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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ANÁLISE ERGONÔMICA DA ATIVIDADE DE TRIAGEM MANUAL DE CARTAS NOS CORREIOS: UM ESTUDO DE CASO
PONTA GROSSA
2005
HÉLIO HENRIQUE MONTEIRO VIEIRA
MAURI TAYAMA
PAULO SERGIO FARIA MUNHOS
ANÁLISE ERGONÔMICA DA ATIVIDADE DE TRIAGEM MANUAL DE CARTAS NOS CORREIOS: UM ESTUDO DE CASO
Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização
em Engenharia de Segurança do Trabalho, da
Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Orientador.: Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger
PONTA GROSSA
2005
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO
ANÁLISE ERGONÔMICA DA ATIVIDADE DE TRIAGEM MANUAL DE
CARTAS NOS CORREIOS: UM ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Estadual de Ponta Grossa para obtenção
do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho
Departamento de Engenharia Civil
Ponta Grossa, Setembro de 2005
Prof. Carlos Luciano Sant’Ana Vargas, D. Eng.
Coordenador do EngSeg2004
BANCA EXAMINADORA:
Prof. José Adelino Krüger, Dr.
Orientador
Prof. Flávio Guimarães Kalinowski, Ms.
Prof. Flávia Andréa Modesto, MsC.
Membros
Resumo
A proposta do presente trabalho foi de avaliar os aspectos ergonômicos da
atividade de triagem (ou separação) de cartas efetuada manualmente pelos
trabalhadores dos Correios. Para tanto foi feita uma revisão bibliográfica para se
compreender melhor os conceitos e requisitos das normas relacionadas à segurança
e à saúde do trabalhador, mais especificamente a NR-17 (MTE, 2004). Os requisitos
relativos às condições de trabalho, estabelecidos na referida norma, foram alvo de
pesquisa na literatura a que os membros do grupo puderam ter acesso. Com base
no conhecimento adquirido com essa pesquisa, foi possível fazer a análise do posto
de trabalho, abordando os aspectos relativos ao levantamento, transporte e
manuseio de materiais, o mobiliário, os equipamentos, as condições ambientais e a
organização do posto de trabalho. De um modo geral, esse estudo reforçou a
importância das Normas Regulamentadoras no que tange à criação e à manutenção
de ambientes adequados a um trabalho seguro, confortável e eficiente. Da mesma
forma reforçou a importância de investimento em treinamento visando a criação e a
manutenção de uma cultura que valorize a prática habitual de procedimentos
operacionais seguros e saudáveis, que muitas vezes são desrespeitados por falta de
preparo e conscientização de gestores e trabalhadores de base.
Lista de Siglas
ACGH American Conference of Governmental Hygienists AET Análise Ergonômica do Trabalho CAT Comunicação de Acidente de Trabalho CDD Centro de Distribuição Domiciliária CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes DORT Distúrbio Ósteo-articular Relacionado ao Trabalho EBCT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos EMG Eletromiografia EPI Equipamento de Proteção Individual LER Lesões por Esforço Repetitivo LTC Lesões por Traumas Cumulativos MTE Ministério do Trabalho e Emprego NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health NR Norma Regulamentadora OTT Operador de Triagem e Transbordo PNQ Prêmio Nacional de Qualidade STC Síndrome do Túnel Carpiano TLV Limite de Tolerância (Treshold Limit Values)
Lista de Unidades
dB Decibel (Nível de Pressão Sonora) Hz Hertz (Freqüência) kg Quilograma (Massa) N/m² Newton por metro quadrado (Pressão)
Lista de Tabelas TABELA 1 - PESO RELATIVO DE CADA SEGMENTO CORPORAL ....................................................... 31
TABELA 2 - AVALIAÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO .................................................................... 60
TABELA 3 - AVALIAÇÃO DO AMBIENTE FÍSICO DE TRABALHO.......................................................... 61
TABELA 4 - DADOS ANTROPOMÉTRICOS DA AMOSTRA.................................................................. 64
TABELA E1 - TEMPO DE TRABALHO NA ATIVIDADE DE TRIAGEM ...................................................... 78
TABELA E2 - OCORRÊNCIA DE AFASTAMENTO MAIOR QUE 15 DIAS ................................................. 78
TABELA E3 - JÁ PROCUROU O MÉDICO POR SENTIR DORES ............................................................ 78
TABELA E4 - PARTICIPA DA GINÁSTICA LABORAL .......................................................................... 78
TABELA E5 - CONSIDERA A ATIVIDADE .......................................................................................... 78
TABELA E6 - APRESENTA ALGUM SINTOMA CARACTERÍSTICO DE FADIGA......................................... 78
TABELA E7 - CONSIDERA JUSTA A AVALIAÇÃO DE PRODUTIVIDADE.................................................. 78
Lista de Ilustrações FIGURA 1 - SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO. ....................................................................................... 16
FIGURA 2 - POSIÇÃO DAS LUMINÁRIAS. ....................................................................................... 17
FIGURA 3 - GRÁFICO DEMONSTRATIVO DE FADIGA....................................................................... 22
QUADRO 1 - DORES PROVOCADAS POR POSTURAS INADEQUADAS ................................................. 28
FIGURA 4 - TEMPOS MÉDIOS PARA APARECIMENTO DE DORES ..................................................... 29
QUADRO 2 - PRINCIPAIS FATORES DETERMINANTES DA LER . ....................................................... 33
FIGURA 5 - ANÁLISE E SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO ...................................................... 43
FIGURA 6 - DIAGRAMA SIMPLIFICADO DO FLUXO DE CARTAS ENTRE AS UNIDADES DOS CORREIOS..51
FIGURA 7 - ORGANOGRAMA SIMPLIFICADO.................................................................................. 52
QUADRO 3 - ANÁLISE COMPARATIVA DOS DOIS MANIPULADORES, O NOVO E O ANTIGO .................... 65
FIGURA A1 - NOVO MODELO DE MANIPULADOR.............................................................................. 74
FIGURA A2 - NOVO MODELO DE CADEIRA ...................................................................................... 74
FIGURA A3 - SUPORTE DE CAIXETAS............................................................................................. 74
FIGURA A4 - CAIXETAS ................................................................................................................ 74
FIGURA A5 - MANIPULADOR ANTIGO............................................................................................. 74
FIGURA A6 - LAYOUT DAS ESTAÇÕES DE TRABALHO ...................................................................... 74
FIGURA B1 - SEQÜÊNCIA DE FOTOS DE UM OTT LEVANTANDO UMA CAIXETA................................... 75
FIGURA C1 - SEQÜÊNCIA DE FOTOS DE UMA OTT FAZENDO TRIAGEM DE CARTAS ........................... 76
FIGURA D1 - MANIPULADOR ANTIGO – OTT SENTADO NÃO ALCANÇA TODOS OS ESCANINHOS ......... 77
FIGURA D2 - MANIPULADOR ANTIGO - OTT EM PÉ ALCANÇA TODOS OS ESCANINHOS ...................... 77
FIGURA D3 - OTT NO NOVO MODELO DE MANIPULADOR................................................................. 77
FIGURA D4 - OTT NO NOVO MODELO DE MANIPULADOR................................................................. 77
Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 8
1.1. APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 8 1.2. OBJETIVOS................................................................................................................................. 10
1.2.1. Gerais .............................................................................................................................. 10 1.2.2. Específicos ...................................................................................................................... 10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................... 11 2.1. ERGONOMIA ............................................................................................................................... 11
2.1.1. Histórico........................................................................................................................... 11 2.1.2. Considerações e Entendimentos Gerais sobre o Tema.................................................. 11 2.1.3. Trabalho e Condições de Trabalho ................................................................................. 14 2.1.4. Influência de Fatores Ambientais no Trabalho................................................................ 15
2.1.4.1. Avaliação das condições de iluminação............................................................................... 15 2.1.4.2. Avaliação das Condições de ruído....................................................................................... 18 2.1.4.3. Avaliação das condições de temperatura ............................................................................ 19 2.1.4.4. Gases Contaminantes Atmosféricos .................................................................................... 20
2.1.5. Influência dos Fatores Humanos no trabalho.................................................................. 21 2.1.5.1. Fadiga .................................................................................................................................. 21 2.1.5.2. Fadiga Física........................................................................................................................ 22 2.1.5.3. Fadiga psíquica.................................................................................................................... 24 2.1.5.4. Monotonia ............................................................................................................................ 25 2.1.5.5. Motivação............................................................................................................................. 25 2.1.5.6. Posturas e movimentos........................................................................................................ 26 2.1.5.7. Fatores que influenciam a postura ....................................................................................... 29 2.1.5.8. Trabalhos manuais............................................................................................................... 30 2.1.5.9. Lesões nas mãos ................................................................................................................. 31 2.1.5.10. Causas da LER .................................................................................................................... 32 2.1.5.11. Grupos de risco das LER...................................................................................................... 33 2.1.5.12. Estágios das LER ................................................................................................................. 34 2.1.5.13. Formas Clínicas.................................................................................................................... 37 2.1.5.14. Diagnóstico da LER.............................................................................................................. 37 2.1.5.15. Prevenção ............................................................................................................................ 38
3. METODOLOGIA........................................................................................................................... 41 3.1. ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ......................................................................................... 41
3.1.1. Premissas ........................................................................................................................ 41 3.1.2. Análise da demanda........................................................................................................ 44 3.1.3. Análise da tarefa.............................................................................................................. 45 3.1.4. Análise da atividade......................................................................................................... 46 3.1.5. Síntese Ergonômica do Trabalho .................................................................................... 48
4. ESTUDO DE CASO: ATIVIDADE DE TRIAGEM DE CARTAS.................................................. 49 4.1. PREMISSAS ................................................................................................................................ 49 4.2. SOBRE A ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................. 49 4.3. DEMANDA................................................................................................................................... 53
4.3.1. Objetivo da Demanda...................................................................................................... 54 4.3.2. Hipóteses......................................................................................................................... 55
4.4. TAREFA...................................................................................................................................... 55 4.4.1. Tarefa e Documentação de Prescrição........................................................................... 55 4.4.2. Recursos Materiais .......................................................................................................... 56 4.4.3. Processo.......................................................................................................................... 57 4.4.4. Características do Trabalhador ....................................................................................... 57
4.5. ATIVIDADE.................................................................................................................................. 58 4.5.1. Componente Humano...................................................................................................... 58 4.5.2. Ambiente Físico ............................................................................................................... 60 4.5.3. Avaliação de Qualidade e Produtividade......................................................................... 61 4.5.4. Manuseio de Cargas........................................................................................................ 61 4.5.5. Movimentos ..................................................................................................................... 62 4.5.6. Adequação dos Equipamentos........................................................................................ 64
4.6. DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO ....................................................................................................... 66
4.7. RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................................... 68
5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 70
6. REFERÊNCIAS............................................................................................................................ 71
APÊNDICE A – EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA TRIAGEM ........................................................ 74
APÊNDICE B – MANUSEIO DE CARGA ............................................................................................ 75
APÊNDICE C – TRIAGEM.................................................................................................................... 76
APÊNDICE D – MODELO NOVO E ANTIGO DE MANIPULADOR.................................................... 77
APÊNDICE E – RESUMO DAS ENTREVISTAS.................................................................................. 78
8
1. INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO
Quem ainda não enviou ou recebeu uma carta, impresso de propaganda ou
qualquer outro documento via correio? Apesar da evolução dos meios de
comunicação (Internet, fax, telefonia etc.), o uso dos serviços de correios continua
intenso e utilizando um contingente grande de trabalhadores.
Um detalhe que talvez passe despercebido pelo usuário dos serviços de
correios são as atividades que estão por trás da simples postagem e recebimento de
uma carta. Existe uma série operações de separação e transporte dos objetos
postais, para que os mesmos cheguem ao destino correto. Operações essas que,
apesar dos avanços tecnológicos que propiciaram o advento de máquinas de
triagem automáticas, que utilizam modernos sistemas ópticos de reconhecimento de
caracteres e códigos de barras, ainda são executados manualmente por
trabalhadores especializados na triagem de objetos postais.
É nesse cenário que se desenvolve este trabalho, que tem como objetivo
geral proporcionar melhorias nas condições de trabalho de seus funcionários,
reduzindo o absenteísmo
Nos últimos anos houve um grande investimento em mobiliário,
equipamentos e EPI (Equipamentos de Proteção Individual) especialmente
projetados para os tipos de atividades operacionais desenvolvidas pelos
trabalhadores dos Correios. Por que então sinais de insatisfação, tais como queixas
de dores musculares, por exemplo, continuam sendo apontado pelos gestores como
um dos principais motivos dos afastamentos?
Estaria o trabalhador sujeito a levantar e a transportar cargas superiores à
sua capacidade física?
9
Estaria o mobiliário adaptado às características antropométricas dos
trabalhadores?
O modo como as atividades ou operações estão sendo executadas são
apropriados?
As metas de produtividade são compatíveis com a capacidade dos
trabalhadores?
O relacionamento entre funcionários em geral é bom?
O trabalho exige posturas rígidas ou fixas (só sentado ou só em pé, por
exemplo)?
Por ser uma empresa comprometida com os critérios do PNQ (Prêmio
Nacional de Qualidade), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos definiu
diretrizes para valorização do ser humano e bem-estar dos funcionários, que podem
ser constatados em um dos princípios da política da qualidade que a própria
empresa adotou e divulga: “As pessoas que compõem a comunidade “ecetista” são
o principal recurso da empresa”1. Portanto é de interesse da empresa, também,
obter um diagnóstico dos riscos aos quais seus colaboradores estão sujeitos nas
atividades laborais.
Diante disso, a proposta do presente trabalho é avaliar os aspectos
ergonômicos da atividade de triagem (ou separação) de cartas efetuada
manualmente pelos trabalhadores dos Correios. O estudo deve contemplar a análise
do posto de trabalho, dos equipamentos e dos acessórios utilizados quanto à sua
adequação na atividade supracitada.
Dentro desta proposta, utilizar-se-á como base do estudo a metodologia da
Análise Ergonômica do Trabalho que, como encontrada na literatura,
1 Frase divulgada nos quadros de aviso da ECT e que faz parte dos Manuais da ECT
10
resumidamente, consiste no estudo de uma atividade laboral com vistas à resolução
de um determinado problema, a partir do conhecimento das atividades
desenvolvidas para realizá-la e das dificuldades encontradas para se atingirem as
metas com a segurança, o conforto, o desempenho e a produtividade exigidos
(BARCELOS,1997)
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Gerais
• Compreender melhor os conceitos relativos à Análise Ergonômica do
Trabalho (AET).
• Conhecer a aplicação prática das normas relacionadas à segurança e à
saúde do trabalhador, mais especificamente a NR-17.
1.2.2. Específicos
• Verificar quais são as conseqüências da atividade de triagem de cartas
em relação à saúde dos trabalhadores.
• Avaliar os postos de trabalho onde ocorre a triagem de cartas.
• Propor ações para eliminar possíveis situações de risco.
11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. ERGONOMIA
2.1.1. Histórico
A Ergonomia desenvolveu-se durante a Segunda Guerra Mundial quando,
pela primeira vez, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia
e as ciências humanas. Fisiologistas, psicólogos, antropólogos, médicos e
engenheiros trabalharam juntos para resolver os problemas causados pela operação
de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço interdisciplinar
foram tão gratificantes que foram aproveitados pela indústria, no pós-guerra.
Atualmente, a preocupação com a Ergonomia (limitada logicamente às restrições de
ordem econômica) pode ser notada em grande parte dos novos produtos que a
indústria lança no mercado (ferramentas, automóveis eletrodomésticos etc.) (DUL e
WEERDMEESTER, 1995). Na década de 80, por exemplo, os estudos ergonômicos
tiveram um aprofundamento ainda maior com o início dos programas espaciais e de
segurança de veículos automotores (SAAD, 1981).
2.1.2. Considerações e Entendimentos Gerais sobre o Tema
O termo Ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e
nomos (regras), podendo ser definido como "uma tecnologia da concepção do
trabalho baseada nas ciências da biologia humana" (VIEIRA, 1997).
A Ergonomia se baseia, principalmente, em conhecimentos no campo das
ciências do homem (antropometria, fisiologia, psicologia, uma pequena parte da
sociologia) e tem como finalidade conceber e/ou transformar o trabalho, de maneira
12
a manter a integridade da saúde dos trabalhadores, sem detrimento dos objetivos
econômicos (WISNER, 1987).
A Ergonomia reúne conhecimentos relativos ao homem e necessários à
concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com
o máximo de conforto, segurança e eficiência ao trabalhador. Para tanto é
necessário trabalhar, essencialmente, com duas ciências: a Psicologia e a Fisiologia
- buscando auxílio também na Antropologia e na Sociologia (MINICUCCI, 1992).
De um modo geral pode-se dizer que a Ergonomia, no ambiente de trabalho,
procura estudar principalmente (VIEIRA, 1997):
• as características materiais do trabalho, como o peso dos instrumentos, a
resistência dos comandos, a dimensão do posto de trabalho;
• o meio ambiente físico (ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico);
• a duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho;
• o modelo de treinamento e aprendizagem;
• as lideranças e as ordens dadas.
Para tanto, é necessário realizar diversos tipos de análises das atividades,
quer físicas, sensoriais e mentais. Dentre elas pode-se citar:
• análise do trabalho;
• análise das informações;
• análise do processo de tratamento das informações.
Um entendimento universalmente aceito, é que a Ergonomia pode ser
definida como uma metodologia multidisciplinar que tem como objetivo a adaptação
da técnica e das tarefas ao homem. Esta adaptação tem como intuito reduzir os
riscos de acidentes e de doenças ocupacionais e proporcionar um maior conforto
nos postos de trabalho, resultando em satisfação do trabalhador. O maior conforto
nos postos de trabalho pode ser traduzido como (VIEIRA, 1997):
13
• otimização dos esforços e movimento no desenvolvimento das tarefas;
• diminuição da probabilidade de erros;
• melhoria geral das condições de trabalho; e, portanto,
• uma melhor produtividade.
Os conhecimentos utilizados pela Ergonomia não são próprios dela, mas
tomados de empréstimo de outras disciplinas. Já, a organização e a utilização
desses conhecimentos em uma dada situação, ou seja, a metodologia empregada,
ela sim, é própria da Ergonomia (MARCELIN e FERREIRA, 1982).
A Ergonomia, portanto, é uma ciência interdisciplinar cujo objeto de estudo é
o trabalho e que pode ser dividida em três classes de estudo (SAAD, 1981):
• Ergonomia de Concepção: é o estudo ergonômico de instrumentos e
ambiente de trabalho antes de sua construção;
• Ergonomia Corretiva: é a que modifica sistemas já existentes. Portanto,
o estudo ergonômico só é feito após a construção do instrumento e/ou
ambiente de trabalho;
• Ergonomia Seletiva: é feita selecionando-se o homem ideal e/ou a faixa
de utilizadores ideal para uma máquina, atividade ou ambiente de
trabalho já existente.
É importante salientar que no Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego
(antigamente Ministério do Trabalho e Previdência) instituiu a Portaria n. 3.751, em
23/11/1990, que estabelece a Norma Regulamentadora n° 17, a NR–17, que trata
da Ergonomia (MTE, 2004). Esta norma passou a exigir, do empregador, condições
de trabalho adaptadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores, que
proporcionem um desempenho eficiente com o máximo de conforto e segurança.
14
2.1.3. Trabalho e Condições de Trabalho
O conceito de condições de trabalho inclui tudo que influencia o próprio
trabalho, como ambiente, tarefa, posto, meios de produção, organização do trabalho,
as relações entre produção e salário etc (SELL, 1994b). Dentro dessa linha de
pensamento, as boas condições de trabalho significam, em termos práticos:
• meios de produção adequados às pessoas;
• objetos de trabalho, materiais e insumos inócuos às pessoas que com
elas entram em contato;
• postos de trabalho ergonomicamente projetados;
• controle sobre iluminação, ruídos, vibrações, temperaturas altas ou
baixas, partículas tóxicas, poeiras, gases etc.;
• postos de trabalho sem perigos mecânicos, físicos, químicos ou outros
que representem riscos para as pessoas;
• organização do trabalho que proporcione interesse e motivação ao
trabalhador;
• organização temporal do trabalho que não comprometa o convívio familiar
e social;
• um regime de pausas que possibilite a recuperação das funções
fisiológicas do trabalhador;
• sistema de remuneração justo;
• bom relacionamento com colegas, superiores e subalternos.
15
2.1.4. Influência de Fatores Ambientais no Trabalho
Existe um entendimento de que melhores condições de trabalho significam
melhores condições de vida, uma vez que o trabalhador brasileiro passa quase um
quarto de sua vida (considerando uma jornada de 40 horas semanais) exercendo a
sua profissão (VIEIRA, 1997).
O ambiente de trabalho é um conjunto de fatores interdependentes, que atua
direta e indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio
trabalho (FISCHER & PARAGUAY, 1989). Ao se definir uma atividade é importante
conhecer as variáveis ambientais e seus limites de tolerância e, na medida do
possível, tomar as providências necessárias para manter os trabalhadores fora das
faixas de risco. A prática tem demonstrado que os riscos ambientais mais comuns
nas empresas são referentes à iluminação, à temperatura, ao barulho e aos gases
(IIDA, 1990).
O MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), em sua Norma
Regulamentadora n° 9, ou NR-9, considera riscos ambientais os agentes agressivos
físicos, químicos e biológicos que possam trazer ou ocasionar danos à saúde do
trabalhador nos ambientes de trabalho, em função de sua natureza, concentração,
intensidade e tempo de exposição ao agente (MTE, 2004).
2.1.4.1. Avaliação das condições de iluminação
A influência de uma boa iluminação é de suma importância para o bom
desempenho da tarefa.
A iluminação recomendada depende das características das tarefas visuais
e das exigências de execução, sendo mais elevada para aquelas tarefas que
envolvem muitos detalhes, precisão e baixos contrastes. Utilizam-se valores mais
16
baixos para tarefas intermitentes. No caso da medição da quantidade de iluminação,
é importante que se considere a quantidade de luz no ponto e no plano onde a tarefa
for executada, seja horizontal, vertical ou em qualquer outro ângulo (PEREIRA,
1994).
Conforme ilustrado na Figura 1, a seguir, existem, basicamente, três tipos de
sistemas de iluminação (IIDA,1990):
• iluminação geral – colocação regular de luminárias em toda a área,
garantindo-se assim um nível uniforme de iluminamento sobre o plano
horizontal;
• iluminação localizada – concentração de maior intensidade de
iluminamento sobre a tarefa, enquanto o ambiente geral recebe menos
luz;
• iluminação combinada – nesse caso a iluminação geral é complementada
com focos de luz localizados sobre a tarefa, com intensidade de 3 a 10
vezes superior ao do ambiente geral.
Figura 1 - Sistemas de iluminação
Fonte: (IIDA, 1990).
17
As luminárias devem ser posicionadas de modo a evitar a incidência da luz
direta ou refletida sobre os olhos, para não provocar ofuscamentos. De preferência,
devem se situar acima de 30o em relação à linha de visão. A Figura 2, a seguir,
mostra o posicionamento das luminárias em relação à visão do trabalhador.
Figura 2 - As luminárias devem ficar posicionadas 30o acima da linha de
visão e atrás do trabalhador, para evitar ofuscamentos e reflexos Fonte: (IIDA, 1990).
Os projetos de iluminação dos ambientes de trabalho devem considerar o
tipo de tarefa que será realizada no local. Esta é uma exigência legal da NBR-5413,
Norma de Iluminação, em conjunto com NR-9, Norma de Prevenção de Riscos
Ambientais, (MTE, 2004).
A iluminação do ambiente de trabalho é importante pois:
• o nível de iluminamento interfere diretamente no mecanismo fisiológico da
visão e também na musculatura que comanda os movimentos dos olhos
(IIDA,1990);
a) pode provocar ofuscamento, que ocorre quando o processo de
adaptação da visão não transcorre normalmente devido a uma variação
muito grande da iluminação e/ou a uma velocidade muito grande.
Experimenta-se uma perturbação, um desconforto ou até uma perda na
visibilidade (PEREIRA, 1994).
18
• pode provocar fadiga visual, que é causada principalmente pelo
esgotamento dos pequenos músculos ligados ao globo ocular,
responsáveis pela movimentação, fixação e focalização dos olhos.
Uma iluminação inadequada faz com que o trabalhador force sua visão,
além de exigir uma postura inadequada para melhorar sua visibilidade. Os efeitos
dessa condição são fadiga visual e dores de cabeça, coluna e pescoço. A
conseqüência de tal estado é a diminuição da capacidade visual ao longo do tempo,
elevado número de erros na execução das tarefas, diminuição do ritmo de trabalho e
menor percepção de detalhes (LYRA, 1994).
2.1.4.2. Avaliação das Condições de ruído
Ao contrário do que muitos pensam, som e ruído não são sinônimos. O
conceito de ruído é associado a som desagradável e indesejável (GERGES, 1992).
Já o som é a sensação, agradável ou não, percebida pelo sistema auditivo, gerado
pelo deslocamento vibratório de moléculas que ocorre sob a forma de ondas
senoidais, sendo estas caracterizadas por sua freqüência (f), medida em ciclos por
segundo ou Hertz (Hz), e por sua amplitude (VERDUSSEN, 1978).
O excesso de ruído pode gerar uma série de efeitos não desejáveis no
organismo humano, tais como: aceleração da pulsação, aumento da pressão
sangüínea e estreitamento dos vasos sangüíneos. O efeito destas alterações
aparece em forma de mudanças de comportamento, tais como nervosismo, fadiga
mental, frustração, baixa produtividade e altas taxas de absenteísmo (ausência ao
trabalho). Existem estudos que relacionam a perda de controle de indivíduos
neuróticos ao excesso de exposição a altos níveis de ruído (COUTO, 1978).
O limiar da audição, isto é, a pressão acústica mínima que o ouvido humano
pode detectar, é 20 x 10-6 N/m2 na freqüência de 1 kHz. A banda de freqüência
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auditiva humana se estende de 20 Hz a 20.000Hz. Com relação à intensidade do
som, na faixa de freqüência auditiva humana, é importante ressaltar que o ouvido
humano percebe sons cuja pressão sonora esteja entre 0 e 140 dB, sendo o limiar
da sensação dolorosa na ordem de 120 dB e que ao nível de 140 dB já há grande
risco de ruptura do tímpano. Entretanto, muito abaixo destes limites o ruído já pode
se tornar incômodo ou nocivo.
A NR-15, que define atividades e operações insalubres, estabelece os
tempos máximos que um trabalhador pode ficar exposto a um determinado nível de
ruído (MTE, 2004).
Considerando os prejuízos que o ruído causa às pessoas a ele expostas,
estudos contínuos deverão ser realizados no sentido de se eliminar o ruído na fonte
geradora e só quando não for possível a eliminação do mesmo, na fonte, é que se
deve fazer uso de EPI (protetores auriculares).
2.1.4.3. Avaliação das condições de temperatura
É fato que muitas atividades profissionais submetem os trabalhadores a
ambientes de trabalho que apresentam condições térmicas bastante diferentes
daquelas a que o organismo humano está acostumado. Estudos demonstram que a
exposição de indivíduos sadios a altas temperaturas, pode desencadear hipertermia,
desfalecimento, desidratação, doenças de pele, distúrbios psiconeuróticos e
cataratas. Já as baixas temperaturas influenciam as habilidades motoras. Se as
mãos estão expostas ao frio excessivo (de forma que a temperatura das mãos fique
abaixo de 15°C) nota-se um imediato comprometimento do tato, da movimentação
das articulações e o tiritar acomete muito a movimentação delicada dos músculos
(COUTO, 1978).
20
Em função desses efeitos nocivos o Ministério do Trabalho publicou a NR-
15, regulamentando os limites de tolerância, em termos de exposição ao calor ou
frio, a que um trabalhador pode ser submetido (MTE, 2004). A mesma Norma
estabelece também a metodologia a ser empregada na avaliação do ambiente de
trabalho, definindo os tipos de termômetros a serem utilizados em termos de calor.
2.1.4.4. Gases Contaminantes Atmosféricos
Atualmente, o homem está em constante contato com vários compostos
químicos (entre agrotóxicos, metais pesados, solventes, sílica, fumaças, gases e
vapores tóxicos, radiações ionizantes etc.). O estudo dessas substâncias possibilitou
a identificação de alguns fatores que, devido à sua ação química sobre o organismo
humano, desencadeiam doenças do trabalho. Esses fatores desencadeantes de
doenças de trabalho são denominados, na legislação brasileira, agentes químicos
(CAMARDELLA, 1989).
Muitos estudos foram feitos com os agentes químicos conhecidos até se
definirem tabelas com as concentrações máximas toleradas pelo organismo humano
e métodos para se calcularem os tempos máximos permissíveis à exposição, sem
causar doenças (IIDA, 1990).
Os agentes químicos podem estar presentes no ambiente de trabalho sob
muitas formas físicas (CAMARDELLA, 1989), tais como poeiras, fumos, névoa, e
neblina. As partículas mais perigosas são visíveis somente com microscópio. Elas
constituem a chamada fração respirável, pois podem ser absorvidas pelo organismo
através do sistema respiratório (VIEIRA, 1997).
No Brasil, a NR-15 estabelece os limites de tolerância de exposição a
determinados agentes químicos a que um trabalhador pode se submeter. Caso a
atividade obrigue o trabalhador a se expor além desses limites, ela será considerada
21
insalubre (MTE, 2004). Porém, conforme a definição da American Conference of
Governmental Hygienists (ACGH), os limites de tolerância, por serem obtidos
através de amostras estatísticas, têm suas limitações e não devem ser usados como
um divisor entre o certo e o errado (VALVERDE, 1996). Entretanto, por serem
parâmetros reconhecidos legalmente, os Limites de Tolerância devem ser
respeitados pelos profissionais da área, com a ressalva de que não são números
absolutos.
2.1.5. Influência dos Fatores Humanos no trabalho
Sabe-se que existem certas características do organismo humano que
influenciam no desempenho do trabalho (IIDA, 1990). A monotonia e a fadiga, por
exemplo, estão presentes em todos os trabalhos e, se não podem ser totalmente
eliminadas, podem ser controladas e amenizadas com a implantação de ambientes
mais interessantes e motivadores.
2.1.5.1. Fadiga
Entende-se por fadiga uma situação de baixa eficiência devida a uma forte
ou prolongada atividade, sem paradas suficientes para descanso e relaxamento do
corpo. Em outra definição: fadiga é o efeito de um trabalho continuado, que provoca
uma redução reversível da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa
desse trabalho (VIEIRA, 1997).
A fadiga no homem pode ser classificada em fadiga física ou orgânica e
fadiga psicológica. Tem como causa um conjunto complexo de fatores relacionados
com a intensidade, a duração do trabalho (seja físico ou intelectual), a monotonia, a
22
falta de motivação, o ambiente físico (iluminação, ruído, temperatura) e o
relacionamento com a chefia e com os colegas de trabalho (IIDA, 1990).
A Figura 3, a seguir, baseada em estudos laboratoriais, demonstra que o
rendimento do operário inicia-se no ponto zero, atingindo seu ponto culminante em
0,8 de sua eficiência, correspondente à segunda hora de trabalho. No segundo turno
o seu comportamento apresenta-se com rendimentos inferiores à primeira jornada
de trabalho, por efeito da fadiga.
Figura 3 - Gráfico demonstrativo de fadiga Fonte: (PERONI, 1990).
2.1.5.2. Fadiga Física
A fadiga simples ou cansaço físico-mental tem como possíveis causas os
seguintes fatores (COUTO, 1978):
• monotonia;
• duração e intensidade do trabalho físico e mental;
• ambiente inadequado, com temperatura elevada, baixa iluminação ou alto
nível de ruído;
23
• responsabilidade, preocupações e conflitos;
• doença e dor;
• comprometimento da alimentação;
• deficiência de oxigênio, como no trabalho em minas de carvão;
• esforço físico superior à capacidade muscular.
Para eliminar esses efeitos indesejáveis da fadiga, existem varias medidas,
aprovadas pela maioria dos profissionais da área, que podem ser implementadas.
Entre elas podem ser citadas (VIEIRA, 1997):
• pausas: que podem ser pausas fisiológicas, pausas furtivas, pausas
curtíssimas, pausas curtas ou intercalares, pausas longas, pausas diárias,
pausas semanais ou pausas anuais;
• adaptação ao trabalho: o trabalho inicial geralmente é fatigante mas, à
medida que o trabalhador se adapta a ele e automatiza os seus
movimentos, a fadiga se reduz substancialmente;
• seleção profissional: deve-se selecionar o trabalhador que melhor se
adapte às condições especiais de cada tipo de trabalho;
• racionalização do trabalho: através da Ergonomia, procura-se estudar
qual a melhor posição do trabalhador (em pé ou sentado), qual a
dimensão das alavancas, qual situação exige menor dispêndio de
energia, quais os movimentos que podem ser evitados etc.;
• condições do ambiente de trabalho: melhoria das condições de
iluminação, ventilação e conforto, térmico, ruído etc.;
• alimentação do trabalhador: havendo um gasto energético durante o
trabalho físico, deve existir uma reposição da energia gasta, através de
alimentação racional e devidamente balanceada para cada tipo de
trabalho.
24
2.1.5.3. Fadiga psíquica
Neste caso os sintomas são mais dispersos e não se manifestam de forma
localizada, mas de forma mais ampla, como sentimento de cansaço geral, aumento
da irritabilidade, desinteresse e maior sensibilidade a certos estímulos, como fome,
calor, frio ou má postura. Este tipo de fadiga está relacionado de forma complexa a
uma série de fatores como monotonia, motivação, estado geral de saúde,
relacionamento social, e assim por diante. Ocorre também em situações em que há
predomínio do trabalho mental, com poucas solicitações de esforços musculares.
Em tarefas com excesso de carga mental, a fadiga reduz a precisão na
discriminação de sinais, retardando as respostas sensoriais e aumentando a
irregularidade das respostas.
A fadiga psíquica, também conhecida por fadiga nervosa, tem algumas
características (VIEIRA, 1997):
• quadro predominante psíquico, mas acompanhado de repercussões
orgânicas;
• sintomatologia múltipla e polimorfa destacando-se, freqüentemente:
a) queixas de cefaléias (dores de cabeça), tonturas, anorexia, tremores
das extremidades, adinamia, dificuldades em concentrar-se, crises de
choro etc.;
b) alterações de sono, nas quais o paciente, exausto, cai na cama e
dorme pesadamente, sem sonhos. Surgem, a seguir, sonhos
angustiantes e o paciente, após ter dormido apenas algumas horas,
acorda de madrugada e não consegue dormir mais;
c) diminuição da libido, com impotência e frigidez sexual;
25
• quadro geral atingindo o organismo como um todo, e não como ocorre na
fadiga orgânica, que atinge apenas determinados orgãos;
• quadro remanescente: o sono e/ou o repouso não leva a uma
recuperação, como ocorre na fadiga orgânica;
• redução da produtividade.
2.1.5.4. Monotonia
É a reação do organismo a um ambiente uniforme, pobre em estímulos ou
com pouca variação das excitações. Os sintomas mais indicativos da monotonia são
uma sensação de sonolência, aumento do tempo de reação, morosidade e uma
diminuição da atenção. As operações repetitivas na indústria e o tráfego rotineiro são
condições propícias à monotonia (IIDA, 1990).
As experiências demonstram que as causas de monotonia são as atividades
prolongadas ou repetitivas, de pouca complexidade. E como condições agravantes
da monotonia podem ser citadas: curta duração do ciclo de trabalho, períodos curtos
de aprendizagem e restrição dos movimentos corporais, além dos locais mal
iluminados, muito quentes, ruidosos e com isolamento social (IIDA, 1990).
Conforme supra mencionado, uma das causas da monotonia no trabalho é a
repetição das atividades, que provoca aborrecimento e insatisfação nos
trabalhadores e é causa comum dos elevados índices de absenteísmo e
rotatividade.
2.1.5.5. Motivação
A motivação no comportamento humano é algo que faz uma pessoa
perseguir um determinado objetivo, durante um certo tempo, que pode ser curto ou
longo, e que não pode ser explicado somente pelos seus conhecimentos,
26
experiências e habilidades. A motivação não pode ser observada diretamente, mas
somente através dos seus efeitos, e pode ser medida indiretamente, como por
exemplo pelas quantidades adicionais de peças produzidas por um trabalhador
motivado (VIEIRA, 1997).
A questão da motivação tem sido exaustivamente estudada pelos
profissionais de recursos humanos e, de uma forma simplista, ela está relacionada à
satisfação pessoal, social e profissional do trabalhador (VIEIRA, 1997).
2.1.5.6. Posturas e movimentos
Uma parte extremamente importante no estudo da Ergonomia é a análise
das posturas e dos movimentos. Tanto no trabalho como na vida cotidiana, eles são
determinados pela tarefa e pelo ambiente onde a mesma é desenvolvida. O estudo
das posturas e dos movimentos que envolvem qualquer atividade deve sempre se
fundamentar nos conhecimentos adquiridos em outras áreas, como biomecânica,
fisiologia e antropometria.
A postura pode ser definida como um arranjo relativo das partes do corpo e,
como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas estruturas de suporte, os
músculos e os ossos, que as protegem contra uma agressão (trauma direto ou
deformidade progressiva - alterações estruturais). As diversas posturas (em pé,
deitado, sentado, inclinado à frente, agachado) podem, durante o repouso e o
trabalho, ser realizadas em condições mais adequadas (VIEIRA, 1997).
Trabalhando ou repousando, o corpo assume três posturas básicas: as
posições deitada, sentada e em pé. Em cada uma dessas posturas estão envolvidos
esforços musculares para manter a posição relativa de partes do corpo, que se
distribuem da seguinte forma (IIDA, 1990):
27
• posição deitada: nesta posição não há concentração de tensão em
nenhuma parte do corpo. O sangue flui livremente para todas as partes do
corpo. O consumo energético assume o valor mínimo, aproximando-se do
metabolismo basal. É, portanto, a postura mais recomendada para
repouso e recuperação da fadiga;
• posição sentada: exige atividade muscular do dorso e do ventre para se
manter esta posição. O consumo de energia é de 3 a 10% maior em
relação à posição horizontal. O assento deve permitir mudanças
freqüentes de postura, para retardar o aparecimento da fadiga;
• posição em pé: a posição parada, em pé, é altamente fatigante, porque
exige muito trabalho estático da musculatura envolvida para manter essa
posição. O coração encontra maiores resistências para bombear sangue
para os extremos do corpo. As pessoas que executam trabalhos
dinâmicos em pé geralmente apresentam menos fadiga do que aquelas
que permanecem estáticas ou com pouca movimentação.
A posição sentada, em relação à posição em pé, apresenta ainda a
vantagem de liberar os braços e os pés para tarefas produtivas. Na posição em pé,
além da dificuldade de usar os próprios pés para o trabalho, freqüentemente
necessita-se também do apoio das mãos e dos braços para se manter a postura.
Nesse sentido, a posição sentada é menos cansativa do que a posição em pé.
Entretanto, as atividades que exigem maiores forças ou movimentos do corpo são
mais bem executadas em pé (IIDA, 1990).
A Tabela 1, a seguir, apresenta a distribuição percentual das partes do
corpo, de acordo com o peso relativo de cada segmento corporal.
28
Tabela 1 – Peso relativo de cada segmento corporal Parte do corpo % do peso total
Cabeça 6 a 8%
Tronco 40 a 46%
Membros Superiores 11a 14%
Membros Inferiores 33 a 40 % Fonte: (IIDA, 1990)
Muitas vezes projetos inadequados de máquinas, assentos ou bancadas de
trabalho obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas. Se estas forem
mantidas por um longo tempo, podem provocar fortes dores localizadas naquele
conjunto de músculos solicitados na conservação dessas posturas (ver Quadro 1).
POSTURA RISCO DE DORES
Em pé
Sentado sem encosto
Assento muito alto
Assento muito baixo
Braços esticados
Pegas inadequadas em ferramentas
Pés e pernas (varizes)
Músculos extensores do dorso
Parte inferior das pernas, joelhos e pés
Dorso e pescoço
Ombros e braços
Antebraços Quadro 1 - Localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas
Fonte: (IIDA, 1990)
Um exemplo comum de postura inadequada é a inclinação da cabeça, que
pode provocar dores no pescoço, quando a inclinação da cabeça em relação à
vertical for maior do que 30o (ver Figura 4, a seguir). Nesse caso deve-se tomar
providencias para restabelecer a postura vertical da cabeça, de preferência com até
20° de inclinação, fazendo-se ajustes na altura da cadeira, da mesa ou na
localização da peça.
29
Figura 4 Tempos médios para aparecimento de dores no pescoço, de acordo com a inclinação da cabeça para frente. Fonte: (VIEIRA, 1997)
Pode-se definir má postura como sendo aquela que causa incapacidade, dor
ou outra anormalidade qualquer. É possível que algumas pessoas tenham uma
tendência maior de adquirir estas anormalidades do que outras.
Posturas ou movimentos inadequados produzem tensões mecânicas nos
músculos, ligamentos e articulações, resultando em dores no pescoço, costas,
ombros, punhos e outras partes do sistema músculo-esquelético. Alguns
movimentos, além de produzirem tensões mecânicas nos músculos e articulações,
apresentam um gasto energético que exige muito dos músculos, coração e pulmões
(VIEIRA, 1997).
2.1.5.7. Fatores que influenciam a postura
Para o trabalhador garantir o sucesso na realização de uma tarefa ele adota
posturas e movimentos físicos, que são influenciados ou determinados pela natureza
da tarefa, pelas condições ambientais e organizacionais e pelos meios materiais que
ele tem à sua disposição, conforme segue (BARREIRA, 1989):
• natureza da tarefa: o trabalhador para cumprir uma tarefa realiza alguns
procedimentos operacionais que requerem certas atividades físicas e
30
mentais. Uma das maneiras observáveis da atividade física compreende
exatamente a adoção de posturas e movimentos;
• fatores físicos ambientais: compreende a intensidade e a qualidade de
iluminamento, o ruído, as temperaturas e a ventilação, entre outros. Se
estes fatores não forem adequados, o trabalhador, de forma inconsciente
ou consciente, adota posturas muitas vezes erradas, no sentido de
compensar o fator inadequado;
• fatores físicos materiais: compreendem a disposição e o
dimensionamento físico dos equipamentos, dos materiais, das fontes de
informação, dos dispositivos de controle e de comando, entre outros, no
posto de trabalho. Todos esses itens devem ser compatíveis com as
dimensões antropométricas do trabalhador, isto é, o operador não pode
se ver obrigado a adotar posturas que submetam seu corpo a esforços
desnecessários;
• fatores temporais: compreendem a distribuição temporal da tarefa ao
longo da jornada de trabalho, ou seja, a distribuição dos períodos de
trabalho e pausas com a freqüência e duração dos mesmos ao longo do
dia. A velocidade ou o ritmo de execução da tarefa e os tempos de
pausas, juntamente com o período do dia em que as mesmas ocorrem,
constituem um importante fator a ser considerado na análise da adoção
de posturas.
2.1.5.8. Trabalhos manuais
Qualquer tipo de tarefa realizada pelo homem normalmente demanda a
utilização ativa da mão durante sua realização. Daí a importância das mãos como
meio de se atingirem os objetivos traçados na atividade de trabalho.
31
2.1.5.9. Lesões nas mãos
De maneira geral, a mão pode sofrer lesões de pele apenas, ou lesões que
atinjam além da pele, tendões e nervos. Também, há casos mais graves,
envolvendo além destas partes, mais as artérias e a parte óssea, através de fraturas.
O avanço da tecnologia eliminou muitas atividades, ao mesmo tempo em
que abriu espaço para o surgimento de novas atividades. Dentre as atividades que
sobreviveram a esse avanço e as que surgiram, muitas ainda exigem movimentos
repetitivos e/ou forçados, em ritmo muitas vezes imposto pela velocidade da própria
máquina, em postura nem sempre adequada às suas condições pessoais e, em
geral, por longas e contínuas jornadas de trabalho. Tal situação obriga o trabalhador
a intensos e forçados movimentos dos seus membros superiores provocando o
aparecimento de moléstias conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER)
ou Lesões por Traumas Cumulativos (LTC). Independentemente da denominação,
sabe-se que as LER (ou LTC), são desordens neuro-músculo-tendinosas, de origem
ocupacional, que atingem os membros superiores, espádua e pescoço, causadas
pelo uso repetido e forçado de grupos musculares ou pela manutenção de postura
forçada (OLIVEIRA, 1991). Como conseqüência, o trabalhador perde, temporaria ou
permanentemente, a capacidade de realizar determinados movimentos.
Por serem doenças que envolvem atividades laborais, e que muitas vezes
comprometem os índices de absenteísmo, algumas medidas de prevenção estão
previstas nas Normas Regulamentadoras NR-7, NR-9 e NR-17, que estabelecem
parâmetros para os programas de saúde ocupacional, prevenção de riscos e
Ergonomia no trabalho, respectivamente (LEITE, 1997).
32
2.1.5.10. Causas da LER
Existem várias doenças que podem ser enquadradas como LER, cada uma
delas com uma característica diferentes, mas que irão levar no final aos sintomas de
dor, fraqueza e fadiga das articulações, impedindo a pessoa de trabalhar
normalmente (LEITE, 1997).
Essas lesões causam dor constante e até incapacitação permanente, caso
não sejam diagnosticadas e tratadas logo no início. O problema que as organizações
enfrentam torna-se grave, pois os funcionários geralmente são acometidos por esse
tipo de problema quando se encontram em um estágio avançado em termos de
experiência e de capacidade produtiva, o que está intimamente ligado à qualidade
dos produtos e serviços prestados. Daí a importância da realização do planejamento
ergonômico para se prevenirem esses males (SANCHES, 1997).
Os movimentos de alta repetitividade durante o desenvolvimento da tarefa
são considerados como uma das causas principais do aparecimento das LER. Nesse
contexto, consideram-se como movimentos de alta repetitividade aqueles que
possuem um ciclo básico de menos de trinta segundos e/ou atividades em que mais
do que cinqüenta por cento do ciclo de trabalho envolve movimentos similares das
extremidades superiores (MACIEL, 1995). Diante dessas considerações, não se
pode estranhar quando se vinculam os fatores de risco na organização de trabalho,
responsáveis pela LER, aos princípios tayloristas e fordistas de organização do
trabalho (CODO, 1995).
De maneira geral, as funções nas quais a LER aparece com maior
freqüência possuem algumas características específicas, que estão relacionadas ao
aparecimento da síndrome. A seguir, no Quadro 2, são apresentados, sucintamente,
os principais fatores determinantes da LER:
33
Postura Movimento e força Conteúdo do trabalho e fatores psicológicos
Características individuais
Posturas fixas, principalmente em trabalhos sedentários
Força e repetitividade de movimentos Conteúdo mental das tarefas Tipo de musculatura e
características corporaisPosturas extremas (movimentações corporais envolvendo torções extremas do tronco)
Força moderada, mas utilização de pequenos músculos repetidamente no tempo
Grau de flexibilidade da ação do trabalhador
Estudos demostraram que as mulheres são mais sensíveis
Más posturas de extremidades superiores (tais como desvio de punhos, elevação de ombros, braços torcionados)
Tempo e freqüência: movimentos repetitivos e estereotipados em pequenos ciclos de tempo
Pressão em relação à produção
Técnica de realização do trabalho
Desvios de posturas influenciados por: a) características do posto de trabalho; b) características antropométricas do trabalhador.
Contato mecânico localizado (contato físico entre uma parte do corpo ou das mãos e/ou punhos com um determinado objeto, sempre no mesmo local e na mesma posição; ex. tesoura)
Qualidade da comunicação entre empregados e chefia
Distribuição de tarefas por sexo
Força exercida durante a realização de movimentos (levantamento, carregamento e utilização de ferramentas pesadas)
Recomendam-se mais estudos para estabelecer a relação entre o trabalho, o estresse e o sistema músculo-esquelético.
Carga de trabalho
Exposição das extremidades superiores à vibração e a baixas temperaturas
Quadro 2 - Principais fatores determinantes da LER Fonte: (VIEIRA, 1997).
2.1.5.11. Grupos de risco das LER
Existe uma tendência de extinção dos trabalhos que exigem maior força
física ou movimentos repetitivos. O uso de robôs em linhas de montagem, sistemas
que recebem comando de voz etc., são exemplos de avanços neste sentido. No
entanto, o atual estágio de desenvolvimento da humanidade não permite ainda
eliminar todas as atividades de risco. Existe ainda uma demanda muito grande de
atividades que utilizam as mãos, acompanhadas de movimentos altamente
repetitivos a um ritmo muito acelerado e com a aplicação de maior ou menor força,
enquadrando-se assim dentro dos grupos de risco das LER.
Trabalhadores que se enquadram nesse grupo de risco, são:
• empacotadeiras em fábricas de alimentos;
• processadores de dados; datilógrafos;
34
• microfilmadores;
• montadores de peças em linha de montagem automática;
• tricoteiras; costureiras;
• etiquetadores de preços; caixas bancários;
• OTT – Operador de Transbordo e Triagem (Correios); e
• outros.
2.1.5.12. Estágios das LER
Os principais sintomas das lesões por traumas cumulativos são: sensação
de peso e cansaço no membro afetado e surgimento de dor, formigamento, inchaço,
calor localizado e perda da força muscular. Tais sintomas foram observados e
classificados em três estágios (CUNHA et al., 1992):
• há dor e fadiga do braço afetado durante o trabalho, cessando à noite e
nos dias de folga:
a) não há redução significativa da produtividade;
b) não há sinais físicos;
c) o quadro persiste por semanas ou meses, mas é reversível;
• há dor recorrente e fadiga, que aumentam inicialmente durante a jornada
de trabalho e permanecem por mais tempo:
a) os sintomas não mais desaparecem à noite, perturbando o sono do
indivíduo;
b) redução da produtividade quando em trabalhos repetitivos;
c) sinais físicos podem estar presentes;
d) usualmente persiste por meses;
• a dor, a fadiga e a fraqueza agora persistem mesmo em repouso, e pode
haver dor mesmo sem movimentos repetitivos:
35
a) esses sintomas perturbam o sono;
b) o paciente é incapaz de boa performance até para trabalhos leves;
c) os sinais agora estão presentes;
d) o quadro poderá permanecer por meses ou anos.
Em outro estudo, no qual procurou-se enfatizar os extremos do curso clínico
da doença, preferiu-se classificar a LER em 4 estágios (CUNHA et al., 1992):
• sensação de peso e desconforto no membro afetado:
a) dor localizada na espádua, que aparece ocasionalmente durante a
jornada de trabalho (pontadas);
b) não interfere na produtividade do trabalhador;
c) não há irritação nítida;
d) melhora com o repouso;
e) geralmente é uma dor leve e fugaz;
f) ausência de sinais clínicos;
g) pode haver manifestação de dor ao exame clínico, quando a massa
muscular envolvida é comprimida;
• dor mais persistente e intensa, que aparece durante a jornada de trabalho
de forma não-contínua:
a) a dor é tolerável e permite a execução da atividade profissional, mas
com uma notável redução da produtividade nos períodos de
exacerbação;
b) pode estar acompanhada de sensação de formigamento e calor, além
de leves distúrbios de sensibilidade;
c) pode haver irradiação definida;
d) demora mais a melhorar com o repouso;
36
e) pode aparecer ocasionalmente fora do trabalho (atividades
domésticas, práticas esportivas);
f) de um modo geral, os sinais físicos continuam ausentes;
g) pode-se observar, algumas vezes, nodulações acompanhando a
bainha da musculatura envolvida;
h) massa muscular com hipertonia e dor à palpação;
• dor persistente e forte, com irradiação mais definida:
a) nem sempre a dor desaparece com o repouso, podendo ser apenas
atenuada;
b) paroxismos noturnos;
c) freqüência de perdas da força muscular e parestesias;
d) há queda acentuada de produtividade;
e) sinais clínicos presentes: edema recorrente; hipertonia muscular,
alterações da sensibilidade; manifestações vagais (palidez, sudorese
etc.);
f) a mobilização ou palpação do membro provoca dor forte;
g) eletromiografia (EMG) alterada;
• dor forte e contínua, por vezes insuportável:
a) paroxismos de dor ocorrem mesmo com o membro imobilizado;
b) perda da força e do controle dos movimentos;
c) sinais clínicos como hipotrofias por desuso, edema, nódulos e
crepitações;
d) a capacidade de trabalho é anulada;
e) atos da vida diária prejudicados;
f) alterações psicológicas, como depressão, angústia e ansiedade.
37
Independentemente da forma como são classificados os estágios da
doença, é importante ficar atento a esses sintomas para, com o devido
acompanhamento médico, intervir na evolução do processo degenerativo.
2.1.5.13. Formas Clínicas
A LER é representada por lesões que atingem todos os segmentos dos
membros superiores, espádua e pescoço. Os tipos mais conhecidos de lesões são:
tenossinovite (inflamação do tecido que reveste os tendões), tendinite (inflamação
dos tendões), miosite (inflamação dos músculos), epicondilite (inflamação das
estruturas do cotovelo), bursite (inflamação das bursas), túnel do carpo (compressão
do nervo mediano ao nível do punho), entre outras. Algumas formas reproduzem
quadros, tais como dedo em gatilho, doença de Quervain, síndrome do Túnel do
Carpo, síndrome do Túnel Ulnar, epicondilite, bursite, cervicobraquialgia, miosite e
polimiosites (CUNHA et al., 1992).
2.1.5.14. Diagnóstico da LER
Para alguns profissionais, o diagnóstico da LER é essencialmente clínico,
baseando-se na história tanto clínica como nas atividades ocupacionais vivenciadas
por cada trabalhador. O exame físico detalhado, os exames complementares,
(conforme a situação) e a análise das condições de trabalho responsáveis pelo
aparecimento da lesão são muito importantes ao se fazer um diagnóstico (VIEIRA,
1997).
Dentre os métodos de diagnóstico atualmente utilizados pelos profissionais
da área médica, a ultra-sonografia, que é um método de diagnóstico por imagem que
utiliza som de alta freqüência e com baixa intensidade, está permitindo, sem danos
ou prejuízos ao organismo, identificar as estruturas músculo-esqueléticas e outros
38
órgãos internos do corpo. Com o uso dos aparelhos de última geração, em tempo
real e com alta definição, observou-se que as estruturas correspondentes aos
tecidos moles eram perfeitamente bem definidas e que as alterações patológicas nas
mesmas eram facilmente identificadas (OLIVEIRA, 1989).
2.1.5.15. Prevenção
Com o propósito de prevenir o desenvolvimento das Lesões por Esforços
Repetitivos os especialistas são unânimes em recomendar (ALVES, 1995):
• um projeto adequado de ferramentas e equipamentos que permita uma
postura confortável e livre de esforço. Os trabalhadores devem ser
consultados em todos os estágios de projeto e compra de equipamentos;
• um posto de trabalho que permita uma variação nas posturas;
• que quando as tarefas exigirem atividades repetitivas ou estáticas
prolongadas deve-se introduzir períodos de descanso;
• a introdução de rodízio no trabalho, modificação nas tarefas para diminuir
o efeito de movimentos repetitivos e posturas estáticas. O trabalhador
deve ser consultado, permitindo uma integração entre o indivíduo e o
trabalho;
• um ritmo de trabalho adequado ao indivíduo (que não pode ser imposto
pela máquina). Deve-se considerar a experiência do indivíduo no trabalho,
sua capacidade individual, o tempo necessário para adaptar-se a novas
tecnologias. Além disso, permitir a reintegração progressiva no trabalho
após um período de afastamento;
• que prêmios por produção, monitoramento eletrônico e ritmo imposto pela
máquina devem ser abolidos. Estes fatores fazem com que os
trabalhadores ultrapassem seus limites pessoais;
39
• que fatores físicos e sociais devem ser observados, pois contribuem para
aumentar o estresse dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Os
fatores físicos (iluminamento, ventilação, temperatura, umidade e ruído)
devem ser avaliados e devem seguir as Normas Regulamentadoras. Os
fatores sociais incluem o relacionamento interpessoal, a carga de
trabalho, o estilo gerencial, a adaptação a novas tecnologias e as
mudanças no local de trabalho;
• deve ser instituído um treinamento direcionado a todos os níveis
hierárquicos, que inclua o conhecimento sobre a doença: sintomatologia,
etiopatogenia, conseqüências, medidas de prevenção, princípios de
tratamento e reabilitação (isso também pode ser chamado de
conscientização).
Os exercícios de alongamentos das mãos e algumas pausas durante a
jornada de trabalho resolvem e evitam a tenossinovite. Outro exercício que pode
ajudar nos casos de sobrecarga estática é o de alongamento para a coluna. Existem
estudos que comprovam que com pausas, a produtividade é maior, pois a pessoa
não chega à fadiga, e que a prevenção da LER pode ser feita da seguinte maneira
(VIEIRA 1997):
• pausas programadas durante a jornada de trabalho para o descanso de
músculos e tendões (10 minutos para cada 50 minutos de trabalho
repetitivo);
• adequação dos postos de trabalho às características físicas dos
trabalhadores (adequar o projeto do mobiliário, das ferramentas e das
máquinas utilizadas);
• controle e avaliação do ambiente de trabalho quanto ao ruído, à
temperatura, à iluminação etc.;
40
• exames médicos periódicos;
• diminuição do ritmo de trabalho quando aparecer qualquer sintoma;
• realização de estudo de análise ergonômica do trabalho, de forma a
conhecer a situação de trabalho, os movimentos realizados pelo
trabalhador, o tipo de atividade, o ritmo de trabalho etc.
41
3. METODOLOGIA
3.1. ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
3.1.1. Premissas
O Ministério do Trabalho e Emprego, através da NR 17, em seu item 7.1.2.,
estabelece: “Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise
ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar no mínimo, as condições de
trabalho conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora”, (MTE, 2004).
A análise ergonômica procura colocar em evidência os fatores que possam
levar a uma subcarga ou a uma sobrecarga de trabalho (física ou cognitiva) e suas
conseqüentes repercussões sobre a saúde, estabelecendo quais são os pontos
críticos que devem ser modificados. A análise deve levar em conta a percepção dos
trabalhadores sobre suas condições de trabalho e a organização do trabalho
(BARCELOS, 1997).
De um modo geral, a análise ergonômica deve ser feita através de uma
intervenção ergonômica no local de trabalho, considerando as condições reais de
trabalho, partindo-se de uma avaliação geral até chegar a uma avaliação específica,
e sempre com foco nos aspectos sociais e na produção.
A intervenção ergonômica deve mobilizar o conjunto de atores envolvidos,
nos diferentes níveis, nos projetos de transformação do trabalho. Essa mobilização
ocorre porque os trabalhadores podem relatar melhor a maneira como vivem e se
adaptam às situações de trabalho. Além disso, a natureza das modificações a serem
recomendadas deve ser validada pelos trabalhadores e estas devem atender às
exigências do processo produtivo e da política geral da empresa (NOULIN, 1992).
42
Nesse sentido, a metodologia geral da análise ergonômica deve contemplar
(PROENÇA, 1993):
• um diagnóstico baseado:
a) na análise das características sociais, técnicas, organizacionais e
econômicas da situação de trabalho analisada;
b) na análise da atividade real dos operadores e do quadro temporal no
qual ela se efetua;
c) na medida das características dos meios de trabalho e do meio
ambiente físico no qual o mesmo se realiza;
d) na medida das características antropométricas, fisiológicas e
psicológicas dos operadores em atividade;
• um projeto construído a partir do diagnóstico:
a) dos dados recolhidos sobre a situação de trabalho;
b) dos dados existentes na literatura;
• uma verificação dos efeitos das modificações resultantes.
A Análise Ergonômica do Trabalho pode ser dividida em três fases: análise
da demanda, análise da tarefa e análise das atividades. Concluída a Análise
Ergonômica do Trabalho, continua-se com uma outra etapa denominada Síntese
Ergonômica do Trabalho que, por sua vez, é dividida em duas fases: o
estabelecimento do diagnóstico da situação de trabalho e a elaboração do caderno
de encargos de recomendações ergonômicas (ver Figura 5, a seguir). Todas essas
fases devem ser cronologicamente abordadas, de forma a garantir uma coerência
metodológica e a evitar percalços, que são comuns nas pesquisas empíricas de
campo. Cada uma destas fases necessita, por sua vez, de uma descrição detalhada
43
das informações geradas, além da obediência aos princípios básicos que seguem
(SANTOS, 1994):
• apresentação do estudo, dos objetivos e dos resultados esperados aos
solicitantes da demanda e aos trabalhadores envolvidos na atividade
laboral focalizada;
• apresentação, principalmente aos trabalhadores, dos meios de análise, do
tipo de dados que serão recolhidos e do tipo de interpretação que será
feita dos mesmos;
• apresentação, a todos os envolvidos, dos resultados obtidos durante e
após a análise.
Figura 5 - Análise Ergonômica do Trabalho e Síntese Ergonômica do Trabalho
Fonte: (SANTOS e FIALHO, 1995)
44
3.1.2. Análise da demanda
Não existe, em geral, um estudo ergonômico sem uma demanda prévia. A
demanda muitas vezes envolve problemas complexos, que escapam da área da
Ergonomia. Daí a importância de se definirem corretamente os objetivos da
demanda e de se delimitarem os pontos a serem tratados em um determinado
estudo.
As demandas de intervenção ergonômica podem ser classificadas em três
grandes grupos. São as demandas formuladas com o objetivo de (VIEIRA, 1997):
• buscar recomendações ergonômicas para a implantação de um novo
sistema de produção;
• resolver disfunções do sistema de produção já implantado, relativas aos
comportamentos do homem, da máquina, ou ainda da organização, que
se traduzem em problemas ergonômicos; e
• identificar as novas condicionantes de produção, numa determinada
situação de trabalho, introduzidas pela implantação de uma nova
tecnologia e/ou pela introdução de novos modos organizacionais.
Independentemente de como se classifica a demanda, a análise da mesma
é a delimitação do objeto de estudo, a partir de uma negociação com os diversos
atores sociais envolvidos. Uma vez definido o problema a ser estudado, inicia-se o
levantamento de dados, para a formulação das primeiras hipóteses. É a partir
desses dados que será feita a proposta de intervenção que, após acordo entre as
partes interessadas (diretoria de uma empresa, departamento de pessoal,
departamento de métodos, departamentos de estudo de novos produtos, sindicato
operário, grupo de consumidores, inspetor de trabalho etc.), se transformará no
contrato de intervenção ergonômica.
45
3.1.3. Análise da tarefa
Tarefa é definida como aquilo que o trabalhador deve realizar, dentro das
condições ambientais, técnicas e organizacionais disponíveis para ele. Dentro deste
contexto, a análise da tarefa consiste, basicamente, na análise das condições de
trabalho da empresa (SANTOS e FIALHO, 1995).
Na análise da tarefa, três aspectos devem ser cuidadosamente investigados
(FISCHER & PARAGUAY, 1989):
• os resultados (a produção esperada ou exigida);
• os métodos de trabalho impostos ou prescritos; e
• a máquina (este termo engloba tudo aquilo com o qual trabalha o
operador: máquinas, ferramentas, materiais, equipamentos, documentos,
informações, colegas e o ambiente de trabalho como um todo).
Nesta fase, a partir das hipóteses previamente estabelecidas pela análise da
demanda, é definida a situação de trabalho a ser analisada, isto é, é delimitado o
sistema homem-tarefa a ser abordado. Deve-se realizar uma descrição detalhada
dos diversos componentes deste sistema, considerando o aspecto formal e oficial do
trabalho, fixado pela organização para os trabalhadores, ou seja, o que deve ser
feito e os meios colocados à disposição para a sua realização.
Por último, se faz uma avaliação ergonômica das exigências do trabalho,
permitindo a confirmação (ou a recusa) das hipóteses anteriormente formuladas, ou
ainda a formulação de novas hipóteses a respeito dessas condicionantes de
trabalho. Na seqüência está listado um conjunto de elementos para a descrição de
uma tarefa (NOULIN, 1992):
46
• objetivos: performances exigidas, resultados designados, normas de
produção, que determinam uma certa obrigação de resultados que o
operador reconhece como contrapartida de sua remuneração;
• procedimentos: maneiras com as quais o operador deve atingir os
objetivos;
• meios técnicos: máquinas, ferramentas, meios de proteção, meios de
informação e de comunicação;
• meios humanos: organização coletiva de trabalho, repartição das tarefas,
relações hierárquicas;
• meio ambiente físico: ambiente sonoro, térmico, luminoso, vibratório,
tóxico, concepção antropométrica do posto de trabalho;
• condições temporais: duração, horários e ritmo de trabalho; cadências;
pausas, flutuações da produção no tempo;
• condições sociais: formação e/ou experiência profissional exigidas,
qualificação reconhecida, possibilidade de promoção, plano de carreira.
As inter-relações entre os elementos acima citados permitem a definição das
exigências ou limitações físicas e mentais da tarefa.
3.1.4. Análise da atividade
Atividade, neste caso, corresponde à maneira pela qual o homem dispõe de
seu corpo (seu sistema nervoso, órgãos sensoriais etc.), sua personalidade (seu
caráter, sua história) e suas competências (formação, aprendizagem, experiência)
para realizar um trabalho (GUÉRIN et al., 1997). Portanto, ela apresenta aspectos
físicos, sensoriais, mentais e relacionais, conforme segue:
47
• componentes físicos: atividade muscular estática e dinâmica, forças
exercidas;
• componentes sensoriais: correspondem à utilização dos órgãos visuais,
auditivos, tácteis, olfativos, que recolhem as diversas informações e as
transmitem ao sistema nervoso central;
• componentes mentais: correspondem às atividades ou processos (estes,
não diretamente observáveis) de tomada e processamento de
informações e que envolvem a identificação, a análise e a interpretação
dos dados ambientais, das tarefas, de problemas na situação de trabalho
e dos resultados da própria ação, pelo operador;
• componentes relacionais: essenciais para a realização do trabalho,
embora a organização formal do trabalho tenda a prescrever as tarefas
como independentes entre si, minimizando ou desconhecendo a utilidade
das relações sociais de trabalho.
A análise das atividades é, em outras palavras, a análise do comportamento
do homem no trabalho. Nesta fase, é realizada a análise das atividades
desenvolvidas pelos trabalhadores, face às condições e aos meios que lhe são
colocados à disposição. Trata-se da análise do comportamento no trabalho:
posturas, ações, gestos, comunicações, direção do olhar, movimentos,
verbalizações, raciocínios, estratégias, resoluções de problemas, modos operativos,
enfim, tudo que pode ser observado ou inferido das condutas dos indivíduos.
48
3.1.5. Síntese Ergonômica do Trabalho
Concluída a Análise Ergonômica do Trabalho, parte-se para a Síntese
Ergonômica do Trabalho que, por sua vez, é dividida em duas fases:
• o estabelecimento do diagnóstico da situação de trabalho; e
• a elaboração do caderno de encargos de recomendações ergonômicas.
O diagnóstico, neste caso, diz respeito às patologias do sistema homem-
tarefa que foi delimitado, dentro do qual intervêm fatores cuja natureza, modo de
influência e possibilidades de transformação, podem ser inferidos pelos
conhecimentos em Ergonomia. É necessário aplicar o princípio da globalidade, que
procura analisar a atividade humana tanto do ponto de vista fisiológico como do
ponto de vista psicológico (SANTOS e FIALHO, 1995).
Uma vez recolhidos e interpretados, os dados conduzem à elaboração de
um diagnóstico da situação de trabalho analisada, ou seja, conduzem a um modelo
operativo, que permite a redação de um caderno de encargos de recomendações
ergonômicas. Esta etapa constitui a razão de ser da Ergonomia.
O caderno de encargos baseia-se em normas e especificações (SANTOS e
FIALHO, 1995), pois o diagnóstico de uma situação de trabalho analisada permite
estabelecer um conjunto de especificações ergonômicas, relativas:
• a decisões de base;
• à implantação geográfica dos postos de trabalho;
• à implantação geográfica dos operadores;
• ao arranjo físico das zonas de intervenção;
• à documentação; e
• ao meio ambiente de trabalho.
49
4. ESTUDO DE CASO: ATIVIDADE DE TRIAGEM DE CARTAS
4.1. PREMISSAS
A metodologia utilizada nesse estudo será a Análise Ergonômica do
Trabalho, conforme explanado no Capítulo 3.
A demanda nasceu de conversas informais entre os autores deste trabalho e
alguns gestores, além de profissionais vinculados à área de Saúde Ocupacional dos
Correios. Nessas conversas informais ficou definida a atividade específica que
deveria ser o foco desse estudo.
Foram feitas visitas ao local de trabalho, em uma unidade localizada na
região norte do Paraná, e entrevistas com os funcionários que executavam a
atividade e com os Coordenadores e Gerentes da Área, a fim de conhecer melhor a
situação de trabalho.
4.2. SOBRE A ORGANIZAÇÃO
O serviço de correios no Brasil, como é de conhecimento popular, tem suas
origens no inicio da colonização do Brasil. Porém, foi com a chegada da família real
que se abriu caminho para que o serviço postal pudesse se desenvolver. Deste
evento resultaram o progresso comercial, a elaboração do primeiro Regulamento
Postal do Brasil, o funcionamento regular dos correios marítimos e a emissão de
novos decretos. O órgão que prestava esses serviços evoluiu e se transformou no
que hoje se conhece como Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de hoje, pelas facilidades que
sua estrutura física e organizacional possui, e até mesmo por uma questão de
sobrevivência, deixou de prestar apenas serviços postais e passou a atuar em outras
50
áreas, como transporte de encomendas e até como correspondente bancário,
empregando mais de 100.000 funcionários diretos.
Apesar dessa diversificação, o serviço de entrega de cartas continua sendo
uma das principais fontes de receita da Empresa e o que movimenta o maior número
de funcionários. Sendo assim, é de se esperar que essa atividade receba uma
atenção especial, principalmente quando o assunto é absenteísmo. Desse fato
nasceu o interesse em se fazer uma avaliação das atividades relacionadas à triagem
de cartas.
A Empresa está presente em todos os municípios brasileiros através de uma
ou mais Unidades de Atendimento (as chamadas Agências de Correios).
Dependendo do porte do Município ele pode ter, além das Unidades de
Atendimento, um ou mais Centros de Distribuição Domiciliária (CDD) para fazer o
trabalho de entrega das cartas aos destinatários. Para facilitar a troca de objetos (ou
correspondências) entre as cidades, levando em consideração os critérios logísticos,
criaram-se as chamadas Unidades de Tratamento, que muitas vezes estão
instaladas nas capitais dos Estados ou em cidades pertencentes a regiões de
grande densidade demográfica, com facilidade de acesso rodoviário e aéreo. O
macro fluxo do processo produtivo, para explanar melhor a relação entre esses
diferentes tipos de Unidades, está esquematizado no diagrama da Figura 6, a seguir.
Para se ter uma idéia dos níveis hierárquicos que separam o primeiro
escalão da empresa dos funcionários de base, a Figura 7, adiante, traz um esboço
do organograma dos Correios, obtido em consultas ao manual interno da EBCT.
51
Figura 6 - Diagrama simplificado do fluxo das cartas entre as unidades dos Correios
Fonte: (Autores, 2005)
52
Figura 7 - Organograma Simplificado da EBCT. Fonte: (EBCT, 2005)
A Unidade de Tratamento na qual serão concentrados os estudos, localizada
na região norte do Paraná, possui cerca de 80 (oitenta) Operadores de Triagem e
Transbordo (OTT), para fazer o trabalho de triagem de cartas, além de outras
atividades. Os OTT, conforme a Figura 6, anteriormente apresentada, situam-se na
base do organograma, em termos de hierarquia.
Existem máquinas de triagem que substituem, em parte, a mão-de-obra
humana nessa atividade. Porém, tais máquinas só estão presentes em locais onde o
volume de cartas justifica o seu uso. Mesmo assim, a triagem manual se faz
necessária, nestes locais, pois muitas cartas (ou objetos) possuem formas (em
dimensões e geometria) incompatíveis com o formato aceito pela máquina.
53
Com relação ao clima organizacional, percebe-se que existe uma tendência
de melhoria na relação gestor-subordinado. Isto se deve, talvez, à influencia do
sindicato e à evolução dos conceitos gerenciais que podem ser constatados nas
diretrizes formalizadas pela Empresa, que estão transcritas a seguir (EBCT, 2005):
‘‘A Política da Qualidade dos Correios tem como princípios: • a valorização da comunidade ecetista: as pessoas que compõem a
comunidade ecetista são o principal recurso da empresa[...] A Empresa valoriza: • o respeito aos empregados; • a ética nos relacionamentos; • a competência profissional; • a responsabilidade social [...]”
4.3. DEMANDA
O interesse em se fazer um trabalho na área de Ergonomia partiu dos
autores deste trabalho e, conforme já comentado, a demanda nasceu de conversas
informais entre os autores e alguns gestores, além de profissionais vinculados à
Área de Saúde Ocupacional dos Correios que, inclusive, citaram a exigência do
parágrafo 1º, da Cláusula 56, do Acordo Coletivo de Trabalho 2004/2005: ''A ECT
continuará desenvolvendo estudos ergonômicos, conforme recomenda a NR 17,
para prevenção de LER/DORT'', (FENTECT, 2004).
Através dos relatórios acessíveis aos gestores inferiu-se que os funcionários
especializados em triar cartas estavam entre os que mais visitam o ambulatório da
Empresa. E mais: segundo os coordenadores da seção, a maioria dos funcionários
que faltam ao trabalho para procurar atendimento médico, manifesta queixas de
dores apresentadas em diferentes partes do corpo, que coincidem com as
características da LER descritas em 2.1.6.
Outro fato determinante para definição do posto de trabalho a ser analisado
foi o fato de que a Empresa estava substituindo os manipuladores, utilizados pelos
OTT na triagem de cartas, por um novo modelo de manipulador (ver Apêndice A).
54
A partir destas entrevistas concluiu-se que, em função da introdução desse
novo manipulador e do histórico de queixas da atividade, seria conveniente avaliar
os prós e os contras dessa mudança no posto de trabalho dos OTT.
A demanda, portanto, foi formulada de forma explícita, abrangendo um posto
de trabalho.
A partir destas definições, a equipe concentrou-se em conhecer o processo.
Procurou-se observar de forma global o ambiente que envolve os trabalhadores
analisados, entendendo suas funções e conhecendo os protagonistas do sistema de
produção. Isto foi feito com a colaboração de funcionários dos quatro níveis
hierárquicos da Unidade de Tratamento em questão (ver Figura 6).
4.3.1. Objetivo da Demanda
Trata-se aqui de uma abordagem micro-ergonômica. Este estudo abrangerá
apenas um posto de trabalho, aqui denominado triagem de cartas. A escolha deste
posto foi feita em conjunto com gestores e profissionais da Área de Saúde, conforme
já comentado.
O principal objetivo da demanda nesse caso é avaliar os benefícios obtidos
com a implantação do novo modelo de manipulador de cartas e os riscos de
desenvolvimento de uma lesão por esforço repetitivo, aos quais os trabalhadores
estão sujeitos, em uma unidade dos correios localizada na região norte do Paraná.
55
4.3.2. Hipóteses
Tendo-se em conta o objetivo da demanda, e considerando-se as
observações efetuadas no posto de trabalho, formularam-se as seguintes hipóteses
preliminares:
• o desgaste físico é médio, pois não requer o uso de força extrema;
• a atividade é monótona e repetitiva, o que pode levar a problemas por
esforços repetitivos;
• a tarefa a ser desenvolvida na estação de triagem está formalmente
prescrita;
• o meio ambiente físico é suficientemente limpo, bem iluminado (segundo
o Presidente da CIPA, a iluminação havia sido avaliada no início de
2005), razoavelmente organizado e não oferece grandes riscos à saúde
do funcionário. Durante o verão, o calor é amenizado com o uso de
ventiladores. Portanto, a princípio não existe necessidade de uso de
protetores auriculares, faciais etc., para os riscos comentados em 2.1.5.
4.4. TAREFA
4.4.1. Tarefa e Documentação de Prescrição
O principal resultado fixado pela Empresa para a triagem de cartas é a
satisfação do usuário dos serviços dos Correios. Para tanto, ela estabelece que o
triador de cartas deve:
56
• pegar uma caixeta de cartas, colocar em um suporte para ficar ao alcance
das mãos, verificar o destino2 de cada carta e colocá-las nos escaninhos
correspondentes;
• alcançar metas de qualidade e produtividade mínima estabelecida por
índices locais ou corporativos.
Essa tarefa está prescrita nos manuais corporativos da empresa (Manual de
Organização, Manual de Pessoal, Manual de Tratamento, Manual da Qualidade e
outros documentos). Os manuais definem em linhas gerais, apenas os objetivos da
triagem e os EPI básicos.
4.4.2. Recursos Materiais
Quanto aos materiais utilizados na estação de trabalho para a execução da
triagem, são os seguintes (Ver Apêndice A):
1. manipulador com escaninhos;
2. cadeira;
3. suporte de caixetas;
4. caixetas;
5. glicerina para umedecer os dedos.
Cada OTT deve receber dois pares de sapatos de proteção com biqueira de
aço para se proteger contra a queda de objetos ou escorregões, e para evitar o uso
diário do mesmo par de sapatos.
2 O destino é definido pelas informações do anverso da carta na seguinte seqüência: CEP; na falta ou ilegibilidade deste verifica-se a cidade; na falta ou ilegibilidade desta devolve-se ao remetente.
57
4.4.3. Processo
A triagem da carta é apenas uma parte do processo. A operação que a
antecede é o descarregamento e pré-triagem e/ou compactação dos objetos postais
no Centro de Triagem e é executada por outra equipe de OTT. A operação que a
sucede é a compactação por destino e expedição, que também é realizada por outra
equipe de OTT.
Existem cartas com vários destinos e a triagem de cartas deve ocorrer em
função dos destinos das mesmas. Por exemplo: cartas destinadas a São Paulo são
triadas primeiro, pois os veículos que a transportarão são carregados em primeiro
lugar; cartas destinadas às cidades vizinhas poderão ser as últimas a serem triadas,
pois os veículos que a transportarão só serão carregados na manhã do dia seguinte.
Para separar o que é prioritário, durante o descarregamento é feita a pré-
triagem, que consiste em conferir se os objetos já estão separados em três destinos,
ou seja: outros Estados, Curitiba e interior do Paraná. Feito isso, os objetos seguem
para a mesa de triagem, onde serão triados em um maior numero de destinos. A
compactação e a expedição se iniciam com a coleta dos objetos, de dentro dos
escaninhos, e a acomodação (ou compactação) dos mesmos nas caixetas
identificadas com o mesmo destino do escaninho.
Todo esse processo é realizado em sincronia com a programação de
horários de chegada e de saída das linhas de transporte.
4.4.4. Características do Trabalhador
O tipo de tarefa é simples, não exigindo muita qualificação. Normalmente, os
novos empregados passam por um período de integração, durante o qual conhecem
algumas regras, benefícios e políticas da Empresa, além de instruções básicas de
58
saúde ocupacional e, principalmente, como levantar pesos. Após esse período, eles
recebem as instruções do Coordenador de UT e passam a executar o trabalho
auxiliado pelos OTT mais antigos.
Desde 2001, o nível de escolaridade exigido pela Empresa é o Ensino
Médio. Antes disso, era possível contratar OTT com nível de escolaridade menor,
desde que o candidato se mostrasse apto a ler sem dificuldade.
A jornada de trabalho é de segunda a sábado, totalizando 44 horas
semanais, com intervalo de uma hora e quinze minutos para refeição.
4.5. ATIVIDADE
4.5.1. Componente Humano
Considerando somente os OTT que executam rotineiramente a triagem de
correspondências, existe um total de 16 homens e 6 mulheres no setor.
A faixa etária é grande: varia de 19 a 53 anos, com uma rotatividade
relativamente baixa. Isto se deve à razoável estabilidade de emprego que a Empresa
oferece.
Pelo fato de o trabalho prescrito estar estabelecido em manuais
corporativos, era de se esperar que a análise do trabalho real revelasse
características nas atividades que não estão presentes nos documentos de
prescrição, ou seja, que não fazem parte da representação da Empresa acerca do
trabalho.
O OTT efetua a tarefa prescrita, porém, para evitar a monotonia da
atividade, ele ocasionalmente pára a triagem e vai esvaziar os escaninhos mais
cheios que o outro OTT, responsável pela coleta, ainda não coletou (existem OTT
para triagem e OTT para abastecer os triadores e para coletar as cartas já triadas).
59
A cooperação aparece como um aspecto importante do trabalho, que não é
contemplado no trabalho prescrito. Esta é revelada, na atividade: pela comunicação
que ocorre entre as equipes de trabalho dos diferentes setores, quando têm de
priorizar a carga a ser tratada; e pela delegação de atribuições e redefinição de
procedimentos no interior de cada equipe de trabalho. Ela se mostra, portanto, como
um meio essencial, estabelecido pelos próprios OTT, para garantir o bom
andamento do processo.
Diante de qualquer dúvida, é o Coordenador que deve indicar a forma de
proceder. Este, por sua vez, é guiado por sua experiência anterior, seguindo uma
rotina própria da Unidade, que pode ser completamente diferente de outra Unidade.
Para avaliar o clima organizacional escolheram-se, aleatoriamente, seis OTT
para responder a um questionário, cujas respostas estão tabuladas na Tabela 2, a
seguir. Dessa pesquisa dois destaques foram selecionados:
• o item “material de apoio” foi o que teve menor aprovação entre os
entrevistados;
• o relacionamento entre colegas e a valorização dos funcionários
alcançaram índices satisfatórios.
60
Tabela 2 - Avaliação do ambiente de trabalho Atributo Ótimo
(%)
Bom
(%)
Regular
(%)
Ruim
(%)
Péssimo
(%)
Organização e limpeza 50 16,7 33,3 - - - - - -
Jornada de trabalho 100 - - - - - - - - - - - -
Integração entre o pessoal da empresa 66,7 33,3 - - - - - - - - -
Acúmulo de tarefas 16,7 66,6 16,7 - - - - - -
Horários e turnos de trabalho 100 - - - - - - - - - - - -
Material de apoio 16,7 33,3 50 - - - - -
Numero de funcionários no setor 50 33,3 16,7 - - - - - -
Qualidade e competência dos colegas da empresa 16,7 83,3
Valorização dos funcionários 50 50
Fonte: (Autores, 2005)
4.5.2. Ambiente Físico
O meio ambiente físico, conforme já comentado, é suficientemente limpo,
bem iluminado, razoavelmente organizado e não oferece grandes riscos à saúde do
funcionário. Durante o verão, o calor é amenizado com o uso de ventiladores.
Portanto, a priori não existe necessidade de uso de protetores auriculares, faciais
etc., para os riscos comentados em 2.1.5.
Partindo destas observações preliminares considerou-se dispensável uma
avaliação objetiva das condições ambientais. Mesmo assim, escolheram-se,
aleatoriamente seis OTT para avaliar subjetivamente as condições ambientais,
através de um questionário, cujas respostas estão tabuladas na Tabela 3, a seguir.
De um modo geral, as pessoas não se sentem incomodadas pelas condições do
ambiente de trabalho.
61
Tabela 3 - Avaliação do ambiente físico de trabalho Atributo Muito
satisfatório (%)
Satisfatório (%)
Pouco satisfatório
(%)
Insatisfatório (%)
Muito Insatisfatório
(%)
Ambiente térmico 83,3 16,7 - - - - - - - - -
Ruídos externos, internos e equipamentos 66,7 16,7 16,7 - - - - - -
Ambiente luminoso 83,3 16,7 - - - - - - - - -
Fonte: (Autores, 2005)
4.5.3. Avaliação de Qualidade e Produtividade
Observou-se que os índices de produtividade muitas vezes são
estabelecidos pelos Coordenadores e Gestores, tomando-se como padrão os OTT
que triam a maior quantidade de cartas por unidade de tempo. Essa avaliação é feita
individualmente a cada seis meses, em conjunto com o avaliado, com predominância
de critérios subjetivos.
A qualidade é avaliada através de índices coletivos, que consideram o
número de não-conformidades que as unidades destinatárias acusam (por exemplo,
a Unidade de Curitiba receber um objeto destinado a Porto Alegre). Esse índice
representa a qualidade da Unidade, pois é impossível rastrear o OTT que cometeu o
erro.
Alguns funcionários (33%) se queixaram das cobranças, por parte de seus
superiores, por maior produtividade (ver Apêndice E).
4.5.4. Manuseio de Cargas
Durante a triagem, o OTT é solicitado a levantar as caixetas do chão e
colocá-las a uma altura de cinqüenta centímetros, aproximadamente. Percebe-se
62
que ele dobra o corpo para frente, mantendo o joelho estendido, ao executar esse
movimento.
O peso médio das caixetas de cartas é de cinco quilogramas, em média.
Este peso é menor do que o limite máximo estabelecido na cláusula 23 do Acordo
Coletivo de Trabalho 2004/2005: ''O limite de peso transportado pelo carteiro [...] não
ultrapassará 10 (dez) kg para homem e 8 (oito) kg para mulher''.
O peso médio das caixetas também é inferior aos 23 kg, correspondente ao
valor de carga que pode ser levantado por 75% da população feminina e por 90% da
masculina, em condições ideais, segundo o NIOSH (National Institute for
Occupational Safety and Health) (MTE, 2002).
4.5.5. Movimentos
A atividade de triagem de cartas é do tipo altamente repetitiva e
especializada, lembrando bastante os conceitos tayloristas.
A análise da atividade foi realizada dividindo esta atividade em duas fases
diferentes:
• abastecimento: flexão de pernas e tronco para pegar a caixeta, que está
no chão, e colocá-la sobre um suporte que a deixará ao alcance das
mãos do triador (ver Apêndice B);
• triagem propriamente dita: consiste primeiramente em movimentos de
supinação, pronação, adução, abdução, extensão e flexão de braços e
mãos, para alcançar e pegar uma quantidade de cartas na caixeta,
identificar, em cada objeto, o endereço do destinatário e colocá-la no
escaninho correspondente (ver Apêndice C), até esvaziar a caixeta.
Esse ciclo se repete a cada quinze minutos, aproximadamente, que é o
63
tempo médio para um OTT triar uma caixeta com 660 (seiscentas e sessenta) cartas
de formato normal, e durante o qual o triador é obrigado a realizar movimentos
conjuntos das mãos, braços, tronco e cabeça para observar e alcançar o escaninho
correspondente.
A produção do dia, ou a quantidade de objetos triados no dia, é sazonal,
sendo maior no inicio do mês, quando Bancos e Financeiras normalmente emitem as
faturas e os extratos para postá-los aos clientes.
Segundo o Coordenador da seção, existe um caso de afastamento por LER,
estando o funcionário, por determinação do médico do trabalho, já reabilitado e/ou
reclassificado para outro cargo e/ou função. Para conhecer melhor essa percepção
dos trabalhadores em relação à atividade, e o reflexo desta na saúde dos
trabalhadores, foram feitos alguns questionamentos ao mesmo grupo de OTT já
citado.
Foi questionado quanto ao tempo de trabalho em cada função, sendo que
50% já trabalham há mais de 5 anos na mesma função, 33,3% trabalham há 2 anos
e 16,7% trabalham entre 6 meses e 1 ano. Dos entrevistados, nenhum deles
apresentou qualquer tipo de lesão, não havendo, por isso, afastamentos do trabalho.
Porém, 50% já sentiram dores provocadas pelas atividades, sendo 33% no pulso,
16,7% no quadril, ombro, coluna e dedos (ver Apêndice E).
Com relação à monotonia, 50% acham a atividade excessivamente
monótona e os outros a consideram simplesmente monótona. Nenhum deles se
manifestou em relação aos sintomas de fadiga, apesar de afirmarem que sua
produtividade diminui bastante no final do turno. Sobre a prática de ginástica laboral,
que é incentivada pela Empresa, apenas 33% afirma fazer uma vez ao dia (ver
Apêndice E).
64
Na Tabela 4, a seguir, estão listados alguns dados antropométricos dos
indivíduos entrevistados.
Tabela 4 - Dados antropométricos da amostra Atributos OTT 1 OTT 2 OTT 3 OTT 4 OTT 5 OTT 6 Idade 41 20 30 33 35 31 Sexo M M M M M M Altura (cm) 170 175 180 172 176 182 Peso (kg) 64 66 68 80 74 72 Comprimento do braço (cm) 76 77 76 70 72 79 Comprimento do cotovelo (cm) 46 47 44 42 43 47 Altura dos quadris (cm) 88 95 93 89 89 98 Perna (cm) 52 53 52 52 53 54 Fonte: (Autores, 2005)
4.5.6. Adequação dos Equipamentos
A atividade está sendo desenvolvida com dois tipos de manipuladores. O
antigo, que ainda está sendo utilizado, e um novo que está sendo adquirido para
substituir o antigo. Conforme já comentado, um dos objetivos da demanda é avaliar
os benefícios (ou prejuízos) que esse novo manipulador pode trazer para a Empresa
e para os trabalhadores.
O novo manipulador, conforme mostrado no Apêndice A, possui oito
escaninhos na horizontal e cinco na vertical (distribuídos em uma parte central e
duas laterais), passando a ter regulagem de altura e de alcance dos escaninhos. A
mesa tornou-se embutida, estando abaixo da última fileira central de escaninhos e
foram colocados apoios para os pés com regulagem no plano horizontal e vertical.
Ao novo manipulador foi agregada uma cadeira giratória, com regulagem de
altura. As modificações, somadas, tiveram o objetivo de alterar a estação de trabalho
do OTT, a fim de diminuir o desconforto físico, atenuando posturas antes
consideradas extremas.
65
No Quadro 3, a seguir, é realizada uma análise comparativa dos dois postos
de trabalho, o novo e o antigo, tomando como base a avaliação do posicionamento
das articulações corporais durante a realização das tarefas. Convém observar que o
manipulador antigo (como pode ser observado no Apêndice D), não permite que o
trabalhador sentado alcance a última fileira de escaninhos.
Portanto, neste caso, para melhor comparação das posturas, foi
desconsiderada a última fileira de escaninhos, e foi selecionado um trabalhador
médio, com 1,75 m de altura, selecionado do grupo de seis trabalhadores escolhidos
aleatoriamente e cujos dados antropométricos estão na Tabela 4, já apresentada.
Atributo/Segmento Corporal Manipulador Antigo Manipulador Novo
Alcance das mãos Não permite o alcance dos escaninhos superiores da lateral, quando o OTT está sentado
È possível alcançar todos os escaninhos, mesmo sentado
Pescoço Flexão de 15 graus Flexão de 15 graus
Tronco Rotação de 45 graus Ereto
Ombro Direito Fletido a 45 graus, abduzido a 80 graus Flexão 15 graus
Ombro Esquerdo Flexão de 15 graus Neutro
Cotovelo Direito Flexão de 45 graus, posição neutra do antebraço
Flexão de 75 graus
Cotovelo Esquerdo Flexão de 100 graus, supinação do antebraço
Flexão de 90 graus, com apoio
Punho Direito Desvio ulnar Leve extensão
Punho Esquerdo Extensão de 20 graus Neutro
Mãos e Dedos Direita
Pinça Pinça
Mãos e Dedos Esquerda
Pega Pega
Quadro 3 - Análise comparativa dos dois manipuladores, o novo e o antigo Fonte: Autores, 2005
66
Observações sobre o trabalho no manipulador antigo:
• pés sem apoio (balançando ou com excessiva flexão plantar);
• compressão da região posterior da coxa na cadeira devido à falta de
apoio para os pés;
• o trabalhador realiza maior esforço para depositar objetos nos escaninhos
laterais;
• não permite acesso a todos os escaninhos, quando se trabalha sentado.
Observações sobre o trabalho no novo manipulador:
• o trabalhador pode regular o escaninho aproximando as duas partes
laterais do seu corpo;
• o trabalhador pode regular a altura da mesa e dos escaninhos de acordo
com a sua estatura;
• o trabalhador realiza rotação de tronco para depositar objetos nos
escaninhos laterais. Após algum tempo passou a girar a cadeira,
entretanto a cadeira é um pouco rígida, dificultando a mobilidade.
4.6. DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO
Este diagnóstico ergonômico tem como base as entrevistas e os
questionários aplicados, aliados às observações da maneira de atuação, sem definir
novas regras de trabalho ou processo.
Os resultados dos questionários, das entrevistas e das observações
realizados com os trabalhadores revelam que a maioria dos trabalhadores afirma ter
algum tipo de problema relativo à atividade.
A maneira como o coordenador avalia um OTT (utilizando como padrão de
comparação o OTT que tria a maior quantidade de cartas por unidade de tempo),
67
conforme citado em 4.5.3, não respeita os limites individuais de cada trabalhador,
contrapondo-se com os princípios vistos em 2.1.4. Isto pode levar um OTT a se
esforçar além dos seus limites para atingir os índices de produtividade impostos.
Foram detectadas varias situações de trabalho semelhantes às que são
descritas no Capítulo 2 como fontes potenciais de desencadeamento de doenças
ocupacionais. Os movimentos e a sua freqüência, que a triagem de cartas impõe ao
trabalhador, por exemplo, são causas potenciais das LER, conforme descreve a
literatura. As queixas de dor em alguns segmentos corporais são indícios de que
este diagnóstico tem fundamento, pois caracterizam os primeiros sinais de aparição
das LER ou de alguma lesão ocasionada por movimento ou postura incorreta
durante o trabalho.
Os movimentos e as posturas inadequadas, seja durante a triagem ou
quando ele necessita pegar uma caixeta de cartas, também contribuem para o
surgimento de disfunções em seu organismo. Por exemplo, a maneira como o OTT
levanta a caixeta (item 4.5.4), pode produzir pequenas lesões na coluna. É sabido
que a coluna tem capacidade de absorver lesões sem o aparecimento da dor e, num
dado momento, após um pequeno esforço, a pessoa pode sentir uma dor na região
lombar e ficar impossibilitado de voltar à posição em pé.
Com relação ao comparativo entre o manipulador novo e o antigo, algumas
vantagens foram observadas para diferentes segmentos corporais, quando o
trabalho é realizado no novo manipulador:
• elimina a necessidade de trabalhar em pé quando há necessidade de se
alcançar todos os escaninhos;
• pescoço: diminuição da variação dos movimentos de flexo-extensão;
• tronco: diminuição dos movimentos de rotação e flexão, que podem ser
devidos à cadeira giratória e à melhor possibilidade de alcance;
68
• ombro direito: diminuição dos movimentos de flexão, abdução e adução,
devido à cadeira giratória e à menor altura e alcance do escaninho;
• ombro e cotovelo esquerdo: diminuição da contração estática devido à
possibilidade de regulagem da altura da mesa;
• punho direito: diminuição do desvio ulnar em função da aproximação do
escaninho;
• membros inferiores: diminuição da sobrecarga em membros inferiores;
• coluna : diminuição da sobrecarga na coluna lombar.
O novo manipulador é um grande avanço em termos ergonômicos, mas
ainda pode ser melhorado em termos de construção (com materiais mais resistentes
e sistema de ajuste mais fácil de se manusear) e em termos de desenho (de forma
que os escaninhos fiquem mais acessíveis às mãos do OTT e impeçam posturas
indesejadas, por exemplo).
Essas vantagens, portanto, apesar de amenizarem algumas situações de
risco, não eliminam os riscos de doenças ocupacionais da atividade.
Em suma foram observados vários detalhes que podem ser considerados
como situações de risco ao trabalhador. Esses riscos podem ser maiores ou
menores, dependendo do tipo de trabalho de conscientização que for feito com o
trabalhador.
4.7. RECOMENDAÇÕES
A partir da análise da demanda, ficou estabelecido que esse estudo teria
como objetivo avaliar os benefícios obtidos com a implantação do novo modelo de
manipulador de cartas e os riscos de desenvolvimento de lesões por esforços
repetitivos, às quais o trabalhador está submetido. O conhecimento adquirido nesse
69
estudo pode servir como fundamento para recomendações que visam preservar a
saúde física e mental dos trabalhadores. São apresentadas a seguir algumas
recomendações baseadas nesse estudo:
• difundir melhor os conhecimentos de Ergonomia, principalmente sobre
correção de posturas e movimentos, para os trabalhadores de base;
• promover rodízio de atividades entre os operadores, com o intuito de
reduzir o efeito dos movimentos repetitivos e posturas estáticas e permitir
uma maior integração entre o indivíduo e o trabalho;
• reavaliar o programa de prática de ginastica laboral da empresa, visando
obter cem por cento de adesão, e aumentar a freqüência de execução da
mesma durante a jornada de trabalho (atualmente a adesão está na casa
dos trinta e três por cento), e é feita apenas uma vez ao dia;
• demonstrar aos OTT os benefícios que os exercícios de alongamento
proporcionam e que tais exercícios podem se feitos a qualquer momento,
durante as atividades, sem prejuízo da produtividade;
• promover cursos de esclarecimento para os Gestores e os
Coordenadores, abordando aspectos ergonômicos, com maior freqüência,
para que parta deles a iniciativa de conscientizar toda a Empresa sobre a
importância e as maneiras do trabalhador cultivar uma boa saúde física e
mental.
Considera-se esse último item como o mais importante, pois se entende que
uma mudança de cultura dessa natureza deve ocorrer de cima para baixo na
pirâmide hierárquica. Em outras palavras, pode-se dizer que um gestor consciente
não exigirá procedimentos que contrariem os princípios ergonômicos. Pelo contrário,
ele orientará e cobrará de seu subordinado o procedimento que preserve a sua
saúde.
70
5. CONCLUSÕES
Através da revisão bibliográfica pode-se entender melhor os conceitos, o
objeto de estudo e a importância da Ergonomia.
A análise das tarefas e das atividades proporcionou entender e conhecer a
distancia que existe entre o trabalho prescrito e o real. E mais, possibilitou identificar
as situações de risco às quais o OTT está submetido quando realiza seu trabalho,
além de identificar o grande número de doenças ocupacionais que podem estar
ligadas à atividade. Alguns sintomas das LER, tais como as indicadas na revisão da
literatura, foram detectadas graças às entrevistas realizadas com os trabalhadores
(ver item 4.5).
A análise ergonômica do trabalho é, portanto, um dos caminhos a serem
seguidos pelo empresário/gestor que visa resolver problemas de absenteísmo,
qualidade e produtividade, relacionados às condições de trabalho a que estão
expostos os trabalhadores.
Em suma, pode-se concluir que, através da revisão bibliográfica e da Análise
Ergonômica do Trabalho que foi desenvolvida, pôde-se avaliar todos os itens da NR-
17 que se aplicavam à situação em estudo e, com isso, cumprir os objetivos gerais e
específicos desse trabalho.
71
6. REFERÊNCIAS
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74
7. APÊNDICE A – Equipamentos Utilizados na Triagem
Fonte: Autores, 2005
Figura A1 - Novo modelo de manipulador
Figura A2 - Novo modelo de cadeira
Figura A3 - Suporte de caixetas
Figura A4 - Caixetas
Figura A5 - Manipulador Antigo
Figura A6 - Layout das estações de trabalho
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8. APÊNDICE B – Manuseio de Carga
Fonte: Autores, 2005
Figura B1 - Seqüência de fotos de um OTT levantando uma caixeta
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9. APÊNDICE C – Triagem
Fonte: Autores, 2005
Figura C1 - Seqüência de fotos de uma OTT fazendo triagem de cartas
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10. APÊNDICE D – Modelo Novo e Antigo de Manipulador
Fonte: Autores, 2005
Figura D1 - Manipulador antigo – OTT sentado
não alcança todos escaninhos
Figura D2 - Manipulador antigo - OTT em pé
alcança todos escaninhos
Figura D3 - OTT no novo modelo de manipulador Figura D4 - OTT no novo modelo de manipulador
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11. APÊNDICE E – Resumo das Entrevistas Fonte: (Autores, 2005) Tabela E1 - Tempo de Trabalho na atividade de Triagem
Mais de 5 anos De 2 a 5 anos De 1 a 2 anos De 6 meses a 1 ano Menos de 6 meses50% 33% 0% 17% 0%
Tabela E2 - Ocorrência de afastamento maior que 15 dias
Sim Não 0% 100%
Tabela E3 - Já procurou o médico por sentir dores?
No pulso Em outra parte do corpo
Não Comentou
33% 17% 50%
Tabela E4 - Participa da Ginástica Laboral Mais de uma vez ao
diaUma vez ao dia Não participa
0% 33% 77%
Tabela E5 - Considera a atividade
Monótona Excessivamente monótona
50% 50%
Tabela E6 - Apresenta algum sintoma característico de fadiga
Sim Não O% 100%
Tabela E7 - Considera justa a avaliação de produtividade Sim Não Não Responderam
0% 33% 77%