmula especial, mas como uma
estrutura essencial da vida congregacional em nossos dias.
Os grupos existem para servir; são “grupos de capacitação”, preparando os discípulos
para serem obedientes no mundo à semelhança de Cristo. Com o propósito de
obedecer e servir, os grupos pequenos devem colocar diante de si a tarefa objetiva de
estudar a Bíblia.
O grupo pequeno oferece alguma esperança de uma saída para o institucionalismo
sufocante de boa parte da vida da igreja. A maioria das igrejas locais está
sobrecarregada de bagagem organizacional que parece essencial. Uma igreja
missionária não precisa de uma sociedade missionária de mulheres, mas de mulheres
engajadas em missões. Os grupos pequenos em uma igreja, junto com os diáconos ou
a assembleia, podem preencher as exigências institucionais da igreja sem a
necessidade de se estabelecer uma multidão de organizações para completar o quadro
organizacional da denominação para a igreja local. Desse modo, concluímos que a
organização da igreja deve ser funcional para a missão. O tempo nos grupos pequenos
precisa ter em vista os compromissos seculares dos seus membros, para que o
precioso tempo requerido pela igreja seja usado para equipar os santos.
O grupo pequeno pode tornar-se estrutura básica em uma igreja local se houver
visão para isso e vontade de inovar. Entretanto não pode haver mudanças se não
haver uma reavaliação dos programas e das estruturas tradicionais. O grupo pequeno
não é uma panaceia. Nenhum esforço humano pode levar a igreja a uma maior
fidelidade na tarefa de ir ao encontro das necessidades e problemas de nossos dias, a
menos que o Espírito Santo a dirija e preencha. Mas o grupo pequeno é um
componente essencial da vida e estrutura da igreja. Para que as pessoas sejam
movidas pelo Espírito Santo, elas precisam estar abertas para Deus e para os outros – e
essa abertura desenvolve-se melhor num contexto de comunhão e de apoio amoroso
de outras pessoas que estão buscando sinceramente a Deus. Muitos agora, felizes,
experimentaram aquela comunhão cristã que nunca tinham conhecido. Eles
começaram a ‘carregar as cargas uns dos outros’, e naturalmente a “cuidar uns dos
outros”. Como eles tinham diariamente uma convivência mais intima, tinham também
maior afeição e carinho uns pelos outros . A Bíblia não prescreve nenhum padrão
específico de organização da igreja, mas a necessidade prática da igreja de hoje indica
a necessidade de grupos pequenos como estrutura básica da igreja – como sempre
ocorreu nos melhores períodos da igreja.