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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁSUNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS
CURSO DE PEDAGOGIA
JÉSSICA COSTA RODRIGUES
O DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA DE ZERO A SEIS ANOS: SUBSÍ-DIOS À EDUCACÃO INFANTIL
ANÁPOLIS - GO DEZEMBRO/2009
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁSUNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS
CURSO DE PEDAGOGIA
JÉSSICA COSTA RODRIGUES
O DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA DE ZERO A SEIS ANOS: SUBSÍ-DIOS À EDUCAÇAO INFANTIL
Monografia apresentada para obtenção do título de graduação no curso de Licenciatura Plena de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Ciências Sócio-econômicas e Humanas.Orientadora: Profª Ms. Luciene Maria Bastos.
ANÁPOLIS – GODEZEMBRO/2009
Banca Avaliadora da Monografia
________________________________Luciene Maria Bastos
(Orientadora)
_______________________________
(Leitora)
_______________________________
(Coordenador Adjunto do TCC/Pedagogia)
Data: _____/________/________
Nota: ______ (____________)
Daqui a cem anos não importará o tipo de carro que dirigi, o tipo de casa em que morei, quanto tinha depositado no banco, nem que roupa vesti. Mas o mundo pode ser um pouco melhor porque eu fui importante na vida de uma criança.
Anônimo.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por ter me permitido alcançar mais esta vitória.
À minha mãe por ter me incentivado a todo tempo, as minhas amigas Luciana e Stephane, por terem animado minhas manhas e me dado forca nas horas difíceis, ao meu amado Junior, por ter me compreendido e me ajudado sempre que precisei, a todos do meu convívio que de alguma forma me deram apoio e incentivo.
À professora Luciene Maria, por ter assumido comigo o desafio de construir este trabalho.
Resumo
É na infância, em especial no período que ocorre entre zero e seis anos, que o individuo ira construir sua personalidade, seus comportamentos e aquisições futuras, e para que sejam constituídas com bases sólidas, é necessário que a sociedade, em especial os educadores, estejam cientes e saibam atuar sobre o processo do desenvolvimento infantil, conhecendo a criança historicamente e estando ciente de melhores posturas e atuações pedagógicas em relação ela. Assim, o processo de educação formal, ou seja, a educação infantil, terá sua atuação mais eficaz e mais válida, contribuindo na vida de seus educandos, não só como alunos, mas também como indivíduos de uma futura sociedade. Assim o educador poderá contribuir para seu crescimento sem passar por cima de suas capacidades em cada momento de seu processo evolutivo. O estudo se realizou através de pesquisa bibliográfica e teve como objetivo geral o conhecimento do processo evolutivo da criança com idade entre zero e seis anos.
Palavras-chave: desenvolvimento – criança - educação.
SUMÁRIO
Introdução...............................................................................................................08
Capítulo 1 – A concepção de infância no decorrer da historia ..............................10
1.1. processo de valorização da infância...............................................................10
1.2. A aprendizagem infantil..................................................................................17
Capítulo 2 – teorias do desenvolvimento infantil,Piaget e Vygotsky......................20
2.1. A teoria de Jean Piaget..................................................................................22
2.1.1.Período sensório-motor (o recém nascido e o lactante)...............................22
2.1.2.Período pré-operatório (a primeira infância- 2 a 6 anos)..............................25
2.2. A teoria de Vygotsky........................................................................................28
Capítulo 3 - A importância do conhecimento das teorias do desenvolvimento para
subsidiar as instituições de educação
infantil......................................................................................................................34
Considerações Finais.............................................................................................40
Referências Bibliográficas......................................................................................41
Introdução_________________________________________________________________
Ao longo dos séculos a visão sobre a infância mudou muito. Pode-se dizer que o
século XX foi o século da criança, se for considerado o grande avanço nos
conhecimentos e reconhecimentos da infância em várias perspectivas.
Atualmente, é reconhecido que a criança não é apenas um futuro adulto, e sim
um Indivíduo com capacidades, específicas, que tem início desde o nascimento até a
idade adulta.
No período que ocorre entre zero e seis anos, o indivíduo constrói sua
personalidade, comportamentos e aquisições futuras. Para que este período seja
construído com bases sólidas, é necessário que o educador esteja ciente e saiba atuar
sobre o processo do desenvolvimento infantil.
A pesquisa torna-se de suma importância, já que, como afirma o teórico Piaget
(1999), o reconhecimento de como se dá o desenvolvimento da criança em cada etapa
de seu processo evolutivo facilitará o planejamento e a atuação pedagógica, na
formação dos educandos em futuros indivíduos.
Para que a criança se desenvolva adequadamente seu tempo precisa ser
respeitado. Segundo Oliveira (2005, p.62) “o processo de ensino e aprendizagem na
instituição escolar deve ser constituído tomando como ponto de partida o nível de
desenvolvimento real da criança”.
É preciso ter em mente que até o sexto ano de vida, a plasticidade neural é
máxima e é nesta fase que os adultos que convivem com a criança irão, por meio de
suas interações e mediações, colaborar drasticamente para o desenvolvimento de seu
cérebro. È na educação infantil que o professor, ciente de tal fato, terá maior
possibilidade de promover este desenvolvimento.
As questões que envolvem a compreensão da natureza, do desenvolvimento
humano e sua relação com a educação e sociedade é de fundamental importância para
a pratica educativa.
O presente trabalho constitui-se em um estudo sobre o desenvolvimento da
criança entre zero e seis anos de idade, para subsidiar a intervenção pedagógica na
educação infantil. O estudo efetivou-se através de revisão bibliográfica, apresentando e
explicando tal desenvolvimento nas teorias de Jean Piaget e Lev Semenovich Vygotsky,
e atitudes a serem tomadas, frente a cada etapa deste processo.
O presente estudo desenvolveu-se em três capítulos, o primeiro intitulado: A
concepção da infância ao longo da história, tem como objetivo analisar a concepção de
infância ao longo dos anos, se subsidiando para isto no autor Áries (1978).
O segundo capítulo, denominado: Teorias do desenvolvimento infantil: Piaget e
Vygotsky, tem como objetivo especificar as principais características de cada fase do
desenvolvimento da criança, que ocorre entre zero e seis anos, apresentando as teorias
de Jean Piaget e Lev Semenovich Vygotsky.
E o terceiro denominado: A importância do conhecimento das teorias do
desenvolvimento, que tem como objetivo compreender e explicar a importância deste
conhecimento para a educação, e trazer posturas e atividades a serem adotadas em
cada período do desenvolvimento da criança.
Capítulo I A concepção de infância no decorrer da história
____________________________________________________________
Atualmente a sociedade tem a consciência de que uma das fases mais
importantes durante a vida do ser humano é a infância, é nela que o individuo irá formar
sua personalidade e seus valores. As relações que o sujeito terá com o mundo e com
as pessoas a sua volta, irão contribuir para toda sua vida posterior.
Mas a concepção de infância e de sua importância na vida do ser humano nem
sempre estiveram presentes em nossa sociedade.
La Taille (1996) afirma que:
Até a algumas décadas atrás, o bebê despertava pouca curiosidade nos adultos. Era visto, em essência, como uma espécie de ser vegetativo que necessita de cuidados quase exclusivamente materiais, alimentação e higiene. Enquanto ainda não falava, a criança não era concebida como ser inteligente; sua aventura psicológica pensava-se,que ainda não havia começado(p.5) .
Somente com o passar dos séculos é que esta visão em relação à infância foi
se modificando. A criança, com o passar dos anos, foi ganhando espaço no seio
familiar, na sociedade, nos estudos científicos e psicológicos. E a história da criança
na sociedade se modificou muito.
1.1 - Processo de valorização da infância.
Segundo Áries (1978), nem sempre a sociedade concebeu a idéia de infância.
Até a Idade Média, a criança não possuía espaço no seio familiar, era vista como um
pequeno adulto, não havendo diferenciação nas vestimentas ou representações
artísticas relacionadas a elas.
Até mesmo nas efígies funerárias a criança apareceu muito tarde, somente no
século XVI, isto, por que ninguém pensava em conservar o retrato de uma criança que
tivesse sobrevivido e se tornado adulta, ou que tivesse morrido pequena. No primeiro
caso, a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar na
lembrança, e no segundo, o da criança morta, não se considerava que uma “coisinha”
desaparecida tão cedo fosse digna de lembranças.
A criança, afirma Áries(1978), era considerada uma perda eventual, morriam
em grande numero, e as famílias não sofriam com estas mortes. Essa indiferença era
uma conseqüência direta e inevitável da demografia da época, que não era favorável
às crianças. Nessa época, a mortalidade infantil apresentava uma taxa muito alta, o
que explicava a falta de apego às crianças e a não existência do sentimento de
infância. As pessoas não poderiam se apegar a algo que se perdia com tanta
facilidade.
A sociedade não reconhecia a particularidade das crianças.
Na arte o mesmo fato ocorria, até por volta do século XII, a arte medieval não
reconhecia a infância ou não tentava representá-la, era como se nesse mundo não
houvesse lugar para a infância. Assim, quando elas eram retratadas, apareciam com a
estrutura corporal de adultos.
Ariés (1978), cita uma obra artística que representava uma cena do evangelho
em que Jesus está com algumas crianças. A representação deforma as mesmas, não
expressando nenhuma característica da infância. As crianças eram representadas
como adultos em miniatura, sem diferenciação nas expressões ou traços, fato presente
em todas as obras da época, e que reforça a idéia de que a infância era então
desconhecida.
Os homens do século X e XI não se detinham diante da imagem da infância,
para eles a criança não causava interesse, era apenas um período de transição e a
lembrança relacionada a ela era logo perdida.
De acordo com Ariés, somente por volta XIII e XIV, surgiram alguns tipos de
crianças nas representações artísticas, como a anjo, o menino Jesus, o putto (a criança
nua), agora mais próximas do sentimento moderno, e representadas com mais
proximidades da realidade.
A criança se tornou personagem freqüente das pinturas: a crianças com sua
família, seus companheiros de jogos, na multidão, a criança na escola e outros. Mas
estas cenas de gênero em geral, não se consagravam a descrição exclusiva da
infância, mas muitas vezes tinham na criança suas protagonistas principais ou
secundárias.
No século XVI ocorreu um fato que marca um momento importante
na história dos sentimentos relacionado à infância, o retrato da criança
morta.
O gosto novo pelo retrato indicava que as crianças começavam a sair do anonimato em que sua pouca possibilidade de sobreviver as mantinha. É notável, de fato, que nessa época de desperdício demográfico se tenha sentido o desejo de fixar os traços de uma criança que continuaria a viver ou de uma criança morta, a fim de conservar sua lembrança. O retrato da criança morta, particularmente, prova que esta criança não era mais tão geralmente considerada como uma perda inevitável (ARIÈS, 1978, p.58).
Dava-se inicio a um novo reconhecimento, mas que não eliminava totalmente
o antigo pensamento da sociedade.
Somente no século XVII, com o surgimento do malthusianismo e com a
extensão das práticas contraceptivas, é que a idéia de desperdício necessário
desapareceu
Assim, embora as condições demográficas não tenham mudado muito do século XII ao XVII, embora a mortalidade infantil se tenha, mantido num nível muito elevado, uma nova sensibilidade atribuiu a esses seres frágeis e ameaçados, uma particularidade que antes ninguém se importava em reconhecer: foi como se a consciência comum só então descobrisse que a alma da criança também era imortal (ARIÈS, 1978, p.61).
A indiferença quanto à infância não aparecia somente no mundo das
imagens, o traje da época comprovava o quanto a infância era pouco
particularizada na vida real. Logo que a criança deixava os cueiros, ela era
vestida como os homens e mulheres de sua condição. Nada no traje medieval
separava a criança do adulto.
Somente a partir do século XVII é que as crianças, ou ao menos as de boa
família, começaram a não ser mais vestidas como os adultos. Elas agora tinham
trajes reservados á sua idade, que as distinguiam dos adultos.
A sociedade começou então a tratar o traje da criança com certa
seriedade, a roupa tornava visíveis as etapas do crescimento que iam
transformando a criança em homem.
A adoção de um traje peculiar á infância que se tornou geral nas classes altas, a partir do século XVI, marca uma data muito importante na formação do sentimento da infância, esse sentimento que constituiu as crianças numa sociedade separada das dos adultos (de um modo muito diferente dos costumes iniciatórios) (ARIES; 1978; p. 77).
Então partindo do século XVI em que a criança era vestida como os adultos,
chegamos ao traje especializado da infância, que hoje nos é familiar.
Ariès (1978) afirma que a descoberta da infância começou, sem dúvida, no
século XII e sua evolução pode ser acompanhada na história da arte, da icnografia, e
atitudes dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornam-se
numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII .
Fato este confirmado também pelo gosto manifestado na mesma época pelos
hábitos e pelo jargão das crianças pequenas. Os adultos interessaram-se também em
registrar suas expressões e em empregar seu vocabulário.
Ariès (1978) afirma que neste contexto, a infância foi definida como um período
ingênuo e frágil. No século XVII, as perspectivas transitavam para o campo da moral, sob
influência de um movimento feito por igrejas,leis e Estado, e assim nesta realidade a
educação para crianças pequenas ganha terreno.
Mas o sentimento da infância beneficiou primeiro os meninos, enquanto as
meninas persistiram mais tempo no modo de vida tradicional que as confundia com os
adultos.
A vida na sociedade antiga girava em torno da coletividade, não existia o
individualismo moderno, as pessoas dedicavam a maior parte de seu tempo aos jogos e
divertimentos nas festas tradicionais. As crianças também se inseriam nesse modo de
vida. Segundo Áries, as crianças “participavam delas em pé de igualdade com todos os
outros membros da sociedade, e quase sempre desempenhavam um papel que lhes
era atribuído pela tradição”(Ariès,1978, p.94).
As crianças eram inseridas nos jogos de salão, brincadeiras e jogos adultos
porque, nesse momento, não existia a idéia de que elas fossem diferentes dos adultos.
Parece, portanto, que no início do século XVII não existia uma separação tão rigorosa como hoje entre as brincadeiras e os jogos reservados às crianças e as brincadeiras e os jogos dos adultos. Os mesmos jogos eram comuns a ambos (ARIÈS, 1978, p.88)
A indiferença quanto à infância também se expressa em relação ao clima
moral. A sociedade antiga tratava as crianças de forma indiferente, havia uma
grande liberdade em relação à sexualidade. Diante da criança era natural a
indecência nos gestos, a grosseria nas palavras e brincadeiras, o que não
chocava ninguém, ao contrário, eram perfeitamente normais.
Como afirma Ariés (1978, p.128): “Essa prática familiar de associar as
crianças às brincadeiras sexuais dos adultos fazia parte do costume da época e
não chocava o senso comum”.
O respeito às crianças era, no século XVI, algo totalmente ignorado, os
adultos se permitiam a tudo diante delas.
Mas, moralistas e educadores com pensamento inovador passaram a
expor idéias diferentes em relação a sexualidade diante das crianças. Dentre eles
Ariès (1987) cita Gerson, homem da igreja que estudava o comportamento sexual
da criança com o objetivo de ajudar os confessores,. Foi o principal representante
da reforma moralista, propôs modificações nos hábitos da educação e o
estabelecimento de um novo comportamento em relação às crianças. Tudo isso
era muito inovador para a época, por isso durante muito tempo seu pensamento
ficou isolado.
No fim do século XVI uma mudança mais nítida teve lugar. Educadores,
que iriam adquirir autoridade e impor definitivamente suas condições e seus
escrúpulos, passaram a não tolerar mais que se dessem livros duvidosos às
crianças. Nasceu então a idéia de se fornecer às crianças edições expurgadas dos
clássicos. Essa foi uma etapa muito importante, é dessa época realmente que se
pode datar o respeito pela infância. “Essa preocupação surgiu na mesma época
tanto entre católicos como entre protestantes, na França como na Inglaterra”
(ARIÈS, 1978, p.135).
Homens da igreja e educadores leigos começaram também a condenar que
as crianças participassem de todos os jogos e brincadeiras dos adultos. Começa-
se a reprovar todos os jogos: de salão, de azar, de dança, da comédia, esportivos.
A proibição ia desde a participação nas festas tradicionais até os jogos nas
escolas.
Entretanto, segundo Ariés (1978), essa atitude de reprovação modificou-se
ao longo do século XVII, principalmente sob a influência dos jesuítas, que
perceberam as possibilidades educativas dos jogos. Os mestres e educadores
então se propuseram a escolhê-los, regulamentá-los e controlá-los. Assim, os
jogos reconhecidos como bons foram admitidos e recomendados e, a partir de
então, considerados como meios de educação. “Um sentimento novo, portanto,
apareceu: a educação adotou os jogos que até então havia proscrito ou tolerado
como um mal menor. [...] Admitiu-se cada vez mais a necessidade dos exercícios
físicos” (ARIÈS, 1978, p.113)
Durante o século XVII, com o movimento de moralização da sociedade
imposto por religiosos, educadores leigos e homens do Estado, uma grande
mudança nos costumes produziu uma noção essencial que se impôs: a da
inocência infantil. Segundo Ariés (1978), “não se tratava mais de um moralista
isolado e sim de um grande movimento cujos sinais se percebiam em toda parte:
na farta literatura moral e pedagógica, nas práticas de devoção e na nova
iconográfica religiosa”. Da literatura pedagógica surgiria uma destinada aos pais e
educadores.
Passou-se então a associar a fraqueza e a inocência infantil a um
verdadeiro reflexo da pureza divina, daí surge a idéia de que era preciso educar,
proteger e conservar a pureza da criança.
Esse processo trouxe como conseqüência a multiplicação das instituições
educacionais, e a evolução dos hábitos escolares em direção a uma disciplina
mais rigorosa.
Foram então surgindo novos pensamentos e novas doutrinas em relação às
crianças. Como a de nunca deixar as crianças sozinhas, a de evitar mimá-las para que
desde cedo se habituassem com a serenidade, com o princípio do recato. Tudo isso
trazia a preocupação com a decência das crianças, e, para isto, comportamentos novos
deviam ser adotados pela família, como o de vestir totalmente as crianças antes de
deitá-las colocando cada uma em sua própria cama, e não permitir que pessoas do
sexo oposto viessem a dormir com elas. Assim como escolher bem as leituras das
mesmas. Tudo isso para que se pudesse preservar o pudor e a inocência das crianças.
O sentimento da inocência infantil resultou portanto numa dupla atitude moral com relação à infância: preservá-la da sujeira da vida, e especialmente da sexualidade tolerada – quando não aprovada – entre os adultos; e fortalecê-la, desenvolvendo o caráter e a razão (ARIÈS, 1978, p.146).
Partindo então da sociedade medieval, em que o sentimento de infância
não existia, pode-se então perceber as grandes mudanças ocorridas ao longo do
tempo em relação ao sentimento de infância. Desde o século XIV, como afirma
Ariés (1978), houve uma tendência pela apreciação da criança,.As pessoas
passaram a admitir o prazer provocado pelas maneiras da crianças pequenas, o
prazer que sentiam em brincar com elas como se fossem um “bichinho”. Áries
denomina esse primeiro sentimento da infância de paparicação.
Mas esta postura, causou, sobretudo no século XVII, uma certa repulsa em
parte da sociedade. Moralistas e educadores começaram a ver a infância como
um período sério, em que a paparicação não trazia disciplina ou racionalidade.
As crianças não deveriam ser vistas como brinquedos e sim frágeis criaturas de
Deus, que precisavam ser, ao mesmo tempo, preservadas e disciplinadas. Um dos
fatos que conseqüentemente confirmou tal sentimento em relação à infância, foi o novo
pensamento e valor adotado nas escolas e colégios, que na Idade Média eram
reservados a um pequeno grupo de clérigos. O colégio se tornou, no inicio dos tempos
modernos, um meio de isolar cada vez mais as crianças do mundo durante o período
de formação, tanto moral quanto intelectual. Um modo de adestrá-las e deste modo
separá-las da sociedade adulta.
Ariés (1978) concebe que “a evolução da instituição escolar está ligada a uma
evolução paralela do sentimento das idades e da infância”.
A instituição escolar, em especial o colégio, se tornou então um instrumento para
a educação da infância e da juventude em geral.
De inicio o colégio era considerado um meio de garantir a um jovem clérigo uma
vida honesta. Posteriormente adquiriu um valor intrínseco, tornou-se condição
imprescindível de uma educação leiga.
Os mestres tinham uma responsabilidade moral, tinham de formar e instruir os
estudantes.
De acordo com Ariés, os moralistas educadores, seguidores de Gerson, os
reformadores da universidade e os fundadores de colégio do fim da Idade Média,
conseguiram impor o sentimento de uma infância longa, graças ao sucesso das
práticas de educação que orientaram e disciplinaram. A infância foi prolongada
para além dos anos em que o garotinho ainda andava com auxilio de “guias”.
1. 2 – A aprendizagem infantil
O surgimento da escola como instituição de ensino, como lugar de
formação moral da criança, ocorre no momento em que a família muda seu modo
de ser, o que se expressa nos séculos XVI e XVII. O sentimento de ver a criança
com respeito passou a existir na sociedade e na vida familiar.
Essa mudança decorre do novo sentimento para com a criança. “A família
transformou-se profundamente na medida em que modificou suas relações com a
criança” (ARIÈS, 1978,p. 225)
O século XVIII demarca a mudança definitiva na relação da família com a
criança. Aparece então grande preocupação com sua saúde e sua educação.
Segundo Ariés (1978), “a criança havia assumido um lugar central dentro da
família”
Antes desse processo, no fim do século XV na família medieval, ao menos na
Inglaterra, existia uma falta de afeição com relação a suas crianças.
Após serem conservadas em casa até sete ou nove anos, as famílias
colocavam-nas em casas de outras famílias, onde permaneciam de sete a nove anos.
As crianças eram chamadas neste período de aprendizes, e tomavam conta de todas
as tarefas domésticas.
Segundo Ariés (1978), o serviço doméstico se confundia com aprendizagem,
como uma forma muito comum de educação. A criança aprendia pela prática.
Assim toda a educação se fazia através da aprendizagem e dava-se a essa noção um sentido muito mais amplo do que ela adquiriu mais tarde, as pessoas
não conservavam a própria criança em casa, o que era hábito em todas as condições sociais (ARIÈS, 1978, p.228).
Não havia lugar para a educação escolar nessa transmissão através da
aprendizagem direta de uma geração a outra.
A escola era uma exceção nessa forma de educação. Mesmo os clérigos
enviados à escola muitas vezes eram confiados a um clérigo a quem passavam a
servir como aprendizes. Havia também casos excepcionais de ensino técnico,
oriundos da aprendizagem tradicional como “escolas” de caça, de equitação, de
uso de armas e de cavaleiros, mas estas eram exceções.
Então, era normal que as crianças estivessem misturadas aos adultos,
pois, como afirma Ariés (1978), “de modo geral, a transmissão do conhecimento
de uma geração a outra era garantida pela participação familiar das crianças na
vida dos adultos”.
Dessa maneira, as crianças aprendiam os saberes que precisavam para
viver através do contato com os adultos no dia-a-dia.
Nessas condições a criança desde muito cedo saía de sua família, por
isso não existia um sentimento profundo entre pais e filhos, a família era uma
realidade moral e social, mais do que sentimental.
Segundo Ariés (1978, p. 275), “a família cumpria uma função – assegurava
a transmissão da vida, dos bens e dos nomes - mas não penetrava muito longe na
sensibilidade”.
A família quase não existia, entre os pobres, correspondia apenas à
instalação na aldeia, na fazenda ou no pátio dos senhores. Os filhos significavam
uma contribuição à sobrevivência da família.
Ariés (1978) concebe que “a partir do século XV, as realidades e os
sentimentos da família se transformariam: uma revolução profunda e lenta, e o
fato essencial é bastante evidente: a extensão da freqüência escolar”.
Se antes, durante a Idade Média, a educação das crianças era garantida
pela aprendizagem junto aos adultos, dessa época em diante a educação passou
a ser fornecida cada vez mais pela escola.
A escola deixou de ser reservada aos clérigos, para se tornar um
instrumento da iniciação social, da passagem da infância à vida adulta.
Ariés (1978) afirma que essa evolução se deu pela correspondência da
necessidade nova de rigor moral da parte dos educadores a uma preocupação
escolar para com a juventude. Tratava-se de retirar a criança do mundo sujo dos
adultos para mantê-la na inocência primitiva, num desejo de treiná-la pra melhor
resistir as tentações dos adultos.
Tal evolução também correspondeu a uma preocupação dos pais de vigiar
seu filhos mais de perto, de não abandoná-los mais.
A família concentra-se então em torno da criança e a substituição da
aprendizagem doméstica pela escola exprime a aproximação de família e
crianças, expressando os sentimentos de família e de infância.
O que deu inicio a uma verdadeira moralização da sociedade, pouco-a-
pouco começou a prevalecer na prática, assim a sociedade passou a reconhecer
a importância da educação.
As ordens religiosas fundadas com os jesuítas, tornaram-se ordens dedicadas ao ensino. Um ensino que não se dirigia mais aos adultos e sim essencialmente as crianças e aos jovens. Isso ensinou aos pais que eles eram guardiões espirituais, que eram responsáveis perante a Deus pela alma, e até mesmo pelo corpo de seus filhos (Áries,1978,p.250).
Passou-se então a admitir que a criança não estava pronta, madura para a
vida e que era preciso submetê-la a um regime especial, a uma espécie de
quarentena, antes de deixá-la unir-se aos adultos. A escola surge como internato
com forte sistema disciplinar, o qual chegava ao extremo de castigos corporais
visando inculcar o temor a Deus e as regras morais da sociedade. Essa nova
preocupação pouco a pouco foi se instalando na sociedade e transformando-a de
“fio a pavio”.
A família deixou de ser apenas uma instituição do direito privado, da
transmissão de bens e nomes, para assumir uma função moral e espiritual.
Os pais não se contentavam mais em pôr os filhos no mundo, em estabelecer apenas alguns deles, desinteressando-se dos outros. A moral da época lhes
impunha proporcionar a todos os filhos, e não apenas ao mais velho – e, no fim do século XVII, até mesmo às meninas – uma preparação para a vida. Ficou convencionado que essa preparação fosse assegurada pela escola. A aprendizagem tradicional foi substituída pela escola, uma escola transformada, instrumento de disciplina severa, protegida pela justiça e pela política. O extraordinário desenvolvimento da escola no século XVII foi uma conseqüência dessa preocupação nova dos pais com a educação das crianças (ARIÈS, 1978, p.277).
Dessa forma, a família e a escola retiram juntas a criança da sociedade
dos adultos.
Partindo da Idade média, inúmeras mudanças ocorreram em relação ao
reconhecimento da infância, de sua importância e de suas características, que
foram reconhecidas e respeitadas.
Com o reconhecimento da criança e da importância de sua formação
escolar, para uma futura sociedade com adultos bem estruturados, no decorrer dos
séculos muitos estudos foram feitos em relação ao desenvolvimento do ser humano, a
infância foi alvo de estudo de vários teóricos e psicólogos, e a partir destes estudos,
foram criadas diferentes teorias do desenvolvimento relacionadas à infância.
Capitulo II Teorias do desenvolvimento infantil: Piaget e Vygotsky
____________________________________________________________
Até que o ser humano chegue à idade adulta, momento em que os aspectos
físico-motor, intelectual, afetivo, emocional e social atingem o mais complexo grau de
maturidade e estabilidade, o indivíduo passa por grandes mudanças.
Durante este processo uma das fases mais importantes é a infância. Este é um
período complexo que possui características próprias, as quais precisam ser
compreendidas.
Durante toda sua existência o individuo passa por mudanças em função de fatores internos e externos, que exigem dele novas formas de ajustamento ás demandas do meio. Então, durante todo este processo evolutivo os adultos que terão contato com a criança irão interferir a todo tempo nas fases de seu desenvolvimento (ROSA,1983,p.19).
Apesar da consciência de que existem características individuais e diferenças,
existem alguns princípios universais do desenvolvimento humano. Há estudos que
comprovam que o processo maturacional, a seqüência dos estágios evolutivos, assim
como a direção do desenvolvimento são comuns em todos os seres humanos, em
todos os lugares.
Zanluch (2006) afirma que uma das fases mais importantes durante toda a vida
do ser humano é a infância, pois é nesse período que o individuo formará sua
personalidade e seus valores, e as relações, que a criança terá com o mundo e com as
pessoas a sua volta irão contribuir drasticamente em sua formação.
A descoberta da infância começou sem dúvida no século XII e sua
evolução pode ser acompanhada na história da arte e da icnografia dos séculos XV e
XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornam-se numerosos e significativos a
partir do fim do século XVI e durante o século XVII. A partir daí no decorrer dos séculos
muitos estudos foram feitos em relação ao desenvolvimento do ser humano, a infância
foi alvo de estudo de vários teóricos e psicólogos, e a partir destes estudos, foram
criadas diferentes teorias do desenvolvimento relacionadas à infância.
Dentre estes estudiosos se destacam Jean Piaget, psicólogo e epistemologista,
que se dedicou ao conhecimento da criança e aperfeiçoamento dos métodos
pedagógicos, educativos e, antes de tudo, à compreensão do homem, e Lev
Semenovich Vygotsky, psicólogo russo, que ressaltou o papel da sociedade no
processo de aprendizado. Eles são estudiosos das teorias do desenvolvimento infantil,
possuem teorias diferenciadas, mas que interagem em alguns pontos.
2.1 A teoria de Jean Piaget
Jean Piaget modificou a trajetória pedagógica tradicional, que até então
afirmava que a mente de uma criança é vazia, esperando ser preenchida pelo
conhecimento. È o que afirma Zanhuchi (2006), ao estudar o pensamento do
epistemológico.
Segundo Piaget (1999), o desenvolvimento humano ocorre em quatro etapas:
período sensório-motor, período pré-operatório, período das operações concretas e o
período das operações formais. Cada período é marcado por aquilo que de melhor o
individuo consegue fazer. Existem formas de perceber, compreender e se comportar
diante do mundo, próprias de cada faixa etária.
Todos os indivíduos passam por todas as fases propostas, na mesma
seqüência, mas o início e o término de cada uma delas depende das características
biológicas do individuo e de fatores sociais e educacionais.
2.1.1 Período sensório-motor (o recém nascido e o lactante - 0 a 2 anos)
Nesta fase a criança conquista o universo por meio da percepção e dos
movimentos, pois no recém-nascido a vida mental reduz-se ao exercício dos aparelhos
reflexivos, de fundo hereditário, como a sucção. Esses reflexos melhoram com o
treino.
Piaget (1999) afirma que:
O período vai do nascimento até a aquisição da fala, e é marcado por um extraordinário desenvolvimento mental. Este período é decisivo para todo o curso da evolução psíquica, representa a conquista através, da percepção e dos movimentos, de todo o universo que cerca a criança. Esta “assimilação senso-motora” do mundo exterior imediato realiza, em dezoito meses ou dois anos, toda uma revolução Copérnica em miniatura (p.17).
Segundo Piaget (2006), a atividade psíquica do recém-nascido começa como
simples assimilação do meio exterior ao funcionamento dos órgãos. O
desenvolvimento físico nessa etapa, ocorre de forma acelerada e é suporte para o
aparecimento de novas habilidades, com isso, a criança vai sendo capaz de
diferenciar seu mundo interior e o mundo exterior. As habilidades se tornam visíveis
entre três e seis meses, em que o lactante consegue coordenar os movimentos das
mãos e dos olhos, e começa então a pegar o que vê. Esta capacidade de preensão e
depois de manipulação, aumenta ainda mais seu poder de formar hábitos novos.
Os conjuntos motores (hábitos) novos e os conjuntos perceptivos, no início formam um sistema, a seguir basta que os movimentos do lactante, quaisquer que sejam, atinjam um resultado interessante, para que o sujeito reproduza logo esses novos movimentos. Esta “reação circular” , como a chamam, desempenha papel essencial no desenvolvimento senso-motor e representa a forma mais evoluída de assimilação (PIAGET,1999, p.19).
Assimilação é o que Piaget define como o processo que representa sempre uma
tentativa de integração de aspectos e experiências aos esquemas previamente
estruturados; ao entrar em contato com o objeto do conhecimento, o indivíduo busca
retirar dele as informações que lhe interessam, deixando outras que não lhe são tão
importantes, visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo.
Com o passar dos meses, a criança vai se desenvolvendo psiquicamente e
fisicamente, e este desenvolvimento traz novos hábitos, e, como conseqüência, novos
comportamentos e um maior domínio de mundo.
Segundo Teixeira (1998), psicóloga e psicanalista que estuda as teorias
relacionadas ao desenvolvimento humano, Piaget afirma que neste período o rápido
desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico, permitem à criança a emergência
também de novos comportamentos, como, se sentar, andar, o que proporcionará um
domínio maior do ambiente em que a criança está inserida.
O lactante aprende também a imitar pouco a pouco, isto sem que exista uma
técnica hereditária. Primeiramente ele sente uma simples excitação pelos gestos
análogos do outro, movimentos visíveis do corpo, que a criança sabe executar
espontaneamente.
Segundo Piaget (1999, p.25), “a imitação senso-motora torna-se uma cópia
cada vez mais precisa de movimentos que lembram os movimentos conhecidos, e
finalmente a criança reproduz os movimentos novos mais complexos. A imitação de
sons tem evolução parecida”.
Por volta de um ano a criança começa a admitir que um objeto continue a
existir mesmo que esteja fora de seu alcance visual, ela não vê o objeto, mas continua
a pedi-lo pois sabe que ele ainda existe. A criança tem então a construção do real em
sua mente. Piaget (2006) concebe que é neste momento que o objeto adquire, para a
consciência da criança, um novo e último grau de liberdade.
Essa evolução, também ocorre no aspecto afetivo, o bebê passa das emoções
primárias para, no final do período, ter uma escolha afetiva, em que mostra preferência
por brinquedos, objetos, pessoas, entre outros. Surgem os sentimentos interindividuais,
e o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que ela julga superior, é um misto de
amor e temor. Toda essa evolução está intimamente ligada à evolução da inteligência.
Piaget (1999) define que:
A evolução afetiva durante os dois primeiros anos dá lugar a um quadro que, no conjunto, corresponde, exatamente, á aquele estabelecido através do estudo das funções motoras e cognitivas. Existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual. Esse paralelismo se seguirá no curso de todo o desenvolvimento da infância e da adolescência. Afetividade e inteligência são assim, indissociáveis e constituem aspectos complementares de toda conduta humana (p.22).
Progressivamente, durante essa fase a criança vai diferenciando o seu eu do
mundo exterior. Piaget (2006, p.382) afirma que “durante os primeiros meses da
existência, a criança não dissocia o mundo exterior de sua atividade. O mundo é para
ela continuação de seu próprio corpo – fase do egocentrismo”. Egocentrismo é o que
Piaget define como uma visão da realidade que parte do próprio eu, a criança considera
que os objetos e pessoas a sua volta existem em função dela.
Mas os progressos da inteligência durante esta fase levam a criança a situar-
se como um elemento entre outros no mundo. E assim a criança vai se distanciado do
egocentrismo, tão marcante no inicio de sua existência.
Por volta dos dois anos de idade, a criança evolui de uma atitude passiva,
para uma atitude ativa e participativa. Aparece então a linguagem, que é usada de
forma imitativa, e por estar centrada em si mesma, ocorre uma primazia do próprio
ponto de vista. È o aparecimento da linguagem que dá inicio ao próximo estágio.
2.1.2 Período Pré-operatório (a primeira infância - 2 a 6 anos)
Com o aparecimento da linguagem a criança terá suas condutas,
profundamente modificadas.
Piaget (1964) concebe que:
Registra-se nesta fase o principio do emprego de “signos”, visto que, no momento aproximado em que a inteligência sensório-motora se prolonga em representação conceptual e em que a imitação se converte em representação simbólica, o sistema de signos sociais também aparece, sob as espécies de linguagem falada (e imitada) (p.88).
A etapa pré-operatória é marcada então, pelo aparecimento da linguagem
oral, por volta dos dois anos. A linguagem traz modificações nos aspectos afetivo,
intelectual e social, permitindo à criança dispor, além da inteligência prática construída
na fase anterior, a possibilidade de ter esquemas de ação interiorizados.
Piaget (1999, p.24) concebe que “no momento da aparição da linguagem, a
criança se acha às voltas, não apenas com o universo físico, como antes, mas com
dois novos mundos intimamente solidários: o mundo social e o das representações
interiores”.
A fala é conseqüência da imitação dos sons ouvidos pela criança. Essa
imitação tem evolução semelhante à evolução sensório-motora da fase anterior.
Quando os sons são associados a ações determinadas, a imitação se prolonga, como
aquisição da linguagem, a palavra é então a vida interior que é posta em comum , e se
constrói conscientemente, na medida em que pode ser comunicada.
Com a fala, se desenvolve a interação e a comunicação entre os indivíduos.
Com a linguagem há a possibilidade de exteriorização da vida interior, e então
possibilidade de corrigir ações futuras, pois a criança já antecipa o que vai fazer.
Durante a primeira infância há uma transformação da inteligência, que no início
é apenas sensório-motora ou prática, para uma prolongação doravante como
pensamento propriamente dito sob a dupla influência da linguagem e da socialização.
A linguagem, permitindo ao sujeito contar suas ações, fornece de uma só vez a capacidade de reconstruir o passado, de antecipar as ações futuras, e até substituí-las, ás vezes, pela palavra isolada, sem nunca realizá-la. Este é o ponto de partida do pensamento, e deve-se acrescentar que a linguagem conduz à socialização das ações (PIAGET, 1999, p.27).
Neste período ocorre o que Piaget (1999) define como jogo simbólico. Para
ele o jogo simbólico propicia grande desenvolvimento, pois:
[...] sua função consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em função doa desejos: a criança que brinca de boneca refaz sua própria vida, corrigindo-a á sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos, resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a realidade através da ficção. Em suma: o jogo simbólico não é um esforço de submissão do sujeito ao real, mas ao contrario, uma assimilação deformada da realidade ao eu (PIAGET,1999,p.28).
Posteriormente a criança utiliza o pensamento como referencial para explicar
o mundo real, e no final desta fase a criança começa a procurar razão para todas as
coisas; é a fase dos famosos porquês. Para Piaget (2006), é graças aos “porquês”
que assediam o espírito da criança, que sua representação do mundo pode ser
depreendida sem muitos riscos de erro.
A criança começa a ter um pensamento mais adaptado ao outro e ao real. A
partir daí surgirão novas capacidades. Entretanto, é necessário lembrar que a criança
ainda possui algumas limitações, como: grande parte de seu repertório verbal é usado
ainda de forma imitativa, sem que a criança domine totalmente o significado das
palavras, a mesma ainda tem dificuldades em reconhecer a ordem em que dois ou três
eventos ocorrem, não possui ainda o conceito de número e ainda tem em si uma
primazia do próprio ponto de vista. É preciso lembrar também que tais limitações só
irão se desenvolver com o tempo, e com as intervenções dos adultos que rodeiam a
criança.
Com o domínio de mundo ampliado, Teixeira (1999, p.86) afirma que “os
interesses pelas diferentes atividades e objetos se multiplicam, e a partir desses
interesses, surge uma nova escala de valores, própria da criança, e com isso ela
passa a avaliar suas próprias ações”.
Neste período, a maturação neurofisiológica completa-se, permitindo o
desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação motora fina, como o ato
de pegar pequenos objetos com as pontas dos dedos, segurar o lápis corretamente e
conseguir fazer os movimentos necessários para a escrita.
Nesta fase, falta a criança uma das condições de pensamento necessárias
para que haja uma operação: a reversibilidade, que é a operação, a capacidade de
voltar, de retorno ao ponto de partida, de repensar situações já ocorridas. Uma
propriedade das ações do sujeito, possível de se exercerem em pensamento ou
interiormente. Por isso este período recebe o nome de pré-operatório.
Piaget concebe ainda duas fases de desenvolvimento do indivíduo. O período
das operações concretas (7 a 11-12 anos), em que se inicia a construção lógica. Nessa
etapa a criança estabelece relações que permitem a coordenação de pontos de vista
diferentes; Por fim o período das operações formais (11ou 12 anos em diante),
momento em que ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento
formal, abstrato, onde o individuo passa a dominar, progressivamente, a capacidade de
abstrair e generalizar, criar teorias sobre o mundo. Nessa fase o indivíduo atinge o
equilíbrio entre o pensamento e realidade, compreendendo a importância de sua
reflexão, para sua ação sobre o mundo. Tais etapas não serão aprofundadas por não
estarem dentro da faixa etária em estudo.
2.2 A teoria de Vygotsky.
Na teoria de Vygotsky não são apresentados estágios especificadamente,
como na teoria de Piaget. Para ele o individuo transforma-se de ser biológico em ser
sócio-histórico nas interações com a cultura. Nesse processo, a história da sociedade e
do desenvolvimento do homem caminham juntos, estão de tal forma ligados um ao
outro que não é possível dissociá-los.
Ao nascer somos todos iguais, somos seres biológicos e como tal emitimos
processos psicológicos primários ou elementares, desprovidos de pensamento.
Porém, à medida que o sujeito experimenta relações intermediárias com objetos, fatos,
e, sobretudo, com as pessoas de seu convívio, internaliza os conhecimentos
culturalmente determinados, originando os processos psicológicos superiores, dotados
de pensamento.
Teixeira afirma que :
Para Vygotsky (1984), as crianças, desde o nascimento estão em constante interação com os adultos, que ativamente procuram incorporá-las a suas relações e sua cultura. No início, as respostas das crianças são dominadas por processo naturais, e é através da mediação dos adultos que os processo psicológicos mais complexos tomam forma, inicialmente, esses processos são interpsíquicos (partilhados entre pessoas). Á medida que a criança cresce, os processos acabam por ser executados dentro das próprias crianças – intrapsíquicos (1998,p.92)
Para o autor a vivência em sociedade é essencial para a transformação do
homem de ser biológico para ser social. Pois é pela aprendizagem nas relações com
os outros que construímos os conhecimentos que permitem nosso desenvolvimento
mental.
Para Vygotsky (1991), na ausência do outro o homem não se constrói homem.
Segundo este psicólogo, a criança nasce dotada apenas de funções psicológicas
elementares, como a atenção involuntária e os reflexos. Com o aprendizado cultural,
ela passa das funções básicas, para as funções superiores, como a consciência e o
planejamento. Tal evolução acontece pela elaboração das informações recebidas do
meio. Informações estas, sempre intermediadas, implícita ou explicitamente, pelas
pessoas que rodeiam a criança, carregadas de significados sociais e históricos. Essas
informações são reelaboradas numa espécie de linguagem interna, e é isso que
caracteriza o individualismo.
A linguagem é duplamente importante para Vygotsky, pois é o principal
instrumento de intermediação do conhecimento entre os seres humanos e tem relação
direta com o próprio desenvolvimento psicológico. A linguagem está presente desde o
inicio da vida do ser humano, e conforme sua evolução vai mudando vários aspectos
psicológicos do individuo.
Vygotsky (1991) afirma que o balbucio e o choro da criança, mesmo suas
primeiras palavras, são claramente estágios do desenvolvimento da fala, tais como
risadas, os sons inarticulados, os movimentos dentre outros, são meios de contato
social a partir dos primeiros anos de vida. Antes mesmo que a criança possa controlar
seu próprio comportamento, ela controla o ambiente com ajuda da fala, e isto traz a
possibilidade de novas relações com o ambiente, além de levá-la a uma nova
organização do próprio comportamento.
A linguagem torna possível o pensamento, a memória, a atenção, o raciocínio,
e varias outras capacidades. Para Vygotsky (1991), a fala assim como outras
operações mentais que envolvem o uso de signos, como contar ou a memorização
mnemônica, se desenvolvem em quatro estágios:
O primeiro, é o estagio natural ou primitivo, que corresponde à fala pré-intelectual e ao pensamento pré-verbal. O segundo é o estágio denominado ”psicologia ingênua”, a experiência da criança com as propriedades físicas de seu corpo e dos objetos a sua volta, e a aplicação dessas experiências ao uso de instrumentos, manifesta-se pelo uso correto das formas e estruturas gramaticais, isto antes que a criança tenha entendido as operações lógicas que representam. Com a acumulação gradual da experiência psicológica ingênua, a criança passa para o terceiro estágio, que se caracteriza por signos exteriores, e operações externas, que são usadas como auxiliares na solução de problemas internos. O desenvolvimento da fala nesse estágio se caracteriza pela fala egocêntrica. E, o quarto estágio que é denominado estágio de “crescimento interior”, as operações externas se interiorizam e passam por uma profunda mudança no processo. No desenvolvimento da fala este é o estágio final, o da fala interior, silenciosa ( VYGOTSKY, 1991, p.40).
A fala possibilita à criança uma nova, ampla e significativa relação com seu
meio social, e um salto qualitativo para as formas humanas de funcionamento mental,
no qual o sujeito passa a operar não só no mundo imediato e concreto, mas com as
representações que vai sendo capaz de fazer com este mundo. Uma das novas formas
de funcionamento mental que são possíveis graças a fala, para a criança é a
capacidade de prestar atenção em algo e o desenvolvimento da memória.
A memória é, na teoria de Vygotsky, uma das funções psíquicas centrais em
torno da qual se organizam todas as outras funções. Esta ligada, na idade precoce, ao
pensamento. Do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, a memória mais do
que o pensamento abstrato, é característica definitiva dos primeiros estágios do
desenvolvimento cognitivo; para as crianças pequenas, pensar significa lembrar
(VYGOTSKY, 1991).
Vygotsky (2003) concebe que a experiência da criança e sua influência
imediata, documentada na memória, determina diretamente toda a estrutura do
pensamento infantil, nas primeiras etapas do desenvolvimento. Mas conforme o
desenvolvimento ocorre no ser humano, a memória vai se modificando, e ganha novos
terrenos no aspecto psíquico do individuo. Para ele a memória é extraordinariamente
forte na infância, e que com o desenvolvimento da criança vai se debilitando cada vez
mais. Se de inicio pensar significa lembrar, com o decorrer do desenvolvimento,
lembrar significa pensar, pois a memória, no caso do adolescente, por exemplo, já esta
tão “carregada de lógica” que o processo de lembrança esta reduzido a estabelecer e
encontrar relações lógicas.
A memória de crianças mais velhas não é apenas diferente da memória de crianças mais novas: ela assume também um papel diferente na atividade cognitiva. A memória, em fases bem iniciais da infância, é uma das funções psicológicas centrais, em torno da qual se constroem todas as outras funções. Nossas análises sugerem que, o ato de pensar na criança muito pequena é,em muitos aspectos, determinado pela sua memória e, certamente não é igual á mesma ação em crianças maiores. Em nenhuma outra fase, depois dessa muito inicial da infância, podemos ver essa conexão intima entre as duas funções psicológicas (VYGOTSKY,1991,p.56).
No desenvolvimento da criança, algo fundamental, para Vygotsky, é o
brinquedo, pois este é visto como um incentivo para colocar a criança agir.
No brinquedo a criança faz uma reprodução imaginária da situação real , ou
seja é uma situação imaginaria, mas é compreensível somente á luz de uma situação
real, que tenha acontecido, onde se torna muito mais uma lembrança do que
aconteceu do total imaginação; é mais a memória em ação do que uma situação
imaginaria nova
Enfatiza-se que para Vygotsky (1991) é grande a influência do brinquedo no
desenvolvimento. A ação numa situação imaginaria ensina a criança a dirigir seu
comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou pela situação
que a afeta de imediato, mas também pelos significados dessa situação.
O brinquedo, assim, é uma grande fonte de desenvolvimento, nele a criança
vai além do comportamento habitual de sua idade, além do comportamento do seu dia
a dia, o brinquedo tem então todas as tendências do desenvolvimento sob forma
condensada .
Conforme o desenvolvimento da criança o brinquedo, ganha regras e novos
significados, e de uma situação imaginária, passa a ser um meio correspondente de
regras, que conduz á ação, e que durante todo o percurso não deixa de ter sua
importância .
Na relação entre desenvolvimento e aprendizagem, todos os aspectos do
desenvolvimento dependem do meio em que a criança está enserida, pois o
desenvolvimento não se dá de forma automática e natural, o individuo é resultado das
relações que possui com seu meio social. Por isso Vygotsky (1991) , afirma que não
se pode aceitar uma única visão de desenvolvimento humano, ,já que o
desenvolvimento do indivíduo pode variar de acordo com o ambiente social em que ele
estará inserido.
Vygotsky assim como Piaget, acredita que o desenvolvimento do indivíduo
implica não somente em mudanças quantitativas, mas sim em transformações
qualitativas do pensamento. Os dois estudiosos reconhecem o papel da relação entre
o indivíduo e a sociedade. Entretanto, para Piaget o desenvolvimento do indivíduo é o
que permite suas aprendizagens no mundo, por sua vez, Vygotsky acredita que são as
aprendizagens no ambiente que propiciam o desenvolvimento. “Ou melhor, o processo
de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado”
(VYGOTSKY, 1999, p.102).
Desse ponto de vista, aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 1999, p.101).
Dessa forma, para Vygotsky, é a relação do homem com o mundo sociocultural
que determina seu desenvolvimento. Ele acredita que o cérebro humano não é um
sistema de funções fixas e imutáveis, mas sim um sistema aberto de grande
plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da
história da espécie e do desenvolvimento individua.
O desenvolvimento humano ocorre através dos estímulos das funções
psicológicas superiores, que são os mecanismos psicológicos mais sofisticados e
complexos, típicos dos seres humanos e que envolvem o controle consciente do
comportamento, a ação intencional e a liberdade do individuo em relação ás
características do momento e do espaço presentes.
Mas os níveis de aprendizado de crianças com iguais níveis de desenvolvimento
mental varia enormemente, e essa diferença é o que Vygotsky (1991) concebe como
zona de desenvolvimento proximal,”ela é a distância entre o nível de desenvolvimento
real, que se costuma determinar através da solução independente d problemas, e o
nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob
a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes “(p.97).
As duas teorias apresentadas interagem no sentido de que os dois autores
acreditam que o meio interfere no desenvolvimento do individuo, e essas relações
contribuem para sua formação como um todo.
Teixeira (1998) concebe que:
Piaget apresenta uma teoria com ênfase no papel estruturante do sujeito. Maturação, experiências físicas, transmissões sociais e culturais e equilibração são fatores desenvolvidos em sua teoria. Vygotsky por outro lado, enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca entre as pessoas, que tem origem as funções mentais superiores (p.94).
É necessário que o educador, e as pessoas que convivem com a criança
estejam cientes destas teorias e compreendam as fases pelas quais as crianças irão
passar, para que possam nortear suas atitudes. Assim, o educador, suas propostas e
trabalhos pedagógicos, ,já que conhecendo características especificas da faixa etária
em que seu aluno se encontra, o mesmo poderá planejar suas atuações de modo a
contribuir com maior potencialidade e significado, não requerendo da criança atitudes
e aprendizados que sua fase de desenvolvimento ainda não o possibilita fazer
Capitulo III A importância do conhecimento das teorias do desenvolvimento para
a instituição de educação infantil.____________________________________________________________
É de suma importância para a educação, em especial para a educação infantil e
para a sociedade, estar ciente das fases por quais as crianças passam, para que seja
possível, atuar de maneira a contribuir significativamente no desenvolvimento infantil.
Com o passar das décadas a visão que se tinha sobre a infância mudou muito,
não só a visão da família, mas da sociedade em si, e em especial da escola, que
procurou se modificar e se adaptar a esse reconhecimento, aperfeiçoando seus
métodos, praticas e currículo.
No Brasil ocorreu elaboração da constituição de 1988, em que, pela primeira vez
na história, uma constituição fez referência a direitos específicos das crianças.
Campos (2000, p.18) afirma que pela primeira vez um texto constitucional define
claramente como direito da criança de 0 a 6 anos de idade e dever do Estado, o
atendimento em creche e pré-escola.
Em 1996, foi criada também em nosso país a Lei de Diretrizes e Bases da
educação nacional (LDB - Lei nº 9.394, de 20/12/1996) , e começou a se tratar da
educação infantil, face ao que propugnava já a Constituição Federal de 1988. O artigo
29 da LDB, delibera que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade.
Ficou convencionado ao Estado oferecer a educação para as crianças com faixa
etária entre zero a seis anos. Como afirma a autora Correa (2002, p.18):
O aspecto mais relevante presente na lei maior do país, para a educação infantil, esta em seu artigo 208, inciso IV, quando afirma que “o dever do Estado com a educação infantil será efetivado mediante a garantia de atendimento em creche e pré-escolas ás crianças de zero a seis anos de idade” .
Segundo Ortiz (2007) Por muitos anos as creches desempenharam no Brasil um
papel assistencial e filantrópico, o educador tinha a função de guardar, proteger e
preservar a criança de viver em uma situação de extrema miséria na sua família, que
previa também diminuir as altas taxas de mortalidade infantil. Não exigia profissionais
especializados, os requisitos essenciais eram gostar e saber cuidar de criança, era o
tempo das “pajens”.
Com o passar dos anos, outras atribuições foram sendo somadas as
instituições de educação infantil, e a creche passou a desempenhar também uma
função social.
Ortiz (2007, p.11) concebe que nessa época o profissional precisava ter outros
atributos alem de cuidar bem da criança e gostar dela. Precisava compreender o papel
materno e de certa forma poder “substituir” a mãe. Tarefa até então nada fácil e de
cunho psicológico, pois a criança que freqüentava a creche, nessa ótica, sofria de
carência afetiva devido a separação de suas mães - para que elas pudessem trabalhar
- e a educadora devia então suprir tal carência, era o tempo das “tias”.
Com o advento da função educacional e do apoio de inúmeras pesquisas no campo da psicologia do desenvolvimento, a creche ganhou uma importância social e uma visibilidade maior, passando a ser considerada um espaço privilegiado para o desenvolvimento infantil (ORTIZ,2007 , p.11).
Como espaço privilegiado para o desenvolvimento da criança, Ortiz (2007)
concebe que a creche merecia ter uma estrutura e um funcionamento mais adequado,
assim como também um profissional mais bem preparado e com um melhor nível de
conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. Chega então o tempo das educadoras.
A infância é uma fase de suma importância, em que a criança deve viver
experiências enriquecedoras na instituição escolar. Para que tais experiências ocorram
de forma correta, o profissional da educação infantil deve estar ciente das fases por
quais o educando irá passar, para atuar em seu desenvolvimento sem ferir sua
integridade, exigindo da criança, o que no momento ela não é capaz de fazer .
Na instituição de educação infantil as relações educativas são perpassadas pela
função indissociável do cuidar/educar, tendo sempre em vista os direitos e as
necessidades próprias das crianças no que se refere à alimentação, à saúde, à higiene,
à proteção e ao acesso sistematizado do conhecimento.
Nos parâmetros de qualidade da educação infantil (2008a) afirma-se que,
“enquanto a escola tem como sujeito o aluno e como objeto fundamental o ensino nas
diferentes áreas através da aula; a creche e a pré-escola tem como objetivo as
relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a
criança de 0 a 6 anos de idade”.
Mas saber como planejar, o que e como ensinar, implica em saber quem é o
educando, pois cada faixa etária exige uma linguagem e estratégias pedagógicas
diferenciadas.
Vygotsky (1991,p.90) afirma que para cada matéria escolar há um período
que sua influencia é mais produtiva, porque a criança esta mais receptível a ela.
Taddei (2006) afirma que dos quatro meses (que é a idade prevista para que a
criança, entre na creche) até os dois anos, os estímulos devem estar voltados em
especial para os aspectos físicos e motores. Afirma também que nesse momento a
afetividade deve sempre estar presente, seja no momento do banho, da alimentação,
ou das brincadeiras, pois o bebe, se encontra longe da mãe, que até então é o individuo
com quem possui maior vinculo afetivo, e essa separação dolorosa para acriança pode
ser amenizada pela atenção, confiança e carinho que o educador poderá oferecer.
O bebê deve ser estimulado a explorar o ambiente em que se encontra, a
experimentar sensações, objetos e materiais novos . Devem ser oferecidos objetos para
morder, pegar, chocalhar, bater, livros de pano para que o bebê possa manusear.
Brinquedos com sons no interior devem ser oferecidos para trabalhar a percepção
auditiva. Devem ser feitos também brincadeiras com seu próprio corpo e com o corpo
do adulto, para que o recém-nascido possa posteriormente explorar sozinho seu corpo,
e vá se conhecendo aos poucos.
Tudo isto por que o bebê se encontra na fase da descoberta do mundo através
da percepção de si mesmo e dos objetos e situações novas, estas possíveis através do
contato e dos estímulos recebidos dos adultos de seu convívio . Tudo é muito novo e
complexo, e suas dependências físicas e afetivas em relação ao adulto são extremas.
Taddei (2006, p.67) afirma que “nesta fase é preciso explorar na criança
sentimentos de curiosidade, alegria, excitação e amor, os quais irão auxiliá-la a
organizar e conferir propósitos ás suas habilidades motoras, sensoriais, lingüísticas e
cognitivas”.
Por volta de um ano a criança começa a engatinhar e se deslocar, aumentando
seu campo de percepção e ação, assim a criança nesse momento necessita de
brincadeiras e atividades que estimulem sua locomoção, levando-a, por exemplo, a
encontrar brinquedos ou objetos escondidos.
O sono é muito importante nesta fase, pois, como afirma Taddei (2006) o sono
é fundamental para a recuperação do descanso, alem de favorecer o desenvolvimento
físico e mental. Recém-nascidos dormem, em media, 20 horas por dia; sendo que à
medida que crescem passam a dividir melhor o período do dia e da noite. A hora do
sono deve ser preparada então com cuidado e atenção pelas educadoras de berçário,
com ambiente e músicas agradáveis, por exemplo, pois este também irá contribuir para
o bem estar e desenvolvimento do bebê.
Posteriormente a criança começa a andar e falar, e amplia mais ainda seu
poder de percepção e conhecimento de mundo, atividades com brinquedos que elas
possam empurrar, são de grande interesse; Brinquedos de encaixe (grandes),
massinha de modelar, livros com gravuras grandes e cores expressivas, tintas
(atóxicas), fantoches, cantar, entre outros, devem ser também atividades oferecidas ás
crianças nesta fase.
Em um berçário as crianças devem explorar com segurança o mundo que as cerca, interagir com os adultos e entre elas, brincar, transformar, aprender a se comunicar, ir conquistando maior independência. A diversidade de experiências amplia as possibilidades de um desenvolvimento pleno e da participação ativa nos desafios que o dia-a-dia impõe (BRESCIANE, 2007,p.14) .
Atividades lúdicas, a hora do sono, alimentação e higiene, e os momentos de
troca de carinho entre educadora e bebê, são muito importantes para o
desenvolvimento da criança, para que ela possa diferenciar seu mundo do mundo
exterior, para que possa se sentir importante e bem física e psicologicamente.
Dos dois aos seis anos a criança atinge sua maturação neurofisiológica, o que
possibilita ao educador trabalhar a coordenação motora fina na criança, quando ela já
consegue segurar o lápis e fazer movimentos mais precisos para a escrita e o desenho.
Nesta fase a memória é um grande instrumento de aprendizagem e representação.
Devem ser propostas atividades pedagógicas como desenho, escrita do próprio nome,
atividades de pintura com diferentes materiais, manipulação de diferentes materiais,
jogos dirigidos, leitura de livros e atividades culturais.
Segundo Ortiz (2007,p.13) “deve-se apresentar ás crianças objetos e situações
culturalmente significativos e esteticamente qualificados, pois estes são tão importantes
quanto as outras ações” .
Atividades lúdicas, como na fase anterior, também, devem ser propostas, só
que agora com uma possibilidade muito maior de diversificação que na fase anterior,
como: brincadeiras com músicas, brincadeiras livres - para que as crianças possam
usar mais ainda sua imaginação e possam interagir -, jogos com regras, histórias
contadas com fantoches ou representadas pelas próprias crianças, brincadeiras em
grupo, para que seja trabalhado a organização e o trabalho em equipe, entre inúmeras
outras atividades que podem ser propostas.
Isso desde que as mesmas ofereçam prazer e desafios de acordo com o
desenvolvimento da criança.
Lima, psicóloga, pesquisadora, especialista e consultora internacional em
desenvolvimento humano, afirma que:
Brincar é fundamental, pois é uma das formas principais que ela dispõe nesta fase de sua vida para aprender, aprender sobre os objetos que estão a sua volta, aprender sobre as pessoas e sobre si própria. É através do jogo, da brincadeira, que ela vai aprender quais são as regras que regulam as relações entre as pessoas do seu grupo, e o papel que cada uma desempenha (LIMA, 1992,p.13).
Assim como na fase anterior a hora do banho, do sono, e da alimentação são
também de grande importância, dentro da instituição de educação infantil. È durante
estas atividades que as educadoras terão maior possibilidade de levarem as crianças a
formarem bons hábitos, e lhes oferecer uma maior independência em relação a si
mesma.
Dentro de todas atividades propostas, o educador deve também ter noções de
primeiros socorros, para possíveis acidentes, que são muito comuns com crianças
pequenas como: quedas, mordidas, sangramento nasal, ingestão de corpo estranho ou
substâncias tóxicas, ferimentos ou lesões.
A situação de vigilância no trabalho com crianças pequenas vão se modificando de acordo com seu desenvolvimento. Muitos destes acidentes estão diretamente relacionados com a capacidade de movimentação da criança, sua necessidade de independência, seu desconhecimento do perigo e sua curiosidade (TADDEI, 2006,p.155) .
Cabe então ao educador de crianças pequenas, estar ciente sobre o que fazer
diante de um acidente e ter a percepção de como preveni-los, respeitando a autonomia
da criança e buscando a promoção de espaços seguros.
As crianças dentro da instituição de educação infantil devem ser “separadas” por
idade, pois assim estarão mais ou menos no mesmo nível de desenvolvimento, e
atividades, alimentação, formação de hábitos, poderão ser promovidas de forma mais
eficiente, pois estarão de acordo e adequadas as características de cada fase.
Como é afirmado nos parâmetros de qualidade da educação infantil (2008a,
p.35) que “a composição dos grupos ou das turmas de crianças deve levar em contas
tanto a quantidade equilibrada de meninos e meninas como as características de
desenvolvimento das crianças”.
Assim é através do convívio saudável nas instituições de educação infantil, que
as crianças irão também formar, hábitos, sua personalidade e comportamentos em
relação ás pessoas de seu convívio.
Nessas circunstancias, o papel do professor é drasticamente ampliado. É ele quem terá maior possibilidade de promover a criança com os estímulos necessários a seu desenvolvimento. Já que nessa fase a plasticidade neural é máxima, os grandes escultores do cérebro infantil são os atendentes das creches e os professores da pré-escola (ZANLUCHI, 2000, p.7).
Os professores e os demais profissionais que fazem parte destas instituições
devem valorizar igualmente atividades de alimentação, leitura de histórias, troca de
fraldas, desenho, música, banho, jogos coletivos, brincadeiras, sono, descanso, entre
varias outras propostas realizadas cotidianamente com as crianças.
Considerações finais
Após concluir este estudo, percebemos o quanto é importante para a educação e
para a sociedade, estar ciente das fases pelas quais as crianças passam, para que haja
uma melhor compreensão das mesmas e de seus atos, e para que seja possível, atuar
de maneira a contribuir significativamente em seu desenvolvimento e
conseqüentemente em suas vidas, sem passar por cima de suas capacidades em
certos momentos de seu processo evolutivo.
É preciso conhecer a criança, estar ciente de sua presença na historia de nossa
sociedade,para que haja uma melhor compreensão de certas atitudes e pensamentos
relacionado á criança; pois conhecendo nosso passado, compreendemos nosso
presente e poderemos atuar, para contribuir em nosso futuro.
Para a sociedade e em especial para o educador, conhecer a criança, estar
ciente dos períodos por qual ela irá passar, é ter em mãos uma forte ferramenta de
atuação, pois conhecendo a criança, o educador estará ciente de suas capacidade em
cada etapa, e poderá subsidiar suas propostas pedagógicas e atuar da maneira
possível, nesta fase tão importante da vida do ser humano.
A infância é uma fase de suma importância na vida do ser humano, é durante ela
que o individuo irá formar suas principais características, e esta deve ser compreendida
e tratada como tal.
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