Post on 02-Feb-2018
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VINDE A MIM AS PALAVRINHASCopiraite © bai Nicolas Behr
Projeto Gráfico e Diagramação:Autor e Marcus Polo DuarteCapa: Criação do autor
“OBRAS quase COMPLETAS”Cx. Postal 08-76270.312-970 – Brasília DFpaubrasilia@paubrasilia.com.brwww.nicolasbehr.com.br(61) 468 3191
RESTOS VITAISIogurte com Farinha – agosto 77Grande Circular – junho 78Caroço de Goiaba – julho 78Chá com Porrada – julho 78( impedido de publicar, por ordemjudicial, entre 15 de agosto de 78 a30 de março de 79, escreveupoemas em telhas frescas, depoisqueimadas, da série“ O que me der na telha ” )Bagaço – maio 79
VINDE A MIM AS PALAVRINHASCom a Boca na Botija – junho 79Parto do Dia – julho 79Elevador de Serviço – agosto 79Põe sia nisso! – agosto 79Entre Quadras – agosto 79Brasiléia Desvairada – setembro 79Saída de Emergência – setembro 79Kruh – outubro 79303F415 – julho 80L2 Noves Fora W3 – novembro 80
PRIMEIRA PESSOAPorque Construí Braxília – 1993Beijo de Hiena – 1993Pelas Lanchonetes dosCasais Felizes – 1994Segredo Secreto – 1996Estranhos Fenômenos – 1997(antologia, seleção do autor – 1977- 97)Viver Deveria Bastar – 2001
Umbigo – 2001Poesília – poesia pau-brasilia - 2002Menino Diamantino – 2003Peregrino do Estranho – 2004Braxília Revisitada Vol. I – 2004Restos Vitais (coletânea) - 2005Braxília Revisitada Vol. II – 2005Vinde a Mim as Palavrinhas(coletânea) - 2005Introdução à Dendrolatria – 2005Museu de Esquecer (inédito)A Balada do Falso Poeta (inédito)
Agradecimentos especiais ao pessoalda Quick Printer, Antonio CarlosNavarro, Marcus Polo Rocha, ErliFerreira Gomes (Colégio do Sol),Nadir Alves (Brasiliense Travel),Henrique Behr e Valter Silva.
ESTE E OUTROS LIVROS DO AUTORPODEM SER ADQUIRIDOS ATRAVÉSDO SITEWWW.NICOLASBEHR.COM.BROU NO VIVEIRO PAU-BRASÍLIA(Polo Verde - Saida Norte - entre aPonte do Bragueto e o Balão do Torto)Tel.: (61) 468-3191
Behr, Nicolas.Vinde a Mim as Palavrinhas /Nicolas
Behr, – Brasília: LGE Editora, 2005.112 p.
1.Literatura brasileira. 2. Poesia. I. Título.
CDU 82.1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
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8 Foto: Wagner Barja
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a POBRÁS ––pobrezabrasileira –orgulhosamenteapresentaum livrinhoque veio dolixo:este
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a unha roe o dedoo dedo come a mãoa mão mastiga o braçoo braço engole o corpo
que se mata
desço aos infernospelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília
meu corpo boiandono óleo que ferve
um pedaço do teu coraçãonum pastel de carne
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SQS415F303SQN303F415NQS403F315QQQ313F405SSS305F413
seria issoum poemasobre brasília?
seria um poema?seria brasília?
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AMOR PUNK
aquele beijo na bocaque você me deusemana passadatá doendo até hoje
pra noca
lucre, viva!
viver dá lucro?perguntou a máquinaregistradora pro cara
do caixa?
“meu capital é o homem”disse stalin num estalo
e quantos ele não matou?
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medi a mediocridadeque anda comigoe deu 1 m e 70 cm
pesei a mediocridadeque carrego comigoe deu 73 quilos
contei a mediocridadeque me acompanhae deu 21 anos
mediocridadeoumediocriatividade?
não sou alegrenem sou poeta
sou triste
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DAS DUAS UMA
ou o tiro saipela culatraou saipela nuca
benzinhobenzina não
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subo aos céuselas escadas rolantesda rodoviária de brasília
o corpo de cristoaqui não é pão,é pastel de carne
o sangue de cristoaqui não é vinho,é caldo de cana
o padroeiro desta cidadeé dom boscoou é padim ciço?
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e no meu peito aparecerampequeninas gotas de sangue
o cristo que trago penduradono pescoçosangrou a noite toda
entrei naquele ônibusda tcb
como quemnão queria nada
nem o troco
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esse grande circularque não passaesse L2 Sul que não vem
e eu aqui paradoneste ponto de ônibusesperando a chuva passar,essa chuva que não vem
foi da mangueira do quintallá de casa que caiu a maçãque fez newton descobrir
a lei da gravidade do mais forte
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estou à beira da loucuraou à beira da janela?
mate-se
você nunca maispensará em suicídio
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na selva de pedrabrincava de tarzanpulando nas cordasde aço do elevadordo seu bloco
não rimemorte com norte
a vida não tem direção
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neste país sem memóriavou construir um memorial
em memória de todos osconstrutores de cidades
MemorialJKLMNOPQRSTUVXZ
passe a vida a limpo, rapaz
comece raspando os ossostire a pele do teu corpoe fique nu diantede tuas carnes
e depois porque não polimosesses seus olhoscom uma lixa bem grossa?
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estou na flor da idademas não souflor que se cheire
NOVA LEI DE TALIÃO
miopia por miopiacárie por cárie
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quando demolirem meu blocoquando as escadas rolantesrolarem escada abaixo
quando eu não souber maiso caminho de casano meio dos escombros
ai eu vou
tudo vale a penase a alma
não fordo tamanho da minha
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SUBINDO NA VIDA
eu sou o porteiro do venâncio IIIe você?eu sou o ascensoristado venâncio 2000
tenho uma feridazanzando pelo meu corpo
a ferida passa pelos braçose me doem as pernas
passa pela minha cabeçae me doe o tronco
passa pelo meu sexoe me doe o corpo todo
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mamãe,aquele cara ali tá dizenoqui eu pareço um canibal
fala prele pará de dizêessas coisaqui senão eu como ele
amanhã é mais um diade trabalho que eu vou
enfrentar com este poemano bolso
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AMOR ÀS PAMPAS
você voltoupro seu ranchono rio grande
enquanto eufiquei aquia ver ministérios...
pra angela
tentei um programa diferentecom minha garota
levei-a para comerpastel na rodoviária
ela preferiu hamburger
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dias depoispassei por acasopela rodoviária econvidei minha garotapra tomar um caldo de cana
ela preferiu pepsi
na noite seguintesonhei que vi a cara
da minha garotanuma tampinha de coca cola
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onde você trabalha?trabalho no setorde diversões sule o que você faz lá?sou palhaço
nossa senhora do cerrado,protetora dos pedestresque atravessam o eixão
às seis horas da tarde,fazei com que eu chegue
são e salvona casa da noélia
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PICLES
fez a curvasem tirar ocu da reta...ficou cegonum piscarde olhos...diga-me o teu nomee eu te direi quem és...é expressamenteproibida a entradade carros na garagem...
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este poemanão tem pénem cabeça
mas vivecom o reina barriga
HINO DO POETARIADO
poesia,abra as pernas
para nós!
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PLATINA PLUS II
leia estes poemase depoisjogue-me forase for capaz
de grão em grãoa galinha
enche o papode palavra em palavra de palavraem palavra de palavra em palavrade palavra em palavra de palavraem palavra de palavra em palavrade palavra em palavra de palavra
este poema enche o saco
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poema poema meuexiste alguémmais poetado que eu?
LORCA BRASILIENSIS
plano que te quero pilotosuper que te quero quadradabelhu que te quero três
éle que te quero doisgrande que te quero circular
cidade que te quero satélitepastel que te quero caldo
iogurte que te quero farinha
cerrado que não te quero soja
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PODES CRER
pode deixarque eu mesmo me matopode deixarque eu mesmo me enterropode deixarque eu mesmo me vingo
pode deixarque eu mesmo me liberto
você já sentiu medoem atravessar o eixão?
medo de ficar paradono meio da pista e
e os carros..........................................................................................................
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o plano pilatoslava as mãose a sujeiravai todapro paranoá
EDUCAÇÃO CRISTÃ
mamãe,fazer poema é pecado?
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QUEM BATE?
se for a mortediga que não estou
diga que fuiao meu enterro
eu abro a porta do quartotu chamas os outrosele mostra a janela
nós pulamos do quinto andarvós estais embaixo do blocoeles não sabem o que fazer
com os corpos
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DRUMMONDBRASILIENSIS
brasília, e agora?com o avião na pista,quer levantar vôo,não existe vôo...quer se afogar no lagomas o lago secou...quer falarcom o presidentemas este viajou...quer se esconderno cerrado,o cerrado acabou...quer ir pra goiás,goiás não há mais...
brasília, e agora?
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seriemaseria ema?
chacal? hiena?
filho de poetapoeta é?
( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )( isto é uma curtição )
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quando minhaveia poética estourouela virou pra mime disse: ah, deixa sangrar
agora tô roendo as unhasdo cotovelo as unhas do
tornozelo já roí todasagora tô roendo as unhas dos
nervos da cara as unhasdos dentes já roí todas as
unhas dos dedos do pé aindanão roí todas as unhas do dedo
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somos heróisde nós mesmos
eu te curtotu me cortas
ela não curteele nem corta
nós nos curtimosvós vos cortais
eles aindanão entenderam
este poema
pra letícia
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sem nada pra fazerando por baixo dos blocosde uma quadra qualquer
atrás das pilastrasapenas mais pilastras
atrás das pessoasnovas máscarasou muitas conhecidas
UM A ZERO
poesia futebol clubeentra em campo
enquanto este poemarola no gramado
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tá provadomais que comprovadotô reprovado
sou o poetamais medíocreda minha geração
quando terminei este poemaminha máquina de escrever
explodiu
tinham colocadouma bomba
no meu coração
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tô correndo o risco
na ponta do lápis
que traçou este poema
tô correndo o risco
na ponta da faca
que cortou este poema
tô correndo o risco
desta folha sangrar
dentro do meu coração
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tô com a facae o queijo na mão
só que me faltaa outra mão
água moleem pedra dura
tanto bateaté que acaba a água
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ai o punk falou“do lixo viestese ao luxo retornarás”ai moisés falou“do pó viestese ao pô retornarás”ai o engraçadinho falou“ do óvulo viestese ao espermaretornarás”ai o brasiliense falou“da reta viestes e à linharetornarás”
ai o confuso falou“ do retornarás viestese ao viestes retornarás”
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CARINHO
o que esseband aidtá fazendo ai?
de manhãpenso na vida
à tardepenso na morte
à noite não penso,me mato
eu me mato escrevendo
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você já pensoucomo a vidaseria belase nenhumde nós existisse?
dizem as más línguasque nós, os poetas,somos as antenas
da raça
diga-se de passagemque as línguas
estão mudasos poetas mortos
as antenas desligadase a raça em extinção
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quando a gente terminouno beiruteescrevi num papelzinho
LET IC IALET IT BE
ri melhor quem não ri
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vencer na vidaé ter coragemde dar um tirona cabeça
todo meu serse encontra
em branca lamade metal
todo meu serpovoa
uma cidade sideral
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vão demolir o teu bloconão vão demolir nãovão demolir sim
o porteiro não deixa você subiro síndico chama a políciae a tua mão presa na portadum grande circular
( atenção! não estacione nos degraus porta automática! )
e você altas horas no eixãosem ter pra onde corrermas dando sonoras mijadasna noite desta cidade fantasma
e gritandogritando pra não demolirem teu blocogritando pro porteiro deixar você subirgritando pro síndico não chamar a políciagritando pra polícia não te bater( mas ela te bate cada vez mais )
e você altas horas no eixãodando sonoras mijadasna noitedesta cidade fantasma
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o barulho subindoas escadaso barulho de vocêsubindo as escadasmeu coração disparandoa campainha tocando
não era cinthya,era o síndico
enquanto issooswald de andrade
de cotonetes na mãolimpa a orelha
do meu livro
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vovozinha,pra que essas unhastão grandes?são pra te roer!
alguma coisa aconteceno meu coração
que só quando cruzoa W3 L2 sul
ou eixão
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e eu que não tenho unhasfico desesperado nospontos de ônibus da W3tentando arrancaraqueles cartazescom os dentes
alma sideralcasa espacial
nave emocional
mamãe,estou em plena lua de mel
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L2 é poucoW3 é demais
quando estou muito tristepego o grande circular
e vou passearde mãos dadas
com o banco
DEVER DE CASA
a distância entre A e Bé maior que a ponterio-niterói
qual é a distânciaque nos separa?
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minha namorada morreuafogada no paranoáe virou sereia
quando ouço o seu cantoatravesso a nado o paranoápra no ardar piruetascom os peixes voadorese as dores e as doresda namorada no fundo do lago
quando ouço o seu prantoatravesso a nado o eixãoatravesso a nado a W3atravesso a nado a asa norteatravesso a nado a superquadra
atravesso a nado o teu coraçãode sereia
teu coração de areiateu coração de mim
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nesta cidade sem palavraspoesia tem sentido?
HIGS SQS CRN SMU MSPW
grunhidos de massa falida
estando para ser entreguee abraçando livrementea paixão jesus subiu aos céusnuma planta trepadeira
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naquela noitesuzana estavamais W3do que nuncatoda eixosacheia de L2
suzana,vai ser superquadraassim lá na minha cama
esconda as giletesdespareça com as cordas
tire a janela do meu quarto
que hoje tô afimde curtir
um suicidiozinho
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cento e noveah, sempre nove109 4everali deveria terum ponto de ônibusa W3 deveria passarpela 109falta uma pastelariae uma escada rolantena 109ah, sempre nove
passei metadeda minha vidaencostadonaqueles carros
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tô namorandouma sigla
MSPWconhecem?
uma gracinhade sigla
ela é a minhaemeessepêdabluzinha
quando eu nascerme acorde
quando eu acordarme mate
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se você gostoupeça bis
se não gostoupeça biscoito
não sei se você já pensounisso mas quando entro numgrande circular fico commedo da roleta girar muitorápido e acertar meus saco
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moro numa superquadramas não sousuper homem
ó grande decepção!
ser super homemnuma superquadrade nada super adiantase você nãosuper superaro super complexode édipoque existe no seusuper super ego
ó super decepção!
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enterrem meu coração na areiado parquinho da 415 sul
e deixem meu corpoboiando no paranoá
meu irmão menorpassou a tarde toda
procurando palavrãono dicionário
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tenho sangue sueconos ossostenho sangue alemãonos olhostenho sangue russonos dentestenho sangue polonêsnos nervostenho sangue brasileironas veias
sangue é um líqüidomuito especial
e eu que aqui chegueiem 1974 não tive a sorte
de ver as pegadas dospioneiros que existiam
perto da igrejinha
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a última coisa que pedi pra bethfoi o telefone da lua
na lanchonete na escadadentro do elevadorno sofá da salaembaixo do bloconum cinema( beth, a gente acabou não vendo“... e o vento levou )
a última coisa que pedi pra bethfoi um final feliz
minha poesiaé o que estouvendo agora:
um homematravessando
a superquadra
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A VOZ DO BRABIL
em brasília 19 horas noite e dia
em brasília 19 horas em 15 minutos
em brasília 19 horas sem saber pra onde ir
em brasília 19 horas nunca passam
em brasília 19 horas mudando de estação
em brasília 19 horas não é nada
em brasília 19 horas de silêncio
em brasília 19 horas do segundo tempo
em brasília 19 horas desde 1500
em brasília 19 horas procurando outras vozes
em brasília 19 horas desligando o rádio
em brasília 19 horas 19 honras 19 taras
em brasília 19 horas com a mulher do ministro
em brasília 19 horas noves fora nada a declarar
em brasília 19 horas esperando ônibus
em brasília 19 horas sem ter pra onde correr
em brasília 19 horas de atropelamentos no eixão
em brasília 19 horas sem escrever um poema
em brasília 19 horas embaixo do bloco
em brasília 19 horas sem fim
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ACONTECEU NA 103
o porteiro do bloco i da 103 sulpegou a filha do síndico do blocoo da 413 norte com o cara do302 do bloco d da 209 suldentro do carro do zelador dobloco f da 314 norte
apagando com chutes postesno eixão altas horas
“ os postes são a vegetaçãode brasília”
e aqueles luminososdo conjunto nacional
piscando pra mim“ os luminosos
do conjunto nacionalsão os brincos da cidade”
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brasília passa embaixodo meu bloco todosos dias
o poeta descobreas cidades satélitese entra em órbitamas não sabe se hádiferença entretaguatinga centro etaguacenter
e eu pensava queceilândia tinha algumacoisa a ver com ceilãonão tem não
agora dentro de um ônibus:depois desse o outrodepois desce o outrodepois desse desce o outro
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com licença, drummond
POLÍTICA LITERÁRIA
o poeta da asa norte
discute com o poeta
da asa sul
pra ver qual deles
é capaz de bater
o poeta do plano piloto
enquanto isso um poeta
de uma cidade-satélite
qualquer tira a lama
do sapato
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falta um blocona minha quadracomo falta um denteem minha boca
meu blocoé redondocomo um cuboazul comouma laranja
bloco kk pra nós, k de poesia
no mar do meu coraçãoexiste uma mancha
de coca cola
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não consigosair destas palavrassetor comercial sul
em que banco eu pagopra sair dosetor comercial sul
em quantas prestaçõeseu saio dosetor comercial sul
você quer 30%do meu saláriopra me livrar dosetor comercial sul?
dois litros do meu sanguepra me tirar dosetor comercial sul?
pra sair dosetor comercial suleu faço qualquer negócio
só não vendo a alma
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há anos meu corpoestá caído no eixão
e ninguém vem cobri-loe ninguém desvia dele
e ninguém o vêe ninguém o reconhecee ninguém o ninguéme ninguém o nenhume ninguém o ninfae ninguém o nitroglicerina
e porque ninguém vem cobri-locom uma folha de papel qualqueruma folha de jornal pode ser
e porque ninguém desvia dele?cada carro que passame enterra e me afundono asfalto, intacto
e porque não me reconhecequem sempre me semeiano semáforo?
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a coleção brasiliensesAo longo de 44 anos de existência, Brasília concebeu uma geração de característicasúnicas, que se deixaram impregnar pelos traços mais marcantes do plano urbanístico dacidade para criar formas diferenciadas de expressão. A coleção Brasilienses surge com oobjetivo de registrar a trajetória dos mais expressivos nomes da ar te surgidos – econsolidados - na capital do país. Cada um dos livros da coleção busca as formas deelaboração da identidade do homem em sua relação com Brasília. Mais do que montarbiografias, Brasilienses pretende se aproximar dos laços afetivos que envolvem o ar tista ea musa inspiradora, saindo em busca dos responsáveis pela criação da identidade culturalde uma moderna mas ainda jovem invenção.
nicolas behrO primeiro volume da coleção Brasilienses, Nicolas Behr: eu engoli brasília, é dedicado aopoeta que, descendente de europeus e nascido no Mato Grosso, assumiu a cidadaniabrasiliense nos anos 70, quando se tornou o mais ativo representante de uma geração dejovens que ousou descer dos blocos planejados por Lucio Costa para fazer ar te entrequadras e eixos do Plano Piloto.Behr é o representante brasiliense da “geraçãomimeógrafo” que trouxe de volta à poesia a liberdade formal e a simplicidade temática,calcada na observação do cotidiano. No caso de Nicolas, o estranhamento e fascínio desair do Mato Grosso para morar em uma cidade ar tificialmente criada, funcionaram comomola propulsora para sua inquietação criativa. “Saí do mato para morar na maquete”,afirma. Ainda adolescente, produzia, imprimia e vendia os próprios livros nas escolas,bares, teatros e cinemas da cidade. Versos como “SQS ou SOS?/ Eis a questão!” refletema angústia, muitas vezes temperada com humor ácido, de viver em uma cidade de siglas enúmeros.
os autoresPERFIL E ENTREVISTA – CARLOS MARCELOFormado pela UnB, Carlos Marcelo, 34 anos, é jornalista desde 1994. Foi editor durantecinco anos do caderno de cultura do Correio Braziliense e atualmente é editor-executivo domesmo jornal. Eu engoli brasília é seu primeiro livro.
PREFÁCIO – ANA MIRANDAAna Miranda é uma das mais importantes romancistas contemporâneas brasileiras, autorade Boca do inferno, Desmundo, Dias e dias, entre outros livros. Amiga há duas décadasde Behr, ela também escreve crônicas e contos.
ORELHA – FRANCISCO ALVIMFrancisco Alvim é diplomata e poeta, autor de livros como Elefante e Dia Sim Dia Não. Teveum de seus poemas publicados no livro Os cem melhores poemas brasileiros do séculoXX, organizado por Ítalo Moriconi e a obra reunida em edição da Cosac e Naify, lançadaem julho de 2004.
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fotografias – ricardo b. labastierRicardo B. Labastier é pernambucano, radicado em Brasília. Repórter fotográfico doCorreio Braziliense, desenvolve, em paralelo, trabalho autoral, tendo realizado uma dasexposições de maior destaque durante a primeira edição do Fotoarte, em 2003.
projeto gráfico – chico amaralChico Amaral é autor do revolucionário projeto gráfico do Correio Braziliense. Atualmentereside em Barcelona onde dirige equipe de redesign de jornais que trabalha em diferentespaíses, como Portugal, Itália, Rússia, Argentina e Brasil. É também artista plástico, comexposições realizadas em Brasília, São Paulo, Madri e Berlim.
ensaio literário – graça ramosGraça Ramos é jornalista, mestre em literatura brasileira (UnB) e doutora em História daArte pela Universidade de Barcelona. Trabalhou em alguns dos principais jornais e revistasbrasileiros. É autora de Ironia à Brasileira, estudo sobre a presença da ironia na poesia deMachado de Assis, Oswald de Andrade e Mario Quintana (editora Paulicéia, 1997).
edição e revisãoLígia Cademartori e Sérgio de Sá
visite o site: www.osbrasilienses.com.br