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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
JÚLIA PANZARIN SAVIETTO
Análise de Impactos Ambientais da Restauração de
Pavimentos Asfálticos pela Avaliação do Ciclo de Vida
São Carlos
2017
JÚLIA PANZARIN SAVIETTO
Análise de Impactos Ambientais da Restauração de um
Pavimento Asfáltico pela Avaliação do Ciclo de Vida
Dissertação apresentada à Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, como parte
dos requisitos para a obtenção do título de Mestre
em Ciências.
Área de concentração: Infraestrutura de transportes.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Paula Furlan
Versão Corrigida
São Carlos
2017
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINSDE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Savietto, Júlia Panzarin S263a Análise de Impactos Ambientais da Restauração de
Pavimento Asfáltico pela Avaliação do Ciclo de Vida /Júlia Panzarin Savietto; orientadora Ana Paula Furlan.São Carlos, 2017.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes e Área de Concentração emInfraestrutura de Transportes -- Escola de Engenhariade São Carlos da Universidade de São Paulo, 2017.
1. Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). 2. Impacto Ambiental. 3. Pavimentação. 4. Pavimento asfáltico. 5.Restauração. 6. EDIP. I. Título.
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Ana Paula Furlan, por ter aceitado o desafio de me
orientar em um tema novo para ela, com esta pesquisa pude crescer muito
cientificamente e intelectualmente.
Ao Professor Associado Aldo Roberto Ometto, por ser um elemento chave para
o desenvolvimento desta dissertação, por ter participado na minha qualificação e por ter
ministrado a disciplina "Engenharia do Ciclo de Vida", tão importante para meu
conhecimento de ACV e Economia Circular.
A todos os funcionários e docentes do Departamento de Engenharia de
Transportes da EESC/USP. Agradecimentos especiais ao Professor Doutor Glauco
Tulio Pessa Fabbri, pela orientação no programa PAE e por tentar me ajudar na busca
do tema da dissertação, no começo do meu mestrado; ao Professor Titular José Leomar
Fernandes Júnior, pela contribuição na minha qualificação e por se dispor a ajudar
quando eu precisasse; e, por fim, à funcionária Benê, por sua simpatia e seu café que
ajudou em minhas tardes no departamento.
A todos meus familiares, amigos, e colegas do departamento, algumas vezes por
ajudarem na minha pesquisa e darem algumas sugestões valiosas, outras por passarem
palavras de incentivo ou simplesmente por estarem por perto e me ajudarem a
descontrair nos momentos de estresse.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
bolsa de estudos concedida.
.
http://www.stt.eesc.usp.br/index.php/pessoal/85-docentes/glauco/126-glauco-tulio-pessa-fabbrihttp://www.stt.eesc.usp.br/index.php/pessoal/85-docentes/glauco/126-glauco-tulio-pessa-fabbri
RESUMO
SAVIETTO, J. P. Análise de Impactos Ambientais da Restauração de um Pavimento
Asfáltico pela Avaliação do Ciclo de Vida. 2017. Dissertação (Mestrado) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
A infraestrutura de transportes traz benefícios sociais e econômicos, porém traz também
inevitáveis impactos ambientais que não podem ser negligenciados, como supressão da
vegetação local e poluição atmosférica. Esses impactos ambientais podem ser quantificados e
analisados pela técnica Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que cria a possibilidade de
contemplar o aspecto ambiental na tomada de decisões e pode trazer melhor compreensão da
cadeia produtiva. Na última década, é crescente a utilização dessa técnica na área de
pavimentação, entretanto ainda é pouco usual no Brasil. O objetivo dessa dissertação é avaliar
os impactos ambientais produzidos por duas técnicas de restauração de pavimentos asfálticos,
comparando-se os resultados de ACV que observaram as fases de produção de materiais e de
transportes. Dois cenários de restauração foram estudados, o primeiro considerou uma mistura
asfáltica composta exclusivamente por materiais virgens (restauração convencional), e o
segundo, considerou uma mistura asfáltica composta por 35% de Reciclado de Pavimento
Asfáltico (RPA). As ACV foram procedidas de três maneiras distintas: (a) com o banco de
dados e software alemão GaBi e o método EDIP 1997, (b) com o banco de dados da USLCI e
pelo método do EDIP 1997, e (c) com software PavementLCA e o método TRACI. Os
resultados obtidos a partir dos três diferentes procedimentos indicaram que a restauração com
RPA apresentou redução dos impactos ambientais potencias quando comparada com a
restauração convencional. Observou-se também que, para a maioria das análises, a atividade
que mais contribuiu para os impactos das duas estratégias de restauração foi a de produção
dos materiais. A análise de sensibilidade dos resultados obtidos com o GaBi e com o USLCI
mostrou diferenças consideráveis, causadas pelas diferentes fontes de dados. Apesar de ser
uma técnica em crescimento, a ACV ainda apresenta limitações quando aplicada a
pavimentos, sobretudo, pela complexidade de seu ciclo de vida e pelas incertezas que
envolvem sua elaboração, assim, estudos sobre ACV devem continuar, a fim de padronizar a
técnica para a área e, com o tempo, obter resultados cada vez mais precisos.
Palavras chave: Impactos ambientais. Pavimento asfáltico. Avaliação do Ciclo de Vida
(ACV). Reciclado de Pavimento Asfáltico (RPA). EDIP.
ABSTRACT
SAVIETTO, J. P. Environmental Impact Analysis of Asphalt Pavements Rehabilitation
by Life Cycle Assessment. 2017. Thesis (Master) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
Transportation infrastructure brings social and economic benefits, but it also brings
unavoidable environmental impacts that can not be neglected, such as suppression of local
vegetation and air pollution. These environmental impacts can be quantified and analyzed by
the Life Cycle Assessment (LCA) technique, which creates the possibility of contemplating
the environmental aspect in decision making and can provide a better understanding of the
production chain. In the last decade, the use of this technique in the area of pavement is
increasing, although not very usual in Brazil. The goal of this thesis is to analyze the
environmental impacts produced by two asphalt pavement rehabilitation techniques,
comparing the LCA results of material production and transportation phases. Two
rehabilitation scenarios were studied, the first one considering an asphalt mixture composed
exclusively by raw materials (conventional rehabilitation), and the second one considered an
asphalt mixture composed by 35% of Reclaimed Asphalt Pavement (RAP). The LCA was
done in three different ways: (a) with the German database and software GaBi and the EDIP
1997 method, (b) with the USLCI database and the EDIP 1997 method, and (c) with
PavementLCA software and the TRACI method. The results obtained from the three different
procedures indicated that the rehabilitation with RPA showed reduction of the potential
environmental impacts when compared with the conventional rehabilitation. It was also
observed that for the majority of the analysis, the activity that contributed the most to the
impacts of the two rehabilitation strategies was the material production one. The sensitivity
analysis of the results obtained with GaBi and with USLCI showed considerable differences
in their values, caused by the different data sources. Although it is a growing technique, LCA
still presents limitations when applied to pavements, mainly due to the complexity of its life
cycle and the uncertainties involved in its elaboration, so studies about LCA should continue
with the aim of standardizing the technique for the area and, over time, achieve increasingly
more accurate results.
Keywords: Environmental impacts. Asphalt pavement. Life Cycle Assessment (LCA).
Reclaimed Asphalt Pavement (RAP). EDIP.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estruturas típicas para (a) pavimento rígido e (b) pavimento flexível (BERNUCCI
et al., 2008) ............................................................................................................................... 25
Figura 2 - Evolução a condição do pavimento (Adaptado de KANDHAL; MALLICK,
1997) ......................................................................................................................................... 26
Figura 3 - Rolo de corte contido em máquinas fresadoras (BERNUCCI et al., 2006) ........... 27
Figura 4 - Esquema de equipamento de reciclagem a quente no local através do equipamento
da Wirtgen (DNIT, 2006) ......................................................................................................... 30
Figura 5 - Fases de uma Avaliação do Ciclo de Vida (Adaptado de ABNT, 2009a) .............. 33
Figura 6 - Exemplo de sistema e de fronteira de um sistema de ACV (ABNT, 2009a). ........ 35
Figura 7 - Efeito do método de alocação nos resultados de impacto ambiental (CHEN et al.,
2010) ......................................................................................................................................... 38
Figura 8 - Exemplo de classificação e caracterização para obtenção de valores de AICV
(PE INTERNATIONAL, 2013) ............................................................................................... 43
Figura 9 - Impacto ambiental potencial de aquecimento global (PE INTERNATIONAL,
2013) ......................................................................................................................................... 44
Figura 10 - Impacto ambiental potencial de acidificação (PE INTERNATIONAL, 2013) .... 45
Figura 11 – Impacto ambiental potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico
(PE INTERNATIONAL, 2013) ............................................................................................... 46
Figura 12 - Exemplo de avaliação de consumo de energia total (WEILAND; MUENCH,
2010). ........................................................................................................................................ 49
Figura 13 – Fases do ciclo de vida típico de pavimentos e seus componentes (SANTERO;
MASANET; HORVATH, 2011a) ............................................................................................ 51
Figura 14 - Quantidade de artigos publicados sobre o tema disponíveis no dia 30/06/2016 .. 55
Figura 15 - Sistemas dos dois cenários sugeridos, sendo (a) cenário convencional, e (b)
cenário com reciclagem ............................................................................................................ 59
Figura 16 – Impacto potencial de acidificação, em kg SO2eq., com dados do GaBi e do
USLCI ....................................................................................................................................... 76
Figura 17 - Impacto potencial de ecotoxicidade, em m³ de solo, com dados do GaBi e do
USLCI ....................................................................................................................................... 77
Figura 18 - Impacto potencial de aquecimento global, em kg CO2eq., com dados do GaBi e
do USLCI .................................................................................................................................. 78
Figura 19 - Impacto potencial de toxicidade humana do ar, em m³ de ar, com dados do GaBi
e do USLCI ............................................................................................................................... 80
Figura 20 - Impacto potencial de toxicidade humana do solo, em m³ de solo, com dados do
GaBi e do USLCI ...................................................................................................................... 80
Figura 21 - Impacto potencial de toxicidade humana da água, em m³ de água, com dados do
GaBi e do USLCI ...................................................................................................................... 81
Figura 22 – Impacto potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico, em kg C2H4
eq., com dados do GaBi e do USLCI ....................................................................................... 82
Figura 23 - Resultados de potencial de consumo de energia, em MJ, com dados do GaBi e
com dados do USLCI ............................................................................................................... 83
Figura 24 – Ganho ambiental dos aspectos ambientais da restauração com RPA. ................. 84
Figura 25 - Contribuição relativa dos resultados de impactos potenciais e energia com os
dados coletados do software GaBi, onde (1) é referente ao cenário convencional, e (2)
referente ao cenário com RPA ................................................................................................. 86
Figura 26 - Contribuição relativa dos resultados de impactos potenciais e energia com os
dados coletados do USLCI, onde (1) é referente ao cenário convencional, e (2) referente ao
cenário com RPA ..................................................................................................................... 86
Figura 27 - Comparação percentual dos impactos potenciais totais e consumo de energia total
entre os cenários analisados ..................................................................................................... 87
Figura 28 - Resultados obtidos pelo software PavementLCA de potencial de acidificação, em
kg SO2eq. ................................................................................................................................. 89
Figura 29 - Resultados obtidos pelo software PavementLCA de potencial de aquecimento
global, em kg CO2eq. ............................................................................................................... 89
Figura 30 - Resultados obtidos pelo software PavementLCA de consumo de energia, em MJ
.................................................................................................................................................. 89
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Reflexos ambientais das ações causadas pela infraestrutura de transportes........... 24
Tabela 2 - Exemplos de unidade funcional (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997). .... 36
Tabela 3 - Exemplos de substâncias que contribuem para diferentes impactos ambientais
(Adaptado de WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997) ..................................................... 41
Tabela 4 - Fatores de equivalência para o impacto de aquecimento global (WENZEL;
HAUSCHILD; ALTING, 1997) ............................................................................................... 42
Tabela 5 – Diferentes estratégias de manutenção e reabilitação de um pavimento para estudo
de ACV comparativa (SANTOS et al., 2014) .......................................................................... 52
Tabela 6 - Diferenças nos parâmetros da ACV de pavimentos entre estudos encontrados na
literatura .................................................................................................................................... 53
Tabela 7 - Materiais necessários para o reforço estrutural ...................................................... 62
Tabela 8 - Equipamentos necessários para as duas soluções de reforço estrutural ................. 62
Tabela 9 - Procedimentos necessários para o recapeamento ................................................... 62
Tabela 10 - Massa específica de misturas asfálticas em relação ao teor de asfalto
(BERNUCCI et al., 2008)......................................................................................................... 63
Tabela 11 - Equipamentos necessários e suas especificações e seus consumos de diesel ...... 64
Tabela 12 - Massa, em quilogramas, de materiais requeridos para a mistura asfáltica
convencional e com RPA ......................................................................................................... 67
Tabela 13 - Quantidade de equipamentos e diesel consumido para as atividades de transporte
.................................................................................................................................................. 67
Tabela 14 - Processos fornecidos pelo banco de dados GaBi utilizados para a ACV ............. 68
Tabela 15 - Processos fornecidos pelo banco de dados USLCI utilizados para a ACV .......... 69
Tabela 16 - Considerações tomadas para a utilização do programa PavementLCA ................ 70
Tabela 17 – Impacto potenciais da AICV, em valores absolutos, utilizando os dados do GaBi
.................................................................................................................................................. 74
Tabela 18 - Valores absolutos encontrados na AICV utilizando os dados do USLCI ............. 75
Tabela 19 – Impactos potenciais obtidos a partir do PavementLCA ....................................... 88
Tabela 20 - Dados do USLCI de input do processo “Petroleum refining, at refinery” ......... 101
Tabela 21 - Dados do USLCI de output do processo Petroleum refining, at refinery ........... 102
Tabela 22 - Dados de input e output USLCI do processo “Transport, single unit truck, diesel
powered” ................................................................................................................................ 103
Tabela 23 - Dados de input e output USLCI do processo “Limestone, at mine” .................. 103
Tabela 24 - Cálculo de quantidade total de mistura asfáltica ................................................ 104
Tabela 25 - Cálculo para teor de agente rejuvenescedor e de teor de asfalto adicional ........ 104
Tabela 26 - Cálculos para consumo de diesel, na atividade de transporte para aterro .......... 104
Tabela 27 - Cálculos para consumo de diesel, na atividade de transporte para local de
restauração ............................................................................................................................. 105
Tabela 28 – Cálculos de AICV dos dados coletados da USLCI para o processo “Petroleum, at
refinery” (continua) ................................................................................................................ 106
Tabela 29 - Cálculos de AICV dos dados coletados da USLCI para o processo “Transport,
single unit truck, diesel powered” .......................................................................................... 108
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AC Potencial de acidificação
ACV Avaliação do Ciclo de Vida
AG Potencial de aquecimento global
AICV Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida
DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
EN Potencial de consumo de energia
ET Potencial de ecotoxicidade
FF Potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico
ICV Inventário do Ciclo de Vida
RPA Reciclado de Pavimento Asfáltico
TA Potencial de toxicidade humana do ar
TG Potencial de toxicidade humana da água
TS Potencial de toxicidade humana do solo
USACE U.S. Army Corps of Engineers
USLCI United States Life Cycle Inventory
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 19
1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 21
1.2 ESTRUTURA DO TEXTO................................................................................... 21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 23
2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS NA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES .. 23
2.1.1 Restauração com reforço estrutural ............................................................ 27
2.1.2 Restauração com Reciclado de Pavimento Asfáltico................................... 29
2.2 PANORAMA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA ................................... 31
2.3 DESENVOLVIMENTO DE UMA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA ......... 32
2.3.1 Definição de objetivo e escopo .................................................................... 33
2.3.2 Inventário do Ciclo de Vida (ICV) ............................................................... 39
2.3.3 Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV) .......................................... 40
2.3.4 Interpretação................................................................................................ 48
2.4 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE PAVIMENTOS ................................. 49
3. METODOLOGIA .................................................................................................... 57
3.1 ESCOPO ................................................................................................................ 58
3.2 INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA ................................................................. 66
3.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................... 71
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 73
4.1 IMPACTOS POTENCIAIS: DADOS DO GaBi e MÉTODO EDIP .................... 73
4.2 IMPACTOS POTENCIAIS: DADOS DO USLCI e MÉTODO EDIP .................. 74
4.3 IMPACTOS POTENCIAIS: COMPARAÇÃO ENTRE GaBi E USLCI .............. 76
4.3.1 Potencial de Acidificação ............................................................................. 76
4.3.2 Potencial de ecotoxicidade ........................................................................... 77
4.3.3 Potencial de aquecimento global ................................................................. 78
4.3.4 Potencial de toxicidade humana do ar ......................................................... 79
4.3.5 Potencial de toxicidade humana do solo ...................................................... 80
4.3.6 Potencial de toxicidade humana da água ..................................................... 81
4.3.7 Potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico ......................... 82
4.3.8 Consumo de energia ..................................................................................... 83
4.4 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ......................................................................... 84
4.5 IMPACTOS POTENCIAIS: PavementLCA .......................................................... 88
5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 91
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 95
ANEXO ............................................................................................................................. 101
19
1. INTRODUÇÃO
Os meios de transportes são ferramentas para o crescimento econômico de um país, e
é por meio de sua infraestrutura que as pessoas se locomovem e têm acesso a outras
necessidades, como saúde, lazer e educação. O transporte está intimamente ligado a diversas
atividades humanas, sendo um meio que possibilita os deslocamentos necessários às pessoas e
cargas.
Porém, sabe-se que os sistemas de transportes causam impactos negativos ao meio
ambiente, tais como remoção da cobertura vegetal, poluição atmosférica e consumo de
recursos naturais e de energia. Por isso, atualmente existe o reconhecimento da necessidade de
considerar o fator ambiental para a tomada de decisões (FOGLIATTI; FILIPPO; GOUDARD,
2004). Neste aspecto. a escolha dos materiais utilizados na construção civil e de pavimentos
se torna um campo importante para uma engenharia mais sustentável (SOARES; SOUZA;
PEREIRA, 2006).
Estudos de emissões causadas pela operação dos transportes já são comuns para a
comunidade científica, e já são considerados como um possível foco de redução de impacto
ambiental na área de transportes. Entretanto, o impacto ambiental vai muito além da fase de
operação do sistema (SANTERO; MASANET; HORVATH, 2011a).
No passado o governo Brasileiro incentivou as rodovias como meio principal de
transporte, isso trouxe uma série de impactos ambientais, tais como movimentação de terra,
poluição atmosférica, desmatamento e alteração na drenagem local (PINTO, 2011). Além
disso, na construção da estrutura de um pavimento são consumidos recursos naturais como
materiais pétreos, ligantes asfálticos e hidráulicos, lançando posteriormente os efluentes e
resíduos gerados sobre o meio ambiente (FOGLIATTI; FILIPPO; GOUDARD, 2004).
20
A construção de pavimentos asfálticos apresenta-se como um foco de impacto
ambiental que deve ser considerado e analisado (FOGLIATTI; FILIPPO; GOUDARD, 2004).
Como observado por Mroueh; Eskola e Laine-Ylijoki (MROUEH; LAINE-YLIJOKI;
ESKOLA, 2001), a produção e o transporte de materiais utilizados nas construções de
estradas produzem significativo impacto ambiental negativo, e as produções de ligantes
asfálticos, cimento Portland e materiais pétreos estão relacionadas a altos consumos
energéticos.
Nas últimas décadas, vem se estabelecendo o conceito de transporte sustentável, que
é fundamentado na compensação do inevitável impacto negativo de suas ações. Esses
impactos ambientais devem ser identificados e estudados para que ações preventivas ou de
remediação sejam possíveis. Este tipo de estudo pode ser realizado empregando-se a técnica
da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), considerada uma técnica eficiente para compreender e
lidar com os impactos causados pela fabricação de produtos. Ela pode melhorar o
desempenho ambiental de produtos e serviços em um ou mais pontos de seu ciclo de vida
(ABNT, 2009a).
Em alguns países, a ACV tem sido utilizada como instrumento de gerenciamento que
analisa a construção e a manutenção de pavimentos. Exemplos de países que iniciaram esse
tipo de pesquisa são Suíça, Inglaterra, França, Estados Unidos e Portugal. Como exemplo de
pesquisas realizadas nesses países cita-se, respectivamente: Stripple (2001), Huang (2007),
Ventura e Jullien (2009), Weiland e Muench, (2010) e Araújo (2014). Entretanto, no Brasil, o
uso da ACV na área de pavimentação ainda é incipiente.
Essa pesquisa se insere num contexto de análise e comparação dos impactos
ambientais causados por dois processos de restauração de pavimento asfáltico, a partir da
utilização da técnica de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Além disso, ela também propõe
fomentar a discussão sobre soluções para a redução e a remediação dos impactos ambientais
causados na indústria da pavimentação.
21
1.1 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como objetivos:
1. Utilizar a técnica Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) para quantificar e comparar
impactos potenciais de duas estratégias de restauração de pavimento asfáltico diferentes,
sendo eles a restauração convencional (que utiliza apenas matérias primas virgens) e
restauração com 35% de Reciclado de Pavimento Asfáltico (RPA);
Esta ACV foi realizada para a realidade brasileira e serve como apoio à investigação
sobre qual tipo de restauração de pavimento asfáltico é preferível em termos de impactos
ambientais, analisando, em longo prazo, se a utilização de RPA na restauração do pavimento é
uma alternativa mais sustentável quando comparada à uma convencional.
2. Realizar ACVs com diferentes fontes de dados e comparar os resultados obtidos,
analisando a sensibilidade do estudo, ou seja, se essas mudanças técnica provocam diferenças
significativas nos resultados finais. As três fontes de dados são:
(a) o software alemão GaBi;
(b) o banco de dados norte-americano USLCI; e
(c) o software canadense PavementLCA.
3. Avaliar a aplicabilidade da ACV como técnica de estudo ambiental para a área da
pavimentação, analisando criticamente aspectos positivos, pontos negativos e fontes de
imprecisões relacionadas à técnica quando aplicada no processo de restauração de pavimentos
asfálticos.
1.2 ESTRUTURA DO TEXTO
No capítulo “Revisão Bibliográfica” foi abordada a técnica de ACV e como ela é
desenvolvida, e explicada detalhadamente cada uma de suas quatro fases. Foi abordado
também sobre o produto que será analisado nesta dissertação: pavimentos asfálticos e técnicas
de sua restauração.
22
As quatro fases que compõem a ACV foram dissolvidas ao longo desta dissertação.
A fase de escopo foi alocada no capítulo quatro: “Metodologia”, e o capítulo “Apresentação e
Análise de Resultados” contêm as três últimas fases da ACV: Inventário do Ciclo de Vida,
Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida e Interpretação.
Por fim, no último capítulo, de número seis, foram apresentadas as conclusões do
trabalho e algumas recomendações para pesquisas futuras.
23
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS NA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES
É por meio da infraestrutura de transportes que cargas e pessoas são locomovidas,
sendo tal infraestrutura, ferramenta para o crescimento econômico de um país. Para D´Agosto
(2015), cada uma das fases de planejamento, projeto, construção, operação e desmobilização,
que juntas compõem o ciclo de vida desta infraestrutura, causa impactos positivos ou
negativos para a sociedade, para o meio ambiente e o meio físico. As fases e as consequências
negativas para o meio ambiente são apresentadas na Tabela 1.
A detecção dos prováveis impactos ambientais decorrentes da construção de uma
rodovia não é o único desafio, é recomendável também aplicar métodos capazes de traduzir e
quantificar efetivamente esses efeitos, para isso, é necessária uma visão interdisciplinar que
correlacione a atividade humana com seus possíveis impactos ambientais. Com esse tipo de
análise pode-se (a) criar uma percepção mais detalhada das consequências que essas
atividades causam ao meio ambiente e (b) definir medidas mitigadoras e remediadoras para
que esses impactos sejam evitados ou controlados
Modelagens e técnicas têm sido desenvolvidas a fim de quantificar os impactos
propiciados pela intervenção humana no meio ambiente. A Avaliação do Ciclo de Vida
(ACV) tem se consolidado como uma técnica para compreender os impactos causados pela
fabricação de produtos, que pode melhorar seu desempenho ambiental (ganho ou perda
ambiental, medidos através de indicadores) em um ou mais pontos de seu ciclo de vida
(ABNT, 2009a, 2009b). Na última década, a ACV tem sido empregada na avaliação do
desempenho ambiental de pavimentos e tem mostrado resultados importantes no que se refere
24
não somente à quantificação, ao controle e à prevenção de impactos ambientais, mas também
como uma ferramenta de gestão da rede viária (CORMIER; THÉBEAU, 2003).
Tabela 1 - Reflexos ambientais das ações causadas pela infraestrutura de transportes
(Adaptado de D’Agosto, 2015)
No que se refere à construção das estruturas de pavimentos, cada classe de
pavimento deve produzir impactos específicos, em função dos materiais empregados na
construção de suas camadas. Os pavimentos rodoviários podem ser classificados em duas
grandes categorias: asfáltico (flexível) e o de concreto de cimento Portland (rígido).
O pavimento asfáltico é composto por algumas camadas, mas, pode ser minimamente
representado por um revestimento asfáltico sobre uma base de material granular ou
cimentado, já o pavimento rígido é composto por uma placa de concreto de cimento Portland
assentada sobre uma base de material granular ou concreto pobre rolado.
Em termos estruturais, o pavimento flexível necessita de um maior número de
camadas para distribuir as tensões do tráfego em níveis admissíveis pelo subleito; já o
pavimento rígido, devido às suas altas rigidez e resistência, pode distribuir melhor as tensões
do tráfego, demandando um número reduzido de camadas (BERNUCCI et al., 2008; HAAS;
HUDSON; ZANIEWSKI, 1994; HUANG, 1993; YODER; WITCZAK, 1975). Na Figura 1
está ilustrado como se apresentam as estruturas típicas de um pavimento flexível e de um
pavimento rígido.
Fases Ações Consequências
Co
nstr
ução
Intervenções iniciais (preparação)
Desmatamento/desapropriação
Movimentações de terra (corte e
aterro, empréstimos e bota-foras,
terraplenagem)
Obras civis (Infraestrutura, OAC/OAE)
Remoção da cobertura
vegetal/habitações
Erosão do solo
Poluição do ar, da água e do solo
Poluição sonora
Desperdício de energia
Op
era
ção
Operação
Conservação
Manutenção
Erosão do solo
Poluição do ar, da água e do solo
Poluição sonora
Desperdício de energia
Morte de animais
De
sm
ob
iliza
ção
Intervenções iniciais (preparação)
Movimentos da terra
Reflorestamento
Obras civis
Restituição da cobertura vegetal
Restituição da fauna
Poluição do ar, da água e do solo
Poluição sonora
Desperdício de energia
25
Figura 1 - Estruturas típicas para (a) pavimento rígido e (b) pavimento flexível (BERNUCCI et al., 2008)
Nos pavimentos flexíveis, as camadas de base, de sub-base e reforço de subleito são
compostas por materiais pétreos e geotécnicos estabilizados (ou não) com ligantes
hidráulicos, por vezes, rejeitos e subprodutos industriais são utilizados. O número de camadas
do pavimento asfáltico pode aumentar por motivos econômicos, ou seja, incluem-se camadas
de sub-base e reforço de subleito na tentativa de se ter reduzida a espessura da base. Essa
“compensação” das espessuras traz como consequência um consumo maior de materiais, em
termos absolutos. Além disso, pode ser requerido maior consumo de energia para a construção
dessas camadas.
Outras demandas de insumos e energia devem surgir além daquelas do processo
construtivo, porque ao longo da vida de serviço dos pavimentos se desenvolvem mecanismos
de deterioração, culminando em defeitos que podem afetar (a) a condição de rolamento, em
termos de trafegabilidade e conforto dos usuários, e/ou (b) capacidade de carga, em termos de
se ter comprometida a estrutura do pavimento (BERNUCCI et al., 2008).
Os processos de deterioração são intrínsecos e são promovidos pelas solicitações do
tráfego e potencializados pela ação climática. Como os processos ocorrem ao longo do tempo,
26
há necessidade da realização de atividades de manutenção e reabilitação ao longo da vida do
pavimento para garantir a qualidade do pavimento durante sua vida em serviço
(FERNANDES JR; ODA; ZERBINI, 2011).
A manutenção consiste de ações para preservar a qualidade da superfície do
pavimento, para que deteriorações em estágios graves sejam evitadas. No entanto, mesmo
com manutenção constante, os pavimentos eventualmente necessitam de intervenções de
maior porte, como as ações de restauração, que consistem da recuperação do pavimento com
elevado grau de deterioração, levando a estender a vida de serviço do pavimento, melhorando
consideravelmente a qualidade da estrutura e criando um novo ciclo de deterioração, como
apresentado na Figura 2.
Figura 2 - Evolução a condição do pavimento (Adaptado de KANDHAL; MALLICK, 1997)
A manutenção de pavimentos demanda, em maior ou menor grau, o consumo de
materiais e energia, por exemplo, a selagem de trincas, efetuada como atividade corretiva,
consome, em geral, menos material que as atividades de reabilitação de pavimentos. A
reabilitação pode ser efetuada considerando duas categorias técnicas: (1) a restauração com
reforço estrutural, que deve consumir mistura asfáltica, e (2) a reconstrução, que se refere à
remoção e substituição total da estrutura do pavimento, demandando material pétreo e
geotécnico, ligante hidráulico (eventualmente) e mistura asfáltica (FERNANDES JR; ODA;
ZERBINI, 2011).
27
Enfim, a estratégia de manutenção e reabilitação varia em função do diagnóstico da
condição do pavimento, que deve ser feita periodicamente para que a melhor solução de
recuperação do pavimento seja encontrada (HAAS; HUDSON; ZANIEWSKI, 1994).
2.1.1 Restauração com reforço estrutural
O reforço estrutural, também chamado de recapeamento, é uma técnica de
restauração de pavimentos muito usada que, quando projetada e executada adequadamente,
melhora apreciavelmente o desempenho do pavimento. O reforço estrutural consiste da
aplicação de uma nova camada de rolamento composta de mistura asfáltica superposta à
superfície de um pavimento deteriorado, proporcionando melhor condição estrutural do
pavimento e melhor condição de rolamento ao usuário (BALBO, 2007).
Para o lançamento e a compactação da nova camada de mistura asfáltica são
procedidas a extração parcial ou total da camada deteriorada e a reperfilagem do pavimento, o
que são normalmente obtidas por meio de fresagem. A fresagem pode ser feita a quente ou a
frio e é realizada por corte ou desgaste de uma espessura pré-determinada da camada asfáltica
a partir de processo mecânico. Com ela, pode-se minimizar a propagação de trincas e reduzir
deformações de superfície (DNIT, 1997; BONFIM, 2007).
A fresagem é realizada com o uso de máquinas especiais que contenham rolos que
permitam este tipo de corte. Um rolo de corte típico de máquinas fresadoras é apresentado
Figura 3.
Figura 3 - Rolo de corte contido em máquinas fresadoras (BERNUCCI et al., 2006)
28
Segundo Bonfim (2007), com relação á temperatura do processo existem dois tipos
de fresagem: a frio e a quente. A grande diferença é que, apesar do maior gasto de energia
para o pré-aquecimento do revestimento na fresagem a quente, este revestimento apresenta,
em contato com a alta temperatura, menor resistência ao corte.
É importante lembrar que a grande quantidade de materiais necessária para a
construção e manutenção de pavimentos, ainda mais atrelada à vasta extensão de pavimentos
asfálticos no país, favorece para o consumo intenso, mas, pode levar à escassez de recursos
naturais.
Essa problemática foi exposta, por exemplo, na crise do petróleo da década de 70,
onde foi percebida a necessidade de gerenciar melhor os recursos naturais e tentar reduzir seu
consumo para evitar a escassez (BONFIM, 2007). Além desse aspecto, a produção de
agregado também está associada a impactos ambientais. Como exemplo cita-se o trabalho de
Cabral, Pereira e Alves (2012), onde foi apontada uma lista de impactos diretos e indiretos
decorrentes da exploração de pedreiras, tais como modificação e destruição da vegetação
nativa, poluição sonora e poluição do ar e danos à saúde dos trabalhadores.
Com a evolução das técnicas executivas de reforço estrutural, principalmente,
impulsionadas pelo uso da fresagem, surgiram, mais recentemente, soluções de misturas
asfálticas com uso do material fresado.
Assim, quanto aos materiais, dois dos tipos mais comuns de restauração realizados
atualmente são (a) o reforço estrutural convencional, que utiliza apenas matéria prima virgem
na produção da mistura asfáltica, e (b) a restauração envolvendo reciclagem do pavimento,
onde o material fresado é aproveitado (em diferentes proporções) como material na nova
mistura asfáltica.
Destaca-se que a restauração com reciclagem de pavimento é uma técnica recente e
inovadora que garante alguma redução de consumo de materiais de fontes não renováveis, no
entanto, pode demandar maior consumo de energia em função do emprego de equipamentos
adicionais.
29
2.1.2 Restauração com Reciclado de Pavimento Asfáltico
Como alternativa para o reforço estrutural convencional existe a possibilidade de uso
de material reciclado em substituição (parcial) de material virgem na composição de misturas
asfálticas. Existem cinco métodos diferentes de reciclagem de pavimento (KANDHAL;
MALLICK, 1997), sendo eles:
a) reciclagem a frio (cold planning),
b) reciclagem a quente (hot recycling),
c) reciclagem a frio no local (cold in place recycling),
d) reciclagem a quente no local (hot in place recycling) e
e) reciclagem profunda do pavimento (Full depth reclamation).
Para escolher o tipo de reciclagem adequado para cada caso de restauração, além do
estudo de avaliação econômica, devem ser coletados alguns dados preliminares laboratoriais e
de campo que indiquem a composição do pavimento e tipos de estabilizadores que podem ser
usados. Vale lembrar que a mistura asfáltica com RPA ainda pode necessitar de adição de
agregado novo, cimento asfáltico e agente rejuvenescedor (DNIT, 2006).
O processo de reciclagem a quente feita no local inicia-se com a fresagem do
revestimento asfáltico antigo. O material fresado é misturado a agente rejuvenescedor,
agregado pétreo e ligante asfáltico adicionais. Esses materiais são usinados e distribuídos
sobre a superfície fresada do pavimento antigo (preparado com pintura de ligação) e
compactada até que se atinja a densidade requerida.
Dois equipamentos de reciclagem de pavimento asfáltico no local já foram testados
no Brasil: o método Marini e o Wirtgen. O método Marini processa a fresagem a frio e utiliza
de usina móvel modelo Marini, A.R.T. 220. Já no método Wirtgen, a fresagem é feita a
quente e utiliza a usina móvel Remixer da Wirtgen (apresentado na Figura 4).
De modo geral, a reciclagem do pavimento causa duplo benefício ambiental: o
primeiro é a diminuição da exploração de jazidas, e o segundo é o uso reduzido de aterros
sanitários (HUANG, 2007).
30
Figura 4 - Esquema de equipamento de reciclagem a quente no local através do equipamento da
Wirtgen (DNIT, 2006)
Adicionalmente, misturas asfálticas com reciclado (RPA) podem exibir
comportamento mecânico similar ou até superior ao de misturas convencionais, em outras
palavras, o uso de RPA não compromete o desempenho das misturas asfálticas (COPELAND,
2011).
Nos Estados Unidos, a prática de reciclagem de pavimentos é bastante usual e é
considerada uma alternativa mais sustentável que o procedimento tradicional de produção de
misturas asfálticas. Entretanto, no Brasil, a prática de reciclagem na restauração ainda é
pouco usual, havendo algumas limitações para sua aplicação.
Entre essas limitações, a principal se refere ao fato de o RPA apresentar variações
importantes de forma e graduação quando comparado aos materiais pétreos virgens. Porém,
aos poucos, os problemas de controle de qualidade dos materiais vão diminuindo e a
utilização de misturas recicladas está sendo encorajada (DNIT, 2006), sobretudo pelos
aspectos relacionados às economias de material e de energia no processo. Neste quesito, não
somente essas economias, mas também os impactos ambientais podem ser mensurados com
relativa facilidade se aplicado uma avaliação de ciclo de vida.
31
2.2 PANORAMA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA
A técnica da Avaliação do Ciclo de Vida faz parte do conceito de Life Cycle
Management (LCM), sistema de gestão de produto que objetiva a minimização dos impactos
ambientais e socioeconômicos associados a produtos durante todo seu ciclo de vida e sua
cadeia produtiva, auxiliando o desenvolvimento sustentável por meio de uma melhoria
contínua do sistema de produção. A LCM é uma expansão do conceito de produção mais
limpa, que inclui também os conceitos de ciclo de vida e sustentabilidade. Organizações o
utilizam para alcançar seus objetivos de oferecer produtos ou serviços da forma mais
sustentável possível (REMMEN; JENSEN; FRYDENDAL, 2007).
Segundo Remmen, Jensen e Frydendal (2007), o conceito de LCM é um sistema de
gestão de coleta, estruturação e disseminação de informações relacionadas ao produto por
meio de vários programas, conceitos e ferramentas que incorporam aspectos ambientais,
sociais e econômicos de um produto ao longo de todo seu ciclo de vida, sendo aspecto
ambiental conhecido como elemento de atividades, produtos ou serviços de uma organização
que podem interagir com o meio ambiente. O processo do LCM deve ser feito com
transparência tanto dentro quanto fora da organização que a aplica e pode trazer benefícios
para a empresa, tais como visibilidade, melhora da imagem e maior infiltração no mercado.
Existem vários tipos distintos de ferramentas e técnicas para a LCM, incluindo: pensamento
do ciclo de vida, ferramentas, técnicas (tais como a ACV), sistemas e procedimentos.
O conceito de se avaliar o ciclo de vida de produtos e procedimentos teve início entre
as décadas de 60 e 70, quando se iniciou a conscientização de que a manufatura de produtos
causa efeito direto nos recursos do meio ambiente (HUNT; SELLERS; FRANKLING, 1992).
Porém, apenas em 1997, a técnica da ACV começou a ser padronizada com o surgimento da
ISO 14040, que trata dos seus princípios e da sua estrutura. Com o tempo, outras normas da
técnica surgiram, criando assim a série de Normas 14040, que foram compiladas em 2009,
surgindo a ABNT 14044 (2009b).
A Avaliação Ciclo de Vida (ACV) analisa a cadeia produtiva de dado produto desde
a extração e a aquisição da matéria prima até a disposição final do produto após sua
utilização, oferecendo a oportunidade de medir o desempenho ambiental de produtos ou
serviços (ABNT, 2009a; CHEHEBE, 1998). Ela é também considerada uma técnica de gestão
32
ambiental, cujo objetivo é avaliar impactos ambientais potenciais, portanto, não prevê
impactos precisos ou absolutos (ABNT, 2009a).
Segundo Weidema, Ekvall e Heijungs (2009), existem duas abordagens distintas de
Avaliação do Ciclo de Vida, sendo eles a abordagem atribucional e a consequencial. A ACV
atribucional, também considerada do tipo status quo, contábil ou descritiva, apresenta como
objetivo atribuir a um produto definido uma parcela das emissões totais de poluentes e do
consumo de recursos. Os principais fluxos de materiais do sistema do produto de interesse são
descritos desde a extração da matéria-prima até a disposição dos resíduos.
A ACV consequencial é considerada uma abordagem que objetiva avaliar as
consequências ocasionadas por uma mudança de demanda de produto, e tem o objetivo de
estimar como os fluxos de materiais e poluentes mudam como resultado de decisões que
resultam em mudanças. Essa mudança não apresenta sentido temporal, ela é modelada
simplesmente como a comparação entre as condições iniciais do sistema com e sem a
demanda específica. A mudança pode conduzir a consequências tanto no sistema de interesse
quanto fora dele, por meio de cadeias de causa-efeito.
Existe um grande interesse na ACV para tentar compreender e lidar com os impactos
que ocorrem durante a vida de um produto, pois com ela é possível identificar oportunidades
para melhoria do desempenho ambiental do produto, além do possível marketing que pode ser
feito após a aplicação da técnica e das consequentes melhorias (ABNT, 2009a).
2.3 DESENVOLVIMENTO DE UMA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA
No Brasil, o estudo de ACV deve seguir a Norma ABNT 14040, que define seus
princípios e sua estrutura. Sua elaboração é composta por quatro fases, como apresentado no
esquema da Figura 5. Nela se observa que as fases apresentam abordagem interativa, ou seja,
elas podem ser revistas e alteradas durante o andamento do estudo. A seguir são discutidas
com mais detalhes cada uma das quatro fases.
33
Figura 5 - Fases de uma Avaliação do Ciclo de Vida (Adaptado de ABNT, 2009a)
2.3.1 Definição de objetivo e escopo
A definição dos objetivos é a primeira fase de qualquer ACV, pois ela será
fundamental para todas as outras etapas, orientando os aspectos da definição do escopo. Além
disso, o controle de qualidade da ACV também é realizado com base nos requisitos criados
nos objetivos do trabalho (JRC-IES, 2010).
A European Commision orienta como conduzir um estudo de ACV (JRC-IES, 2010)
e aponta alguns aspectos que devem ser abordados e documentados na definição dos objetivos
da ACV, sendo eles:
As aplicações pretendidas dos resultados da ACV. Como exemplos mais comuns de
aplicações pretendidas encontram-se a análise de pontos fracos e comparação de bens
ou serviços. É possível que a aplicação seja combinada com informações econômica
e/ou social;
As limitações relacionadas ao método escolhido, premissas e cobertura dos impactos
que serão analisados;
As razões para a realização do estudo e contexto decisório, ou seja, quais os fatores
de estímulo e motivação e quais as ambições de qualidade dos dados;
34
A quem se pretende comunicar os resultados do estudo. Tal público-alvo pode ser
definido como “interno x externo” e também como “técnico x não técnico”;
Uma ACV pode ser feita com o objetivo de (a) identificar pontos de melhoria de
produtos analisando toda sua cadeia produtiva, comparando as diferentes fases da produção
ou (b) comparar a cadeia produtiva de dois produtos distintos que apresentem a mesma função
a fim de escolher a alternativa mais sustentável entre as opções estudadas (WENZEL;
HAUSCHILD; ALTING, 1997).
Deve-se também definir o escopo do estudo, que delimita todas as atividades e
considerações que nortearão como a ACV será feita. Devido ao caráter iterativo da ACV, seu
escopo pode demandar readaptações durante o desenvolvimento da ACV, pois o
conhecimento do sistema produtivo aumenta com o andamento da avaliação, principalmente
na fase de coleta de dados (CHEHEBE, 1998).
Segundo a ABNT (2009a, 2009b), Wenzel, Hauschild e Alting (1997) e o JRC-IES
(2010) os parâmetros que devem ser delimitados na etapa de escopo são:
Sistema;
Funções do sistema;
Unidade funcional;
Fronteira;
Procedimentos de alocação;
Categorias de impacto e metodologia;
Requisitos de dados;
Pressupostos;
Limitações;
Tipo de análise crítica, se aplicável;
Tipo e formato do relatório requerido para o estudo.
35
2.3.1.1 Sistema e fronteira
Pelas definições da ABNT (2009a), sistema significa o conjunto de processos que
definem o ciclo de vida de um produto, por isso, compreende todo ou parte de seu ciclo de
vida e os fluxos elementares necessários, sendo fluxos elementares definidos como matéria ou
energia retirada do ambiente sem alteração prévia de nenhuma interferência humana.
A ABNT (2009a) define fronteira como o conjunto de critérios que delimitam quais
processos fazem parte do sistema. Um exemplo de sistema delimitado por uma fronteira é
ilustrado na Figura 6. Devido à complexidade e grande extensão em englobar todas as fases
do ciclo de vida, os estudos de ACV podem assumir simplificações de escopo, a fim de
analisar apenas parte do ciclo de vida, como se pode observar nas pesquisas de Azarijafari;
Yahia; Ben amor (2015) e de Santero; Masanet; Horvath, (2011a).
Figura 6 - Exemplo de sistema e de fronteira de um sistema de ACV (ABNT, 2009a).
2.3.1.2 Função e Unidade funcional
A função e a unidade funcional do sistema são os parâmetros centrais de uma ACV. O
primeiro refere-se à finalidade do produto final, sendo que produtos podem oferecer uma ou
mais funções. Unidade funcional, por sua vez, é a definição quantitativa desta(s) função(ões)
(JRC-IES, 2010). Wenzel, Hauschild e Alting (1997) apontam que a unidade funcional deve
36
conter descrições qualitativa e quantitativa do produto, incluindo sua expectativa de vida.
Alguns exemplos de unidade funcional para diferentes produtos são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Exemplos de unidade funcional (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
Produto Quantidade Duração Qualidades
Televisão
Recepção de programas de TV
em cores em uma tela de 28
polegadas
6 horas por
dia durante
10 anos
Definição da imagem,
qualidade do som, números
de canais, controle remoto
Refrigerador
200 litros de compartimento
resfriado a 5ºC com
temperatura ambiente de 25ºC
13 anos
Precisão no controle da
temperatura, prateleiras,
sistema de água derretida
Tinta
Proteção de 1m² de superfície
de parede exterior, exposta a
Sol e chuva
10 anos Sem gotejamento, colorido,
durável
Uma das características da unidade funcional é a localização em que o produto foi
desenvolvido, para ser possível analisar melhor e quantificar o transporte necessário no
processo (JRC-IES, 2010).
Inyim et al. (2016) considera a definição da unidade funcional a etapa mais importante
de uma ACV, pois é ela que quantifica e qualifica o objeto de estudo através das
características do desempenho do pavimento.
Exemplo de unidade funcional utilizado em estudos de ACV de pavimentos é
“quilômetros por faixa”, unidade funcional bastante simplificada que, apesar de fornecer
maior possibilidade de comparação com outros estudos, não abrange a complexidade de um
pavimento real e acarreta em comparações de qualidade pobre. Santos et al. (2014) considerou
em sua unidade funcional tanto as dimensões da seção transversal quanto a vida útil do
pavimento e o tráfego local. Esse maior detalhamento proporciona uma base mais confiável
para comparação entre diferentes projetos (INYIM et al., 2016). As qualidades de um
pavimento que poderiam ser utilizadas na unidade funcional, por exemplo, podem ser
rolamento seguro e confortável, durável e sem trincas.
37
2.3.1.3 Alocação
Uma das dificuldades para a elaboração de uma ACV é a alocação dos dados obtidos.
A definição de alocação na ABNT (2009a) é: “repartição dos fluxos de entrada ou saída de
um processo ou sistema de produto entre o sistema de produto em estudo e outro(s) sistema(s)
de produto”. Por exemplo, na extração e refinação do petróleo recurso são causados impactos
ambientais que devem ser repartidos entre todos os seus derivados, como o diesel, a gasolina e
o asfalto.
Há necessidade de aplicar o procedimento de alocação em dois casos: quando uma
cadeia produtiva gera mais de um produto e quando existe a reutilização de material
desprezado por outro processo de produção. Essa alocação consiste em repartir os impactos
ambientais entre sistemas diferentes (CHEN et al., 2010; WENZEL; HAUSCHILD;
ALTING, 1997).
Os métodos de alocação mais comumente utilizados são (a) alocação física, feita a
partir de valores de massa ou de volume dos materiais analisados, e (b) alocação econômica,
realizado pelo valor de mercado atualizado de cada material que sofrerá a repartição dos
impactos ambientais (JRC-IES, 2010; WEIDEMA, 2000; WENZEL; HAUSCHILD;
ALTING, 1997). Apesar dos dois serem conhecidos mundialmente e aceitos em uma ACV,
ainda sim o método mais utilizado é a alocação física feita a partir de valores de massa, visto
que é o mais simples de ser aplicado, pode trazer resultados confiáveis e não sofre mudanças
ao longo do tempo, como ocorre com a alocação feita com valores econômicos.
Para ilustrar esses dois processos de alocação, toma-se um caso hipotético em que
um caminhão realiza mutualmente o transporte de dois produtos, X e Y, e que os impactos
causados por tal transporte devem ser alocados entre estes dois produtos. Caso a alocação seja
feita em valores de massa, os impactos ambientais serão repartidos pela diferença em massa
entre os dois produtos, ou seja, se X apresentar, dentro do caminhão, maior massa comparado
com Y, ele apresentará também maior proporção dos impactos ambientais. Entretanto, caso a
alocação seja feita em valores econômicos, e se Y for um produto de valor maior que X,
mesmo em menor quantidade, ele pode carregar a maior parte dos impactos do transporte
(ABNT, 2014).
38
Existe também a possibilidade de não considerar o processo de alocação no estudo,
porém para isso é necessário realizar procedimentos para evitá-lo, tais como a expansão do
sistema ou a divisão deste sistema em processos separados (JRC-IES, 2010; WEIDEMA,
2000; WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
Apesar de a alocação ser um processo necessário para a ACV, a decisão do melhor
método para sua aplicação não apresenta consenso entre os especialistas, portanto as
considerações para sua aplicação devem ser feitas com o máximo de transparência em um
trabalho de ACV (HARVEY; MEIJER; KENDALL, 2014).
A escolha do método de alocação traz subjetividade para o estudo de ACV, pois pode
alterar consideravelmente os resultados finais e reduzir sua confiabilidade (WEIDEMA,
2000). Essa alteração nos resultados pode ser observada na Figura 7, onde é apresentada a
comparação entre os resultados de impactos ambientais utilizando três métodos distintos de
alocação para a análise de impactos ambientais da escória de auto-forno, material alternativo,
considerado resíduo em outro sistema, e comparado aos impactos ambientais associados ao
uso do cimento Portland.
Figura 7 - Efeito do método de alocação nos resultados de impacto ambiental (CHEN et al., 2010)
Nesse gráfico comparativo, onde foi fixado o valor de referência (100%) para todos
os impactos ambientais no uso de cimento Portland, observa-se que esses valores, comparados
com os valores relacionados ao material alternativo com processo de alocação por massa, se
apresentam sempre inferiores, apresentando resultado que desestimularia o uso do resíduo. Já
39
quando os impactos ambientais deste mesmo resíduo não passam por nenhum processo de
alocação, o cimento mostra-se nesse caso uma opção menos sustentável, já que a não alocação
fez com que o material alternativo não acrescentasse impacto ambiental adicional neste
sistema analisado. Esse trabalho de Chen et al. (2010) mostra que os resultados e até mesmo
as conclusões sofrem alterações quando a ACV passa por tipos de alocação distintos.
2.3.1.4 Categoria de Impacto
As categorias de impacto e a metodologia utilizada para avaliação dos impactos devem
ser previamente selecionadas de acordo com o objetivo definido, bem como o modo de
interpretação subsequente. Alguns exemplos de impactos potenciais que podem ser
selecionados em uma ACV são: mudanças climáticas, depleção de ozônio, toxicidade
humana, acidificação, ecotoxicidade, depleção de recursos, entre outros (JRC-IES, 2010).
2.3.2 Inventário do Ciclo de Vida (ICV)
A análise do inventário é a fase de coleta de dados necessários para alcançar o
objetivo estipulado e que deve abranger todo o sistema definido, o que pode incluir: matéria-
prima, energia, transporte, emissões, resíduos e quaisquer outros dados necessários. Também
são definidos os procedimentos de cálculos a serem utilizados para quantificar as entradas e
saídas do sistema do produto (ABNT, 2009a). Estes cálculos consistem em um balanço de
massa e de energia que configura o Inventário de Ciclo de Vida (ICV), fase em que talvez já
seja possível fazer algumas conclusões prévias sobre os efeitos ambientais do sistema
(WILLERS; RODRIGUES; SILVA, 2012). Durante o processo de coleta de dados, nesta
segunda fase da ACV, pode surgir a necessidade de realizar alterações na etapa anterior
(objetivo e escopo), pois conforme os dados são coletados ocorre um entendimento maior
sobre o sistema estudado, fazendo-se convenientes tais mudanças.
A forma como esses dados serão coletados depende do objetivo e escopo do estudo,
da disponibilidade de dados, dos requisitos de qualidade e dos recursos disponíveis. Salienta-
se que, para manter a transparência exigida por um estudo de ACV, as fontes de dados devem
ser sempre identificadas (JRC-IES, 2010).
40
Existem dois tipos de dados usados em uma ACV: os dados primários e os dados
secundários. Os dados primários podem ser coletados diretamente dos produtores do bem ou
do serviço, ou podem ser obtidos através de cálculos, patentes e opiniões de especialistas.
Podem também ser coletados de dados públicos e comerciais. Os dados secundários, por sua
vez, são extraídos de pesquisas, requeridos por consultores ou coletados em softwares
disponíveis no mercado que fornecem dados próprios e frequentemente atualizados (JRC-IES,
2010; HARVEY; MEIJER; KENDALL, 2014).
Exemplo de software disponível no mercado e com banco de dados extenso e de
qualidade é o software alemão GaBi, desenvolvido pela empresa PE INTERNATIONAL.
Apareceu pela primeira vez em 1992. Apesar de alemão, ele contém dados globais e dados
brasileiros, importante fator para pesquisas de ACV desenvolvidas no Brasil. Além do banco
de dados, ele oferece a possibilidade de realizar os cálculos necessários para a terceira fase da
ACV de forma automatizada, a partir do método de AICV selecionado pelo usuário do
software. Para utilizá-lo é preciso comprar sua licença ou obter a licença de estudante.
Existe também a possibilidade de utilizar banco de dados informais disponíveis
livremente, como o caso do banco de dados norte-americano USLCI (United States Life Cycle
Inventory), desenvolvido pelo laboratório nacional da energia renovável (NREL) e o Instituto
Athena, disponível desde 2003. Ele que compila dados de diferentes instituições dos Estados
Unidos.
Outro exemplo de banco de dados é o PavementLCA, software livre canadense
também desenvolvido pelo Instituto Athena na tentativa de facilitar e agilizar o
desenvolvimento de ACV dedicadas exclusivamente para projetos de pavimento. Os dados
utilizados pelo programa são fornecidos pelo Instituto Athena e pelo SimaPro, porém tais
dados não são acessíveis para o usuário do software.
2.3.3 Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV)
A fase de Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV) tem como função estimar
os impactos potenciais relacionados ao sistema delimitado na fase de escopo. Esse processo
associa os dados coletados na fase de ICV às categorias de impactos. Para cada uma das
categorias de impacto um indicador é utilizado no intuito de quantificar e comparar os
41
impactos selecionados, tais como equivalente de CO2 para o impacto de aquecimento global,
ou equivalente de SO2 para o impacto de acidificação (ABNT, 2009b).
Segundo a Norma ABNT ISO 14044 (2009b), esta fase é feita em três etapas. A
primeira é a de seleção das categorias de impacto, feita a partir do reconhecimento de quais
destas categorias apresentam impactos ambientais significantes, junto com seus respectivos
indicadores. Após selecionar as categorias de impacto ocorre a segunda etapa, a de
classificação, onde ocorre a compreensão das consequências de cada tipo de emissão ao meio.
A JRC-IES (2010) ainda cita uma quarta fase, opcional: a fase de ponderação, onde são
correlacionados diferentes pesos de importância para as diferentes categorias de impacto.
Exemplos dos tipos de emissões associados aos impactos ambientais que eles
acarretam se encontram na Tabela 3, nela é possível observar que mais de uma substância é
relacionada para cada impacto ambiental, por exemplo, as substâncias HCF 22, CH4, tolueno,
SO2 e NOX, onde todas contribuem para o aquecimento global potencial. Nota-se também que
uma mesma substância pode causar impactos ambientais distintos, por exemplo o SO2, que
contribui tanto para o aquecimento global quanto para a toxicidade humana.
Tabela 3 - Exemplos de substâncias que contribuem para diferentes impactos ambientais (Adaptado
de WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997)
Impacto HCF 22* CH4 Tolueno PCB** SO2 NOX
Aquecimento global X X X X X
Depleção de ozônio X X
Criação de ozônio fotoquimico X X X
Eutrofização X
Toxicidade humana X X X X
Ecotoxicidade X X
* Clorodifluorometano ** Bifenilpoliclorado
Por fim, ocorre a terceira etapa, a de caracterização da AICV. Para quantificar um
impacto potencial são necessários fatores de equivalência das substâncias causadoras deste
impacto. A Tabela 4 apresenta como exemplo os fatores de equivalência para o impacto
potencial de aquecimento global. Nela é possível observar que um grama de monóxido de
carbono causa impacto no aquecimento global duas vezes maior que um grama de dióxido de
carbono, independente da amplitude temporal, sendo, portanto, uma substância menos
alarmante para o aquecimento global que o monóxido de carbono. Algumas substâncias
42
também se modificam ao longo do tempo, alterando o fator de equivalência caso a análise seja
feita para ciclos de vida de 100 anos ou mais.
Tabela 4 - Fatores de equivalência para o impacto de aquecimento global (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING,
1997)
Substância Fatores de equivalência (g CO2 eq/g substância)
20 anos 100 anos 500 anos
Dióxido de carbono (CO2) 1 1 1
Monóxido de carbono (CO) 2 2 2
Metano (CH4) 62 25 8
Óxido de nitrogênio (N2O) 290 320 180
Desenvolver fatores de equivalência para quantificar impactos ambientais requer um
extenso trabalho de modelação, que exige uma equipe multidisciplinar para seu
desenvolvimento, porém já existem modelos disponíveis que são amplamente utilizados.
Mendes, Bueno e Ometto (2015) destacam que esses modelos apresentam abrangência
particular de aplicação, podendo ser global, continental ou regional, sendo necessário analisar
as características do modelo para utilizar o mais apropriado para as condições do estudo. Em
geral, esses modelos foram desenvolvidos na Europa, como o EDIP, CML e Eco-Indicador
99. Outros modelos conhecidos são o modelo norte-americano TRACI e o modelo japonês
LIME (SOARES; SOUZA; PEREIRA, 2006). Ainda não há um método sul-americano, por
isso, é recomendado utilizar os modelos tais como EDIP (versão de 1997), TRACI e CML
para ACVs desenvolvidas no Brasil, por se tratarem de modelos globais (MENDES; BUENO;
OMETTO, 2015).
A Figura 8 exemplifica o processo de conversão dos dados coletados na etapa de
ICV (classificação e caracterização) para os resultados de impacto potencial de aquecimento
global (PAG), de potencial de acidificação (PA) e de potencial de eutrofização (PE). Este
processo pode ser feito inteiramente pela pessoa que desenvolve a ACV, em planilhas Excel,
por exemplo. Entretanto, uma maneira mais fácil de realizar a ACV é automatizando os
cálculos de AICV por meio de programas que oferecem essa possibilidade, tais como os
softwares GaBi e SimaPro.
43
Figura 8 - Exemplo de classificação e caracterização para obtenção de valores de AICV
(PE INTERNATIONAL, 2013)
Foi desenvolvida em 1997, na Dinamarca, a primeira versão do método EDIP
(Environmental Design for Industrial Products). Este método de AICV tem caráter global e
ainda hoje é aceito e utilizado em estudos de ACV para quantificação de impactos ambientais
potenciais (OMETTO, 2005).
A seguir são explicadas categorias de impactos ambientais potenciais possíveis de
serem analisadas pelo método EDIP 1997 (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997). Os
impactos potenciais de eutrofização e de depleção de ozônio também são possíveis de serem
calculadas pelo método EDIP 1997, entretanto estes impactos não foram abordados neste
trabalho, pois apresentaram valores iguais a zero para o sistema definido.
2.3.3.1 Potencial de Aquecimento Global
Para entender sobre o impacto de aquecimento global, deve-se compreender primeiro
sobre o processo natural de aquecimento natural da Terra, onde parte das radiações do Sol
atinge a superfície do planeta e é absorvida, e a outra parte é refletida como radiação
infravermelha. Novamente, essa fração da radiação do Sol passa por outra divisão: a fração da
radiação absorvida e a fração da radiação refletida, que volta a ser radiada em todas as
direções da superfície terrestre (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
44
Entretanto, o lançamento de alguns tipos de emissões na atmosfera pode favorecer
para que esse processo, então natural, se intensifique, e que a radiação que incidiu
naturalmente na atmosfera terrestre fique aprisionada, causando assim o aumento global da
temperatura média, ou seja, o aquecimento global.
Exemplos de emissões que contribuem para o processo de aquecimento global são o
gás carbônico (CO2), o monóxido de carbono (CO) e o metano (CH4). Todos eles são
encontrados na natureza, mas lançados em grande escala pelas indústrias e cidades. A Figura
9 ilustra o processo descrito.
Figura 9 - Impacto ambiental potencial de aquecimento global (PE INTERNATIONAL, 2013)
As principais fontes desses gases são a combustão de combustíveis fosseis, tais como
petróleo, carvão e gás natural. O indicador desse impacto potencial é expresso em quantidade
de gás carbônico equivalente (CO2eq) (PE INTERNATIONAL, 2013; WENZEL;
HAUSCHILD; ALTING, 1997).
2.3.3.2 Potencial de Acidificação
Alguns poluentes do ar, tais como dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio, podem
ser transformados em ácidos que causam a redução do pH da água de chuva, como ilustrado
na Figura 10.
45
Figura 10 - Impacto ambiental potencial de acidificação (PE INTERNATIONAL, 2013)
As consequências dessa redução do pH podem causar danos aos ecossistemas naturais
como também alguns impactos indiretos, tais como a redução de nutrientes dos solos e maior
solubilidade de metais em solos. Porém, até construções e seus materiais podem passar por
consequências alarmantes, pois é possível encontrar metais e rochas naturais corroídas devido
ao ácido encontrado em chuvas (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
O indicador usado para o impacto ambiental potencial de acidificação é expresso em
dióxido de enxofre equivalente (SO2eq).
2.3.3.3 Potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico
A substância O3, conhecida como ozônio, apresenta um papel importante para a
proteção da Terra, porém essa proteção ocorre apenas quando ela é acumulada na estratosfera,
camada superior a da atmosfera terrestre. Quando essa mesma substância é acumulada na
superfície da Terra, ela passa a provocar danos tanto para a vegetação, afetando a
produtividade na agricultura, quanto para a saúde pública, podendo acarretar em problemas
respiratórios em humanos (PE INTERNATIONAL, 2013).
A produção do ozônio ocorre quando solventes e outros compostos orgânicos
voláteis são lançados na atmosfera em local seco através do processo de oxidação, que ocorre
com a incidência da radiação solar e a presença de óxidos de nitrogênio (NOx). A maior fonte
antrópica de compostos orgânicos voláteis é a operação de transportes e o consumo de
derivados do petróleo (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997). O processo de formação
fotoquímica de ozônio troposférico é ilustrado na Figura 11.
46
Figura 11 – Impacto ambiental potencial de formação fotoquímica de ozônio troposférico (PE
INTERNATIONAL, 2013)
O óxido de nitrogênio não é a substância que causa o efeito de formação fotoquímica
de ozônio na troposfera diretamente, mas sua importância é tão considerável para o processo
que existem dois tipos de fatores de equivalência para o impacto potencial de formação
fotoquímica de ozônio troposférico, dependendo de sua concentração: em regiões com baixa
concentração de NOx e o outro em regiões de alta concentração de NOx. Pode ser
considerado que, em áreas urbanas, a concentração desta substância é constantemente alta.
Para ambos os cenários citados o indicador utilizado é eteno equivalente (C2H4eq)
(WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
2.3.3.4 Potencial de Ecotoxicidade
A ecotoxicidade ocorre quando o lançamento de emissões e efluentes, tais como
eteno, benzeno e tolueno, afetam ecossistemas e os seres vivos que fazem parte deles. Quando
os poluentes lançados apresentam alta concentração de substâncias perigosas à vida ocorre a
ecotoxicidade aguda, frequentemente resultando em mortes dos organismos expostos. Por sua
vez, os efeitos quando os poluentes não acarretam em alta mortalidade dos organismos em
curto prazo, são chamados de ecotoxicidade crônica. A ecotoxicidade crônica pode ser
acumulada em organismos, ser biodegradada em uma taxa bastante baixa e trazer efeitos tais
como redução na capacidade reprodutiva, reduzindo, portanto, as chances de sobrevivência da
espécie afetada. Para considerar que uma substância contribua para o impacto de
ecotoxicidade ela deve ser tóxica para os organismos do ecossistema ou afetar sua
interatividade em seu habitat natural.
São três os parâmetros levados em consideração para criar os fatores de
caracterização da ecotoxicidade: a dispersão da substância no meio ambiente, a característica
47
ecotoxicológica da substância e a biodegradabilidade dela. Todos os parâmetros são
relacionados exclusivamente à substância, não envolvendo o ambiente em que ela foi emitida.
A ecotoxicidade é um impacto de escala local e regional e é analisada separadamente
entre ecotoxicidade do ar, do solo e da água. Ela é expressa em metros cúbicos, que
correspondem ao volume do meio (ar, água ou solo) ao qual a emissão deve ser diluída para
que a concentração da substância seja baixa suficiente a ponto das substâncias danosas não
apresentarem mais os efeitos da ecotoxicidade. Exemplos de substâncias que podem causar a
ecotoxicidade tanto do solo quanto da água e do ar são o bifenilpoliclorado e metais pesados.
(WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997).
2.3.3.5 Potencial de Toxicidade humana
O potencial de toxicidade humana é semelhante ao conceito do impacto potencial de
ecotoxicidade, e apresenta diferenciação entre toxicidade aguda e toxicidade crônica, ela
ocorre quando o ser humano é exposto a substâncias que são danosas a ele mesmo. As vias de
exposição mais recorrentes são através da respiração e da ingestão de alimentos.
O ser humano pode ser intoxicado através da água, do solo e do ar, e o indicador
utilizado, assim como na ecotoxicidade, é representado em metros cúbicos (água, solo ou ar)
necessários para diluir no meio a ponto de que as substâncias tóxicas não apresentem mais
efeitos tóxicos para o homem.
A toxicidade humana pode ocorrer por três vias distintas: água, ar e água, e é, na
maioria dos casos, considerada um impacto de escala local e regional. Entretanto, em alguns
casos, quando as substâncias são resistentes ao longo do tempo, não degradáveis, e quando
são facilmente transportadas, a toxicidade pode ter caráter global (WENZEL; HAUSCHILD;
ALTING, 1997). Assim, como o impacto potencial ambiental da ecotoxicidade, a toxicidade
humana também pode ocorrer com a presença de substâncias tais como bifenilpoliclorado e
metais pesados.
48
2.3.4 Interpretação
Nesta última fase, os resultados são sumarizados e discutidos, com identificação de
pontos relevantes de acordo com os objetivos da ACV. Esta fase inclui também verificações
de qualidade do estudo. Identificar limitações e fazer recomendações acerca da cadeia de
produção também faz parte da fase de interpretação (ABNT, 2009b).
Segundo JRC-IES (2010), a fase de interpretação é dividida em três etapas. A
primeira fase é a identificação de questões relevantes, onde se deve analisar e estruturar os
resultados das fases anteriores com o objetivo de identificar, por exemplo, os estágios da
cadeia produtiva, os fluxos e as matérias que mais causaram impactos ambientais, assim como
as categorias de impactos que se mostraram em maior escala.
A segunda etapa da fase de interpretação envolve três parâmetros para analisar a
qualidade dos resultados, sendo eles (ABNT, 2009a; JRC-IES, 2010):
completeza, verificação se as informações são suficientes para chegar a conclusões de
acordo com a definição de objetivo e escopo;
consistência, verificação se os pressupostos, métodos e dados definidos na fase de
objetivo e escopo foram aplicados de forma consistente ao longo de todo o estudo; e
sensibilidade, verificação se as escolhas feitas em termos de métodos e dados afetam
os resultados obtidos.
Para exemplificar a fase de interpretação de uma ACV, utiliza-se o estudo de
Weiland e Muench (2010), onde foram estudadas soluções diferentes de manutenção para um
trecho de rodovia de concreto de cimento Portland. Três estratégias de manutenção foram
testadas: (a) substituir a placa de concreto deteriorada por nova placa (PCC), (b) recapear com
mistura asfáltica usinada a quente (HMA) e (c) sobrepor mistura usinada a quente utilizando
parte do pavimento antigo (CSOL). A Figura 12 apresenta os resultados da ACV, em termos
de energia consumida (em TJ) das diferentes estratégias construtivas.
49
Figura 12 - Exemplo de avaliação de consumo de energia total (WEILAND; MUENCH, 2010).
Observando o gráfico da Figura 8, é possível apontar que cada estratégia apresenta
consumo de energia particular nas diferentes fases consideradas e, a partir dos resultados,
entende-se que os processos que mais consumiram energia foram a de produção de materiais e
a de produção de combustíveis e eletricidade. Observa-se também que, de maneira geral, a
estratégia que consumiu maior energia foi a que considerou o recapeamento do pavimento
existente com mistura asfáltica (HMA) e a estratégia que consumiu menor energia foi a
solução com sobreposição de mistura asfáltica usinada a quente com reutilização do material
do pavimento antigo (CSOL).
Por fim, é necessária uma revisão crítica, assim como definida no escopo da ACV.
Esta revisão avalia, de acordo com as Normas ABNT ISO 14040 e 14044 (2009a, 2009b), se
o método é válido, se os dados são apropriados, se as interpretações são coerentes e se o
trabalho como um todo é transparente e consistente (JRC-IES, 2010).
2.4 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE PAVIMENTOS
Um dos primeiros estudos encontrados que utiliza a Avaliação do Ciclo de Vida na
área de infraestrutura de transportes foi o de Häkkinen e Mäkelä (1996), feito na Finlândia.
Nele foi feita a ACV comparando os ciclos de vida completos (construção, manutenção, uso e
fim de vida) de um pavimento asfáltico e de concreto de cimento Portland. Estes autores
concluíram que o pavimento de concreto consumiu menor quantidade de energia, entretanto
50
que este mesmo tipo de pavimento apresenta maior potencial de aquecimento global quando
comparado com pavimentos asfálticos.
Horvath e Hendrickson (1998) também concluíram que o ciclo de vida de
pavimentos asfálticos está associado a maiores consumos de energia, além de maior geração
de resíduos perigosos, ou seja, resíduos que podem causar dano ou até morte em seres vivos.
Entretanto, são os pavimentos flexíveis que apresentam maior possibilidade de reciclagem
quando comparado com os pavimentos rígidos, apresentando economia de recursos naturais e,
consequentemente, menor emissão de poluentes na produção de materiais.
Durante as duas décadas que sucederam a primeira ACV de pavimentos, é possível
observar uma tendência de estudos comparativos entre pavimentos flexíveis e pavimentos
rígidos, com o intuito de apontar, entre os dois tipos de pavimentos mais utilizados no mundo,
qual deles seria considerado mais sustentável (INYIM et al., 2016; SANTERO; MASANET;
HORVATH, 2011a). Existe também uma quantidade considerável de trabalhos que estudam
diferentes estratégias de restauração.
No início, os trabalhos se concentravam basicamente nos Estados Unidos, porém aos
poucos o tema foi ganhando popularidade e outras partes do mundo foram desenvolvendo
pesquisas similares. Hoje, Canadá, Europa, Austrália e Coréia do Sul, por exemplo, utilizam a
técnica da ACV para auxiliar em tomadas de decisões entre diferentes opções de pavimentos
(VENTURA; JULLIEN, 2009).
Em um estudo português, na Universidade do Minho, Araújo et al. (2012) fez uma
ACV comparando duas estratégias de restauração de pavimento asfáltico diferentes, uma
delas avaliou a técnica convencional, utilizando apenas materiais virgens; e outro cenário
avaliou a técnica com reciclagem de material, utilizando 50% de RPA na composição de uma
camada de base negra. A conclusão mostrou que a restauração com aproveitamento de RPA
apresentou grandes vantagens ambientais em comparação com a opção convencional. As
emissões de CO2 equivalente, por exemplo, apresentaram uma redução de 20,5%.
Em 2000, a Environmental Protection Agency (EPA) analisou a ACV como técnica
para avaliação de impactos ambientais na área de infraestrutura de transportes, e pôde
concluir que a ACV pode ser eficiente para este objetivo (SCHENCK, 2000). Entretanto
Inyum et al. (2016) concluiu que esta técnica não é suficiente para comparar diferentes
estratégias de pavimentação devido a grandes incertezas atreladas a esse tipo de estudo, tais
51
como dados utilizados, definição de unidade funcional e considerações de estratégias de
restauração e manutenção,
Harvey et al. (2010) desenvolveram e propuseram uma diretriz para o
desenvolvimento de uma ACV destinada exclusivamente a pavimentos, devido justamente a
este considerável grau de incertezas que um estudo de ACV em pavimentos pode apresentar,
ainda mais observando o problema de que cada estudo é feito com escopo, fontes de dados e
métodos de AICV distintos, fazendo com que duas ACVs com mesmo objetiv