Post on 05-Jul-2015
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A igreja e o convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular
Jornadas Ibéricas PDL Património e Desenvolvimento Local
31-05 e 01-06-2013 Barcelos, Portugal
Joaquim Vinhas
Breve prólogo de reconhecimento e homenagem • Uma palavra de agradecimento à Câmara Municipal de Barcelos (CMB) e à Associação do Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave (ATAHCA) pelo convite feito; quero dizer-vos que muito me honra estar aqui, hoje, neste lugar (re)sacralizado. • Agradecimento que é extensivo à Direção Regional da Cultura do Norte (DRCN), sem esquecer o extinto IPAAR, a quem dirijo desde já os meus parabéns pela notável intervenção em Vilar de Frades, que permitiu a sua integração na rede do turismo cultural. A todos os presentes, por marcarem presença nestas Jornadas, o meu MUITO OBRIGADO! • Reconheço que aprendi muito do pouco que sei com o Rev.º Padre Aurélio Soares e o Sacristão Sr. Manuel Pinheiro Ferreira, ambos falecidos – a quem desejo prestar a minha homenagem. Pudessem eles ouvir as nossas palavras… • Agradeço ao Sr. Domingos Lopes, ex-presidente da Junta de Freguesia de S. João de Areias de Vilar, que foi decisivo na publicação do trabalho que apresentei à FLUP em 1996, dado à estampa em 1998, com as limitações próprias de uma investigação incompleta e imperfeita. Sem essa publicação, hoje eu não estaria aqui! • O meu tributo público vai, finalmente, para três pessoas a quem devo o meu perfil de aprendiz de investigador: o saudoso Professor Doutor C. A. Ferreira de Almeida e os Professores Doutores Joaquim Jaime Ferreira-Alves e Natália Marinho Ferreira-Alves, todos da FLUP.
1. Reconhecimento institucional / legal do conjunto patrimonial de Vilar de Frades: as questões da classificação e da intervenção
1910 – A «Igreja de Vilar de Frades», incluindo a chamada residência paroquial e o claustro, recebem a classificação de Monumento Nacional, pelo Dec. de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 de junho
1949 – O «Chafariz monumental existente no pátio do extinto convento anexo à igreja de Vilar de Frades», é elevado a Monumento Nacional pelo Dec. n.º 32 973, DG, I Série, n.º 175, de 18 de agosto
• 2013 – O «Conjunto constituído pela Igreja e Convento de Vilar de Frades, cerca e outros elementos construídos na sua envolvente, nas freguesias de Areias de vilar e Manhente, concelho de Barcelos, distrito de Braga», recebe a categoria de Monumento Nacional – Dec. n.º 7/2013 de 7 de maio, DR, 1.ª Série – n.º 87, de 7 de maio
• Carlos Alberto Ferreira de Almeida – Riegl e Hoje, 1994
• Alois Riegl - O Culto Moderno dos Monumentos, 1903
Não basta legislar. • São necessárias medidas políticas que garantam a proteção mas também a (re)dinamização do sítio que permita a fruição cultural aos turistas e aos “estrangeiros” e, antes de todos, às gentes da comunidade local… • Pelo que vamos vendo, nos últimos tempos, parece que estamos no caminho adequado: os bons homens e as gentes de Vilar sentirão orgulho do seu lugar?! •Mas há ainda caminhos a percorrer!
Anexo do Decreto n.º 7/2013 de 7 de maio, DR, 1.ª Série – n.º 87 – 7 de maio de 2013
Valores patrimoniais: intervenção e classificação
Em breve súmula, o conjunto monumental de Vilar de Frades recebeu do poder central a classificação
de monumento nacional e zona de proteção:
• Em 1910 – a igreja, o claustro e o edifício conventual dos finais de Quinhentos (no qual se inclui a
sacristia dos finais de Setecentos);
• Em 1949 – o chafariz do «terreiro dos cabedais», de finais do séc. XVIII;
• Em 2013 – «a cerca e outros elementos construídos na sua envolvente», multiseculares.
Pode entender-se que o Santuário de Nossa Senhora do Socorro faz parte da referida área envolvente?
Se dúvidas existirem sobre isto, seria bom que fossem esclarecidas.
Seja como for, a intervenção dos últimos 20 anos (grosso modo) – incidente na recuperação das
infraestruturas classificadas em 1910 e 1949 e em intervenções de conservação no património móvel
ainda existente (muito foi, de facto e institucionalmente delapidado, ou retirado do seu contexto),
sobretudo na imaginária/estatuária, nos altares e seus retábulos… – foi decisiva para colocar Vilar de
Frades na rede do turismo cultural, pela elevada qualidade arquitectónica e artística que lhe conferimos.
Mas os valores patrimoniais que lhes vamos acrescentando, quais penates que nos
perseguem/convocamos rumo ao futuro, fazem do conjunto inteiro agora classificado e protegido um
sítio muito especial, sacralizado… Os «Bons Homens de Vilar de Frades» gozam de felicidade no além…
2. O sítio de Vilar de Frades: um genius loci com 1547 anos de história religiosa, socioeconómica, cultural e artística?
Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades: 1425-1461
• A designação de «S. Salvador» antes e depois de 1425 (data da entrega do arruinado mosteiro ao Mestre João Vicente) dever-se-á a S. Salvador ou a D. Pedro Salvadores (neto de D. Godinho Viegas e detentor do padroado), como principal «reedificador» do cenóbio beneditino do pós Reconquista Cristã? • Sabemos que os cónegos tinham especial apreço pela antiguidade/ herança/ legado do Mosteiro de S. Bento. • Em 1172, o rei D. Sancho I decidiu «coutar ao convento de Villar por fazer merce a D. Pedro Salvadores e a sua mulher D. Sancha Martins pello muito serviço que fizera a el rei D. Afonso Henriques seu pai“, diz o cronista em 1658.
566 a 1425: o sítio de Vilar de Frades está envolvido por um manto de “trevas”.
Imagem de S. Martinho de Dume: miniatura do códice Albeldensis (c. 976) da Biblioteca de S. Lourenço do Escorial.
S. Martinho de Dume, considerado Apóstolo dos
Suevos, bispo de Braga em 562-579.
Segundo Jorge de S. Paulo, terá
edificado o Mosteiro de Vilar de Frades em 566.
2.1 Da lendária data de 566 a 1425: um vazio imenso entre S. Martinho de Dume e D. Fernando da Guerra
Congregação dos Cónegos
Seculares de S. João
Evangelista, 1461-1834
O novo patrono, S. João Evangelista, e a mudança da designação, foram autorizados por Pio II, como resultado da «particular» devoção de D. Isabel (mulher de Afonso V), transferindo-se a sede para Lisboa, Santo Elói, a quem se deve o nome «corrompido» de loios, , enquanto a expressão «azúis» está associada à cor do hábito.
2.2 Da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades (1425/31-1461) à Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista (1461-1834)
Heráldica da casa de Avis, presente em Vilar de Frades, também associada à
família Pereira
Fontes documentais de maior relevo • Os edifícios e as obras que neles sobreviveram. • Epilogo e Compendio…, Manuscrito de Jorge de S. Paulo, 1658 (com acrescentos posteriores). • O Ceo Aberto na Terra…, Obra impressa de Francisco de Santa Maria, 1697.
Alguns contratos de obras de pedraria, de talha dourada, do cadeiral do coro…; • O inventário de 1834 do AHMF/ ANTT e outros manuscritos. . Mas Vilar de Frades apresenta lacunas documentais graves. . A Arqueologia veio trazer alguma luz, ainda que ténue, face ao quase lendário mosteiro medieval (566 a 1425). • Por conseguinte, temos ainda muitas perguntas a formular.
• Mestre João Vicente, fundador da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades, 1425. • Trata-se de um conceituado lente de medicina na Universidade de Lisboa e médico da corte, um homem preocupado com as sequelas religiosas e morais herdadas da grave crise do século XIV. • A sua aposta passava pela abertura de um instituto religioso de novo tipo, que retomasse a pureza do Evangelho… uma reforma exemplar para um clero cuja «devassidão» e «soltura de vida» lhe pareciam preocupantes. Um clero que não era exemplo para a sociedade civil. • Mal sucedido nos Olivais/Lisboa, segue para Campanhã/Porto… mas é em Braga/ Barcelos/ Vilar de Frades que funda a nova congregação, vindo a inspirar-se na de S. Jorge de Alga, Veneza, que fora dotada de «Constituições» por S. Lourenço Justiniano.
João Vicente, que será bispo de Lamego e de Viseu, era um homem influente junto do poder régio e da hierarquia eclesiástica.
2.3 Entre a Idade Média e a Modernidade: expansão do novo instituto
FUNDAÇÃO LOCALIZAÇÃO INVOCAÇÃO INICIAL
1425 Vilar de Frades São Salvador
1455 Xabregas São Bento
1484 Lisboa Santo Elói
1485 Évora S. João Evangelista
1491 Porto N. Sr.ª da Consolação
1527 Arraiolos N. Sr.ª da Assunção
1560 Vila da Feira Espírito Santo
1596 Lamego St.ª Cruz de Vale de Rei
1631 Coimbra S. João Evangelista
EXPANSÃO DA NOVA ORDEM RELIGIOSA
INSTITUTO RELIGIOSO
CÓNEGOS
S. João Evangelista – Xabregas 35
S. João Evangelista - Vilar de Frades (Barcelos) – conta com 13 igrejas anexas (ainda no séc. XV) e em 1792 recebe foros, censos «e mais miudezas» oriundos de 126 freguesias.
55
Santa Cruz de Vale de Rei – Lamego 17
Santo Elói – Lisboa 53
S. João Evangelista – Évora 26
Santo Elói – Porto 35
Nossa Senhora da Assunção – Arraiolos 13
S. João Evangelista – Vila da Feira 10
Colégio de Coimbra 16
TOTAL 260
DISTRIBUIÇÃO DOS CÓNEGOS PELAS NOVE CASAS DOS LÓIOS – EM 1658
A torre grande (1540-1600) a noroeste, simboliza o poder espiritual e temporal dos padres de Vilar de Frades. Os poderosos cónegos azúis gozam da proteção da Santa Sé e da casa real, do conde de Barcelos e duque de Bragança…, participam na evangelização africana e na reforma do clero, fazem visitações na arquidiocese… Embora confirmado pelo arcebispo de Braga (que ganhara a longa batalha jurídica na cúria pontifícia de 1461), o reitor tutelava as 13 igrejas anexas ao seu convento, era capitão-mor e senhor donatário do couto de Manhente, recebia foros e pensões de 126 freguesias… Suscitava amores e rancores. Rivalizava com a Sé de Braga!
2.4 De 1510 a 1810: 300 anos de memórias inscritas em manuscritos e em várias tipologias artísticas
A Igreja na História e na Arte A igreja, umbilicalmente ligada ao convento, é testemunha dos inúmeros atos litúrgicos, gestos e cerimónias, serviço do coro e da biblioteca, pregações, missas, enterramentos, procissões no claustro ou nos caminhos de Vilar, enfim nos rituais regulados ao pormenor para conferiram aos ofícios divinos dignidade e prestígio… uma verdadeira casa de Deus com o seu convento habitado pelos cónegos seculares – casa mãe (até 1461) que se expandiu de norte a sul do país, até ao século XVII.
Uma mescla de estilos que representa menos a incongruência que vemos com o nosso olhar, que o gosto e a vontade de manter e alargar a importância de um património que os sucessivos reitores e capítulos gerais dos loios quiseram legar ao futuro… que hoje é nosso. Dito de outro modo, os padres de Vilar construíram ontem o que hoje queremos seja presente amanhã.
Área classificada em 1910: igreja, sacristia, claustro e ala nascente do convento (planta do nível térreo – DGEMN, 1973).
Corte transversal da igreja, junto ao arco cruzeiro (cerca de 1510), a ala nascente do convento (finais
de Quinhentos) e ala nascente do claustro (inícios de Oitocentos) – desenho da DGEMN, 1975.
2.4.1 Entre o biscainho João de Castilho e os Lopes de Guimarães: o século de Quinhentos
Pormenor da abóbada da capela-mor de Vilar de Frades, c. de 1510. D. Diogo de Sousa (arcebispo de Braga entre 1505-1532), encomendou a planta a João de Castilho?
Capela-mor da Sé de Braga – abóbada de combados, c. 1509 – uma obra de João de Castilho. Para além da cobertura da capela-mor, Castilho terá ainda edificado a galilé da mesma catedral. É conhecida a sua presença na Matriz de Vila do Conde, a partir de 1511.
D. Diogo de Sousa manda edificar a Capela de Nossa Senhora da Piedade, na Sé de
Braga, para o seu sepultamento.
• A que se deveu a provável omissão do nome do mestre e arquiteto biscainho João de Castilho, na crónica de 1658? • Portugal debatia-se com a Guerra Peninsular, 1640-1668... Juan del Castillo – conhecido como um homem construtor do mundo: - de Burgos a Sevilha, a Itália, Portugal: Braga (1509) e Vilar de Frades (?) Vila do Conde (1511), Viseu (?) Jerónimos (1517) e Tomar, Batalha e Alcobaça, Arzila e Mazagão… •João Lopes-o-Velho, de Guimarães, foi celebrado como o autor da traça, o «homem insigne na architectura e de maior cabedal no reino». • D. Diogo de Sousa (arcebispo em 1505-1532) patrocinou o projeto de arquitetura em Vilar de Frades, onde esperava vir a ser sepultado na capela-mor. Esperaria também que lhe esculpissem as armas no arco cruzeiro. • Porém, no decurso das obras, e baseados numa decisão do Capítulo Geral, os loios mandaram esculpir as «armas da congregação», facto que pôs termo ao mecenato do prelado bracarense. • Então, os padres de Vilar optaram por uma nave modesta e com cobertura de madeira… Mas no pórtico da fachada quiseram dar corpo ao projeto inicial, numa clara afirmação de poder e competição face à Sé de Braga.
A abóbada da capela-mor, após a introdução do retábulo de 1696, de António Gomes e Domingos Nunes, do Porto… e das sanefas de meados do século XVIII. Em 1698 devem ter sido entalhados/emoldurados os 22 painéis de pintura referidos no contrato para os retábulos colaterais, encomendados aos mesmos mestres entalhadores. Colocados, talvez, entre as janelas das paredes laterais, os painéis contribuíram para o triunfo do barroco … completado com o revestimento azulejar executado por Dionísio António, em 1706-1707.
1 Entrada da capela-mor 1
Janela Janela
2
3
2
3
4
5
4
5
6
7
6
7
Janela
Janela
8
9
8
9
10
11
10
11
Janela
Janela
Possível distribuição dos 22 painéis
Exterior da capela-mor manuelina, com o acrescento de 1697 (pelos mestres Pascoal Fernandes e João Moreira, do Porto) para receber o retábulo-mor.
Abóbada do transepto (área do cruzeiro) e arco da capela-mor, c. 1510-1520 – D. Diogo esperava ver reconhecido o seu mecenato através da colocação das armas dos Sousas no arco cruzeiro.
Abóbada da capela colateral (lado da Epístola), privativa de D. Teresa
de Mendonça, c. 1510-1520
Abóbada da capela colateral (lado do Evangelho), privativa de D. Leonor de Lemos, c. 1510-1520
.
A portada manuelina, c. 1510-1520
Embora datada de 1694, o contrato para a feitura da porta de madeira de carvalho, almofadada, é assinado a 21 de Abril de 1695, entre o reitor Luís da Anunciação e o mestre carpinteiro Simão António, da Maia, devendo a obra estar concluída até ao dia de Todos os Santos do mesmo ano.
Os Lopes de Guimarães: uma “dinastia de artistas”
João Coelho Lopes, descendente de João Lopes-o-Velho, assina em 18 de Fevereiro de 1593, um contrato para a realização de obras de arquitectura na área conventual: o «cabido novo», a enfermaria, a escadaria, os portais «ao romano», a cozinha e «as secretas», no corpo a nascente. Em 1597 Gonçalo Lopes é chamado para instalar um chafariz de mármore vindo de Lisboa.
João Lopes de Amorim, executa o chafariz do Campo da Feira (Barcelos) na década de 1630.
Marques da Silva realiza o novo enquadramento no séc. XX.
O corpo conventual foi edificado no século XV, vindo a beneficiar de importantes remodelações entre fevereiro de 1593 e maio de 1594, por João Coelho Lopes e nos finais do século XVIII, esta última nas áreas do claustro e da sacristia. A sacristia transforma-se num importante volume paralelepipédico (como veremos), ocupando parte de dois pisos da ala nascente.
O sítio do convento, do claustro e sua varanda do piso superior, lado nascente. Atente-se no estado deplorável a que os poderes públicos deixaram cair a área classificada, onde, transformado em residência paroquial, aí viveu o sacristão e sua família durante décadas… Um cartaz digno do Estado Novo?!
Aspetos do exterior intervencionado: as obras de conservação e restauro empreendidas nos últimos 20 anos devolveram dignidade aos espaços da igreja e da sacristia, ao claustro e a uma parte considerável do corpo conventual a nascente . Completando-se as obras que faltam (e não serão poucas), V. Frades pode reforçar a componente sociocultural e económica, contribuindo, assim, para o desenvolvimento local e regional.
2.4.2 A «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e as intervenções de Seiscentos: da ala conventual do poente ao Santuário de N. Sr.ª do Socorro e à nave única de Vilar de Frades
Portal e escada nobre, de acesso ao convento (1619-1620), ala poente, a partir do «Terreiro da Igreja».
1619-1620
Pórtico do «Terreiro dos Cabedais», com a escultura de S. João Evangelista, 1619-1620
Ala norte do poente, vista do «Terreiro dos Cabedais» e o chafariz de 1790-1792.
Para além das obras na área conventual, a partir de 1619 edifica-se a capela de Nossa Senhora do Socorro e iniciam-se, em 1621, as obras de reconstrução da nave quinhentista, dotando-a da robustez necessária pois estava em risco a segurança dos «fregueses» porque as paredes eram frágeis e a cobertura de madeira ameaçava ruir.
Nave e cobertura (1621-1641),
uma obra executada de harmonia
com a obra manuelina..
A intervenção recente
acrescentou dignidade ao
«monumento nacional», que
ainda permanece desconhecido
da maioria dos barcelenses.
Nave e abóbada, 1621-1641… as capelas laterais serão concluídas em 1658.
Fronteiro à capela-mor, o Senhor Crucificado fixou-se numa estrutura entalhada, de fino recorte rocaille, sobre a grade do coro, obras de meados do séc. XVIII.
Esta é a Casa do Senhor – pode ler-se no remate do arco
cruzeiro seiscentista
2.4.3 Da obra da «emenda» na ala poente ao triunfo do barroco e à emergência do neoclássico na igreja: arquitetura, talha dourada e policromada, pintura, azulejaria, estatuária, metais preciosos, paramentaria de luxo…
O edifício conventual, a poente: uma obra dos sécs. XVII e XVIII.
Segundo os cronistas, as obras do edifício a poente tiveram início em 1619, mas apenas a ala voltada ao «Terreiro da igreja» e todo o muro da frontaria, incluindo o «pórtico de São João Evangelista» ficaram concluídos... Estamos em crer que a «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e a insuficiência de recursos levaram à reorientação dos projetos.
Chafariz do claustro do edifício do lado poente. Embora já tenha sido datado do séc. XVII, sem base documental, estamos em crer que se trata da obra feita a mando de Joaquim Lopes da Costa, entre 1790-1792, reitor que «mandou fazer o chafariz do terreiro».
O triunfo do barroco
O retábulo-mor, uma obra feito ao gosto barroco/nacional pelos entalhadores do Porto António Gomes e Domingos Nunes, em 1696. «Um vulgar retábulo», que implicou a substituição da parede fundeira, colocando em risco a segurança da abóbada - opinou um técnico da DGEMN em 1930, antes 10 anos do início da intervenção em Vilar de Frades. Porém, antes do início das obras em 1941, um relatório refere que: «A capela-mor, cuja abóbada está abalada e com largas fendas na sua estrutura, resultantes do apeamento da parede fundeira quando lhe aplicaram o atual altar de talha dourada que no meu entender se deve conservar por ser peça rica embora contrastando com o estilo da abside»
Nossa Senhora, S. Salvador e S. João Evangelista – três esculturas nos seu nichos rococó, reforçam a magnificência do retábulo maior.
Dois anjos tocheiros foram talhados e dourados, cerca de meados do séc. XVIII, para servirem junto ao arco triunfal.
Hoje, devidamente intervencionados, encontram-se junto ao altar-mor.
Aspeto do «coreto» da capela-mor, edificado em 1752-1754, a mando do reitor Francisco de Santa Maria. Para esse efeito, tiveram de remover-se os painéis de azulejo, que foram transferidos para capelas laterias do lado do Evangelho, agora patentes na sala de exposições.
Capela Nossa Senhora da Conceição (c. meados do séc. XVIII) antes e
depois de intervencionada.
Pormenor de um retábulo do século XVIII, foto de 1995.
Capela de N. Sr.ª da Conceição, meados séc. XVIII.
S. Pedro de Alcântara, no retábulo de N. Senhora da Conceição, séc. XVIII.
Imaginária do retábulo da capela dedicada a de S. Bento
Capela do transepto, lado do
Evangelho: S. Lourenço
Justiniano (em 1697),
Santíssimo Sacramento (a
partir de meados do século
XVIII)….
Capela de N. Senhora do Rosário e capela do Senhor do Desterro, lado do Evangelho (1758). A do Senhor do Desterro, em 1834, estava dedicada a «um Santo Arcebispo» - provável S. Geraldo, arcebispo de Braga
Retábulo da capela de N. Sr.ª da Piedade (em 1758), que
em 1834 estava dedicada a N. Sr.ª das Dores
Oratório da Senhora da Piedade/Dores
Cristo morto, Santa Madalena e S. João
Evangelista
Capela de S. Caetano (em 1758), em 1834
aparece com o retábulo da Sagrada Família,
ladeada pelas estátuas de S. Pedro e Santo
Amaro. Trata-se de um retábulo de estilo
barroco/joanino (terá vindo de outro lugar?).
Em 1560, o mestre organeiro Heitor Lobo é responsável pelo órgão de tipo ibérico. O atual gradeamento (do órgão e do coro) é obra do séc. XVIII, que veio substituir as grades feitas no séc. XVII pelo mestre do Porto António João Padilha, que pelo mesmo contrato realiza o cadeiral (idêntico ao da Serra do Pilar, Gaia) e a estante do coro-alto, idêntica à do convento de Tibães. A caixa do órgão pertence ao séc. XVIII.
1682 – António João
Padilha realiza o cadeiral, «na
forma das cadeiras do
convento da Serra» do Pilar.
1682 – Pelo mesmo contrato, o mestre ensamblador do Porto executou a estante «como as do coro do convento de Tibães como o dito mestre ajustou a fazer».
Painéis azulejares pintados a azul e branco, que terão revestido as paredes laterais da capela-mor, de provável assentamento em 1706-1707 por Dionísio António. Representam figuras que colaboraram ativamente com o Mestre João Vicente na fundação da Congregação Evangelista,
incluindo S. Lourenço Justiniano e o Papa Gregório II.
2.4.4 Da serena contenção clássica na sacristía e na área conventual – finais do século XVIII
A sacristia – iniciada em 1796-97 pelo reitor Manuel de São Tiago e Silva (que encomendou o risco) e concluída em 1798-1800 por Joaquim Lopes da Costa –, exibe a serena majestade do neoclássico: a sobriedade do mobiliário, o retábulo marmoreado com a imagem da Senhora, as 4 telas dos Evangelistas e suas molduras douradas, as molduras das janelas, as sanefas das portas, um tremós de um conjunto de seis (5 levaram descaminho) emoldurado, tudo de fino recorte; a mesa de brecha oitavada sobre o pavimento de mármore… enfim, tudo abrigado por um tecto estucado com uma rica iconografia – de alcance bíblico, festivo, místico.
S. Lourenço Justiniano(1381-1456) entra na Congregação dos Cónegos de São Jorge de Alga
– Veneza (1400), que transforma em mosteiro secular; em 1406 é prior da comunidade e
pouco depois líder da congregação, dando-lhe uma Constituição: os cânones.
Eugénio IV nomeia-o bispo de Castelo cujo episcopado foi marcado por importante
atividade reformista. Em 1451, Nicolau V integra a diocese de Castelo no patriarcado de Grado e a nova Sé passa para
Veneza – sendo Lourenço Justiniano o seu primeiro patriarca.
Santa Lúcia ou Luzia (séc. XVIII),
mártir italiana de Siracusa,
supliciada em 304 e sepultada em
catacumba de Roma
Santa Vitória (séc. XVIII), mártir espanhola de Córdoba
supliciada no anfiteatro romano c. 204
2.4.5 Projeto da frontaria da igreja dos finais do século XVIII: manter o manuelino, fazer reviver o românico e o gótico – incongruência ou a obra no finita … projeto que a conjuntura política e militar inviabilizou?
Entre 1796 e 1797, o reitor Manuel de São Tiago
e Silva «mandou fazer o risco para toda a obra nova
da sacristia, claustros e fronteira da igreja».
3 – A torre norte (feita em 1540-1600) seria derrubada para se conformar com o conjunto medieval-manuelino.
4 – O projeto poderia
apresentar, grosso modo, uma frontaria
“românica”, neogótica e neomanuelina
1 - O alçado em 1808: fase da reconstrução da torre sul; reutilização de pedras dos pórticos românicos.
Hipótese interpretativa
do possível projeto
idealizado nos finais do
século XVIII 2 - Completa-se a torre sul, ao gosto revivalista medieval.
Imaginário medieval: entre o sagrado e o profano, o erudito e o popular.
Revivalismo românico na torre sul: adaptação de elementos
dos portais românicos, nos inícios do séc. XIX
A sociedade trinitária da Baixa Idade Média: clero, nobreza, povo – um defende/combate, o outro ora e o terceiro labora: religiosidade, trabalho e bestialidade – seu carater intemporal…
Encontro entre o Filho Pródigo e o Pai – Aguiar Barreiros Luta entre Jacob e o Anjo – Oliveira Ramos Jesus abraça João Evangelista – C. A. Ferreira de Almeida
3. As intervenções nos séculos XX e XXI: do Estado Novo à Democracia Representativa – ou dos «Monumentos Nacionais» à necessidade de colocar a “Igreja e o Convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular” na senda do progresso e do desenvolvimento numa desejável globalização de rosto humano
Na primeira metade do século XVIII foi renovada a igreja – altares, seus retábulos e sanefas em talha dourada e policromada, estatuária e painéis azulejares, enriquecidos com novas alfaias litúrgicas, metais preciosos, paramentaria de luxo, sedas e brocados, cortinados de damasco e alcatifas coloridas… Um espectáculo digno de se ver que levou à abertura de novas e mais amplas janelas, em 1752-1754.
As sucessivas intervenções do século XX nem sempre se pautaram pelos “melhores” critérios, talvez por fragilidades no domínio técnico-científico, sobretudo devido à mentalidade/sensibilidade que orientou a ação interventiva e restauracionista. A última intervenção parece-nos ajustada e sintoniza com os propósitos do tema destas jornadas: Património e Desenvolvimento Local.
Aspeto da nave e da capela-mor, antes da intervenção na década de 1940
Como já referi, os retábulos colaterais foram realizados pelos entalhadores do Porto António Gomes e Domingos Nunes, contratados em 1698. Pelo mesmo contrato, os mestres deveriam realizar 22 painéis para as paredes laterais da capela-mor, completadas com painéis azulejares em 1707-08, que em 1752-54 serão transferidos para a capela do Santíssimo Sacramento e capelas laterais, lado do Evangelho.
O chafariz de Vilar de Frades ganhou pouco com a saída para outro contexto, tão diverso do original. Agora, uma boa parte do conjunto está recuperado, classificado e na rota do património peninsular, valerá a pena devolver o emblemático chafariz aos herdeiros dos «bons homens de Vilar de Frades»?
FIM
Muito Obrigado!
A igreja e o convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular
Breve prólogo de reconhecimento e homenagem 1. Reconhecimento institucional/legal do conjunto patrimonial de Vilar de Frades: as questões da classificação e da intervenção 2. O sítio de Vilar de Frades: um genius loci com 1.547 anos de história religiosa, socioeconómica, cultural e artística? 2.1 Da lendária data de 566 a 1425 – um vazio imenso entre S. Martinho de Dume e D. Fernando da Guerra 2.2 Da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades (1425-1461) à Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista (1461-1834) 2.3 Entre a Idade Média e a Modernidade: expansão do novo instituto 2.4 De 1510 a 1810: 300 anos de memórias inscritas em manuscritos e nas várias tipologias artísticas 2.4.1 Entre o biscainho João de Castilho e os Lopes de Guimarães: o século de Quinhentos 2.4.2 A «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e as intervenções de Seiscentos: da ala conventual do poente ao Santuário de N. Sr.ª do Socorro e à nave única de Vilar de Frades 2.4.3 Da obra da «emenda» na ala poente ao triunfo do barroco e à emergência do neoclássico na igreja: arquitetura, talha dourada e policromada, pintura, azulejaria, estatuária, metais preciosos, paramentaria de luxo… 2.4.4 Da serena contenção clássica na sacristía e na área conventual – finais do século XVIII 2.4.5 Projeto da frontaria da igreja dos finais do século XVIII: manter o manuelino, fazer reviver o românico e o gótico – incongruência ou a obra no finita… projeto que a conjuntura política e militar inviabilizou? 3. As intervenções nos séculos XX e XXI : do Estado Novo à Democracia Representativa – ou dos Monumentos Nacionais» à necessidade de colocar a “Igreja e o Convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular” na senda do progresso e do desenvolvimento numa desejável globalização de rosto humano