Post on 03-Oct-2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (CCB)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS (MOR)
LABORATÓRIO DE ANTROPOLOGIA FORENSE (LANFOR)
ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO
INUMADO EM UM CEMITÉRIO
Pâmela Stephanie da Silva Fernández
Florianópolis
2019
Pâmela Stephanie da Silva Fernández
ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO
INUMADO EM UM CEMITÉRIO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Ciências
Biológicas, Departamento de Ciências
Morfológicas, da Universidade Federal
de Santa Catarina para a obtenção do
Grau de Bacharela em Ciências
Biológicas.
Orientador: Esp. Leoni Lauricio
Fagundes.
Coorientadora: Profª. Drª. Elisa
Cristiana Winkelmann Duarte.
Florianópolis
2019
Pâmela Stephanie da Silva Fernández
ESTUDO TAFONÔMICO EM CADÁVER HUMANO ADULTO
INUMADO EM UM CEMITÉRIO
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para
obtenção do Título de Bacharela em Ciências Biológicas e aprovado em
sua forma final pelo Centro de Ciências Biológicas.
Florianópolis, 28 de junho de 2019.
________________________
Prof. Dr. Carlos Roberto Zanetti
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Esp. Leoni Lauricio Fagundes
Orientador
Universidade de Coimbra
________________________
Prof.ª Dr.ª Elisa Cristiana Winkelmann Duarte
Coorientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Luiz Fernando Gil
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Fernanda Emidio
Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina
Este trabalho é dedicado a todos que,
de alguma forma, apoiaram e
estimularam-me a seguir em frente.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, aos meus pais e irmãos.
Mãe, obrigada por não ter me deixado desistir. Por insistir, mesmo nos
dias mais difíceis, para que eu fosse às aulas, pois era para o meu bem,
tu és e sempre será meu porto seguro. Pai, obrigada pelas inúmeras
caronas até a UFSC, por me buscar tarde mesmo tendo que trabalhar
cedo no dia seguinte e por me incentivar de todas as formas possíveis.
Nathasha, tenho que te agradecer por sempre me ajudar, independente
do assunto. E me desculpar por nesses últimos dias não ter podido ser
tua dupla na canastra. Marcelo, obrigada por me alegrar com tuas piadas
idiotas, por olhar para mim e perguntar: "Não vai sair da frente desse
computador?". Agora vou, pode ficar sossegado.
Tenho que agradecer também ao meu orientador Esp. Leoni por
toda dedicação e ensinamentos ao longo deste trabalho, à minha
coorientadora professora Dr.ª Elisa, pela oportunidade de integrar o
LANFOR e pelo aprendizado que tive durante esse tempo.
Obrigada professor Dr. Luiz Fernando Gil, Fernanda Emidio e
professora Dr.ª Ana Paula Casadei por aceitarem dedicar tempo na
avaliação deste trabalho.
Obrigada professora Dr.ª Beatriz de Barros pelo tempo disposto a
me ensinar sobre dentes, mesmo sendo uma aluna que nunca tinha
preenchido um único odontograma. Toda sua dedicação em me ensinar
cada lado de um dente e cada restauração foi de grande valia para meu
aprendizado.
Obrigada meninas do LANFOR pelo auxílio na execução desse
trabalho.
E por último, preciso agradecer às três pessoas que conheci no
início da graduação e que quero levar para toda a vida: Luisa, Elisa e
Débora. A amizade de vocês foi essencial para que eu não
enlouquecesse nessa universidade. Quantas coisas nós passamos juntas?
Coisas que são apenas nossas e que certamente nunca esqueceremos. Só
tenho a agradecer vocês por serem pessoas incríveis.
“Eu, às vezes, duvido de se eu amo a Biologia
porque ela é a ciência da vida, ou se eu amo a vida
porque ela serve de objeto à Biologia.”
Jean Rostand, 1959.
RESUMO
A antropologia forense vem crescendo ao longo dos últimos anos. Em
desastres de massa, como a 2ª Guerra Mundial e os atentados as “Torres
Gêmeas”, os antropólogos foram essenciais no processo de identificação
humana. Esse processo é importante para que se possa devolver corpos
não identificados aos familiares. Para isso, um perfil biológico
constituído da análise da ancestralidade, sexo, idade e estatura, junto
com fatores individualizantes são estimados. Por fim se compara dados
ante e post mortem. Em Santa Catarina, trabalhos de pesquisa que
descrevem com maior especificidade as características dos ossos da
população brasileira para estimar esses parâmetros ainda são escassos.
Este trabalho trata um estudo de caso de um cadáver inumado no
Cemitério Municipal do Rio Vermelho em Florianópolis / SC no qual
através da exumação e de análises posteriores, foram testadas algumas
metodologias para a estimativa do perfil biológico e avaliação dos
fatores individualizantes deste indivíduo denominado RV6. Assim,
estimou-se um perfil que pode ter tanto ancestralidade europeia como
norte e sul americana, sexo masculino, idade entre 30 - 57 anos e
estatura entre 164,4 - 181,3 cm. Também foram avaliados fatores
individualizantes, dos quais pode se destacar traumatismos encontrados
nos membros inferiores, nos ossos do quadril, nas vértebras e no crânio,
além de variações anatômicas como a espinha bífida oculta. Mesmo com
todas as estimativas realizadas, não foi possível confirmar os resultados,
uma vez que não se possuíam dados ante mortem para que se pudesse
confrontar. No entanto, com a análise dos traumatismos, este trabalho
permitiu realizar uma descrição do que acontece com os ossos de um
indivíduo quando ele sofre uma queda vertical.
Palavras-chave: Antropologia forense. Perfil biológico. Fatores
individualizantes. Traumatismos.
ABSTRACT
Forensic anthropology has been growing over the past few years. In
mass disasters, as in the World War II and as in the attacks on the "Twin
Towers", anthropologists were essential in the process of human
identification. This process is important so that unidentified bodies can
be returned to their families. For this, a biological profile consisting of
the analysis of ancestry, sex, age and stature, along with the
individualizing factors are estimated. Finally, it compares ante and post
mortem data. In Santa Catarina, researches that describe with greater
specificity the characteristics of the bones of the Brazilian population to
estimate these parameters are still scarce. This work is a case study of a
corpse buried in the Rio Vermelho Municipal Cemetery in Florianópolis
/ SC in which, through exhumation and subsequent analyzes, some
methodologies were tested for the biological profile estimation and
evaluation of individualizing factors of this individual named RV6.
Thus, it was estimated a profile that can have as European as North and
South American ancestry, male sex, age between 30-57 years old and
stature between 164.4-181.3 cm. Individualizing factors were also
evaluated, such as trauma in the lower limbs, in the hip bones, in the
vertebrae and in the skull, as well as anatomical variations such as spina
bifida occulta. Even with all the estimates made, it was not possible to
confirm the results, because ante mortem data was not available to be
confronted. However, with the analysis of the skeletal trauma, this work
allowed to describe what happens in the individual's bones when he
suffers a vertical trauma.
Keywords: Forensic anthropology. Biological profile. Individualizing
factors. Trauma.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estágio de limpeza dos ossos ............................................... 37 Figura 2 – Ziplock contendo fragmentos ósseos do fêmur e caixa
ossuária para o armazenamento dos ossos ............................................ 38 Figura 3 – Desenho esquemático do úmero mostrando os pontos
utilizados para a medição ...................................................................... 42 Figura 4 – Medição do úmero direito na folha quadriculada ................ 42 Figura 5 – RV6 durante a exumação ..................................................... 45 Figura 6 – Cadáver RV6 em sua posição anatômica ............................. 47 Figura 7 – Terceiro molar (dente 38) incluso ........................................ 48 Figura 8 – Coroa unitária metálica presente no dente 35 ...................... 49 Figura 9 – Região entre os dentes 13 e 17 ............................................. 50 Figura 10 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o
AncesTrees (2014) ................................................................................. 51 Figura 11 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o
método de Hefner (2009) ...................................................................... 51 Figura 12 – Região das cabeças dos fêmures fragmentadas na área da
análise .................................................................................................... 55 Figura 13 – Estimativa da idade através do método de alterações
degenerativas ......................................................................................... 56 Figura 14 – Labiação presente na extremidade esternal da clavícula
direita .................................................................................................... 56 Figura 15 – Vértebra C1 (atlas) com espinha bífida oculta ................... 57 Figura 16 – Tipos de fraturas ................................................................ 58 Figura 17 – Fratura de compressão da coluna vertebral ........................ 58 Figura 18 – Fratura em livro aberto da cintura pélvica ......................... 59 Figura 19 – Região do crânio com linhas de fratura e fraturas .............. 60 Figura 20 – Costela esquerda fraturada ................................................. 61 Figura 21 – Comparação entre o fêmur esquerdo e direito ................... 61 Figura 22 – Linha de propagação da fratura do fêmur para a tíbia ....... 62 Figura 23 – Comparação entre a tíbia esquerda e direita ...................... 62 Figura 24 – Comparação do local da fratura da tíbia e da fíbula ........... 63 Figura 25 – Prótese mamária de silicone ............................................... 63 Figura 26 – Materiais encontrados dentro do caixão ............................. 64
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características presentes em duas ancestralidades ............. 52 Quadro 2 – Características da cintura pélvica que não pertencem ao sexo
masculino .............................................................................................. 53 Quadro 3 – Características do crânio que não pertencem ao sexo
masculino .............................................................................................. 53 Quadro 4 – Medidas realizadas nos ossos longos para determinação do
sexo ....................................................................................................... 54
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AF – Antropologia Forense
CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CCB – Centro de Ciências Biológicas
CEPSH – Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
cm – Centímetros
CMU – Comprimento máximo do úmero
CV – Cavidade coroa - vestibular
DSP2 – Diagnósticos Sexuais Probabilísticos – versão 2
DNA – Ácido desoxirribonucleico
FNAL – Comprimento do eixo do colo do fêmur
FNW – Largura do colo do fêmur
IGP – Instituto Geral de Perícias
LANFOR – Laboratório de Antropologia Forense
mm – milímetros
MOD – Cavidade mésio - ocluso - distal
MOR – Departamento de Ciências Morfológicas
MV – Cavidade mésio - vestibular
OD – Cavidade ocluso - distal
ODL – Cavidade ocluso - distal - lingual
RV6 – Rio Vermelho 6
S – Sexo
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública
Sigpex – Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e
de Extensão
STAT – Estatura
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 25
1.1. CONCEITOS GERAIS DE ANTROPOLOGIA .................. 25
1.2. ANTROPOLOGIA FORENSE ............................................ 25
1.2.1. Papel do Antropólogo Forense ..................................... 26
1.2.2. Aspectos Históricos da Antropologia Forense ............. 26
1.2.3. Estudos no Brasil .......................................................... 27
1.3. PERFIL BIOLÓGICO .......................................................... 27
1.3.1. Ancestralidade .............................................................. 28
1.3.2. Sexo .............................................................................. 28
1.3.3. Idade ............................................................................. 29
1.3.4. Estatura ......................................................................... 30
1.4. FATORES INDIVIDUALIZANTES ................................... 30
2. OBJETIVOS ................................................................................. 33
2.1. OBJETIVO GERAL ............................................................. 33
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................... 33
3. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................... 35
3.1. AMOSTRA........................................................................... 35
3.2. COMITÊ DE ÉTICA ............................................................ 35
3.3. EXUMAÇÃO ....................................................................... 36
3.4. LIMPEZA E CATALOGAÇÃO .......................................... 36
3.5. INVENTÁRIO ..................................................................... 38
3.6. ODONTOGRAMA .............................................................. 38
3.7. PERFIL BIOLÓGICO .......................................................... 39
3.7.1. Ancestralidade .............................................................. 39
3.7.2. Sexo .............................................................................. 40
3.7.3. Idade ............................................................................. 41
3.7.4. Estatura ......................................................................... 41
3.8. FATORES INDIVIDUALIZANTES ................................... 43
4. RESULTADOS ............................................................................ 45
4.1. EXUMAÇÃO ....................................................................... 45
4.2. INVENTÁRIO ..................................................................... 46
4.3. ODONTOGRAMA .............................................................. 47
4.4. PERFIL BIOLÓGICO .......................................................... 50
4.4.1. Ancestralidade .............................................................. 50
4.4.2. Sexo .............................................................................. 52
4.4.3. Idade ............................................................................. 55
4.4.4. Estatura ......................................................................... 57
4.5. FATORES INDIVIDUALIZANTES ................................... 57
5. DISCUSSÃO ................................................................................ 65
6. CONCLUSÃO .............................................................................. 71
REFERÊNCIAS .................................................................................... 73
APÊNDICE A – Inventário Indivíduo RV6 .......................................... 81
APÊNDICE B – Odontograma do Indivíduo RV6 ............................... 92
APÊNDICE C – Regiões analisadas na cintura pélvica segundo método
de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994). .................. 93
APÊNDICE D – Regiões analisadas no crânio segundo o método de
Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994). ....................... 94
APÊNDICE E – Medidas realizadas em milímetros para o programa
AncesTrees (2014) sendo utilizada Oa2. ............................................... 95
APÊNDICE F – Parâmetros analisados para o teste de Hefner (2009). 97
APÊNDICE G – Dados utilizados para o software DSP2 do quadril
esquerdo e direito respectivamente. ...................................................... 98
APÊNDICE H – Estruturas que apresentam variações anatômicas,
traumatismos, intervenções cirúrgicas e outros fatores. ...................... 100
ANEXO A – Documento relativo ao convênio firmado entre o IGP e a
UFSC .................................................................................................. 105
ANEXO B – Características da ancestralidade ................................... 106
25
1. INTRODUÇÃO
1.1. CONCEITOS GERAIS DE ANTROPOLOGIA
Podemos definir antropologia como uma ciência que tem por
objetivo o estudo do homem (sua origem, evolução, etc.) além de seus
costumes, crenças e comportamento (NETO, 2010; MICHAELIS,
2018). Ela ainda pode ser dividida em três áreas: antropologia social
(cultural), arqueologia e antropologia biológica (física) (SIQUEIRA,
2007).
A antropologia social estuda a cultura da sociedade, que está
ligada com o modo como ela organiza sua percepção do mundo. A
arqueologia estuda culturas do passado, isto é, os vestígios deixados
como utensílios, construções, etc. A antropologia biológica por sua vez,
consiste no estudo das relações do homem no espaço e no tempo,
analisando a evolução e as modificações genéticas, além de levar em
conta os fatores culturais que o moldam fisiológica e morfologicamente
(SIQUEIRA, 2007).
1.2. ANTROPOLOGIA FORENSE
A Antropologia Forense (AF) é um ramo da antropologia
biológica que estuda a diversidade humana para que, com esse
conhecimento, possa-se identificar restos mortais supostamente
humanos. Dessa forma, seu objetivo é identificar cadáveres recentes ou
restos humanos em estado avançado de decomposição cadavérica
(condição esquelética), podendo auxiliar também em casos de pessoas
vivas (UBELAKER, 2006; MALGOSA et. al., 2010; UBELAKER,
2014; ALAF, 2016).
Anterior à AF, anatomistas realizavam essa tarefa utilizando, da
melhor maneira possível, suas experiências e a pouca técnica disponível
em livros didáticos (UBELAKER, 2006). Além disso, a AF preocupa-se
com a recuperação dos restos mortais, além de buscar respostas para
esclarecer as causas e circunstâncias da morte (caso haja uma atividade
criminal), estimar o tempo decorrido desde a morte até o momento que o
indivíduo foi encontrado, entre outros. O antropólogo forense possui a
análise dos ossos como principal objeto de estudo, porém lida com
restos mortais em diferentes estados de decomposição cadavérica
(UBELAKER, 2014; CUNHA, 2017). Quando o objeto de estudo é o
esqueleto humano, temos a osteologia humana, definida como o estudo
anatômico dos ossos (NETO, 2010).
26
Na identificação, existem os chamados métodos de identificação
primários (datiloscopia, genética forense e odontologia forense) que, por
si só, já são suficientes para identificar uma vítima (INTERPOL, 2018).
Porém, em situações onde são encontrados apenas fragmentos ósseos,
essas técnicas podem ser inutilizáveis, sendo necessário recorrer a
métodos secundários, em que os métodos adotados pela AF permitem a
identificação desses fragmentos (CUNHA, 2017; CAVALHO, 2018).
Não somente casos onde restos mortais são encontrados, mas também
desastres de massa e crimes contra a humanidade são atribuídos à AF
(CUNHA, 2014).
1.2.1. Papel do Antropólogo Forense
No momento em que se encontra uma ossada, vários profissionais
serão necessários para realizar a investigação. O antropólogo forense
torna-se importante, já que pode determinar se essa ossada pertence ou
não a espécie humana (CUNHA, 2014) e caso pertença, sua
identificação se torna necessária por razões sociais, civis, penais e
administrativas, como em casos de crime contra a vida (NETO, 2010).
Assim, a AF contribui desde a recuperação dos restos mortais em
um determinado cenário forense até sua identificação, passando por
etapas como a avaliação do perfil biológico e de fatores de
individualização, avaliando e descrevendo variações anatômicas
assintomáticas, patologias, traumatismos causados por acidentes e
provenientes de crimes (WASTERLAIN, 2000; UBELAKER, 2014). É
imprescindível que haja confrontação de dados ante mortem (AM),
como radiografias, registros médicos, fotografias, entre outros, feitos em
vida, e post mortem (PM) para uma identificação bem-sucedida
(AZEVEDO, 2008; UBELAKER, 2014).
1.2.2. Aspectos Históricos da Antropologia Forense
O antropólogo forense se tornou um profissional essencial em
uma investigação após o final da 2ª Guerra Mundial. Em um cenário
onde havia muitos corpos sem identificação, foi necessário desenvolver
técnicas eficientes para poder descobrir a identidade desses indivíduos e
assim entregá-los aos familiares. Com isso, houve uma crescente
publicação de trabalhos nessa área (AZEVEDO, 2008).
Outro desastre de massa mundialmente conhecido o qual se fez
necessário o uso da AF foi o ataque às “Torres Gêmeas” no World
Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001. Nesse desastre, por conta
27
do impacto das aeronaves, da ruína das torres, das altas temperaturas das
explosões, da exposição ao clima por um longo período e do peso das
máquinas sobre os destroços, os restos mortais se encontravam
extremamente fragmentados não sendo possível utilizar os métodos de
identificação primários e assim dificultando a identificação. Como não
havia uma lista definida de vítimas, foi considerada uma lista aberta
podendo ter inúmeras pessoas. Cada fragmento de osso encontrado
poderia ser o único remanescente recuperado de um indivíduo, sendo
necessária a correta identificação (BUDIMLIJA et. al., 2003).
Um desastre de massa ocorrido no Brasil foi o acidente aéreo da
companhia TAM em 2007. Diferentemente da 2ª Guerra Mundial e do
ataque às “Torres Gêmeas”, possuía uma lista de vítimas fechada, a de
passageiros e de tripulação. Apesar dos corpos encontrarem-se
carbonizados, ainda foi possível reconhecer algumas marcas corporais,
como tatuagens e cicatrizes, além de objetos pessoais, como aliança e
correntes. Outra opção foi o uso de papiloscopia (impressão digital) e
em último caso o exame de DNA (SILVÉRIO, 2007).
1.2.3. Estudos no Brasil
Para a análise das características que geram um perfil biológico
são necessários dados gerados a partir de perfis conhecidos para
comparação. Essa análise é passível de erro quando utilizados dados e
metodologias de populações estrangeiras, uma vez que ocorrem
miscigenações diferentes em diversas localidades, gerando assim
padrões de ossos diferentes devido às condições alimentares, genéticas,
socioculturais, dentre outros (ABE, 2000; COSTA 2002; AZEVEDO,
2008; OTTO, 2016).
No Brasil, há poucas metodologias credíveis, uma vez que foi
amplamente afetada pelo controle ditatorial. Dessa forma, utilizam-se as
testadas em populações estrangeiras (SOARES, 2008; FRANCISCO,
2011).
No entanto, a população brasileira possui um alto índice de
miscigenação dificultando a identificação ou gerando perfis incorretos
(VANRELL, 2012; OTTO, 2016).
1.3. PERFIL BIOLÓGICO
O perfil biológico é a caracterização de um indivíduo através da
avaliação de quatro parâmetros genéricos de identificação sendo eles:
ancestralidade, sexo, idade no momento da morte e estatura. Esse perfil
28
não é suficiente para dar a identidade a alguém, sendo utilizado como
um método de exclusão para reduzir o número de possíveis vítimas ou
em uma lista de desaparecidos e dar um direcionamento na investigação
(CUNHA, 2014).
1.3.1. Ancestralidade
A ancestralidade é um importante parâmetro a ser analisado no
perfil biológico, pois mesmo com a grande miscigenação global onde
não se possuem mais linhagens puras, ou seja, grupos populacionais
com características especificas, cada grupo populacional apresenta um
padrão ósseo próprio (BORBOREMA, 2012; CUNHA, 2014;
NAVEGA, 2014). O termo “raça” não é utilizado em antropologia, uma
vez que evidências científicas condenam o seu conceito já que todos nós
pertencemos à raça humana, utilizado-se afinidade populacional, grupo
populacional, entre outros (NAVEGA, 2014).
Através dessa análise, é possível estimar as afinidades
populacionais do indivíduo entre três diferentes grupos: europeu,
africano e asiático (CUNHA, 2014). Os ossos do crânio, principalmente
os que compõem a face, permitem uma melhor estimativa (CUNHA,
2014).
1.3.2. Sexo
Existe diferença entre sexo biológico e gênero, o primeiro é
aquele determinado no nascimento, já o segundo corresponde ao modo
como a pessoa se vê (GIFFIN, 1991; MOORE, 1997). É importante
esclarecer que o que é estimado na antropologia forense é o sexo
biológico.
As regiões de inserções musculares nos ossos de indivíduos do
sexo feminino tendem a ser mais delicadas, possuindo dimensões
proporcionalmente menores, assim como no geral, os ossos masculinos
tendem a ser mais robustos (FEREMBACH et. al., 1980; COSTA,
2002).
Para a análise do sexo, é sabido que os ossos do quadril são os
mais importantes, apresentando o maior dimorfismo sexual e um padrão
semelhante desse dimorfismo em diferentes populações, seguido dos
ossos do crânio e dos ossos longos (fêmur, úmero, entre outros) que por
sua vez são frequentemente recuperados em contexto forense
(FEREMBACH et. al., 1980; CURATE et. al., 2016; BRUZEK et. al.,
29
2017). As análises podem ser tanto métricas como não-métricas, sendo a
primeira mais objetiva (CUNHA, 2014; BRUZEK et. al., 2017).
Como crianças e jovens não apresentam caracteres sexuais
secundários bem desenvolvidos, esses procedimentos de investigação
não são utilizados (FEREMBACH et. al., 1980; CUNHA, 2014).
1.3.3. Idade
Para a idade, a estimativa sempre se refere à idade biológica,
aquela que o corpo demonstra ter e não a idade cronológica, a que está
no registro de nascimento (CUNHA, 2014). Não é possível determinar
com exatidão a idade no momento da morte, por este motivo é aplicado
um intervalo que atribui idades cronológicas para determinados períodos
biológicos (FEREMBACH et. al., 1980).
Quanto mais jovem o indivíduo, menor será o intervalo, pois
ainda se encontra em processo de desenvolvimento no qual são
identificadas diversas alterações nos ossos em curtos espaços de tempo e
os intervalos são bem definidos. À medida que se vai envelhecendo e
entrando em uma fase de estabilidade, os intervalos ficam maiores
(SILVA et. al., 2008). Além disso, os métodos utilizados para estimar a
idade são não-métricos sobretudo, baseados na visualização e em
mudanças ósseas relacionadas à idade, o que os tornam subjetivos
(FEREMBACH et. al., 1980; KOTEROVÁ et. al., 2018).
Em crianças, essa estimativa é feita principalmente a partir do
desenvolvimento e erupção dos dentes (CUNHA, 2014; McCLOE,
2018). Em jovens, é realizada a partir do padrão de fusão entre as
epífises e diáfises dos ossos longos (COSTA, 2002; CUNHA, 2014).
Para os adultos, esta estimativa torna-se mais complexa, pois não
ocorrem mais alterações nos ossos. Por este motivo, utilizam-se outros
métodos, como a ossificação completa da crista ilíaca que ocorre por
volta dos 22 anos e da extremidade esternal da clavícula
aproximadamente aos 30 anos, entre outros (FEREMBACH et. al., 1980; BUIKSTRA e UBELAKER, 1994). Porém, ainda são necessários
outros procedimentos para serem usados depois de 30 anos. Dessa
forma, começa a se observar alterações degenerativas da face sinfisial
do púbis, da face auricular do ílio para o sacro e da extremidade anterior
da IV costela (SCHIMITT, 2001; COSTA, 2002; KOTEROVÁ et. al.,
2018). No entanto, fatores podem interferir na morfologia dos ossos
como o número de partos realizados por uma mulher que pode modificar
a face sinfisial do púbis (KOTEROVÁ et. al., 2018).
30
1.3.4. Estatura
A estatura é, normalmente, a última das análises do perfil
biológico a ser estimada, uma vez que deve levar em conta as descritas
anteriormente (CUNHA, 2014; ZHAN, 2018).
É um parâmetro que varia no indivíduo ao longo de um mesmo
dia (MENDONÇA, 2000), no entanto, possui uma relação bem definida
com o comprimento dos ossos longos (MENDONÇA, 2000; ZHAN,
2018).
Assim como a idade, a estatura não é apresentada como uma
medida única, mas em um intervalo (CUNHA, 2014). Para essa
estimativa, realizam-se medições nos ossos longos, primeiramente o
fêmur, seguido pelo úmero (MENDONÇA, 2000; ZHAN, 2018).
1.4. FATORES INDIVIDUALIZANTES
Todos os indivíduos apresentam características únicas, que os
tornam diferentes das demais pessoas. Essas características, conhecidas
como fatores de individualização, podem ser encontradas em quase
todos os ossos do corpo humano como variações anatômicas
assintomáticas, patologias, traumatismos, etc. (AZEVEDO, 2008;
VERNA, 2016).
É importante reconhecer a estrutura morfológica dos ossos tida
como padrão para que se possam determinar as variações (UBELAKER,
2014). Elas complementam o perfil biológico, sendo compartilhadas por
um menor número de pessoas, podendo corresponder a um único
indivíduo (VERNA, 2016).
Variações comumente encontradas em uma população podem ser
características específicas da localidade em questão, no entanto, quanto
mais rara for a variação em uma determinada população, melhor é o seu
potencial de individualização desde que se possa confrontar com dados
AM (CUNHA, 2014; UBELAKER, 2014; VERNA, 2016).
As intervenções cirúrgicas (próteses, silicones, etc.) também são
de suma importância na identificação, visto que para obedecer à
legislação, devem conter um número de série único, além do nome da
empresa que o está fornecendo. Com esse número, é possível rastreá-lo
em bases de dados hospitalares e chegar ao indivíduo em questão
(CUNHA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Um ponto importante na individualização está relacionado à
dentição, já que os dentes resistem por mais tempo a decomposição e
também suportam temperaturas mais elevadas (AZEVEDO, 2008). No
31
entanto, são necessários os prontuários odontológicos (odontogramas)
das possíveis vítimas para que se realize uma comparação dos dados
AM e PM, confrontando restaurações, extrações, etc.
32
33
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Acompanhar e realizar a exumação e análises dos restos mortais
de um cadáver humano aplicando métodos métricos e não-métricos
através da perspectiva da antropologia forense.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Realizar a exumação cadavérica;
Registrar todas as informações relacionadas a exumação na
cadeia de custódia;
Fotografar todas as etapas da exumação;
Limpar os ossos;
Fazer o inventário e o registro dos ossos;
Avaliar o perfil biológico (ancestralidade, sexo, idade e
estatura);
Analisar fatores individualizantes.
34
35
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. AMOSTRA
O material de estudo tratou-se de um cadáver cedido pelo
Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Catarina para o Laboratório de
Antropologia Forense (LANFOR) / Departamento de Ciências
Morfológicas (MOR) / Centro de Ciências Biológicas (CCB) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por meio de um
convênio (Anexo A) para fins de pesquisa.
Por não se encontrar familiares ou esses não terem interesse no
corpo, o indivíduo foi inumado no Cemitério Municipal do Rio
Vermelho pelo IGP. O cemitério localiza-se na Rodovia João Gualberto
Soares, no bairro Rio Vermelho no norte da Ilha de Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil.
O túmulo, onde o corpo se encontrava inumado, estava localizado
na porção oeste do cemitério em relação à entrada, em uma parte
reservada aos casos do IGP.
Por ter sido a sexta escavação realizada pelo LANFOR no
cemitério do Rio Vermelho, o presente material recebeu a identificação
de RV6 (Rio Vermelho 6).
3.2. COMITÊ DE ÉTICA
Por questões humanitárias e éticas, e tratando-se de um trabalho
com ser humano, foi necessária a aprovação do comitê de ética. Por
pertencer a outro trabalho intitulado “Estudo tafonômico em restos
mortais humanos para estimativa do sexo, idade, ancestralidade e
estatura através da antropologia forense” coordenado pela Profª. Dra.
Elisa Cristiana Winkelmann Duarte (LANFOR / MOR / CCB / UFSC),
apenas o trabalho maior necessitou da aprovação. Esse foi aprovado
pelo Sigpex (Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de
Pesquisa e de Extensão) onde se encontra com nº 201705324, além de
ter sido submetido à Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) sobre nº CAAE (Certificado de Apresentação
para Apreciação Ética): 77245517.6.0000.0121.
36
3.3. EXUMAÇÃO
No Brasil, a exumação é realizada exclusivamente pelo corpo de
bombeiros (LESSA 2006; SILVA e CALVO, 2007), entretanto, nesse
trabalho foi executada pelo coveiro e pela equipe do LANFOR.
Para a exumação, com o auxílio do coveiro do cemitério e do
IGP, foi definido o local exato do corpo. Sabia-se através do IGP que ele
havia sido inumado em um caixão. Foi realizado um desenho (croqui)
do local, com pontos de referência fixos (poste de luz e muro da lateral
esquerda do cemitério) e demonstrando sua posição espacial.
Como toda exumação acaba por destruir a cena encontrada, todas
as informações possíveis devem ser coletadas (LESSA, 2006). Por conta
disso, todo o processo de exumação foi fotografado e realizou-se um
diário de campo para que se registrassem as informações do que ocorreu
no local.
O início da retirada da terra se deu com enxadas e pás. Próximo
ao caixão, passou-se a utilizar pás de jardinagem para que não houvesse
danos ao material biológico. Quando se chegou ao tampo, esse foi
retirado e uma pequena amostra foi guardada. Dentro do caixão,
utilizaram-se preferencialmente materiais plásticos e de madeira além de
pincéis para a retirada de terra em volta dos ossos. Toda a terra retirada
de dentro da cova foi peneirada para que não houvesse perdas, como
falanges, sesamoides, unhas, etc.
À medida que o cadáver era removido de dentro da cova, ossos
pequenos e demais achados foram catalogados descrevendo qual o
material, em que região se encontrou e, tratando-se de osso bilateral, a
sua lateralidade.
Os ossos e as demais amostras foram depositados em caixas
plásticas com 27,5 cm de altura, 26,5 cm de largura e 58,5 cm de
comprimento e em seguida, transportados do Cemitério Municipal do
Rio Vermelho ao LANFOR / MOR / CCB / UFSC por uma viatura do
Instituto Geral de Perícias conduzida por um dos profissionais do
próprio IGP.
3.4. LIMPEZA E CATALOGAÇÃO
A limpeza foi realizada no LANFOR / MOR / CCB / UFSC,
sendo retirada a terra com pincéis e palitos de madeira. Para a remoção
de tecidos moles os restos cadavéricos ficaram expostos sobre uma mesa
37
de dissecação durante três meses dentro do Laboratório de Anatomia
Humana da Universidade Federal de Santa Catarina. Em nenhum
momento, foi utilizado água. O processo foi fotografado (Figura 1),
mostrando o estado dos ossos antes (A), durante (B) e após a limpeza
(C).
Figura 1 – Estágio de limpeza dos ossos
Úmero esquerdo antes de ocorrer à limpeza com presença de terra e tecidos
moles (A). Fêmur esquerdo em processo de limpeza na região fragmentada com
o auxílio de um palito de madeira (B). Fragmentos de costelas após a retirada da
terra (C). Fonte: Produzido pela autora (2019).
Após a limpeza, os ossos e fragmentos ósseos foram catalogados
e armazenados em duas caixas ossuárias, cada uma com 27,5 cm de
altura, 26,5 cm de largura e 58,5 cm de comprimento (Figura 2) as quais
se encontram na coleção do LANFOR / MOR / CCB / UFSC. Os ossos
de grande porte foram colocados diretamente na caixa, enquanto os
menores e fragmentos foram colocados em ziplock.
A B
C
B
38
Figura 2 – Ziplock contendo fragmentos ósseos do fêmur e caixa
ossuária para o armazenamento dos ossos
Ziplock contendo fragmentos do fêmur para armazenamento dentro da caixa
ossuária (A). Caixa para ossos onde estão armazenados os ossos e os ziplocks
(B). Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
3.5. INVENTÁRIO
A ossada foi exposta e fotografada em sua posição anatômica (ou
o mais próximo possível).
Os ossos foram analisados separadamente e descritos em um
inventário (Apêndice A) onde se observa quais se encontraram presentes
e quais não foram recuperados na exumação. Dentre os presentes, se
realizou uma separação entre os que estão completos (inteiros
morfologicamente) e os que estão fragmentados (com partes quebradas,
lascadas, etc.). Nesse inventário também foram anotadas alterações
morfológicas presentes em cada osso e demais observações pertinentes.
3.6. ODONTOGRAMA
Foi realizado um odontograma (Apêndice B) para análise dos
dentes onde foram documentadas alterações AM e PM. O documento foi
produzido com o auxílio da professora Dra. Beatriz de Barros
(Departamento de Odontologia / Centro de Ciências da Saúde / UFSC),
uma vez que apenas dentistas podem realizar tal documentação.
Foram anotados quais dentes se encontraram em estado natural
(hígido), quais dos presentes possuíam alterações, onde se encontraram
fraturas e quais possuíam restaurações e sua classificação. As restaurações podem ser classificadas dependendo do tipo de
cavidade encontrada nos dentes. As cavidades de classe I são preparadas
na face oclusal de pré-molares e molares. As de classe II são preparadas
nas faces proximais dos pré-molares e molares. Na classe III são nos
incisivos e caninos sem que haja remoção do ângulo incisal. Na IV,
A B
39
ocorre a remoção do ângulo. Já a V são as cavidades no terço gengival
nas faces vestibular e lingual de todos os dentes (MANDARINO et. al.,
2003).
3.7. PERFIL BIOLÓGICO
Para a avaliação do perfil biológico (ancestralidade, sexo, idade,
estatura) foram realizadas análises métricas e não-métricas nos ossos do
crânio, do quadril, ossos longos (fêmur, úmero e rádio) e clavícula
testando diferentes tipos de metodologias. Para que os erros
intraobservador (entre o próprio observador) e interobservador (entre
dois observadores) não interferissem nos resultados, as medidas foram
realizadas duas vezes, em dias diferentes pela autora (erro
intraobservador) e uma vez pelo orientador Esp. Leoni Lauricio
Fagundes (Laboratório de Antropologia Forense / Departamento de
Ciências da Vida / Universidade de Coimbra).
Como as medidas não foram discrepantes, utilizaram-se os dados
obtidos no segundo dia de observações da autora, pois já havia uma
maior experiência na observação.
3.7.1. Ancestralidade
Para a ancestralidade apenas o crânio foi utilizado, sendo
realizadas análises métricas e não-métricas.
Para as análises métricas foi utilizado o método de Navega et. al.
(2014), no qual realizaram-se as trinta medidas para o programa
AncesTrees (disponível em: http://osteomics.com/AncesTrees/). Seus
resultados obtidos (em milímetros) foram inseridos no mesmo que, com
base em um algoritmo, classifica o indivíduo de acordo com os grupos
populacionais selecionados. Nesse caso, os nove grupos disponíveis
foram selecionados: norte da Ásia e Ártico, América do Norte e do Sul,
Europa, nordeste da África, África Subsaariana, sul da Ásia, Austrália e
Melanésia, leste e sudeste da Ásia e Polinésia.
Para as análises não-métricas foram utilizadas duas metodologias.
Uma adaptada de Hefner (2009) em que se analisaram todas as
características presente na metodologia (http://osteomics.com/hefneR/),
gerando assim um percentual de possível ancestralidade dentre europeu,
asiático, africano e americano nativo. A outra foi adaptada da Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP) [s. d.] a qual, de acordo com
a morfologia do crânio, avalia a ancestralidade em europeu, asiático e
africano (Anexo B).
40
3.7.2. Sexo
Para a estimativa do sexo, foram realizadas análises métricas e
não-métricas. A primeira nos longos (fêmur, úmero, rádio), a segunda
no crânio e ambas nos ossos do quadril.
Quanto aos ossos do quadril, as análises métricas foram baseadas
no método de Bruzek et. al. (2017) em que foram realizadas as medidas
do software DSP2 (Diagnose Sexuelle Probabiliste v2), e inseridas no
sistema que gerou um resultado de sexo baseado na variabilidade
mundial. Foram realizadas e testadas às medidas de ambas as
lateralidades da cintura pélvica. Também foram realizadas análises não-
métricas baseadas nos métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e
Ubelaker (1994) em que se observou onze regiões de dimorfismo sexual
(Apêndice C).
Para o crânio, foram adaptados os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994) sendo observadas dez regiões
anatômicas que possuem características que diferem morfologicamente
entre os sexos (Apêndice D).
Para os ossos longos, foram utilizadas duas metodologias. A
primeira foi adaptada de Wasterlain (2000) a qual foram realizadas
quatro medidas em milímetros (mm): o diâmetro vertical da cabeça do
úmero, a largura biepicondilar do úmero, o diâmetro vertical da cabeça
do fêmur e o comprimento máximo do rádio, e comparadas com o ponto
de cisão. Caso fossem maiores que esse ponto, o indivíduo seria
considerado masculino e, se fossem menores, seria considerado
feminino. A segunda foi adaptada de Curate et. al. (2016) em que se
realizaram duas medidas: a largura do colo do fêmur (FNW) e o
comprimento do eixo do colo do fêmur (FNAL). Após se obter as
medidas, essas foram colocadas em uma das fórmulas para o cálculo do
valor de S (sexo). A principal fórmula utilizada contém as duas medidas
(1), mas caso não se possa realizar uma das medidas, as outras fórmulas
devem ser usadas (caso não se tenha a medida FNAL é usada à fórmula
“2” e caso não se tenha FNW é usada a “3”). Valores de S negativos
referem-se ao sexo feminino e valores positivos ao sexo masculino.
S = -48,587 + (0,279 * FNAL) + (0,737 * FNW) (1)
S = -30,445 + (0,968 * FNW) (2)
S = -37,156 + (0,410 * FNAL) (3)
41
3.7.3. Idade
A idade foi estimada utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) que analisa morfologicamente a face auricular do ílio para o
sacro e de Brooks e Suchey (1990) que considera a região da face
sinfisial do púbis, ambas analisando as alterações degenerativas e
gerando fases (oito e seis fases respectivamente), que por sua vez
correspondem a um determinado intervalo etário. Também foram
observados padrões de ossificação de articulações cartilaginosas
adaptando os métodos de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker
(1994), onde se observam as regiões da extremidade esternal da
clavícula, que ossifica por volta dos 30 anos, a sincondrose
esfenoccipital, ossifica até os 25 anos, a crista ilíaca, entre 21 e 24 anos
e as linhas transversas do sacro, até os 25 anos. Estas não geram um
intervalo, mas permitem dizer se o indivíduo já ultrapassou determinada
idade.
3.7.4. Estatura
Para a estimativa da estatura (STAT), através do método métrico
adaptado de Mendonça (2000), foi utilizada uma fórmula matemática
dependente do sexo (fórmula 1 – feminino; fórmula 2 – masculino) em
que foi realizada a medida do comprimento máximo do úmero direito
(CMU) em mm, que é desde o ponto mais proximal da cabeça (ponto A)
até o ponto mais distal da tróclea (ponto E), tendo o resultado final
(STAT) em centímetros (cm) (Figura 3).
STAT = (64,26 + 0,3065 * CMU) +/- 7,70 (1)
STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44 (2)
42
Figura 3 – Desenho esquemático do úmero mostrando os pontos
utilizados para a medição
Pontos mostrando onde foram realizadas as medidas para o cálculo da estatura.
Ponto A mostra a região mais proximal da cabeça e ponto E mostra a região
mais distal da tróclea. Fonte: Mendonça (2000).
Para isso, o úmero foi colocado em uma folha quadriculada sobre
sua face anterior com a fossa do olécrano para anterior (Figura 4).
Figura 4 – Medição do úmero direito na folha quadriculada
Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
43
3.8. FATORES INDIVIDUALIZANTES
Os fatores individualizantes foram classificados em: variações
anatômicas assintomáticas ósseas e dentárias, patologias, traumatismos
ósseos, intervenções cirúrgicas e outros fatores encontrados (CUNHA,
2014).
Quanto às variações anatômicas, foram analisados padrões
considerados morfologicamente diferentes para os ossos, como ossos
supranumerários, espinha bífida oculta, vértebras fusionadas, dentes
oclusos, etc. (AZEVEDO, 2008; VERNA, 2016).
Quanto aos traumatismos e patologias foram observados os locais
onde ocorreram, os tipos e se possuía fratura consolidada (UBELAKER,
2014).
Foi observado se possuía alguma intervenção cirúrgica, como
próteses, silicone, pinos, etc. uma vez que são de suma importância
devido às normas de utilização (CUNHA, 2014).
Alguns fatores circunstanciais foram observados como: itens
encontrados junto ao corpo, cor do esmalte presente nas unhas e
adereços encontrados no caixão.
44
45
4. RESULTADOS
4.1. EXUMAÇÃO
A exumação do indivíduo RV6 ocorreu no dia 16 de fevereiro de
2017. O coveiro, previamente ao dia da exumação, removeu
aproximadamente 90 cm de terra, deixando somente uns 10 cm acima
do caixão. A partir deste nível o restante da areia foi removida pela
equipe do LANFOR e toda ela peneirada para evitar a perda de qualquer
material.
Após a abertura do caixão (que estava com sua tampa quebrada
longitudinalmente) e a remoção da areia acumulada em torno do corpo,
foi observado que o RV6 se encontrava em decúbito ventral, além do
dorso e toda região posterior estarem cobertas por um saco branco
(Figura 5).
Figura 5 – RV6 durante a exumação
Cadáver RV6 dentro do caixão em decúbito ventral e mostrando a presença de
um saco branco (setas azuis). Cada quadrado da régua quadriculada que está
apontando para o norte representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Ao remover a terra em torno do cadáver e retirar o plástico que o
envolvia, verificou-se que ele não se encontrava em condição
esquelética de decomposição cadavérica. Algumas regiões do corpo,
principalmente a região do tórax e os membros inferiores, ainda
46
apresentavam uma quantidade considerável de tecidos moles estando,
portanto, este indivíduo em estado de saponificação.
Junto ao cadáver foram encontradas duas próteses de silicones na
região do tórax, sendo que uma havia vazado, derramando seu conteúdo
sobre o tórax e o abdome. Também foi encontrada uma bolsa pequena
com alguns possíveis pertences do RV6 e um pote na região entre o
úmero e as costelas.
Todo conteúdo encontrado dentro do túmulo foi removido e
coletado: ossos, roupas e demais materiais biológicos (fungos, aranhas,
pupários, raízes, entre outros). Também foi coletado amostras de terra
da parte inferior do caixão.
4.2. INVENTÁRIO
Na realização do inventário (Apêndice A), o cadáver RV6 foi
exposto (Figura 6) e notou-se que estavam ausentes alguns ossos: o
lacrimal esquerdo, os ossículos da audição, quatro vértebras torácicas,
três vértebras lombares, algumas costelas esquerdas e direitas, uma
falange distal da mão direita, o púbis direito, uma falange média e uma
distal do pé direito.
47
Figura 6 – Cadáver RV6 em sua posição anatômica
Esqueleto RV6 na sua posição anatômica, com todos os ossos e fragmentos
ósseos encontrados. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela
autora (2019).
Observou-se que o RV6 tem alguns ossos inteiros (completos) e
outros fragmentados em diversas regiões. Fragmentados – oriundos de
traumatismos e alterações tafonômicas.
4.3. ODONTOGRAMA
Além do inventário descrito acima, também se realizou um
odontograma (Apêndice B), onde foi possível observar que no indivíduo
RV6 os dentes 14, 15, 16, 26, 36, 37 e 46 foram extraídos AM, enquanto
o 22 pode ter sido extraído peri ou PM, ou seja, durante ou após a
morte. O 24 e o 28 foram extraídos durante o manuseio. Os dentes 23,
31, 32, 33, 41, 42 e 43 encontravam-se hígidos, sem nenhuma alteração.
O 48 estava ausente. O 38 encontrava-se incluso e impactado, ou seja,
não teve sua erupção (Figura 7).
48
Figura 7 – Terceiro molar (dente 38) incluso
Seta azul mostrando o dente 38 (terceiro molar) presente no osso da mandíbula,
porém sem sua erupção, ficando impactado / incluso. Cada quadrado representa
10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Os dentes 24, 28, 45 e 47 continham restauração de classe I com
resina composta. O 24 e o 25 apresentaram fratura na parede vestibular e
o 47 fratura vertical entre as paredes vestibular e mesial, os dentes 11,
21, e 23 mostraram linhas de fratura na parede palatina, o alvéolo do 22
linha de fratura nas paredes palatina e distal. O 28 possuía cavidade de
classe II na face mesial. Os dentes que apresentaram restauração de
classe II são: o 18 (cavidade mésio-ocluso-distal), o 25 (ocluso-distal), o
27 (cavidade mésio-ocluso-distal) com perda de material restaurador na
face distal e o 44 (ocluso-distal), todos com resina composta. O 12
mostrou preparo de classe IV na face mesial, o 34 preparo de classe II
(ocluso-distal-lingual), ambos sem a presença de material restaurador. O
21 e o 22 indicaram restauração de classe IV (mésio-vestibular) e V
(coroa-vestibular) respectivamente, ambos de resina composta e o 11 e o
35 pussuíam coroa unitária, a primeira metaloplástica e a segunda metálica (Figura 8).
49
Figura 8 – Coroa unitária metálica presente no dente 35
Seta azul mostrando estrutura metálica que substituiu o dente 35. Cada
quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Os dentes 13 e 17 apresentaram coroa pilar de prótese parcial
fixa, no qual se insere uma infraestrutura metálica com cobertura
estética de cerâmica substituindo os dentes 14 e 15 (Figura 9).
50
Figura 9 – Região entre os dentes 13 e 17
Visualização do dente 17 (seta azul) e o dente 13 (seta cinza), entre eles existe
uma infraestrutura metálica com cobertura estética de cerâmica. Cada quadrado
representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Os dentes 31, 32, 33, 41, 42 e 43 possuíam facetas de desgaste
incisal.
4.4. PERFIL BIOLÓGICO
4.4.1. Ancestralidade
Com os dados obtidos a partir do método métrico de Navega et.
al. (2014) no qual utilizou-se do programa AncesTrees inserindo
medidas craniométricas (Apêndice E), o indivíduo RV6 tem 57,8% de
probabilidade de pertencer ao grupo norte e sul americano e
probabilidade de 42,2% de pertencer ao grupo europeu (Figura 10).
51
Figura 10 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o
AncesTrees (2014)
Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo
observado que, em ordem de maior probabilidade temos norte e sul americano
com 57,8 % e europeu com 42,2%. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Na análise não-métrica que utilizou a metodologia adaptada de
Hefner (2009) sob a qual se analisaram características morfológicas do
crânio (Apêndice F), o resultado mostrou que há uma maior
probabilidade do indivíduo RV6 pertencer ao grupo populacional dos
europeus, tendo 69,4%. Possui também 28,7% de chance de pertencer
ao grupo Nativo Americano, 1,3% de pertencer ao grupo Asiático e
0,6% de pertencer ao Africano (Figura 11).
Figura 11 – Resultado da estimativa da ancestralidade segundo o
método de Hefner (2009)
Gráfico representando a porcentagem das possíveis ancestralidades, sendo
observado que, em ordem de maior probabilidade temos europeu com 69,4%,
nativo americano com 28,7%, asiático com 1,3% e africano com 0,6%. Fonte:
Adaptado de <http://osteomics.com/hefneR/> (2019).
52
A estimativa obtida pelo método da SENASP [s. d.] também
resultou em uma provável ancestralidade europeia. Das 16
características observáveis, uma não pode ser analisada (tubérculo de
Carabelli) devido à prótese dentária. As demais foram definidas como
europeias, dentre os grupos europeu, asiático e africano. Em apenas
quatro características outra ancestralidade foi marcada. Entretanto em
conjunto com a europeia (Quadro 1).
Quadro 1 – Características presentes em duas ancestralidades
Característica Forma Ancestralidade
Depressão pós-bregmática Ausente Europeu e Asiático
Contorno dos ossos nasais Angulares entre si Europeu e Asiático
Largura facial Estreita Europeu e Africano
Forma dos incisivos Em espátula Europeu e Africano Características comuns a mais de um grupo, que foram notadas no crânio do
RV6. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Assim, para a análise métrica, o indivíduo RV6 pode pertencer ao
grupo populacional americano e para as não-métricas a possível
ancestralidade ficou definida como pertencente ao grupo europeu.
4.4.2. Sexo
Para a estimativa do sexo, utilizando-se o software DSP2,
analisaram-se de forma métrica os ossos do quadril (Apêndice G). No
lado esquerdo, devido à fragmentação dos ossos foram realizadas
somente quatro das dez medidas, sendo o sexo estimado, o masculino
com 98,9% de probabilidade. No lado direito, foram obtidos, de oito
medidas 98,6% de probabilidade de também pertencer ao sexo
masculino.
Na análise não-métrica dos ossos do quadril segundo o método
adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994), das
11 características analisadas (Apêndice C), apenas duas não pertenceram
ao sexo masculino (Quadro 2).
53
Quadro 2 – Características da cintura pélvica que não pertencem ao
sexo masculino
Região anatômica Resultado
Incisura isquiática maior Indeterminado
Forame obturado Feminino A incisura isquiática maior foi definida como indeterminado, pois apresenta
características que se aproximam tanto do sexo masculino como feminino. O
forame obturado apresenta uma característica feminina, com estrutura
triangular. Fonte: Produzido pela autora (2019).
A análise do crânio resultou em uma estimativa do sexo
masculino, no método não-métrico adaptado de Ferembach et. al. (1980)
e Buikstra e Ubelaker (1994), no qual, das dez características
observadas, duas pertenciam ao sexo feminino (Quadro 3).
Quadro 3 – Características do crânio que não pertencem ao sexo
masculino
Região anatômica Características
Arcos zigomáticos Gráceis e baixos
Protuberância mentual Pequeno, redondo e discreto Fonte: Produzido pela autora (2019).
Com os ossos longos, a estimativa do sexo também resultou no
sexo masculino. Na metodologia adaptada de Wasterlain (2000), as
medidas realizadas no úmero, fêmur e rádio indicaram uma
probabilidade de aproximadamente 100% de ser masculino (Quadro 4).
54
Quadro 4 – Medidas realizadas nos ossos longos para determinação
do sexo
Medidas Resultados
(mm)
Ponto de
cisão (mm)
Conclusão
Diâmetro vertical
da cabeça do
úmero
47,88
42,36
Masculino
Largura
biepicondilar do
úmero
59,01
56,63
Masculino
Diâmetro vertical
da cabeça do
fêmur
51,07
43,23
Masculino
Comprimento
máximo do rádio
260
222,77
Masculino Os valores acima do ponto de cisão são considerados masculinos. Todos os
resultados obtidos são superiores ao ponto de cisão, sendo desta forma todas as
medidas consideradas masculinas. Fonte: Adaptado de Wasterlain (2000).
Na metodologia de Curate et.al. (2016), o comprimento do eixo
do colo do fêmur (FNAL) não pode ser calculado devido à região estar
fragmentada (Figura 12). Por isso, foi utilizada a fórmula que contém
apenas a largura do colo do fêmur (FNW). Essa medida foi de 38,38
mm, que ao ser inserido na fórmula S = -30,445 + (0,968 * FNW)
chegou-se ao valor de 6,7 e por ser um valor positivo foi estimado como
masculino com cerca de 100% de probabilidade.
55
Figura 12 – Região das cabeças dos fêmures fragmentadas na área
da análise
As setas azuis apontam para as regiões que servem para a realização da medida
FNAL, mostrando que se encontram fragmentadas em ambos os fêmures. Cada
quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Assim, estimou-se que o indivíduo RV6 pertence ao sexo
biológico masculino.
4.4.3. Idade
Utilizando os métodos de Lovejoy et. al. (1985) e Brooks e
Suchey (1990) de alterações degenerativas, foi possível gerar uma fase,
correspondente a um intervalo de idade.
Para o primeiro foi definido que a face auricular do ílio para o
sacro apresentava características que representavam as fases quatro e
cinco, enquanto, que para o segundo, a face sinfisial do púbis
representava a fase quatro, que compreendem de 35 a 44 anos e 23 a 57
anos respectivamente (Figura 13).
56
Figura 13 – Estimativa da idade através do método de alterações
degenerativas
Na faixa branca (contorno pontilhado), o método de Lovejoy et. al. está sendo
representado mostrando o intervalo etário de 35 a 44 anos. Na faixa cinza
(contorno contínuo), o método de Books e Suchey corresponde ao intervalo de
23 a 57 anos. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Pelo padrão de ossificação de articulações foi possível observar
que o indivíduo possuía mais de 25 anos, uma vez que a sincondrose
esfenoccipital e a crista ilíaca se encontraram com ossificação completa.
Apesar da extremidade esternal da clavícula se encontrar fragmentada,
foi possível observar que ocorre labiação (um crescimento excessivo na
borda dos ossos que se projeta em direção as margens), um indicativo
que o indivíduo já passou dos 30 anos, momento em que ocorre a
ossificação dessa região (Figura 14).
Figura 14 – Labiação presente na extremidade esternal da clavícula
direita
Seta azul mostrando a labiação na extremidade esternal da clavícula direita na
região inferior. Mesmo fragmentada foi possível notar que já ocorreu
ossificação e assim pode ocorrer a labiação. Cada quadrado representa 10 mm.
Fonte: Produzido pela autora (2019).
57
Desse modo, o indivíduo RV6 encontrou-se em uma faixa etária
de 30 a 57 anos.
4.4.4. Estatura
O comprimento máximo do úmero (CMU) foi de 347 mm. Como
o RV6 foi estimado pertencendo ao sexo masculino, a fórmula utilizada
para calcular a estimativa da estatura através do método de Mendonça
(2000) foi STAT = (59,41 + 0,3269 * CMU) +/- 8,44.
Assim, o resultado foi de uma estatura estimada entre 164,4 cm e
181,3 cm.
4.5. FATORES INDIVIDUALIZANTES
O indivíduo RV6 apresentou três ossos com variações
anatômicas, a vértebra C1 (atlas), a escápula esquerda e a mandíbula.
No atlas foi observado que o indivíduo possuía espinha bífida oculta,
onde o arco posterior estava incompleto (Figura 15). Na escápula
esquerda foi observada incisura da escápula. Na mandíbula, o terceiro
molar do lado esquerdo (dente 38) estava incluso no osso, porém visível,
enquanto o direito (dente 48) estava ausente, podendo não ter se
desenvolvido ou se encontrar incluso no osso de forma a não ser visto
ou ainda ter sido extraído.
Figura 15 – Vértebra C1 (atlas) com espinha bífida oculta
Espinha bífida oculta na região do arco posterior. Cada quadrado representa 10
mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
58
Quanto aos traumatismos, o RV6 apresentou algumas fraturas,
dentre consolidadas, oblíquas, cominutivas, de avulsão (Figura 16), de
compressão (Figura 17) e de livro aberto (Figura 18).
Figura 16 – Tipos de fraturas
Esquema mostrando os tipos de fraturas ósseas que podem ser encontradas em
um indivíduo. Fonte: Adaptado de:
<https://pt.slideshare.net/ChandraKolleen/power-pointchan> (2019).
Figura 17 – Fratura de compressão da coluna vertebral
Coluna vertebral com fratura de compressão, que consiste em um achatamento
dos corpos vertebrais. Fonte: <https://www.colunasp.com.br/problemas-
comuns/fratura-da-coluna.html> (Acesso em: 10/06/2019).
59
Figura 18 – Fratura em livro aberto da cintura pélvica
Cintura pélvica com fratura do tipo livro aberto em que os tendões musculares e
ligamentos acabam por fraturar o púbis (seta azul) e a face auricular do ílio (seta
cinza). Fonte: Produzido pela autora (2019).
Também apresentou linhas de fratura por irradiação. Foi possível
observar no crânio uma fratura de avulsão no arco zigomático esquerdo
que pode ter resultado na abertura das suturas frontozigomática e
zigomaticomaxilar além de causar as linhas de fratura presentes nos
ossos temporal e esfenoide. Na maxila esquerda, também foi possível
observar fraturas e linhas de fraturas (Figura 19).
60
Figura 19 – Região do crânio com linhas de fratura e fraturas
Vista lateral do crânio, mostrando o lado esquerdo. Linhas de fraturas presentes
nos ossos temporal e esfenoide (seta azul), fratura de avulsão no arco
zigomático (seta cinza) e fratura na maxila (seta amarela). Cada quadrado
representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
A clavícula esquerda apresentou um calo ósseo na região próxima
a extremidade esternal e a fíbula esquerda uma fratura consolidada na
região da diáfise.
O V metacarpo esquerdo e a ulna esquerda apresentaram fratura
oblíqua na região da diáfise, sendo o primeiro próximo à epífise
proximal e o segundo próximo à epífise distal, onde também ocorreu a
fratura da cabeça da ulna. Uma das costelas esquerdas apresentou fratura incompleta no
corpo com ruptura na parte interna (Figura 20).
61
Figura 20 – Costela esquerda fraturada
Costela esquerda fraturada na região interna sem rompimento completo. Cada
quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
O fêmur esquerdo apresentou uma fratura cominutiva na região
proximal da diáfise, onde foi possível observar que uma parte do osso
foi perdida (Figura 21).
Figura 21 – Comparação entre o fêmur esquerdo e direito
Acima – fêmur esquerdo com fratura cominutiva; abaixo – fêmur direito com
fratura oblíqua. É possível observar que no fêmur esquerdo houve perda de
material ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora
(2019).
O fêmur direito apresentou uma fratura oblíqua na região entre a
epífise proximal e a diáfise. Também uma linha de fratura no côndilo
lateral, além de uma fratura no côndilo medial que segue para o côndilo
62
medial da tíbia (Figura 22). Na tíbia, além da fratura no côndilo medial,
tinha uma fratura cominutiva na região da diáfise (Figura 23). Foi
possível observar que a fratura oblíqua da fíbula direita foi na altura da
fratura da tíbia (Figura 24). O V metatarso direito também apresentou
fratura oblíqua.
Figura 22 – Linha de propagação da fratura do fêmur para a tíbia
A seta azul indica o côndilo medial da tíbia direita e a seta cinza o côndilo
medial do fêmur direito. A linha de fratura segue do côndilo medial do fêmur
em direção ao côndilo medial da tíbia, no mesmo seguimento. Cada quadrado
representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Figura 23 – Comparação entre a tíbia esquerda e direita
Acima – tíbia esquerda em tamanho real; abaixo – tíbia direita com fratura
cominutiva. É possível observar que na tíbia direita houve perda de material
ósseo. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
63
Figura 24 – Comparação do local da fratura da tíbia e da fíbula
Linha de fratura segue da tíbia direita para a fíbula direita na mesma altura dos
ossos. Cada quadrado representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
Foi possível observar que o RV6 apresentou intervenções
cirúrgicas odontológicas, tanto na maxila como na mandíbula
observadas no odontograma (Apêndice B).
Outra intervenção cirúrgica foi a presença de próteses mamária
de silicone (Figura 25). Nela, foi possível identificar a empresa
responsável, mas não o número de série.
Figura 25 – Prótese mamária de silicone
Prótese de silicone, uma se encontrava interia (acima) e a outra acabou
rompendo, porém foi possível recuperar sua estrutura. Cada quadrado
representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
64
Alguns materiais foram encontrados junto ao caixão (Figura 26),
como as unhas dos membros superiores onde foi possível observar a
presença de esmalte (A), um saco com chaves de caixão (B) e um pote
plástico entre o úmero e as costelas (C) que continha uma pulseira (D).
Figura 26 – Materiais encontrados dentro do caixão
Unhas das mãos com esmalte presente na cor rosa, um pouco desbotado
para laranja (A). Chaves de caixão presentes dentro do saco que se encontrava
no interior do caixão (B). Pote encontrado entre o úmero e as costelas (C).
Pulseira de prata que se encontrava dentro do pote plástico (D). Cada quadrado
representa 10 mm. Fonte: Produzido pela autora (2019).
A B
C D
65
5. DISCUSSÃO
Traçar um perfil biológico e conhecer os padrões ósseos de uma
população são de suma importância para a antropologia forense, pois,
desse modo, auxiliam na identificação de cadáveres encontrados
(UBERLAKER, 2014).
A coleta apropriada do material durante uma escavação é um
fator de extrema relevância, uma vez que cada fragmento ósseo, objeto
ou vestimenta encontrada pode ser um fator crucial no processo de
identificação (LESSA, 2006). Para isso, o planejamento de uma equipe
completa se faz necessária, pois além da exumação do corpo é
importante realizar uma cadeia de custódia e fotografias. Segundo Silva
et. al. (2012) e Silva (2015) para uma exumação correta é necessário
seguir as técnicas da arqueologia, pelas quais é essencial uma equipe
multidisciplinar e experiente. No caso do RV6 a exumação foi realizada
somente com uma equipe de três pessoas que ainda não possuíam
experiência suficiente e, por esse motivo, o registro fotográfico e a
descrição da cadeia de custódia ficaram prejudicados.
O cadáver RV6 possuía algumas peculiaridades que nos levaram
a questionar o estado em que o mesmo se encontrava no momento da
exumação. Primeiramente, o indivíduo estava envolto por um saco
plástico e outro fator interessante é que o mesmo foi inumado em
decúbito ventral.
Segundo Pakosh e Rogers (2009) e Cravo (2015) a decomposição
ocorre de forma mais lenta quando o cadáver está envolto por tecidos ou
sacos plásticos. O cadáver RV6 estava envolto em saco plástico, um dos
motivos pelo qual foi encontrado tecido mole. Isso pode ocorrer, dentre
outras coisas, pela queda da ação microbiana e pela ausência de
oxigênio, ambos importantes no processo de decomposição.
De acordo com Cravo (2015) um indivíduo que se encontra em
decúbito ventral possui mais propensão a ter costelas fraturadas devido à
pressão que o corpo e a terra fazem nas mesmas. No caso do RV6, essa
foi, provavelmente, a principal causa para as costelas (retiradas durante
a exumação) estarem completamente fragmentadas não somente em um
único local.
Ainda segundo Cravo (2015), os ossos começam a degradar
devido à temperatura, precipitação, pH, tipo de solo, podendo surgir
fissuras, fraturas e até dissolução. Isso se tornou perceptível no presente
trabalho, em que alguns ossos se encontraram fragmentados por conta
de fraturas provenientes de traumatismos e outros por conta de
decomposição óssea.
66
No odontograma do RV6 foi percebido que o dente 48 se
encontrava ausente. Segundo Cerqueira et. al. (2007) os motivos podem
ser inúmeros, como nunca ter se desenvolvido ou não ter espaço para
sua erupção e se encontrar interno na mandíbula. Os dentes 14, 15, 16,
26, 36, 37 e 46 apresentam fechamento completo dos alvéolos,
indicando que a extração ocorreu AM já que teve tempo para ossificar
completamente.
Os dentes da mandíbula que se encontram sem restauração (33-
43), apresentam facetas de desgastes. Segundo Seraidarian et. al. (2001)
e Pereira (2017), as facetas de desgaste podem ter causas mecânicas,
como o atrito causado pela patologia conhecida como bruxismo.
A ancestralidade, com o método AncesTrees (2014), resultou no
grupo populacional norte e sul americano. Porém, quando esse grupo é
retirado das opções para seleção, o método resulta no grupo europeu. É
possível observar que, mesmo sem a retirada do grupo americano, a
probabilidade de ser europeu ainda é alta. Isso demonstra que
metodologias com dados para a população americana, é possível que
esse grupo populacional seja estimado. Nos testes de Hefner (2009) e
SENASP [s. d.], nos quais não havia a presença de grupos americanos, o
resultado foi europeu. Segundo Vanrell (2012) o Brasil apresenta muita
miscigenação, além disso, o sul do país apresenta ainda mais traços
europeus devido a sua colonização. Isso corrobora que o indivíduo
apresente características europeias.
Segundo Bruzek et. al. (2017), para a classificação do sexo, foi
considerado que a análise do teste DSP2 deveria ser superior a 95%,
caso não o atingisse deveria ser tratado como indeterminado. Isso
corrobora para que o indivíduo RV6 seja classificado como pertencente
ao sexo masculino, já que atingiu mais de 98%. Segundo Curate et. al.
(2016) o modelo que utiliza apenas FNW é menos preciso que os que
utilizam FNAL, no entanto, quando o resultado obtido neste trabalho é
inserido para análise no teste, gera uma probabilidade de 100% de o
cadáver pertencer ao sexo masculino. Nas demais metodologias
testadas, o sexo também foi estimado como masculino, no entanto,
segundo informações obtidas no IGP, este cadáver pertencia a uma
mulher. O fato de se encontrar uma prótese mamária e unhas com
esmalte rosa faz pensar em sexo feminino. Porém esses fatores são
circunstanciais. Por isso, é necessário que se teste essas metodologias
em uma amostra populacional brasileira maior para que se possa definir
o uso ou não desses métodos em amostras brasileiras.
Conforme a definição de Ferembach et. al. (1980), o intervalo
etário é estipulado de forma observacional, sendo subjetivo. Por isso,
67
quanto maior a experiência do observador, melhor seu resultado.
Segundo Silva et. al. (2008) quanto mais vai se envelhecendo, menos
alterações são observadas nos ossos e seus padrões etários não são bem
definidos, por isso o intervalo se torna maior. Neste trabalho, apenas três
metodologias foram testadas. Devido ao fato de que alguns ossos (que
são usados para determinar a idade) encontravam-se fragmentados, duas
metodologias não puderam ser testadas: a extremidade esternal das
costelas (ISCAN et. al., 1984) e as linhas transversas do sacro
(FEREMBACH et. al., 1980; BUIKSTRA e UBELAKER, 1994). O
resultado deve ser comparado com os dados AM, porém eles não foram
disponibilizados pelo IGP para este trabalho.
Segundo Mendonça (2000) e Zhan (2018), os ossos longos
apresentam uma relação bem definida com a estatura. Por conta disso, o
fêmur foi considerado o melhor osso para realizar esta estimativa, já que
apresenta a maior correlação e o menor desvio padrão (MENDONÇA,
2000). No entanto, o cadáver RV6 possui os dois fêmures fragmentados,
de modo que não foi possível realizar o seu comprimento. Por isso, a
estimativa foi realizada com o úmero, que logo após o fêmur, é o osso
mais utilizado para essa estimativa, apresentando um desvio maior, mas
ainda baixo (WASTERLAIN, 2000). Em um estudo realizado por
Wasterlain (2000), que utilizou as fórmulas de Mendonça (2000), houve
uma diferença entre a estatura obtida através da análise do fêmur e do
úmero. Isso pode ter ocorrido por conta da população ser de épocas
distintas (a de Mendonça pertence a época de 1990 e a de Wasterlain é
de 1915 a 1942). Para que se possa verificar se esta metodologia pode
ser aplicada no indivíduo RV6, dados AM deveriam ser fornecidos para
que se realize a comparação dos resultados encontrados com os
resultados reais.
Uma vez que essas metodologias são adaptadas de dados
estrangeiros, para que todos os resultados obtidos possam ser
confirmados ou rejeitados, é necessária a documentação AM que se
encontra com o IGP.
Foram encontradas variações anatômicas ao longo do corpo do
RV6 que podem individualizá-lo. No entanto, segundo Cunha (2014),
Ubelaker (2014) e Verna (2016), variações comumente encontradas
podem ser específicas de uma localização. Para que se saiba se as
encontradas são comuns ou não à população catarinense, mais estudos
são necessários.
Segundo Uberlaker (2014), os ossos apresentam características
que auxiliam na identificação de fraturas AM, peri ou PM. Como os
ossos tem capacidade de se regenerar, o menor sinal de remodelagem
68
demonstra um traumatismo AM. No caso de uma alteração PM, ocorre
uma diferença na coloração da parte fraturada em relação a do restante
do osso e pode-se encontrar algumas marcadas de animais. Já no caso
peri mortem, o osso se encontrava vivo e por isso seguiria os padrões
AM, no entanto acaba não regenerando, pois o indivíduo vem a óbito. O
dente 22 apresentava em seu alvéolo características que propõe que o
dente sofreu uma extração peri ou PM, pois não apresenta início de
regeneração óssea, que caracterizaria fraturas AM.
Foi possível observar que o cadáver RV6 encontra-se com
múltiplas fraturas na cintura pélvica e no fêmur. Segundo Chueire et. al.
(2004) e Moraes (2007) para que ocorra uma fratura nessas regiões é
necessário um evento de alta energia (acidentes de trânsito, quedas de
altura ou arma de fogo).
Conforme Tile (1988), Chueire et. al. (2004) e Fonseca et. al. (2013), fraturas na região dos ossos do quadril tendem a levar ao óbito
devido à hemorragia que se estabelece.
Traçando uma rota das fraturas nos membros inferiores do RV6,
temos que o acidente provém de uma queda, no qual o pé de apoio foi o
direito, pois a energia de propagação foi maior nesse lado. Foi possível
notar que a energia propagou-se do fêmur direito em direção à tíbia
direita, onde causou a fratura cominutiva, terminando com a propagação
e atingindo a fíbula, causando uma fratura oblíqua. Isso nota-se devido
ao fato do fêmur apresentar fissuras no côndilo lateral e uma fratura de
avulsão no côndilo medial que se estende para o côndilo medial da tíbia.
Após o primeiro impacto, o lado esquerdo foi apoiado, gerando uma
força que culminou na fratura cominutiva do fêmur esquerdo, acabando
com a energia de propagação sem causar mais fraturas ao longo dos
ossos.
No sentido inverso, a propagação foi em direção aos ossos do
quadril, que, devido às suas inserções musculares e de ligamento,
culminou na fratura em livro aberto, atingindo a superfície auricular do
ílio para o sacro e a fossa ilíaca do lado esquerdo e o osso púbis do lado
direito. A energia se propagou em direção ao sacro, gerando assim sua
completa fragmentação. Após atingir o sacro, a energia se dissipou pelas
vértebras, causando fratura de compressão. Nota-se, no RV6, que as
vértebras torácicas e lombares resgatadas na exumação possuem
fraturas. Algumas nem sequer foram recuperadas.
69
As fraturas nos ossos temporal e esfenoide, além do arco
zigomático podem ter relação com uma queda lateral da cabeça após a
primeira queda vertical, que também explicaria a fratura oblíqua na ulna
esquerda, mesmo lado das fraturas do crânio.
As próteses dentárias, devido à resistência do material no
momento de grande impacto, podem ocasionar as fraturas encontradas
no crânio. As fraturas encontradas nos dentes 25 e 47 correspondem ao
local onde a prótese do dente 35 e a infraestrutura metálica (simulando
os dentes 14 e 15) teriam se chocado respectivamente, causando uma
energia e possibilitando o dano.
A perda de material restaurador presente no dente 34 também
pode ter resultado do impacto, já que teve intensidade suficiente para
causar a fratura na tábua óssea do dente 24.
Como não foram encontrados projeteis e as fraturas estão
presentes em mais de uma região (ossos do quadril, fêmures, tíbia,
fíbula, vértebras, sacro, ulna e crânio), a hipótese de arma de fogo foi
descartada.
Em relação a prótese mamária (silicone), ela se encontrava com a
coloração marrom, possivelmente devido à terra que a envolvia. Foi
visto o nome da empresa fabricante, uma vez que próteses devem seguir
a resolução do Ministério da Saúde (2012) que determina que se tenha o
nome da empresa e o número de série. Não foi possível identificar o
número de série, alguns dados foram coletados, mas devido à
burocracia, não foi investigado a quem essa prótese pertencia.
70
71
6. CONCLUSÃO
Estudos de caso fazem-se necessários na antropologia forense
como uma forma humanitária de devolver a identidade a um cadáver
encontrado. Dessa forma, conhecer o perfil da população é de extrema
importância, pois contém parâmetros que irão servir de base para a nova
identificação.
Com isso através da exumação e das análises realizadas neste
trabalho, foi possível estimar o perfil biológico completo e algumas
características individualizantes do cadáver RV6 como seus
traumatismos e intervenções cirúrgicas. Para isso, diversas metodologias
foram testadas. Os dados obtidos nestas análises foram comparados
entre si em busca dos resultados que melhor descrevessem o perfil
biológico do indivíduo e suas principais características, e assim, com
demais projetos, essas características poderão ou não ser definidas como
presentes na população.
Foi possível concluir que, para uma exumação correta, é
necessária uma equipe completa com experiência para que não ocorra
falta de dados e fotografias.
Como observado, os dados obtidos neste trabalho não puderam
ser confrontados com os dados AM, uma vez que estes não estavam
disponíveis. O único dado AM fornecido diz respeito ao sexo, e nesse
estudo foi refutado.
São necessários mais estudos para que se possa traçar um perfil
mais fidedigno da população catarinense e assim poder contribuir de
forma mais significativa para que, no futuro, possam-se gerar
metodologias específicas para essa população.
Este trabalho também permitiu perceber o que ocorre nos ossos
de um corpo quando sofre uma queda vertical, gerando dados que, com
o desenvolvimento de estudos semelhantes, podem definir se o padrão
encontrado neste cadáver é comum a todos os outros casos de quedas de
altura.
72
73
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80
81
APÊNDICE A – Inventário Indivíduo RV6
Osso
Presente
Ausente
Observa-
ção Completo Fragmentado
Frontal X Assimétrico
Parietal
Esquerdo
X Assimétrico
Parietal
Direito
X Assimétrico
Tempo-
ral
Esquerdo
X Processo
zigomático
está
fragmenta-
do; processo
estiloide
ausente;
apresenta
linhas de
fratura
Tempo-
ral
Direito
X Processo
estiloide
Occipital X
Esfenoide X
Etmoide X
Maxila
Esquerda
X Apresenta
linhas de
fratura e
fraturas
Maxila
Direita
X
Zigomá-
tico
Esquerdo
X Região do
arco
zigomático
está
fragmenta-
do; sutura
zigomatico-
maxilar e
82
sutura
frontozigo-
mática estão
abertas;
apresenta
linhas de
fratura
Zigomá-
tico
Direito
X
Palatino
Esquerdo
X
Palatino
Direito
X
Nasal
Esquerdo
X
Nasal
Direito
X
Lacrimal
Esquerdo
X
Lacrimal
Direito
X
Concha
Nasal
Inferior
Esquerda
X
Concha
Nasal
Inferior
Direita
X
Vômer X
Mandí-
bula
X
Hioide X
Ossículos
Da
Audição
X
Vérte-
bras
Cervicais
X X Atlas com
processo
transverso
83
(7) esquerdo
fragmenta-
do, arco
posterior
incompleto,
espinha
bífida
oculta; Áxis
com
processo
transverso
esquerdo
fragmenta-
do; C4, C5
e C6 com
forame
transversá-
rio esquerdo
fragmenta-
do; C7 com
corpo
vertebral,
processos
transversos
e processo
espinhoso
fragmenta-
dos
Vérte-
bras
Torácicas
(12)
X X Não foi
possível
identificar a
ordem; oito
recuperadas;
fragmenta-
das nas
regiões do
processo
transverso,
do corpo e
no processo
84
espinhoso
Vérte-
bras
Lomba-
res (5)
X X Duas
encontradas
sendo que
uma está
fragmentada
no processo
transverso
direito e
processo
espinhoso e
a outra
possui
linhas de
fratura no
corpo além
das faces
auriculares
superiores
Sacro (5) X
Cóccix
(2-3)
X Incompleto
Esterno X Manúbrio,
corpo e
processo
tifoide
Costelas
Esquer-
das
X X Não foi
possível
identificar a
ordem;
fragmenta-
das no
corpo; uma
apresenta
fratura
incompleta
no corpo
Clavícula
Esquerda
X Extremida-
de acromial
e esternal
85
fragmenta-
das; calo
ósseo no
corpo
(próximo à
extremidade
esternal e
inferior)
Escápula
Esquerda
X Acrômio e
margem
lateral
(próximo ao
ângulo
inferior);
presença de
incisura da
escápula
Úmero
Esquerdo
X Tubérculo
maior
Ulna
Esquerda
X Epífise e
diáfise
distal
Rádio
Esquerdo
X
Pisiforme
Esquerdo
X
Semilu-
nar
Esquerdo
X
Pirami-
dal
Esquerdo
X
Escafoide
Esquerdo
X
Capitato
Esquerdo
X
Trape-
zoide
Esquerdo
X
Trapézio X
86
Esquerdo
Hamato
Esquerdo
X
Ossos
Metacar-
pais
Esquer-
dos
X X V está
fragmenta-
do
Falanges
Esquer-
das
(Mão)
(proxi-
mais,
médias e
distais)
X
Ílio
Esquerdo
X Região
medial
(tuberosida-
de e face
auricular)
Ísquio
Esquerdo
X
Púbis
Esquerdo
X Tubérculo
púbico
Fêmur
Esquerdo
X Epífise
proximal,
epífise
distal, linha
intertrocan-
térica estão
fragmenta-
dos; côndilo
medial com
tecido mole;
fratura na
diáfise
Tíbia
Esquerda
X Maléolo
medial
fragmenta-
87
do; tecido
mole na
tuberosida-
de
Fíbula
Esquerda
X Maléolo
lateral;
fratura
consolidada
na região da
diáfise
próximo a
epífise
proximal
Patela
Esquerda
X Porção
posterior do
ápice
Calcâneo
Esquerdo
X
Tálus
Esquerdo
X Porção
anterome-
dial
Cuneifor-
me
Medial
Esquerdo
X
Cuneifor-
me
Intermé-
dio
Esquerdo
X
Cuneifor-
me
Lateral
Esquerdo
X
Cuboide
Esquerdo
X
Navicu-
lar
Esquerdo
X
Ossos X X II possui
88
Metatar-
sais
Esquer-
dos
porosidade;
V
fragmenta-
do na
epífise
distal
Falanges
Esquer-
das (Pé)
(proxi-
mais,
médias e
distais)
X Duas estão
fundidas
(proximal e
média)
Costelas
Direitas
X X Não foi
possível
identificar a
ordem;
fragmenta-
das nas
extremida-
des e no
corpo
Clavícula
Direita
X Extremida-
de acromial
e esternal
Escápula
Direita
X Processo
coracoide
ausente;
margem
superior
fragmentada
Úmero
Direito
X
Ulna
Direita
X
Rádio
Direito
X
Pisiforme
Direito
X
Semilu- X
89
nar
Direito
Pirami-
dal
Direito
X
Escafoide
Direito
X
Capitato
Direito
X
Trape-
zoide
Direito
X
Trapézio
Direito
X
Hamato
Direito
X
Ossos
Metacar-
pais
Direitos
X X II
metacarpal
está
fragmenta-
do
Falanges
Direitas
(Mão)
(proxi-
mais,
médias e
distais)
X X Uma distal
está ausente
Ílio
Direito
X Tuberosida-
de ilíaca,
próximo à
crista ilíaca
Ísquio
Direito
X Próximo ao
púbis
Púbis
Direito
X
Fêmur
Direito
X Epífise
proximal,
linha
intertrocan-
90
térica e
côndilo
medial
fragmenta-
dos; linha
de fratura
no côndilo
lateral
Tíbia
Direita
X Epífise
proximal e
região
proximal da
diáfise
Fíbula
Direita
X Na epífise
proximal e
no meio da
diáfise,
além do
maléolo
lateral e da
cabeça
Patela
Direita
X Porção
posterior do
ápice
Calcâneo
Direito
X
Tálus
Direito
X
Cuneifor-
me
Medial
Direito
X
Cuneifor-
me
Intermé-
dio
Direito
X
Cuneifor-
me
Lateral
X
91
Direito
Cuboide
Direito
X
Navicu-
lar
Direito
X
Ossos
Metatar-
sais
Direitos
X X IV e V
metatarsais
estão
fragmenta-
dos
Falanges
Direitas
(Pé)
(proxi-
mais,
médias e
distais)
X X Uma média
e uma distal
estão
ausentes
Fonte: Produzido pela autora (2019).
92
93
APÊNDICE C – Regiões analisadas na cintura pélvica segundo
método de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994).
Região anatômica Masculino Feminino
Forma da cintura
pélvica
Alta e estreita Baixa e larga
Ângulo subpúbico Agudo Obtuso e
arredondado
Fossa ilíaca Alta e estreita Baixa e larga
Crista ilíaca Forma de “S”
acentuada
Forma mais planar
Incisura isquiática
maior
Estreita em forma de
“V”
Ampla em forma de
“U”
Sulco pré-auricular Ausente a muito
tênue
Profundo e
delimitado
Arco composto Simples Duplo
Arco ventral Mais suave Mais marcante
Concavidade
subpúbica
Ausente (tende a ser
convexo)
Presente
Ramo isquiopúbico Largo e plano Estreito
Forame obturado Grande e ovoide com
bordos arredondados
Pequeno, triangular
com bordos aguçados
Fonte: Adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994).
94
APÊNDICE D – Regiões analisadas no crânio segundo o método de
Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994).
Região anatômica Masculino Feminino
Glabela Muito saliente Pouco saliente
Arcos superciliares Muito desenvolvidos Pouco desenvolvidos
Processos mastoides Grandes e
desenvolvidos
Pouco desenvolvidos
Linha nucal superior Muito acentuado,
saliente
Pouco saliente
Arcos zigomáticos Muito espessos e
altos
Gráceis e baixos
Inclinação do osso
frontal
Inclinado Vertical
Forma das órbitas Quadrangulares Arredondadas e
aguçadas
Ângulo da mandíbula Mais marcado Ligeiro
Protuberância mentual Proeminente Pequeno, redondo e
discreto
Profundidade do
palatino
Profundo Raso
Fonte: Adaptado de Ferembach et. al. (1980) e Buikstra e Ubelaker (1994).
95
APÊNDICE E – Medidas realizadas em milímetros para o
programa AncesTrees (2014) sendo utilizada Oa2.
Sigla Medida craniométrica Oa1 Oa2 Ob1
GOL Comprimento craniano
máximo
183,2 183,2 183,7
NOL Comprimento "násio-
occipital"
181,7 181,7 181,8
BBH Altura "básio-bregma" 134,3 134,7 134,4
XCB Largura craniana máxima 148,7 149,3 144,6
XFB Largura frontal máxima 126,9 127,2 126,7
FMB Largura bifrontal NO NO NO
ZYB Largura bizigomática NO NO NO
AUB Largura biauricular 127,4 127,7 127,7
MAB Largura maxiloalveolar 68,5 69 67,9
ASB Largura biasteriônica 112,9 112,7 112,4
JUB Largura bijugal NO NO NO
ZMB Largura bimaxilar NO NO NO
WMH Altura maxilar mínima 19,95 19,89 19,9
NPH Altura facial superior 76,61 76,75 76,15
BPL Comprimento "básio-próstio" 104,2 103,8 104
BNL Comprimento "básio-násio" 103,2 102,9 103
NLH Altura nasal 50,81 50,73 50,84
NLB Largura da abertura piriforme 24,66 24,36 24,12
EKB Largura biorbital NO NO NO
DKB Largura interorbital NO NO NO
OBH Altura orbital 37,13 37,07 37,23
96
OBB Largura orbital NO NO NO
FRC Corda frontal NO NO NO
PAC Corda parietal NO NO NO
OCC Corda occipital NO NO NO
SSS Projeção zigomaticomaxilar NO NO NO
NAS Projeção "násio-frontal" NO NO NO
FRS Projeção frontal NO NO NO
PAS Projeção parietal NO NO NO
OCS Projeção occipital NO NO NO
FOL Comprimento do forame
magno
40,56 40,44 40,5
Fonte: Adaptado de Navega et. al. (2014).
97
APÊNDICE F – Parâmetros analisados para o teste de Hefner
(2009).
Características Descrição No site
Espinha nasal anterior Presente e bem projetada ANS 3
Porção inferior da abertura
piriforme
Margem afilada INA 3
Largura interorbital Estreito IOB 1
Tubérculo do zigomático Ausente MT 0
Largura da abertura
piriforme
Estreito NAW 1
Contorno dos ossos nasais Um pouco angular NBC 3
Crescimento excessivo dos
ossos nasais
Não observável –
Fragmentado
Missing
Depressão pós-bregmática Ausente PBD 0
Sutura supranasal Ausente SPS 0
Sutura palatina transversa Regular TPS 1
Sutura zigomaticomaxilar Direita – regular;
Esquerda – fragmentada
ZS 0
Fonte: Adaptado de Hefner (2009).
98
APÊNDICE G – Dados utilizados para o software DSP2 do quadril
esquerdo e direito respectivamente.
Sigla Medida Oa1 Oa2 Ob1
PUM Comprimento entre o acetábulo
e a face sinfisial do púbis
76,3 76,33 76,45
SPU Largura púbica NO NO NO
DCOX Altura pélvica máxima NO NO NO
IIMT Profundidade da incisura
isquiática maior
NO NO NO
ISMM Comprimento entre o ísquio e
o acetábulo
117,84 117,63 117,22
SCOX Largura ilíaca NO NO NO
SS Comprimento
espinhoisquiático
81,32 81,43 81,86
AS Comprimento espinhoauricular NO NO NO
SIS Largura cotiloidquiática 42,2 42,13 42,26
VEAC Diâmetro acetabular vertical NO NO NO
Sigla Medida Oa1 Oa2 Ob1
PUM Comprimento entre o acetábulo
e a face sinfisial do púbis
NO NO NO
SPU Largura púbica NO NO NO
DCOX Altura pélvica máxima 216,9 216,8 216,4
IIMT Profundidade da incisura
isquiática maior
45,97 46 45,97
ISMM Comprimento entre o ísquio e o 119,36 119,45 119,65
99
acetábulo
SCOX Largura ilíaca 170,8 170,9 171
SS Comprimento espinhoisquiático 80,81 80,65 80,53
AS Comprimento espinhoauricular 81,59 81,5 81,21
SIS Largura cotiloidquiática 42,48 42,8 43,53
VEAC Diâmetro acetabular vertical 62,09 61,9 61,55
Fonte: Adaptado de Bruzek et. al. (2017).
100
APÊNDICE H – Estruturas que apresentam variações anatômicas,
traumatismos, intervenções cirúrgicas e outros fatores.
Osso Tipo de
fator
Local do fator Descrição
Temporal/Esfenoide
Esquerdos
Traumatismo Arco zigomático,
asa maior do
esfenoide e parte
escamosa do
temporal
Ruptura do
arco
zigomático,
linhas de
fratura nos
ossos
temporal e
esfenoide
Maxila esquerda Traumatismo Processo alveolar Linha de
fratura e
fraturas
Maxila Intervenção
cirúrgica
Dentes Prótese
parcial fixa,
extrações e
restaurações
Zigomático
esquerdo
Traumatismo Suturas
frontozigomática
e
zigomaticomaxilar
Fratura nas
suturas que
causou
abertura
Mandíbula Variação
anatômica
Dentes Terceiro
molar
direito
ausente e
101
esquerdo
incluso
Mandíbula Intervenção
cirúrgica
Dentes Coroa
unitária
metálica,
extrações e
restaurações
Atlas (C1) Variação
anatômica
Arco posterior Espinha
bífida oculta
Vértebras torácicas
e lombares
Traumatismo Corpo Fratura de
compressão
Costela esquerda Traumatismo Corpo Fratura
incompleta
da região
externa para
a interna
Clavícula esquerda Traumatismo Corpo Calo ósseo
próximo à
extremidade
esternal
Escápula esquerda Variação
anatômica
Margem superior Incisura da
escápula
Ulna esquerda Traumatismo Diáfise e epífise
distal
Fratura
oblíqua na
diáfise;
cabeça
102
fragmentada
e separada
da diáfise
V metacarpal
esquerdo
Traumatismo Diáfise Fratura
oblíqua
próximo a
extremidade
proximal
Ossos do quadril Traumatismo Face auricular do
ílio esquerdo;
púbis direito
Fratura em
livro aberto
Fêmur esquerdo Traumatismo Epífise proximal e
diáfise
Fratura
cominutiva
Fêmur direito Traumatismo Epífise proximal e
epífise distal
(côndilos)
Fratura
oblíqua na
epífise
proximal;
linha de
fratura no
côndilo
lateral e
fratura de
avulsão no
medial
Tíbia direita Traumatismo Diáfise e epífise
proximal
Parte
proximal da
diáfise e
103
epífise
proximal
com fratura
cominutiva
Fíbula esquerda Traumatismo Diáfise Fratura
consolidada
Fíbula direita Traumatismo Diáfise Fratura
oblíqua
V metatarsal direito Traumatismo Diáfise Fratura
oblíqua
Tórax Intervenção
cirúrgica
Encontrado no
caixão
Prótese de
silicone
mamária
Unha Outros Unhas dos
membros
superiores
Presença de
esmalte na
cor rosa
Adereços Outros Encontrado no
caixão
Bolsa com
chaves de
caixão
Pote Outros Encontrado no
caixão
Pote
plástico
com
pulseira
Fonte: Produzido pela autora (2019).
104
105
ANEXO A – Documento relativo ao convênio firmado entre o IGP e
a UFSC
106
ANEXO B – Características da ancestralidade
Característica Europeu Africano Asiático
Altura craniana ( ) alta ( ) baixa ( ) muito alta
Comprimento
craniano
( ) curta ( ) longo ( ) muito curto
Depressão pós-
bregmática
( ) ausente ( ) presente ( ) ausente
Forma das órbitas ( )
quadrangular
( )
retangular
( ) oval
Largura
interorbital
( ) curta ( ) ampla ( )
intermediária
Perfil facial ( ) vertical ( ) projeção
alveolar
( ) projeção
zigomática
Projeção dos ossos
nasais
( ) projetada ( ) não
projetada
( ) não
projetada
Altura nasal ( ) alta ( ) baixa ( )
intermediária
Dimensões dos
ossos nasais
( ) estreitos e
compridos
( ) largos e
curtos
( )
intermediários
Contorno dos
ossos nasais
( ) angulares
entre si
( ) planos
entre si
( ) angulares
entre si
Espinha nasal
anterior
( ) projetada ( ) discreta ( ) curta
Abertura piriforme ( ) alta e
estreita
( ) baixa e
larga
( )
intermediária
Porção inferior da
abertura piriforme
( ) afilada e
projetada
( ) em
goteira
( )
intermediária
Largura facial ( ) estreita ( ) estreita ( ) larga
Cúspide de
Carabelli
( ) presente ( ) ausente ( ) ausente
Forma dos
incisivos
( ) em
espátula
( ) em
espátula
( ) em pá
Fonte: SENASP [s. d.].