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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES ALIMENTARES SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO DE
CARCAÇA EM BOVINOS NELORE CONFINADOS
GUILHERME SILVA FIRMINO
Brasília, DF
Julho/2011
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES ALIMENTARES SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO DE
CARCAÇA EM BOVINOS NELORE CONFINADOS
GUILHERME SILVA FIRMINO
Orientador: PROF. Dr. ITIBERÊ SALDANHA SILVA
Trabalho de conclusão de curso de graduação
apresentado à Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da Universidade de Brasília, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Engenheiro Agrônomo.
Brasília, DF
Julho/2011
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FICHA CATALOGRÁFICA
Firmino, Guilherme Silva.
“INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES ALIMENTARES SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO DE CARCAÇA EM
BOVINOS NELORE CONFINADOS”/ Guilherme Silva Firmino; Itiberê Saldanha Silva. –
Brasília 2011 - X p.: il.
Monografia de Graduação (G) – Universidade de Brasília / Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária, 2011.
Cessão de direitos
Nome do Autor: GUILHERME SILVA FIRMINO
Título da Monografia de Conclusão de Curso: INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES
ALIMENTARES SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO
DE CARCAÇA EM BOVINOS NELORE CONFINADOS.
Grau: 3o Ano: 2011
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta monografia de
graduação e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva-se a outros direitos de publicação e nenhuma parte desta
monografia de graduação pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.
GUILHERME SILVA FIRMINO.
CPF: 020.566.441-50.
Condomínio Estância Jardim Botânico, conj.D casa 11-B, Lago Sul.
CEP: 71680-390 Brasília-DF, Brasil.
Telefones (61) 9152.1852 / (61) 3427.3152
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES ALIMENTARES SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO DE
CARCAÇA EM BOVINOS NELORE CONFINADOS.
GUILHERME SILVA FIRMINO
Matrícula – 06/85453
Monografia de graduação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para
obtenção de grau de Engenheiro Agrônomo.
APROVADA EM BRASÍLIA, 14 DE JULHO DE 2011 POR:
______________________________________
ITIBERÊ SALDANHA SILVA (ORIENTADOR)
Dr. em Ciência Animal e Pastagens (USP) e Professor da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da UnB
______________________________________
SERGIO LÚCIO SALOMON CABRAL FILHO (EXAMINADOR INTERNO)
Dr. em Ciências (USP) e Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da
UnB
_______________________________________
RODRIGO VIDAL OLIVEIRA (EXAMINADOR INTERNO)
Dr. em Produção Animal (UNESP, Jaboticabal) e Professor da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da UnB
v
Dedico este trabalho, principalmente a Deus, à minha família e a
todos os meus amigos presentes na minha vida.
OBRIGADO!!
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Agradecimentos
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, porque sem Ele nada seria possível.
Aos meus pais, Márcio Luiz Firmino e Ana Lúcia Silva de Paulo Firmino, por todos
esses anos de educação, amor, carinho, sabedoria e dedicação. Sou eternamente grato a Deus
por Ele ter escolhido vocês para serem meus pais e por me ensinarem princípios e valores
para o meu crescimento como pessoa. Amo muito vocês.
À minha namorada, Cristal Peter do Nascimento Magalhães, por me ajudar e estar
presente em todos os momentos de dificuldade no decorrer da minha graduação sempre se
mostrando companheira e sábia para me ajudar tomar decisões em momentos importantes
sempre com muito amor e carinho. Eu te amo muito!
À minha avó, Marta Silva Moreira, por tudo de maravilhoso que ela fez por mim no
decorrer da minha vida e por me ensinar valores de vida que levarei para o resto da minha
vida. Que Deus te abençoe e guarde em toda sua vida. Amo muito você.
Agradeço em especial ao Professor Dr. Fabiano Alvim Barbosa, pela oportunidade
concedida de trabalhar ao seu lado, pelos tempos de ensinamento dedicados aos alunos
envolvidos neste projeto, pelos diversos momentos de alegria e diversão na sua estadia em
Brasília e pela confiança depositada. Muito obrigado!
Aos meus amigos, Tibério Costa Conte Neto e Hugo Vilela, por estarem comigo
sempre, proporcionando momentos de alegria e diversão. Obrigado!
Ao meu orientador, Professor Dr. Itiberê Saldanha Silva, pela confiança a mim
depositada, por todos os ensinamentos.
Ao Professor Dr. Sergio Lúcio Salomon Cabral Filho, pela participação na banca de
monografia e por toda a ajuda prestada durante a realização deste projeto.
Agradeço ao Professor Dr. Rodrigo Vidal Oliveira, pela participação nesta banca e
pela ajuda prestada para elaboração deste projeto.
Ao diretor da Fazenda Água Limpa – FAL - UnB, Professor Dr. José Mauro da Silva
Diogo, pelo espaço cedido para a realização do projeto, pela participação nesse projeto e pela
confiança depositada.
Agradeço à Matsuda pela ajuda financeira para realização neste projeto de pesquisa e
a pela confiança depositada, sem a qual não seria possível sua realização.
vii
Agradeço a todos os funcionários da FAL, em especial Miltão, Lulinha, Jean e
Valdemar, pela prontidão e bom humor.
Aos alunos: Camila Eufrásio, Camila Fernandes Lobo, Daniel Barcelos Ferreira
Gustavo Carneiro, Jean Felipe Brandt e Juliano Villela, pelas ajudas grandiosas neste
trabalho, pela confiança adquirida e pela amizade feita durante esse processo. Muito
obrigado!
Ao Professor Luiz Antônio Borgo, por abrir as portas do Laboratório de Alimentos,
por toda a ajuda prestada na realização das análises e pela confiança a mim dada. Agradeço
também aos amigos Márcio Antônio Mendonça e Andréia Alves Rosa Campos pela ajuda e
por todos os momentos divertidos no Laboratório de Alimentos.
Agradeço aos colegas do curso de Agronomia pelos anos de amizade e por todo
conhecimento adquirido e compartilhado, os quais nunca serão esquecidos.
viii
"O Senhor é meu pastor e nada me faltará."
Salmos 23:1 – Bíblia Sagrada
ix
SUMÁRIO
Página
RESUMO..........................................................................................................................xiii
ABSTRACT........................................................................................................................xii
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................14
2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................16
2.1. Confinamento.............................................................................................................16
2.2. Alimentação de bovinos em confinamento.................................................................17
2.2.1 Relação concentrado:volumoso..................................................................................18
2.2.2 Rendimento de carcaça e espessura de gordura..........................................................19
2.2.3 Consumo.....................................................................................................................20
3. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................22
3.1. Local e período experimental...........................................................................................22
3.2. Tratamento e delineamento experimental........................................................................23
3.3. Determinação do consumo médio...................................................................................25
3.4. Animais experimentais e procedimento de pesagem.......................................................25
3.5. Determinação do rendimento de carcaça quente.............................................................26
3.6. Amostras e análises laboratoriais.....................................................................................27
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................28
5. CONCLUSÃO..................................................................................................................32
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................33
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Área do confinamento utilizado no experimento ...................................................22
Figura 2. Ração correspondente ao tratamento 85:15..............................................................24
Figura 3. Ração misturada e homogeneizada correspondente ao tratamento 70:30 ................24
Figura 4. Animais utilizados no confinamento.........................................................................26
Figura 5. Carcaças armazenadas na câmara fria.......................................................................27
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Proporção dos ingredientes nas raçõesna base da matéria seca................................23
Tabela 2. Composição das raçõesna base da matéria seca........................................................23
Tabela 3.Valores médios de peso vivo inicial (PVI), peso final (PF), ganho médio diário
(GMD),rendimento de carcaça quente (RCQ), consumo da ração (kg/cabeça/dia) .................31
xii
INFLUÊNCIA DE DOIS REGIMES ALIMENTARES SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E RENDIMENTO DE
CARCAÇA EM BOVINOS NELORE CONFINADOS
Autor: GUILHERME SILVA FIRMINO
Orientador: Prof. Dr. ITIBERÊ SALDANHA SILVA
RESUMO
Objetivou-se com o presente trabalho foi avaliar os efeitos de dois regimes alimentares
em bovinos Nelore confinados entre os meses de agosto e novembro de 2010. Foram
utilizados 30 novilhos inteiros da raça Nelore, com 22 meses de idade, com média de peso
vivo inicial (PVI) de 350,25 kg, os quais foram divididos em dois tratamentos: CONF 1, ração
(ad libitum) composta de 30% de volumoso (silagem de milho) e 70% de concentrado (milho,
farelo de girassol, casca de soja, uréia e minerais) e CONF 2, ração (ad libitum) composta de
15% de volumoso (silagem de milho) e 85% de concentrado (milho, farelo de girassol, casca
de soja, uréia e minerais). A ração teve 49,88% de MS, 13,63% de proteína base MS para o
CONF 1; já o tratamento, CONF 2, teve uma ração com 67,05% de MS, 13,54% de proteína
base MS. O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado com dois
tratamentos. Foi usado o teste de Duncan com 5% de significância para a análise estatística
referente ao desempenho e ao rendimento de carcaça dos animais. Os bovinos Nelore
apresentaram um peso vivo final de 444,67 e 441.77 para os tratamentos CONF 1 e CONF 2,
respectivamente. Não houve diferença estatística do ganho médio diário (GMD) e do
rendimento de carcaça (RC) entre os tratamentos CONF 1 e CONF 2, sendo o GMD de 1,16 e
1,04 kg/cab/dia para o CONF 1 e CONF 2, respectivamente (P>0,05). O RC foi de 57,26 e
57,04%, para CONF 1 e CONF 2, respectivamente (P>0,05). O desempenho e o rendimento
de carcaça dos bovinos Nelore foram semelhantes nos dois regimes alimentares avaliados.
Palavras-chave: Ganho médio diário, Bos Indicus, casca de soja
xiii
PRODUTCTIVE PERFORMANCE DURING FATTENING PHASE OF
NELORE FED DIETS WITH TWO CONCENTRATE LEVELS
Author: GUILHERME SILVA FIRMINO
Adviser: Prof. Dr. ITIBERÊ SALDANHA SILVA
ABSTRACT
The experiment evaluated the performance of feedlot cattle divided into two
experimental groups and submitted to two diets during 90 days. The herd consisted of 30 bulls
aged 22 months, with an initial average body weight (IBW) of 350.25 kg, which were divided
into two groups of 15 animals per treatment. The experimental groups were: DIE70 -
concentrate (corn grain, sunflower meal, soybean hulls, urea and mineral) and corn silage at a
ratio of 70:30 on dry matter and DIE85 - concentrate (corn grain, sunflower meal, soybean
hulls, urea and mineral) and corn silage in proportion of 85:15 on a DM basis. The experiment
was conducted in a completely randomized design with two treatments and 15 replicated (n =
30). The average initial body weight (IBW), final body weight (FBW), average daily gain
(ADG) and hot carcass yield (HCY) were compared by Duncan test with significance level of
P < 0.05. There was no statistical difference (P> 0.05) between IBW with averages of 344.86
kg and 351.61 kg and also between the FBW, 444.66 kg and 441.77 kg for the treatments
DIE70 and DIE85 respectively. The ADG and HCY among treatments DIE70 and DIE85 did
not differ; the values were 1.16 kg for DIE70 and 1.04 kg for DIE85, and 57.26% for DIE70
and 57.04% for DIE85. In this study, the 85% concentrate diet did not improve animal
performance compared with diets containing 70% of concentrate.
Keywords: Average daily gain, Bos Indicus, soybean hulls.
14
1. INTRODUÇÃO
Na conjuntura mundial da pecuária de corte, o Brasil ocupa a primeira posição no quesito
exportação mundial de carne bovina, possuindo o maior rebanho comercial do mundo. No ano de
2008, o crescimento nas exportações agropecuárias brasileiras consolidou a liderança do país
como principal fornecedor de produtos alimentares para o bloco europeu. Tendo em vista essa
situação, novas técnicas são necessárias para que o Brasil produza animais de qualidade, uma vez
que mercados importadores pagam principalmente pela qualidade do produto adquirido. Assim
sendo, as características de carcaça, como peso, rendimento e acabamento se tornam de suma
importância por serem determinantes do preço obtido pela venda das carcaças (Missio et al.,
2010). Ainda segundo os autores supracitados, com a intensificação da atividade pecuária,
principalmente visando à redução da idade de abate, a prática de confinamento, associada a altos
teores de concentrado na ração, é cada vez mais utilizada no Brasil.
A prática de terminação de bovinos em sistema de confinamento é uma alternativa segura
quando se deseja atingir determinados índices produtivos, por permitir melhor controle da ração e
monitoramento da resposta animal; além disso, o uso de alimentação conservada, praticamente,
elimina os contratempos causados por adversidades climáticas e permitia utilização de
subprodutos da indústria (Costa et al., 2002). Essa prática para aumentar a produtividade do
sistema, é utilizada na maioria das vezes, na época da seca, que é um período de grande limitação
das pastagens, no qual ocorrem reduções nas concentrações de energia, vitaminas, minerais e,
principalmente, de proteína (Carvalho et al., 2003). Silveira (2007) citou ainda que a baixa
qualidade da forragem, associada à queda na disponibilidade de matéria seca, faz com que o
bovino tenha que pastejar por mais tempo até obter as qualidades de nutrientes necessárias à sua
mantença. Esse comportamento interfere negativamente no seu desempenho produtivo, e para que
esse quadro não ocorra, o uso de concentrado é necessário para que haja redução da idade dos
bovinos ao abate, proporcionando assim viabilidade ao sistema.
Silva et al. (2002) também ressaltaram que o uso de concentrado na ração de bovinos de
corte em confinamento tem sido empregado como uma forma de melhorar o desempenho dos
animais, concomitante à redução no tempo de abate, o que pode proporcionar maior eficiência de
15
produção do sistema como um todo. Em função do seu nível de oferta de concentrado utilizado,
alterações no consumo, na digestibilidade dos nutrientes e nos parâmetros de desempenho podem
ocorrer. Os mesmos autores citaram ainda que, apesar do uso de concentrado na ração ser ótimo
para o desempenho dos animais, resultados obtidos pela pesquisa agropecuária brasileira em
relação ao efeito de níveis de concentrado sobre o desempenho, o consumo e a digestibilidade dos
nutrientes se mostram variáveis, e podem ser verificados efeitos positivos, negativos ou nulos.
Como a alimentação é responsável por grande parte dos custos de produção nos sistemas
de confinamento (Pacheco et al., 2006), a condução criteriosa dos programas de alimentação
exige respaldo de estudos que busquem conhecer, com maior precisão, as interações e os impactos
produzidos pelo emprego de alto nível de concentrado na alimentação de bovinos. Portanto, o
estudo de diferentes proporções de concentrado nas rações é fundamental, pois permite
determinar seu nível ótimo, para que se obtenha o melhor desenvolvimento animal aliado à
melhor resposta econômica (Costa et al., 2005), além de proporcionar, uma carcaça de qualidade
e com adequado nível de acabamento.
Portanto, objetivou-se com o presente trabalho é avaliar o ganho em peso e o rendimento
de carcaça quente durante a fase de engorda de bovinos Nelore inteiros em confinamento com
dois níveis de concentrado.
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Confinamento
O processo de globalização da economia tem causado grandes mudanças em diversos
setores do agronegócio. A produção de gado de corte no Brasil tem sido desafiada para
estabelecer sistemas de produção que sejam capazes de produzir, de forma eficiente, carne de
boa qualidade a baixo preço. Além disso, esses sistemas têm de ser competitivos, sustentáveis
e capazes de produzir animais para abate com menos de 42 meses de idade que é a média
nacional (Euclides et al., 2001).
O aumento da competitividade com outras carnes bem como com outros mercados e a
possibilidade de o Brasil se consolidar no mercado mundial de carne bovina têm requerido da
atividade de pecuária de corte a oferta de produto de qualidade de maneira contínua durante o
ano. Nesse sentido, verifica-se que o processo de intensificação pelo qual vem passando a
pecuária de corte brasileira tem resultado, entre outros, no aumento da prática de
confinamentos como alternativa de terminação de animais (Euclides Filho et al., 2003).
O confinamento pode ser visto como estratégia para o pecuarista ganhar em escala no
seu sistema de produção e obter qualidade em seus produtos (Burgi, 2001); ainda segundo
esse autor, características como: adiantamentos de receitas e a aceleração do giro do capital, a
redução da lotação das pastagens durante a seca, o aumento da escala de produção e da
produtividade da propriedade e o abate de animais mais jovens, são pontos favoráveis e
extremamente relevantes para a implantação de um sistema de confinamento.
Outro fator de grande importância é a qualidade e disponibilidade de forragem na
época da seca, período em que há grande favorecimento para um baixo desempenho dos
animais. A baixa qualidade da forragem associada à queda na disponibilidade de matéria seca,
principalmente nos períodos secos do ano, faz com que o bovino tenha que pastejar por mais
tempo até obter as quantidades de nutrientes necessários à sua mantença, comportamento esse
que interfere negativamente no seu desempenho produtivo (Silveira, 2007). Segundo,
Euclides et al., (2001), a estacionalidade da produção de forragem tem sido apontada como
uma das principais responsáveis pelos baixos índices de produtividade da nossa pecuária,
proporcionando um excesso de produção no período das águas e escassez na seca. Assim,
considerando-se sistemas de produção em que se buscam índices elevados de eficiência,
17
torna-se essencial eliminar as fases negativas de crescimento, proporcionando condições ao
animal para se desenvolver normalmente.
Há poucos anos, a atividade de confinamento de bovinos no Brasil tinha como
principal justificativa o aproveitamento do diferencial de preços do boi gordo, entre a safra e a
entressafra (Faturi et al, 2003). Segundo Burgi (2001), além de abater um bovino mais novo,
com acabamento adequado, ou de aproveitar subprodutos na sua alimentação, a motivação
dos confinadores era o abate dos bovinos na entressafra e o recebimento de um valor da
arroba, pelo menos 30% mais alto do que o praticado na safra; porém este diferencial de
entressafra vem sendo reduzido com práticas de melhoramento forrageiro, técnicas de
suplementação, pastagens cultivadas e confinamento (ANUALPEC, 2000). Como
conseqüência, técnicos e produtores foram obrigados a produzir com mais eficiência
econômica no confinamento (Faturi et al., 2003), uma vez que, o confinamento, por ser uma
tecnologia que requer altos investimentos, especialmente em alimentação, demanda o uso de
animais eficientes na transformação do alimento consumido em carne (Euclides Filho et al.,
2003).
2.2. Alimentação de bovinos em confinamento
Na terminação de bovinos de corte em confinamento, a alimentação é o componente
mais expressivo, pois supera 70% do custo de produção total, quando desconsiderado o valor
de compra do animal (Pacheco et al., 2006). Assim, a busca por maior lucratividade deve
enfocar principalmente o concentrado da ração, fração mais onerosa que o volumoso (Restle,
2007). Algumas alternativas viáveis seriam a produção de volumoso de qualidade,
representada pela maior participação de grãos na massa ensilada, e/ou a aquisição estratégica
dos ingredientes do concentrado, aproveitando preços favoráveis de acordo com a época do
ano e com a região (Vaz et al., 2000).
Como a alimentação é responsável por grande parte dos custos de produção nos
sistemas de confinamentos, a condução criteriosa dos programas de alimentação exige o
respaldo de estudos que busquem conhecer, com maior precisão, as interações e os impactos
produzidos pelo emprego do concentrado na alimentação de bovinos. Portanto, o estudo de
diferentes proporções de concentrado nas rações é fundamental, pois permite determinar seu
nível ótimo, para que se obtenha o melhor desempenho animal aliado à melhor resposta
econômica (Costa et al., 2005).
18
2.2.1. Relação volumoso: concentrado
Na produção de animais precoce, a preocupação é otimizar e viabilizar o desempenho
(técnico e econômico) desses animais por meio do consumo de nutrientes, que pode ser
manipulado pela relação volumoso:concentrado da ração. Contudo, pesquisas com essa
categoria animal, e mesmo aquelas com animais de outras categorias, com avaliação do
desempenho e da economicidade de diferentes proporções de concentrado na ração, são
escassas, embora, para o produtor, o aspecto econômico seja o principal fator para
determinação da qualidade de concentrado a ser utilizada (Missio et al., 2009).
No Brasil, rações para confinamento tradicionalmente são balanceadas com altas
proporções de concentrado para animais jovens, os quais apresentam boas respostas a esse
tipo de alimentação. Tal ração tem sido utilizada com o objetivo de intensificar o sistema de
produção, pois permite o abate de animais jovens com acabamento de gordura adequado, sem
prejuízos a qualidade da carne (Leme et al., 2002). A diminuição da idade de abate está
relacionada ao aumento do ganho de peso vivo médio diário com o incremento de
concentrado na ração (Missio et al., 2010).
Ração à base de milho em grão e com elevada proporção de concentrado proporciona
aproximadamente 40% a mais de ganho de peso e 50% a mais de ganho de peso em carcaça
quando comparado àquelas com baixo nível de concentrado (Leme et al., 200). Segundo Fox
et al. (1992), rações com alta proporção de concentrado, quando o nível de energia consumida
é alto, promovem aumento na taxa de ganho e na concentração de gordura nos tecidos
depositados.
Com a intensificação da atividade pecuária, principalmente visando à redução da idade
de abate, a prática de confinamento, associada a altos teores de concentrado na ração, é cada
vez mais utilizada no Brasil (ANUALPEC, 2006). Nesse sentido, algumas pesquisas têm
sugerido que o aumento de concentrado na ração melhora o rendimento de carcaça (Silva et
al., 2002), o acabamento (Costa et al., 2005), a conformação (Vaz et al., 2005), a composição
física (Gesualdi Jr. et al., 2000) e o rendimento dos cortes comerciais da carcaça (Ribeiro et
al., 2001). Em estudos para características da carne, Vaz et al., (2005) verificaram melhora na
maciez com o aumento de concentrado na ração.
19
2.2.2. Rendimento de carcaça e espessura de gordura
As características da carcaça de bovinos de corte vêm ganhando cada vez mais
importância no cenário nacional, principalmente em função do aumento nas exportações e da
crescente exigência do mercado internacional. Mercados importadores exigem músculos com
peso elevado, uniforme e de qualidade. Com isso, o grupo genético escolhido na utilização da
prática do confinamento se torna ainda mais importante, uma vez que há diferenças marcantes
nas carcaças de diferentes genótipos (Menezes et al., 2005)
O rendimento de carne na carcaça depende do seu conteúdo de músculo estriado e da
sua relação com a ossatura e gordura. De acordo com as curvas de crescimento alométrico, o
esqueleto se desenvolve mais cedo, seguido pela musculatura e, finalmente, pelo tecido
adiposo. Desta maneira, a proporção de músculo na carcaça aumenta com incremento de peso
do animal durante o período antes do acúmulo rápido de gordura, para depois diminuir na fase
de terminação. A forma destas curvas, e as proporções dos componentes da carcaça, variam
de acordo com o genótipo, o sexo, o estado hormonal, e a alimentação, com conseqüência
para o rendimento de carne na carcaça (Sainz & Araujo, 2002).
Uma técnica que tem sido bastante utilizada para a avaliação dos requisitos citados
acima é a da ultra-sonografia. Segundo Silveira (1999), esta técnica é uma alternativa para
predição in vivo das características da carcaça, principalmente no sistema de produção do
novilho precoce, quando se exige o máximo de sua eficiência de crescimento. O
monitoramento de características como área de olho-de-lombo (AOL) e espessura da camada
de gordura subcutânea (ECG), além de auxiliar na escolha dos animais para o abate, fornece
informações úteis para incorporação em modelos de crescimento e seleção animal.
Quando falamos em espessura de gordura e deposição de gordura na carcaça, sempre é
gerada uma discussão sobre castrar ou não os animais utilizados para a prática da
bovinocultura de corte. Quanto às características de carcaça, maiores pesos de abate de
carcaça quente e de carcaça fria para novilhos inteiros em relação aos castrados são relatados
nos estudos de Euclides Filho et al., (2001), quando submetidos aos sistemas mais intensivos,
como, por exemplo, o uso do confinamento.
A menor deposição de gordura na carcaça de animais inteiros é amplamente divulgada
na literatura. No entanto, esta menor espessura de gordura somente é importante quando
estiver abaixo do mínimo de 3 mm, exigido pelos frigoríficos. A terminação em confinamento
20
aparentemente resolve o problema, pelo menos em animais de grupos genéticos com
precocidade para deposição de gordura. Se for necessária a castração, quer pela exigência
especifica de algum mercado ou mesmo para aumentar a deposição de gordura, o interessante
é retardar a sua realização, visando aproveitar ao máximo a ação anabolizantes dos hormônios
andrógenos sobre o desenvolvimento dos animais (Freitas et al., 2008).
2.2.3. Consumo
A ingestão voluntária é determinante para o balanceamento de rações e para o
estabelecimento de estratégias de alimentação que permitam maior desempenho de bovinos
(Van Soest, 1994; NRC, 1996).
Segundo Mertens (1994) e Sniffen et al. (1993), existem vários fatores envolvidos no
controle da ingestão de alimentos em bovinos: o psicogênico, que envolve a resposta animal a
fatores inibidores ou estimuladores relacionados ao alimento e ao ambiente; o fisiológico, no
qual o controle é feito pelo balanço nutricional da ração, relacionando à manutenção do
equilíbrio energético; e o físico, associado à capacidade de distensão do rúmen e ao teor de
FDN da ração.
A digestibilidade da forragem determina o desaparecimento de nutrientes no rúmen.
Em rações com taxas de digestão dos nutrientes acima de 60% de digestibilidade aparente
total, há menor resíduo ruminal e rápida renovação de material no rúmen; forragens de melhor
qualidade atingem rapidamente os pontos finais de digestão, minimizando a limitação de
consumo pelo “enchimento’’ (Paterson et al., 1994).
Conforme descrito por Dove (1996), quando o animal consome forragens de baixa
qualidade, além do limite físico do rúmen, o consumo pode ser limitado pela deficiência em
proteína da ração. Cardoso et al. (2000) destacaram ainda que em rações desbalanceadas, com
baixa disponibilidade de compostos nitrogenados (N) e ricas em FDN, suprimento de proteína
degradada no rúmen (PDR) é limitante para o crescimento microbiano, a digestão da parede
celular fica comprometida e a ingestão de alimentos é reduzida.
Ainda segundo os autores supracitados, os pontos críticos para se estimar consumo são
as limitações relativas entre os animais, o alimento fornecido e as condições de alimentação.
Basicamente, em rações formuladas com elevado teor de fibra, ou baixa densidade energética
em relação às exigências, o consumo será limitado pelo efeito de “enchimento” do rúmen-
retículo. Se a densidade energética for elevada, ou a concentração de fibra for baixa em
21
relação às exigências, a ingestão passa a ser limitada pela demanda fisiológica de energia. A
correlação existente entre ingestão de FDN, ruminação e salivação é indispensável para
manter a atividade ruminal e o consumo de alimentos (VAN SOEST & MERTENS, 1984;
MERTENS, 1988; MERTENS, 1994).
O consumo e a digestibilidade de nutrientes podem estar correlacionados entre si,
dependendo da qualidade da ração. Para rações de alta digestibilidade (acima de 66%), ricas
em concentrados (acima de 75%) e com baixo teor de FDN (abaixo de 25%), o consumo será
menor quanto mais digestivo for o alimento e, em rações de baixa qualidade (acima de 75%
de FDN), o consumo será maior quanto melhor for a digestibilidade do alimento (VAN
SOEST, 1994; MERTENS, 1994).
Berchielli (1994) avaliou rações variando a relação volumoso e concentrado (80:20,
60:40 e 40:60), utilizando feno de capim-coastcross e verificou que os consumos expressos
em g/kg0,75
foram superiores nas rações com 40 e 60% de concentrado, sendo que 80% de
volumoso limitou o consumo e a autora atribuiu esta observação ao efeito do “enchimento”
do rúmem.
22
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Local e instalações
O experimento foi realizado na Fazenda Água Limpa que pertence à Fundação
Universidade de Brasília. A fazenda está localizada no Distrito Federal, cujas coordenadas
geográficas são: 15º55’12.55’’ latitude sul e 47º55’12.55’’ latitude oeste. A altitude é de
aproximadamente 1.000 metros e o clima é tipo tropical, caracterizado por apresentar chuvas
de verão e o inverno relativamente frio e seco.
O período experimental foi entre os meses de julho e novembro de 2010, com duração
de 114 dias. Foram utilizados 30 animais machos inteiros da raça Nelore, mantidos em currais
coletivos de confinamento e separados em dois tratamentos. Os currais possuíam comedouro e
bebedouro de concreto, com área total de 200 m2, dos quais 24 m
2 eram coberta com telhas
galvanizadas (Figura 1).
Figura 1- Área do confinamento utilizado no experimento
3.2. Tratamento e delineamento experimental
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com dois
tratamentos e 15 repetições (n=30). Os grupos experimentais foram: DIE 70 – ração
concentrada (grão de milho, farelo de girassol, casca de soja, uréia e suplemento mineral) e
23
silagem de milho na proporção de 70:30 na matéria seca (MS) e DIE 85 – ração concentrada
(grão de milho, farelo de girassol, casca de soja, uréia e suplemento mineral) e silagem de
milho na proporção de 85:15 na matéria seca.
Tabela 1. Proporção dos ingredientes no concentrado base matéria seca
DIE 85 DIE 70
Milho grão (%)
47,1
61,8
Casca de soja (%)
41,3
18,5
Uréia (%)
1,2
1,3
Farelo de girassol (%)
7,2
14,7
Calcário (%)
0,7
0,9
Top beef matsuda (%) 2,5 2,8
As duas rações foram ofertadas três vezes ao dia por volta das 8:00, 11:00 e 16:00,
com cerca de 60% da quantidade total da ração fornecida pela manhã e 40% restante no
período da tarde. A quantidade fornecida de ambas as rações ofertadas foram ajustadas
diariamente de forma a permitir sobras em torno de 5-10% do ofertado. Os valores em
porcentagem da proporção e da composição das rações fornecidas para os animais
confinados podem ser vistos nas tabelas 1 e 2, respectivamente.
Tabela 2. Composição percentual das raçõesna base da matéria seca
DIE 85 DIE 70
Matéria seca total
67,05
49,88
Proteína bruta
13,54
13,63
Fósforo
13,54
13,63
Fibra detergente neutro 38,14
28,41
Fibra detergente ácido 33,63
30,02
NDT
78,00
76,00
Cinzas 5,87 5,48
24
Figura 2- Ração correspondente ao tratamento 85:15
Figura 3- Ração misturada e homogeneizada correspondente ao tratamento 70:30
25
3.3 Determinação do consumo médio
Os animais foram mantidos em áreas coletivas formando um total de dois lotes,
sendo realizada a anotação diária da quantidade de alimentos fornecidos a cada lote. Como os
tratos eram ajustados para proporcionar uma sobra de 5-10% foi realizada também a coleta e
pesagem das sobras antes do primeiro trato de cada dia. Assim com todas as informações das
quantidades fornecidas diariamente e das sobras, que só eram observadas no dia seguinte, e do
período de confinamento, foi possível determinar a ingestão média de matéria seca de cada
lote que foi calculado pelo total de alimento fornecido subtraído das sobras, divido pela
quantidade de bovinos do tratamento. Com isso foi possível determinar o consumo médio de
matéria seca.
3.4 Animais experimentais e procedimento de pesagem
Os animais iniciaram o experimento com 22 meses de idade média e passaram por
um período de adaptação de 14 dias. Logo após esse período, todos os animais constituintes
do experimento foram pesados após jejum de 16 horas de sólidos e líquidos para obtenção do
peso em jejum. No dia anterior a pesagem não era realizado o último trato do dia sendo que
às 16 horas era retirada toda a alimentação existente no cocho e esgotado a água dos
bebedores. As pesagens foram realizadas ao fim de cada período experimental de 28 dias
utilizando uma balança eletrônica, antes do primeiro trato do dia.
A partir da soma dos pesos individuais dos animais de cada lote dividido pelo
número de animais, determinou-se o peso médio. O peso vivo médio inicial foi obtido na
primeira pesagem após o período de adaptação e da mesma forma o peso vivo final foi obtido
na ultima pesagem, previamente ao abate dos animais
Com a diferença entre o peso vivo final e peso vivo inicial dividido pelos números de
dias do confinamento determinou-se o ganho médio diário de cada tratamento. A partir da
divisão do consumo médio de matéria seca dividido pelo ganho médio diário obteve-se a
conversão alimentar média de cada tratamento.
26
Figura 4- Animais experimentais utilizados no confinamento
3.5 Determinação do rendimento de carcaça quente
Ao término do período de avaliação do desempenho, que teve duração de 114 dias
experimentais, os animais foram abatidos em frigorífico comercial, de acordo com
procedimentos humanitários, conforme exigido pela legislação brasileira. Após o mesmo, foi
obtido o peso da carcaça quente e em seguida as carcaças foram identificadas, divididas em
duas metades e resfriadas em câmara fria entre 0-2°C por 24 horas.
O rendimento de carcaça foi calculado através do somatório das duas meias carcaças
quentes, divido pelo peso vivo final e multiplicado por 100
27
Figura 5. Carcaças armazenadas na câmara fria
3.6 Amostras e análises laboratoriais.
Amostras das rações experimentais e das sobras foram coletadas periodicamente,
pesadas, amostradas e acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados e
posteriormente foram submetidas à secagem em estufa de ventilação forçada a 65oC por 72
horas, e em seguida moídas em moinho com peneira de malha de 1 mm. Depois de moídas, as
amostras de sobras e da ração de cada tratamento, foram proporcionalmente pesadas e
homogeneizadas. A partir desse procedimento, foi possível realizar as análises bromatológicas
desejadas.
As amostras das rações e das sobras foram analisadas de acordo com as metodologias
citadas por Silva e Queiroz (2002) quanto ao seu teor de matéria seca total (MS), proteína
bruta (PB), cinzas ou material mineral (MM), fósforo (P), fibra em detergente neutro (FDN) e
fibra em detergente ácido (FDA). As analises foram realizadas no Laboratório de Análises de
Nutrição da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília (UnB).
28
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores de peso vivo inicial (PVI), peso final (PF), ganho médio diário (GMD),
rendimento de carcaça quente (RCQ) e consumo da ração estão representados na Tabela 3. Os
níveis de ração concentrada na ração não influenciaram (P>0,05) o peso final e o rendimento
de carcaça quente (RCQ). A não observância de resultados significativos pode ter ocorrido
devido ao fato das rações possuírem valores percentuais de concentrado em relação à matéria
seca (70 e 85%) muito próximas e, conseqüentemente, as mesmas apresentaram valores
similares quanto aos teores de proteína bruta e nutrientes digestíveis totais (Tabela 2).
O RCQ obtido foi similar ao encontrado por Silva et al. (2002), ao avaliarem o
desempenho e características de carcaça de novilhos nelore inteiros recebendo ração contendo
80% de concentrado. Os autores supracitados relataram ainda que o fornecimento de altos
níveis de concentrado na ração (80%) pode aumentar o rendimento de carcaça, pois o peso do
conteúdo do trato gastrintestinal é reduzido com o aumento dos níveis de concentrado na
ração. No entanto, Restle et al. (2001) afirmam que quando são utilizados volumosos com alta
taxa de passagem não são encontradas diferenças no rendimento de carcaça entre animais
alimentados com diferentes níveis de concentrado. Segundo Restle et al. (2000), o rendimento
de carcaça também é influenciado pelo número de horas de jejum a que os animais são
submetidos, pelo tipo de ração e pelo grupo genético, entre outros.
Restle et al. (2000) trabalharam com novilhos Charolês x Nelore, de diferentes
composições e encontraram rendimento de carcaça inferior ao presente trabalho, sendo que
esses autores encontraram um rendimento médio de 56% para animais inteiros e 55,9% para
animais castrados. Já Obeid et al. (2006), trabalhando com animais zebuínos de 24 meses de
idade, encontraram rendimento de carcaça inferior a 53%. Esses resultados superiores de
rendimento de carcaça encontrados nesse trabalho podem ter sido ocasionados pela genética
dos animais ou mesmo pelas características das rações.
De acordo com Oliveira et al. (2009), o fornecimento de rações com maiores
proporções de concentrado para animais jovens é interessante, pois permite abate precoce e
obtenção de carcaças com acabamento adequado. Esses autores relataram que é possível
29
produzir animais Nelore, alimentados com rações compostas por níveis acima de 70% de
concentrado e obter carcaças com cobertura de gordura acima de 8 mm.
Tabela 3. Valores médios de peso vivo inicial (PVI), peso final (PF), ganho médio diário
(GMD), rendimento de carcaça quente (RCQ), consumo da matéria seca (CMS) e coeficiente
de variação (CV).
CONF85 CONF 70 CV(%)
PVI (Kg) 351,61 344,86 10,73
PF (Kg) 441,77 444,66 8,86
GMD (Kg/cabeça/dia) 1,04 1,16 16,28
RCQ (%) 57,04 57,26 2,03
CMS (Kg/cabeça/dia) 9,64 8,69
Médias com letras iguais, na mesma linha, não diferem entre si estatisticamente pelo Teste de Duncan (P<0.05).
Os animais apresentaram uma boa espessura de gordura na carcaça variando de 3mm a
4mm. Em trabalho realizado por Freitas et al. (2008) apresentaram resultados semelhantes,
ficando acima do limite mínimo de 3mm, indicando que é possível obter grau de acabamento
satisfatórios quando os mesmos são submetidos a condições nutricionais favoráveis, pela
terminação em confinamento .
A menor deposição de gordura na carcaça de animais inteiros é amplamente divulgada
na literatura. No entanto, esta menor espessura de gordura somente é importante quando
estiver abaixo do mínino de 3mm, exigido pelos frigoríficos. A terminação em confinamento
aparentemente resolve o problema, pelo menos em animais de grupos genéticos com
precocidade para deposição de gordura (Freitas et al., 2008).
O consumo diário da matéria seca (MS) e o ganho de peso médio diário não foram
influenciados (P>0,05) pelos tratamentos, sendo que os consumos de matéria seca para os
tratamentos DIE70 e DIE85 foram de 8,69 e 9,64 Kg/cabeça/dia, respectivamente (Tabela 3).
Segundo Itavo et al. (2002), quando a densidade da ração for alta, ou seja, baixa
concentração de fibras em relação ás exigências do animal, o consumo será limitado pela
demanda energética do animal e o animal poderá deixar de ingerir alimentos, mesmo que o
rúmen não esteja repleto, caso a ração tenha baixa densidade energética, o consumo poderá
ser limitado pelo enchimento do rúmen.
30
Gill et al. (1981) observaram que o nível de volumoso e de grãos nos tratamentos não
influenciou no ganho de peso vivo, porém esses autores afirmaram que a participação do
volumoso é importante nas rações para aumentar a taxa de ruminação, sendo que a forma de
processamento e o tamanho das partículas dos grãos são de extrema importância para
determinar a melhor proporção de volumoso na ração.
Turgeon et al. (1983) avaliaram diferentes formas físicas de milho e diferentes
proporções de volumoso nas rações e observaram que não houve influencia do nível de
volumoso no ganho de peso diário, no entanto esses autores observaram maior ganho de peso
diário nos tratamentos em que o milho foi usado moído ou quebrado quando comparado aos
tratamentos exclusivos de grãos e isso foi justificado pelos autores devido à maior quantidade
de amido digerido no rúmen, uma vez que o milho inteiro pode limitar a fermentação
bacteriana.
Nesse sentido, poderia se esperar um melhor desempenho dos animais no tratamento
silo com ração em função do uso do milho moído na composição do concentrado, quando
comparado ao tratamento grano entero.
Kreikemeier et al. (1990) encontraram maiores ganhos de pesos nos tratamentos na
faixa de 5 a 10 por cento de volumoso na matéria seca, sendo que os ganhos proporcionados
pela adição de 15% foram menores que os observados nessa faixa, no entanto superior ao
tratamento exclusivo de concentrado. Considerando a tendência de redução de ganhos
observados por esses autores com aumento da proporção de volumoso, poderia esperar
melhores resultados no tratamento 85:15 base matéria seca. No entanto essa tendência não foi
confirmada uma vez que não houve diferença significativa entre os tratamentos.
O ganho médio diário (GMD) para os animais que foram submetidos ao tratamento
DIE70 foi de 1,16 Kg/cabeça e os animais submetidos ao tratamento DIE85 foi de 1,04
Kg/cabeça.
No trabalho desenvolvido por Putrino et al. (2006), foram avaliados os níveis de 20,
40, 60 e 80% de concentrado em rações com silagem de milho para engorda de bovinos
Nelore e Brangus. Os autores observaram efeito quadrático no ganho de peso dos animais,
com ponto máximo no nível de 60%. No mesmo trabalho, os animais que consumiram a ração
com 40% de concentrado e 64% de NDT, apresentaram ganho de 1,22 kg/dia, superior ao
observado neste trabalho. Nesse caso, o resultado pode estar associado à utilização da silagem
de milho (com 35% de grãos) na composição da ração.
31
Em revisão realizada por Restle et al. (2004), por apresentar alto conteúdo de FDN, a
casca de soja foi estudada como opção para substituição da fração volumosa da ração de
bovinos de corte. No entanto, resultados confirmando a elevada digestibilidade da FDN
presente na casca de soja, a alta produção de AGVs, devido à excelente fermentabilidade
desta fração e os benefícios sobre a digestão da fibra da ração total e o pH ruminal induzem a
estudos da utilização da casca como substituto dos grãos de cereais na fração concentrada da
ração. Portanto, a ausência de ganhos superiores para o tratamento contendo 85% de
concentrado, observado no presente trabalho, pode ter ocorrido devido a essas características
da casca de soja anteriormente citados, não proporcionarem um adequado fornecimento de
fibras aos animais visando à maximização da atividade ruminal.
Restle et al. (2004) ressaltaram ainda que quando se utilizam altos níveis de
concentrado, onde a importância relativa da energia proveniente do volumoso é baixa, a
melhora nas condições ruminais para digestão da fibra proporcionada pela utilização da casca
de soja não deve superar o menor aporte energético proporcionado pela casca em relação aos
grãos de cereais, reduzindo, assim, a eficiência alimentar.
32
5. CONCLUSÃO
Os dois níveis de concentrado utilizados nas rações proporcionaram ganhos médios
diários de pesos e rendimentos de carcaças quentes semelhantes, sugerindo que pode ser
adotado o fornecimento de ração 70:30 para bovinos Nelore inteiros, submetidos ao sistema
de terminação em confinamento.
33
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