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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO
MARIANA VENDRAMI PARRA SANCHES
A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos:
experiência de cuidar pela família
RIBEIRÃO PRETO
2012
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MESTRADO EERP/USP
2012
MARIANA VENDRAMI PARRA SANCHES
A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos:
experiência de cuidar pela família
RIBEIRÃO PRETO
2012
Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências, Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública. Linha de Pesquisa: Assistência à criança e ao adolescente Orientadora: Profa. Dra. Regina Aparecida Garcia de Lima
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Sanches, Mariana Vendrami Parra
A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos: experiência de cuidar pela família. Ribeirão Preto, 2012.
114 p. : il. ; 30 cm
Dissertação de Mestrado, apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Área de concentração: Enfermagem
Orientadora: Aparecida Garcia de Lima, Regina.
1. Cuidados Paliativos. 2. Criança. 3. Adolescente. 4. Câncer. 5. Família.
Nome: SANCHES, Mariana Vendrami Parra
Título: A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos:
experiência de cuidar pela família
Aprovado em: ______ / ______ / ______
Banca Examinadora
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ____________________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________________
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ____________________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________________
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ____________________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________________
Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências, Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública.
DEDICATÓRIA
Aos meus queridos pais, André e Sueli, amigos e mestres da vida,
por toda dedicação, ensinamentos e confiança, por quem tenho
grande admiração e respeito. Minha eterna gratidão!
Ao meu marido, Toni, meu amigo e companheiro, pela ajuda,
paciência e compreensão nos momentos de ausência, por estar
sempre ao meu lado me apoiando, a quem escolhi compartilhar
minha vida com muita alegria. Te Amo!
À minha irmã, Denise, e meu cunhado, Diego, pela parceria,
incentivo e carinho em toda esta minha trajetória.
À minha irmã, Andrelisa, razão da minha profissão, exemplo de
força e sabedoria. Obrigada pelos ensinamentos e apoio.
À minha querida sobrinha e afilhada, Ana Luisa, por quem
compartilho todo amor e carinho e por alegrar minha vida.
Aos meus sogros, Elza e Antônio, e cunhado, Tiago, pelo
acolhimento e apoio nesse percurso.
"Gratidão é a memória do coração"
(Dostoievisky)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que contribuíram para realização
desse sonho, especialmente:
À Deus, por guiar meus passos dia-a-dia e me proporcionar força
e garra para superar as minhas dificuldades.
Às famílias participantes, pela generosidade, acolhimento e
confiança, dividindo suas difíceis experiências, tão íntimas e
particulares, fundamentais para a realização desse estudo.
À minha orientadora, Profa. Dra. Regina Aparecida Garcia de
Lima, por acreditar em mim e me ajudar a finalizar este
trabalho, com competência e sabedoria, por me encorajar nos
momentos difíceis, ofertando apoio e carinho, e por compartilhar
seus intensos conhecimentos e experiência.
Serei eternamente Grata!
Às Profas. Dras. Ana Maria de Almeida e Vera Lúcia Pamplona
Tonete, pela colaboração, incentivo e contribuições partilhados
durante o exame de qualificação.
À Profa. Dra. Marislei Sanches Panobianco, por quem tenho grande
carinho e admiração, por iniciar meus ensinamentos na pesquisa
e pela grandiosa amizade.
À Profa. Dra . Maria Cândida de Carvalho Furtado, que me
acolheu em momento importante dessa pesquisa, partilhando
suas experiências e sabedorias.
À minha amiga, Talitha, Enfermeira da Clínica Pediátrica do
HCFMRP-USP, pela ajuda e parceria, especialmente durante a
coleta de dados, e pela disponibilidade sempre presente.
À minha amiga, Vivian, pela torcida e companhia durante o
meu exame de qualificação.
À todos os meus amigos, pela escuta e incentivo durante a
conclusão desse trabalho.
Às minhas alunas, Daiane, Franciele e Natália, que me ajudaram
nessa investigação.
À Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo por abrir portas e caminhos à pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico-CNPq pelo apoio de infraestrutura à pesquisa.
"Eu me importo pelo fato de
você ser você, me importo até
o último momento de sua
vida e faremos tudo o que
está ao nosso alcance, não
somente para ajudar você a
morrer em paz, mas também
para você viver até o dia da
morte."
(Cecily Saunders)
RESUMO
SANCHES, M.V.P. A criança e adolescente com câncer em cuidados paliativos:
experiência do cuidar pela família. 2012. 114 f. Dissertação (Mestrado). Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2012.
No Brasil, atualmente, não há diretrizes estruturadas para os cuidados paliativos em pediatria e, muito menos, em hebiatria. Os familiares são participantes ativos no cuidado a criança e ao adolescente com câncer, especialmente na fase final da vida, período em que vivenciam o processo de morte e morrer e necessitam de vínculo com os serviços de saúde para manter a qualidade de vida de crianças e adolescentes com câncer e de seus familiares. O presente estudo tem como objetivo investigar a experiência dos familiares no cuidar de crianças e adolescentes com câncer, em cuidados paliativos, particularmente nos cuidados ao final da vida. Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva e exploratória, com análise qualitativa dos dados. Participaram do estudo quatorze familiares, cuidadores de crianças e adolescentes que morreram por câncer no período de julho de 2010 a dezembro de 2011, em acompanhamento no setor de Onco-Hematologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. A coleta de dados foi realizada em dois momentos: primeiramente nos prontuários das crianças e adolescentes, buscando informações clínicas e, após, em entrevista, acompanhada de observação e realização do genograma e ecomapa. Os dados empíricos foram organizados ao redor de três temas: "O impacto do agravamento da doença na dinâmica familiar", descrito a partir das necessidades, sentimentos e reorganização familiar; "Comunicação de más notícias", discutido a partir da comunicação entre a criança e o adolescente, equipe de saúde e família relativa ao processo de morte e morrer e "A vivência da família diante dos cuidados paliativos", evidenciado pelos conhecimentos da família frente aos cuidados paliativos, sentimentos e necessidades da criança e adolescente nos cuidados ao final da vida. Esse estudo mostrou-se relevante para a assistência à criança e ao adolescente com câncer no fim da vida, pois, as vivências das famílias no cuidado a criança e ao adolescente poderão contribuir para a compreensão do processo de cuidar à luz dos fundamentos dos cuidados paliativos.
Palavras-chave: Cuidados paliativos. Criança. Adolescente. Câncer. Família.
ABSTRACT
SANCHES, M.V.P. Children and adolescents with cancer under palliative care: the
experience of care provided by the family. 2012. 114 f. Thesis (Master’s degree).
University of São Paulo at Ribeirão Preto, College of Nursing, 2012.
Currently, there are no guidelines structured to provide palliative care to pediatric patients, let alone for adolescent patients. Family members actively participate in the care provided to children and adolescents with cancer, especially in the final stage of life, a period when they experience death and the process of dying and ties with health services are required to maintain the quality of life of children and adolescents, as well as that of their families. This study’s objective was to investigate the experience of family members of children and adolescents with cancer in terms of palliative care, especially care provided in the final stage of life. This is a descriptive and exploratory study with qualitative analysis of data. A total of 14 family members participated in the study. They were the caregivers of children and adolescents with cancer who died from July 2010 to December 2011 and were monitored by the Oncology-hematology unit of the Hospital das Clínicas, Medical School, University of São Paulo at Ribeirão Preto. Data were collected at two points in time: first, clinical information was collected from the children’s and adolescents’ medical files and then interviews, accompanied by observation and genomapping and ecomapping, were held. Empirical data were organized around three themes: "The impact of the aggravation of the disease on the family’s dynamics", based on the family’s needs, feelings and reorganization; "Communicating bad news", based of the communication among the child or adolescent, health staff, and the family concerning death and the dying process, and "The experience of the family concerning palliative care", evidenced by the family’s knowledge concerning palliative care and the feelings and health needs of children and adolescents at the end of life. This study is relevant in the field of care provided to children and adolescents with cancer in the final stage of life because the experiences of families in providing care to children and adolescents at the end of life can contribute to better understanding the process of providing care in light of the fundamentals of palliative care. Key words: Hospice Care. Child. Adolescent. Cancer. Family.
RESUMEN
SANCHES, M.V.P. El niño y el adolecente con cáncer en cuidados paliativos: vivencia de
cuidar por la familia. 2012. 114 f. Disertación (Maestría). Escuela de Enfermería de
Ribeirao Preto, Universidad de Sao Paulo, 2012.
En Brasil, actualmente, no existen directrices estructuradas para los cuidados paliativos en pediatría y, mucho menos, en hebiatría. Los familiares son participantes activos en el cuidado del niño y del adolecente con cáncer, especialmente en la fase final de la vida, período en que experimentan el proceso de muerte y de morir y en el cual necesitan de vínculo con los servicios de salud para mantener la calidad de vida de niños y adolecentes con cáncer y de sus familiares. El presente estudio tiene como objetivo investigar la experiencia de los familiares en el cuidado de niños y adolecentes con cáncer, en cuidados paliativos, particularmente en los cuidados al final de la vida. Se trata de una investigación de naturaleza descriptiva y exploratoria, con análisis cualitativo de los datos. Participaron del estudio catorce familiares, cuidadores de niños y adolecentes que murieron de cáncer en el período de julio de 2010 a diciembre de 2011, en acompañamiento en el sector de Oncohematología del Hospital de las Clínicas de la Facultad de Medicina de Ribeirao Preto de la Universidad de Sao Paulo. La recolección de datos fue realizada en dos momentos: primero en las fichas de los niños y adolecentes, buscando informaciones clínicas y, después, en entrevista, acompañada de observación y realización del genograma y ecomapa. Los datos empíricos fueron organizados alrededor de tres temas: "El impacto del agravamiento de la enfermedad en la dinámica familiar", descrito a partir de las necesidades, sentimientos y reorganización familiar; "La comunicación de malas noticias", discutiendo a partir de la comunicación entre el niño y el adolecente, equipo de salud y familia relativa al proceso de muerte y de morir y "La vivencia de la familia delante de los cuidados paliativos", evidenciado por los conocimientos de la familia frente a los cuidados paliativos, sentimientos y necesidades del niño y adolecente en los cuidados al final de la vida. Este estudio demostró ser relevante para la asistencia al niño y al adolecente con cáncer en el fin de la vida, ya que, las vivencias de las familias en el cuidado al niño y al adolecente podrán contribuir para la compresión del proceso de cuidar bajo los fundamentos de los cuidados paliativos. Palabras clave: Cuidados paliativos. Niño. Adolecente. Cáncer. Familia.
LISTA DE SIGLAS
AAP American Academy of Pediatrics
ABCP Associação Brasileira de Cuidados Paliativos
ANCP Academia Nacional de Cuidados Paliativos
EERP Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
FMRP Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
HCFMRP Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Km Quilômetros
LPCC Liga de Prevenção e Combate ao Câncer
PCR Parada Cardiorrespiratória
RCP Reanimação Cardiopulmonar
SECPAL Sociedade Espanhola de Cuidados Paliativos
USP Universidade de São Paulo
WHO World Health Organization
LISTA DE QUADRO
Quadro 1- Caracterização das crianças e dos adolescentes e dos familiares entrevistados .... 42
Quadro 2- Exemplo de codificação ......................................................................................... 46
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 14
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 18
1.1 Conhecendo o câncer infanto-juvenil e suas peculiaridades .............................................. 19
1.2 Os cuidados paliativos ........................................................................................................ 22
2 OBJETIVO .......................................................................................................................... 36
3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ................................................................................. 38
3.1 Tipo de estudo .................................................................................................................... 39
3.2 Considerações éticas ........................................................................................................... 39
3.3 Local do estudo ................................................................................................................... 40
3.4 Participantes do estudo ....................................................................................................... 40
3.5 Procedimentos para coleta de dados ................................................................................... 42
3.6 Análise dos dados ............................................................................................................... 44
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................. 48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 90
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 94
APÊNDICES ......................................................................................................................... 104
APÊNDICE A: Termo de consentimento livre e esclarecido................................................. 105
APÊNDICE B: Instrumento de coleta de dados I: análise de prontuário ............................... 107
APÊNDICE C: Instrumento de coleta de dados II: entrevista................................................ 108
APÊNDICE D: Genograma e ecomapa da família 1 .............................................................. 109
ANEXOS ............................................................................................................................... 111
ANEXO A: Representações gráficas esquemáticas dos instrumentos: genograma e ecomapa
.................................................................................................................................................112
ANEXO B: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa...................................................... 114
"O que vale na vida não é o ponto
de partida, e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim
terás o que colher."
(Cora Caralina)
APRESENTAÇÃO
Iniciei minha atividade acadêmica no ano de 2005, na Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Logo no início, com o entusiasmo
de recém acadêmica, procurarei por projetos de cultura e extensão, o que me levou ao
primeiro contato com a oncologia. Durante os quatro anos do curso de graduação, fui membro
efetivo, tendo feito parte da diretoria da Liga de Prevenção e Combate ao Câncer (LPCC) da
EERP/USP.
Dentre as atividades desenvolvidas junto à LPCC, participei da organização de quatro
jornadas, diversas palestras e campanhas relacionadas à Enfermagem Oncológica. Pela
proximidade da LPCC e de sua tutora com o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência à
Mastectomizadas da EERP-USP, fui bolsista de iniciação científica, projeto Ensinar com
Pesquisa; como parte das atividades, fui autora de dois trabalhos científicos, nos anos de 2007
e 2008, sob orientação da referida docente, intitulados, respectivamente, “Adesão às
estratégias de prevenção e controle do linfedema em mastectomizadas” (PANOBIANCO et
al., 2009) e “Visita domiciliar a mulheres com câncer de mama: uma estratégia a ser
conhecida” (PARRA et al., 2010).
Participei durante dois anos do Grupo de Cuidados Paliativos do Campus de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo, estruturado no ano de 2006, quando tive a oportunidade
de estudo no campo dos cuidados paliativos. Participei também da organização de dois
encontros, denominados, respectivamente, “I Encontro sobre Cuidados Paliativos –
Humanização da Finitude do Homem” e “II Encontro sobre Cuidados Paliativos – Desafios e
Perspectivas”.
No segundo semestre de 2007, tive envolvimento com a saúde à criança no estágio
dessa disciplina, quando testei minha habilidade para o cuidado da criança e certifiquei essa
vocação no estágio curricular na área hospitalar. Tive uma identificação com o cuidado à
criança e adolescente com câncer, internados na Clínica Pediátrica do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP).
Durante o estágio acima mencionado, vivenciei situações que me motivaram a
pesquisar sobre os cuidados paliativos em oncologia pediátrica. Participei ainda, durante esse
último ano, do Grupo Cia do Riso do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde
Pública da EERP-USP, podendo observar a prática profissional sob uma nova perspectiva
dado que esse grupo tem por objetivo utilizar a arte do teatro clown como recurso de
comunicação com as crianças e os adolescentes hospitalizados e suas famílias. Após a
conclusão da graduação, iniciei minha atuação profissional no Curso de Graduação em
Enfermagem na Faculdade da Alta Paulista, na cidade de Tupã, onde sou responsável pelo
ensino de Enfermagem Pediátrica e Neonatal.
A inserção no Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo foi reflexo da qualidade de
ensino durante minha graduação e da participação em projetos de pesquisa, além de minha
prática profissional.
A temática do presente estudo surgiu de minha atuação em campo de estágio, no
último ano de graduação, quando, ao optar pelo estágio curricular supervisionado na área de
Enfermagem Pediátrica, pude vivenciar o processo de descoberta do câncer, permeado por
angústias, esperanças e expectativas; o aspecto terapêutico, envolvendo os procedimentos
cirúrgicos e a quimioterapia, dos quais fazem parte o medo, as incertezas e as reações
adversas; as recidivas, acompanhadas de sentimentos de derrota, medo da morte e esperança
reconstruída, e dos cuidados no processo de morte e morrer.
Os cuidados biopsicossociais direcionados à oncologia pediátrica levaram-me a buscar
por estudos que aprimorassem meu conhecimento. No decorrer do caminho, a especialização
em Enfermagem Pediátrica, concluída no ano de 2010, capacitou-me no que se refere ao
conhecimento sobre a assistência à criança e ao adolescente e gerou questionamentos com
relação aos seus cuidados e de sua família na abordagem dos cuidados paliativos oncológicos.
Nesse passo de aprendizagem, foi possível observar que as famílias são centrais nos distintos
momentos do adoecimento.
Esta pesquisa foi desenvolvida, primeiramente, a partir do meu questionamento a
respeito das necessidades da família no cuidado de crianças e adolescentes com câncer, em
cuidados paliativos, do diagnóstico à morte. A construção do objeto de investigação deste
estudo parte do contexto do câncer infanto-juvenil e suas particularidades, abrangendo sua
discussão ao redor da trajetória dos cuidados paliativos e suas implicações na área de
oncologia pediátrica, conduzindo ao objetivo de investigar a experiência dos familiares de
cuidar de crianças e adolescentes com câncer durante a fase de cuidados paliativos,
particularmente nos cuidados ao final da vida.
A partir dessa ideia central, foram selecionados os principais cuidadores para
participar do estudo, sendo escolhida a análise qualitativa como meio de interpretação dos
dados. Ainda nesse momento da trajetória metodológica foram apresentadas as considerações
éticas, os procedimentos para coleta de dados e o local do estudo.
A respeito dos resultados, estes foram organizados ao redor de três temáticas: o
impacto do agravamento da doença na dinâmica familiar, comunicação de más notícias e a
vivência da família diante dos cuidados paliativos. Ao final, foram tecidas algumas
considerações visando sintetizar os resultados e as discussões transcorridas no estudo,
direcionadas à assistência à criança e ao adolescente com câncer, em cuidados paliativos, e
suas famílias.
"Quando nada mais pudermos
fazer por alguém, é preciso que
nós saibamos estar ao seu lado."
(Danielle Hons)
1 INTRODUÇÃO
19
1.1 Conhecendo o câncer infanto-juvenil e suas peculiaridades
O câncer é caracterizado por uma proliferação desordenada e descontrolada de células
anormais, causando comprometimento de tecidos e órgãos (BRASIL, 2012a;
HAAGEDOORN et al., 2000). É uma patologia preocupante para o sistema de saúde à
medida que a economia se desenvolve, o estilo de vida se moderniza e a expectativa de vida
aumenta. É considerado um problema de saúde pública mundial por suas altas taxas de
incidência e mortalidade (BRASIL, 2011).
Em 2005, o câncer foi responsável por 13% de todas as mortes ocorridas no mundo e,
dentre essas, 70% ocorreram em países de média ou baixa renda (WHO, 2012). Estima-se,
para 2030, 27 milhões de novos casos de câncer e 17 milhões de óbitos, sendo que o maior
incidirá em países de médio e baixo desenvolvimento (BRASIL, 2011).
Nos Estados Unidos da América, o câncer é a segunda causa de morte entre os
menores de 15 anos de idade. Mesmo apresentando clinicamente menores períodos de
latência, rápido crescimento e elevada característica invasiva, os tumores pediátricos
apresentam bom prognóstico, em torno de 70% de cura (BRASIL, 2011; BRASIL, 2012a).
No Brasil, o câncer é a terceira causa de morte na faixa etária de 01 a 14 anos e, a
primeira, no município e estado de São Paulo, na faixa etária de 5 a 14 anos, excluindo as
causas externas (RODRIGUES; CAMARGO, 2003). Para 2012, estimou-se 384.340 casos
novos de câncer, sendo 11.530 em crianças e adolescentes até 19 anos (BRASIL, 2011).
O câncer em crianças e adolescentes, diferentemente do câncer em adultos, na maioria
das vezes afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Dados mundiais
indicam que, dentre os tipos de neoplasias que atingem crianças e adolescente, as leucemias
são o tipo mais frequente, principalmente a Leucemia Linfóide Aguda, seguida de tumores do
sistema nervoso central, linfoma, neuroblastoma, tumor de Wilms, retinoblastoma, tumores
germinativos, osteossarcoma e sarcoma. Tal comportamento também retrata a situação da
distribuição do câncer em crianças e adolescentes brasileiros (BRASIL, 2011; WHO, 2012).
Considerando que a associação entre fatores de risco ainda é incerta nas neoplasias de
crianças e adolescentes, o diagnóstico precoce é primordial para obtenção de resultados
satisfatórios no tratamento e na cura da doença. Esse tipo de diagnóstico, entretanto, torna-se
difícil por ainda ser uma doença incomum na infância, pelo desconhecimento dos sinais e
sintomas pelo pediatra, presença muitas vezes amena da sintomatologia e mimetização de
20
outras doenças e processos fisiológicos do desenvolvimento infantil (BRASIL, 2012a;
RODRIGUES; CAMARGO, 2003).
Essas características podem justificar o fato de ainda ocorrerem diagnósticos
frequentemente tardios, determinados, principalmente, pela idade da criança, tipo do tumor e
encaminhamento aos serviços de saúde em estágio avançado da doença, com menores chances
de cura e maiores sequelas decorrentes dos tratamentos (RODRIGUES; CAMARGO, 2003).
Em especial, o diagnóstico tardio de câncer na infância pode influenciar a probabilidade de
sobrevida, complementado pela demora da procura por assistência à saúde, precariedade dos
serviços e falta de percepção da possibilidade de cura (REIS; DIAS; MAZZAIA, 2009).
As crianças e os adolescentes podem apresentar alguns sinais e sintomas interligados
ao tipo de tumor; por exemplo, nas leucemias pode haver maior suscetibilidade a infecções,
decorrentes da invasão da medula óssea pelas células tumorais, palidez, sangramento e dor
óssea; no tumor de sistema nervoso central, cefaleia, vômitos, alterações motoras, alterações
cognitivas e paralisia de nervos; massa abdominal, nos tumores de Wilms e neuroblastomas;
no retinoblastoma, o embranquecimento da pupila à luminosidade, fotofobia, estrabismo e, no
osteossarcoma, a formação de massas e dor nos membros (BRASIL, 2012a).
As modalidades de tratamentos são amplas, incluindo cirurgia, quimioterapia,
radioterapia, imunoterapia e hormonioterapia (BRASIL, 2012a). A quimioterapia é a terapêutica
mais utilizada no câncer pediátrico (BONASSA, 2000), trazendo consigo efeitos colaterais, os
quais são entendidos sob dois pontos de vista pelas crianças e adolescentes com câncer: como
processo de sofrimento, mas como possibilidade de cura (CICOGNA; NASCIMENTO, LIMA,
2010).
Dados internacionais revelam que 1 em cada 250 adultos será sobrevivente de câncer na
infância. Esse fato decorre do tratamento multidisciplinar, ou seja, dos métodos de diagnóstico; da
evolução dos medicamentos e agentes que proporcionam suporte contra as infecções; da
utilização de novas modalidades hemoterápicas e dos transplantes de medula óssea; do apoio
psicológico e da nutrição adequada. Os benefícios desse processo diagnóstico e terapêutico
tornaram o tratamento mais suportável para a criança e o adolescente e seus pais, além de
permitirem a utilização de tratamentos mais intensos naqueles que apresentem maiores riscos de
fracasso terapêutico (RODRIGUES; CAMARGO, 2003).
Apesar dos progressos no processo diagnóstico e terapêutico em oncologia pediátrica,
hoje ainda se observa, em alguns casos, a incurabilidade do câncer, tendo a assistência
paliativa como foco fundamental do cuidado.
21
A inserção dos cuidados paliativos na assistência em oncologia pediátrica pode ocorrer
em diferentes momentos, ou seja, essa trajetória pode ser gradual, na medida em que a doença
progride, e os cuidados direcionados ao final da vida são utilizados com mais frequência. Os
cuidados paliativos também podem ser implementados desde o início, ou seja, no diagnóstico,
diante da ausência de chances curativas da doença; podem ser inseridos tardiamente, quando
há mudança do foco curativo para o paliativo, na medida em que a doença evolui para
incurabilidade (ICPCN, 2012).
Estudo recente do tipo revisão da literatura brasileira em oncologia pediátrica assinala,
como desafio para a pesquisa e assistência multiprofissional, a prevenção e os cuidados paliativos.
Assim, Mutti, Paula e Souto (2010) argumentam que o cuidado em oncologia requer da equipe de
saúde uma prática resolutiva, seja qual for a situação de doença da criança e seus desdobramentos
na dinâmica familiar, propondo que sejam revistas as ações assistenciais e práticas no cuidar em
oncologia pediátrica.
Parte dessa equipe multiprofissional, a equipe de enfermagem atua como componente
indispensável na assistência à criança e ao adolescente com câncer e suas famílias e tem como
fundamento a assistência biopsicossocial, direcionando suas ações, atitudes e forma de agir
para as necessidades individuais e coletivas, ou seja, de crianças, de adolescentes e família.
O cuidar em oncologia pediátrica lida com a incompatibilidade do câncer na fase da
infância e adolescência, idade em que se espera a progressão contínua da vida. Além disso, a
enfermagem lida diretamente com o sofrimento, as complicações decorrentes da doença, a
insegurança e o medo da morte. Exige-se da equipe o cuidar com sensibilidade, educando e
apoiando as crianças, adolescentes e seus familiares, por meio de informações simples,
adequadas e que permitam compreensão e participação direta da família no processo de saúde
e doença, geralmente acompanhado de estigmas culturais de sofrimento, dor, mutilações,
destruição e morte (PARO, PARO, FERREIRA, 2005).
A atuação da enfermagem na assistência a crianças e adolescentes com câncer em
cuidados ao final da vida gera algumas dificuldades para a equipe, relacionadas à vivência
contínua com a morte, compartilhada com a família, aos sentimentos de pena, sofrimento,
fracasso profissional e negação da morte (AVANCI et al., 2009).
22
1.2 Cuidados paliativos: trajetória e implicações em oncologia
Inicialmente, os cuidados paliativos eram destinados a pacientes fora de possibilidades
de cura, cuidados esses ativos e totais, objetivando proporcionar a melhor qualidade de vida ao
paciente e sua família (OMS, 1999). Na atualidade, o conceito foi ampliado, contemplando a
melhoria da qualidade de vida desde o diagnóstico da doença até o final da vida, estendendo-se
ao período de luto (WHO, 2002), não sendo necessariamente destinado ao doente terminal, ou
seja, aquele que tem de 3 a 6 meses de vida (NETO, 2010).
A assistência paliativa promove os cuidados básicos por meio de uma equipe
interdisciplinar, a qual está direcionada para o controle da dor e de outros sintomas e para as
necessidades psicológicas, sociais e espirituais, com enfoque no doente, em sua família e em
seu entorno. O objetivo central dos cuidados paliativos é a preservação máxima da qualidade de
vida até o seu final, afirmando a vida e considerando a morte como um processo natural
(SECPAL, 2012b).
A palavra paliativo deriva de pallium que, em latim, significa manto, um tipo de
cobertura utilizada na antiguidade para proteção do Papa e, portanto, com uma simbologia
sagrada e de espiritualidade (SANTOS, 2010) Assim, os cuidados paliativos apresentam
íntima afinidade com o significado de proteção da vida humana, em todo o processo da
doença, preservando a dignidade do doente e de sua família nos momentos do diagnóstico,
terapêutica curativa, estendendo-se à fase final da vida (MATSUMOTO, 2009).
Para conceituar cuidados paliativos, vale lembrar que sua origem vem da palavra
hospice, que significa estranho ou estrangeiro, termo antigamente usado para descrever
abrigos dedicados ao conforto e cuidado leigo e caridoso a viajantes, peregrinos e doentes, os
quais eram cuidados, muitas vezes vindo a morrer nesses locais. Da mesma forma, atualmente
os hospices são locais dedicados ao cuidado de pessoas com doenças incuráveis e avançadas,
com expectativa de vida em meses ou anos (MACIEL, 2008; SANTOS, 2010).
A palavra hospice foi utilizada, em sua essência, primeiramente em 1842, na França,
por Madame Jeanne Garnier, que fundou várias instituições destinadas ao cuidado de
moribundos. Posteriormente, em 1879 e 1905, foram instituídos o Our Lady's Hospice em
Dublin, capital da Irlanda, e o St Joseph's Hospice em Londres, Inglaterra. Nesse contexto,
durante os séculos XIX e XX, católicos, protestantes e judeus também construíram pequenas
casas nos Estados Unidos, Austrália e países europeus para prover cuidados a doentes
moribundos (SAUNDERS, 2006).
23
Em meados do século XX, a enfermeira, assistente social e médica inglesa Cecily
Saunders, ao trabalhar com pacientes em estado terminal no hospice St Luke e St Joseph,
ambos em Londres, presenciou o sofrimento humano, passando a se dedicar aos estudos dos
cuidados, alívio da dor e dos sintomas no final da vida, estudos esses fundamentais para a
difusão do conhecimento de dor total e das necessidades físicas, sociais, emocionais e
espirituais do doente terminal, princípios básicos na prática dos cuidados paliativos (MELO,
2003; SECPAL, 2012a).
Em 1967, após percorrer os Estados Unidos e vários outros países em busca de
aperfeiçoamento e auxílio, Cecily Saunders fundou o St Chistopher’s Hospice, também em
Londres, com 54 leitos, realizando assistência, ensino e pesquisa, apoiados no movimento dos
cuidados paliativos, com ênfase na humanização do processo de terminalidade, iniciando o
movimento hospice moderno (PESSINI, 2005). Esse foi o estabelecimento da filosofia dos
cuidados paliativos, marco pioneiro e definitivo, integrando os cuidados domiciliares, apoio
às famílias e seguimento pós-morte (SECPAL, 2012b).
O conhecimento e a experiência de Cecily Saunders foram difundidos por meio dos
serviços de home care, estudos de controle da dor e avaliação do trabalho do hospice,
desenvolvendo um centro de educação para especialistas em cuidados paliativos (SECPAL,
2012b).
Paralelamente, nos Estados Unidos da América, Elizabeth Kubler-Ross, médica
psiquiátrica, também seguia seus estudos direcionados ao processo de morte e morrer,
propondo, em 1969, sua teoria dos estágios psicológicos dos moribundos: primeiro estágio, de
negação e isolamento, fase em que o paciente recusa sua morte; segundo estágio, da raiva,
momento em que o paciente revolta-se diante da notícia do final da vida; terceiro estágio, da
barganha, período em que o paciente mantém comportamento equilibrado na esperança de que
isso lhe traga a cura; quarto estágio, de depressão, fase em que o paciente se recolhe e
vivencia uma sensação de perda diante da morte e, por fim, o quinto estágio, de aceitação,
quando ocorre a compreensão da morte pelo paciente e esse assume sua realidade. Esse
trabalho teve grande impacto na comunidade médica e científica mundial, introduzindo o
conceito de hospice no país, proposto inicialmente por Cecily Saunders. A partir desse
movimento, o primeiro Hospice Care norte-americano foi oficializado em 1982, em
Connecticut, após sete anos de sua criação (KUBLER-ROSS, 2001; FOLEY, 2005;
SANTOS, 2010).
Nesse mesmo ano foram estabelecidas, pelo Comitê de Câncer da Organização
Mundial da Saúde (OMS), as diretrizes para o alívio da dor e dos cuidados do tipo Hospice
24
para doentes com câncer. Nesse momento, o termo cuidados paliativos foi oficialmente
adotado pela OMS para definir esse tipo de cuidado, muitas vezes com traduções não
fidedignas em alguns idiomas (FOLEY, 2005).
No Brasil, os cuidados paliativos tiveram início na década de 1980, expandindo-se de
forma lenta e gradativa. A Profa. Dra. Miriam Martelete, anestesiologista, fundou, em 1979, o
Serviço de Dor e, em 1983, o Serviço de Cuidados Paliativos, ambos no Hospital das Clínicas
de Porto Alegre-RS. Em 1983, o Dr. Antonio Carlos Camargo de Andrade Filho, médico
fisiatra, fundou, na cidade de São Paulo, o Serviço de Dor da Santa Casa e, em 1986, o
Serviço de Cuidados Paliativos (FIGUEIREDO, 2011; SANTOS, 2010).
Em 1986, o Instituto Nacional do Câncer iniciou, no Rio de Janeiro, a assistência
paliativa a portadores de câncer avançado, sem possibilidades de cura, e ampliou suas
atividades com a criação do Centro de Suporte Terapêutico Oncológico, unidade hospitalar
dedicada, exclusivamente, aos cuidados paliativos. Em 1991, inaugurou o primeiro serviço de
Cuidados Paliativos do Hospital do Câncer, expandindo o movimento paliativista brasileiro,
sendo, atualmente, a unidade brasileira que mais se aproxima dos fundamentos do hospice de
St Cristopher's, constituindo-se em referência nacional (BRASIL, 2012b; FIGUEIREDO,
2011; SANTOS, 2010).
As legislações brasileiras no seguimento paliativista tiveram seu primeiro passo com a
publicação da Portaria 3535, em setembro de 1998, a qual determinou que os Centros de Alta
Complexidade em Oncologia (CACON) deveriam ter um serviço de dor e cuidados paliativos,
com assistência ambulatorial, hospitalar e domiciliar por equipe multiprofissional para
controle da dor e outros sintomas para pacientes sem resposta aos tratamentos
(FIGUEIREDO, 2011).
Em 1997 foi criada a Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP) e, em
2005, a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). A institucionalização da Política
Nacional de Atenção Oncológica propõe desde a prevenção do câncer até os cuidados
paliativos, por meio da Portaria GM/MS no 2.439, a qual determina mais recursos e a
ampliação da assistência paliativa brasileira (BRASIL, 2005). No entanto, no Brasil, ainda
não há diretrizes sistematizadas para os cuidados paliativos em pediatria e, tampouco, em
hebiatria.
Segundo a ABCP, existem atualmente no Brasil 61 unidades de cuidados paliativos,
com aproximadamente 300 leitos, concentradas principalmente na região Sudeste, com 20
unidades no estado de São Paulo; esses serviços estão organizados, em sua maior parte, na
esfera estatal e em unidades especializadas em dor (SANTOS, 2010). Esses dados indicam
25
que a rede de serviços de dor e cuidados paliativos no Brasil ainda é muito escassa e inviável
frente aos atuais índices de mortalidade por câncer no Brasil. O maior desafio do país é educar
futuros profissionais para assistir, com competência e humanização, o doente terminal e seus
familiares (FIGUEIREDO, 2011).
É indispensável ao país ampliar a disseminação dos cuidados paliativos mediante a
conscientização da população, criação de programa nacional de cuidados paliativos e de
serviços de saúde por meio da integração entre o Sistema Único de Saúde e empresas de
saúde, além de elos acadêmicos e de pesquisas na área (SANTOS, 2010).
Mudanças progressivas na área paliativa estão ocorrendo, como se observa nos
Estados Unidos da América, sinalizando para as seguintes diretrizes para prestação de
serviços com assistência qualificada a pacientes oncológicos graves e no fim da vida: oferta
de educação multidisciplinar, desenvolvimento de pesquisas, ampliação de recursos e,
especialmente, a valorização da assistência paliativa como especialidade médica, conferindo
maior conhecimento, expansão e credibilidade à área para melhoria do atendimento (GRANT
et al., 2009).
Nesse sentido, vale mencionar que, no Brasil, foram criados serviços de cuidados
paliativos como o do HCFMRP-USP, em 2006, inicialmente com reuniões de um grupo
multiprofissional composto por docentes e estudantes da EERP-USP, Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e profissionais do próprio
hospital. Desde então, o grupo vem se fortalecendo e crescendo ao redor do trabalho voltado
aos princípios dos cuidados paliativos, criando, em 2010, o Grupo de Cuidados Paliativos do
HCFMRP-USP e, no ano seguinte, o Programa de Cuidados Paliativos e Controle da Dor do
Hospital Estadual de Américo Brasiliense.
Diante desses avanços, foi criada, nesse serviço, uma equipe multiprofissional
constituída por um médico, uma enfermeira, uma terapeuta ocupacional, uma psicóloga, um
oficial administrativo e por docentes da FMRP-USP, das quais uma é a coordenadora do
grupo, aguardando ainda a contratação de uma assistente social. Essa equipe é hoje
responsável por mapear a demanda em cuidados paliativos dos usuários internados no
HCFMRP-USP - Campus e Unidade de Emergência, sendo constatado haver demanda de
usuários adultos e infantis para o acompanhamento por um serviço de cuidados paliativos.
Assim, o grupo de Cuidados Paliativos do HCFMRP-USP assiste, no momento, à
demanda de usuários por meio de solicitações de interconsultas médicas, sendo esse o ponto
de partida para a inclusão do cliente no programa de cuidados paliativos. A inserção e o
26
acompanhamento de crianças e adolescentes em cuidados paliativos, incluindo suas famílias,
e a fase de luto, ainda são comumente realizados pela equipe multiprofissional da Unidade de
Onco-Hematologia do HCFMRP-USP. Os serviços de cuidados paliativos encontram-se entre os desafios para as diversas
realidades mundiais. Estudo qualitativo realizado na Alemanha com o objetivo de avaliar a
infraestrutura dos serviços de cuidados paliativos direcionados às crianças e adolescentes, do
ponto de vista dos profissionais que atuam por longo tempo nessa área, identificou barreiras no
acesso aos serviços devido à falta de informação da família relacionada às suas existências,
sentimento de abandono que o cuidado nesses locais pode acarretar à família, não
reconhecimento da doença incurável do seu filho e, consequentemente, não aceitação da
assistência paliativa. Identificou ainda escassez de serviços próximos aos pacientes, dificuldades
relacionadas ao fato das residências serem distantes dos serviços, como áreas rurais, e às
crianças e adolescentes com doenças não malignas, que têm dificuldades no direcionamento da
assistência voltada para os cuidados paliativos (JÜNGER et al., 2010).
Além disso, a ausência de disposições legais e de financiamentos na área dificulta a
inserção da criança e adolescente na assistência paliativa face à escassez de serviços, falha na
regulação médica para encaminhamento, falta de qualificação profissional e as exigências de
natureza burocrática que levam os pais a dependerem dos seguros e planos de saúde para
garantir qualidade de cuidado aos seus filhos. Outro ponto ressaltado foi a necessidade de
infraestrutura adequada como pré-requisito para a qualidade do atendimento da criança e do
adolescente nos serviços de cuidados paliativos, para a continuidade dos cuidados e para
prestação de cuidados no domicílio (JÜNGER et al., 2010).
Acresce-se que os serviços de cuidados paliativos voltados à criança e ao adolescente
ainda são numericamente escassos e, quando existem, a maioria tem número limitante de
atendimento. Nos Estados Unidos da América, dentre mais de 3000 programas de cuidados
paliativos, apenas 15% estão preparados para assistir crianças e adolescentes, sendo que desses,
mais da metade atende apenas de 1 a 10 crianças por ano (FRIEBERT, 2009).
Nesse conjunto, as bases para os cuidados paliativos estão guiadas pelos princípios de
controle da dor e de outros sintomas que geram sofrimento; afirmação da vida e compreensão
da morte como um processo natural; não aceleração nem retardo da morte; integração dos
aspectos psicológicos e espirituais na assistência; oferta de um sistema de suporte para ajudar
o doente a viver da forma mais ativa possível até a morte; oferta de um sistema de apoio para
ajudar a família a suportar a doença e seu próprio luto; enfoque de equipe multidisciplinar,
visando à abordagem das necessidades de pacientes e familiares, incluindo a atenção ao
27
trabalho de luto, quando pertinente; melhora da qualidade de vida e influência positiva no
curso da doença; início desde o diagnóstico da enfermidade, conjuntamente com outras
terapias que buscam prolongar a vida como quimioterapia e radioterapia e inclusão das
investigações para compreender e controlar adequadamente as complicações clínicas
dolorosas (WHO, 2012).
O atendimento em cuidados paliativos pode ser instituído em unidades de internação
em cuidados paliativos e unidades de atendimento a paciente externo, sendo, respectivamente:
hospitais com serviço de cuidados paliativos, unidades hospitalares com leitos de cuidados
paliativos, grupo consultor em cuidados paliativos e serviços de cuidados paliativos
comunitários como ambulatório de cuidados paliativos, unidade-dia de cuidados paliativos,
atendimento domiciliar de cuidados paliativos e hospedarias de cuidados paliativos (DOYLE,
2011; MACIEL, 2009).
Pesquisas realizadas com familiares norte-americanos e outras referentes à revisão de
prontuários com objetivo de identificar a qualidade do atendimento nos serviços de cuidados
paliativos, mencionam, em seus resultados, que os serviços sofreram, no decorrer do tempo,
mudanças e melhorias na área dos cuidados paliativos, qualificando seus atendimentos.
Relatam também que a assistência ao final da vida, incluindo as diretrizes e as estratégias dos
cuidados paliativos, é melhor avaliada pelo paciente e suas famílias quando comparada a
outros tipos de serviços, pois a assistência paliativa direciona o cuidado ao paciente e sua
família, incluindo-os no processo de cuidar e tomada de decisão, além de permitir um
atendimento direcionado à atenção e às necessidades físicas, psicológicas e espirituais durante o
processo de morte e luto (GELFMAN et al., 2008; WOLFE et al., 2008).
Incluir o doente nos cuidados paliativos não significa “não ter mais o que fazer”, muitas
vezes sinônimo de derrota, desistência e insucesso para prática médica; é se aliar ao paciente,
transmitindo as informações de sua condição de saúde, importantes para que ele viva sem
sofrimento, confortável e ativo até o fim da vida (NETO, 2010).
Sob a perspectiva de cuidados paliativos, é necessário ampliar a assistência para a
dimensão da individualidade de cada paciente, de acordo com sua faixa etária e etapa de
desenvolvimento. Deve-se considerar o planejamento de um cuidado mais específico e
frequente, dado que as necessidades aumentam no decorrer da gravidade da doença,
requerendo intervenções mais precoces (BARBOSA; LECUSSAN; OLIVEIRA, 2008).
No Brasil, estudo advoga a importância de incluir os cuidados paliativos na assistência
à saúde de pacientes oncológicos em decorrência do crescente número de pacientes em estágio
avançado da doença, dos tratamentos agressivos e da incerteza de cura (KOVÁCS, 1998). Esse
28
tipo de assistência é extensiva às famílias dos pacientes, tendo, como fio condutor, a atenção
holística, individual e contínua, guiada pelos desejos do paciente, garantindo sua autonomia e
dignidade mediante a instalação de medidas de ajuda e educação à família, em especial,
atuando em seu ambiente domiciliar, propiciando respeito, conforto, suporte e comunicação
(SECPAL, 2012a).
Em 1998, a World Health Organization apresentou uma definição específica para os
cuidados paliativos prestados à criança, ou seja, a ação do cuidar ativo e total da criança, em
sua dimensão biopsicossocial, desde o início do diagnóstico da doença, aliviando o sofrimento
físico, psicológico e social e prestando suporte familiar. Incluiu, assim, a família e os recursos
da comunidade no cuidado da criança em instituições terciárias, centros de saúde e em suas
residências (WHO, 1998). Entretanto, considerando que as necessidades biopsicossociais
progridem com o agravo da patologia, de forma quase inconsciente os cuidados paliativos são
direcionados para o processo de morte e morrer, ou seja, o cuidado ao final da vida.
Crianças e adolescentes com câncer e seus familiares enfrentam diversas barreiras com
o agravamento da doença como: prognósticos incertos, negação da família à aproximação da
morte e o fim das possibilidades de cura e tempo escasso entre o início da incurabilidade até a
morte da criança (DAVIES et al., 2008). Do mesmo modo, há privação econômica decorrente
da queda da renda familiar pela dificuldade de conciliar o trabalho, bem como o aumento dos
gastos durante todo o processo (RABELLO; RODRIGUES, 2010).
Diante desse contexto, a criança, o adolescente e sua família necessitam de condutas
que proporcionem melhoria de sua qualidade de vida por meio do alívio dos sintomas
(BERGSTRAESSER, 2012). De acordo com investigações realizadas nos Estados Unidos da
América, Finlândia, Austrália, Japão e Canadá, os principais sintomas físicos identificados no
final da vida de crianças com câncer, segundo o relato dos pais e enfermeiros e o registro em
prontuários, foram: dor, fadiga, dispneia, anorexia, perda de energia, sonolência, problemas
respiratórios, úlceras de pressão e convulsão (BERETTA et al., 2010; HEATH et al., 2010;
RAJAPAKSE, COMAC, 2012). O sofrimento foi o sintoma central em todas as investigações.
Segundo Heath et al. (2010), em estudo realizado no Hospital Infantil Real de
Melbourne, na Austrália, cujo objetivo foi analisar , por meio de entrevistas e questionários
aplicados aos pais, os sintomas, o nível de sofrimento e o cuidado de crianças com câncer no
final da vida, identificou que 84% dos pais referiram que seus filhos sofreram muito nos últimos
momentos de vida, tendo pelo menos um sintoma no último mês, principalmente dor, fadiga e
falta de apetite, todos passiveis de serem aliviados por meio de terapêutica específica.
29
Outro estudo realizado com crianças americanas portadoras de câncer, atendidas em
consultas de cuidados paliativos com a finalidade de avaliar a prevalência de sintomas, as
recomendações de tratamento e a comunicação sobre questões de fim de vida, evidenciou que
a média de sintomas documentados em consultas de cuidados paliativos pediátricos foi de cinco
por criança ou adolescente, podendo variar de dois a dez, o que evidencia um maior número de
sintomas e, consequentemente, maior sofrimento. Além disso, a equipe especializada em cuidados
paliativos pediátricos apontou maior número de sintomas, três vezes mais do que a equipe clínica
de tratamento oncológico (ZHUKOVSKY et al., 2009).
Estudos realizados com crianças em cuidados paliativos mostraram que as medidas
terapêuticas utilizadas no controle dos sintomas não foram eficazes em sua maioria (HEATH et
al., 2010; WOLFE et al., 2000). A assistência no alívio dos sintomas se depara ainda com outro
dilema que é a rejeição do controle da dor, tanto pelo adolescente quanto por seus familiares, e até
pela equipe de saúde, justificada pelo preconceito da possibilidade de dependência física e
psicológica aos medicamentos, principalmente os opiáceos (LIMA, 2002).
Em contraposição, em outra pesquisa, Grégoire e Frager (2006) evidenciaram que o
controle da dor pode melhorar sensivelmente a qualidade de vida de crianças e o conforto de suas
famílias. Para os autores, deve haver empenho, por parte da equipe, no diagnóstico precoce e
correto dos sintomas e nos tratamentos eficazes para minimizar a dor e o sofrimento da criança e
do adolescente com câncer.
Segundo estudo envolvendo famílias e crianças com câncer, em busca da compreensão
de suas experiências no processo de morte e morrer, o adoecimento é interpretado pela criança
a partir da complexidade dos sinais e sintomas por ela manifestados, ou por outra pessoa, ou
seja, as alterações físicas e/ou limitações causadas pela doença estão diretamente relacionadas
ao grau de adoecimento, concretizando o processo de adoecimento pela percepção das
alterações corporais e disfunções orgânicas. Em momentos em que a doença se encontra
controlada, a criança não apresenta sinais e sintomas e sua rotina de atividades cotidianas é
retomada; ela não se vê mais como doente, mesmo ainda estando em processo de controle,
terapêutica e cuidados paliativos. Assim, o câncer não é visto como uma doença até que
provoque alterações perceptíveis à criança, afetando sua vida. Ao mesmo tempo, esse estudo
contemplou crianças de 4 a 10 anos, sendo que a interpretação do processo de adoecimento
não esteve relacionada às suas idades, isto é, tanto as crianças com menor idade como aquelas
com idades mais avançadas traduziram seu entendimento da mesma forma (ZORZO, 2010).
Sob a perspectiva do adolescente, a doença, em especial o câncer, traz consigo o
sofrimento ocasionado pelas mudanças na vida cotidiana, tratamentos agressivos e dolorosos,
30
restrições das atividades e dos relacionamentos e alteração da autoimagem, aspectos em
processo de ascensão e descobrimento nessa faixa etária (MENOSSI; LIMA, 2000). O
momento do diagnóstico é referenciado como primordial no processo de enfrentamento da
doença, efeito da comunicação diferenciada e adequada para a fase da adolescência
(REZENDE; SCHALL; MODENA, 2011).
O progresso tecnológico na área da saúde tem sido permeado pelo conflito entre a
possibilidade de cura e o prolongamento da vida sem qualidade. Crianças e adolescentes com
doenças crônicas como o câncer, muitas vezes tornam-se dependentes de tecnologia, sem
provimento de cuidados paliativos indicados quando já não respondem aos tratamentos
curativos (FLORIANI, 2010; RABELLO; RODRIGUES, 2010).
A escolha do local de morte não é um evento isolado, sendo determinado pela
autonomia do paciente e pelo desejo da família; entretanto, está diretamente relacionado à
presença da equipe de saúde, ao suporte de cuidado ao paciente e à sua família e à
disponibilidade e acesso aos serviços de saúde, conjunto esse que possibilita sentimento de
segurança, por parte do familiar, no complexo cuidado do paciente em processo de morte
(OLIVEIRA et al., 2011).
Atualmente, têm sido observadas divergências quando se trata da escolha do local de
morte. Em muitos casos, o ambiente domiciliar é escolhido pela maioria dos pacientes por
oferecer conforto, liberdade, apoio familiar, sossego e repouso necessário, aspectos esses
benéficos ao seu cuidado (ZANONI et al., 2006). A casa também é desejada pela
aproximação do doente e de seus familiares à vida cotidiana, a qual, mesmo tendo se
modificado pelos cuidados ao membro familiar doente, não deixa de possuir as peculiaridades
rotineiras de cada família, apresentando uma nova normalidade do contexto familiar,
permitindo que a família sinta tranquilidade ao ver, sob seu controle, os cuidados, reforçando
a esperança de permanecer junto da criança e do adolescente doente (MISKO, 2012).
Entretanto, pesquisas destacam a predominância da morte de crianças em ambientes
hospitalares, sendo 90% em unidades de terapia intensiva pediátrica, sobretudo transferidas
nos últimos dias de vida (HINDS, 2005; RAMNARAYAN et al., 2007). Essa estatística pode
ser explicada pela confiança na existência de recursos humanos, materiais e tecnológicos que
adiam a morte no ambiente hospitalar e pela insegurança familiar com a evolução do processo
da morte (LIMA, 2002).
Estudo envolvendo 70 crianças e adolescentes com câncer, em cuidados paliativos em
hospital especializado em oncologia, na cidade de São Paulo, mostrou que o hospital foi o
local de morte de maior escolha por parte dos familiares. Essa preferência teve influência
31
positiva da idade e presença de sintomas, isto é, a escolha da morte no ambiente hospitalar foi
opção quando as crianças e adolescentes apresentavam sintomas físicos de agravamento da
doença, em sua maior parte aquelas com mais 13 anos de idade (KURASHIMA, 2007).
Em contraposição, pesquisa americana envolvendo 164 crianças, nas mesmas
condições acima descritas, evidenciou que a maioria (70%) morreu em casa, sendo que 80%
manifestaram que, no último mês de vida, esse foi o local de preferência para a morte
(VICKERS et al., 2007). No mesmo sentido, estudo recente realizado na Itália identificou que
50% das mortes de crianças e adolescentes com câncer ocorreram em casa (BERETTA et al.,
2010). No Brasil, também há evidências do desejo de familiares para assistência paliativa de
crianças no domicílio (RABELLO; RODRIGUES, 2010). Observa-se que o essencial é a
participação da criança ou do adolescente e sua família na escolha do local da morte
(DUSSEL et al., 2009).
A decisão da criança, do adolescente e de sua família a respeito do local de morte
encontra obstáculos como o medo de não conseguir controlar os sintomas do filho em casa, as
dificuldades financeiras, a falta de prática para o cuidado domiciliar no final da vida e, por
fim, o acesso à rede de serviços de saúde e suporte da equipe de saúde, os quais, quando
ausentes, geram, para a família, sentimentos de abandono e insegurança (ZELCER et al.,
2010).
Estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro apresentou dados relacionados ao
atendimento domiciliar a crianças e adolescentes em um Programa de Assistência Domiciliar
Integrada, atribuindo qualidade às ações educativas, assistenciais e de comunicação entre
equipe e família. Paralelamente, apontou dificuldades referentes à articulação dos serviços,
aos recursos econômicos e ao reduzido número de atendimento, direcionados, em sua maioria,
somente a crianças e adolescentes, não considerando a assistência familiar (RABELLO;
RODRIGUES, 2010). Nesse sentido, para a real efetividade dos programas de cuidados
paliativos domiciliares são necessárias diretrizes para atendimento contínuo, em tempo
integral, fortalecendo o apoio a criança e à sua família (FLORIANI, 2010).
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a criação e educação no ambiente
familiar, tanto em família natural como em substituta, é um direito da criança e do
adolescente, tendo a família o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores. Desse
modo, assegura-se a convivência familiar e comunitária, respeitando o direito à proteção à
vida e à saúde; inviolabilidade física, psíquica e moral e preservação da autonomia, dos
valores, ideias, crenças e espaços pessoais (BRASIL, 2006).
32
À semelhança do câncer em adultos, o câncer em crianças e adolescentes não afeta
somente a eles, mas também seus familiares que enfrentam, juntos, longos períodos de
hospitalização, terapêutica agressiva, reinternações frequentes, separação dos membros
familiares durante as internações, interrupções das atividades diárias, limitações na
compreensão do diagnóstico, desajuste financeiro, angústia, dor, sofrimento e o constante medo
da morte, exigindo reflexões e adaptações de todos os envolvidos no processo saúde e doença e
cuidado (LIMA, 1995).
Ao se depararem com a criança e o adolescente com câncer, os familiares vivenciam
diferentes momentos e associam o adoecimento e o tratamento a aspectos negativos e de
destruição como sofrimento e dor, fatores de hereditariedade do câncer e, por fim, à
esperança, quase que incondicional, da cura (LACAZ, 2003).
Nessa situação, o cuidador é o elo entre a vida diária e a doença da criança ou do
adolescente, agindo de forma a zelar pela vida e amenizar a dor e sofrimento do familiar
querido. Segundo Beck e Lopes (2007a), a tensão e o desgaste físico e emocional dos
cuidadores são reflexos de seus múltiplos papéis, funções e atividades desempenhados
integralmente para o cuidado da criança e do adolescente na trajetória de sua doença
oncológica.
O diagnóstico e tratamento do câncer infantil atingem a organização familiar, tornando-a
vulnerável ao sofrimento psíquico (LOPES; VALLE, 2001). Os familiares, em especial os pais,
tornam-se cúmplices na luta contra o câncer, participando ativamente da terapêutica bem como
das demandas biopsicossociais (COSTA; LIMA, 2002). A adaptação à nova realidade é uma
constante e leva a família a buscar sua reorganização mediante estratégias de enfrentamento e
identidade enquanto grupo familiar (PEDRO, 2000).
Segundo Lago et al. (2007), a família é fundamental na prestação de cuidados à
criança no fim da vida, pois apresenta as melhores condições para direcionar a assistência
segundo as necessidades físicas, psicológicas e espirituais da criança. Nesse sentido, a ação do
cuidar vem deslocando seu foco dos tratamentos hospitalares sofisticados para o conforto e
cuidados no domicilio, muito embora o mais comum sejam os cuidados ao final da vida no
âmbito hospitalar, local onde os familiares ainda lutam pelo seu direito de ficar junto no
processo de morte e morrer. Para Moreira (2006), o cuidar do doente em processo de morte e
morrer interliga as esferas pessoal, social, cultural e assistencial da família, atribuindo-lhe o
papel de cuidador por motivos de obrigação, dever, mas também, amor e respeito.
A presença de uma doença grave em um dos membros da família gera grande impacto,
expresso em manifestações de dor, medo, ansiedade e, muitas vezes, culpa (MOREIRA,
33
2006). Enfrentar a morte da criança é um dos processos mais difíceis e dolorosos para a
família, constituindo um dos obstáculos que dificultam a implantação dos cuidados paliativos
em oncologia pediátrica (LIMA, 2002).
As necessidades familiares no cuidado da criança ou adolescente com câncer são
abrangentes, incluindo a educação acerca da assistência e apoio; avaliação, suporte e
assistência psicológica e necessidades espirituais, financeiras e sociais (BENINI et al., 2008;
MONTEROSSO, KRISTJANSON, PHILLIPS, 2009).
Segundo Lima (2002), as necessidades dos familiares são biopsicossociais, culturais e
espirituais, as quais podem ser observadas nos relatos de familiares de crianças e adolescentes
com câncer. Tais necessidades são evidenciadas na fase diagnóstica, quando se deparam com
a incerteza, probabilidade da morte e tomada de decisões rápidas, duvidosas, conflituosas,
individuais e irreversíveis; no espaço hospitalar, cujo significado é de sofrimento, vivenciam,
ao mesmo tempo, esperança da cura e recuperação, de troca de experiências e suporte; no
agravamento da doença, detectado por desgaste físico e emocional, principalmente das mães,
se deparam com a antecipação da perda do membro familiar doente e medo de ser necessário
transferir as crianças para unidades de terapia intensiva e, na finitude, vivência de momentos
de sofrimento, dor, incertezas, tristeza, negação, abandono e também sentimentos de
esperança e apego à religião.
Pesquisa envolvendo os cuidadores principais de crianças com neoplasia, na faixa
etária de três a dez anos, mostrou que a maioria delas apresentava algum grau de dependência
para as atividades de vida diária, principalmente na faixa etária de três a seis anos, sendo essa
dependência relacionada a atividades como banhar-se, vestir-se, arrumar-se e, em especial,
para tomar remédio (BECK; LOPES, 2007b).
Estudos mencionam os prejuízos na vida diária dos cuidadores de crianças com
câncer, destacando o trabalho, estudo, sono e lazer. Mencionam ainda que algumas atividades,
como sono e lazer, estiveram mais prejudicadas durante os episódios de internações e que os
cuidadores receberam maior colaboração de outros familiares nas atividades domésticas e
cuidado com outros filhos. Também destacaram a importância das informações para o
embasamento do cuidado, de forma a minimizar a angústia e ansiedade familiar, ressaltando
que elas devem ser claras e padronizadas entre os profissionais da saúde (MOREIRA, 2006;
WEITZNER et al., 2000).
Trabalho qualitativo com grupos focais envolvendo uma amostra de 25 pais de 17
crianças assistidas no Hospital da Criança, em Londres, com objetivo de explorar a
experiência de fim de vida, observou que quando a gravidade da doença avança, a arte de
34
enfrentamento da morte torna-se um ponto vital nesse processo, levando as famílias a se
esforçarem para manter a normalidade da vida cotidiana, buscando a esperança e a resiliência
de seus filhos na crença espiritual. Assim, o cuidar remete à necessidade de equilibrar as
responsabilidades financeiras e sociais, ao diálogo sobre a morte com a criança e à dificuldade
no manejo dos sintomas (ZELCER et al., 2010).
As etapas que permeiam os cuidados à criança e ao adolescente no final da vida são
caracterizadas pela certeza da equipe assistencial no que se refere à irreversibilidade da
doença; comunicação da fase paliativa para a família; organização e definição dos cuidados a
serem prestados no final da vida, acordados juntamente com a família e, por fim, a
concretização dos cuidados (LAGO et al., 2007). Observa-se que os pais e demais familiares
desejam participar ativamente dos planos de cuidado ao final da vida de seu filho, o que
poderá proporcionar uma gradativa adaptação ao luto e um melhor enfrentamento da morte
(LIMA, 2002; MEERT et al., 2007).
Nesse contexto, contraditoriamente, destaca-se a falta de comunicação da equipe de
saúde para com a criança e o adolescente em fase paliativa bem para com sua família. A
comunicação é um elemento indispensável aos cuidados paliativos, pois pode fortalecer o laço
de confiança entre equipe, paciente e família, colaborando com o processo de enfrentamento
da fase final da vida, geralmente vivido com angústia e impotência, agravado pela falta de
informação e de conhecimento sobre a fase paliativa e suas características (HUBBLE et al.,
2008; SETH, 2010).
As famílias que participam ativamente do cuidado ao final da vida de seu membro
familiar citam, como causa de suas angústias, a forma não humanizada de comunicar notícias
ruins às famílias e o descuido da equipe na assistência ao paciente. Por outro lado, a equipe
relata a falta de experiência para atuar nos cuidados paliativos, tanto na identificação, descrição
e avaliação dos sintomas, mas, sobretudo, na avaliação da dor. Assim, observa-se a necessidade
de suporte para a assistência paliativa à criança e ao adolescente com câncer e sua família
(CONTRO et al., 2004).
A inserção da família no cuidado do paciente oncológico é fundamental para prover as
necessidades quase que incondicionalmente impostas pela doença e seu agravamento. A escuta
sensível, a comunicação terapêutica, o apoio e o processo de ensino-aprendizagem ao lidar e
compreender as problemáticas vivenciadas pela família levam a equipe de enfermagem a ajudá-
la, dando suporte às suas necessidades, segurança e fornecendo ferramentas para o
enfrentamento da doença e, em especial, na fase de cuidados paliativos, com objetivo de
minimizar o sofrimento (NUNES, 2010).
35
Estudos afirmam a importância da comunicação e do suporte psicossocial oferecidos
pelos profissionais de saúde aos membros das famílias cuidadoras de pacientes ao final da
vida, inclusive crianças e adolescentes, durante o processo de morte e morrer e sua
continuidade no período de luto (LIMA, 2002; ZAIDER; KISSAN, 2009).
Estudo fenomenológico realizado com enfermeiros brasileiros revelou que as ações de
enfermagem para a criança e adolescente em cuidados paliativos estão direcionadas para o
conforto, o manejo dos sintomas, o alívio da dor, o cuidado domiciliar, acompanhados de
diálogo honesto e sincero e auxílio na tomada de decisão, desenvolvimento de atividades
lúdicas e apoio familiar no período de luto (LOPES; ANDADRE, 2007).
Diante das diversas temáticas pesquisadas em cuidados paliativos, destacam-se as
relacionadas à formação e prática para o gerenciamento dos cuidados paliativos, dignidade no
processo de terminalidade, uso de tecnologia e sua relação com o cuidado humanizado,
qualidade de vida e assistência biopsicossocial e espiritual, relacionamento interpessoal e
comunicação e inclusão da família nos cuidados paliativos (FERRAI et al., 2008).
Observa-se escassez de estudos na área de cuidados paliativos pediátricos e herbiátricos,
sobretudo aqueles relacionados às abordagens qualitativas com famílias, os quais contemplam a
subjetividade e a experiência dos sujeitos. Assim, o presente estudo tem seu foco norteado pela
seguinte questão: “Quais as necessidades da família para cuidar das crianças e adolescentes com
câncer na fase final da vida?”
“O sofrimento só é intolerável
quando ninguém cuida.”
(Cicely Saunders)
2 OBJETIVO
37
2.1 Objetivo geral
Investigar a experiência dos familiares no cuidar de crianças e adolescentes com
câncer em cuidados paliativos, particularmente ao final da vida.
2.2 Objetivos específicos
Conhecer o contexto da família como cuidadora durante o processo de adoecimento
da criança e adolescente com câncer, particularmente nos cuidados ao final da vida.
Identificar as ações e estratégias desenvolvidas pela família no cuidado da criança e
do adolescente com câncer em cuidados paliativos.
"Aquele que não pode fazer nada
para parar a propagação de uma
doença não significa que não há
nada a fazer."
(Cecily Saunders)
3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
39
3.1 Tipo de estudo
O presente estudo é de natureza descritiva e exploratória, utilizando análise qualitativa
dos dados. Buscamos, além de observar e descrever, investigar a natureza do fenômeno aqui
estudado e a maneira pela qual é manifestado. Dado o objeto e objetivo do estudo, nos
fundamentamos na abordagem de pesquisa qualitativa, visto que a experiência humana,
referida pelos seus próprios sujeitos, é capaz de fundamentar o conhecimento sobre as pessoas
(POLIT; BECK, 2004). Tal opção é ainda justificada por se tratar de uma valiosa abordagem
quando se procura descobrir e entender os significados de eventos, práticas sociais,
percepções e ações dos indivíduos (BOGDAN; BIKLEN, 1994), visto que a pesquisa
qualitativa não busca apenas estudar o fenômeno, mas “entender seu significado individual ou
coletivo para a vida das pessoas”, significado esse estruturante, já que, em torno dele, as
pessoas organizam suas vidas e o próprio cuidado com a saúde (TURATO, 2005, p.509).
3.2 Considerações éticas
Segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a qual regulamenta as
diretrizes e normas da pesquisa envolvendo seres humanos, este projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo, sob protocolo no 1325/2011, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(HCFMRP-USP). Foi autorizada ainda pela instituição onde foi realizada a pesquisa a
dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para análise de prontuários dos
participantes do estudo.
De acordo com os preceitos éticos, foi elaborado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice A), no qual, em linguagem simples, os familiares foram informados
sobre o objetivo da pesquisa, os procedimentos e a garantia do anonimato e respeito ao desejo
ou não de participarem do estudo. Após explicação e discussão do TCLE, foi solicitada sua
anuência mediante assinatura do termo para aqueles que concordaram em participar. Nessa
ocasião, também foi solicitada autorização para que a entrevista, instrumento de coleta de
dados, fosse gravada.
40
3.3 Local do estudo
Este estudo foi realizado no Setor de Onco-Hematologia Pediátrica do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(HCFMRP-USP), local onde foram atendidas as crianças e adolescentes com câncer, cujos
óbitos ocorreram no período de julho de 2010 a dezembro de 2011, inseridas ou não no
protocolo de cuidados paliativos dessa instituição. Vale destacar que essa clientela foi o ponto
de partida para a seleção dos participantes do estudo, ou seja, seus familiares cuidadores.
Essa instituição é um hospital-escola, de nível terciário de atenção à saúde, sendo
referência para o atendimento de crianças e adolescentes com câncer. A equipe de saúde
responsável por tal atendimento é multiprofissional, constituída por médicos, enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, auxiliares e técnicos de
enfermagem. Alguns deles atuam apenas no serviço de onco-hematologia, como os médicos
docentes, os médicos contratados e os médicos residentes de 3° e 4º anos, além da psicóloga e
da nutricionista contratadas pelo Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC)*. Outros
profissionais não são específicos desse serviço, atendendo as demais crianças e adolescentes
internados na Clínica Pediátrica da qual o setor de onco-hematologia é parte.
3.4 Participantes do estudo
O número de óbitos por diagnóstico de câncer na unidade de pesquisa foi de 18
crianças/adolescentes, em 2010, e 9 crianças/adolescentes, em 2011, segundo dados obtidos
diretamente no Serviço de Onco-Hematologia, não publicados.
Para a seleção dos participantes, recorreremos aos dados cadastrados do GACC, aos
quais tivemos acesso após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Nesse
banco de dados, buscamos informações para o primeiro contato entre a pesquisadora e os
familiares, como: data do óbito, nomes dos pais, endereço e telefone.
O convite foi feito aos familiares por telefone, seguindo a ordem cronológica de data
de morte das crianças e adolescentes, independentemente do período de luto; porém, a coleta de
dados em períodos próximos aos do óbito foi cautelosa, ressaltando, nesses casos, a liberdade da
família decidir sobre sua participação. _______________ *O GACC é uma entidade civil, sem fins lucrativos, criada em 1987 com o objetivo de promover atendimento integral às necessidades de crianças e adolescentes com câncer e suas famílias, realizado por meio de atendimento multiprofissional, ligado à FMRP, EERP e HCFMRP.
41
Nesse momento, a aluna/pesquisadora apresentou-se e explicou o propósito do estudo,
expondo seu objetivo, finalidade, aspectos éticos e a garantia de segurança quanto ao sigilo das
informações, inclusive da não identificação dos participantes, conforme já mencionado. Ainda
foram informados sobre sua livre escolha para participação no estudo.
O objetivo do primeiro contato foi informar, aos potenciais participantes, sobre o
estudo e permitir um tempo para que pudessem discutir a proposta com os demais membros
da família. Ainda nesse primeiro momento foi solicitada a indicação de outros familiares para
participação, se necessário. Também informamos sobre nova ligação após dois dias para
sabermos a decisão da família sobre sua participação. Para os convites aceitos, foram
agendados horários e datas para realização da entrevista, a qual ocorreu no domicílio; apenas
em um caso foi realizada na EERP/USP. As entrevistas foram realizadas com o cuidador
principal ou outros familiares por ele indicados.
Dessa forma, os critérios de inclusão do participante foram: ter sido o familiar
cuidador de uma criança ou adolescente com câncer, cujo óbito tenha ocorrido entre julho de
2010 a dezembro de 2011, independente do grau de parentesco, sexo ou idade, e ser residente
no estado de São Paulo.
Em um primeiro momento, foram selecionados os óbitos ocorridos durante o período
de 1 ano, ou seja, julho de 2010 a junho de 2011; entretanto, foi necessário ampliar por mais
seis meses o período de coleta, visto que no primeiro semestre de 2011 ocorreram 2 óbitos.
Das 18 famílias que preencheram os critérios de inclusão, 14 participaram do estudo,
sendo que, em 2 delas, foram entrevistados dois cuidadores. Das quatro famílias que não
participaram, uma não foi encontrada após insistentes ligações e houve três recusas por
motivos de não superação da morte da criança ou adolescente, conforme relatos por telefone:
[...] Eu não quero falar, não aceitamos tudo o que aconteceu, ela ter ido assim [...] Foi muito difícil, não temos o que falar [...]
[...] Não estou preparada ainda para falar disso, falando eu lembro tudo, não quero [...] Fui eu quem cuidei [...] Meu marido também não quer, acho que não quer lembrar de tudo também [...]
[...] Estou grávida e acho que não vai me fazer bem lembrar isso, é muito sofrimento [...] Meu marido também não vai querer, ele sofre até hoje [...]
No quadro 1, estão descritas algumas características das crianças e adolescentes e dos
familiares entrevistados.
42
Quadro 1. Caracterização das crianças, dos adolescentes e dos familiares entrevistados.
Criança/
Adolescente
Idade ao
morrer
Diagnóstico Idade na
época do
diagnóstico
Familiares
entrevistados
Data da
entrevista
Duração da
entrevista
em minutos
A1 18 anos Meduloblastoma 03 anos Mãe 30.07.2011 130
A2 13 anos Leucemia Linfoide
Aguda
03 anos Mãe 13.08.2011 75
A3 13 anos Linfoma de não-
Hodgkin
07 anos Mãe 03.09.2011 90
C4
10 anos Meduloblastoma 01 ano Mãe 03.09.2011 40
C5 03 anos Neuroblastoma
02 anos Mãe 29.10.2011 60
C6 01 ano Tumor de Seio
Endodérmico
01 ano Mãe e Avó 12.11.2011 60
C7 05 anos Rabdomiossarcoma 03 anos Mãe 25.11.2011 90
C8 02 anos Tumor de Sistema
Nervoso Central
03 meses Avó 25.11.2011 70
C9 01 ano Angiossarcoma 4 meses Mãe 21.01.2012 110
C10 04 meses Leucemia Linfoide
Aguda
03 meses Mãe e Tia 25.01.2012 60
A11 18 anos Rabidomiossarcoma
16 anos Mãe 25.01.2012 50
A12 15 anos Leucemia Mieloide
Aguda
15 anos Mãe 26.02.2012 60
C13 07 meses Leucemia Linfoide
Aguda
06 meses Mãe 26.01.2012 60
A14 17 anos Histiocitose 17 anos Mãe 27.01.2012 60
3.5 Procedimentos para coleta dos dados
Após o primeiro contato, foi agendada a entrevista, de acordo com o objetivo da
pesquisa, com o principal cuidador da criança ou do adolescente com câncer e outros por ele
indicados.
Anteriormente à data marcada para a entrevista, buscou-se conhecer a história da
enfermidade, recorrendo-se, para tanto, aos prontuários. Foram considerados para essa
43
avaliação os dados pessoais (data de nascimento, sexo, escolaridade, procedência, endereço e
telefone) e clínicos (data do diagnóstico, terapêutica, intercorrências, data do ingresso nos
cuidados paliativos, causa mortis e data) (Apêndice B).
Iniciamos a coleta de dados com a elaboração do genograma e ecomapa para conhecer
a organização familiar e a história da família relativa ao cuidado à criança e ao adolescente
com câncer na fase final da doença (Anexo A). O genograma é uma representação gráfica da
família, com símbolos genéticos convencionais, porém permite a inserção de outras pessoas
significativas à família, sem laços consanguíneos com ela. O ecomapa é também a
representação gráfica da família, porém na sua relação com a comunidade. Nessa
representação, a família fica em posição central e é cercada pelas comunicações sociais que
refere, sendo atribuídos graus de intensidade aos relacionamentos por linhas legendadas. A
utilização desses instrumentos da área de enfermagem da família é particularmente valiosa,
funcionando como um quebra-gelo inicial (WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Em seguida, foi realizada a entrevista, técnica que permite a interação entre o
pesquisador e o entrevistado. Para Gil (2008), a entrevista é um dos principais meios que o
pesquisador tem para coleta de dados, sendo considerada uma técnica de excelência em
investigação social. Nunkoosing (2005) complementa argumentando se tratar da técnica mais
utilizada em pesquisas de abordagem qualitativa, pois possibilita mergulhar na experiência
relacionada à saúde das pessoas, de grupo, permitindo que nos contem suas histórias. Para
este autor, a entrevista é um evento que envolve reflexão e diálogo, no qual o entrevistado, em
nosso caso, o familiar das crianças e adolescente com câncer, construirá, conjuntamente com
o entrevistador, sua história de cuidado.
A entrevista foi elaborada em duas partes - uma inicial, com a identificação das
famílias e, outra, com as seguintes questões diretivas: fale-me sobre a sua experiência de
cuidar de seu filho(a) durante a doença; conte-me sobre como você percebeu o agravamento
da doença de seu filho(a); quando percebeu o agravamento da doença houve uma conversa
entre você e a equipe de saúde? como foi essa conversa? você conversou com sua família e a
criança/adolescente sobre o agravamento da doença? como foi essa conversa? conte-me como
foi que vocês se organizaram para cuidar de seu filho(a) durante a fase de agravamento da
doença; quais foram suas necessidades diante desse processo e, como foram atendidas pela
equipe de saúde (Apêndice C).
No início, ainda foi solicitada autorização para que a entrevista fosse gravada, não
tendo havido recusa. Ao final da entrevista, cuja duração foi determinada pelos próprios
44
participantes do estudo, aproximadamente uma hora, a gravação foi, então, novamente ouvida
por todos os participantes para certificação, correção ou acréscimos.
Como forma de assegurar a credibilidade e validade dos dados, ao final de cada
entrevista, voltou-se às histórias contadas, com as impressões e interpretações do pesquisador,
possibilitando aos participantes alterar o que julgassem necessário. Essas observações foram
descritas no diário de campo com objetivo de aproximar e validar as interpretações realizadas
posteriormente, retomadas ao final da análise de dados de forma a assegurar sua legitimidade.
As entrevistas foram transcritas na íntegra, logo após seu término, a fim de evitar
enganos na identificação dos participantes e, principalmente, como estratégia para aprimorar
os questionamentos para as entrevistas subsequentes.
Ao lado da entrevista, mais descritiva ou mais opinativa, a observação foi outra
estratégia para coleta de dados. Quando a observação é associada à entrevista, é possível
incorporar os depoimentos ao contexto social no qual se deu sua produção. Ao acompanhar os
fenômenos in loco, o pesquisador entra em contato com o meio social dos entrevistados
(MINAYO, 2007).
Esse fato possibilitou observar e descrever o contexto familiar dos participantes do
estudo, evidenciando as condições de moradia e a presença de objetos significativos como
fotografias, fitas de vídeos, brinquedos e outros pertences das crianças e dos adolescentes.
Tais observações foram registradas em um diário de campo, logo após cada encontro. Ainda
foram registradas as percepções e situações manifestadas de forma não verbal.
3.6 Análise dos dados
Sob a perspectiva da investigação qualitativa, a análise dos dados tem por finalidade a
exploração da representação social de um determinado grupo; no presente estudo, crianças e
adolescentes com câncer em cuidados paliativos, com características e questões em comum,
mas, ao mesmo tempo, apresentando singularidades inerentes à sua condição humana, à sua
história (GOMES, 2007).
A descrição dos dados consiste no conjunto de depoimentos dos participantes,
apresentados de forma fidedigna, como se os dados falassem por si próprios. O propósito da
análise do material é ir além do descrito, buscando as relações entre as partes por meio da
45
decomposição e interpretação dos dados. Nessa etapa deseja-se compreender o fenômeno
investigado por meio dos sentidos das falas e das ações dos entrevistados (GOMES, 2007).
Para isso, a análise iniciou-se com a ordenação dos dados mediante a transcrição
integral das fitas gravadas, complementadas com as informações obtidas nos prontuários, a
realização do genograma e ecomapa e as observações registradas em diário de campo.
Buscou-se preservar o máximo possível as expressões de linguagem dos participantes e, para
melhor compreensão dos relatos, foram feitas correções que não alterassem o significado da
frase. Esse procedimento ocorreu logo após a realização de cada entrevista, conforme já
mencionado.
A etapa de transcrição dos dados deve ocorrer mediante a união e integração do
material empírico, obtido em estudos qualitativos por entrevistas, observações, notas de
diários de campo e impressões; sua transformação em um corpo compreensível requer tempo,
conhecimento, atenção e dedicação do pesquisador (GOMES, 2007).
Em respeito ao anonimato, os participantes foram identificados por letras e números,
da seguinte maneira “C1” (Criança da entrevista 1), “A1”, “(Adolescente da entrevista 1),
M1” (Mãe da entrevista 1), “V1” (Avó da entrevista 1) e “T1” (Tia da entrevista 1),
consecutivamente até a entrevista de número 14. Os trechos que serão apresentados referem-
se aos relatos originais transcritos, identificando as pausas por colchetes e as impressões,
ênfases significativas e explicações cabíveis por parênteses.
Em seguida, foram realizadas repetidas leituras do material empírico, seguindo a
ordem cronológica das entrevistas, com a finalidade de apreender os relatos dos participantes
e identificar aspectos de interesse para compreensão dos dados. Os dados foram classificados
por intermédio de códigos, entendidos como frases ou palavras, que se repetiam e abrigavam
as ideias centrais dos relatos, similares ou não (GOMES, 2007).
Para atender aos objetivos propostos, optou-se por trabalhar compreensivamente o
conjunto dos conteúdos e enunciados, empregando a análise de conteúdo segundo orientação
de Gomes (2007). Essa técnica compreende a análise dos dados a partir do material empírico,
permitindo a inferência de sentidos e organização em temas. Seguindo as orientações do autor
que estabelece os seguintes passos: pré-análise (leitura do material empírico, buscando
mapear os sentidos atribuídos pelos sujeitos às perguntas feitas); análise dos sentidos
expressos e latentes (com a finalidade de identificar os núcleos de sentidos, ou seja, eixos em
torno dos quais as ideias gravitam); elaboração de temáticas que sintetizam o material
empírico e análise final (discussão das temáticas).
.
46
Dessa maneira, os dados foram separados em partes distintas, permitindo a
identificação das propriedades que compuseram a experiência dos familiares no cuidado da
criança e do adolescente com câncer em cuidados paliativos, conforme exemplificado no
Quadro 2.
Quadro 2. Exemplo de codificação.
Trechos das entrevistas Código Temática
Olha, todo mundo ficou arrasado porque tivemos uma equipe no começo que cuidava da C8 e foram ótimos médicos, depois mudou para uma equipe que fazia coisas completamente diferentes. Ainda eu falava assim, nossa se o Dr. B estivesse aqui, acho que não seria assim, seria diferente. Eles viam a C8, faziam exames mais profundos. Então, eu acho que eles sabiam das coisas que estavam acontecendo e não falavam. V8 [...] Eu falava que ela não estava bem, aí eles falavam que iam fazer exames nela, mas eles não fizeram, e deram alta para ela. Achei esquisito eles darem alta para ela porque não tinha condição dela ir embora. V8
Foi na hora de trocar o médico que eu não gostei, a mulher (médica) não ia ao quarto ver minha menina, tinha que ficar chamando ela [...] Ficava só no computador [...] Era muito estúpida. O outro médico. não, ele todo dia cedo ia ver os pacientes, na hora do almoço, à tarde e hora que ele ia embora, e quando trocou, a mulher não fazia nada disso, ficava no computador e mandava as outras olharem, porque ela mesma não vinha olhar. M10
Relação entre a criança, adolescente, família e equipe de saúde
Comunicação
de más notícias
Ficaram muitas dúvidas, de não saber se iria acontecer coisa grave ou não, se ela iria viver com isso ou se iria agravar, como aconteceu. M1 [...] Mas no dia que ela faleceu, eles entubaram ela de manhã, era 11:00 horas e falaram: M2 vai para a casa, descansa, porque eu já estava lá de um dia para o outro, e mesmo eu não podendo ficar lá dentro do CTI, eu fiquei fora, eles falaram: vai para a casa, vai descansar, que agora ela está entubada mesmo. Quando era 10 e pouco da noite recebi um telefonema falando que ela não estava bem, ai falei que iria lá agora e eles disseram: se você não quiser vir não precisa, vem amanhã de manhã, e quando eu cheguei lá (no hospital) ela já tinha falecido. Eu fui na mesma hora do telefonema e ela já tinha falecido, sabe? Me ligaram quase 11 horas, ainda falaram que se eu quisesse podia ir só de manhã e eu fui na mesma hora e ela já tinha falecido, acho que a hora que eu cheguei eles tinham acabado de tentar reanima-lá, ela estava quentinha ainda. M2 Eu sempre pedi que o que tivesse que falar, seja o que fosse, que eles me chamassem e me falassem claramente, eu não queria ser enganada, e foi a doutora que me chamou e falou que não tinha mais o que fazer, então nós vamos esperar ela melhorar dessa quimioterapia e já entrar com paliativo, só que não deu tempo. M3
Comunicação entre
a equipe, criança,
adolescente e
família
Eu não conversava com ninguém, nem com ela, nem com ninguém. A minha preocupação ficava assim, para mim, eu nunca me abri com
Comunicação entre
47
ninguém. Eu não queria preocupar ninguém da família e não queria falar muito sobre isso (agravamento da doença). M1 Eu pedi para a minha filha chegar em casa e conversar com o pai dela, que ele não podia ficar achando que A3 fosse voltar, ai ela conversou. Ele é difícil de conversar. Deu bastante trabalho e, às vezes, bebia. M3 [...] eu sempre falei, você vai viver, vai ficar bom, vai ficar curado, sempre falei que ele iria ficar bem, nunca deixei ele saber da realidade [...] eu não quis falar, eu acho que não seria legal para ele, ele era criança, não iria entender [...] na véspera dele falecer, ele pegou minha mão, beijou minha mão e falou para mim que iria partir. M4
a família, criança,
adolescente
“O cuidado deve sempre ter
prioridade sobre a cura pelas
razões mais óbvias: nunca existe
uma certeza de que nossas
doenças possam ser curadas ou
que nossa morte possa ser evitada.
Eventualmente elas podem e
devem triunfar. Nossas vitórias
sobre a doença e a morte são
sempre temporárias, mas nossas
necessidades de apoio, cuidado
diante delas, são sempre
permanentes.”
(Amundsen)
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
49
Os resultados serão apresentados em dois momentos para melhor compreensão do
objetivo do estudo. Primeiramente, as crianças, os adolescentes e seus principais cuidadores
foram caracterizados em seu contexto familiar por meio do genograma e ecomapa e, a partir
de então, suas experiências no cuidar, em especial no processo de morte e morrer, foram
refletidas e contextualizadas.
4.1 Caracterização das famílias
As famílias participantes do estudo estão apresentadas a seguir, segundo a ordem
cronológica das entrevistas, identificadas por números de 1 a 14, de modo a preservar seu
anonimato.
Família 1
O encontro com essa família foi realizado com a mãe, M1, no domicílio, após sete
meses da morte de sua filha, A1, em município próximo, cerca de 20 quilômetros (Km) de
Ribeirão Preto. A residência continha garagem, dois quartos, sala, cozinha, quintal,
lavanderia, banheiro e edícula, na qual residia a avó paterna de A1, local não observado pela
entrevistadora. As recordações eram presentes na casa, evidenciadas por fotos da filha e
vídeos, os quais foram mostrados em momentos de manifestações de sentimentos de
saudades, segundo relato materno. No quarto que pertencia à A1 ainda permaneciam intactas
suas vestimentas e objetos. A mãe relatou: ainda não estou preparada para me desfazer dos
pertences pessoais, os quais eu gostava de rever, pois trazem lembranças frequentes da
minha filha e diminuem meu sofrimento.
A família era composta do pai, 50 anos; da mãe, 49 anos e de duas filhas, uma de 23
anos e A1, que faleceu aos 18 anos, mas, segundo a fala da mãe, ainda estava junto da
família. Na família de M1 está presente o pai, 75 anos, duas irmãs e um irmão, ambos
casados, e uma irmã solteira, sendo que sua mãe havia falecido aos 65 anos, em 2005, por
falência renal.
A entrevista foi feita com a mãe da adolescente, a qual se denominou como a principal
cuidadora da filha, pela presença constante no processo de adoecimento e morte. Ela
comentou que o pai e a irmã não desejaram participar e que tiveram contato restrito no
50
_________________________
**Para classificação do grau de escolaridade, foram utilizados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/educacao.html. Acesso em: 12 fev. 2012. ***Para descrição da profissão e ocupação, foi utilizada a Classificação Brasileira de Ocupações, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo.jsf. Acesso em: 12 fev. 2012.
cuidado de A1 devido ao trabalho paterno durante essa fase, responsável pelo sustento da
família, e aos estudos da irmã. O pai esteve presente na casa durante a entrevista,
permanecendo na varanda por todo tempo. M1 mencionou: ele é reservado e não gosta de
conversar sobre esse assunto.
M1 referiu que sua família (ela, o marido e a filha) mantém aproximação com os
demais familiares, têm poucos amigos, principalmente após a morte de A1. O marido
continua trabalhando e permanece o tempo de lazer em casa e a outra filha frequenta um curso
técnico e a faculdade, tendo maior convívio com o namorado nos momentos em que não está
estudando.
Nos dois contatos telefônicos a mãe mostrou-se disposta a falar sobre sua experiência
no cuidado de A1, referindo saber que, nesse processo, surgiriam recordações e tristeza pela
perda de sua filha; mas que imaginava ser importante sua fala. Durante a entrevista houve
períodos em que M1 se emocionou, concluindo a entrevista em um período de
aproximadamente duas horas.
M1 completou o ensino fundamental**, trabalha como classificadora de grãos*** em
uma fábrica de amendoim, tendo retornado ao trabalho após a morte de sua filha. Em períodos
de internações e tratamento, necessitou se ausentar do trabalho para se dedicar somente ao
cuidado de A1. Era católica praticante, tendo a igreja como seu lugar de apoio emocional.
Referiu participar do grupo de orações da igreja e sempre acreditar na cura de sua filha, em
todos os momentos em que esteve junto dela, pois, segundo ela: A1 ficou curada por muito
tempo e não entendo porque ela nos deixou se estava boa, tendo uma vida normal,
ressaltando, em seus depoimentos, a não aceitação da morte e relações de frustrações com o
serviço de saúde do município em que reside.
A1 iniciou seu acompanhamento no HCFMRP-USP em 1995, com diagnóstico de
Meduloblastoma em fossa posterior, após duas semanas de investigação, tendo, como conduta
terapêutica em primeiro momento, a cirurgia com retirada parcial do tumor e, posteriormente,
a quimioterapia e radioterapia. Apresentou primeira recidiva após 9 anos de
acompanhamento, realizando nova cirurgia seguida de quimioterapia; a segunda recidiva foi
em 2010, ocasião em que fez a terceira cirurgia.
Não estava disponível no prontuário a informação sobre o ingresso nos cuidados
paliativos, sendo que o óbito ocorreu em 28 de dezembro de 2010 na Enfermaria da Onco-
Hematologia Pediátrica, após um período de 1 mês de internação, com a presença constante
de sua mãe, de acordo com relato de M1, apresentando, como causa mortis, Parada
51
Cardiorespiratória (PCR), sem manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP).
Família 2
A visita ocorreu no domicílio no município de Ribeirão Preto com a mãe, M2, após
um ano e um mês da morte de sua filha A2. Na primeira visita, pré-agendada, fui recebida
pelo filho mais velho de M2, o qual referiu que sua mãe estava trabalhando, mas deixou
recado para que eu retornasse no período da tarde. Após novo contato telefônico e
confirmação do desejo de realizar a entrevista, compareci no momento desejado pela mesma.
Na casa havia uma varanda na frente, sala, cozinha, dois quartos, um banheiro e um
tanque no quintal. Havia apenas uma foto de A2 na sala, referindo M2 que doou todos os
pertences de A2, não pela lembrança, mas para ajudar outras pessoas.
A família era composta pelo segundo marido de M2, 49 anos, o qual já não residia
mais com ela, pois estavam em processo de divórcio; M2, 35 anos; uma filha de 20 anos; um
filho de 18 anos e A2, que faleceu aos 13 anos, todos do casamento anterior de M2. Também
faziam parte da família dois filhos do segundo marido, com idades de 10 e 9 anos. A família
estendida de M2 era composta pelo pai, 59 anos; a mãe, 60 anos; duas irmãs, 37 e 27 anos, e
dois irmãos, 34 e 31 anos, todos solteiros e sem filhos.
M2 definiu-se como a única cuidadora da filha, sendo responsável pelas internações e
tratamentos. Seu segundo marido trabalhava, sendo, naquele momento, responsável pelo
sustento da família e cuidado dos outros filhos em casa com a ajuda de suas irmãs. Durante a
entrevista, todos os filhos estavam em casa e a filha mais velha esteve presente durante esse
tempo; já o filho mais velho se emocionou quando a mãe iniciou a conversa e se retirou do
local.
A relação de M2 e seus filhos com sua família ampliada era de laços afetivos muito
fortes, mantendo relação direta com os pais e irmãos. A rede de amigos de M2 e seus filhos
era presente no dia a dia da família. Dois dos filhos frequentavam regularmente a escola,
exceto a mais velha.
A entrevista foi realizada sem intercorrências e M2 se emocionou na maior parte do
tempo. A filha presente na entrevista também foi convidada por mim e pela mãe a falar, caso
fosse de sua vontade, preferindo, no entanto, apenas escutar. A entrevista foi concluída em
uma hora.
A mãe relatou ter o ensino fundamental incompleto; trabalhava como empregada
doméstica em casa de família, tendo retornado ao trabalho após a morte de A2, dedicando
52
anteriormente todo seu tempo aos cuidados de A2, que, segundo ela, tinha longos períodos de
internação. Era evangélica praticante, participando, com assiduidade, das atividades da igreja
com seus filhos, incluindo o grupo de oração em sua casa, iniciado devido ao agravamento da
doença de A2 e mantido após sua morte.
O diagnóstico de Leucemia Linfoide Aguda de A2 foi confirmado após uma semana
de investigação no HCFMRP-USP, em 1992, tendo como conduta terapêutica a
quimioterapia. Apresentou recidiva em 2006, reiniciando o tratamento com quimioterapia e
cirurgia exploratória para avaliação diagnóstica.
Não estava disponível no prontuário a indicação do ingresso de A2 nos cuidados
paliativos. Seu óbito ocorreu em 13 de julho de 2010, no Centro de Terapia Intensiva (CTI)
Pediátrico da Unidade de Emergência do HCFMRP-USP, onde esteve internada com
diagnóstico de septicemia. A morte ocorreu na ausência da família, segundo relato de M2, e
apresentou como causa mortis a PCR com RCP, sem sucesso.
Família 3
Após um ano e quatro meses da morte da adolescente A3, foi realizada a entrevista
com sua mãe adotiva, M3, em seu domicílio, em município distante cerca de 80 km de
Ribeirão Preto. Não foi observada a residência em sua totalidade, apenas a parte da varanda,
garagem e ampla sala, local onde se deu a entrevista. Puderam ser observadas várias fotos de
A3, inclusive em destaque na parede; segundo a mãe: as lembranças são boas, gostamos de
relembrar, o que traz A3 mais presente de nós.
A família era composta pelo pai, 49 anos; a mãe, 48 anos; três filhas, respectivamente
de 36 anos, casada e com um filho de 5 anos e uma filha de 3 anos; outra, com 23 anos, e A3,
filha adotiva, que faleceu aos 13 anos, além de um filho, 29 anos, casado e com um filho de 5
anos. A família ampliada de M3 era composta por duas irmãs, uma com 50 anos, divorciada,
mãe por laços sanguíneos de A3, e outra filha, de 4 anos, e outra irmã, de 31 anos, casada,
com um filho de 9 anos e um irmão, 44 anos, casado. Os pais de M3 faleceram por motivos
não recordados por ela.
M3, tia por laços sanguíneos de A3, possuía sua guarda desde que tinha 1 ano,
declarando-se a principal cuidadora, presente nos momentos de adoecimento, internações,
tratamentos e cuidados domiciliares. Segundo M3, sua irmã, mãe por laços sanguíneos de A3,
esteve presente em raros momentos junto de sua filha acompanhando a trajetória de
53
adoecimento; segundo M3: eram raras as visitas e contatos da mãe verdadeira. Os outros
membros da família não desejaram participar.
A relação da família é forte com os familiares maternos e paternos, bem como com
amigos. O marido, ela, a filha mais velha e o filho trabalhavam, sendo que M3 retornou ao
emprego após a morte de A3. Durante a fase da doença de A3, o marido e os filhos eram
responsáveis pelo sustento da família. Os netos frequentavam a creche e, a filha mais velha, a
faculdade. A mãe relatou que ia muito pouco ao cemitério, relatando: prefiro lembrar de A3
alegre, em casa.
A mãe mostrou-se disposta a conversar já no primeiro contato, expressando segurança
e aceitação do processo de adoecimento e morte, dizendo que é muito bom falar de “alguém
tão querida, me faz feliz”. A entrevista durou uma hora e meia.
M3 completou o ensino médio, trabalhava como inspetora de aluno em uma escola
pública. No período de adoecimento, ficou afastada do trabalho. Era espírita, sendo a única a
praticar e, segundo seu relato, a religião espírita fortifica. O pai, o filho e a filha mais nova
eram evangélicos e assíduos nos cultos.
Em 2004, A3 iniciou seu acompanhamento no HCFMRP/USP com diagnóstico de
Linfoma de não-Hodgkin, após cinco meses de investigação clínica, tendo como conduta
terapêutica a quimioterapia. Ela foi inserida nos cuidados paliativos, segundo descrição em
prontuário, no mês de maio de 2010, falecendo em 14 de junho de 2010 na Enfermaria da
Onco-Hematologia Pediátrica. A morte ocorreu na presença da mãe e dos familiares e teve
como causa mortis falência múltipla de órgãos.
Família 4
O encontro com a mãe, M4, após um ano e dois meses da morte de C4, foi realizado
em sua residência, localizada em uma chácara a aproximadamente 80 km de Ribeirão Preto.
No local residiam diversas famílias, em casas individuais, trabalhando no cultivo de verduras
e produção de cachaça. A casa de M4 era pequena, com cozinha, sala, quarto e banheiro,
estando a lavandeira localizada na parte externa da residência. Na parede de seu quarto havia
uma foto grande de C4 e várias recordações como álbuns de fotos, roupas e objetos pessoais,
os quais ficavam guardados em seu armário e, de acordo com a mesma, era sua maneira de se
lembrar de seu filho.
A família era composta pelo pai, 39 anos; a mãe, 42 anos e três filhos: o mais velho,
que faleceu no ano de 2000 por Leucemia Linfoide Aguda, aos 6 anos, o segundo filho que
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hoje tem 15 anos, e C4 que faleceu aos 10 anos. A família estendida de M4 era composta pela
mãe, 65 anos; três irmãs, 46 e 38 anos, casadas, essa última com dois filhos; e a irmã mais
nova, de 33 anos, separada, com duas meninas (15 e 12 anos) e dois meninos (9 e 7 anos), um
irmão de 40 anos, casado e com uma filha. O seu pai faleceu aos 67 anos com câncer de
próstata.
A entrevista foi realizada com a mãe de C4, que referiu ser a principal cuidadora,
prestando, em todos os momentos, os cuidados hospitalares e domiciliares; para tanto, deixou
o emprego e retornou após a morte de C4. A mãe relatou que o pai ficava mais em casa
devido ao trabalho e cuidava do filho mais velho, não sabendo muito sobre os cuidados com o
filho doente. Durante a entrevista, o pai estava trabalhando e o filho estava em casa,
mantendo-se distante da conversa.
A maior aproximação da família ampliada era com os parentes paternos,
principalmente os cunhados, que moravam no mesmo local e trabalhavam juntos com ela, e o
marido. O círculo de amizades da família era pequeno na família. A mãe relatou que eram
católicos, mas não frequentavam a igreja.
Quando convidada a participar, M4 relatou ter medo de não conseguir suportar a
emoção, mas que seria importante tanto para o estudo como para que ela conseguisse falar
sobre a morte do filho. A mãe se emocionou durante toda a entrevista, porém se controlou e
sempre dizia: estou chorando de saudade e não de tristeza, concluindo a entrevista em 40
minutos.
M4 completou o ensino médio e estava fazendo um curso profissionalizante,
trabalhava como empacotadora em uma fábrica de bebida e ajudava no cultivo das verduras.
Relatou, em todos os momentos, ter vivenciado a mesma história de C4 com o filho mais
novo, também acompanhado pelo HCFMRP-USP, o qual faleceu um ano antes da descoberta
da doença em C4; dizia-se fortalecida, mas que a morte de seu último filho a teria abalado
mais.
C4 iniciou seu acompanhamento no HCFMR-USP em 2001, com diagnóstico de
Meduloblastoma, após quatro meses de investigação, tendo como conduta terapêutica
primeiramente a cirurgia para ressecção total do tumor em região temporal esquerda. Em
2004, realizou uma nova cirurgia, tendo, um ano após, iniciado a quimioterapia e, em 2008, a
radioterapia. A recidiva ocorreu em 2010, quando realizou nova cirurgia e quimioterapia.
Após 3 meses da recidiva, foi inserido no programa de cuidados paliativos e o óbito
ocorreu em 17 de julho de 2010, um dia após a alta do CTI pediátrico, na Enfermaria da
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Onco-Hematologia Pediátrica, na presença dos pais, apresentando como causa mortis PCR
sem RCP.
Família 5
O encontro com essa família foi realizado com a mãe, M5, no domicílio, em município
distante cerca de 80 km de Ribeirão Preto, um ano após a morte de C5. A casa era de
tamanho médio, contendo garagem, sala, cozinha, dois quartos, dois banheiros, quintal e
lavanderia. Não havia fotos nem objetos de recordações visíveis de C5; entretanto, M5
relatou: guardei todos os pertences de meu filho, não gosto de ficar relembrando e prefiro
guardar, até já pensei em se desfazer deles, mas meu filho mais velho e meu marido, ainda
muito abalados com a morte de C5, não aceitam.
A família era composta pelo pai e mãe, ambos com 40 anos; o filho mais velho, de 11
anos, e C5 que faleceu com 3 anos. O pai e a mãe são primos em primeiro grau e a família
materna era constituída pela mãe, 64 anos; três irmãos, com 43, 41 e 33 anos, casados, e uma
irmã, 28 anos. O pai faleceu aos 60 anos com reumatismo, segundo M5.
A entrevista foi realizada com M5, a qual se denominou a principal cuidadora,
prestando cuidados constantes ao filho em todo período da doença. O pai, muito presente no
cuidado do filho, participou mais ativamente nos momentos em que o mesmo estava em casa;
foi o responsável pelo sustento da família e por cuidar do filho mais velho, com a colaboração
da avó materna. O pai e o filho mais velho estavam presentes na residência, mas não
desejaram participar. A relação de amizade entre o pai e o filho mostrou-se intensa e
harmoniosa; já com a mãe, a relação pareceu mais restrita e, segundo M5, isso começou a
acontecer devido a minha maior atenção à C5.
O vínculo com a família era muito forte, em especial entre M5 e seu irmão mais velho,
ao contrário da família paterna com a qual têm pouco contato. O pai e a mãe de C5
trabalhavam e o filho mais velho frequentava a escola. A vida social da família era ir ao clube
aos finais de semana. O pai frequentava todos os dias o cemitério, já a mãe referiu ir pouco
porque se sentia muito triste nesses momentos.
O convite à pesquisa foi aceito de forma amigável e, durante a entrevista, M5
expressou sentimentos de emoção, tristeza; referiu que hoje aceita melhor a situação,
concluindo a entrevista em aproximadamente uma hora.
M5 completou o segundo grau, trabalhava como pintora de cerâmica a pincel, tendo
retornado ao trabalho após a morte de seu filho. Relatou ser espírita e frequentar com
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assiduidade o centro, afirmando que a religião a ajudava nos vínculos de amizade e no
enfrentamento da morte de C5.
C5 iniciou seu acompanhamento no HCFMRP/USP em 2009, com diagnóstico de
Neuroblastoma Abdominal, com metástase pulmonar, confirmado após oito dias de
investigação, tendo como conduta terapêutica a quimioterapia em 2009; após infiltração
tumoral na coluna cervical e na mandíbula esquerda, foi realizada a embolização da lesão e
radioterapia em 2010.
Foi iniciado nos cuidados paliativos em outubro de 2010 e, após um mês, ocorreu o
óbito em 08 de novembro de 2010, na Enfermaria da Onco-Hematologia Pediátrica, um dia
após ter tido alta do CTI, na presença constante da família, apresentando como causa mortis
PCR sem RCP.
Família 6
O encontro com essa família foi realizado com a mãe, M6, juntamente com a avó, V6,
no domicílio, em município localizado a cerca de 150 km de Ribeirão Preto, após cinco meses
da morte de C6. A residência era composta por varanda, sala, cozinha, dois quartos, banheiro
e lavanderia. As recordações de C6 não estavam visíveis pela casa, mas a mãe relatou guardar
fotos e todos os pertences pessoais, os quais foram mostrados à entrevistadora, tendo sido
evidenciados sentimentos de emoção e saudade por parte da mãe e da avó.
A família era composta pela mãe, 31 anos, solteira, três filhos, sendo, respectivamente,
de 12 anos, do primeiro companheiro, 10 e 7 anos, de outro parceiro, e C6, que faleceu com 1
ano e 11 meses, de um outro parceiro. M6 e seus filhos residiam junto de seu pai, 62 anos,
aposentado e com histórico de hipertensão arterial, e de sua mãe, 60 anos, com histórico de
câncer de colo do útero. Tem quatro irmãos, 37, 30, 29 e 28 anos, solteiros, e uma irmã, 36
anos, casada, com duas filhas. O pai de C6 mantinha relacionamento distante e conflituoso
com M6, de acordo com seu depoimento, e não tinha contato direto nos cuidados da criança.
A entrevista foi realizada com a mãe e a avó de C6, em conjunto, segundo desejo das
mesmas. A mãe referiu ser a principal cuidadora de C6, mas a avó compartilhou e ajudou no
cuidado, principalmente quando a criança estava em casa. O avô não desejou participar.
M6 referiu que possuía relacionamento mais próximo com pessoas do trabalho, os
amigos, o novo namorado e que costumava ir a bares quase todos os dias, aumentando a
frequência após a morte de C6. Segundo M6, ela ainda sentia muita falta de C6, bebendo para
esquecer. A mãe relatou que sua relação e a da avó com os serviços de saúde de seu
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município e outro município vizinho era conflituosa e negativa devido à ausência de
atendimento qualificado quando C6 precisou. Os filhos frequentavam a escola regularmente,
permanecendo na casa dos avós no período da tarde para que ela pudesse trabalhar.
O contato com a família foi realizado por meio de dois telefonemas e houve desejo em
participar do estudo. Durante a entrevista, ficaram na sala M6, V6 e o filho mais novo, o qual
tentava chamar a atenção em todos os momentos da conversa; segundo a mãe: é porque eu
deixei os outros filhos para cuidar do C6. A entrevista foi concluída em uma hora.
M6 completou o ensino fundamental, trabalhava como empregada doméstica no
período da tarde, tendo retornado ao trabalho após a morte de C6, pois todo seu tempo antes
era dedicado à filha. Não possuía religião e sempre teve a mãe como apoio nos momentos em
que precisou. A avó não havia completado o ensino fundamental e também trabalhava como
empregada doméstica. Era católica, mas referiu não frequentar com regularidade a igreja.
Em 2009, C6 começou seu acompanhamento no HCFMRP-USP com diagnóstico de
Tumor de Seio Endodérmico em região sacrococcígea após um mês de investigação, com
metástase pulmonar dois meses depois. Como conduta terapêutica, em um primeiro momento,
realizou a quimioterapia e duas cirurgias, sendo uma em 2009 e outra em 2010. Apresentou
recidiva em 2011, realizando nova terapia quimioterápica e radioterapia.
Inserida nos cuidados paliativos em fevereiro de 2011, foi levada para casa, por
desejo da mãe, com controle de sinais e sintomas. O óbito de C6 ocorreu em 17 de abril de
2011, na Enfermaria da Onco-Hematologia Pediátrica, na presença de sua família,
apresentando como causa mortis PCR sem RCP.
Família 7
A entrevista com a mãe, M7, foi realizada um ano e um mês após a morte de C7, na
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, por desejo da mãe,
pois ela estava em Ribeirão Preto para tratamento de saúde. Em um primeiro momento foi
realizado agendamento para entrevista no domicílio, sendo que a mãe necessitou trabalhar no
dia, tendo sido, então, cancelada a entrevista.
A família era composta pelo pai, separado da mãe; uma filha de 19 anos; um filho de
9 anos e C7, que faleceu aos 5 anos. A família de M7 era constituída pela mãe, 62 anos,
aposentada, e o irmão, 30 anos, separado. O pai faleceu aos 49 anos por acidente vascular
cerebral em 1996.
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A entrevista foi realizada com a mãe da criança, a qual dizia ter sido a única cuidadora
de C7, sendo que sua mãe a ajudou cuidando de seus outros filhos, em sua ausência.
A família mantinha forte relação com os parentes maternos, amigos, trabalho e igreja.
A relação com o HCFMRP-USP e o cemitério era distante, referindo M7 que não desejava ir a
esses locais e preferir lembrar dos momentos felizes com seu filho. O lazer da família envolvia
ambientes como a praça e o clube da cidade. Os filhos frequentavam a escola regularmente.
Nos contatos com M7, a mesma referiu desejar participar do estudo e não ter receio
das recordações. Relatou aceitação da doença e de seu agravamento, mesmo antes da morte de
seu filho. Durante a entrevista, M7 apresentou-se calma, falando sempre com alegria dos
momentos que passou ao lado de C7, concluindo a entrevista em uma hora e meia.
M7 completou o ensino médio, era operadora de caixa, tendo retornado às atividades
após a morte de seu filho, pois precisou interromper seu trabalho para cuidar de C7, tendo
auxílio financeiro do pai de C7 e de sua mãe. Era católica praticante, assim como seus filhos,
e acreditava que a religião a ajudava a aceitar a morte de seu filho.
O acompanhamento de C7 foi iniciado em 2008 no HCFMRP/USP, com diagnóstico
de Rabdomiossarcoma em perna direita após 2 meses de investigação, com metástase
pulmonar. A terapêutica realizada foi cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Iniciou os cuidados paliativos em abril de 2010, realizando radioterapia paliativa com
introdução de medicações para alívio da dor. O óbito ocorreu em 09 de outubro de 2010, na
Enfermaria da Onco-Hematologia Pediátrica, na presença da mãe, apresentando como causa
mortis a PCR, sem RCP.
Família 8
O encontro com essa família foi realizado no domicílio da avó, V8, em município
distante cerca de 110 km de Ribeirão Preto, após um ano e dois meses da morte de C8. A
residência era composta por garagem, sala, cozinha, três quartos e dois banheiros. Havia na
casa duas fotos de C8 e a avó referiu que os pertences e demais fotos de sua neta estavam na
casa da mãe de C8.
A família era composta pela avó, 45 anos; o avô, 48 anos; duas filhas, 31 e 23 anos,
que residiam junto de seus companheiros, sendo essa última mãe de C8, que faleceu com 2
anos, e de outro filho, de 1 ano de idade. Tinha ainda outros dois filhos, 30 e 28 anos, esse
último separado, com uma filha de 5 anos. O pai de V8 morreu aos 68 anos por infarto agudo
do miocárdio e a mãe, com 57 anos, por câncer de colo de útero.
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A entrevista foi realizada com a avó da criança, a qual sempre esteve presente, junto
com a filha, M8, nas internações, tratamentos e cuidados em domicílio. A avó referiu que até
hoje dificilmente a família conversa sobre a morte de C8 e que ela e a mãe de C8 começaram
apenas recentemente a falar sobre o assunto, mas a filha é muito calada e fechada, prefere
não conversar. A mãe de C8 participou ativamente no cuidado de sua filha e também esteve
presente em todos os momentos do adoecimento. O avô estava na casa durante a entrevista,
mas relatou não poder contribuir muito, pois permanecia mais em casa devido ao trabalho e
cuidado com o outro neto.
A relação da família é forte; V8 ressaltou a amizade e aproximação entre o marido e
M8. A família de V8 tinha forte vínculo com os familiares maternos e fraca relação com a
família paterna e os familiares do pai de C8. A família de V8 mantém forte relação com
amigos e com a religião, sobretudo V8 e sua filha mais velha.
Foram realizados dois contatos telefônicos e M8 referiu não desejar realizar a
entrevista por: não gostar de relembrar o sofrimento pelo qual passei. Nos contatos, foi
explicado à mãe que o convite para participar do estudo era para todos os membros da família
que participaram ativamente no cuidado da criança; nesse momento, a mãe falou que a avó de
sua filha foi quem cuidou e esteve presente em todos os momentos do adoecimento de C8.
Assim, foi realizado o convite à avó que desejou participar, relatando sentir ainda muito
receio, pois não falava sobre o assunto. Durante a entrevista, V8 relatou todos os cuidados
com C8, sempre muito emocionada, concluindo a entrevista em um período de
aproximadamente 1 hora e com a frase: foi muito bom poder desabafar, estou me sentindo
mais aliviada e forte.
V8 tinha o ensino fundamental incompleto, trabalhava como empregada doméstica e
cessou suas atividades de trabalho quando precisou ajudar no cuidado de C8, pois sua filha
era muito nova e, no decorrer do tratamento de C8, engravidou novamente, não podendo
muitas vezes acompanhar o tratamento.
Em 2008, C8 começou seu acompanhamento no HCFMRP/USP com diagnóstico de
Ganglioma Atípico de Grau II, após um mês de investigação. Primeiramente, como conduta
terapêutica, foi feita a cirurgia para ressecção da lesão em via óptica direita e, em 2010, foi
realizada nova cirurgia para ressecção parcial de lesões residuais e quimioterapia.
Após a segunda cirurgia, C8 esteve internada no CTI pediátrico, momento em que
estavam descritas em prontuário a comunicação com a família e inserção de C8 nos cuidados
paliativos, em setembro de 2010. Após 4 dias ocorreu o óbito, em 24 de setembro de 2010, na
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Enfermaria de Onco-Hematologia Pediátrica, após dois dias de alta do CTI, acompanhada da
família, apresentando como causa mortis PCR sem RCP.
Família 9
Foi realizado o encontro com a mãe, M9, em seu domicílio, em município distante
cerca de 650 Km de Ribeirão Preto, após 7 meses da morte de C9. A casa era composta pela
sala, cozinha, quarto, banheiro e quintal. As recordações de C9 estavam presentes em toda
residência, principalmente em fotos, roupas e sapatos. A mãe relatou já ter doado alguns
pertences, mas preferia ainda guardar aqueles que sua filha mais gostava como recordação.
A família era composta pela mãe e a filha que faleceu com 1 ano de idade. O pai de
C9 separou-se de M9 e ela residia sozinha. Na mesma cidade, morava a mãe de M9, 45 anos,
divorciada duas vezes e casada novamente; tinha trigêmeas, uma falecida aos 4 meses por
infecção hospitalar e as outras duas com 15 anos e um filho falecido aos 7 meses com PCR.
Por parte paterna, M9 tem uma irmã de 17 anos e um irmão de 12 anos.
M9 relatou ser a única cuidadora, tendo sempre o apoio de sua mãe. O cuidado de M9
com a filha foi durante as internações, tratamento e cuidados domiciliares, até o momento de
morte.
O relacionamento de M9 era muito forte com a família materna e tinha vínculo
positivo com o trabalho, o HCFMRP-USP e os amigos. Referiu não ter religião, mas acreditar
em Deus e sempre rezar por sua filha; dizia ir pouco à igreja e, quando comparecia, era
acompanhada de sua mãe que era católica e ia à igreja com maior frequência.
Nos dois contatos telefônicos, a mãe manifestou estar disposta a participar da
entrevista e contar sua experiência no cuidado de C9. Durante a entrevista, relatou as
lembranças e cuidados com sua filha, expressando sentimentos de alegria por poder recordar
de C9. A conversa durou 1 hora e meia.
M9 completou o ensino médio e trabalhava como atendente de lanchonete, mas estava
empregada em um mercado quando a sua filha ficou doente e precisou deixar o serviço para
cuidar dela, recebendo ajuda da mãe.
C9 iniciou seu acompanhamento no HCFMRP-USP em 2009, com diagnóstico de
Angiossarcoma em Órbita Esquerda, após três meses de investigação, realizando tratamento
com quimioterapia e cirurgia para ressecção total do tumor, em um total de dez cirurgias. Em
2011, apresentou recidiva do câncer, tendo como conduta terapêutica a quimioterapia.
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Foi incluída nos cuidados paliativos em maio de 2011 e M9 optou por alta hospitalar e
cuidados paliativos em domicílio. O óbito ocorreu no hospital de sua cidade, junto de sua
mãe, após um mês em que estava em casa. M9 levou a filha para o hospital quando percebeu
que ela estava morrendo, mas quando C9 chegou ao hospital já havia não havia mais nada que
pudesse ser feito. Segundo a mãe, o laudo médico apresentou como causa mortis PCR e
relatou ainda que ao chegar ao hospital, mesmo com a filha já falecida, realizaram RCP sem
sucesso.
Família 10
Foi realizada a visita à família no domicílio em município próximo, a cerca de 20 Km
de Ribeirão Preto, após 3 meses da morte de C10. A residência era composta por varanda da
frente, junto à garagem, cozinha, sala e dois quartos. Havia uma foto grande na parede da sala
de C10 e não foram mostrados nem relatados objetos de recordações.
A família é composta pelo pai, 30 anos; a mãe, M10, 21 anos; o filho de 4 anos e C10,
que faleceu aos 4 meses. A família ampliada de M10 era composta pela mãe, 55 anos; o pai,
53 anos; duas irmãs, com 22 e 20 anos, e dois irmãos, com 17 e 15 anos. Os pais de M10 são
separados e, por parte de mãe, M10 tem outros dois irmãos do relacionamento de sua mãe
com o atual companheiro.
A entrevista foi realizada com a mãe da criança que se definiu a principal cuidadora,
tendo também ajuda de sua mãe e de suas duas irmãs. A irmã mais velha, T10, esteve presente
durante a entrevista, contribuindo com sua experiência no cuidado da sobrinha. O pai e outros
membros da família foram convidados a participar, mas declararam não terem acompanhado
diretamente o adoecimento de C10. A entrevista teve duração de uma hora.
A família de M10 mantém forte vínculo com a família materna ampliada; já a relação
com a família paterna é mais distante. Os amigos estiveram presentes em poucos momentos;
M10 relatou vínculo extremamente forte com a igreja. O marido de M9 trabalhava e seu filho
ia à creche pela manhã e, à tarde, permanecia com M10. A visita ao cemitério ainda era pouco
frequente e considerada estressante para a família, assim como a relação com o HCFMRP-
USP pela lembrança do adoecimento da filha, segundo a mãe.
M10 relatou que tinha o ensino fundamental incompleto e era do lar, dedicando-se
integralmente aos cuidados com a filha em todos os momentos da doença. Contou que sua
família e a religião foram essenciais para que conseguisse enfrentar a doença da filha e que
ainda se revoltava ao lembrar que não pôde estar ao lado de sua filha quando ela mais
62
precisou e no momento de sua morte, pois C10 estava em cuidados no CTI pediátrico, relato
reafirmado pela irmã presente.
O acompanhamento de C10 no HCFMRP/USP teve início em 2011, com diagnóstico
de Leucemia Linfoide Aguda de alto risco, após uma semana de investigação. A terapêutica
realizada foi a quimioterapia e, após um mês, foi diagnosticada infiltração tumoral em sistema
nervoso central.
O óbito ocorreu dois meses após o diagnóstico, no CTI pediátrico, constando como
causa mortis PCR com RCP sem sucesso. Não houve registro no prontuário sobre a inserção
de C10 nos cuidados paliativos.
Família 11
A entrevista foi realizada com a mãe, M11, no domicílio, em município próximo de
Ribeirão Preto, a cerca de 20 Km, após 5 meses da morte de A11. A casa era composta por
garagem, sala, cozinha, três quartos, dois banheiros, lavandeira e quintal. Não foram
observadas lembranças de A11 pela casa e a mãe, aparentemente, estava ainda muito abalada
pela morte da filha, relatando: ainda sofro muito com a morte da minha filha, ela era minha
única companheira, sinto-me muito sozinha, estou com depressão e penso até em suicídio. Ao
final da entrevista, desejou mostrar um álbum de fotos e relembrar momentos com a filha.
A família de M11 era composta pelo pai de A11, que faleceu aos 25 anos devido à
doença de Chagas; a mãe, 40 anos, com um filho de 20 anos, e A11, que faleceu aos 18 anos.
M11 havia se casado novamente e, com seu novo marido, 43 anos, tinha um filho de 13 anos,
com histórico de patologia cardíaca. A família materna era constituída pelo pai, 69 anos; a
mãe, 70 anos; um irmão mais velho; outro irmão que faleceu aos 36 anos por Infarto Agudo
do Miocárdio, e quatro irmãs, 27 e 33 anos, e duas gêmeas de 28 anos. Todos residiam no
estado da Bahia, exceto uma irmã que morava na mesma cidade de M11; eram portadores da
doença de Chagas, inclusive M11. Tinham maior proximidade com os parentes maternos,
mesmo residindo em estado distante. M11 e seu marido trabalhavam e o filho mais novo
frequentava a escola com pouca regularidade após a morte de sua irmã. Todos iam sempre ao
cemitério para visitar A11 e o filho mais velho mantinha vínculo com a igreja.
A entrevista foi realizada com M11, que se definiu como a principal cuidadora. O
marido e os irmãos foram convidados, mas M11 relatou que eles não estavam presentes nas
internações e nos cuidados no domicílio quando era necessário. Na casa estavam presentes os
63
filhos e a irmã que mora na mesma cidade de M11, mas ela também não quis participar. A
entrevista foi concluída em cinquenta minutos.
M11 relatou que tinha o ensino fundamental incompleto e que trabalhava como
auxiliar de produção em uma fábrica de amendoim em sua cidade desde antes do adoecimento
da filha. Nos momentos em que precisou se ausentar, M11 teve a compreensão da empresa e
acompanhou sua filha nos períodos de internação, consultas e terapêutica até a morte,
continuando a receber seu salário.
Os cuidados e acompanhamento de A11 no HCFMRP-USP tiveram início em 2009,
com diagnóstico de Rabdomiosarcoma Alveolar Metastático, após uma semana de
investigação. A terapêutica realizada foi a quimioterapia e, no ano seguinte, foi realizada
cirurgia na perna direita para ressecção do tumor. Apresentou recidiva no final do ano de
2010, período em que realizou nova cirurgia para ressecção da lesão tumoral na perna e pé
direitos.
A adolescente teve sua inclusão nos cuidados paliativos em junho de 2011, com óbito
em 22 de agosto de 2011, na Enfermaria da Onco-Hematologia Pediátrica, na presença da
família, apresentando como causa mortis insuficiência respiratória aguda.
Família 12
Após quase 3 meses da morte de sua filha, A12, foi realizada visita na residência da
família, em município distante cerca de 20 Km de Ribeirão Preto. Não foi possível observar o
tipo de construção da casa, pois a entrevista foi realizada na garagem, mas a mãe, M12,
referiu possuir três cômodos.
A família era composta pelo pai, 47 anos, autônomo; a mãe, M12, 43 anos; o filho, 22
anos, portador da Síndrome de Bloom e Diabetes Melittus tipo 1, e A12, que faleceu aos 15
anos. Também residia junto à família, a mãe de M12, 78 anos. M12 tinha três irmãos, com 52,
46 e 47 anos; seu pai já era falecido por cirrose hepática.
A entrevista foi realizada com a mãe da adolescente, que participou e acompanhou
todo processo de adoecimento da filha. O pai esteve presente indiretamente no cuidado de
A12, pois ficou responsável pelo sustento da família e a avó e o irmão compartilharam os
cuidados no domicílio. A entrevista durou uma hora.
O vínculo familiar estava ligado, com maior intensidade, à família materna e,
principalmente, ao trabalho. Os membros da família eram católicos, porém M12 era a que
frequentava a igreja com mais assiduidade, referindo forte relação com a religião. A mãe de
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A12 descreveu que o estreitamento que teve com o HCFMRP-USP hoje se tornou mais fraco,
pois agora a frequência é menor, comparecendo somente para consultas médicas para o irmão
de A12.
M12 completou o ensino médio, trabalhava como vendedora ambulante, vendendo
lanches; esteve ausente de suas atividades de trabalho durante todo o tempo em que A12
esteve doente, pois precisou se dedicar aos cuidados da filha, principalmente com o
agravamento da doença, devido às internações mais frequentes e maior grau de dependência
da filha.
A adolescente começou a ser seguida no HCFMRP-USP em 1997, com diagnósticos
de Síndrome de Bloom, insuficiência renal, hipertensão arterial e, posteriormente, a Síndrome
Mielodisplásica . Em 2011, iniciou o acompanhamento na oncologia pediátrica com
diagnóstico de Leucemia Mieloide Aguda, tendo como conduta terapêutica a quimioterapia.
Após dois meses de acompanhamento na oncologia pediátrica, estava descrita no
prontuário a inserção de A12 nos cuidados paliativos. Após essa etapa, M12 levou sua filha
para casa, tendo o óbito ocorrido após dois meses, em 01 de novembro de 2011, na companhia
da família, apresentando como causa mortis PCR sem RCP.
Família 13
A entrevista com essa família foi realizada com a mãe, M13, em seu domicílio, em
município próximo, a cerca de 40 Km de Ribeirão Preto, após um mês da morte de C13.
A família era composta pelo pai, 29 anos, pedreiro; a mãe, 25 anos; o filho de 7 anos e
C13, que faleceu aos 7 meses. A família materna de M13 era composta pelo pai, 50 anos,
divorciado de sua mãe, 43 anos, M13 e outros dois irmãos, com 27 e 21 anos. O pai se casou
novamente e teve uma filha, 13 anos, e um filho, com 7 anos. A mãe de M13 tem um
namorado de 27 anos.
Na entrevista, M13 relatou acompanhar todo o processo de adoecimento da filha e,
portanto, ser a principal cuidadora de C13. Foi respeitado o momento recente da morte de
C13, sendo o desejo da mãe participar do estudo. No momento da entrevista, estavam
presentes na casa as duas cunhadas de M13 e, ao final, o pai de C13 chegou à residência.
Todos foram convidados a participar da entrevista, mas negaram a solicitação. A mãe de C13
relatou que era muito difícil para seu marido falar da morte da filha, porque ainda está muito
abalado e não aceita o que aconteceu. A entrevista foi concluída em uma hora.
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A família mantinha forte relacionamento com os familiares maternos e paternos e com
a igreja. O pai trabalhava e o filho mais novo frequentava a escola. Nos momentos de lazer, a
família se reunia, frequentava a lanchonete próxima de sua residência e ia ao sítio dos avós
paternos.
M13 referiu ter completado o ensino fundamental e não ter vínculo empregatício.
Explicou que não era possível trabalhar enquanto cuidava de sua filha em razão da
dependência da mesma, da idade e do adoecimento; como a morte era muito recente, preferiu
ficar em casa por mais um tempo. Era evangélica e ia à igreja com regularidade, acompanhada
de seu marido, seu filho e outros membros da família.
O acompanhamento de C13 no HCFMRP-USP iniciou-se em 2011 por ser portadora
de Leucemia Linfoide Aguda, recebendo, como terapêutica, a quimioterapia.
No decorrer de três meses, C13 apresentou piora do quadro clínico e precisou ser
internada no CTI pediátrico, onde faleceu em 29 de dezembro de 2011, apresentando como
causa mortis PCR com RCP, sem sucesso. Não estava disponível em seu prontuário a
indicação da inserção de C13 nos cuidados paliativos.
Família 14
O encontro com essa família foi realizado com a mãe, M14, no domicílio, em
município distante cerca de 100 Km de Ribeirão Preto, após 5 meses da morte de A14. A
residência era composta por sala, cozinha, dois quartos, banheiro e lavanderia. Na casa não
foram observadas recordações de A14 e a mãe referiu preferir guardar as fotos de seu filho e
doar seus pertences porque as lembranças faziam mal.
A família era composta pelo pai, 46 anos; M14, 41 anos; a filha, 15 anos, e o filho,
A14, que faleceu com 17 anos. A família de M14 era composta ainda pela mãe, 65 anos; três
irmãs, com 50, 48 e 36 anos, todas casadas, sendo que a primeira tinha duas filhas e um filho
e, a segunda, uma filha. O pai de M14 faleceu vítima de derrame.
A família tinha convívio com os parentes, principalmente por parte paterna. O pai e a
filha de M14 trabalhavam, sendo que essa também estudava. Os vínculos de amizade eram
maiores por parte de M14 e sua filha, sendo o pai mais quieto e caseiro.
Durante a entrevista, a mãe referiu: estou muito triste e em luto, conversando de forma
reservada. Também foi realizado o convite ao pai e a irmã, porém a própria mãe referiu que
eles não participaram do cuidado e que ela era a principal cuidadora no processo de
adoecimento e morte. A entrevista foi concluída em uma hora.
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M14 relatou que não havia completado o ensino fundamental e não tinha vínculo
empregatício, pois cuidava do filho com dedicação integral. Mencionou ser evangélica e que
seu vínculo com a igreja aumentou após o adoecimento de A14, bem como o de toda a
família, frequentando hoje com regularidade a igreja.
A14, desde 1999, era acompanhado no HCFMRP-USP pela equipe de endocrinologia
devido ao diagnóstico de Diabetes Insipidus Central. Em 2011, foi diagnosticado Histiocitose,
sendo acompanhado pela equipe de neurologia e de oncologia. Realizou como conduta
terapêutica oncológica a quimioterapia, logo após o diagnóstico da neoplasia.
Em seu prontuário não estava descrita a inserção de A14 nos cuidados paliativos. O
óbito ocorreu em 09 de agosto de 2011, no CTI pediátrico, apresentando como causa mortis
PCR sem RCP.
4.2 Apresentação e discussão dos temas
O material empírico foi organizado ao redor de três temas: O IMPACTO DO
AGRAVAMENTO DA DOENÇA NA DINÂMINA FAMILIAR, descrito a partir das
necessidades, sentimentos e reorganização familiar vistas pelo cuidador; COMUNICAÇÃO
DE MÁS NOTÍCIAS, discutido a partir da comunicação entre a criança e/ou adolescente,
equipe de saúde e família do processo de morte e morrer e A VIVÊNCIA DA FAMÍLIA
DIANTE DOS CUIDADOS PALIATIVOS, evidenciado pelos conhecimentos da família
frente aos cuidados paliativos, sentimentos e necessidades da criança e adolescente nos
cuidados no final da vida.
O IMPACTO DO AGRAVAMENTO DA DOENÇA NA DINÂMINA FAMILIAR
Um aspecto comum a todas as entrevistas foi a retomada do momento do diagnóstico
do câncer e, desde então, a preocupação com o processo de agravamento da doença e com a
morte. Os participantes manifestaram sentimentos de sofrimento, preocupação, dor e medo,
acompanhados da constante esperança de cura:
[...] A hora que me deram o diagnóstico, e eu fiquei desesperada, porque eles não deixaram A2 ficar comigo. Eles deram o diagnóstico e falaram que era para nós virmos para a casa e depois na segunda-feira retornar ao campus que lá eles iriam fazer exames mais detalhados [...] para mim o teto daquele lugar caiu na minha cabeça aquele dia, porque até então eu não tinha noção do que era Leucemia [...] eu já tinha escutado falar (da
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Leucemia) em adulto, mas de criança não, a maioria das pessoas não sabiam que isso dava em criança. M2 Quando o médico falou para mim o diagnóstico da doença, no começo, ele tinha quatro aninhos [...] para nós foi muito difícil, não foi fácil não, foi um susto muito grande [...] foi muito sofrido para nós. M4 Lidávamos com aquela preocupação, eu nunca deixei de ter a preocupação, medo sabe? Medo de um dia perder ela, medo do tratamento, de não suportar. M1 [...] Mas eu sempre tinha esperança de que ele iria sair, que ele iria voltar a se movimentar, iria falar. Em nenhum momento passou que ele iria morrer, foi uma surpresa a morte dele, porque eu sempre tinha esperança de um milagre. M14
O diagnóstico do câncer ainda está intimamente interligado ao conceito de morte,
portanto, entendido como algo temido, desesperador e penoso (KREUZ, 2009). Essa
associação atinge, de forma intensa e marcante, a criança e o adolescente doentes e sua
família. Neste estudo observou-se que a palavra câncer raramente foi verbalizada pelos
entrevistados, sendo substituída por outra, quase sempre por doença, quando havia
necessidade de pronunciá-la.
O processo de adoecimento da criança e do adolescente é vivido intensamente pela
família, representado, sobretudo, pelo sentimento de esperança, medo da morte, desespero,
culpa, negação e revolta. A família enfrenta múltiplas mudanças diante do diagnóstico do
câncer, alterações relacionadas aos aspectos físicos, psicológicos e financeiros e, em
particular, o desequilíbrio no convívio social e familiar interligado à sobrecarga do familiar
cuidador (SILVA et al., 2009).
Estudo expõe que, diante do diagnóstico de câncer do seu filho, os pais,
principalmente as mães, vivenciam sintomas de estresse agudo, inclusive se enquadrando nos
critérios de diagnóstico de transtorno do estresse agudo após duas semanas da descoberta da
doença. Além disso, o quadro de estresse agudo é agravado, de maneira especial, pela
ansiedade pré-existente, gerando reações de sofrimento mais intensas. Esse fato reflete na
atenção ao apoio psicossocial aos familiares no momento do diagnóstico e durante o
tratamento do câncer infantil (PATIÑO-FERNÁNDEZ et al., 2008).
Igualmente, a família convive com o estresse decorrente do cuidado da criança e do
adolescente com câncer e com as transformações na rotina e organização familiar, o que pode
ter efeitos negativos em sua saúde mental e resultar em piora na qualidade de vida dos
familiares cuidadores (WITT et al., 2010).
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A família é o eixo central e singular do cuidado da criança e adolescente com câncer
em cuidados paliativos; convive com sentimentos ambíguos por apresentar medo de seu
agravamento e esperança da cura, mantendo suas crenças pessoais durante todo o processo da
doença.
A aproximação do final da vida traz para as famílias momentos de angústia e, muitas
vezes, de negação da morte, vivenciados pelos familiares com carência de informações, os
quais se deparam, muitas vezes, com a morte inesperada. Entretanto, os relatos também
sinalizaram para o processo de percepção e aceitação da morte pelo cuidador diante do grande
sofrimento da criança e adolescente em tratamento do câncer:
Por outro lado, tinha uma coisa assim, um sentimento, uma coisa assim, que avisa para você: olha é um momento difícil, você vai ter que se preparar, uma coisa que diz dentro de nós. M4 Eu falava que era melhor Deus levar ela do que ela ficar sofrendo daquele jeito [...] Eu chorei muito, mas nunca perto dela, quando tinha que chorar saia de perto, só voltava quando já estava mais calma, nunca gostei de mostrar tristeza para ela, de ver ela triste. M9
A aproximação da morte não exclui a esperança constante dos familiares na vida da
criança e do adolescente com prognóstico incurável de câncer e, ainda que saibam sobre o
agravamento da doença, esse sentimento sustenta e fortalece a família para que ela possa
conviver com as condições da doença e a possibilidade da morte. A morte quase sempre é
repelida pelos pais, entretanto esse momento é um dos mais críticos da doença. Com a
aproximação da morte e a vivência, no âmbito hospitalar, de mortes de
pacientes/companheiros, com a mesma idade e doença, a possibilidade da finitude e o
desenvolvimento de uma consciência de morte passam a existir de forma real nos
pensamentos da família (KREUZ, 2009).
Da mesma forma que pesquisas recentes envolvendo familiares de crianças e do
adolescente com câncer em cuidados paliativos, a presente investigação observou aceitação,
por parte dos pais, da morte do filho quando a doença se agravou muito, gerando progressão
do sofrimento a cada dia - situação, muitas vezes incontrolável pela equipe, mesmo com uso
de todos os recursos disponíveis (KARS et al., 2010 e 2011). Outros aspectos importantes
observados na literatura foram a dificuldade e incapacidade de comunicação da criança e
adolescente, sintomas relacionados com a aproximação da morte, os quais também geram
sentimentos aceitação da morte como forma de cessar o intenso sofrimento do filho (KARS et
al., 2010 e 2011; ZELCER et al., 2010).
69
No período de agravamento da doença, os cuidadores referiram que foram, sobretudo,
os sinais e sintomas apresentados pela criança e adolescentes que os levaram a perceber as
complicações decorrentes da evolução do câncer e a possibilidade de morte:
[...] Ela debilitou muito, viemos embora na sexta e quando foi na terça voltamos. Ela já estava tendo diarréia e vômito, já não era para estar por causa da quimioterapia, porque já fazia um tempo e a reação é no máximo uma semana, quinze dias e nela já fazia muito tempo, Ela não conseguia mais ficar em pé e controlar a evacuação. M3 [...] Eu fui vendo essas mudanças assim na C5, mas a perninha, ao invés de melhorar, começou a piorar o movimento dela sabe? o jeitinho dela andar, ela andava de motoca, ela não conseguia pedalar, ela ia com o pezinho. V8 [...] Cedo ela tirou o curativo e depois eu tive que limpar de novo, a hora que eu olhei tinha um caroço, parece um olhinho [...] Chamei minha mãe, era cinco horas da manhã para ver o olho da C6 [...] Mãe, voltou e agora? Fiquei março, abril, maio e até começo de junho, faltavam três semanas para ela falecer. Fiquei lá (no hospital), começou a crescer e na outra semana apareceu outro [...] Fui percebendo, ela não mexia mais a perna, a mão ficava parada, ela ficava com o olhar fixo, às vezes, e ela dançava e tudo [...] E foi passando o tempo e cada vez menos ela se mexia. M9
Estudo realizado em centro de referência nos Estados Unidos com pais de crianças e
adolescentes que morreram por câncer evidenciou a presença de sintomas frequentes, nos
últimos dias vida, relacionados a alterações de comportamento, mudanças na aparência, dor,
fraqueza, fadiga, alterações respiratórias e cardíacas, mudança no padrão de sono e falta de
apetite. Segundo relato dos pais entrevistados, esses sintomas aumentaram, em intensidade e
frequencia, com a aproximação da morte (PRITCHARD et al., 2008).
Além dos aspectos físicos, o agravamento da doença também mostrou relação com as
mudanças de tratamentos e realização de procedimentos. A mudança de ambiente já
familiarizado pela criança e família também foi relatada em razão dos aspectos emocionais
decorrentes dessa alteração. Nesses momentos, a mãe sentia que a cura não era mais possível:
O dia que ela falou para mim que ela iria trocar de hospital, esse dia eu passei mal no hospital, sabe? Eu passei mal. Cada dia ela estava emagrecendo, já não podia comer mais, não comia, não bebia [...] Eu via que cada passo lá (na unidade de emergência) ela ia se debilitando mais, porque ela não estava no ambiente dela. Também ela não conhecia tanto o pessoal lá, não era o mesmo, acho que isso também ajudou, porque se ela estivesse com as pessoas que ela conhecesse, ela não tinha ficado tão deprimida. M2 Foi quando a médica falou que iria dar quimioterapia por boca, eu já sabia. Quando tirou a quimioterapia por veia e mudou para a boca, rapidamente ela já piorou, deu 15 dias e o tumor saiu em todo lugar. M11
70
Percebi que ela ficou ruim mesmo quando tiraram o cateter da virilha e fizeram a cirurgia no pescoço, ai eu vi que ela não ficou bem. Ela começou ficar mais molinha depois dessa cirurgia, ai não queria mamar direito. Depois ela começou a vomitar, ela mamava e vomitava, foi aonde eu achei que agravou mesmo [...] quando ela estava na CTI, que ela ficou ruim, depois que paralisou os rins, eles abriram para fazer a hemodiálise. M13 Foi nos últimos dias, quando ele entrou em coma. Ele voltou do coma, ele pegou esse vírus e foi só complicando[...] Ele não se mexia, não falava mais, o que acabou mesmo complicando foi a traqueotomia, foi ficando pior. M14
A recidiva da doença também foi outro fator importante associado ao agravamento do
câncer. A percepção da mãe, relacionando os sinais e sintomas que sugeriram a volta do
câncer, foi diretamente ligada à piora do prognóstico e medo da morte:
[...] Eu percebi um caroçinho no pescoço e eu falei, não acredito que aquela doença maldita tinha se espalhado, ai eu levei [...] Ele estava ficando inquieto, só que eu falava, assim, para a minha mãe, mãe o C5 está ficando muito inquieto, eu falava eu acho que ele está sentindo dor, eu estou com medo, e ela, ai filha está mesmo, ele sentava para assistir o desenho, levantava, não aguentava ficar sentado, encostava a cabeça no braço do sofá, levantava, deitava e eu falava: filho você está sentindo dor? E ele: é. Ai eu dava remédio. M5 Eu notei de novo um carozinho na perna dele, eu trouxe ele (no hospital) e quando fizeram a punção e falaram que a doença tinha voltado, a partir daquele momento eu já percebi que eu iria perder o C4, porque todos os casos que eu vi quando a doença volta é para levar e como a doença dele era muito rara, a partir daquele momento eu percebi que eu iria perder o C4 [...] o momento que eu percebia mais que ele iria morrer foi quando começou a juntar água no abdome dele, ai ele começou a senti uma dor e em uma semana vi que o caroço estava desse tamanho (mostrando com as mãos que estava grande), ai dali para frente fiquei com ele, era só curti, amar e mais nada, que a qualquer momento eu iria perder-lo. M7
O momento do diagnóstico configura-se como sendo de intenso estresse, angústia e
incertezas para a criança e adolescente e, sobretudo, para seus pais e familiares, os quais têm
suas rotinas modificadas, agora em direção ao cuidado do ente doente. Seguindo o percurso
da doença, o tratamento implica em diversas dificuldades biopsicossociais, as quais requerem
uma nova reorganização familiar para o cuidado em busca da cura. Quando ocorre a recidiva,
isto é, a volta da doença, as expectativas de cura são abaladas pelo novo sentimento de
incerteza do desconhecido.
A recidiva do câncer traz consigo o aprender novamente a conviver com a doença e
suas limitações, sendo que para a maioria das famílias esse retorno torna-se ainda pior do que
o próprio diagnóstico inicial, face aos sentimentos de fracasso e derrota da cura, acarretando
71
impacto negativo, sofrimento e mudanças em sua vida (VIVAR, WHYTE, MCQUEEN,
2010).
A participação contínua da família no processo de adoecimento foi permeada por
sentimentos de sofrimento e solidão. A doação da mãe e da avó mostrou-se incessante em
todos os momentos do cuidado, com estagnação de suas próprias vidas e de suas famílias para
cuidar exclusivamente da criança e/ou do adolescente enfermo:
[...] Eu abandonei tudo, foram os últimos 9 meses de quimioterapia, internada, foram 9 meses intensos. M3 Foi muito difícil [...] Foi muito difícil porque eu tive que aguentar muita coisa [...] Então, se tinha que chorar, eu chorava no cantinho sozinha, eu não desabafava com ninguém, fui agüentando. V8 Tive que abandonar tudo, o trabalho e até os afazeres de casa, tive que deixar um pouco de lado, para estar mais com ele, para cuidar dele. M4 Eu me perdi dentro da minha casa, eu não tinha mais costume de fazer aquilo, porque eu me dediquei toda a ela. M3
A doença incurável do filho faz com que os pais e demais familiares dediquem-se, em
qualquer circunstância, ao cuidado, compreendendo a vulnerabilidade da criança diante do
câncer. A presença constante dos pais possibilita avaliar as necessidades de seu filho,
protegendo-o e minimizando possíveis efeitos da doença e do tratamento, além de
proporcionar apoio e partilhar o sofrimento diante dos cuidados paliativos (KARS et al.,
2011).
O agravamento de uma doença que limita e ameaça a vida requer uma nova
organização familiar face às alterações e mudanças desencadeadas por essa nova condição,
redimensionando à nova realidade vivida (KNAPP et al., 2010).
Em decorrência da dedicação do membro familiar ao cuidado da criança e do
adolescente, dedicação requerida pela dependência, a mãe explicou sentir necessidade da
presença da família, da equipe e de pessoas próximas para poder dividir os momentos de
sofrimento, angústias e tristezas. Esses relatos estiveram presentes principalmente na fase
final da vida da criança e do adolescente, quando a percepção de luta para a cura da doença já
não era mais o foco do cuidado:
Um dia [...] Eu acabei falando que eu não aguentava mais ficar sozinha aqui no Hospital das Clínicas [...] Até uma das minhas irmãs foi passar a noite comigo. M2 [...] Era de cidade longe, você não tem o calor de ninguém, o abraço de ninguém ali, e tem e muito da equipe de enfermagem, eles ficaram o tempo todo ali, mas o choque foi grande, eu prometi para ela, falei: não importa o
72
que acontecer com você, eu não sei o que vai acontecer com você, mas você não vai embora. Ai, no dia que ela morreu, que ela estava dentro do caixão, minha mãe veio embora, fiquei sozinha lá em Ribeirão, esperando a funerária chegar, e, ali, tudo tão escuro, tão sombrio. M6 Foi difícil, só Deus para dar força para uma mãe. Porque está ali o tempo inteiro cuidando dela e vendo que ela iria morrer, não podia chorar, não podia reclamar, desabafar. Às vezes sentava atrás da casa e chorava um pouco, lavava o rosto e entrava. Não podia nem engolir saliva que ela perguntava se eu estava chorando, que estava engolindo o choro. Falava que não. M11
O nível de dependência do doente oncológico em relação à família acompanha a
progressão e o agravamento da neoplasia, o que gera dificuldades, desgaste físico e emocional
e enfrentamento de situações limites por parte da família, na condição de cuidadora na fase de
cuidados paliativos (NUNES, 2010).
A experiência vivenciada pelo doente reflete-se no cuidador, o qual também necessita
de apoio durante todo o percurso da doença e não apenas quando focado no processo de morte
e morrer (MURRAY et al., 2010). Assim, o suporte dos membros familiares, de amigos, da
equipe de saúde e até mesmo de famílias que vivenciaram as mesmas situações são
importantes para os pais, em especial para a mãe, a qual se coloca à frente do cuidado,
chamando a si a responsabilidade pelo mesmo, muitas vezes percebendo-se sozinha,
desamparada e incapacitada para lidar com a situação. Acresce-se que a família tenta se
reajustar à normalidade e ao cotidiano de seus membros paralelamente ao cuidado à criança
doente, buscando incessantemente a cura (MISKO, 2012).
Diante do agravamento do câncer e da progressão das dependências, as famílias
necessitam de reestruturação e organização para o cuidado da criança e do adolescente na fase
final da vida, recaindo a maior sobrecarga no cuidador principal, na maioria das vezes
representado pela mãe; o pai, as avós ou o filho mais velho ficam responsáveis pelo sustento
e cuidados com os outros membros da família:
Eu ia sozinha, meu marido só foi no último dia, à noite, na véspera da morte de C4, para passar a noite comigo. M4 [...] Parei de trabalhar, não me arrependo sabe, se eu soubesse que isso iria acontecer, tinha aproveitado antes a minha vida com ele [...] O B. [pai] ia sempre também, mas tinha dia e horário por causa do trabalho dele... Minha mãe e o B. (pai) que cuidava da casa, eu abandonei tudo, porque primeiro lugar os filhos. M5 Eu aqui (no hospital), minha mãe vinha uma vez na semana, porque ela tinha que ir embora, a minha filha mais velha vivia de congelados, só microondas e o meu filho mais novo ficava na casa do pai, da avó e da tia [...] Quando o meu filho mais novo queria ficar em casa, minha mãe dormia
73
com ele. Mas a minha filha amadureceu muito, cuidava da casa, de tudo, dormia sozinha, ela tinha 14 ano e eu tinha muita confiança nela. M7
Diante desse percurso, o cuidador da criança com câncer necessita de assistência e
cuidados que amenizem sua sobrecarga de cuidado mediante atividades que promovam seu
bem-estar físico, social e emocional, principalmente direcionados à saúde mental, custos
relacionados à função de cuidador e ao conforto da dor, com vistas à sua qualidade de vida.
Estudo de Santo et al. (2011) identifica a mãe como a principal cuidadora, em nosso estudo,
também foi observado ser ela a principal cuidadora, com o apoio de outros integrantes da
família.
Com foco no cuidado do filho doente, a mãe abdica de sua própria vida, o que envolve
deixar em segundo plano seu emprego, suas necessidades pessoais, os cuidados da casa e a
atenção aos outros membros da família, filhos e marido para atender às necessidades da
criança e do adolescente doente dependentes de seu cuidado.
Estudo qualitativo com objetivo de identificar as necessidades da mãe durante a
internação do filho com câncer e compreender como as incertezas diante da doença
configuram-se nessa experiência, observou, por meio dos seus relatos, que as mães
compreendem a necessidade de estarem presentes e acompanharem o longo processo de
adoecimento junto de seu filho, o que representa fortalecimento, segurança e proteção para
ambos diante do surgimento de tantas dúvidas e indefinições (ANGELO, MOREIRA,
RODRIGUES, 2010).
As necessidades do cuidado da criança e adolescente com câncer não focaram apenas
a esfera emocional. Os familiares entrevistados também indicaram o aspecto financeiro como
uma das dificuldades para o cuidado, sendo que essas foram contornadas, algumas vezes, pela
família, pelo município e por amigos:
Recebia dinheiro, por aposentadoria por invalidez da minha filha, e foi muito bom [...] Conseguia fazer as vontades dela e ir ao hospital e nas consultas quando precisava. M1 Dinheiro porque minha família inteira é pobre, mas minha mãe chegou a me mandar da Bahia, mas o povo da cidade, que é pequena, se comoveu com a situação dos outros, ajudou com cesta, com bingo, então achamos muita ajuda nessa parte. M11 Muita ajuda financeira, a nossa igreja ajudou bastante nas despesas, pois meu marido ia todo dia para Ribeirão, nós não tivemos ajuda da prefeitura. M14 Eu consegui benefícios na cidade, pegava o leite, mais o sustagem dele, medicação. Isso da prefeitura, todos precisavam de requerimento, eu não,
74
quando ligava a ambulância estava na porta da minha casa [...] Tive muito apoio da prefeitura. M7
A literatura evidencia que a evolução da doença não se restringe apenas às perdas de
natureza física, abrangendo também as de natureza emocional, social e financeira, as quais,
em sua totalidade, desencadeiam sofrimento psicológico ao paciente, familiares e cuidadores,
remetendo à necessidade de assistência direcionada a essas situações (SALGUEIRO, 2008).
O suporte foi oferecido para o cuidador e para a família em diversas ocasiões, do
diagnóstico ao período de luto, por amigos, familiares e pela igreja, conforme mostram os
relatos abaixo:
[...] As pessoas supriram muito as nossas necessidades, eu estou aqui, você não está sozinha, o pessoal da igreja, de casa e da equipe também. M2 Apoio eu sempre tive, no hospital, na igreja, na família, se não são os amigos nessas horas não sabemos o que fazer. Todos vinham aqui, conversavam [...] Sempre tem as pessoas que ajudam, como eu parei de trabalhar as pessoas sempre doavam alguma coisa para ela, então nunca faltou nada para ela, nem para mim. As pessoas sempre cuidaram muito bem de nós, faltava dinheiro, o vizinho chegava e dava. O apoio era geral, era muito bom. M12
O apoio é um forte aliado da família cuidadora no enfrentamento do percurso da
doença, recidiva, agravamento e processo de morte (MURRAYV et al., 2010). A qualidade
do atendimento interliga-se à comunicação, ao atendimento individualizado, ao foco de
abordagem na família e à acessibilidade de apoio, os quais são fundamentais para a criança e
adolescente em condições limitantes de vida e seus familiares. Entretanto, pode haver
momentos nos quais a intensidade de apoio, sob forma de carinho, por exemplo, não seja
suficiente para assistência da família (KIRK; PRITCHARD, 2011).
O apoio social é aquele que estabelece um vínculo de amizade entre pessoas e/ou
grupos, com contribuições positivas de bem-estar, prevenção e manutenção da saúde por
meio de apoio material, emocional e afetivo (PIETRUKOWICZ, 2001). Favorece a
reestruturação e organização familiar diante de sua vivência com o câncer, sobretudo
direcionado ao apoio emocional e informativo (ROSALEEN, 2003).
O apoio social e a rede social são conceitos interligados, porém com características
distintas. O apoio social está diretamente ligado à dimensão pessoal, expressando-se quando
a família é amparada e recebe ajuda de pessoas ou grupos de pessoas, como familiares,
vizinhos e amigos, presentes em seu meio, com a finalidade de suprir ou minimizar suas
necessidades presentes. Já a rede social é um conceito mais amplo, referindo-se à dimensão
75
estrutural ou institucional, como instituições religiosas e hospitais, auxiliando a família por
meio das relações e vínculos sociais dos membros inseridos nesse contexto (PEDRO,
ROCHA, NASCIMENTO, 2008).
Durante as entrevistas, a fé e a crença religiosa e espiritual se destacaram entre os
apoios mais importantes e necessários no enfrentamento do processo de adoecimento e
morte. Os depoimentos expressaram a presença constante da fé e crença religiosa como
forma de apoio, força e aceitação da morte:
Eu tinha muita fé sabe? Eu dava muita força para os outros, eu falava que se a mãe tivesse fé, que Deus poderia curar o filho da gente sabe? Que nada era impossível para Deus. M5 [...] Se fosse para ela ser minha, tudo bem, mas se não fosse, para tomar uma previdência, que ela segurasse na mão de Deus e fosse embora, não aguentava mais vê-la naquela situação. M6 Nós tínhamos muita fé em Deus, que na última hora Deus iria tirar tudo aquilo e foi assim até o dia de morrer. M11
Quando as limitações das possibilidades de cura são discutidas com a família, ela
busca suporte e apoio na fé e crença religiosa e/ou espiritual, já existente ou não; é nessa
esfera que acredita haver forças soberanas capazes de curar seu filho com câncer em
cuidados paliativos (MISKO, 2012).
A religiosidade é vista como uma forma de intensificar o apoio social, permitindo
melhor adaptação psicológica dos familiares, com redução dos sentimentos depressivos.
Assim, o cuidador sente-se acolhido e protegido por um ser superior, encontrando, na
espiritualidade, o suporte para melhor aceitação das situações vivenciadas, superação de
obstáculos e enfrentamento da doença (BREITBART, 2003; SILVA, ACKER, 2007).
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS
A evolução da doença oncológica conduz, de certa forma, quase que naturalmente à
assistência voltada aos princípios dos cuidados paliativos, permeando, em seus eixos, a
participação ativa da família no cuidado à criança e ao adolescente.
Nesse percurso, o inter-relacionamento da equipe é fundamental para a família e para
a criança e o adolescente diante da nova experiência que se inicia com o deslocamento do
foco terapêutico curativo para o paliativo, em decorrência, muitas vezes, da aproximação da
morte e, consequentemente, de um breve período de adaptação:
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Eles cuidam com amor, com carinho... Eles são mais uma família do que um hospital, as enfermeiras quando nós pediamos, vinha na hora, nunca ficavamos sozinha, eles ficaram ali, deram uma força, eles não nos abandonaram. V6 [...] Eu sei que eles (os profissionais) também se apegaram a ela, para mim eles são muito humanos [...] São profissionais que gostam do que fazem, tem carinho pelo que fazem e eu não tenho o que reclamar. Sempre me falaram, estiveram ali, ofereciam tratamento psicológico, sempre muito atenciosos. Com minhas irmãs, para toda a minha família, eles sempre foram muito atenciosos, não tenho do que reclamar. M2
Foi possível perceber nos depoimentos que a ligação entre a família e a equipe é
iniciada desde o primeiro momento do cuidado da criança e adolescente, podendo se tornar
forte e intensa, caracterizando a construção de um denso vínculo; essa relação é afetada
quando ocorre a troca dos profissionais responsáveis pela assistência daquela criança ou
adolescente e sua família. Os depoimentos expressam que a família associa essa troca ao
agravo do quadro clínico:
Foi na hora de trocar o médico que eu não gostei, a mulher não ia ao quarto ver minha menina, tinha que ficar chamando ela... Ficava só no computador [...] Era muito estúpida. O O. não, ele todo dia cedo ele ia ver os pacientes, na hora do almoço, à tarde e hora que ele ia embora, e quanto trocou a mulher não fazia nada disso, ficava no computador e mandava as outras olharem, porque ela mesma não vinha olhar. M10 Olha todo mundo ficou arrasado porque a gente teve uma equipe no começo que cuidava da C8 e foram ótimos médicos, depois mudou para uma equipe que faziam coisas completamente diferentes. Ainda eu falava assim, nossa se o Dr. B. estivesse aqui, acho que não seria assim, seria diferente, sabe? Eles viam a C8, faziam exames mais profundos. V8
A parceria da família, especialmente entre a mãe, como principal cuidadora, e a equipe
de saúde, sobretudo o médico responsável pelo acompanhamento da criança e do adolescente
desde o início da doença, gera laços de confiança e cumplicidade na luta contra o câncer e
ajuda a família na readaptação à nova condição, isto é, de agravamento da doença,
fortalecendo as esperanças, as quais se voltam para a equipe na tentativa de conseguir novos
recursos para curar a doença de seu filho (ANGELO, MOREIRA, RODRIGUES, 2010;
KARS et al., 2011; MISKO, 2012).
O fornecimento de informações e esclarecimentos, em especial na fase final da vida, é
o primeiro passo para que a família, na condição de cuidadora responsável, consiga participar
e decidir, em conjunto com a equipe, a respeito das condutas de cuidado iniciadas a partir de
então.
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Nos relatos dos cuidadores, em todo o percurso do processo de doença, a comunicação
entre a equipe de saúde e a família mostrou-se indireta, confusa, ambígua ou não realizada
quando dizia respeito aos agravos do câncer, impossibilidades de tratamento curativo e
proximidade da morte:
Mãe ela não vai morrer disso, foi dia 12 de novembro de 2010 que eu fui ao hospital, ai o doutor R. falou: mãe vai para casa tranquila, ela não vai morrer disso, o tumor é benigno [...] Vai para casa que ela não vai morrer disso, é benigno, viemos para a casa tranquilos [...] Ficaram muitas dúvidas, de não saber se iria acontecer coisa grave ou não, se ela iria viver com isso ou se iria agravar, como aconteceu. M1 Não, em nenhum momento (a equipe conversou). Falavam que o quadro dele era instável, eu perguntava se era grave, eles falavam que não, que o fato dele estar em uma UTI é sinal que era um caso mais cuidadoso. M14 [...] Mas no dia que ela faleceu, eles entubaram ela de manhã, era 11:00 horas, e falaram: M2 vai para a casa, descansa porque eu já estava lá de um dia para o outro, e mesmo eu não podendo ficar lá dentro do CTI, eu fiquei fora, eles falaram: vai para a casa, vai descansar, que agora ela está entubada mesmo. Quando era 10 e pouco da noite recebi um telefonema falando que ela não estava bem, ai falei que iria lá imediatamente e eles disseram: se você não quiser vir não precisa, vem amanhã de manhã, e quando eu cheguei lá [no hospital] ela já tinha falecido. Eu fui na mesma hora do telefonema e ela já tinha falecido, sabe? Me ligaram quase 11 horas, ainda falaram que se eu quisesse podia ir só de manhã e eu fui na mesma hora e ela já tinha falecido, acho que a hora que eu cheguei eles tinham acabado de tentar reanima-lá, ela estava quentinha ainda, sabe? M2 [...] Ele falou assim: é o seguinte, a C8, é assim, ela tem um tumor tipo uma esponja mais firme e esse é tipo uma bolha e a qualquer momento ela pode dormir novamente. E eu estava tão passada, que só depois fui entender o que era dormir, que ela iria entrar em coma novamente, e foi onde ela entrou em coma e veio a óbito[...] não, para mim não foi clara a conversa, porque se ele chegasse em mim e falasse: olha avó o que está acontecendo com a C8 é o seguinte, apareceu outro tumor e é esse tumor que está provocando tudo e não tem jeito mais. V8
Em sua maior parte, os pais não estão preparados para receber a notícia da
incurabilidade do câncer de seu filho e, tão pouco, da possibilidade da morte. Entretanto, a
conversa a respeito da terminalidade da criança e do adolescente, quando ocorre de forma
adequada, com tato, respeito e empatia entre profissionais e família, pode minimizar seu
impacto negativo e estressante, tornando os pais mais preparados para lidar com essas
informações (LANNEN et al., 2010).
Estudo quantitativo, realizado com pais e médicos de crianças com câncer submetidas
a transplante de células-tronco, com objetivo de avaliar as perspectivas e padrões de cuidado
no final da vida evidenciou que a participação dos pais no processo de decisão do prognóstico
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da vida de seus filhos é vista de maneira satisfatória. Assim, os pais podem discutir sobre os
benefícios e complicações dos tratamentos curativos, início da terapia paliativa e cuidados
eficazes diante das principais necessidades da criança e do adolescente com câncer, de forma
a minimizar o sofrimento e garantir a qualidade de vida, participando da decisão a respeito
das melhores condutas a serem tomadas, por meio da conversa aberta e honesta, acolhendo a
esperança da família e melhorando a qualidade do cuidado (ULLRICH et al., 2010).
A omissão, a ausência e as divergências de informações na comunicação entre equipe
e família dificultam a aceitação dos familiares em relação à conduta de cuidados paliativos em
decorrência da pouca convicção que a equipe transmite a esses familiares (MISKO, 2012).
Observamos que as famílias têm necessidade de receber as informações reais e
objetivas sobre as condições de saúde da criança e adolescente. Às vezes, mesmo
despreparada e com medo, ela deseja conhecer o prognóstico. A comunicação adequada pode
auxiliar na preparação para a perda e aceitação da morte:
[...] Eu queria ter a conversa, mais ao mesmo tempo eu tinha medo. Você vê uma filha ali, que gostava de brincar, conversar, sem falar, sem comer, sem andar. M1 [...] Eles me passavam direitinho o que eu queria saber, então eu acompanhei, claro sempre com esperança, mas sem fantasias. M4
A família cuidadora necessita de informações concretas, sem omissões, de forma
transparente e objetiva, de modo a que possa se sentir mais segura, conseguindo, assim,
enfrentar a experiência, preparando-se para lidar com a dor e possível perda do filho
(ANGELO, MOREIRA, RODRIGUES, 2010). Ao mesmo tempo, a comunicação de más-
notícias deve ser realizada com compaixão e solidariedade, permitindo silêncio e escuta do
paciente e de sua família, facilitada por equipes treinadas e preparadas, ferramentas
fundamentais nesse processo (CROZIER, HANCOCK, 2012).
Os aspectos considerados mais importantes para a família que vive a experiência de
seu filho em cuidados paliativos incluem a comunicação honesta e completa, acesso à equipe
de saúde e de assistência paliativa, apoio emocional, preservação da relação entre pai e filho e
respeito à fé religiosa (MEYER et al., 2006).
Pesquisa com objetivo de avaliar e identificar fatores associados à capacidade dos pais
de crianças e adolescentes com câncer de compreenderem as informações a respeito da
incurabilidade da doença, utilizando-se de um questionário, evidenciou que a comunicação
sobre a terminalidade é ressaltada, em quase sua totalidade, como desejo dos pais
imediatamente após a descoberta do prognóstico. Assim, a informação e a compreensão da
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incurabilidade da doença pelos pais os tornavam mais abertos a expressarem seus sentimentos
de despedidas antes da morte do seu filho (LANNEN et al., 2010).
Na tentativa de preservar a criança e o adolescente do sofrimento que as informações
do agravamento da doença e possibilidade de morte poderiam causar, as mães verbalizaram
que a comunicação deveria ser realizada somente entre a equipe e a família:
Foi muito difícil, porque às vezes me decepcionei com os médicos porque não aceitavamos eles falarem que não tinha mais jeito, não queria que eles falassem daquele jeito para a A11, mas iria falar de que jeito? Olha, é assim mesmo A11, não tem mais jeito para tirar a água da barriga. Isso machucava muito ela e me machucava também, então eu preferia que os médicos não falassem, mas dizem que é por lei explicar tudo para a pessoa. Mas penso que quando pegamos uma fase, igual à de A11, que era uma adolescente, não deveria ser assim, para a família tudo bem, mas para a pessoa que está doente podia ser mais restrito [...] Podem ter magoado pelo jeito que explicaram, deviam ter mais delicadeza e um jeitinho mais carinhoso, por que doe demais. M11
Além disso, foi apreendida, nas entrevistas, a sensação de abandono do cuidado da
criança, do adolescente e da família quando é verbalizada a expressão "não tem mais o que
fazer". A clareza, o conhecimento e a objetividade com que a informação é transmitida aos
familiares são, em geral, ambíguos, imprecisos, e muitas vezes omissos quando nos
deparamos com a filosofia dos cuidados paliativos.
Nessa situação, a família percebe o desinteresse da equipe em relação à continuidade
do tratamento, perdendo a confiança nas informações por ela dadas e em suas condutas
(MISKO, 2012).
A comunicação a respeito da evolução do câncer e o início dos cuidados paliativos
entre o familiar cuidador e a criança e adolescente com câncer, se não for realizada de forma
adequada, pode não zelar pela sua saúde emocional e minimizar o sofrimento. Para muitos,
devido à idade, a criança e o adolescente não entenderiam o processo de morte e morrer.
Observamos, no entanto, que mesmo quando as próprias crianças e adolescentes
sinalizam para a percepção da aproximação da morte, as mães tentavam minimizar o
sofrimento, esquivando-se do assunto:
[...] O que eu falava era que eu estava ali, junto com ela, que eu a amava, essas coisas; ela também falava: mamãe eu te amo. Eram essas coisas que falavamos, falavamos de tudo, assim, de carinho e amor que uma tinha pela outra, mas não tinha essa conversa eu estou piorando, a dor está aumentando, isso não. M2 Nessa última internação dela, quando foi na quarta de manhã, que ela ainda estava falando bem mole, bem mal, mas ainda falava, ela pergunto para mim se ela iria morrer e eu falei que não, que ela iria viver comigo para
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sempre, que ela podia ficar tranqüila [...] A última vez que ela falou comigo foi quando ela perguntou se ela iria morrer. M3 [...] Eu sempre falei: você vai viver, vai ficar bom, vai fica curado. Sempre falei que ele iria ficar bem, nunca deixei ele saber da realidade [...] Eu não quis falar, eu acho que não seria legal para ele, ele era criança, não iria entender [...] Na véspera dele falecer, ele pego minha mão, beijou minha mão e falou para mim que iria partir. M4 Eu sempre falava que Deus iria curá-lo e ele falava que não, ele sabia que não iria, e ele me falava [...] Se eu falasse ele iria desistir mais rápido de viver. M5 Eu nunca tive coragem de conversar, por sentir que ele não queria me abandonar, por sentir esse elo forte, se eu falasse que ele iria morrer, ele nunca iria entender, então para que eu falaria que ele iria morrer se ele não sabia o que era isso. M7
Segundo uma pesquisa qualitativa realizada com familiares enlutados após a morte de
uma criança com câncer, o processo de morte e morrer é percebido pela criança em fase
avançada do câncer e manifestado por meio de relatos verbais, por vezes implícitos, e não
verbais, expressos por ações e gestos (FOSTER, et al. 2009).
Conversar a respeito da morte é um dos principais dilemas enfrentados pelos pais de
crianças com doenças graves e malignas como o câncer. Um estudo realizado por Kreicbergs
et al. (2004), cujo objetivo foi analisar a prevalência e os preditores relacionados à conversa
entre os pais e seus filhos que morreram em decorrência de doença maligna avançada,
revelou que a troca de informações e conhecimentos sobre a morte é interpretada com
sentimentos positivos e favoráveis para a criança e seus pais, em contraste com o
arrependimento de pais que não tiveram essa oportunidade, sobretudo aqueles que
compreenderam a percepção do filho sobre sua própria morte.
Segundos os autores, o fator determinante para os pais sobre a decisão de falar sobre a
morte foi a idade da criança. Em sua visão, quanto maior a idade da criança, melhores serão
seu entendimento e compreensão sobre a morte; desse modo, não fornecer tais informações
pode trazer sentimentos de arrependimento no pós-morte (KREICBERGS et al., 2004).
De forma especial, a presença da criança com idades maiores e dos adolescentes
durante a comunicação do seu prognóstico, junto dos pais, pode ser benéfica, pois evita os
sentimentos de desconfiança sobre a informação recebida (MARCK; GRIER, 2004).
Algumas mães relataram ter havido comunicação a respeito do agravamento da doença
e da inclusão nos cuidados paliativos, acompanhada de esperança de vida, buscando superar o
sentimento de desistência e desconfiança:
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Ela sabia tudo [...] Quando estavamos sozinhas eu conversava bastante com ela, eu falava que ela poderia ir mais que um dia eu iria vê-la. M9 Nós conversávamos, foi muita coisa dita nesse tempo, porque nós duas éramos muito ligadas. Ela falava que estava piorando, que tinha saído mais um (nódulo), mas eu falava que nós tínhamos a fé que é tudo nas nossas vidas, porque se você tem fé sempre tem esperança. M11 [...] Na proporção que iam surgindo os problemas eu ia contando. Eu não falei tudo porque eu não tinha jeito de falar tudo. Era muita informação para mim, imagina para ela. Eu expliquei sim (o que era cuidados paliativos), mas eu procurava deixar sempre claro que nós iriamos lutar até o último momento. M12
Na trajetória da doença e dos cuidados paliativos, a família apresenta dois momentos
distintos; o primeiro, iniciado pela sensação de fragilidade e vulnerabilidade da criança e
adolescente e, o segundo, caracterizado pela esperança revivida de cura, percebendo que seu
filho é capaz de superar a doença, acreditando na mudança da realidade imposta. Nesse
momento ocorre uma aliança da família na batalha constante pela recuperação e manutenção
da vida (MISKO, 2012).
A conversa entre a mãe e os outros membros da família foi relatada enquanto apoio e
modo de compartilhar o sofrimento, tendo ocorrido, principalmente, entre os membros mais
próximos da família como os pais, filhos e o marido:
Com o C4 não, mas com a minha família toda sim, minha mãe sabia, meus filhos sabiam, eu sempre fui muito franca com eles [...] A conversa foi tranquila, a irmã chorou muito, porque na verdade ela é meia irmã de C7 e o meu outro filho era o verdadeiro irmão de C7 e a irmã brigavam de mais com C7. Eles viram tanto sofrimento, que eles não aguentavam mais ver o C7 sofrer. Então para eles a morte do C7 foi um alívio das dores. M7 Eu pedi para a minha filha chegar em casa e conversar com o pai dela, que ele não podia ficar achando que ela [A3] fosse voltar, ai ela conversou. Ele É difícil de conversar com ele. Deu bastante trabalho e ,às as vezes, bebia. M3
Em outros casos, a comunicação de más notícias ficou restrita à mãe e avó,
justificando que não queriam preocupar e expor a família a sentimentos de dor. No processo
de morte e morrer e até a fase de luto, a conversa sobre tais experiências entre os membros
da família ainda era incipiente e distante, de forma a evitar as recordações e minimizar o
sofrimento:
Eu não conversava com ninguém, nem com ela, nem com ninguém. A minha preocupação ficava, para mim, eu nunca me abri com ninguém. Eu não queria preocupar ninguém da família e não queria falar muito sobre isso (agravamento da doença). M1
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[...] Ninguém tinha coragem, só que acho que entre eles, eles conversaram sim, mas sem a minha presença, mas eu não conseguia. V8 Aqui (na casa) ninguém toca no assunto para não machucar um o outro, todo mundo sofre sozinho. M2
Assim para uma comunicação adequada, por meio da interação e inter-relação entre
profissional de saúde e o paciente e sua família, é necessário valorizar a importância da
comunicação de más notícias e, sobretudo, conhecer as estratégias de comunicação; interrogar
a respeito das expectativas e conhecimento do paciente e família sobre sua doença e
tratamento, afirmar a solicitude e interesse por aspectos multidimensionais do paciente, toque
afetivo, o olhar, o sorriso, a proximidade física e a escuta atentiva. O conhecimento de tais
estratégias é, atualmente, considerado escasso pela equipe de saúde, não podendo ser
adquirido com o tempo, mas por adequadas capacitações (ARAÚJO, SILVA, 2012).
A VIVÊNCIA DA FAMÍLIA DIANTE DOS CUIDADOS PALIATIVOS
Em nosso estudo, segundo dados descritos, a maior parte dos participantes
referiu ter havido inserção nos cuidados paliativos, totalizando nove crianças e adolescentes;
entretanto, a inserção ocorreu quase sempre tardiamente, nas últimas semanas e dias de vida,
com intervalos de 2 dias a quase 6 meses, o que se reflete em seus relatos como falta da
participação no processo de decisão, muitas vezes decorrente da ausência de informações e
conhecimento.
Mesmo após a inclusão da criança e do adolescente no programa de cuidados
paliativos, o desconhecimento por parte da família pode ser notado quando observadas a data
de sua inserção e a referência do familiar a respeito da comunicação entre a equipe e a família
sobre a possibilidade de morte.
O significado dos cuidados paliativos foi descrito, por algumas mães, como a ausência
do tratamento curativo e alívio dos sintomas. Entretanto, a maioria dos relatos mostra que
alguns princípios dos cuidados paliativos foram apreendidos apenas de modo parcial, não
indicando a participação e inclusão gradual da família e da criança e do adolescente na
terapêutica paliativista, muitas vezes entendida como “não ter mais nada para fazer”:
Não sei esse termo de cuidados paliativos. M5 Eles falaram que (cuidados paliativos) é quando não tem mais o que fazer para a pessoa, ai eles param o tratamento e o que eles puderem fazer para tirar a dor, eles faziam, só. M6
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Eu já sabia, tanto que na hora que ele entrou, que descobriu de novo já foram cuidados paliativos [...] Falaram que iriam dar uma quimioterapia para ele, para segurar o tempo de vida dele, que não tinha mais o que fazer. Então falaram: não vamos fazer quimioterapia, porque o C7 gosta do cabelo dele grande, gosta de brincar, de correr, comer, de coca-cola, tanto que ele brigava com qualquer um por causa de coca-cola. Então falaram: não tira nada do que ele gosta, deixar ele, com o cabelo dele, com a vida dele, o cuidado paliativo é essa medicação que estamos dando, para falar que não estamos dando nada, porque o que tinha que ser feito já fizemos. M7 Quando entrou na quimioterapia eles falaram que era só para aliviar, paliativo. Não tinha mais o que cuidar não. M10
Sobre o cuidado paliativo era tudo muito novo para todos nós, sabia do que se tratava, mas até quanto tempo não sabia, era o que doía mais. M11
Estudo recente sobre a experiência de familiares de crianças e adolescentes com
câncer em cuidados paliativos identificou que o reconhecimento dos cuidados paliativos traz
esperança para o controle dos sinais e sintomas e, portanto, redução do sofrimento,
manutenção e até melhora da qualidade de vida (MISKO, 2012).
Mais do que isso, os cuidados paliativos pediátricos devem ser reconhecidos tanto por
parte das instituições, serviços e profissionais quanto pelos pacientes e suas famílias não
apenas como um método alternativo de cuidado, mas como uma abordagem de cuidado que
coexiste com a terapêutica curativa, cujo objetivo central é a qualidade de vida da criança,
adolescente e de sua família (AAP, 2000; CROZIER; HANCOCK, 2012).
Sem o prognóstico de cura, a família sofre com o despreparo para receber a notícia,
compreendida como a ausência de tratamento e decidida somente por parte da equipe de
saúde:
Quando descobri que o tratamento dela iria ser paliativo, que não poderia fazer mais nada, foi difícil [...] Para mim seria melhor se abrisse o chão e eu entrasse dentro, foi difícil a conversa porque era uma decisão deles sobre o tratamento paliativo. M12 Foi quando ele falou para nós (mãe biológica e mãe adotiva) que infelizmente o linfoma estava ficando muito mais agressivo e que eles iriam tentar mais duas quimioterapia e ver o resultado. Se não tivesse o resultado que eles estavam esperando, iriam entrar em tratamento paliativo. Então eu cai, esse dia foi muito horrível, mas eu tive muito apoio. M3
Pesquisa realizada com famílias de crianças e adolescentes em cuidados paliativos,
atendidos no ambulatório de Dor e Cuidados Paliativos em hospital público da cidade de São
Paulo, assinalou que, em relação à inclusão de crianças e adolescentes com outras patologias
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incuráveis atendidas nesse local, a inserção de crianças e adolescentes com afecções
oncológicas no grupo de cuidados paliativos ocorreu próxima de sua morte (MISKO, 2012).
O não reconhecimento, por parte da equipe de saúde, da incurabilidade do câncer
reduz a oportunidade de planejar o local da morte, discutir o desejo de condutas médicas de
RCP e controle do sofrimento, com implicações negativas para a criança, o adolescente e sua
família (ULLRICH et al., 2010).
Os depoimentos também retratam o impacto negativo que a notícia de incurabilidade e
cuidados paliativos gerou para as famílias, as quais definiram essa fase como um tempo de
caos e incertezas; sentiram-se desorientadas a respeito de suas ações e atitudes, vivendo entre
o medo da morte e a esperança da cura. Essa fase expressa, mais uma vez, a necessidade de
reestruturação familiar imposta pela nova condição do membro familiar doente (TITUS,
SOUZA, 2011).
A família tem dificuldade de compreender e aceitar a condição de inexistência de
possibilidades terapêuticas de cura face à falta de preparo para receber tal informação, pois
toda a expectativa relacionada à doença de seu filho residia, até então, na possibilidade de
cura ou, pelo menos, de controle (MISKO, 2012). Assim, a comunicação sobre a inserção da
criança ou do adolescente nos cuidados paliativos pode ser realizada em qualquer momento
do curso da doença, ressaltando que quando mais cedo, melhor para o paciente e sua família,
ajudando-os no enfrentamento da doença, aceitação dos cuidados paliativos e redução do
sofrimento (WOLF et al., 2000).
Diante dos cuidados paliativos, a família vivenciou experiências relativas às
necessidades da criança e do adolescente. As necessidades físicas identificadas na fase de
cuidados paliativos foram relativas à falta de apetite e, principalmente, à dor:
Tinhamos que compra coisa diferente, porque ela não comia, não queria comer, ficava muito pálida, emagrecia bastante. M1 A médica perguntou o que eu queria que fosse feito e eu falei para ela que eu queria que minha filha não sentisse dor, não queria vê-la ter dor de jeito nenhum. Ai ela começou a ter dor no joelho e nas costas. M3 O final foi assim, um dia eu estava conversando com a Dra B., pouco antes do final, e ela falou assim: M7 uma coisa eu te prometo, que a hora que chegar a hora do C7 ele não vai ter dor e o que o C7 mais teve foi dor. Tanto que ele colocou um cateter de peridural, um cateter de raque, ele ficava 24 horas com todas as medicações possíveis e gritando, gritando de dor [...] Até, no entanto, no outro dia a Dra B. entrou no meu quarto, eu não devia ter feito, mas na hora, eu falei: olha Dra a senhora me prometeu que o C7 não iria ter dor e o que o C7 mais tem é dor. M7
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Nos últimos dias ela sentiu mais dor [...] Ás vezes a dipirona fazia mais efeito do que o tramal. M12
Com o agravamento da doença e aproximação do momento da morte, há aumento da
possibilidade dos sinais e sintomas se tornarem mais presentes na vida da criança, de forma
progressiva e intensa, ocasionando preocupações e sentimentos de incapacidade para a família
devido ao agravamento do sofrimento da criança e do adolescente pelo não controle desses
sintomas (BREGSTRAESSER, 2012; KARS et al., 2010; KNAPP et al., 2010; MISKO,
2012).
A dor, a dispneia, os distúrbios gastrointestinais e as alterações neurológicas são os
principais sinais e sintomas na fase de cuidados paliativos, os quais geram angústia e
sofrimento para a criança, adolescente e sua família. Assim, o manejo dos sintomas é
fundamental no cuidado paliativo em oncologia pediátrica (CROZIER; HANCOCK, 2012).
Em nossos achados, os sintomas que mais emergiram nos relatos dos cuidadores desse estudo
foram primeiramente a dor, seguida da anorexia.
Além dos aspectos físicos, as necessidades psicológicas e emocionais foram
mencionadas como importantes:
Ela chamava muito e uma noite amarraram ela, só que ela não era agressiva, sabe? E eles falaram que ela deu muito trabalho aquela noite [...] Quando eu cheguei de manhã ela falou: mãe me amarraram porque eu queria você. M2 [...] até falei assim: vou tira umas férias da A3 [...] Comentei com uma amiga e ela me disse: você vai tira umas férias dela e ela de você, porque ela também deve estar cansada de você. Ai eu parei e pensei que realmente tinha sentido, porque eu saia para fora, tinha outros contatos e ela já não tinha mais, porque chegou uma época que ela não queria mais sair do quarto, não queria sair de dentro do isolamento. Eu vim (para casa) e quando voltei percebi que ela estava mais animada. Achei que iria ser interessante para ela ter a presença de outra pessoa que cuida dela diferente de mim. M3
Nos últimos momentos da criança e adolescente junto da família, o apego aos
familiares foi percebido como barreira para a morte da criança e do adolescente. Assim, a mãe
entendeu que sua negação da morte aumentava a angústia do filho no momento da partida:
[...] Eu percebi quando eu a mandei embora com Deus, ela fechou os olhinhos e correu uma lágrima e eu estava segurando na mãozinha dela e ela soltou da minha mão. M6
Algumas mães relataram que o filho manifestou desejo de ir para casa e ficar com
seus familiares, no espaço da vida cotidiana:
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[...] Era ela que não queria mais ficar em Ribeirão, ela não queria mais ficar lá (no hospital), até a última vez que eu a levei, perguntei se ela queria internar e ela falou que não, chorando ali no colo e não internou, aceitei a vontade dela. M6 Vimos melhora e perguntei se ela queria ir para a casa e ela queria, queria ficar na cama dela. Conseguimos oxigênio para ficar em casa, com a assistente social, montamos e ela ficou o resto da semana e no sábado já. M11
O desejo de retornar para casa e vivenciar a morte do filho junto da família foram
mencionados pela maioria; entretanto, isso não depende apenas da vontade da criança ou do
adolescente e de sua família, mas da estabilidade do quadro clínico da doença, controle
adequado dos sinais e sintomas e, quando necessário, de estrutura física e recursos materiais
indispensáveis para o cuidado (FRIEBERT, 2009; MISKO, 2012). Em concordância, esse
estudo revelou a necessidade de dispositivos para viabilizar o cuidado domiciliar e, para que
isso seja possível, é fundamental que a mãe ou o responsável tenham conhecimentos e
habilidades para manipular os equipamentos e detectar possíveis complicações. Apesar do
desejo de retornar para casa, a família ainda tem receio a respeito do como proceder ao se
deparar com a morte da criança e do adolescente, confiando no suporte hospitalar para tentar
minimizar o sofrimento nesse momento.
Serviços de cuidados paliativos adequadamente estruturados para atender crianças e
adolescentes poderiam facilitar a morte no domicílio, mediante recursos humanos e materiais
competentes e organizados em redes, ou seja, com a possibilidade da família ficar em casa
com seu filho, com a colaboração dos serviços comunitários (CROZIER; HANCOCK, 2012).
Ao mesmo tempo, a família sente-se mais confortável quando o sofrimento da criança
ou do adolescente é reduzido. Assim, a possibilidade do manejo e controle da dor e de outros
sintomas no ambiente hospitalar é vista enquanto disponibilidade de mais recursos e, portanto,
menor sofrimento para a criança, o adolescente e a família, influenciando a decisão do
ambiente hospitalar ser o local de morte, assim como ocorreu nesse estudo:
Nas condições que ela estava eu não podia vir para casa, porque não tinha condição de trazer tudo aquilo para dentro de casa para ela fica aqui. M2 Eu achava que se ele fosse para a casa ele iria melhorar [...] Tive vontade, pedi, e eles falaram que não tinha como, porque ele precisava do oxigênio [...] ele falava assim: mamãe, neném que ir para a casa e eu falava: você vai [...] e ele falava não mamãe, nenê vai ficar aqui, acho que ele sabia, daí uns dias aconteceu. M5 [...] as vezes eu falo assim, e se não tivesse levado, será que ela tinha morrido aqui? [...] É duro você ver uma pessoa morrendo e não poder fazer
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nada, aqui eles não põe a mão também e lá quando eu vi que ela estava morrendo, eles ficavam junto, ela ficou com o aparelhinho na boca até o último momento, não tiraram nada, só quando ela fechou o olhinho mesmo e faleceu mesmo, enquanto ela estava dando um suspiro a máscara estava nela, e se fosse aqui, ela iria morrer as míngua, e o que eu iria fazer, iria ser pior ainda. M6 Lá (no hospital) ela também pediu para o Dr O. seda-lá e tinha de tudo, conforto, remédio na veia, enquanto em casa era só por boca. M11 Chegou uma hora que eu falei [...] Se iria agravar muito se eu fosse para a casa, falaram que não, porque eu cuidava certo, dava os remédios, o curativo era eu que fazia e era só ter cuidado para não sangrar. Então três semanas antes dela falecer eu vim embora para casa [...] Por ela estar comigo foi bom (estar em casa), porque era só eu e ela, não tinha mais ninguém. Ela dependia só de mim porque não tinha outra pessoa que poderia fazer, e nada iria adiantar. M9
No hospital, o momento da morte envolveu procedimentos invasivos, entendidos
como necessários ao cuidado daquelas crianças e adolescentes em fase final da vida;
entretanto, nem sempre essas ações são vistas como benéficas pela criança e adolescente e
suas famílias e até pelos próprios profissionais:
Ela (A2) olhou para meu ex-marido e falou: pai, olha o meu braço, como que está, eu não aguento mais. M2 [...] no último dia que ele chorou, também estava morrendo já, eles não conseguiam pegar a veia, ai ele chorou, mas era um choro sentido, diferente, ele falava não e chorava, eu lembro que tinha uma enfermeira, que não lembro o nome, que até ela se comoveu, e falou: chega eu não quero mais que pegue a veia do C5 e meia hora depois meu filho faleceu, nunca vou esquecer sabe, desse momento cruel. M5 Hoje eu não deixaria colocar aquele cateter, todos aqueles procedimentos de novo, porque ele ia gritando, quando ia para a cirurgia, por uma coisa que estava sempre vazando, que não tinha solução, tanto que um dia antes dele morrer eu falei: arranca tudo isso das costas dele, não quero ver mais isso, e eles foram e rançaram tudo, deixou só a medicação EV (endovenosa). Eu não deixaria mais ele passar por esses procedimentos invasivos. Você acredita que parece que depois disso ele tranquilizou, porque ele não queria aquilo, estava tudo errado, a medicação ficava vazando, molhava a cama. Eu não aconselharia nenhuma mãe a fazer isso, nem a equipe, não resolve, então não faça porque não resolve. M7 Foi muito triste, eu não aguentava ficar perto, na hora que eles iam tirar sangue dela eu ficava agitada, falava: não é assim, não é assim, estou muito ruim, não quero ver isso, não quero ver isso e saia do quarto. M10 [...] Ela estava sofrendo demais, tinha vez que iam pegar a veia dela, não achavam a veia, tinha que furar mais de vinte vezes. Teve uma vez que furaram tanto que tentaram pegar a artéria e inchou, eu peguei ela da mão da enfermeira e falei: não, vocês não vão furar mais. Eu comecei a chorar e sai com ela pelo corredor. M13
88
Na fase final de vida, os procedimentos invasivos deveriam ser considerados apenas
em caso de extrema necessidade. Os cuidados paliativos preconizam o conforto do paciente
em processo de morte e morrer, carecendo, portanto, de lógica a realização de inúmeros
procedimentos invasivos desnecessários. Estudo em uma unidade de cuidados paliativos,
envolvendo pacientes com sobrevida inferior a seis meses, evidenciou, por meio de
depoimentos dos familiares, que os mesmos não desejavam a maior parte dos procedimentos
invasivos, apenas aqueles que aliviariam seu sofrimento (KWON et al., 2012).
Pesquisa realizada por meio de revisão de prontuários de crianças portadoras de
doenças crônicas, que morreram após 24 horas de internação, e pacientes em situações
agudas que morreram após 7 dias de internação no ambiente hospitalar, no ano de 1996 e
1998, revelou que o local de óbito, na maioria dos casos, foi a unidade de terapia intensiva e
com intubação endotraquel antes da morte. A conduta de não realizar a RCP antes da
internação foi discutida apenas em 7% dos 236 casos estudados, sendo que, em 79%, essa
discussão ocorreu a menos de um dia da morte das crianças. Em apenas um caso, estava
registrada no prontuário a comunicação com a criança e sua família sobre a possibilidade da
morte, sendo, portanto, possível pouca participação da criança e da família na tomada de
decisão e cuidados no processo de morte e morrer, indicando que a comunicação de más
notícias com a criança ainda é rara e temida pelos profissionais da saúde e família
(MCCALLUM; BYRNE; BRUERA, 2000).
Os últimos momentos de vida da criança e adolescente com câncer foram descritos
como sendo de maneira suave e tranquila, com a presença da família. Nesse instante, também
estiveram fortemente presentes nos depoimentos a crença religiosa e espiritual e a equipe de
saúde, como figuras de conforto e ajuda para o consentimento da morte.
Todo aquele tempo que eu fiquei com ele na enfermaria, eu e meu marido, nós conversamos [...] eu cantei para ele, eu relembrei muitas coisas que passamos, as viagens, as coisas que ele queria e eu não dei, pedi perdão para ele, desculpas por alguma coisa e pedi para ele me dar um sinal se tivesse me ouvindo e ele me respondeu com lágrimas, as lágrimas escorriam no rostinho dele, a partir daí eu percebi que ele estava me ouvindo, que ele me escutou. Foi muito difícil passar isso com ele, mas foi maravilhoso também, e eu agradeço a Deus por isso, ter vivido com ele, por todas as coisas boas que vivemos juntos. M4 Tive um envolvimento muito grande com a L. (médica) por causa da religião, minha irmã é católica, eu espírita e minha outra filha evangélica, ai ficou uma coisa eclética, ai eu perguntei para a L. se ela sabia fazer a prece de caritas, ela falou que sabia, ai eu pedi para ela fazer. Todo mundo fechou os olhos, fizemos a oração, ai eles perguntaram se eu queria ver preparar ela, eu falei que não, mas assim, todo mundo ficou bem, tudo
89
tranquilo, mas, assim, falei para a psicóloga que foi até estranho, mas na hora eu senti no quarto uma coisa bonita, uma alegria, não era uma coisa triste entendeu, por ser aquele momento, era uma coisa, assim, que nossa foi bonito. M3 Quando ele faleceu, ele estava sedado, eu estava sozinha com ele, foi no sábado, 7 horas da noite, acho que o anjinho dele me tirou do quart. Lembro que aquele dia a tarde, eu passei pano com sabonete nele, creme, coloquei o pijama novo, passei perfume, penteei o cabelo dele, ele estava lindo, eu vi que a respiração dele estava um pouco ofegante, mas nada de mais sério e eu sai para chama a enfermeira. M7 [...] Ela foi para o CTI e eles viram que era melhor levar para o quarto que iria ser o momento da família. Até então a porta sempre fechada, só ali mesmo a família e os enfermeiros. V8 Ela amanheceu mal, eu verifiquei a pressão dela e estava 11 por 7 e os batimentos já estavam 51, ela começou respirar com dificuldade e a levei para o hospital. Era terça feira, passou o resto do dia e faleceu ás 4 da tarde. Ela sentiu dores, mas não precisou sedar ela. Ela faleceu bem tranquila. M12
As ações direcionadas a minimizar o sofrimento dos pais nos instantes da morte de seu
filho refletem em seu processo de luto e retomada da vida, ajudando na aceitação da morte e
no período de luto. Desse modo, as ações mais praticadas nos últimos dias de vida pelos
profissionais da saúde, segundo a visão dos pais de crianças e adolescentes com câncer, são
direcionadas ao controle da dor, manejo do conforto, apoio e comunicação franca
(PRITCHARD et al., 2008). A presença da equipe no momento da morte foi um aspecto
considerado relevante nos cuidados paliativos em oncologia pediátrica, fato também
observado em nosso estudo
A assistência à criança, ao adolescente e suas famílias em cuidados paliativos,
atendidos por equipes especializadas, cujo foco resida na redução de procedimentos
agressivos, de internações em unidades de terapia intensiva, na postura de não tomar condutas
para realização de ressuscitação cardiorrespiratória e no melhor manejo da dor e outros
sintomas são as preferidas pelos pais (MACK; WOLFE, 2006; WOLFE et al., 2000; 2008).
Desta forma, o convívio com o processo de morte e morrer é considerado o maior
desafio para a equipe de saúde, em particular para a equipe de cuidados paliativos, que
vivencia, cotidianamente, os cuidados ao final da vida. Compartilhar a morte com o paciente e
sua família consiste, para equipe, em um momento de autoconhecimento, de aquisição de
habilidades de comunicação, além de possibilitar a reflexão e o redimensionamento do
enfoque do cuidar para o curar (RODRIGUES, ZAGO, 2012).
“Respeito e tato são técnicas
básicas e, no que tange o
relacionamento, acreditamos que
a assistência ao paciente à morte
seja o mais intenso, mais pessoal e
mais íntimo tipo de encontro entre
dois seres humanos”.
(Boemer)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
91
Ao fim deste estudo, foi possível alcançar o objetivo proposto, ou seja, investigar a
experiência dos familiares de cuidar de crianças e adolescentes com câncer em cuidados
paliativos, particularmente nos cuidados ao final da vida.
A abordagem metodológica utilizada permitiu a busca e a compreensão, a partir de
depoimentos de mães, avós e tias, das vivências dos familiares na complexidade dos cuidados
à criança e ao adolescente com câncer durante o processo de adoecimento, agravamento da
doença e cuidados ao final da vida. Nesse processo, emergiram, dos dados empíricos, três
temas, os quais tornaram possível a reflexão a respeito das necessidades dos familiares no
cuidado da criança e do adolescente com câncer em cuidados paliativos.
Os familiares, ao relatarem suas experiências, destacaram o impacto na dinâmica
familiar decorrente do agravamento da doença. Esse processo está ligado à família desde o
momento do diagnóstico inicial de câncer, ocasionando mudanças em sua rotina, requerendo
uma reorganização familiar centrada no cuidado.
O agravamento do câncer, com possibilidade de morte da criança e do adolescente, foi
percebido pelos familiares principalmente por meio dos sinais e sintomas físicos, recidiva da
doença e mudanças no tratamento, por parte da equipe de saúde e do hospital. Esse contexto
traz, para os membros familiares, primeiramente a negação da morte, gradualmente
modificada para sua aceitação ao se depararem com o sofrimento progressivo do seu filho,
neto e sobrinho, mas mesmo nesta situação mantendo a esperança da cura, fortalecida pelas
crenças religiosas e espirituais.
As necessidades de cuidado da criança e do adolescente com câncer progridem ao
longo do agravamento da doença e aproximação da morte. Este estudo observou que os
principais sintomas físicos da criança e do adolescente em cuidados paliativos foram a dor,
seguida da anorexia, além das necessidades psicológicas como a presença da família, o que
exige, em especial da mãe, enquanto principal cuidadora, dedicação integral direcionada às
necessidades do seu filho.
Ao conceber as necessidades das crianças e dos adolescentes em cuidados paliativos e
de suas famílias, a equipe de saúde deve estar focada em uma assistência planejada e baseada
em ações direcionadas às esferas físicas e emocionais, aos valores culturais, éticos e
religiosos, e nos recursos humanos e materiais disponíveis. É ainda imprescindível ressaltar
que esse planejamento assistencial estará delineado por um objetivo central, a qualidade de
vida e, portanto, com foco no conforto e bem-estar biopsicossocial; compartilhado e realizado
em conjunto com a criança, o adolescente e sua família, respeitando seus desejos e opiniões.
92
A família está envolvida diretamente no cuidado da criança e do adolescente com
câncer, especialmente na fase final da vida, momento em que a doação incondicional,
principalmente da mãe ao filho doente, progride frente a sensação de perda já latente, gerando
aumento de sua sobrecarga biopsicossocial. Assim, os relatos mostraram que não apenas a
criança e o adolescente apresentam necessidades, mas a família, enquanto cuidadora precisa
de apoio social, financeiro e material. Neste estudo, a necessidade de apoio social e rede
social emergiu claramente nos depoimentos dos familiares cuidadores, desde o diagnóstico do
câncer até a fase de luto, tendo sido suprida por familiares, amigos, pela igreja, pela fé e
crença religiosa e espiritual.
Para tornar possível a participação do paciente e da família nos cuidados ao final da
vida, é preciso que possam construir vínculos de confiança com a equipe de saúde, conhecer e
compreender a incurabilidade do câncer, neste caso, na criança e no adolescente e sua
inserção em cuidados paliativos. Esse processo é conduzido por meio da comunicação de más
notícias entre a equipe de saúde, o paciente e sua família; no entanto, essa comunicação,
quando existente, mostrou-se ineficaz, com informações indiretas, confusas e ambíguas,
conforme evidenciado neste estudo.
Desse modo, consideramos fundamental a comunicação de más notícias à criança, ao
adolescente e à sua família no tempo certo, de forma honesta, com objetividade e clareza, por
pessoa significante, com empatia, solidariedade, acesso à equipe de saúde e disponibilidade de
apoio, pois os mesmos reconhecem o agravamento da doença e proximidade da morte; só
assim será possível sua inclusão, de forma ativa, no cuidado. Entretanto, alguns depoimentos
maternos assinalaram que a comunicação de más notícias não deveria ser realizada na
presença de crianças e do adolescente na tentativa de poupá-los de mais sofrimento; as mães
consideraram que os mesmos não entenderiam o processo de morte e morrer face à sua pouca
idade.
A vivência da família diante dos cuidados paliativos foi marcada pelo
desconhecimento da inserção da criança e adolescente nessa forma de cuidado e por não saber
seu significado e/ou entendê-la apenas superficialmente, houve pouca participação nas
decisões sobre os cuidados. A expressão "não ter mais o que fazer" aflige os familiares que a
compreendem como verídica, contradizendo, fundamentalmente, a filosofia de cuidados
paliativos. Cabe mencionar novamente os aspectos relacionados à comunicação adequada
entre a equipe de saúde, o paciente e a família e, nesse sentido, tornam-se essenciais o
conhecimento e a capacitação da equipe de saúde direcionados aos cuidados paliativos, seus
princípios e finalidades na área da oncologia pediátrica.
93
Ao se deparar com a ameaça da morte, a família se vê despreparada para compreender
esse processo, vivenciando muito sofrimento. A fé e a crença religiosa e espiritual a ajudam
no lidar com o fim da vida e com a morte da criança e do adolescente com câncer,
amparando-a e fazendo-a crer que Deus é sábio e soberano e trará a cura e/ou fará o melhor
para todos. Nesse contexto, os depoimentos também evidenciaram que a presença da equipe
de saúde no momento da morte foi considerada benéfica à família, compartilhando o
sofrimento vivido e possibilitando sentimentos de compaixão.
O cuidado paliativo em oncologia pediátrica apresenta outra questão relevante para
este estudo quando destaca, entre suas características, o cuidado domiciliar. O local de morte
dividiu-se, nos relatos das mães, avós e tia, entre a vontade da família, da criança e do
adolescente retornarem para casa e vivenciarem juntos o processo de morte e morrer, e a
necessidade, segundo os familiares, de morrer no ambiente hospitalar devido aos recursos
humanos e materiais ali disponíveis. Muitas vezes, os familiares, mesmo desejando que a
morte ocorresse no domicílio, sentiram-se despreparados e desamparados para assumir a
responsabilidade do cuidado, o que favoreceu sua ocorrência no contexto hospitalar.
Entretanto, as internações trazem consigo a existência de procedimentos invasivos,
traumáticos à criança, ao adolescente e à sua família, os quais são, muitas vezes, considerados
desnecessários ao final da vida.
Diante desse conjunto, foi possível conhecer as ações e estratégias da família e seu
contexto enquanto cuidadora da criança e do adolescente com câncer, particularmente nos
cuidados ao final da vida, reforçadas pela necessidade de cuidado individual,
multiprofissional e interdisciplinar, com objetivo de qualificar o cuidado à luz dos
fundamentos dos cuidados paliativos, baseado na qualidade do processo de morte e de luto da
criança, adolescente e sua família.
É necessário destacar que este estudo apresenta limites, determinados pelos critérios
de inclusão, relacionados aos participantes. Foi necessário ampliar o período de coleta de
dados, inicialmente de um ano, para mais seis meses, em razão do reduzido número de
participantes no período previamente estabelecido. Também é importante ressaltar que a
entrevista realizada no domicílio, quando esse estava localizado em outros estados, tornou-se
inviável em virtude da grande distância e limites financeiros.
Entendemos que estudos futuros direcionados à assistência à criança e ao adolescente
em cuidados paliativos, processo de morte e morrer e luto são essenciais para disseminar a
filosofia dos cuidados paliativos, a qual segue em ascensão, sobretudo para capacitar
profissionais que atuam nessa área e formar futuros profissionais de saúde.
"Ainda há muito a fazer."
(Cecily Saunders)
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APÊNDICES
105
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa: A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos: uma
análise da experiência de cuidar pela família
Pesquisador Responsável: Meu nome é Mariana Vendrami Parra, sou Enfermeira
(COREN/SP: 218080) e aluna de mestrado do Programa de Pós Graduação Enfermagem em
Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e
gostaria de convidá-los(as) a participar de uma pesquisa que será realizada com famílias
atendidas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (HCFMRP/USP). A minha orientadora é a Profa. Regina
Aparecida Garcia de Lima, enfermeira (COREN-SP nº 13469), professora do Departamento
de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo.
O objetivo deste trabalho é conhecer a experiência dos familiares no cuidado de crianças e
adolescentes com câncer durante os cuidados ao final da vida. Para tanto vamos conversar
(entrevista) sobre como foi o momento em que percebeu o agravamento da doença, como
identificou esse agravamento, como a equipe de saúde colaborou nesta fase, quais as
necessidades durante o cuidado, quem colaborou com você, quando você percebeu a chegada
da morte e como a morte foi vivida por você e sua família.
O tempo da conversa será determinado por você. Precisaremos nos encontrar algumas vezes,
com dia e hora marcados em sua residência ou local de preferência. Também precisarei
coletar alguns dados no prontuário no HCFMRP/USP sobre a doença e o tratamento. Nossas
conversas serão mantidas em segredo e serão utilizadas somente para essa pesquisa. Seu nome
verdadeiro e o da criança ou adolescente não aparecerão e se você não quiser responder
algumas questões poderá não respondê-las. Se você concordar, nossas conversas serão
gravadas para que eu não esqueça nada do que foi dito e, depois, passadas para o papel, sendo
que você poderá ler, se quiser.
Quando terminarmos este trabalho, o resultado deverá ser apresentado em encontros
científicos e divulgado em revistas científicas. Com os resultados esperamos ajudar a equipe
de saúde a cuidar melhor de crianças e adolescentes com câncer na fase final da vida e de suas
famílias. A qualquer momento poderá deixar de participar da pesquisa.
106
Riscos e desconfortos: Falar sobre a nossa própria história, principalmente quando envolve a
morte, pode causar dor e sofrimento, trazer sentimentos de recordação e tristeza, por isso, ao
sentir-se desconfortável, você tem a liberdade de não falar mais sobre o assunto e nada irá
acontecer a você e a sua família.Caso sinta necessidade de atendimento, por favor, nos
informe, pois, poderá ser feito o agendamento para participar do grupo de familiares enlutados
ou mesmo ter atendimento individual no serviço de psicologia do Grupo de Apoio à Criança
com Câncer, GACC, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
Benefícios: Não há benefícios diretos para você e sua família, mas as informações que você
nos der poderão ajudar a equipe de saúde a melhorar o atendimento nessa fase tão difícil e
dolorosa, tanto para a criança e adolescente quanto para sua família.
Despesas e indenização: Não haverá qualquer custo para sua família por estar participando
deste trabalho e não haverá nenhum pagamento pela participação de vocês.
Este termo será entregue em duas vias e uma ficará com o senhor/senhora.Caso você queira se
comunicar conosco ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da EERP/USP os endereços e
telefones são:Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP, Avenida Bandeirantes nº 3900,
fone (16) 3602-0542 - Profa. Regina Lima
Mariana Vendrami Parra Sanches
Mestranda da EERP/USP
Após ter conhecimento sobre como colaborar com esta pesquisa, concordo com a
participação.
Eu, _____________________________________________ aceito participar da entrevista do
projeto de pesquisa “A criança e o adolescente com câncer em cuidados paliativos: uma
análise da experiência de cuidar pela família.”. Estou ciente que a entrevista será gravada, as
informações serão mantidas em segredo e, caso decida não mais participar, em qualquer
momento tenho a liberdade de retirar o consentimento. Recebi uma cópia deste documento e
tive a oportunidade de discuti-lo com a interessada.
Nome do responsável:_________________________________________________________
Assinatura do responsável:_____________________________________________________
Data: _____/_____/_________ Ribeirão Preto/SP
107
APÊNDICE B
INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS I: análise de prontuários
DADOS PESSOAIS
Dados da(o) Criança/Adolescente
DADOS CLÍNICOS
Data de início do acompanhamento do câncer no HCFMRP/USP:______________________
Diagnóstico: ______________________________Data do diagnóstico: _________________
Terapêutica:_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Tempo de terapêutica (anos/meses/dias):__________________________________________
Intercorrências:______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Ingresso nos Cuidados Paliativos: ( ) Não ( ) Sim - Data:_______________________
Causa mortis:_____________________________Data do óbito:_______________________
Local do óbito:______________________________________________________________
Outras informações: __________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Iniciais: _____________________________ Sexo: _______________________________
Data de Nascimento: __________________ Procedência: __________________________
Escolaridade: ________________________ Telefones:____________________________
Endereço: ___________________________ _____________________________________
108
APÊNDICE C
INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS II: entrevista
DADOS PESSOAIS
Dados do(a) Cuidador(a)
QUESTÕES NORTEADORAS PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Data da entrevista:___/___/____ Início (hr): _____________ Término (hr): __________
1. Fale-me sobre sua experiência de cuidar de seu filho(a) durante a doença.
2. Me conte sobre como você percebeu o agravamento da doença de seu filho(a).
3. Quando percebeu o agravamento da doença houve uma conversa entre você e a equipe
de saúde? Como foi esta conversa?
4. Você conversou com a sua família e a criança/adolescente sobre o agravamento da
doença? Como foi esta conversa?
5. Me conte como foi que vocês se organizaram para cuidar de seu filho(a) durante a fase
de agravamento da doença.
6. Quais são/foram suas necessidades diante desse processo?
7. Em sua opinião, suas necessidades foram identificadas? Como foram atendidas pela
equipe de saúde?
Iniciais:_________________________________ Sexo: ____________________________
Data de Nascimento: ______________________ Estado civil:_______________________
Escolaridade: _______________________________________________________________
Profissão/ocupação: ______________________ Local de trabalho: __________________
No de filhos: ____________________________ Tipo de parentesco: _________________
Religião: ___________________________________________________________________
109
APÊNDICE D
GENOGRAMA E ECOMAPA FAMÍLIA 1
110
LEGENDAS DO GENOGRAMA E ECOMAPA
Símbolo Genograma
Legenda de relacionamento familiar
Legenda de relacionamento emocional
l
Legenda das ligações do ecomapa
Relação muito forte, intensa e positiva
Relação forte e positiva
Relação fraca e positiva
Relação forte e menos positiva
Relação fraca e menos positiva
Aborto Gêmeos Masculino
Relação temporária
Relação casual e separados
Relação casual
Vivendo juntos e separados sem
relação sentimental
Caso de amor
Vivendo juntos sem relação sentimental
Vivendo juntos e separados
Vivendo juntos
Comprometimento
Vivendo Juntos legalmente e
separados
Vivendo juntos legalmente
e separados de fato
Vivendo Juntos legalmente
Anulado
Noivos e vivendo separados
Noivos e vivendo juntos
Noivos
Divorciado
Separação Legalmente
Separação de Fato
Casamento
?Feminino Caso
Índice Gravidez
Gêmeos Idênticos Filho de
Criação FalecimentoFilho
Adotivo
Inveja Destruído
Ciumento
Negligência (abuso)
Hostil e fundido
Fundido??
Admirador
Controlador
Manipulador Abuso
Abuso psicológico
Abuso emocional
Abuso sexual
Violência fechada
Violência distante
Violência
Fundido e desconfiança
Fechado e desconfiança
Distante e desconfiança
Desconfiança
Amando
Amor
Amizade
Próximo
Ódio
Indiferente
Distante
Relações cortadas
Harmonia
Sexo Desconhecido
Animal
ANEXOS
112
ANEXO A
REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS ESQUEMÁTICAS DOS INSTRUMENTOS:
Genograma e Ecomapa
Modelo de Genograma e Ecomapa
Genograma
1960
joão
46
1971
Maria
35
1969
Maria
37
2000
Pedro
6
1998
Mariana
1995
Joaquim
11
1926 - 1982
Joaquim
56 1930
Rosa
76
1960
José
46
1970
Laura
36
1965 - 1988
Luciana
23
1924
Augusto
82
1968
Cristina
38
1975
Carlos
32
1926 - 1988
MariaAparecida
62
Legenda:
Homem Mulher Irmãos Casamento
Morte Caso Índice Relação conflituosa
Porém próxima
Relação afetuosa Relação de muita amizade
Relação com amor Inveja
113
Ecomapa
1969
Maria
37
2000
Pedro
6
1998
Mariana
1995
Joaquim
11
Legendas: Quanto mais forte a linha, mais intensa a relação.
Se a linha é inteiriça, relação positiva; linha falha, menos positiva.
Trabalho do Pai
Igreja
Clube
Amigos
Família materna
Amigos
114
ANEXO B