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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
Engenharia de Produção
LAÍS BATISTA AKASHI
LOGÍSTICA REVERSA: O REVERSO DA CADEIA PRODUTIVA
Campinas 2014
LAÍS BATISTA AKASHI – R.A. 004201000316
LOGÍSTICA REVERSA: O REVERSO DA CADEIA PRODUTIVA
Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Produção da Universidade São Francisco, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Produção. Orientador: Prof. Me. Paulo Lot Junior
Campinas 2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter guiado cada um dos meus passos durante a minha
graduação, por ter me iluminado nos momentos de dificuldade e me abençoado com todo o
aprendizado e experiência adquiridos.
Agradeço ao meu orientador Prof. Me. Paulo Lot Junior por todos os conselhos e pela
disposição desde o início da elaboração deste trabalho de conclusão de curso. Agradeço às
ideias, críticas, análises e sugestões durante este ano de parceria.
Ao Prof. Dr. Robisom Damasceno Calado, orientador do Curso de Engenharia de Produção,
por todos os ensinamentos durante o período de aulas e aos incentivos que colaboraram
para a conclusão deste trabalho acadêmico.
À Profa. Dra. Cleonice Aparecida de Souza e à Profa. Dra. Élen Nara Carpim Besteiro por
todas as orientações no desenvolvimento de cada etapa do trabalho.
Agradeço aos meus pais, Carla e Walter, a quem dedico esse trabalho, por todos esses 22
anos de dedicação e apoio, cada palavra de carinho, cada gesto de ensinamento, cada
princípio e valor que me foi ensinado. Desde pequena, sempre estiveram do meu lado,
dedicando-se para darem a mim o melhor que eles tinham, nunca deixando que me faltasse
algo. Mas principalmente, o que nunca me faltou foi amor, paciência e ensinamentos que
levarei para sempre, como profissional, cidadã e ser humano. Espero um dia retribuir ao
menos a metade do que já fizeram por mim.
“A sabedoria inspira a vida aos seus filhos, ela toma sob a sua proteção aqueles que a
procuram; ela os precede no caminho da justiça.
Aquele que a ama, ama a vida; aqueles que velam para encontra-la sentirão
sua doçura. Aqueles que a possuem terão a vida como
herança, e Deus abençoara todo o lugar onde ele
entrar.” Eclesiástico 4, 12 – 14.
RESUMO
Este trabalho descreve um estudo sobre Logística Reversa, baseado em duas
aplicações reais, sendo a primeira em uma empresa de laminação de vidros e a segunda
sobre o uso de embalagens retornáveis para transporte internacional de peças para motores
a diesel. Inicia-se com um levantamento e revisão de fatores relacionados com a área e
considerados importantes para compreensão da logística reversa. A seguir, dois estudos de
caso são apresentados, estudados e discutidos, sendo a discussão fundamenta nas
vantagens e desvantagens do retorno para a cadeia produtiva de produtos pós-venda e pós-
consumo, na forma de suprimentos. São observados os principais resultados dos estudos
de caso, além da análise desses dados. No final, algumas conclusões e considerações
aparecem para complementar a pesquisa descritiva e para fundamentar o trabalho sobre um
assunto ainda em ascensão no país.
Palavras-chave: Logística. Retorno. Suprimentos.
ABSTRACT
This paper describes a study in reverse logistics based on two real applications, the
first in a company of glass lamination and the second on the use of returnable containers for
international transport of parts for diesel engines being. It begins with a survey and review of
factors related to the area and considered important for understanding of reverse logistics.
The following two case studies are presented, analyzed and discussed, and the discussion is
based on the advantages and disadvantages of the return for the supply chain of aftermarket
products and post-consumer, in the form of supplies. The main results of the case studies
are observed, and analysis of such data. In the end, some conclusions and considerations
appear to complement the descriptive research and to support the work on a subject still on
the rise in the country.
Key words: logistics. return. supplies.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Fluxo Supply Chain Management. ...............................................................................23
Figura 2. Curva generalizada do ciclo de vida do produto. ........................................................28
Figura 3. Representação esquemática dos processos logísticos direto e reverso. .................34
Figura 4. Fluxo da Logística Reversa: áreas de atuação e etapas reversas. ..........................41
Figura 5. Características dos resíduos sólidos e da sua gestão. ..............................................43
Figura 6. Tecnologias instaladas nas empresas que adotam sistemas de Logística Reversa. .........................................................................................................................................................49
Figura 7. Representação do transporte das embalagens. .........................................................53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Síntese das características de desempenho entre as embalagens. ........................52
Tabela 2. Durações médias das etapas do processo de uso da embalagem retornável. .......53
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Escopo e estrutura do modelo SCOR. .......................................................................26
Quadro 2. Diferenças entre a logística convencional e a logística reversa. .............................33
Quadro 3. Vantagens e desvantagens sob o ponto de vista da logística reversa no uso de embalagens retornáveis. ...............................................................................................................56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AMR - Advanced Manufacturing Research
APAS - Áreas de Proteção Ambiental
ASTM - American Society for Testing and Materials
ATT - Área de Transbordo e Triagem
CDD - Canal de Distribuição Direto
CDR-PC - Canais de Distribuição Reversa de Pós-Consumo
CDR-PV - Canais de Distribuição Reversa de Pós-Venda
CLRB - Conselho de Logística Reversa do Brasil
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ISO - International Organization for Standardization
PCP - Planejamento e Controle da Produção
PEAD - Polietileno de Alta Densidade
PRM - Product Recovery Management
PRTM - Pitiglio Rabin Todd & McGrath
PVB - Polivinilbutiral
RLM - Reverse Logistics Management
SC - Supply Chain
SCC - Supply Chain Council
SCM - Supply Chain Management
SCOR - Supply Chain Operations Reference
SMI - Supplier-Managed Inventory
SPHAN - Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
RCC - Resíduo da Construção Civil
RSD - Resíduo Sólido Domiciliar
RSS - Resíduo de Serviços de Saúde
UV - Ultra Violeta
VCI - Volatile Corrosion Inhibitors
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................13
1.1 Objetivo geral ..................................................................................................................13
1.2 Objetivos específicos ......................................................................................................13
1.3 Justificativas .........................................................................................................................14
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE LOGÍSTICA REVERSA ............................................15
2.1 Visão geral ............................................................................................................................15
2.2 Histórico ambiental ..............................................................................................................16
2.2.1 Impactos ambientais .....................................................................................................16
2.2.2 Principais leis de proteção ambiental no Brasil ..........................................................16
2.2.3 ISO 140000 ...................................................................................................................20
2.3 Kanban ..................................................................................................................................21
2.4 Cadeia de suprimentos........................................................................................................22
2.4.1 SCOR: Supply Chain Operations Reference..............................................................24
2.5 Ciclo de vida do produto ......................................................................................................26
2.6 Classificação dos produtos .................................................................................................29
2.7 Logística reversa ..................................................................................................................31
2.7.1 Importância da logística reversa ..................................................................................35
2.7.2 PRM: Product Recovery Management........................................................................36
2.7.3 Implementação da logística reversa............................................................................37
2.7.4 Logística reversa do pós-consumo .............................................................................39
2.7.5 Logística reversa do pós-venda...................................................................................41
2.8 Gestão de resíduos sólidos.................................................................................................42
3 METODOLOGIA .........................................................................................................................44
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS - LOGÍSTICA REVERSA .......................................45
4.1 Estudo de Caso 1: Empresa de laminação de vidros .......................................................45
4.1.1 Processo de implementação ........................................................................................46
4.1.2 Resultados obtidos pela empresa de laminação de vidros .......................................47
4.2 Estudo de Caso 2: Embalagens retornáveis para transporte de bens remanufaturados .....................................................................................................................................................50
4.2.1 Processo de implementação ........................................................................................50
4.2.2 Resultados obtidos no uso de embalagens retornáveis para transporte de bens remanufaturados.....................................................................................................................52
4.3 Discussão e Análise dos Casos .........................................................................................55
5 CONCLUSÕES ...........................................................................................................................57
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................59
13
1 INTRODUÇÃO
A sustentabilidade é um assunto muito discutido, e que ainda está na teoria, uma vez
que o meio ambiente aos poucos manifesta o resultado da falta de consciência existente.
Neste aspecto, a Logística Reversa se faz presente, pois seu significado correlaciona-se à
ideia de que preservar o meio ambiente é essencial para as próximas gerações.
A Logística Reversa está cada vez mais em destaque nas indústrias de diversos
ramos de produção. Trata-se de um processo de planejamento, implementação e controle
do fluxo dos resíduos com o produto já acabado, sendo necessário seu fluxo de informação
do ponto de consumo até o ponto de origem, isto é, o caminho contrário da cadeia produtiva,
segundo Santos (2012). O principal objetivo do processo é recuperar valor ou realizar um
descarte adequado, ou até mesmo um reaproveitamento do produto.
Porém, tudo envolve processos e métodos. Não basta apenas ter uma ideia; toda
uma estrutura tem de ser preparada para que o resultado seja satisfatório e para que as
perdas durante o processo sejam reduzidas. Além disso, trata-se de um investimento, que
gera custo, mas que também pode e deve gerar lucro; o contrário, não seria útil para
qualquer organização.
1.1 Objetivo geral
O estudo tem como propósito investigar o assunto Logística Reversa, tendo como
objetivo principal verificar se o processo é viável para a maioria das empresas, levando em
consideração aspectos financeiros, de infraestrutura e mercadológicos. Para que isso seja
respondido, é necessário alcançar os objetivos específicos do trabalho, que abrangem todo
o processo. Dessa forma, o tema do trabalho será definido como “Logística Reversa: o
reverso da cadeia produtiva”.
1.2 Objetivos específicos
Inicialmente é necessário identificar todos os passos do processo, analisando custos,
tempos, recursos empregados, entre outros. Além de toda a análise do processo em si, para
saber se uma empresa pode adotá-lo é preciso estudar quais as condições que a mesma
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tem para inicia-lo e aguardar o período de experiência, ou seja, é importante saber se a
organização possui condições físicas e financeiras para implementar esse novo processo e
aguardar os resultados e consequências.
1.3 Justificativas
A escolha do tema foi baseada na crescente preocupação que a humanidade tem
sobre o meio ambiente devido às constantes transformações que este vem sofrendo e
manifestando através das mudanças climáticas (temperaturas extremamente altas ou
baixas; estações desreguladas; longos períodos de seca; entre outros). A conscientização,
que se faz presente em todos os lugares, também se pode e deve-se encontrar dentro das
empresas, e uma dessas formas é através da Logística Reversa, que permite a recuperação
ou a reutilização de produtos finais, que nada mais são do que matérias primas
transformadas. Dessa forma, espera-se que a contribuição desse estudo auxilie o mundo
acadêmico a um novo olhar perante a atual realidade.
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2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE LOGÍSTICA REVERSA
2.1 Visão geral
A globalização trouxe para a humanidade conceitos que antes não existiam. Para as
empresas de hoje, desenvolvimento sustentável, reuso, reciclagem e reaproveitamento são
expressões que já fazem parte do quadro organizacional. Elas aparecem em metas,
objetivos, análises e, com isso, se tornaram rotina para as empresas. Antigamente, a
preocupação com o produto e seu ciclo de vida era refletida somente sobre a logística e sua
cadeia de suprimentos, sendo que agora os estudos sobre a vida útil e a necessidade de
recolhimento do que sobrou do produto após a sua vida útil é algo quase que indispensável.
Os sinais da natureza geraram a conscientização da sociedade, diante da escassez
de recursos naturais, do aquecimento global, da extinção da fauna e da flora, do surgimento
de doenças climáticas (devido às alterações no clima mundial e nas estações do ano), entre
outros indícios de que o ser humano precisava voltar os olhos para o meio ambiente. A
conscientização também deveria estar presente nas empresas, pois os seus resíduos são
eliminados no ambiente e seus produtos, após um período de uso e desgaste natural,
também precisam de um descarte adequado.
Neste contexto, a Logística Reversa surgiu como um novo modelo de gestão de
negócios, que considera os impactos ambientais, sociais e econômicos. Vale lembrar que
com as constantes mudanças no mercado, a acentuada redução de ciclo de vida e o
frequente lançamento de novos produtos, as empresas cada vez mais buscam aumentar a
sua competitividade. Com isso, a inovação dos produtos está sempre em pauta e, como
num ciclo, o descarte dos resíduos produzidos assim como o pós-consumo do bem
adquirido, designam novas funções aos envolvidos em toda a cadeia, desde o produtor até o
consumidor final.
Para algumas empresas, a Logística Reversa está diretamente ligada à
responsabilidade ambiental. De certo modo, devido ao alto grau de instrução da sociedade
mundial perante a realidade do meio ambiente, essa ligação está correta. Mas as empresas
vão além e, como será mostrado adiante, muitas delas fazem uso desse recurso para
promover a sua imagem, isto é, como forma de marketing, para atrair clientes através de
uma questão mundial, a sustentabilidade.
O conceito de sustentabilidade se acentuou quando inúmeras questões ambientais
começaram a serem abordadas referente à problemas no ecossistema. Desde então, a
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legislação ambiental se fortificou e alguns problemas ligados ao ambientalismo tiveram suas
leis definidas, como por exemplo, a proibição legal do desmatamento. A consciência
ambiental, portanto, tomou grandes proporções e as empresas também tiveram sua dose de
envolvimento. A logística reversa assume o seu papel nesse quadro, atuando principalmente
no descarte e no pós-consumo de produtos.
2.2 Histórico ambiental
2.2.1 Impactos ambientais
Branco (1997) define impacto ambiental como uma espécie de “trauma ecológico”
que se segue ao choque causado por uma ação ou obra humana em desarmonia com as
características e o equilíbrio do meio ambiente. Dessa forma, entende-se que todo impacto
ambiental tende a ser uma ação causadora de perdas e danos ao ecossistema. O autor
afirma também que os impactos ambientais podem ser causados acidentalmente por
fenômenos naturais, a exemplo dos raios, que podem atingir árvores e provocar incêndios
de grandes proporções.
Durante a evolução do ser humano, o principal objetivo do desenvolvimento
tecnológico foi o de dominar a natureza e se libertar da estreita dependência que obriga
todas as demais espécies de seres vivos a apenas viver onde o clima lhes seja agradável,
onde haja alimento, um local para abrigo e construção de ninhos, e outras condições
essenciais à sobrevivência.
2.2.2 Principais leis de proteção ambiental no Brasil
Segundo MACHADO (2014), as principais leis de proteção ambiental no Brasil são:
· Lei da Ação Civil Pública – número 7.347 de 24/07/1985: lei de interesses difusos,
trata da ação civil publica de responsabilidades por danos causados ao meio
ambiente, ao consumidor e ao patrimônio artístico, turístico ou paisagístico.
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· Lei dos Agrotóxicos – número 7.802 de 10/07/1989: a lei regulamenta desde a
pesquisa e fabricação dos agrotóxicos até sua comercialização, aplicação, controle,
fiscalização e também o destino da embalagem.
Exigências impostas:
- obrigatoriedade do receituário agronômico para venda de agrotóxicos ao
consumidor;
- registro de produtos nos Ministérios da Agricultura e da Saúde;
- registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA);
- o descumprimento desta lei pode acarretar multas e reclusão.
· Lei da Área de Proteção Ambiental – número 6.902 de 27/04/1981: lei que criou as
“Estações Ecológicas“, áreas representativas de ecossistemas brasileiros, sendo que
90 % delas devem permanecer intocadas e 10 % podem sofrer alterações para fins
científicos. Foram criadas também as “Áreas de Proteção Ambiental” ou APAS, áreas
que podem conter propriedades privadas e onde o poder público limita as atividades
econômicas para fins de proteção ambiental.
· Lei das Atividades Nucleares – número 6.453 de 17/10/1977: dispõe sobre a
responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos
relacionados com as atividades nucleares. Determina que se houver um acidente
nuclear, a instituição autorizada a operar a instalação tem a responsabilidade civil
pelo dano, independente da existência de culpa. Em caso de acidente nuclear não
relacionado a qualquer operador, os danos serão assumidos pela União. Esta lei
classifica como crime produzir, processar, fornecer, usar, importar ou exportar
material sem autorização legal, extrair e comercializar ilegalmente minério nuclear,
transmitir informações sigilosas neste setor, ou deixar de seguir normas de
segurança relativas à instalação nuclear.
· Lei de Crimes Ambientais – número 9.605 de 12/02/1998: reordena a legislação
ambiental brasileira no que se refere às infrações e punições. A pessoa jurídica,
autora ou co-autora da infração ambiental, pode ser penalizada, chegando à
liquidação da empresa, se ela tiver sido criada ou usada para facilitar ou ocultar um
crime ambiental. A punição pode ser extinta caso se comprove a recuperação do
dano ambiental. As multas variam de R$ 50,00 a R$ 50 milhões de reais.
· Lei da Engenharia Genética – número 8.974 de 05/01/1995: esta lei estabelece
normas para aplicação da engenharia genética, desde o cultivo, manipulação e
transporte de organismos modificados, até sua comercialização, consumo e
liberação no meio ambiente. A autorização e fiscalização do funcionamento das
atividades na área e da entrada de qualquer produto geneticamente modificado no
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país é de responsabilidade dos Ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da
Agricultura. Toda entidade que usar técnicas de engenharia genética é obrigada a
criar sua Comissão Interna de Biossegurança, que deverá, entre outros, informar
trabalhadores e a comunidade sobre questões relacionadas à saúde e segurança
nesta atividade.
· Lei da Exploração Mineral – numero 7.805 de 18/07/1989: esta lei regulamenta as
atividades garimpeiras. Para estas atividades é obrigatória a licença ambiental
prévia, que deve ser concedida pelo órgão ambiental competente. Os trabalhos de
pesquisa ou lavra, que causarem danos ao meio ambiente são passíveis de
suspensão, sendo o titular da autorização de exploração dos minérios responsável
pelos danos ambientais. A atividade garimpeira executada sem permissão ou
licenciamento é crime.
· Lei da Fauna Silvestre – número 5.197 de 03/01/1967: a lei classifica como crime o
uso, perseguição, apanha de animais silvestres, caça profissional, comércio de
espécies da fauna silvestre e produtos derivados de sua caça, além de proibir a
introdução de espécie exótica (importada) e a caça amadorística sem autorização do
IBAMA. Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis em
bruto.
· Lei das Florestas – número 4.771 de 15/09/1965: determina a proteção de florestas
nativas e define como áreas de preservação permanente (onde a conservação da
vegetação é obrigatória) uma faixa de 30 a 500 metros nas margens dos rios, de
lagos e de reservatórios, além de topos de morro, encostas com declividade superior
a 45 graus e locais acima de 1.800 metros de altitude. Também exige que
propriedades rurais da região Sudeste do país preservem 20 % da cobertura
arbórea, devendo tal reserva ser averbada em cartório de registro de imóveis.
· Lei do Gerenciamento Costeiro – número 7.661 de 16/05/1988: define as diretrizes
para criar o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, ou seja, define o que é zona
costeira como espaço geográfico da interação do ar, do mar e da terra, incluindo os
recursos naturais e abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. Permite aos
estados e municípios costeiros instituírem seus próprios planos de gerenciamento
costeiro, desde que prevaleçam as normas mais restritivas. Este gerenciamento
costeiro deve obedecer as normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA ).
· Lei da criação do IBAMA – número 7.735 de 22/02/1989: criou o IBAMA,
incorporando a Secretaria Especial do Meio Ambiente e as agências federais na área
de pesca, desenvolvimento florestal e borracha. Ao IBAMA compete executar a
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política nacional do meio ambiente, atuando para conservar, fiscalizar, controlar e
fomentar o uso racional dos recursos naturais.
· Lei do Parcelamento do Solo Urbano – número 6.766 de 19/12/1979: estabelece as
regras para loteamentos urbanos, proibidos em áreas de preservação ecológicas,
naquelas onde a poluição representa perigo à saúde e em terrenos alagadiços
· Lei Patrimônio Cultural – decreto-lei número 25 de 30/11/1937: lei que organiza a
Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, incluindo como patrimônio
nacional os bens de valor etnográfico, arqueológico, os monumentos naturais, além
dos sítios e paisagens de valor notável pela natureza ou a partir de uma intervenção
humana. A partir do tombamento de um destes bens, ficam proibidas sua demolição,
destruição ou mutilação sem prévia autorização do Serviço de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, SPHAN.
· Lei da Política Agrícola – número 8.171 de 17/01/1991: coloca a proteção do meio
ambiente entre seus objetivos e como um de seus instrumentos. Define que o poder
público deve disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da
flora; realizar zoneamentos agroecológicos para ordenar a ocupação de diversas
atividades produtivas, desenvolver programas de educação ambiental, fomentar a
produção de mudas de espécies nativas, entre outros.
· Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – número 6.938 de 17/01/1981: é a lei
ambiental mais importante e define que o poluidor é obrigado a indenizar danos
ambientais que causar, independentemente da culpa. O Ministério Público pode
propor ações de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, impondo ao
poluidor a obrigação de recuperar e/ou indenizar prejuízos causados. Esta lei criou a
obrigatoriedade dos estudos e respectivos relatórios de Impacto Ambiental.
· Lei de Recursos Hídricos – número 9.433 de 08/01/1997: institui a Política Nacional
de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Define a água
como recurso natural limitado, dotado de valor econômico, que pode ter usos
múltiplos (consumo humano, produção de energia, transporte, lançamento de
esgotos). A lei prevê também a criação do Sistema Nacional de Informação sobre
Recursos Hídricos para a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de
informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.
· Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição – número 6.803 de
02/07/1980: atribui aos estados e municípios o poder de estabelecer limites e
padrões ambientais para a instalação e licenciamento das industrias, exigindo o
Estudo de Impacto Ambiental.
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2.2.3 ISO 140000
O termo Gestão da Qualidade engloba diversos modelos disponíveis na literatura,
cada qual com uma receita diferente de implementação. Segundo Carvalho (2012), os
primeiros modelos com visão atual datam 1980, denominados de Gestão da Qualidade
Total. Um modelo típico dessa era apresenta um conjunto de características, tais como:
visão estratégica da qualidade, comprometimento da alta administração; foco no cliente;
participação dos trabalhadores; gestão da cadeia de fornecedores, gerenciamento de
processos, além da abordagem de melhoria contínua, apropriando-se também do foco típico
das eras de inspeção e controle, que á a gestão por fatos e dados da qualidade.
Embora na sua origem os sistemas normalizados da área de qualidade tenham sido
elaborados por governos e organizações militares, este tipo de norma rapidamente se
difundiu no ambiente corporativo. Esta difusão esteve ligada, ao aumento da complexidade
das cadeias de produção, ao forte crescimento do outsourcing e a globalização, fatores que
influenciaram as relações cliente-fornecedor. A primeira versão da ISO (International
Organization for Standardization), a série 9000, denominada Sistemas de Garantia da
Qualidade, surgiu em 1987, em meio à expansão da globalização, cujo foco era a garantia e
não a gestão da qualidade. A ISO 9000 difundiu-se rapidamente, tornando-se um requisito
de ingresso em muitas cadeias de produção. Em 2000, foi feita a terceira revisão da série
ISO 9000:2000, que trouxe uma visão de Gestão da Qualidade, introduzindo elementos da
gestão por processos, gestão por diretrizes e foco no cliente. No caminho aberto pelas
normas da série ISO 9000, surgiram outras normas de sistemas de gestão, as normas ISO
14000, publicada em 1996, de gestão ambiental (CARVALHO, 2012).
Parte das empresas brasileiras já busca em ritmo acelerado a incorporação de
"tecnologias limpas" em suas linhas de produção, ações que refletem um resultado da ISO
14000, que contempla um agrupamento de normas técnicas, com base referencial em
métodos e análises, capazes de garantir que um determinado agente produtor de bens ou
serviços, utiliza-se de processos gerenciais e procedimentos específicos que visam a
redução das possibilidades de ocorrência de danos ambientais. Possuir o rótulo de produto
ISO 14000, bem como a certificação sobre o processo produtivo, não isenta a alta
administração das empresas, de arcarem com a responsabilidade de assegurar esforços
necessários para implantação dos requisitos da norma, e a adoção de controles de
coordenação ambiental de acordo com a legislação ambiental mandatória.
Segundo Slack (2009), o grupo de padrões ISO 14000 abrange as seguintes áreas:
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· Sistemas de Gerenciamento Ambiental (14001, 14002, 14004).
· Auditoria Ambiental (14010, 14011, 14012).
· Avaliação de Desempenho Ambiental (14031).
· Rotulação Ambiental (14020, 14021, 14022, 14023, 14024, 14025).
· Avaliação do Ciclo de Vida (14040, 14041, 14042, 14043).
2.3 Kanban
Segundo Takt Time (2010), o kanban é uma ferramenta de controle do fluxo de
materiais no chão de fábrica. Trata-se de um sinal visual que informa ao operário o que,
quanto e quando produzir. Sempre de trás para frente, puxando a produção. Ele também
evita que sejam feitos produtos não requisitados, eliminando perdas por estoque e por
superprodução. Os sinais visuais podem variar, desde a sua forma mais clássica que é um
cartão, até uma forma mais abstrata como o kanban eletrônico. O fundamental é que o
kanban transmita a informação de forma simples e visual e que suas regras sejam sempre
respeitadas. Essas regras são:
· O processo subsequente deve retirar, no processo precedente, os produtos
necessários nas quantidades certas e no tempo correto;
· O processo precedente deve produzir seus produtos nas quantidades
requisitadas pelo processo subsequente;
· Nenhum item pode ser produzido ou transportado sem um kanban;
· Produtos com defeito não devem ser enviados ao processo seguinte;
· O número de kanbans deve ser minimizado continuamente.
Resumidamente pode-se considerar que as funções do kanban são:
· Fornecer informação sobre apanhar ou transportar.
· Fornecer informação sobre a produção.
· Impedir a superprodução e transporte excessivo.
· Servir como uma ordem de fabricação afixada às mercadorias.
· Impedir produtos defeituosos pela identificação do processo que os produz.
· Revelar os problemas existentes e manter o controle dos estoques.
22
Empresas diferentes possuem necessidades diferentes e produzem de modo
diferente, seus produtos. É necessário que os kanbans estejam adaptados às realidades
locais de onde estão sendo utilizados e variem a sua forma, cor e método de uso.
2.4 Cadeia de suprimentos
A cadeia de suprimentos trata-se do conjunto de atividades funcionais (transporte,
controle de estoques, entre outras) que se repetem várias vezes ao longo do canal pelo qual
matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais se agrega valor
ao consumidor, como define Ballou (2004). Considerando que as fontes de matérias-primas,
fábricas e pontos de venda em geral não possuem a mesma localização e o canal
representa uma sequência de etapas de produção, as atividades logísticas podem ser
repetidas várias vezes até um produto chegar ao mercado, sendo esse o canal de
distribuição direto (CDD).
Para Fleury (2000), a cadeia de suprimentos ou SCM (do inglês Supply Chain
Management, o gerenciamento da cadeia de suprimentos) é uma abordagem sistêmica de
razoável complexidade, pois necessita de uma alta interação entre as partes envolvidas,
exigindo a consideração simultânea de vários “perde-e-ganha” (do inglês trade-offs). Isto
significa que muitas vezes será necessário escolher algo, uma ação, em detrimento de
outras. O conceito de Supply Chain é mais do que uma simples extensão da logística
integrada, pois inclui um conjunto de processos de negócios que em muito ultrapassa as
atividades e processos relacionados diretamente com a logística integrada. Ainda segundo
Fleury (2000), existe uma forte necessidade de integração de processos na cadeia de
suprimentos, pois as atividades precisam ter um eficiente funcionamento para que nenhum
procedimento seja prejudicado. O desenvolvimento de novos produtos é talvez o mais óbvio
deles, pois diversos aspectos do negócio deveriam ser incluídos nesta atividade, tais como:
· Marketing: para estabelecer o conceito;
· Pesquisa e desenvolvimento: para a formulação do produto;
· Fabricação e logística: para executar as operações;
· Finanças: para a estruturação do financiamento.
Compras e desenvolvimento de fornecedores são outras duas atividades que não
podem ficar esquecidas, mas que extrapolam as funções tradicionais da logística e que são
23
classificadas como críticas para a implementação de um sistema de gerenciamento da
cadeia de suplementos eficiente. Um exemplo simples de Supply Chain Management pode
ser visto na figura 1 (FLEURY, 2000).
Figura 1. Fluxo Supply Chain Management. Fonte: Fleury (2000).
Para Arnold (2012), há três fases bem definidas durante o fluxo de materiais.
Inicialmente, matérias-primas fluem para uma empresa fabricante com base em um sistema
de suprimento físico. Em um segundo plano, elas são processadas pela produção e, por fim,
os produtos acabados são distribuídos para os clientes finais por meio de um sistema de
distribuição física, segundo a demanda dos mesmos. Ressalta-se que as cadeias possuem
vários fornecedores e clientes, e não apenas um. Assim, enquanto houver essa cadeia de
relacionamentos, fornecedores-clientes, todos os envolvidos farão parte da mesma cadeia
de suprimentos.
Os principais fatores das cadeias são segundo Arnold (2012):
· Objetivo da cadeia de suprimento: incluir todas as atividades e processos
necessários para fornecer um produto ou serviço a um consumidor final;
· Qualquer quantidade de empresas pode estar relacionada com a cadeia de
suprimento;
· Um cliente pode ser um fornecedor de outro cliente de modo que a cadeia total
possua muitas relações do tipo fornecedor-cliente;
· Via de regra o sistema de distribuição acontece diretamente do fornecedor para o
cliente, porém, dependendo do tipo de produto e do público alvo, a distribuição
24
contará com o auxílio de distribuidores intermediários, como por exemplo
atacadistas, depósitos e varejistas;
· Fluxo comum de atividades: os produtos ou serviços normalmente fluem do
fornecedor para o consumidor e a demanda e projeto dos mesmos tendem a fluir de
um cliente para o fornecedor.
Esses elementos básicos variam de empresa para empresa, dependendo do seu
tamanho, do ramo produtivo, da localização, do mercado onde está inserida, entre outros
fatores, mas a base será sempre a mesma: suprimento, produção e distribuição. A
importância de cada um desses fatores dependerá dos custos envolvidos em cada um dos
seus elementos.
Acompanhar toda a trajetória dos materiais ao longo dos processos produtivos,
desde o fornecedor até a produção e por fim aos clientes, é a atividade do Supply Chain
Management, chamada de administração da cadeia de suprimentos. Para Gaither e Frazier
(2006), administrar a cadeia de suprimentos é referir-se a todas as funções administrativas
relacionadas com o fluxo de materiais dos fornecedores diretos da empresa até seus
clientes diretos, incluindo os departamentos de compras, armazenagem, inspeção,
produção, manuseio de materiais, expedição e distribuição. Dessa forma, a administração
da cadeia de suprimentos recebe outros dois nomes: administração de materiais e
administração logística.
Entender o funcionamento da cadeia de suprimentos ajuda a compreender como se
dá o trabalho da logística reversa, que acontece apenas após todo esse processo. Como
uma teia, todas as atividades possuem relação, afinal de contas todas devem estar
relacionadas com os objetivos e metas da organização.
2.4.1 SCOR: Supply Chain Operations Reference
O modelo de referência SCOR (Supply Chain Management Operations Reference),
em português, Modelo de Referência das Operações na Cadeia de Suprimentos foi
construído para representar, analisar e configurar a Supply Chain (SC), tendo como pilares
básicos: planejar, abastecer, produzir, entregar e retornar, com o intuito de padronizar os
processos ao longo da cadeia de suprimentos. O modelo foi desenvolvido pelo Supply Chain
Council (SCC). O modelo foi criado por duas empresas privadas de pesquisa e consultoria
dos EUA, a Pitiglio Rabin Todd & McGrath (PRTM) e a Advanced Manufacturing Research
25
(AMR) em 1996. No início o modelo foi testado por um grupo de administradores que
trabalhavam em empresas líderes nos EUA. No mesmo ano, outras empresas integram o
grupo e formaram o Supply Schain Council (SCC), uma empresa privada com sede nos
EUA. Após ser novamente testado e ajustado em diferentes segmentos da indústria, tornou-
se em 1997, o modelo referência apoiado e indicado pelo SCC (STEWART, 1997).
De acordo com Stewart (1997,p. 63),
o modelo foi posicionado pelo SCC para se tornar padrão da indústria com o intuito de descrever, padronizar e melhorar os processos operacionais efetivos da cadeia de suprimentos. Ainda continua o autor, o modelo permite às empresas: “avaliar seus processos de forma eficaz; comparar seu desempenho com outras empresas de seu segmento e de outros segmentos da indústria; buscar vantagens competitivas específicas; uso de benchmarking e melhores práticas de informação para priorizar suas atividades; quantificar os benefícios da implementação e mudança; identificar ferramentas de software que melhor se adaptem ao seu processo específico”.
O SCOR emprega o conceito de processo de negócio, mas a partir da edificação de
um modelo de referência (RODRIGUES et al. 2006). O modelo de referência integra os
conceitos de reengenharia de processos, benchmarking e medição de processos em uma
estrutura multifuncional (SCC, 2006), e definidos por Lambert (2006) e Morais (2008) como:
· Reengenharia de processos de negócios, técnica utilizada para “capturar” o estado
natural de processos (“as-is”, que significa “como-é”), e a partir dele possibilitar o
desenho do estado futuro desejado (“to-be”, que significa “como-ser ou como-ficar”);
· Benchmarking, utilizado para quantificar a performance operacional de empresas
similares e estabelecer valores objetivos para indicadores de performance internos;
· Análise de melhores práticas, que possibilita identificar práticas gerenciais e
soluções de software utilizadas com sucesso em companhias similares,
consideradas “top performers” (referência de sucesso).
O modelo SCOR é considerado o primeiro modelo de referência desenvolvido para
descrever, comunicar, avaliar e melhorar o desempenho da gestão da cadeia de
suprimentos. O Quadro 1 apresenta o escopo e estrutura de abrangência do modelo.
26
Quadro 1. Escopo e estrutura do modelo SCOR.
Limites Do fornecedor de seu fornecedor para o cliente do seu cliente A
bra
ng
e
Todas as interações com os clientes, desde a entrada do pedido.
Todos os produtos (material e serviço) Todas as operações (fornecedor x fornecedor (FF) e cliente x cliente (CC)), incluindo: equipamentos, peças de reposição, produto a granel, software, etc. Todas as interações de mercado, a partir da compreensão da demanda agregada para o cumprimento de cada pedido.
Não
des
crev
e Cada processo de negócio ou atividade, incluindo:
1. Vendas e marketing ( geração da demanda)
2. Investigação e desenvolvimento de tecnologia
3. Desenvolvimento do produto
4. Alguns elementos de pós-vendas de suporte ao cliente
Não
ab
ord
a Assume, mas não aborda explicitamente:
1. Treinamento
2. Qualidade
3. Tecnologia de informação (TI)
4. Administração/governança (SCM) Fonte: Adaptado de Supply-Chain Council (2006)
2.5 Ciclo de vida do produto
Todo produto apresenta um ciclo de existência. De modo geral, espera-se que os
produtos sigam um padrão de volume de vendas com o passar do tempo, que normalmente
é dividido em quatro etapas:
· Lançamento (ou introdução);
· Crescimento;
· Maturação;
· Declínio.
Segundo Ballou (2004), os produtos não geram maior volume de vendas logo após o
seu lançamento, e também não mantêm um volume de pico de vendas indefinidamente. Isto
é, há uma fase esperada de alto volume de consumo (vendas), mas essa fase, segundo um
padrão, não ocorre tão cedo, referente ao lançamento do produto, e nem dura infinitamente,
apenas por um período, considerado vital. Dessa forma, as estratégias de distribuição física
variam em cada um desses estágios.
27
O estágio de lançamento representa a entrada de um novo produto no mercado
consumidor. Seria a fase de conhecimento do público em relação ao novo apresentado. As
vendas não possuem altos índices, pois a aceitação do produto ainda não é generalizada.
Neste caso, não é necessário investir em estoques do produto, porque o futuro ainda é
incerto, não se sabe se haverá procura ou não. Assim, a estratégia de distribuição é
cautelosa, os estoques são limitados e restritos a um número relativamente pequeno de
locais.
A fase de crescimento surge uma vez que o produto é bem aceito pelo mercado em
que está inserido. Se o produto for bem aceito, as vendas tendem a crescer gradativamente.
Essa fase, entretanto, apresenta certa complicação em relação ao planejamento da
distribuição física, conforme Ballou (2004). É comum ainda não se dispor de um histórico de
vendas pelo qual orientar o melhor nível de estocagem em determinados pontos.
Consequentemente, não se tem uma base para saber o número de locais de estocagem a
serem utilizados. A distribuição, portanto, torna-se dependente da opinião e das previsões
do controle administrativo durante esse momento de expansão mercadológica. Entretanto,
se as vendas estão aumentando, a disponibilidade do produto tende a aumentar de maneira
rápida no meio onde estiver inserido e, assim, as empresas atendem ao chamado “boom” de
vendas, que se trata daquele momento em que os clientes tem maior interesse em
consumir; quando fala-se que o produto “está em alta”.
Segundo Ballou (2004), o estágio de crescimento pode ser, em alguns casos, bem
rápido, seguido por um período mais prolongado, chamado, então, de maturação. Nesta
fase, o aumento de vendas costuma ser mais lento ou, até mesmo, mantem-se estabilizado
em um nível de pico. Para a produção, esse momento é de menor chance de variação, pois
o volume a ser produzido não está mais sujeito à mudanças rápidas, assim, pode ser
acomodado aos padrões de distribuição de produtos existentes, causando menos momentos
de indecisão e podendo se firmar em bases mais sólidas. Nessa fase, o produto tem uma
ampla distribuição, alocando um número maior de pontos de estocagem, com melhor
controle sobre a disponibilidade do produto ao longo do mercado.
Em determinado momento, o volume de vendas tende a diminuir para a maioria dos
produtos como resultado de avanços tecnológicos, da concorrência direta e indireta
(dependendo do tipo de produto ofertado), ou do esgotamento do interesse do público alvo.
Se a situação mudou, os modos de distribuição precisam mudar também, para se adaptar.
Para manter uma distribuição eficiente, os padrões de movimentação de produto e seu
respectivo armazenamento são reajustados de maneira que, caso ocorram demandas
inéditas, não haverá problemas de grandes proporções para atendê-las. O número de
pontos de estocagem provavelmente terá uma redução, porém estarão mais centralizados,
para fácil controle.
28
Figura 2. Curva generalizada do ciclo de vida do produto. Fonte: Ballou (2004); Slack (2009).
A figura 2 apresenta, de modo genérico como é a curva do ciclo de vida de um
produto, em função do volume de vendas pelo decorrer do tempo, com as suas fases
definidas. Para Ballou (2004) o fenômeno de ciclo de vida do produto tem influência sobre a
estratégia de distribuição. Os profissionais que atuam diretamente em logística precisam
estar sempre atualizados sobre o estágio de vida do produto, com a finalidade de adaptar os
padrões da distribuição a cada estágio, visando o melhor rendimento com menor custo
relacionado.
Stock (1998) relata que alguns fatores aumentam o tempo de ciclo de vida dos
produtos. São eles: controles de entrada ineficiente, falta de infraestrutura dedicada ao fluxo
reverso e falta de procedimentos para tratar as exceções ou resíduos de produtos de baixa
saída ou elevado valor agregado.
Para Leite (2003), a análise do ciclo de vida útil dos produtos, considerando o
impacto ambiental gerado desde a extração das matérias-primas para suas fabricações, de
alguma maneira já contabiliza os recursos e impactos causados desde o transporte até a
distribuição direta e a reversa que acompanha a disposição final, conhecida como “análise
do produto do berço ao túmulo”, isto é, acompanhar o produto desde quando este ainda só
existe na forma de matéria-prima (associação à palavra berço), até o seu fim completo, sua
morte (associação à palavra túmulo). Além disso, pode-se considerar que a Logística
Reversa se baseia em três aspectos:
29
· Do ponto de vista logístico, o ciclo de vida de um produto não se encerra com a
sua entrega ao cliente. Produtos que se tornam obsoletos, danificados ou não
funcionam devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente
descartados, reparados ou reaproveitados;
· Do ponto de vista financeiro, existe o custo relacionado ao gerenciamento do
fluxo reverso, que se soma aos custos de compra de matéria-prima, de
armazenagem, transporte e estocagem e de produção, já tradicionalmente
considerados na Logística; e
· Do ponto de vista ambiental, devem ser considerados e avaliados, os impactos
do produto sobre o meio ambiente durante toda sua vida. Este tipo de visão
sistêmica é importante para que o planejamento da rede logística envolva todas
as etapas do ciclo do produto.
2.6 Classificação dos produtos
Na definição de Juran (1989), um produto é resultado de alguma atividade ou
procedimento, sendo composto por uma fase física e outra intangível. A parte física é aquela
que diz respeito às características físicas do produto, como por exemplo, peso, volume,
formato, além de aspectos de desempenho e durabilidade. A outra parte, intangível, trata-se
do suporte pós-vendas, a reputação da empresa, a comunicação destinada a proporcionar
informação correta e atualizada, quanto à flexibilidade na adaptação as necessidades
individuais dos clientes ou mesmo a disposição de reconhecer e retificar erros (CARLSSON
E LJUNDBERG, 1995). Portanto ao ofertar um produto, a empresa está lançando
características físicas e de serviços.
Ao classificar um produto, tem-se uma noção de qual estratégia logística adotar,
assim como compreender por que, pra quem e como os produtos são armazenados e
distribuídos. Uma classificação tradicional dos produtos é (BALLOU, 2004):
· Produtos de consumo;
· Produtos industriais.
Os produtos de consumo são aqueles destinados aos consumidores finais. Através
de levantamentos feitos por especialistas em marketing, percebeu-se algumas diferenças
30
básicas no comportamento de consumidores, que definem o tipo de produto e o tipo de local
onde preferem comprar. Assim, os produtos de consumo foram divididos em:
· Produtos de conveniência:
Os produtos de conveniência, segundo Ballou (2004) são os bens e serviços
adquiridos rotineiramente com frequência e sem grandes comparações. Um exemplo seriam
os serviços bancários e como produto o cigarro, pois precisa de ampla distribuição e
altíssima quantidade de pontos de venda. Os custos de distribuição tendem a ser altos e,
consequentemente, precisam ser de fácil acesso, aumentando o seu potencial de vendas.
Isso justificaria a quantidade inúmera de pontos onde podem ser encontrados. Já em
relação aos serviços dessa espécie, a disponibilidade e o acesso precisam ser considerados
facilitadores para incentivar os clientes.
Um exemplo prático de produtos de conveniência, segundo Ballou (2004) são as
máquinas automáticas que vendem refrigerantes. Normalmente, essas máquinas estão
instaladas em locais de maior aglomeração de pessoas, sendo sucesso de vendas em
qualquer lugar do mundo.
· Produtos de concorrência:
Os produtos de concorrência são aqueles cujos consumidores se dispõem a
pesquisar antes de adquiri-los. Pesquisam preço (desconto para pagamento à vista,
condições de parcelamento, entre outras opções de pagamento), locais para compra,
disponibilidade de cada local, previsão de entrega, qualidade e desempenho. Só realizam a
compra após uma análise criteriosa. Exemplos típicos seriam: automóveis, móveis
residenciais, eletrodomésticos e planos/atendimento de saúde.
Como a característica desse tipo de produto há a análise dos clientes antes da
compra, essa modalidade apresenta um número de pontos de estocagem
consideravelmente reduzido em relação aos produtos de conveniência (BALLOU, 2004).
Dessa forma, um fornecedor individual pode estocar mercadorias ou oferecer tais serviços
em pontos fixos, reduzindo os custos de distribuição para esses fornecedores e a
distribuição não precisa ser tão ampla.
Na área de serviços, tem-se o exemplo de médicos especializados. Conseguem
concentrar o seu maquinário e ferramentas em um só local, tendo assim o trabalho de uma
equipe especializada.
· Produtos de especialidade:
Produtos de especialidade são aqueles que os clientes estão dispostos a esperar o
tempo que for necessário para poder comprar e, assim, se sacrificam pelos mesmos. Como
31
exemplo pode-se citar automóveis sob encomenda, especialidades culinárias raras ou
serviços de consultoria. Uma vez que esses tipos de produtos e serviços são especiais, a
distribuição centralizada é reduzida, reduzindo consequentemente os custos, em
comparação aos outros tipos de produtos de consumo, conveniência e/ou concorrência.
Um exemplo marcante, segundo Ballou (2004), seria uma palheta de clarineta,
utilizada por músicos. Este “pedaço de bambu seco”, assim considerado por leigos, pode
fazer a diferença entre o sucesso ou o fracasso de um instrumentista. Uma determinada
marca de palheta produz essa raridade e fica no sul da França, sendo distribuída com
exclusividade por uma empresa dos Estados Unidos. Portanto, quando há uma demanda, os
músicos devem encomendar ou viajar até o local da fábrica para comprar diretamente lá.
Os produtos industriais são aqueles dirigidos para indivíduos ou organizações que
deles fazem uso na elaboração de outros bens ou serviços (BALLOU, 2004). Dessa forma,
estes são classificados de acordo com a intensidade de sua entrada no processo produtivo.
Exemplos:
· Produtos que fazem parte do produto final: matérias-primas e componentes;
· Produtos usados no processo de fabricação: instalações e equipamentos;
· Artigos que não entram diretamente no processo: serviços de negócio e
suprimentos.
Dependendo da classificação adotada para os produtos industriais, os mesmos em
relação às características atribuídas podem ser classificados com um dos tipos de produtos
de consumo. Tudo varia em função do contexto em que o produto ou serviço encontra-se
inserido.
2.7 Logística reversa
O termo “logística” começou a ser utilizado desde os tempos bíblicos, quando os
líderes militares precisavam transportar tropas, armazenar alimentos e armamentos. Seu
uso continuou até durante os períodos das grandes guerras mundiais (Primeira e Segunda
Guerras Mundiais), quando diante dos avanços tecnológicos e da necessidade de suprir os
locais destruídos pela guerra, a palavra foi adotada pelas empresas.
32
Segundo Avozani e Santos (2010), no início de 1991, a logística e a estratégia
competitiva, demonstraram sua importância. Como preparação para a Guerra do Golfo, os
Estados Unidos e seus aliados tiveram que deslocar grandes quantidades de materiais a
grandes distâncias, com tempo curto. Meio milhão de pessoas e mais de meio milhão de
materiais e suprimentos tiveram que ser transportados através de 12.000 quilômetros por via
aérea, mais 2,3 milhões de toneladas de equipamentos transportados por mar em questão
de meses, usando os recursos da logística. Ao longo da história do homem as guerras têm
sido ganhas e perdidas através do poder e da capacidade da logística, ou a falta deles.
Enquanto os generais dos tempos remotos compreenderam o papel crítico da logística,
estranhamente, apenas num passado recente é que as organizações empresariais
reconheceram o impacto vital que o gerenciamento logístico pode ter na obtenção da
vantagem competitiva. Em parte, deve-se esta falta de reconhecimento ao baixo nível de
compreensão dos benefícios da integração logística.
Para Gaither e Frazier (2006), a logística geralmente se refere à administração do
movimento de materiais dentro da fábrica, ao embarque de materiais que chegam aos
fornecedores e ao embarque de produtos que saem para os clientes. Assim, a palavra
“logística” sempre esteve associada ao modo de armazenar e transportar todo e qualquer
tipo de material. Gaither e Fraizer (2006) vão além, associando a logística ao planejamento
dos recursos de distribuição, que se trata da ampliação do planejamento das necessidades
de distribuição a fim de que os recursos-chaves do espaço de armazém, o número de
trabalhadores, o capital e os veículos de transporte sejam supridos nas quantidades certas e
quando necessário para satisfazer as demandas dos clientes. Além disso, todo novo
desenvolvimento afeta a área da logística, estando essa sempre em inovação. O que é
fundamental, portanto, para a logística são os métodos de armazenamento de materiais e
produtos assim que são recebidos dos fornecedores e antes que sejam embarcados para os
clientes.
Entende-se que a logística é um ramo da gestão, cujas atividades estão voltadas
para o planejamento da armazenagem, circulação (por terra, mar e ar) e distribuição de
produtos. Um dos objetivos mais importantes dessa área é criar mecanismos para entregar
os produtos ao destino final, num tempo mais curto possível, reduzindo custos.
Baseando-se nesses conceitos de logística, para Silva e Fragoso (2012) o termo
“logística reversa” aparece relacionando entre si as atividades contidas nos processos de
planejamento, implementação, direcionamento e controle da eficiência e do custo efetivo do
fluxo inverso de matérias primas, estoques em processo, produtos acabados, produtos em
fim de sua vida mercadológica e útil, sucatas, embalagens e resíduos. O tema engloba
também o gerenciamento de produtos retornados para reforma ou reparação (pós-vendas),
devolução, substituição de materiais, remanufatura, reciclagem, reuso de materiais,
33
movimentação e disposição e informações correspondentes do ponto de consumo ao ponto
de origem. O objetivo dessas atividades é a recaptura de valores ainda agregados a esses
itens, efetivo atendimento do pós-vendas, redução de consumo e a destinação final
adequada dos itens “pós-consumo”. As principais diferenças entre a logística tradicional e a
logística reversa podem ser vistas no Quadro 2:
Quadro 2. Diferenças entre a logística convencional e a logística reversa. Aspectos Logística convencional Logística reversa
Previsão Relativamente simples Mais difícil Pontos de distribuição Um a vários Vários a um Qualidade dos produtos Uniforme Não uniforme Embalagem dos produtos Uniforme Não uniforme Destino/itinerário Definido Indefinido Opções de disposição Claras Mal definidas Preço Relativamente uniforme Depende de vários fatores Importância da rapidez de disposição
Reconhecida Não é considerada como uma prioridade
Custo de distribuição Facilmente identificável Mais difícil de identificar Gestão de estoques Coerência Incoerência Ciclo de vida do produto Fácil a administrar Mais complexo a administrar Negociação Direta entre as partes Complicada Métodos de marketing Bem conhecidos Complicados por vários
fatores Visibilidade do processo Mais transparente Menos transparente
Fonte: Adaptada: Lambert e Riopel (2003).
Silva e Fragoso (2012) afirmam que a logística reversa surgiu como um conceito de
remanejamento de materiais e resíduos, cujo um dos principais objetivos é o recolhimento e
a recolocação dos mesmos nos canais de distribuição, podendo assim promover ganhos
econômicos consideráveis, menos desgastes ambientais e agregar maior valor ao produto.
A eficiência em relação ao combate a desperdícios que esse conceito pode trazer eleva
significativamente a lucratividade para as empresas que desejam longevidade. A Figura 3
representa o processo direto e reverso na cadeia de suprimentos.
34
Figura 3. Representação esquemática dos processos logísticos direto e reverso. Fonte: Lacerda (2002).
Segundo Tadeu et. al. (2013), o tema “logística reversa” passou a ser explorado na
década de 1980 de forma mais intensa tanto no meio acadêmico como nos meios
empresarial e público, tratando não só de questões ambientais ou ecológicas, como também
de questões de ordem legal, econômica entre outras.
Um fator mundial contribuiu para a necessidade de se criar um conceito que
cuidasse de descartes e resíduos. O mercado consumidor ao redor do mundo cresceu
disparadamente nas últimas décadas, em função dos investimentos em tecnologias e
proporcionalmente ao interesse da população em novos produtos. O acesso de aquisição de
classes sociais, que antes não tinham crédito para compra (a exemplo do Brasil) aumentou,
e com isso, a vida útil mercadológica dos produtos foi diminuída, pois em um curto período
de tempo, novas versões do mesmo produto são lançadas e consumidas.
Conclui-se que o conceito de logística reversa engloba o conceito tradicional de
logística, inter-relacionando uma série de operações e ações, desde a redução de matérias-
primas primárias até a destinação final correta de produtos, materiais e embalagens com o
seu consecutivo reuso, reciclagem e/ou produção de energia. Em bibliografias pode-se
encontrar os mesmos significados de logística reversa atribuídos aos nomes de “logística
integral” ou “logística inversa”.
Já a logística verde apresenta uma considerável distinção. Tadeu et. al. (2013)
classifica a logística verde como aquela que ocupa-se em compreender e minimizar os
impactos ecológicos gerados pelas atividades logísticas. Entre suas atividades estão:
· Medição do impacto ambiental gerado pelos diversos meios de transportes;
35
· Certificações ISO 14000;
· Redução do consumo de energia;
· Redução do uso de materiais.
Fica, assim, mais fácil identificar que algumas dessas atividades não estão
relacionadas diretamente com as atividades de logística reversa, porém há relação direta ao
se considerar os aspectos de marketing e produção, utilização, reuso, reciclagem, entre
outros.
2.7.1 Importância da logística reversa
A logística contribui para o sucesso das organizações não apenas pelo seu serviço
de entrega dos produtos aos seus clientes, mas também pelo suporte após a sua venda ou
consumo. Portanto, a administração do sistema reverso é utilizada pelas empresas a fim de
obter diversas oportunidades estratégicas, das quais quatro são consideradas como
principais (ROGERS E TIBBEN-LEMBKE, 1999):
· Adequação a questões ambientais: com o crescimento constante do volume de bens
produzidos, gerou-se certa preocupação com o meio ambiente, despertando a
consciência ecológica da população. As empresas que, incentivadas pelas normas
ISO 14000 começaram a se preocupar com os impactos que seus produtos
poderiam causar no meio ambiente, e dessa forma, passaram a destinar os seus
materiais e embalagens descartáveis para a reciclagem. Exemplos desses materiais
e embalagens são: latas de alumínio, sucatas de ferro, caixas de papelão, e garrafas
plásticas. Estes materiais e embalagens deixaram de ser tratados como lixo e
passaram a ser identificados como insumos nos processos produtivos. O objetivo
ecológico da logística reversa é o planejamento de ações empresariais que visam
contribuir com a comunidade através do incentivo à reciclagem de materiais, a
elaboração de projetos para reduzir os impactos ao meio ambiente, entre outras.
· Razões competitivas: uma forma de ganho de vantagem competitiva diante dos
concorrentes é a garantia de políticas liberais de retorno de produtos que fidelizam
os clientes. Chaves e Martins (2005) afirmam que os consumidores estão exigindo
um nível de serviço mais elevado das empresas e estas, como forma de
36
diferenciação e fidelização dos clientes, estão investindo na administração do fluxo
reverso. Dessa forma, as empresas que possuem um processo de logística reversa
bem administrado tendem a se sobressaírem no mercado, uma vez que podem
atender aos seus clientes de forma melhor e diferenciada do que os seus
concorrentes (BARBOSA et. al., 2007). A habilidade de providenciar um retorno
rápido e eficaz dos produtos defeituosos para creditar o usuário é uma dentre as
diversas formas de cativá-lo, dificultando o seu afastamento.
· Redução de custos: o reaproveitamento de materiais e a economia obtida com o seu
retorno fornecem ganhos que estimulam novas iniciativas e esforços em
desenvolvimento e melhoria dos processos de logística reversa. Um exemplo desta
economia é citado por Leite (2003) em relação à reciclagem de latas de alumínio. Ele
afirma que a redução gerada de energia elétrica é de 95%, valendo ressaltar que
esta energia representa 70% do custo de fabricação do alumínio.
· Diferenciação da imagem corporativa: algumas empresas utilizam a logística reversa
estrategicamente, a fim de criar uma boa imagem frente à comunidade onde exerce
suas atividades produtivas, ou seja, estas empresas ficam com a missão de
contribuir para o desenvolvimento da sociedade que as acolhe. O papel de produzir
bens e serviços não é priorizado mais pelas empresas, pois as mesmas tentam
conciliar sua função de produção com a de valorização do homem, meio ambiente e
sociedade. Para tal, o homem investe, cada vez mais, em criação de novas
tecnologias para que se eleve o nível da qualidade de vida das pessoas. Com isso,
as empresas conseguem um aumento do valor da sua marca e muitas vezes de seus
produtos também. O gerenciamento para campanha que trate do retorno de produtos
demanda tempo e dinheiro, porém, eleva o prestígio da empresa perante a
sociedade. Por isso, esse tipo de estudo pode ser utilizado como excelente
ferramenta estratégica de marketing.
2.7.2 PRM: Product Recovery Management
O controle das operações que compõem o fluxo reverso faz parte de uma ferramenta
chamada Administração da Recuperação de Produtos (PRM: Product Recovery
Management). PRM é definida como “o gerenciamento de todos os produtos, componentes
e materiais usados e descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável
legalmente, contratualmente ou por qualquer outra maneira”, segundo Krikke (1998).
37
Algumas de suas atividades são, em parte, similares àquelas que ocorrem no caso de
devoluções internas de itens defeituosos devido a processos de produção não confiáveis.
PRM lida com uma série de problemas administrativos, entre os quais se encontra a
Logística Reversa. O objetivo da PRM é a recuperação, tanto quanto possível, de valor,
econômico e ecológico dos produtos componentes e materiais (KRIKKE, 1998)
As seis áreas principais do PRM são:
· Tecnologia: nesta área estão incluídos desenhos do produto, tecnologia de
recuperação e a adaptação de processos primários;
· Marketing: diz respeito a criação de boas condições de mercado para quem está
descartando o produto e para os mercados secundários;
· Informação: diz respeito à previsão de oferta e demanda, assim como a adaptação
dos sistemas de informação nas empresas;
· Organização: distribui as tarefas operacionais aos vários membros de acordo com
sua posição na cadeia de suprimentos e estratégias de negócios;
· Finanças: inclui o financiamento das atividades da cadeia e a avaliação do fluxo de
retorno;
· Logística Reversa e Administração de Operações: o conceito de Logística Reversa é
considerado recente, surgido na década de 1970, com motivações relacionadas
particularmente a gestão de resíduos e a reciclagem (GONÇALVES-DIAS, 2006).
2.7.3 Implementação da logística reversa
Para a implementação da logística reversa deve-se primeiramente buscar as
parcerias necessárias, como operadores logísticos especializados, empresas de correios,
fornecedores e clientes, através de contratos escritos ou mesmo verbalmente, dependendo
da complexidade das negociações, sem descartar a necessidade de se utilizar os serviços
de um consultor em logística ou mesmo do apoio do Conselho de Logística Reversa do
Brasil (CLRB).
Por ser um projeto que implica em muitas iniciativas e mudanças organizacionais
essenciais para a implementação e efetividade do processo de logística reversa na
companhia, o responsável poderá se deparar com algumas barreiras e resistências, sejam
econômicas, culturais, operacionais, entre outras.
38
Segundo Silva e Fragoso (2012), para adequar e integrar as atividades de logística
reversa com as atividades primárias, as organizações precisam se estruturar e organizar-se,
passando pelas seguintes etapas.
· Análise de possibilidades de mercado para recuperação de produtos:
a) Políticas de retorno para controlar os fluxos reversos de material;
b) Fechar ou abrir o canal reverso;
c) Processos alternativos de recuperação de paletes;
· Examinar a necessidade de uma rede de logística reversa:
d) Definir um critério de desempenho da rede;
· Determinar o grau de integração da logística reversa com a cadeia de
suprimentos regular:
e) Rede de logística reversa dedicada ou integrada;
f) Rede centralizada ou descentralizada;
g) Número de níveis das redes;
h) Recursos dedicados ou recursos comuns à cadeia de suprimentos regular;
i) Definir processos operacionais;
j) Definir necessidade de informação;
k) Estabelecer um desenvolvimento contínuo do canal de logística reversa.
Segundo Silva e Fragoso (2012), a gestão eficiente do fluxo somente é possível em
função de outros fatores importantes:
· Estruturar um centro consolidador de retorno: a criação dessa estrutura acarreta
inúmeras vantagens operacionais, com o objetivo de concentrar todo o
gerenciamento de movimentação, triagem, conserto, seleção e distribuição.
Estabelecer um centro consolidador de retorno traz inúmeras vantagens
operacionais, como a concentração dos seus recursos operacionais e técnicos,
que irão separar e identificar os materiais com melhor qualidade, destinando aos
locais, tornando o processo visível e gerencial;
39
· Mapear e padronizar os processos: atividade mandatória relacionada ao desenho
de todos os fluxos, definindo itens de controle, ciclos e tempos de execução e
treinamento de todos os envolvidos.
· Planejar a malha logística de transporte: estudo, mapeamento e padronização de
toda a malha logística, para atender o fluxo de retorno de itens pós-consumo ao
centro consolidador de retorno. A vantagem principal são os ganhos com
consolidação de fretes e maior aproveitamento de veículos da frota de
transportadores.
· Sistemas de Informação: nem todos os que fazem parte da cadeia de logística
reversa tem acesso ao sistema de gestão da companhia. Os sistemas integrados
de gestão acabam não sendo customizados para atendimento do fluxo de
logística reversa, mas o princípio de um sistema de informação é ser flexível e
absorver de forma lógica as exceções do processo, fazendo a interface com
vários participantes, enviando e recebendo informações fundamentais. Para obter
uma logística reversa otimizada, eficiente e efetiva, com sistemas de informações
e gerenciamento dos dados têm que ser redesenhados ou expandidos para
compreender os retornos.
2.7.4 Logística reversa do pós-consumo
O conceito da logística reversa do pós-consumo não se resume somente a entrega
do produto ao cliente, mas também o seu retorno, direcionando-o para ser descartado ou
reutilizado, dependendo das tecnologias envolvidas, do custo e estado físico da matéria-
prima já transformada.
Segundo Tadeu et. al. (2013), os canais de distribuição reversa de pós-consumo
(CDR-PC) estão configurados segundo fases de comercialização em que os bens de pós-
consumo são disponibilizados. Além de bens, incluem-se partes, peças, materiais
constituintes e resíduos que poderão de alguma maneira retornar à cadeia pelos
subsistemas de revalorização (desmanche, reuso e reciclagem).
Para compreender a logística reversa do pós-consumo, é interessante entender a
classificação dos bens de pós-consumo, que se dá em relação à duração de sua vida útil.
Dessa forma, os canais e os ciclos reversos de pós-consumo podem ser mais facilmente
estudados. As categorias dos bens de pós-consumo são:
· Produtos duráveis;
40
· Produtos semiduráveis;
· Produtos descartáveis.
Os produtos duráveis são aqueles que podem chegar a ter uma vida útil de anos ou,
até mesmo, décadas. Em geral, são aqueles produzidos para a satisfação de necessidades
da vida social, incluindo os bens de capital em geral. Os principais exemplos, segundo
Tadeu et. al., (2013) são: automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, máquinas e
equipamentos industriais, edifícios de diversas naturezas, aeronaves, construções civis,
embarcações, entre outros.
Os produtos semiduráveis são os que apresentam duração de vida útil média de
alguns meses, dificilmente superior a dois anos. Esta categoria intermediária em alguns
momentos apresenta características de bens duráveis, em outros de bens descartáveis.
Outros exemplos, segundo os autores seriam: baterias de automotores, óleos lubrificantes e,
em geral, baterias de celulares, computadores e seus periféricos, como revistas
especializadas, entre outros.
Os produtos descartáveis são bens que apresentam duração de vida útil média de
algumas semanas, raramente superior a 6 meses (TADEU et. al., 2013). Os exemplo mais
comuns seriam: embalagens, brinquedos, materiais para escritório, suprimentos para
computadores, artigos cirúrgicos, pilhas e baterias de equipamentos eletrônicos, fraldas,
jornais, periódicos, entre outros.
Para melhor compreender os CDR-PC, pode-se considerar três índices distintos
(LEITE, 2003):
· Índice de reciclagem de um bem durável: relação percentual entre as quantidades
recicladas de determinado bem durável pós-consumo, em um período de tempo e
em determinada região, e a quantidade produzida do mesmo bem, no mesmo
período e na mesma região.
· Índice de reciclagem dos componentes de um bem durável: porcentagem de
componentes ou de materiais constituintes reciclados de determinado bem em
relação ao peso do próprio bem.
· Índice de reciclagem do material constituinte: percentual entre quantidades
recicladas de determinado material constituinte em determinado intervalo de tempo e
as quantidades totais produzidas do material durante o mesmo intervalo de tempo,
provenientes de todos os produtos de pós-consumo dos quais possa ser extraído.
41
2.7.5 Logística reversa do pós-venda
Leite (2003) denominou logística reversa de pós-venda a área específica de atuação
da logística reversa que realiza o planejamento, operação e o controle do fluxo físico e das
informações logísticas relacionadas aos produtos de pós-venda. Trata-se de produtos com
pouco uso ou mesmo sem nenhum, que por algum motivo tiveram que retornar aos diversos
elos da cadeia de distribuição direta, que compõem uma parte dos canais reversos por onde
fluem tais produtos.
Parte de alguns produtos precisa retornar aos fornecedores por várias razões, entre
elas: razões comerciais, garantias dadas pelos fabricantes, erros no processamento de
pedidos, falhas de funcionamento, prazo de validade expirado, avarias no transporte
(transbordo, redestinação, baldeação, entre outros), problemas de estoque, políticas de
marketing, extravio, furto, roubo, sinistro, entre outros. Assim, o objetivo da logística reversa
de pós-venda é criar um setor que agregue valor ao produto e que garanta um diferencial
competitivo.
Leite (2003) apontou, como pode ser visto na Figura 4, as áreas de atuação e etapas
reversas do pós-consumo e do pós-venda, através do fluxo da logística reversa.
Figura 4. Fluxo da Logística Reversa: áreas de atuação e etapas reversas. Fonte: Leite (2003).
Segundo Leite (2003), os principais objetivos dos canais de distribuição reversa de
pós-venda (CDR-PV) são:
· Objetivo econômico: recuperação de ativos e revalorização econômica.
· Objetivo de competitividade: limpeza de canal, isto é, revalorizar o produto
mercadologicamente.
42
· Objetivo legal: atender às legislações ambientais, normas de certificação,
padronização e qualidade.
· Objetivos logísticos: destinar os bens ao fluxo direto ou reverso.
2.8 Gestão de resíduos sólidos
Um dos maiores problemas nos grandes centros urbanos é a ausência de locais
apropriados para descartar os resíduos adequadamente. Isso se deve à existência de áreas
ambientalmente protegidas e aos impactos de vizinhança das áreas de disposição. Um
exemplo disso é fato de que na maioria dos aterros sanitários não há tratamento adequado
para o chorume (líquido tóxico gerado pela decomposição orgânica do lixo). Assim, os
resíduos tóxicos podem contaminar o solo e as fontes subterrâneas de água, enquanto os
gases produzidos no processo de decomposição são liberados no meio ambiente de forma
não controlada (GOUVEIA, 1999).
A administração pública municipal tem a responsabilidade de gerenciar os resíduos
sólidos, desde a sua coleta até a sua disposição final, que deve ser ambientalmente segura
segundo Jacobi e Besen (2011), além de não por em risco a saúde da população. O lixo
produzido e não coletado é disposto de maneira irregular nas ruas, em rios, córregos e
terrenos vazios, e tem efeitos tais como assoreamento de rios e córregos, entupimento de
bueiros com consequente aumento de enchentes nas épocas de chuva, além da destruição
de áreas arborizadas, mau cheiro, proliferação de moscas, baratas, ratos e outros animais
peçonhentos e nocivos, todos com graves consequências diretas ou indiretas para a saúde
pública.
Os resíduos sólidos possuem várias denominações e naturezas, origens
diferenciadas e diversas composições. A gestão dos vários tipos de resíduos tem
responsabilidades definidas em legislações específicas e implica sistemas diferenciados de
coleta, tratamento e disposição final (JACOBI E BESEN, 2011).
A Figura 5 representa a diversidade de resíduos, as fontes geradoras, agentes
responsáveis pela gestão e modalidades de tratamento e disposição final existentes.
Embora ainda se encontre, na maioria dos países em desenvolvimento, a disposição em
lixão a céu aberto, essa consiste na pior forma de dispor os resíduos com impactos
negativos ao ambiente e à saúde pública. No Brasil, em 2008, mais de 50% dos municípios
ainda dispunham seus resíduos em lixões.
44
3 METODOLOGIA
O estudo de Logística Reversa aqui apresentado pretende revisar a bibliografia já
existente, em relação ao Brasil e ao mundo, concluindo assim uma pesquisa descritiva. De
acordo com Gil (2008), as pesquisas descritivas possuem como objetivo a descrição das
características de uma população, fenômeno ou de um a experiência. Por exemplo, quais as
características de um determinado grupo em relação a sexo, faixa etária, renda familiar,
nível de escolaridade, entre outros. Ao final de uma pesquisa descritiva, ter-se-á reunido e
analisado muitas informações sobre o assunto pesquisado. A grande contribuição das
pesquisas descritivas é proporcionar novas visões sobre uma realidade já conhecida,
observando, registrando e analisando os fenômenos sem, entretanto, entrar no mérito de
seu conteúdo. Na pesquisa descritiva não há interferência do investigador, que apenas
procura perceber, com o necessário cuidado, a frequência com que o fenômeno acontece.
Para isso, as leituras e os resumos se farão presentes para levantar, além de
informações teóricas, dados numéricos para, assim, analisar quais foram as implicações
mais encontradas pelas empresas, quais os resultados (os positivos e também os negativos,
se existirem), e quais mais informações forem pertinentes.
Para tanto serão analisados dois casos reais de implementação de Logística
Reversa. Estes casos fornecerão informações para embasamento de formulação de
conclusão, uma vez que a revisão dessas bibliografias trará a exemplificação da
fundamentação teórica estudada.
45
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS - LOGÍSTICA REVERSA
4.1 Estudo de Caso 1: Empresa de laminação de vidros
O primeiro caso de Logística Reversa estudado trata-se da aplicação do processo
reverso em uma empresa multinacional localizada no Estado de São Paulo, que atua no
campo de laminação de vidros. A sucata gerada pelos seus clientes pode ser usada para
realimentar o seu processo produtivo. A maior preocupação, segundo o artigo, era em
relação ao problema de como diminuir o impacto do descarte de vidros em aterros
sanitários, fazendo isso de forma rentável para a empresa fabricante, para os fornecedores
e clientes (GONÇALVES E MARINS, 2006).
A empresa em estudo produz o PVB (Polivinilbutiral), utilizado como uma película de
proteção intercalada nos vidros de automóveis, carros e aviões. Possui, além disto, outras
funcionalidades como proteção acústica, reflexão de imagens, filtro UV (ultra violeta) e
blindagem. Os produtos são vendidos e/ou armazenados no formato de rolos que podem ser
intercalados ou refrigerados (de acordo com as condições de armazenagem previstas no
destino), com a faixa degradee ou não, com diversas cores (vidros de arquitetura), com
propriedades visuais (para indústria aeronáutica), com filtros, entre outros, de forma que
cada um destes atributos aumenta o valor final do produto.
Os clientes desta empresa realizam a laminação dos vidros a partir do produto
acabado, através de um processo que consiste em submeter o conjunto Vidro-PVB-Vidro a
altas condições de pressão e de temperatura, conseguidas por meio de uma autoclave
(equipamento que possui funcionamento similar a uma panela de pressão comum). No final,
sobram as rebarbas deste processo, denominadas aparas e que não possuem
funcionalidade e nem valor agregado para o cliente, mas que podem ser reinseridas no
processo de produção de PVB.
Antes do desenvolvimento do processo reverso na empresa, as aparas eram
descartadas pelos clientes, no entanto aspectos envolvendo impactos ecológicos e
financeiros ganharam importância. A responsabilidade ecológica foi imposta através de
exigências de se cumprir normas internacionais como a ISO 14000 e a questão financeira
surgiu devido à vantagem competitiva que poderia ser obtida com a redução de custo na
cadeia produtiva como um todo (GONÇALVES E MARINS, 2006).
Na empresa em questão, foi estimado que, para os melhores beneficiadores, a área
de aparas correspondia de 5 a 10% da área total utilizada na confecção do vidro laminado.
Dessa maneira, para uma unidade do produto final, com área nominal de 250 m², cujo preço
46
de venda foi estimado em US$ 7,00/m², havia uma perda com aparas entre US$ 122,50 e
US$ 245,00 por unidade do produto final (ou seja, US$ 0,49/m² a US$ 0,98/m²).
Através de estudos desenvolvidos pela empresa, foi constatado que era possível
oferecer descontos aos clientes que participassem do processo de Logística Reversa,
variando de 1,5% a 2,5% no preço de venda do material, excluindo os custos de reprocesso
e de transporte das aparas. Foi estimado também que as vantagens poderiam ser maiores
se fosse negociada uma política de fretes de retorno mais apropriada.
4.1.1 Processo de implementação
Segundo Gonçalves e Marins (2006), foram desenvolvidas algumas atividades para a
implementação do processo de logística reversa. Foram elas:
· Planejamento do reuso de aparas;
· Verificação do estoque de aparas;
· Atualização do controle de estoque de aparas via Kanban;
· Solicitação do retorno envolvendo o tipo e as quantidades de aparas;
· Agendamento do retorno utilizando sistemas de fretes de retorno;
· Recebimento do produto;
· Reatualização do Kanban de estoque após o recebimento das aparas;
· Autorização da devolução ou crédito ao cliente que gerou o retorno.
Um dos setores envolvidos na implementação do processo foi o de Planejamento e
Controle da Produção (PCP) da empresa, que observou que não era necessário manter um
estoque elevado de todos os tipos de aparas disponíveis, pois isso ocuparia uma área de
armazenagem que poderia ter outra finalidade mais eficiente. Assim, foi proposto aos
clientes que antes do processo de introdução do ciclo reverso, haveriam pequenos estoques
tanto na empresa como nos clientes com o objetivo de que nenhuma das partes se
prejudicasse com possíveis estoques elevados de material de reuso em suas áreas física,
pois, especialmente em relação ao cliente, esse material não possuía mais utilidade prática.
Segundo Gonçalves e Marins (2006), uma infraestrutura adequada para o fluxo
reverso foi desenvolvida, começando com a construção de uma estrutura próxima ao local
de reprocessamento e um sistema paralelo ao do fluxo direto de produção, de maneira que
cada item vendido ou enviado para um armazém intermediário gerava uma entrada vaga no
sistema reverso. Ou seja, o sistema acusava na saída de um produto que haveria certo tipo
de aparas disponível para um retorno futuro.
47
A partir da quantidade de produto enviada para o cliente, calcula-se a quantidade e a
data de retorno prevista do material de reuso. Estes dados iniciais, a princípio, não tem
importância para o planejamento da produção, pois este só pode ser realizado com a
quantidade de aparas realmente disponíveis para uso. Mas, para o planejamento logístico,
essas informações são úteis, pois permitem uma previsão da quantidade, tipo e época de
retornos das aparas. De fato, foi percebida uma margem de diferença nos volumes obtidos
no retorno com relação à quantidade em potencial de aparas que podem ser reutilizadas,
pois o valor estimado de material de retorno pode sofrer alterações de acordo com os
processos dos clientes. Isso é um fator importante, principalmente para não haver falhas,
para mais ou para menos, na compra de matéria-prima para o mix de produtos destinados à
produção pelo PCP.
Outro trabalho importante foi desenvolvido para possibilitar a introdução de novos
mix de produção com o reuso das aparas. Um novo plano de reprocesso para as aparas, em
paralelo ao já existente para materiais reprovados pelo Controle de Qualidade, ainda
durante o processo direto foi criado, possibilitando a conciliação das duas formas de
reabastecimento, direcionando-as para o processo reverso, tanto a de retorno quanto aquela
que a própria empresa fabricante precisaria descartar.
4.1.2 Resultados obtidos pela empresa de laminação de vidros
Entre vantagens e desvantagens apontadas, os resultados obtidos foram atribuídos a
fatores críticos que condicionam o sistema, nomeados como (ROGERS E TIBBEN-
LEMBKE, 1999):
1. Controles de Entrada: para o caso em questão, é necessário identificar corretamente
o estado dos materiais que retornam para facilitar o fluxo logístico reverso, isto é,
para que possam ser bem reutilizados e impedir que materiais estranhos integrem
este fluxo logístico, o que geraria despesas e serviços a mais. O primeiro passo já é
importante para reduzir custos, diminuir os tempos dos processos e evitar
desperdício de espaço físico e mão-de-obra, sendo uma fatia considerável no
procedimento. Quando bem utilizados, os controles de entrada são uma vantagem,
pois facilitam o restante do processo. Para a empresa laminadora de vidros (e em
indústrias químicas em geral), o mix de processo é muito importante, pois o processo
é muito sensível às mudanças nas características dos insumos, ou seja, pequenas
mudanças nos insumos afetam de forma drástica o produto, ocasionando
48
necessidade de retrabalho. Foi necessário, portanto, levantar esforços para a correta
identificação da proveniência do material que entraria em reprocesso.
2. Mapeamento e Formalização do Processo: uma desvantagem abordada pelos
pesquisadores está no fato de que muitas empresas consideram o uso da Logística
Reversa como um processo esporádico e não regular, causando a ausência de
processos mapeados e procedimentos formalizados. No estudo de caso em questão,
esta visão atrapalhou o trabalho dos setores de PCP e de Engenharia de Processo
no equacionamento de um sistema de Logística Reversa adequado, ou seja, que não
gerasse inconvenientes ao processo, pois uma nova atividade implantada requer
adaptação para o ambiente onde está sendo inserida.
3. Tempo de Ciclo dos Produtos: inclui desde a identificação da necessidade de
reutilização de aparas até o seu reprocessamento. Sabe-se que, se os tempos de
ciclos forem muito longos, eles acabam por adicionar custos desnecessários porque
atrasam a geração de caixa e ocupam espaço de armazenamento. Para que esse
tempo seja bem administrado, ferramentas de sistemas de informação foram
utilizadas, trazendo benefícios ao projeto. Além disso, a adaptação ao novo processo
implica também em tempo transcorrido.
4. Sistemas de Informação: a empresa percebeu a relevância de informações sobre a
rastreabilidade dos retornos, medição do tempo de ciclo e a medição do
desempenho de seus fornecedores de sucata. Com essas informações, obtidas por
meio de um Sistema de Informação adequado, foi possível estabelecer Indicadores
de Desempenho (KPI’s) que foram fundamentais para a negociação com os clientes,
melhoria de desempenho e redução dos abusos dos fornecedores de sucata. Para
tal feito, foi utilizado um sistema de código de barras e lotes. Para cada lote de
material revendido, associou-se um código específico de saída e uma lacuna para
reentrada do material retornado. Isto facilitou em termos de set ups de processo e do
controle de propriedades físicas e químicas do produto acabado, de tal forma que o
investimento no sistema trouxe uma vantagem para a empresa, que pode ter
maiores informações registradas associadas ao produto e ao processo no tempo
desejado. O Plano Mestre de Produção precisou assumir duas vertentes: o plano de
processo regular e o plano de reprocesso de aparas. A Figura 6 apresenta
49
tecnologias utilizadas nas empresas que possuem logística reversa para administrar
o fluxo de materiais.
Figura 6. Tecnologias instaladas nas empresas que adotam sistemas de Logística Reversa. Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1999).
5. Infraestrutura Logística: ao se administrar o fluxo direto de matérias-primas e o fluxo
reverso no mesmo espaço físico, é preciso ter atenção em dobro para evitar conflitos
de informações e dificuldades em relação a escala de movimentação. No estudo de
caso, a solução adotada foi criar um depósito de aparas junto à área de reprocesso,
com isso economizou-se em tempo de transporte, reduziram-se os lead-times e
desvinculou-se a armazenagem das aparas dos armazéns de produto acabado.
6. Relações entre Clientes e Fornecedores: um bom nível de confiança estabelecido
favorece, notadamente, as atividades de responsabilidades de ambos num processo
de Logística Reversa. No estudo de caso, as aparas eram devolvidas pelos clientes
50
sem custo mas também sem rentabilidade, que viam nisto apenas uma forma de dar
fim ao resíduo do seu processo. A introdução de um sistema de controle e
planejamento nesse ambiente, inicialmente, não foi bem aceita pelos clientes, pois
exigiria um trabalho adicional por parte deles. Para convencer os fornecedores de
sucata a aceitarem as novas políticas de planejamento logístico, foram firmadas
parcerias do tipo ganha-ganha (win-win relationship).
4.2 Estudo de Caso 2: Embalagens retornáveis para transporte de bens
remanufaturados
O segundo estudo de caso analisado refere-se a uma empresa brasileira fabricante
de motores a diesel completos e de cabeçotes utilizados em duas famílias de motores, cuja
montagem final ocorre em um cliente nos EUA, em Melrose Park. Para o processo de
exportação das peças, feitos no caso por via marítima eram utilizadas embalagens não
retornáveis, de papelão e descartáveis, transportadas dentro de um contêiner marítimo. A
substituição dessas embalagens por embalagens retornáveis surgiu da exigência de um
cliente em receber exclusivamente materiais embarcados com embalagens retornáveis.
Alguns problemas estavam surgindo com o uso da embalagem descartável, o que gerava
custos para o cliente. A solução encontrada através da logística reversa apresentou maior
rentabilidade, trazendo confiabilidade por parte do cliente e gerando melhoria em um
processo fundamental para a atividade desenvolvida pelo ramo da organização (ADLMAIER
E SELLITO, 2007).
4.2.1 Processo de implementação
Segundo Adlmaier e Sellitto (2007), as embalagens para transporte de bens são um
fator importante para a escolha de tipos de transporte e para a definição do tempo que as
mesmas comportam o produto a ser transportado. No estudo de caso do transporte dos
cabeçotes exportados, as embalagens de papelão utilizadas inicialmente começaram a
gerar problemas, pois algumas atitudes foram adquiridas para aumentar a durabilidade da
embalagem, antes dela ser descartada. A exemplo, a garantia de integridade do cabeçote
contra a oxidação foi reduzida para três meses, pois foi optado por não mais se aplicar óleo
protetivo nas faces usinadas, já que no destino final era necessário lavar as peças e dispor o
51
óleo, gerando custos para o cliente. Além disso, a embalagem de papelão absorvia o óleo e
se tornava completamente inutilizável.
Outro custo adicionado ao cliente foi a necessidade de troca de embalagem, pois as
peças iam inicialmente para um armazém próximo a Melrose Park, comprometendo também
a qualidade dos cabeçotes, que só poderiam ficar até três meses armazenados. Além de
consumir recursos naturais e gerar resíduos, as embalagens descartáveis eram
volumetricamente mal aproveitadas dentro do contêiner, uma vez que comportavam menos
cabeçotes, exigiam racks e bandejas metálicas para o acondicionamento e proteção,
restringindo a capacidade do contêiner, que não transportava o máximo do peso líquido
possível.
A solução proposta foi desenvolver uma embalagem feita de material plástico,
específica para os cabeçotes, diferente das embalagens padronizadas até então utilizadas,
de madeira ou papelão. A nova embalagem é composta por bandejas formadas a vácuo e
palete especialmente desenvolvido. Foi possível eliminar a necessidade de racks e bandejas
metálicas. Adicionalmente, há espaço para protetores personalizados contra oxidação,
dispensando o uso de óleo protetivo. As bandejas são de PEAD de 7mm (Polietileno de Alta
Densidade) e o palete com tecnologia twinsheet (processo com duas chapas), resultando
uma relação carga por embalagem de 3,6% por viagem, considerada excepcional, sabendo-
se ainda que, neste peso, se inclui a proteção contra oxidação. A embalagem também prevê
proteção anticorrosiva por sacos plásticos de VCI (Volatile Corrosion Inhibitors), isto é, um
saco espesso em cada nível, e sacos menos espessos para cada cabeçote, agregados a
mais quatro sachets de VCI por embalagem.
Essa nova embalagem não gera resíduos nem custos com disposição e aproveita
totalmente o volume do contêiner de vinte pés, chegando a duzentos e quarenta cabeçotes
por contêiner, ao invés dos duzentos e dezesseis anteriores. Cada embalagem transporta
doze cabeçotes, em dois níveis de seis peças cada. Um cabeçote pesa 110 kg. O peso total
alcança 1.370 kg por caixa com doze cabeçotes, contra os 690 kg anteriores, por caixa de
papelão com seis cabeçotes. O conjunto para doze cabeçotes (palete e três bandejas de
plástico) pesa 50 kg, contra os 30 kg anteriores, de papelão, para seis cabeçotes. Estas
características podem ser mais bem observadas na Tabela 1. A embalagem não requer
peação do contêiner marítimo, isto é, não requer um processo de travamento de cargas
dentro dos contêineres, para evitar deslocamentos e escorregamentos durante o transporte
marítimo As principais características da nova embalagem são:
· A capacidade estática para empilhamento de embalagens no armazém dos
EUA, o que representava um peso total de 4.200 kg sobre o último palete, e uma
capacidade dinâmica para transporte de embalagem de 2.800 kg;
· A capacidade de travamento de uma embalagem sobre a outra;
52
· O travamento dos cabeçotes na própria bandeja.
Estas condições foram verificadas em testes dinâmicos práticos, em viagens de ida e
volta do Rio Grande do Sul a São Paulo, testes de resistência do palete no fornecedor com
4.600 kg de carga, e teste de vibração e oscilação (requisito do cliente para aprovação da
embalagem), segundo normas ASTM (American Society for Testing and Materials),
executados no Centro Tecnológico do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em São
Paulo. Em todos os ensaios, a embalagem foi aprovada.
Tabela 1. Síntese das características de desempenho entre as embalagens.
CARACTERÍSTICA DE DESEMPENHO EMBALAGEM
ANTERIOR PAPELÃO
NOVA EMBALAGEM
PLÁSTICA
Cabeçotes em cada embalagem 6 12
Peso da embalagem vazia (kg) 30 50
Peso de uma embalagem carregada (kg) 690 1370
Peso transportado, por cabeçote (kg) 690/6 = 115 1370/12 = 114
Cabeçotes por contêiner 216 240
Peso por contêiner (kg) 24840 27360 Fonte: Adlmaier e Sellitto (2007).
4.2.2 Resultados obtidos no uso de embalagens retornáveis para transporte de bens
remanufaturados
Segundo Adlmaier e Sellitto (2007), a atividade da empresa é programada
semanalmente. Dessa forma, nesse período a empresa despacha do Brasil sete contêineres
de vinte pés para o armazém nos EUA, onde mantém um estoque capaz de sustentar a
operação por, em média, trinta dias. A linha de montagem de Melrose Park é alimentada,
diariamente, do armazém, por um processo de SMI (Supplier-Managed Inventory, em
português gerenciamento de inventário pelo fornecedor), controlado eletronicamente, que
mantém, na linha de montagem, um pulmão de quatro horas de produção. A função do
pulmão é compensar eventuais variações na cadeia de abastecimento que liga o armazém à
planta. O retorno das embalagens vazias ocorre semanalmente, na mesma quantidade das
embalagens enviadas. A cada sete contêineres de vinte pés enviados, a empresa retorna
um contêiner de quarenta pés com embalagens vazias. A Figura 7 mostra a rota do
transporte das embalagens, enquanto que a Tabela 2 apresenta as durações médias das
etapas do processo de uso da embalagem retornável.
53
Figura 7. Representação do transporte das embalagens. Fonte: Adlmaier e Sellitto (2007).
Tabela 2. Durações médias das etapas do processo de uso da embalagem retornável.
ETAPA DO PROCEDIMENTO MÉDIAS DE DIAS NA
ETAPA
Estoque em Canoas 14 Despacho, trânsito até o porto, alfândega no Brasil
6
Trânsito até os EUA 16
Alfândega nos EUA e trânsito até Melrose Park 6
Estoque em Melrose Park antes do uso 30
Estoque em Melrose Park após o uso (vazias) 6 Despacho, trânsito até o porto, alfândega nos EUA
8
Trânsito até o Brasil 18
Alfândega no Brasil e trânsito até Canoas 6
Atrasos em embarques 20
Total 130 Fonte: Adlmaier e Sellitto (2007). .
Para o dimensionamento da quantidade de embalagens necessárias para o fluxo,
mediram-se e somaram-se os tempos médios das etapas, o que resultou em um tempo
médio de trânsito total de cento e trinta dias. Este é o tempo médio entre a data de envio de
uma embalagem até o seu retorno ao Rio Grande do Sul, e sua recolocação na linha de
montagem.
O capital investido inicialmente nas embalagens retornáveis foi de um milhão de
reais, considerado elevado pela empresa, na ocasião, no ano de 2003. A empresa adquiriu
de uma única vez as embalagens retornáveis, ao passo que anteriormente precisava uma
54
estrutura de aquisição de embalagens descartáveis para cada embarque, isto é, havia um
custo fixo de embalagens. O uso do novo conceito tem gerado uma economia que oscila ao
redor de R$ 950 mil por ano, em redução de gastos com embalagens, a partir do segundo
ano do projeto. O tempo de retorno do investimento foi estimado em dezoito meses, a vida
útil do projeto em dez anos e a depreciação da embalagem em cinco anos.
A empresa conseguiu agregar três tipos de valor com o uso da logística reversa:
econômico, segundo a relação investimento e retorno a longo prazo; ecológico, com a
redução de resíduos gerados; e logísticos, pelo melhor aproveitamento dos contêineres
marítimos. Os outros ganhos obtidos foram:
· Maior proteção que as novas embalagens conferem aos cabeçotes;
· Flexibilidade para efetuar alterações na embalagem frente à requisitos legais;
· Reciclagem das embalagens danificadas ou em fim da vida útil, efetuada pelo
próprio fornecedor da embalagem.
Segundo o artigo, o principal fator que levou a empresa a adotar as embalagens
retornáveis foi econômico. A vontade de não perder uma oportunidade de fornecimento e a
redução nos custos logísticos propiciada foram decisivas para a implementação.
É fato que o transporte de retorno gera um custo que não existiria com embalagens
descartáveis, pois se passou a enviar ao Brasil um contêiner com embalagens vazias.
Contudo, devido ao maior número de cabeçotes enviados por embarque, e a ser único o
custo de aquisição das embalagens retornáveis, o balanço de custos é favorável.
Um resultado que contribui para a logística reversa foi a melhoria na proteção contra
a oxidação do cabeçote. Foi um objetivo de projeto a proteção contra oxidação, já que os
cabeçotes são peças completamente usinadas, os riscos são grandes, mas as proteções
utilizadas foram demasiadas. Não é mais necessário utilizar os quatro sachetsoriginais de
VCI por cabeçote, além de um saco VCI individual e outro coletivo que engloba os seis
cabeçotes de cada nível. Segundo a empresa, estão em andamento testes para eliminar o
saco individual e enviar somente o saco coletivo, reduzindo a geração de resíduos de sacos
plásticos da proteção, cuja disposição ocorre nos Estados Unidos.
Em relação a limpeza citada, a empresa sabe que será necessária limpeza adicional,
pois as embalagens chegam contaminadas com poeira nas bandejas e no palete, o que não
pode chegar à linha de montagem para que não contaminem os cabeçotes. Os custos com
limpeza foram previstos no desenvolvimento do projeto, mas a forma desta limpeza ainda
não está definida.
A redução de custos financeiros seria o motivo principal para a adoção da logística
reversa, o que pode ser confirmado pelo estudo.
55
4.3 Discussão e Análise dos Casos
No primeiro estudo de caso, os pesquisadores concluíram que a implementação do
processo de Logística Reversa além de conduzir à satisfação de exigências normativas,
como a ISO 14000, pode levar a uma redução de custo no produto acabado, principalmente
porque houve o reuso do material de descarte. Outro aspecto foi a constatação da vantagem
de se adotar o que é preconizado pelo modelo de referência SCOR, o qual demonstrou ser
perfeitamente aplicável à cadeia de suprimentos da laminação de vidros.
Outra grande vantagem encontrada na empresa estudada, após a implementação do
sistema reverso, foi o ganho de know-how sobre o sistema logístico completo. A empresa
passou a conhecer melhor as demais atividades na cadeia de suprimentos e pôde otimizá-
las.
Surgiram, também, economias devido à escala de produção na quantidade de
compra de matérias-primas, bem como economias nos fatores de processo (energia, mão-
de-obra, manutenção, etc.), já que o fluxo do material de reuso no processo produtivo é
menor, visto que ele já é um material semipronto. Isso possibilitou a rotatividade do
inventário de matérias-primas e reduziu os estoques.
O segundo estudo de caso compara embalagens descartáveis e retornáveis.
Segundo as referências do estudo, as embalagens retornáveis possuem os mesmos
inconvenientes das descartáveis, tais como os custos do transporte direto, transporte de
retorno, administração de fluxos, recepção, limpeza, reparos eventuais, armazenamento e
de capital investido. Contudo, além dos benefícios ambientais, embalagens retornáveis
também podem oferecer outros tipos de benefícios como: conferir maior proteção aos
produtos; oferecer ao usuário maior flexibilidade à medida que mudarem os requisitos
legais; se a empresa não possui mais nenhuma aplicação para as embalagens, elas podem
retornar ao fabricante como material reciclado, podendo ser utilizadas em novas
embalagens.
Através dos números apresentados, é possível perceber que a empresa melhorou
um dos mais importantes dos seus processos de exportação sob o ponto de vista da
logística reversa, como pode-se observar no Quadro 3.
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Quadro 3. Vantagens e desvantagens sob o ponto de vista da logística reversa no uso de embalagens retornáveis. TIPO ASPECTOS RELEVANTES
Eliminação da geração de resíduos de papelão, com o uso de:
Vantagens 1. Reciclagem das embalagens plásticas após o término da sua vida útil;
ecológicas 2. Reciclagem das embalagens danificadas;
Os cabeçotes viajam sem óleo protetivo, eliminando a lavagem no destino final.
O tempo de retorno do investimento foi estimado em dezoito meses, a vida útil do projeto em dez
anos e a economia anual tem se mantido ao redor de R$ 950 mil, por:
Vantagens 1. Redução no custo da embalagem por viagem;
econômicas 2. Capacidade de empilhamento estático de três embalagens no armazém, devido à alta
capacidade de carga dos paletes, reduzindo os custos de armazenagem;
3. Maior proteção que as embalagens retornáveis oferecem aos cabeçotes.
Redução na complexidade das operações, obtida com o uso de:
1. Melhor aproveitamento do espaço interno dos contêineres;
2. Não há necessidade de peação do contêiner;
Vantagens 3. As embalagens são utilizadas diretamente na linha de montagem do cliente;
logísticas 4. Fluxo de retorno de embalagens balanceado com a mesma quantidade enviada, a cada sete
contêineres de vinte pés com vinte embalagens retorna um contêiner de quarenta pés com
140 embalagens dos Estados Unidos;
5. O sistema de proteção anti-oxidação com VCI permite transporte limpo e seguro.
Aspectos econômicos e logísticos:
1. Aspectos econômicos: foi necessário um investimento inicial elevado, de um milhão de reais,
Desvantagens pois as embalagens foram adquiridas de uma única vez e há reposição;
2. Aspectos logísticos: há dificuldades de rastreamento das embalagens vazias, é necessário um
transporte de retorno e mais controle na operação de retorno. Fonte: Adlmaier e Sellitto (2007).
57
5 CONCLUSÕES
A logística reversa vem sendo reconhecida como a área da logística empresarial que
planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes ao retorno de
bens ao seu ciclo produtivo de origem ou à sua destinação, como matéria-prima, a outro
ciclo produtivo. Assim, o produto pode retornar em forma próxima à original, como retorno
pós-vendas, ou em forma de resíduos, rejeitos ou refugos, como retorno pós-consumo.
O retorno pós-vendas é devido, principalmente, a problemas de qualidade, tais como
defeitos de fabricação ou erros de projeto, e a problemas comerciais, tais como erros de
expedição, consignações não requisitadas, sobras de promoções, obsolescência
tecnológica ou de moda e perda de validade. O retorno pós-consumo se dá, principalmente,
pela falta de destinação apropriada oferecida a quem consome o bem e tem como resultante
suas sobras e embalagens.
Além disso, a logística reversa estuda os canais reversos de distribuição; canais
estes que seguem fluxo oposto ao da cadeia original de distribuição de materiais, visando a
agregar valor ao retorno pela sua reintegração a um ponto do ciclo produtivo de origem, ou a
outro ciclo produtivo, sob a forma de insumo ou matéria-prima.
Com o crescimento da preocupação ambiental, foram criadas novas necessidades
aos processos logísticos. O excesso de resíduos produzidos, os sinais dados pelo meio
ambiente como desequilíbrio ambiental, as consequências por descarte inapropriado
principalmente nos grandes centros urbanos foram alguns dos motivos que levaram ao
desenvolvimento de um novo conceito, no qual as empresas pudessem colaborar para a
solução dos problemas além de, a longo prazo poderem ter um retorno financeiro, não na
forma de lucros, mas de custo-benefício em relação a investimento x economia.
Termos como canais reversos ou fluxos reversos têm sido usados desde os anos
1970. Estes termos, em princípio, têm sido mais usados em operações ligadas a reciclagem
de materiais e gerenciamento ambiental, sendo menos associados a objetivos de redução
de custo e aumento de valor econômico.
Para entender os conceitos levantados sobre o assunto, fora realizada uma pesquisa
descritiva com o intuito de conhecer estudos que mostrassem os reais motivos que podem
levar uma organização a investir em uma estrutura ou uma nova atividade que possa ser
considerada uma logística reversa. Para verificar se o processo é viável para a maioria das
empresas é fundamental que haja uma análise financeira da organização, bem como o
momento da mesma no mercado onde ela está inserida. Se a empresa está
economicamente e mercadologicamente estável, ela possui estrutura para planejar o
processo reverso. Entretanto, caso a empresa não tenha condições saudáveis de investir
58
em um processo que requer um período para retorno, neste caso não há meios para uma
Logística Reversa sustentável e promissora.
O conceito de logística reversa ainda está em evolução e ainda não se chegou a
uma visão unificada, portanto entende-se que valha a pena agregar múltiplas perspectivas.
De uma perspectiva gerencial, a logística reversa pode ser tratada como um sistema a ser
gerenciado e as técnicas nela usadas podem ser integradas, formando a RLM (reverse
logistics management, gestão da logística reversa). A implementação de um processo
logístico reverso requer uma infraestrutura logística adequada para lidar com os fluxos de
entrada dos materiais a serem reutilizados. Instalações de armazenagem e sistemas de
controle devem ser desenvolvidos para interligar de forma eficiente os pontos de coleta
(clientes) até o ponto de consumo (empresa). Os custos associados ao transporte e a mão-
de-obra para essa fase devem ser considerados durante a classificação se o processo é
viável ou não. A tendência é que os custos com o transporte reverso aumentem, mas as
empresas mais bem adaptadas refletirão isso em flexibilidade, velocidade e qualidade na
cadeia logística.
Questões relativas à escala de movimentação e à falta do correto planejamento
logístico podem levar ao uso das mesmas instalações no fluxo direto e reverso. Isso pode
acabar sacrificando a eficiência de um dos ciclos ou congestionando a rede logística. É
importante planejar o espaço físico (layout) para evitar transtornos, atrasos e excesso de
estoque. Para optar por um processo reverso, a empresa precisa avaliar qual a sua
necessidade e qual alternativa é financeiramente saudável para desenvolver canais de fluxo
reservo, dependendo do ramo de atividade e do bem fornecido.
Como considerações futuras, a continuação dos estudos para a tentativa de
construção de teorias, como também para a melhoria de processos reversos já existentes
em organizações. Por ser um conceito em ascensão, a logística reversa pode continuar a
ser estudada não apenas como fonte de conhecimento, mas também como ramo de
atividade terceirizada, pois requer que um time elabore estratégias, gerencie custos e
investimentos, fornecendo flexibilidade para empresas que tiverem interesse em adotar o
processo e a conscientização de que é possível gerir os resíduos dos produtos vendidos e
consumidos.
59
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