Post on 10-Aug-2020
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
KARINA DO SOCORRO DA CUNHA JAQUES
ORIENTADORA: Profª. Maria Esther
Rio de Janeiro, 2017
DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Karina do Socorro da Cunha Jaques Rio de Janeiro, 2017
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, dono de toda honra, poder e glória! Aos meus pais, pelo exemplo, amor e dedicação; aos autores, pela luta por uma educação inclusiva e revolucionária!
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais, José e Fátima, meus primeiros educadores, que assumiram o grande papel de educar um ser humano, e dele nunca se evadiram!
5
RESUMO
A evasão na educação superior a distância é uma questão de
grande relevância e exige um olhar atento e urgente por parte de todos os
envolvidos no processo de expansão do ensino superior no Brasil,
implementado pelo MEC.
Se a educação superior a distância representa uma alternativa de
educação inclusiva e revolucionária, que atinge alunos das mais diversas
idades e classes sociais e econômicas, residentes nos mais diversos pontos do
país e do mundo, a evasão representa um obstáculo que impede este
movimento revolucionário.
Identificar as causas que provocam o fenômeno da evasão na
educação a distância, categorizando-as como intrínsecas e extrínsecas ao
modelo a distância. Analisar os aspectos demográficos do público discente e as
variáveis aplicadas em cada cenário é preocupação atual.
Propor e implementar soluções e analisar seus resultados
representam a quebra dos entraves que impedem uma evolução maior e o
êxito da política de expansão da educação superior no Brasil. Medidas mais
que urgentes que devem ser aplicadas.
Sobre o tema, o presente trabalho pretende traças linhas claras, mas
iniciais, já que o problema é atual e as causas e soluções ainda estão sendo
identificadas.
6
METODOLOGIA
A metodologia aplicada no presente estudo foi eminentemente de
pesquisa bibliográfica: livros, artigos, e principalmente dados estatísticos
coletados do Censo EAD.BR 2015 (ABED – Associação Brasileira de
Educação a Distância).
Os dados estatísticos coletados no Censo serviram de referência
para a verificação das causas que provocam a evasão da educação superior a
distância e também para a busca das soluções. A partir dos dados estíticos foi
feita a pesquisa bibliográfica sobre o tema.
7
Sumário
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 12
A evasão na Educação Superior a distância
CAPÍTULO II 21
A evasão como fator crítico na Educação a distância no Brasil: a identificação
das causas
CAPÍTULO III 29
A evasão na Educação a distância no Brasil e a busca pelas soluções
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 41
8
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a política de expansão do ensino superior,
implementada pelo MEC, incorporou a Educação a Distância como uma
ferramenta essencial, alcançando um público muito maior e mais diversificado,
que não havia sido atingido pela educação superior presencial. Importante
ressaltar que a Educação a distância não é um modelo recente na educação
mundial, incluindo o Brasil, o que é nova é a sua utilização como modelo
indispensável para a expansão da educação superior brasileira.
No âmbito da educação em geral, incluindo cursos livres, a educação a
distância evoluiu conforme as tecnologias e políticas públicas e privadas
disponíveis em cada época. Os cursos por correspondência, com ênfase no
foco profissionalizante são exemplos bem conhecidos de educação a distância
no Brasil e no mundo, com os primeiros registros históricos datados no século
XVIII, posteriormente tais cursos por correspondência se especializaram e
gradativamente foram assimilados pelas novas mídias, como rádio, televisão,
fitas de áudio e vídeo, até o nascimento das chamadas TVs educativas.
No Brasil, o Sistema da Universidade Aberta do Brasil, política pública
bem mais recente, datada de 2005, promovida pelo governo federal junto com
as Instituições Públicas de Ensino Superior com objetivo de oferecer cursos de
graduação e pós-graduação no modelo de educação a distância, alcançou um
universo significativo de estudantes pelo interior do Brasil. Até que a educação
a distância foi incorporada pelas tecnologias da internet e se tornou Ead online,
com as novas ferramentas de videoaula, fóruns de discussão, tutorias, aulas ao
vivo, teleconferência, entre outros.
O ensino superior a distância, como modelo relevante para a expansão
da educação superior no Brasil tem sua previsão legal no art. 80 da Lei 9.394
de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação - que dispõe que o Poder
Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino
a distância, em todos os níveis, o que inclui o ensino superior, e modalidades
de ensino, e de educação continuada. Regulamentando a referida Lei, estão os
Decretos 5.622/2005; 5.773/2006; 6.303/2007 e diversas Portarias Ministeriais.
9
A educação a distância apresenta vários aspectos positivos que a torna
inclusiva, sendo acessível tanto ao discente que mora em regiões distantes dos
grandes centros urbanos, quanto ao que já está no mercado de trabalho, mas
não dispõe de tempo para se qualificar em uma graduação presencial.
Disponibilidade de acesso de qualquer ponto do território brasileiro e até no
exterior (uma parcela significativa dos alunos matriculados no ensino superior a
distância no Brasil são estrangeiros, principalmente de países que falam a
língua portuguesa); baixo custo de investimento se comparada a educação
superior presencial; flexibilidade de horários; linguagem acessível são algumas
das vantagens que a nova modalidade apresenta para a formação superior no
Brasil.
Importante destacar que não há um modelo único de ensino superior a
distância, sendo que cada projeto pedagógico pode apresentar uma
configuração diferente, utilizando as diversas ferramentas do EaD, com seus
múltiplos recursos pedagógicos e tecnológicos, e claro, obedecendo as
exigências da legislação.
Indispensável em qualquer Projeto Pedagógico de Ensino Superior a
distância é a inclusão de etapas presenciais obrigatórias, estágios
supervisionados, tutorias que proporcionem ao estudante oportunidade de
interagir, de desenvolver projetos de forma compartilhada, de quebrar o
isolamento do ensino a distância. Desta forma o estudante assimila as
diferentes culturas, enriquece seu conhecimento, recebe o estímulo natural da
convivência humana, e evolui não apenas no campo técnico-científico, mas
também na formação humanística e cidadã.
Contudo, já se identificam alguns problemas na implementação da
educação superior a distância, entre eles, destacamos a evasão, que segundo
o Censo EAD.BR 2015 (ABED – Associação Brasileira de Educação a
Distância) chega a atingir 50% em alguns cursos regulamentados. Tal
percentual demonstra a urgente necessidade de identificação dos fatores que
levam a evasão e que prejudicam o rendimento dos cursos e o aproveitamento
máximo do aluno.
A falta de tempo, a não adaptação com a nova modalidade, a falta de
habilidade de uso dos equipamentos tecnológicos, a pouca interatividade física
10
entre os discentes e docentes, a falta de vigilância sobre a presença do
estudante, uma apresentação não atrativa do curso a distância talvez sejam
fatores relevantes a serem analisados para que soluções sejam planejadas e
aplicadas.
O êxito da política de expansão do ensino superior no Brasil, e especial
o ensino superior a distância depende da identificação e correção destas
questões. Sem a urgente identificação e aplicação de soluções para corrigir
essa alarmante estatística, todos os programas de acessibilidade do ensino
superior às populações do Brasil ficarão prejudicados. A relevância do
problema torna prioridade o estudo e levantamento das hipóteses que
desencadeiam a evasão no ensino superior a distância, e a proposta de
solução a serem aplicadas em busca de resultados positivos.
No presente estudo faremos uma breve análise das questões
suscitadas, abordando inicialmente a questão da evasão como fator crítico da
EaD no Brasil, e percepção que os estudiosos do assunto têm sobre o tema.
Em seguida apontaremos as possíveis causas que a provocam, destacando
alguns fatores que desencadeiam a evasão do ensino superior a distância, com
base em dados estatísticos, especialmente aqueles levantados pela ABED –
Associação Brasileira de Educação a Distância. Por fim, apresentaremos as
possíveis soluções, com base em estudos e dados já verificados na realidade
educacional brasileira, com ênfase na EaD.
Apontar os reais problemas que propiciam os altos índices de evasão na
EaD e identificar as soluções é um exercício de grande importância que cabe
às IES, ao MEC e a todos os envolvidos neste processo de democratização do
ensino superior no Brasil, sob pena de não atingirmos os objetivos da política
educacional do governo federal.
Destacamos que não se trata de facilitar o processo de
acompanhamento dos cursos e obtenção dos diplomas, mas de facilitar o
processo de aprendizagem, sem, contudo perder a qualidade da educação,
que apenas está sendo ministrada em outro ambiente, e utilizando tecnologias
predominantemente não presenciais. Mas a essência de educação qualificada
e formação completa, científica, técnica e humanística do estudante deve ser
mantida como diretriz em qualquer modalidade de formação acadêmica. A
11
Educação é o fundamento, a distância é apenas o modo como ela se
apresenta. E aperfeiçoar a modalidade de ensino a distância é contribuir para a
evolução educacional no Brasil.
12
CAPÍTULO I
A EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
A evasão na educação superior a distância, segundo o Censo EAD.BR
2015 (ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância), vem se
acentuando cada vez mais, atingindo índices alarmantes que chegam 50% em
alguns cursos regulamentados.
Tal percentual demonstra a urgente necessidade de identificação dos
fatores que levam a evasão e que prejudicam o rendimento dos cursos e o
aproveitamento máximo do aluno.
A falta de tempo, a não adaptação com a nova modalidade, a falta de
habilidade de uso dos equipamentos tecnológicos, a pouca interatividade física
entre os discentes e docentes, a falta de vigilância sobre a presença do
estudante, uma apresentação não atrativa do curso a distância talvez sejam
fatores relevantes a serem analisados para que soluções sejam planejadas e
aplicadas.
O êxito da política de expansão do ensino superior no Brasil, e
especialmente o ensino superior a distância depende da identificação e
correção destas questões. Sem a urgente identificação e aplicação de soluções
para corrigir essa alarmante estatística, todos os programas de acessibilidade
do ensino superior às populações do Brasil ficarão prejudicados. A relevância
do problema torna prioridade o estudo e levantamento das hipóteses que
desencadeiam a evasão no ensino superior a distância, e a proposta de
solução a serem aplicadas em busca de resultados positivos.
A abordagem do tema exige que tenhamos bem claras duas definições,
então façamos duas perguntas: O que é educação a distância? O que é
evasão?
Para a primeira pergunta temos algumas considerações. Primeiramente
a definição apresentada pelo Ministério da Educação e Cultural
(www.portal.mec.gov.br): Educação a distância é a modalidade educacional na
qual, alunos e professores estão separados física ou temporalmente e, por
13
isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e
comunicação. Essa modalidade é regulada por uma legislação específica e
pode ser implantada na educação básica (educação de jovens e adultos,
educação profissional técnica de nível médio) e na educação superior.
Definir educação a distância não é tão fácil como inicialmente possa
parecer, há várias nomenclaturas: educação a distância, ensino a distância,
aprendizagem a distância, aprendizagem aberta, estudo independente,
aprendizagem flexível, estudo por correspondência, estudo residencial (home
study), estudos externos.
José Moran (Informe CEAD - Centro de Educação a Distância. SENAI,
Rio de Janeiro, 1994, p. 3) nos ensina que no termo "ensino a distância", a
ênfase é dada ao papel do professor (como alguém que ensina a distância) e o
termo “educação a distância” é mais abrangente, alcançando também o olhar
para o aluno.
Keegan (KEEGAN, 1996, p. 34) nos chama a atenção para a existência
da diversidade de terminologias e ressalta que nem todas são sinônimas:
muitas delas foram utilizadas em diferentes épocas do seu processo evolutivo,
e outras são utilizadas especificamente em alguns países. No entanto,
esclarece que o termo educação a distância é um termo genérico que inclui a
gama de estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas por diferentes
instituições que utilizam essa modalidade de educação, o que englobaria todas
as demais terminologias apresentadas. Nesse sentido, Keegan utiliza o termo
educação a distância para unir dois elementos desse campo da educação: o
ensino a distância e a aprendizagem a distância (idem, p. 38).
Belloni, ao abordar a educação a distância, conclui que defini-la é dar
ênfase ao que ela não é, ou seja, a partir da perspectiva do ensino
convencional da sala de aula (BELLONI, 2015). Ela argumenta que diversos
autores definem a educação a distância pela separação física entre professor e
aluno no processo educacional.
Keegan (1996, p. 38-9) rebate a ideia de Belloni quanto à distância, pois
não a considera, como a distância entre professor e aluno, necessariamente
geográfica, uma vez que muitos alunos que buscam essa modalidade de
educação não estão longe das instituições de ensino. Na concepção do autor,
14
a separação professor-aluno se dá no afastamento entre o ato de ensinar e o
ato de aprender, que para esse autor representam dois sistemas operantes da
educação a distância: o subsistema de desenvolvimento de curso (ensino a
distância) e o subsistema de suporte ao aluno (aprendizagem a distância).
Sob essa ótica, muitos autores passaram a investigar a distância entre
ensino e aprendizagem e a conceituar a educação a distância dando este
enfoque. Um exemplo é a definição de Levine na qual a educação a distância é
“o processo de ajudar pessoas a aprender quando elas estão separadas
espacial ou temporalmente dos ambientes mais típicos de aprendizagem „ao
vivo‟ nos quais a maioria de nós foi educada” (LEVINE, 2005, p. 7).
Surge também entre os estudiosos o termo “aproximação virtual, cujos
autores expressivos estão Vianney, Torres & Farias (2003, p. 47) que
enfatizam o papel das tecnologias de informação e comunicação (TIC‟s) no
conceito de educação a distância, uma vez que a partir do uso dos sistemas
em rede, em particular dos ambientes virtuais de aprendizagem, que passaram
a integrar professores e alunos em tempo real, a noção de distância entre
professor e alunos modifica-se a partir do conceito de interatividade e de
“aproximação virtual”.
Tori (TORI, 2017) alerta que o termo educação a distância está mais
perto do problema do que da solução, alegando que as expressões
antagônicas “presencial” e “a distância” carregam deficiências conceituais. Na
educação presencial não há garantia de proximidade entre educador e aluno e
na educação a distância pode haver a necessária aproximação virtual. Ele
sugere o uso do termo educação sem distância (título da sua obra) ou
simplesmente educação, para a abertura de espaços de integração das várias
formas de aproximação disponíveis, tanto no espaço real quanto no espaço
virtual.
Por fim, e não menos importante, temos a definição legal da educação a
distância, dada pelo art. 1º do Decreto nº 9.057 de 25 de maio de 2017, que
regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, vejamos:
Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
15
processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com
políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre
outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da
educação que estejam em lugares e tempos diversos.
Para responder a segunda indagação “O que é evasão?”, podemos
afirmar que é o ato de o aluno abandonar os estudos após iniciar as atividades
escolares, e nesta definição também enquadramos a evasão no ensino
superior a distância.
De origem latina „evasione‟, o vocábulo „evasão‟ significa fuga, escape,
retirada, escapada, evasiva, escapatória, desvio, saída, subterfúgio.
Segundo Nascimento e Esper (2009, p. 162), evasão na educação a
distância é “...a desistência do participante em concluir o curso, após o primeiro
acesso ao ambiente virtual de aprendizagem, em um momento qualquer...”
Para Maia, Meirelles e Pela (2004), evasão refere-se à situação de
estudantes que não completam cursos ou programas de estudo, incluindo os
que se matriculam e desistem antes mesmo de iniciar o curso. Segundo os
autores, o êxito em concluir um curso pode ser influenciado pelos seguintes
fatores: uma definição clara do programa, a utilização correta do material
didático, o uso correto de meios apropriados que facilitem a interatividade entre
professores e alunos e entre os alunos e a capacitação dos professores.
Para Favero (2006), evasão é a desistência do aluno em completar o
curso, incluindo aqueles que, após terem se matriculado, não se manifestaram
para os colegas e mediadores do curso, em qualquer momento.
Concordando com a ideia de Favero, Abbad, Carvalho e Zerbini (2006)
afirmam que o aluno evadido é aquele que desiste definitivamente do curso em
qualquer etapa.
Tresman (2002 apud WALTER, 2006) afirma que estudantes que
abandonaram o curso em situações distintas não podem ser tratados sob uma
mesma ótica em termos de evasão. Ele chama atenção para as peculiaridades
da evasão, destacando que precisam ser observadas as diferentes realidades
dos estudantes que não completaram o curso. Há estudantes que se
matricularam, mas não começaram o curso; há os que formalmente
16
abandonaram o curso, após seu início; há os que se evadiram por não
alcançarem os critérios mínimos; há aqueles que mudaram para outra
instituição ou outro curso. Não é possível fazer um estudo sobre a evasão na
educação a distância sem identificar os atores do fenômeno da evasão e as
diferentes realidades em que estão inseridos.
Os principais fatores que desencadeiam a evasão nos cursos a
distância, segundo Coelho (2002), são: a falta da tradicional relação face a face
entre aluno e professor; o insuficiente domínio técnico do uso do computador
por parte do aluno; a dificuldade do aluno em expor ideias em uma
comunicação escrita a distância, inviabilizando a interatividade; e a falta de
agrupamento de pessoas em uma instituição física.
É preciso investigar muito mais os fatores, para afirmarmos com uma
certeza científica, é por isso que o tema vem sendo objeto de estudo e
constantes trabalhos educacionais, na tentativa de levantar todas as hipóteses
causadoras da evasão estudantil, tema que iremos abordar no capítulo
seguinte.
Lobo e Silva Filho (2007, p. 647) afirmam que a evasão estudantil no
ensino superior é um problema internacional que afeta o resultado dos
sistemas educacionais.
Já esclarecidas as questões sobre a definição de educação a distância e
evasão, é importante termos uma visão geral e cronológica da educação a
distância frente ao fenômeno da evasão.
Como já é sabido, a educação a distância não é uma invenção do século
XXI, ela está presente no meio educacional mundial e brasileiro já há algum
tempo, e evoluiu conforme as necessidades do meio acadêmico e profissional
e utilizando as tecnologias disponíveis em cada época.
Quanto ao uso da tecnologia na educação a distância, Michael Moore
(2003, p. 3) nos adverte que muitas vezes o conhecimento que se tem acerca
da educação a distância se limita à referência à tecnologia. E, embora o autor
reconheça a importância da adoção de invenções tecnológicas como uma
característica desse campo, chama a atenção para o fato de que a educação a
distância não pode ser definida somente em termos de tecnologias de
comunicação.
17
Para ele, a emergência de certas tecnologias ocasionaram mudanças na
organização educacional e nas práticas de ensino da educação a distância,
porém mais importante que a tecnologia é a mudança da organização de seres
humanos e outros recursos e a mudança na prática de ensino que é
consequência do uso dessa tecnologia.
Holmberg (1995, p. 47) aponta como o primeiro modelo de educação a
distância o ocorrido nos Estados Unidos em 1728, na cidade de Boston. O
professor Caleb Phillips oferecia um curso de Taquigrafia (técnica para
escrever à mão de forma rápida, usando códigos e abreviações) para alunos
em todo o país, o curso era ministrado através de materiais impressos
enviados semanalmente pelos correios. Este foi o primeiro registro de um curso
a distância.
Em 1833, na Suécia, a universidade da cidade de Lund oferecia um
curso de composição por correspondência. Em 1840, na Inglaterra, começava
um curso também de Taquigrafia de passagens bíblicas.
Na Alemanha, a educação a distância foi introduzida em 1856 com a
organização de uma escola em Berlim para o ensino de línguas por
correspondência; no final do século, a educação a distância era aplicada,
sobretudo no ensino universitário e pré-universitário, além do treinamento
ocupacional.
Holmberg (HOLMBERG, 1995) destaca que a educação a distância por
correspondência se desenvolveu na Europa a partir da primeira metade do
século XIX, para atender a uma necessidade de estudo sistemático combinado
ao trabalho remunerado devido a preocupações sociais com educação e
treinamento dos trabalhadores daquela época, além do pensamento liberal
preocupado com o desenvolvimento da personalidade dos alunos
trabalhadores.
A revolução industrial e o pensamento liberal foram alavancas
importantes para o desenvolvimento da educação a distância. Keegan (1996)
ressalta que o avanço da educação a distância não seria possível sem o
desenvolvimento da tecnologia, principalmente nas áreas de transportes e
comunicação, associada à Revolução Industrial.
18
O século XX é marcado pela maior especialização da educação a
distância. Holmberg (HOLMBERG, 1995).afirma ainda que desde o seu início
até 1970 houve uma expansão regular da educação a distância sem muitas
mudanças radicais, mas com gradual inserção de métodos e mídias mais
sofisticadas, como o uso de gravações de áudio e rádio.
Moore (1973) ressalta que o argumento para o desenvolvimento de
sistemas de educação a distância abrange tanto aspectos econômico-sociais
quanto psicológicos, na busca pela qualificação e especialização para o
mercado de trabalho.
Voltando à questão da tecnologia para a evolução da educação a
distância, observamos que essa modalidade é comumente descrita em termos
de gerações, de acordo com os diferentes meios (formas de comunicação) e
tecnologias (veículos) empregados (RUMBLE, 2000).
A evolução da educação a distância relacionada com o avanço dos
recursos tecnológicos disponíveis na área gerou uma modalidade de
classificação desta evolução em gerações. Rumble (RUMBLE, 2000) nos
explica que a primeira geração é caracterizada pelo uso de material impresso
distribuído aos alunos através de correspondência. Nessa geração, a educação
a distância foi muitas vezes denominada, nos EUA, de “estudo por
correspondência” e “estudo independente”. Já a segunda geração foi
impulsionada pelo uso de meios de comunicação de massa, como o rádio e a
televisão, no final dos anos 1950. E a terceira geração foi marcada pela
combinação dos meios e tecnologias da primeira e da segunda geração, em
uma “abordagem multimídia”, além da introdução da computação nos anos de
1960 e 1970. A quarta geração de EAD foi desenvolvida “em torno das
comunicações mediadas por computador” e gerada no final do século XX com
o desenvolvimento da Internet, permitindo, entre outros, o acesso a banco de
dados e bibliotecas virtuais, videoconferências, comunicação síncrona e
assíncrona, através de chats e e-mails e participação em fóruns de discussão.
Diante desta evolução e da denominação em gerações além da perspectiva de
mais avanços tecnológicos, podemos esperar mais gerações da educação a
distância no futuro.
19
Sob a ótica dos avanços tecnológicos, Levine (LEVINE, 2005) faz uma
séria crítica: apesar de terem possibilitado a evolução da educação a distância
e de muitas vezes nos maravilharmos com a infinidade de recursos e
possibilidades oferecidas pela tecnologia, o aspecto essencial de qualquer
situação de ensino e aprendizagem deve ser o aprendiz, o que, infelizmente,
muitas vezes a preocupação com o uso da tecnologia distorce esse foco,
deslocando para segundo plano o aprendiz e a aprendizagem.
Uma curiosidade sobre a evolução histórica da educação a distância é
que há autores como Azevedo & Quelhas (2004) que apontam a origem da
educação a distância na Antiguidade, argumentando sobre a existência de uma
rede de comunicação a distância a fim de transmitir ensinamentos científicos,
filosóficos e religiosos desde a Antiguidade. Como exemplos, citam os escritos
de Platão enviados a seus alunos sob forma de correspondência e cartas de
Voltaire a seus alunos conhecidas como “Cartas Filosóficas”. Embora com
propósitos e enfoques diferentes dos que reconhecemos hoje, e restrita a um
pequeno número de alunos, não podemos negar que talvez a educação a
distância seja uma modalidade educacional muito mais antiga do que
imaginamos.
No Brasil, a educação a distância destacou-se no ensino
profissionalizante e na educação popular, na primeira metade do século XX.
Vianney (VIANNEY, 2003) destaca as instituições como o Instituto Monitor e o
Instituto Universal Brasileiro que foram responsáveis pela formação profissional
de mais de três milhões de brasileiros até o ano 2000.
Nas áreas de educação popular, Belloni (BELLONI, 2015) destaca vários
programas de iniciativas públicas e privadas como o MEB (Movimento de
Educação de Base), o Projeto Minerva, o Telecurso 1º Grau e o Telecurso
2000. Muitos desses programas visavam à divulgação do conhecimento e à
formação da cidadania através do uso do rádio e da televisão. A educação a
distância assume, assim, valiosa posição na formação do indivíduo e sua
inclusão na sociedade.
Nos anos 90 temos a aprovação da Lei de Diretrizes e Base da
Educação (Lei nº 9.394/96), validando a modalidade educacional chamada
20
“educação a distância” e nivelando-a às já existentes modalidades de
educação presencial.
Vianney (VIANNEY, 2003) destaca que neste mesma década a
popularização da internet combinada com a expansão da política educacional
brasileira em relação ao ensino superior favoreceram a criação de vários polos
de educação superior a distância no país, nos níveis de graduação e pós-
graduação, tanto em instituições de ensino superior público quanto privadas.
Criam-se, a partir do final dos anos 1990, grandes redes e consórcios de
universidades públicas e privadas com a finalidade de ampliação das
oportunidades de formação. Em 2002, por exemplo, surge o CEDERJ
(Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do
Rio de Janeiro), consórcio de seis universidades públicas que oferecem cursos
de licenciatura em diferentes áreas como ciências biológicas e física através da
modalidade semipresencial.
Diante do quadro evolutivo, Belloni (BELLONI, 2015) afirma que a
educação a distância surge nesse quadro de mudanças como mais um modo
regular de oferta de ensino, perdendo seu caráter supletivo, paliativo ou
emergencial, e assumindo funções de crescente importância, principalmente no
ensino pós-secundário, seja na formação inicial (ensino superior regular), seja
na formação continuada, cuja demanda tende a crescer de modo exponencial,
em virtude da obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento.
Como vimos a educação superior a distância é modalidade
relativamente recente na cronologia evolutiva mundial e brasileira, e juntamente
com ela os fatores que desencadeiam o fenômeno da evasão na educação
superior a distância, e justamente por este motivo faz-se importante o
levantamento e estudo das causas que desencadeiam a evasão e busca das
soluções para o problema que vem se tornando crítico, o que faremos nos
capítulos seguintes.
21
CAPÍTULO II
A EVASÃO COMO FATOR CRÍTICO NA EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA NO BRASIL: A IDENTIFICAÇÃO DAS
CAUSAS
Como vimos, a evasão é a desistência definitiva do estudante em
qualquer etapa do curso, sendo ela um fator crítico frequente em cursos a
distância, conforme dados estatísticos e estudos, principalmente o Censo EAD
BR 2015, da Associação Brasileira de Educação a Distância.
A evasão é um fenômeno que não pode ser ignorado, pois afeta não
somente o aluno evadido, mas também as instituições, no caso em estudo, as
instituições de ensino superior, públicas e privadas. O êxito dos cursos
superiores a distância no Brasil pode ser e é frequentemente afetado pelos
altos índices de evasão.
Vários fatores podem ser apontados como desencadeadores da evasão
na educação superior a distância, e a análise atenciosa desses fatores pode
produzir ações preventivas na redução do fenômeno da evasão. Vejamos
alguns deles:
O grande fator responsável pela evasão nos cursos regulamentados,
não somente na educação superior totalmente a distância, é a falta de tempo,
com uma média de grau de concordância de 2,72, seguido de questões
financeiras (2,55) e falta de adaptação à modalidade (2,25), segundo dados do
Censo EAD.BR 2015 (ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância)
É falta de tempo, ou melhor, a falta de organização no tempo
disponibilizado para a dedicação ao estudo que mais contribui para a evasão
no ensino superior a distância.
Em paradoxo, uma das características apontadas como positivas dos
cursos de educação a distância, seja graduação, pós-graduação, educação
continuada ou qualquer outra modalidade é justamente a disponibilidade das
aulas e demais recursos em qualquer horário e em qualquer computador,
facilitando a disponibilidade do tempo dedicado ao estudo.
22
Contudo a educação superior a distância não exige menos tempo de
dedicação ao estudo, pelo contrário. A carga horária estipulada, as disciplinas,
avaliações e demais atividades igualam a educação superior a distância em
relação a educação tradicional presencial, pois não se pretende com a
educação a distância promover a precarização da educação.
Todavia tem-se comumente do publico discente a falsa impressão de
que a educação superior a distância é mais flexível em relação ao tempo, se
comparada a educação tradicional. Há a flexibilidade sim, mas não em relação
ao tempo exigido de dedicação ao curso.
H. Wood (1996) relata ainda que mais de 70% dos estudantes de
educação a distância trabalha em tempo integral, e esse dado é confirmado
pelo Censo EAD BR 2015, isso reforça a importância da adequação do tempo
livre para a família, para o trabalho e para o estudo. O discente precisa ter
consciência de que um curso de educação superior exige leitura, estudo, tempo
dedicado à formação acadêmica, e neste ponto não se diferencia da educação
superior tradicional. O discente deverá organizar seu tempo, separar horas
diárias para assistir aulas, participar de fóruns de discussão, comunicar-se com
os professores e tutores, interagir com o ambiente de educação superior a
distância.
Sobre tempo ou falta dele, é interessante destacar a abordagem que
Tori (2017) faz sobre tempo e distância. Para ele há três componentes para
denominar o termo distância: a distância espacial, que se refere à “existência
de separação geográfica entre aluno e professor”; a distância temporal, que se
refere a “atividades realizadas de forma assíncrona ou síncrona”; e a distância
interativa, que se refere “ao diálogo, estrutura do programa e autonomia do
aluno”.
Sem dúvida, a interatividade é o componente mais fértil para gerar as
aproximações na educação superior a distância, pois há uma confluência de
significados no processo interativo de qualquer situação de aprendizagem.
Discorrendo sobre tempo, Castells (1999) afirma “que somos tempo
personificado, e também o são nossas sociedades, formadas pela história”.
23
Logo, para esse autor, a transformação do tempo “sob o paradigma da
tecnologia da informação, [...], é um dos fundamentos dessa nova sociedade,
irremediavelmente ligada ao surgimento do espaço de fluxo”, ou seja, o tempo
é local em virtude de ser peculiar a um contexto.
Em relação ao fator “falta de tempo”, alguns aspectos devem ser
levantados, a saber: falsa impressão de que a educação superior a distância é
menos exigente em quantidade e qualidade de tempo dedicado; falta de
organização do tempo que o discente dedica aos estudos; falta de habilidade
em utilizar as ferramentas da educação superior a distância.
Sobre o primeiro aspecto já discorremos, há uma ideia equivocada de
que a educação superior a distância é menos exigente em termos de carga
horária, o que não é verdade; sobre o segundo aspecto há um fator de
indisciplina na dedicação ao curso superior a distância, ausência de
organização e priorização do tempo, talvez em função da ausência de
vigilância, presente na educação tradicional; sobre o terceiro aspecto, há de se
destacar que o uso das ferramentas tecnológicas ainda é uma dificuldade para
boa parte da população e essa boa parte também se encontra no ambiente da
educação superior a distância. Há também aqueles estudantes que moram em
locais mal servidos de fornecimento de internet banda larga de qualidade, o
que aumenta o tempo dedicado ao uso da ferramenta tecnológica, afetando a
qualidade do aprendizado e contribuindo para desestimular a permanência no
ambiente virtual.
Paloff e Pratt (2002) orienta que é necessário que o aluno seja claro ao
estabelecer objetivos, tendo em mente que um curso a distância exige em
média de 12 a 15 horas de estudos semanais, ou seja, é necessário um maior
tempo de estudo do que o presencial. Assim, o aluno que determina objetivos
de estudo, tendo uma noção clara daquilo que quer (do programa acadêmico e
do curso em si) e organiza o seu tempo para leituras de materiais, tempo online
para realização de atividades, trabalhos em grupo, entre outros, provavelmente
terá sucesso num curso a distância. Por conseguinte, os alunos devem ser
flexíveis no estabelecimento de metas e objetivos. “Quando coisas inesperadas
acontecem, o aluno virtual deve ser incentivado a manter contato com o
professor, a fim de não ficar muito para trás” Paloff e Pratt (2002).
24
O segundo fator motivador da evasão na educação superior a distância
é o fator financeiro, segundo o Censo EAD.BR 2015 (ABED – Associação
Brasileira de Educação à Distância).
A educação a distância é reconhecida como financeiramente mais
acessível que os modelos tradicionais presenciais. De fato, os valores das
mensalidades dos cursos de educação superior a distância, ofertados aos
alunos, é mais baixo se comparado aos modelos presenciais.
Não que o custo da manutenção do curso a distância em si, para a
instituição de ensino superior, seja baixo, pois a estrutura exige o uso de
tecnologia de ponta que custa caro, formação específica de professores,
gravação de aulas, manutenção de equipe de suporte técnico, tutores,
plataforma de internet e demais recursos. Mas esse custo é diluído na
quantidade de alunos que vai ter acesso ao curso, já que não se depende do
uso físico e limitado de uma sala de aula.
Contudo, mesmo sendo mais acessível financeiramente, é comum o
aluno de educação superior a distância alegar motivos financeiros para a
evasão no curso.
Neste ponto, merece destaque a abordagem de M. Xenos (2002)
defendendo que os fatores que historicamente vêm afetando os níveis de
evasão em cursos universitários a distância são classificados em três grandes
categorias: fatores internos relacionados às percepções do aluno e seu lócus
de controle – interno-externo; fatores relativos ao curso e aos tutores; e fatores
relacionados a certas características demográficas dos estudantes, como
idade, sexo, estado civil, número de filhos, tipo de trabalho ou profissão, entre
outros.
O fator financeiro pode ser categorizado como fator relacionado com as
características demográficas dos estudantes. Não podemos ignorar que o
maior público da educação superior a distância é o público adulto, já inserido
no mercado de trabalho, em grande parte com suas famílias constituídas, e
como uma série de responsabilidades financeiras, que, se afetadas, afetam
imediatamente a disponibilidade monetária de continuar custeando seu curso.
O Censo EAD.BR 2015 levantou dados demográficos referentes ao perfil
dos alunos da educação a distância, com auxílio das instituições envolvidas.
25
Como sempre acontece no Censo EAD BR, foram levantadas questões
de gênero, conciliação de estudo e trabalho, idade e cursos escolhidos para
confrontar estes dados com os índices de evasão e suas possíveis causas.
Com relação ao gênero, os dados revelaram uma maioria do público feminino
na educação a distância. Em comparação com cursos presenciais, que
apresentaram 47% de público feminino, os cursos a distância afirmaram contar
com 56% de mulheres.
A faixa etária média informada ao Censo EAD.BR 2015 revelou que os
alunos de cursos a distância tendem a ser mais velhos do que os alunos de
cursos presenciais. Ao se comparar a pirâmide etária dos participantes de
cursos presenciais e de educação a distância, ficou nítido que os estudantes da
educação presencial se concentram na faixa entre 21 e 30 anos (63,23%),
enquanto o corpo discente dos cursos a distância se encontra na faixa entre 31
e 40 anos (49,78%).
Outro dado demográfico relevante é que os cursos regulamentados
totalmente a distância foram os que mais atraíram alunos que estudam e
trabalham (100% dos alunos das instituições públicas municipais e das ONGs e
terceiro setor encontram-se nessa categoria). As instituições privadas com fins
lucrativos informaram que a maioria de seus alunos (70,45%) estuda e
trabalha; as instituições privadas sem fins lucrativos, por sua vez, indicaram um
percentual de 67,65%, enquanto as instituições públicas federais apontaram
65,63% de seu corpo discente nessa categoria, todos os dados coletados
diretamente do Censo EAD.BR 2015.
Todo esse conjunto de dados demográficos respalda a pesquisa e
demonstra que tanto o fator financeiro (segunda maior causa de evasão),
quanto o fator falta de tempo (primeira maior causa de evasão) são relevantes
para este público discente no ambiente da educação superior a distância.
A falta de adaptação à modalidade de educação a distância é o terceiro
fator causador da evasão na educação a distância, segundo o Censo EAD BR
2015, e ela apresenta vários outros fatores secundários, vejamos:
Paloff e Pratt (2002) já diziam que a manutenção do contato com o
professor é um fator agregador na educação. Portanto a ausência da
tradicional relação face-a-face entre professor e alunos é fator contributivo para
26
a evasão na educação superior a distância, pois desestimula a permanência do
discente por não haver maior interação e respostas afetivas entre os envolvidos
no processo educacional.
Coelho (2002) e Moore e Kearsley (2007), por sua vez, utilizam o termo
“insatisfação com o tutor”, concordando que a falta de interação mais próxima
entre professor e aluno estimula a evasão. Os autores alegam que a
abordagem pedagógica, as avaliações, o perfil do professor, entre outras,
influenciam negativamente para a decisão do aluno quanto à sua permanência
no curso superior na modalidade de educação a distância.
O termo insatisfação com o tutor é inclusive mais amplo, aproximando-
se mais do termo falta de adaptação à modalidade, pois abrange não somente
a não interação física entre professor e aluno, mas também a não empatia
entre o aluno e o modelo comportamental adotado pelo professor no ambiente
da educação a distância.
O discente está acostumado ao modelo tradicional presencial, no qual
há o contato com o professor, há cobrança de presença física do aluno e sua
participação nas aulas, atividades e avaliações e todo este contexto influencia
psicologicamente na permanência do aluno. No ambiente da educação a
distância o aluno não interage da mesma forma com o professor/tutor, não há
muitas vezes o contato físico, utiliza-se e-mails ou plataformas específicas de
comunicação; a comunicação e a resposta professor-aluno na maioria das
vezes não acontece em tempo real; as dúvidas não costumam ser atendidas de
maneira personalizada, não há cobrança de presença física e de participação
ativa do discente, apesar de ser sua obrigação na relação aluno-professor.
Quando efetua sua matrícula o aluno deve estar consciente deste novo
modelo e disposto a se adaptar ao ambiente virtual e as novas formas de
interação, o que muitas vezes não ocorre. Então o aluno alega a falta de
adaptação à modalidade e abandona o curso.
Outro aspecto secundário é a ausência de interação com os demais
alunos, o que também contribui para o afastamento do curso. Atividades em
equipe, relações de afeto entre os colegas de curso, relações de
competitividade, que são aspectos presentes nos cursos tradicionais
presenciais, não fazem parte do modelo de educação a distância e afetam
27
negativamente na avaliação que o discente faz do curso a distância e do seu
desempenho.
A dificuldade de acesso à Internet é um fator relevante na evasão nos
cursos superiores a distância, pois segundo Coelho (2002), muitos dos polos
de educação a distância ficam localizados em cidades do interior do país e
apresentam como principal dificuldade o acesso à Internet de banda larga.
O insuficiente fornecimento de internet banda larga, aliado a pouca
habilidade no uso das ferramentas tecnológicas tem sido apontado nas
pesquisas como um fator relevante para a perda do interesse do aluno em
continuar seus estudos no ambiente da educação a distância. Já havíamos
citado este fator como um dos causadores do maior gasto de tempo dedicado
ao ambiente virtual, mas ele como fator isolado também é causa impeditiva da
continuidade do aluno nos cursos superiores de educação a distância. Diante
da dificuldade tecnológica, o aluno alega falta de adaptação à modalidade.
Agrava este fator, segundo Favero (2006), a complexidade das
plataformas de internet dos cursos superiores a distância, e a dificuldade do
aluno de cumprir as tarefas determinadas pelos tutores.
Além das três principais causas apontadas no Censo EAD BR 2015,
outras foram levantas como, por exemplo, a escolha errada do curso, a
mudança de curso ou de instituição e a facilidade de retorno ao curso após um
tempo evadido, o que estimula o abandono.
Uma curiosidade é que o Censo EAD BR 2015 coleta dados de todas as
modalidades de educação, inclusive cursos presenciais e semipresenciais,
além daqueles totalmente a distância para fazer as comparações. E as taxas
de evasão dos cursos regulamentados totalmente a distância foram as mais
altas.
Por outro lado, essa modalidade também foi considerada a mais
acessível ao retorno do aluno. A pesquisa revelou que a evasão em cursos
regulamentados totalmente a distância pode ser temporária e estar relacionada
às questões de tempo e financeiras dos alunos que frequentam esses cursos.
Coletar tais informações é muito enriquecedor na medida em que dá às
instituições, informações reais e atuais dos fatores críticos da evasão no ensino
superior a distância, e a partir dos cenários coletados é possível desenvolver
28
estratégias que solucionem ou diminuam os fatores causadores da evasão no
ensino superior a distância. Sobre a temática das soluções abordaremos nos
dedicaremos no capítulo seguinte.
29
CAPÍTULO III
A EVASÃO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL E
A BUSCA PELAS SOLUÇÕES
Diante dos dados e informações apresentadas, principalmente pelo o
Censo EAD BR 2015, da Associação Brasileira de Educação a Distância,
confirmamos nossa percepção que a evasão é tema recorrente nas discussões
e levantamentos realizados sobre as ações em Educação a Distância. Esforços
vêm sendo realizados no sentido de identificar as causas, mapear os dados
demográficos dos discentes, analisar o contexto do fenômeno da evasão na
educação superior a distância e buscar soluções.
Contudo, a proposta de identificar os fatores causadores da evasão na
educação superior a distância deve concentrar esforços em um objetivo:
conhecer o cenário para propor soluções reparadoras para o público atual e
soluções preventivas para o público futuro, afinal a educação a distância é uma
realidade que tende a permanecer e se especializar.
Porém, é importante destacar a seguinte reflexão: as instituições de
ensino superior preocupam-se em identificar a evasão na educação superior a
distância com que propósito? Aprimorar o ambiente da educação superior a
distância ou apenas manter ou aumentar os índices de alunos matriculados?
Esta reflexão deve ser objeto de indagação obrigatório nos estudos e
discussões sobre o tema, pois se a ferramenta da educação superior a
distância é uma via de democratização do acesso a educação, ela não deve
ser transformada em uma estratégia de precarização da formação educacional.
Definitivamente, esta não é a sua proposta.
Tendo nítida compreensão do objetivo, passemos a tecer argumentos
para o desenvolvimento de soluções, sabendo que o tema não pode ser
esgotado em um capítulo, e que no desenvolver das soluções há a
necessidade de adaptabilidade a cada curso, a cada púbico, a cada instituição
de ensino superior. Não há uma fórmula única para solucionar problemas tão
diversos e peculiares. A educação superior a distância, apesar do uso enfático
30
de máquinas e inovações tecnológicas, trata na verdade de pessoas com todas
as nuances humanas que envolvem tanto discentes como docentes.
Corroborando, Antonucci (2016) afirma não existir uma fórmula, mas
algumas estratégias demonstram ser bastante eficazes, e ele exemplifica:
avaliar qualitativamente a situação acadêmica de cada aluno, intervindo de
forma direta e evitando possíveis desistências; descobrir as dificuldades
financeiras que possam existir e tentar fazer das mesmas oportunidades para
engajar o aluno e mantê-lo fiel à instituição, por meio de propostas de
financiamento, bolsas, descontos, monitorias e estágios; avaliar o impacto e a
repercussão dos cursos oferecidos pela instituição através de redes sociais e
canais de ouvidoria, visando prever e evitar comportamentos que possam
aumentar a evasão de alunos; entre outros.
Contudo, frente à diversidade de problemas e soluções, vamos discorrer
neste capítulo sobre possíveis soluções correspondentes aos fatos
problemáticos, ensejadores da evasão na educação superior a distância,
citados no capítulo anterior.
O primeiro fator condicionante à evasão na educação superior a
distância, apontado pelo Censo EAD BR 2015, da Associação Brasileira de
Educação a Distância foi a falta de tempo. No capítulo anterior apontamos
alguns aspectos relacionados a ocorrência da falta de tempo, entre elas a falsa
impressão de que a educação a distância é mais flexível em termos de carga
horária e a falta de disciplina do discente em organizar seu tempo e priorizar o
estudo.
Como solução, Palloff e Pratt (2004) sugerem que o aluno deva priorizar
o comprometimento do seu tempo com estudo, observando a importância e
urgência das atividades. Os autores apresentam um quadro de classificação
das atividades do discente, denominando-as como: atividade nem importante,
nem urgente; não importante, mas urgente; importante, mas não urgente;
importante e urgente.
Na categoria “nem importe, nem urgente”, estaria assistir TV, usar redes
sociais, bater papo com amigos; na categoria “não importante, mas urgente”
seriam aquelas atividades que o discente valorou como urgente, como por
31
exemplo, fazer um conserto de um eletrodoméstico de uso dispensável, que
segundo os autores nem sempre é urgente, sujeitando-se a valoração que o
sujeito dá àquela atividade; na categoria “importante, mas não urgente”
novamente os autores destacam a dependência da valoração dada pelo
sujeito, pois os alunos que trabalham nesta categoria podem apresentar
dificuldades na realização das tarefas, porque “as atividades tendem a ser
postergadas até que se tornem urgentes”, Palloff e Pratt (2004). É importante
que os alunos aprendam a gerenciar o tempo a longo prazo, para que as
atividades importantes não se percam entre as mais urgentes.
Por último, a categoria “importante e urgente”, na qual, segundo os
autores, muitos discentes atuam apenas neste quadrante (em caráter de
urgência), o que pode fazer com que a noção de construção da comunidade de
aprendizagem se perca, pois eles, muitas vezes, deixam para interagir perto do
prazo final de determinada atividade, perdendo-se dentro do processo evolutivo
educacional.
Para um bom desempenho em um curso superior a distância é
necessário que o aluno saiba gerenciar o seu tempo de estudo e estabeleça
prioridades para a realização das atividades. Se ele se matriculou naquele
curso, tem objetivos que são prioritários. Priorizar os estudos acima de outras
atividades é seguir o planejamento inicial, que atende a um objetivo profissional
e pessoal.
Para um aproveitamento adequado no curso superior a distância,
segundo os autores, os alunos precisam concentrar-se naquilo que o professor
lhes oferece ou cria, conectar as novas ideias ao conhecimento prévio e
relacionar fatos e informações da sala de aula à experiência da vida real. É
muito importante que o aluno atinja uma prática reflexiva e transformadora que
o leve a um pensamento crítico e independente.
Sem uma dedicação de tempo aos estudos ao longo da semana, os
discentes irão se perder no aprendizado e ocorrerá o fenômeno da evasão. Os
alunos não serão capazes de responder adequadamente as ideias dos colegas
e professores e contribuir para as discussões em apenas um dia. Portanto, é
preciso que o aluno seja regular e frequente no ambiente da educação superior
a distância.
32
Não se quer aqui eliminar o tempo de lazer, de ócio e de convívio com
familiares e amigos, este tempo categorizado pelos autores como “nem
importante, nem urgente” tem sua parcela de importância na vida dos alunos,
mas deve ser comparado com seus objetivos acadêmicos. O lazer, o convívio
com amigos se torna necessário para evitar a sobrecarga tanto para o aluno,
quanto para o professor. Incluir o tempo de descanso no planejamento semanal
é essencial, mas sem perder o foco nos estudos que são uma prioridade para o
crescimento acadêmico e profissional.
Muito interessante a abordagem dos autores e que deveria ser divulgada
pelas próprias instituições de ensino superior, em uma espécie de manual do
aluno, entregue no ato da matrícula, para que o discente tenha a consciência
de que a educação superior a distância dá mais autonomia ao aluno, apresenta
menos vigilância, mas é tão exigente, ou mais, em conteúdo e carga horária
quanto a educação presencial tradicional.
Como vimos no capítulo anterior, a segunda causa condicionante da
evasão da educação superior a distância é o fator financeiro. E este fator está
relacionado a vários aspectos, inclusive conjunturais da atual crise econômica
por que passa a sociedade brasileira, diretamente as classes média e baixa.
Sabemos que o perfil do público que compõe o corpo discente da
educação superior a distância é aquele que trabalha, tem família e como
consequência todas as obrigações financeiras desta fase da vida adulta.
Portanto, com o agravamento da crise econômica, o aumento dos preços dos
produtos e serviços e o achatamento dos salários, a educação, principalmente
dos adultos tende a ser afetada. A situação se agrava mais quando incluímos o
fator desemprego e crise de empregabilidade, ou seja, dificuldade de
recolocação no mercado de trabalho.
É lógico que esse fator não se resume ao campo educacional e a
solução está fora do domínio das instituições de ensino superior, também
diretamente afetadas pelo desequilíbrio econômico, mas não o único setor. No
âmbito geral, as políticas governamentais que não priorizam a empregabilidade
da classe média e baixa, distribuição de renda e apoio a educação produzem
consequências drásticas neste campo.
33
Contudo, dentro dos limites das instituições de ensino superior e ao
alcance dos discentes, frente ao fator financeiro como condicionante à evasão,
podemos citar como possíveis as seguintes sugestões.
Para o discente, uma solução seria realizar um planejamento financeiro
sólido antes de mesmo de se matricular, tentando conciliar o curso almejado
com os custos do curso. Há inclusive descontos para alunos que pagam seus
cursos antecipadamente, há bolsas de estudo e outra medidas financeiramente
atrativas que auxiliam o aluno no seu planejamento.
Lembrando que também há cursos de educação superior a distância em
instituições públicas de ensino superior que geram menos custo financeiro para
o discente. O fator crise financeira ou desemprego não impediria, em linhas
gerais, a manutenção da frequência do discente.
O planejamento financeiro priorizando no orçamento os custos com
educação é uma medida preventiva contra o fator econômico que pode afetar o
desempenho do discente na educação a distância, e deve ser um fator
importante na hora de se matricular.
Sob o ponto de vista das instituições de ensino superior em relação ao
fator financeiro a sugestão do planejamento também é indicada, mas de outra
forma. A instituição deve planejar bem seus custos na estruturação dos cursos,
e buscar soluções para torná-lo acessível financeiramente aos alunos, sem
perder a qualidade. A educação, apesar de gerar ganhos econômicos para as
instituições privadas de ensino superior, não deveriam ser utilizadas como
fontes de lucros exorbitantes. Um curso com mensalidades acessíveis
consegue atingir muito mais eficientemente um padrão de adimplência de seus
alunos.
Além de mensalidades acessíveis, convênios com empresas, políticas
de descontos podem ser medidas que, se bem planejadas e aplicadas pela
equipe qualificada, podem contornar a questão do fator financeiro como
relevante na evasão da educação superior a distância.
O terceiro problema apontado pelo Censo EAD BR 2015, da Associação
Brasileira de Educação a Distância é a falta de adaptação à modalidade de
educação a distância. E neste ponto vários aspectos podem ser destacados,
sendo grande a gama de soluções preventivas que podem ser adotadas.
34
O primeiro aspecto a se destacar é que, como já sabemos, o público
discente da educação superior a distância é um publico adulto, na faixa acima
dos 30 anos, e, portanto recebeu sua educação totalmente na modalidade
presencial tradicional, o que dificulta a adaptação ao modelo educacional a
distância. Uma das medidas preventivas já aplicadas, apesar de ser também
um motivo de reclamação por parte do aluno, é a obrigatoriedade de encontros
presenciais.
No Brasil, a própria legislação nessa modalidade de ensino exige que
existam momentos presenciais destinados para prova e que alguns cursos
tenham momentos presenciais nos laboratórios e outros destinados ao estágio.
Dessa forma, o aluno que busca a EAD como um recurso de apoio à
falta de disponibilidade de horários deve levar em consideração que haverá
momentos presenciais obrigatórios e que o aluno deve se fazer presente.
Paradoxalmente, este fator interfere na rotina pessoal do aluno, mas também o
vincula ao curso, aos professores e aos colegas de turma promovendo uma
agregação.
Um segundo aspecto a se destacar quando o fator condicionante da
evasão é a falta de adaptação à modalidade a distância é justamente o papel
do professor, que deve transcender àquele papel tradicional de transmissor do
conhecimento. Nem mesmo na educação tradicional presencial da atualidade
esse papel se sustenta. Nesta perspectiva, Giraffa (2012), destaca que é
preciso ampliar o foco da atuação docente, para que o professor ultrapasse a
figura de mero repositório para ser um guia, um facilitador, um orientador do
processo de aprendizagem dos seus alunos.
Assim, o professor precisa estar ciente deste seu papel e as instituições
devem promover espaços e momentos de qualificação profissional para a nova
realidade educacional, pois práticas dos professores são reflexos de sua
própria formação, em que reproduzem modelos de seu formador. Por este
motivo, a importância de se realizar capacitações continuadas, para que novas
metodologias possam ser planejadas e viabilizadas por diferentes estratégias
de ação que venham a qualificar a educação superior a distância.
Outro aspecto importante que precisa ser levado em consideração como
a estratégia para manter o aluno na educação superior a distância e qualificar
35
sua formação é orientar o egresso em cursos a distância sobre a importância
de sua participação e de sua parcela de corresponsabilidade numa educação
de qualidade e numa formação não apenas para cumprir os requisitos legais
para aquisição de um diploma, mas sim na capacitação para a vida profissional
e social.
Tal orientação pode ser dada logo no momento da matrícula através de
uma espécie de manual do aluno, e reforçada frequentemente através de
outras ferramentas de comunicação com o discente, no intuito de manter alerta
sua corresponsabilidade.
Santos (2012) defende que as instituições precisam atentar para a
qualificação dos profissionais envolvidos com a educação a distância,
principalmente com a formação docente e a conscientização discente. Uma vez
que na formação em educação a distância, o formador é também um aprendiz
em formação. Pois ainda estamos em um período inicial da educação a
distância, em que muitas possibilidades surgem. Cada público, cada projeto
possui uma necessidade diferente e, também por isso, tudo ainda é muito
recente na questão da formação em educação superior a distância.
Segundo a autora, uma reflexão inicial sobre os papéis e possibilidades
de crescimento e qualificação conjunta e de forma colaborativa, pode criar no
aluno um sentimento de pertença que o faça acreditar na sua formação como
processo de mudança e resultado de qualificação profissional e qualidade de
vida.
Nesse diapasão, é preciso ter consciência de que, da mesma forma que
uma aula é planejada por pessoas e não máquinas, a educação superior a
distância, incluindo seus alunos, também é composta por pessoas, seres
humanos que possuem necessidades, histórias, vivências e conhecimentos
diferenciados. Tais apontamentos trazem à tona a ideia de que devemos
pensar e educação para pessoas e preocuparmo-nos com quem está envolvido
com o processo de aprendizagem, pois em suas particularidades podem ser
encontradas formas de enriquecer as ações nos ambientes virtuais de
aprendizagem.
36
Em se tratando de educação superior a distância, o planejamento e
modelagem do ambiente virtual de aprendizagem pode ser um ponto, tanto
para incentivar o aluno à participação, quanto para sua desmotivação em
relação ao curso. Um ambiente virtual de aprendizagem planejado para o
público alvo de seu curso, em que as informações estejam disponibilizadas de
forma clara e organizadas faz com que os alunos sintam-se mais seguros em
realizar e participar das atividades e interações no curso.
Outro ponto importante em relação ao ambiente virtual de
aprendizagem, e sua modelagem, é a sua identidade visual, pois ter um
ambiente visualmente atrativo também estimula o aluno à participação e a
permanecer neste espaço. Tori (2017) afirma que a interatividade é uma das
características mais importante de uma mídia, possuindo também uma maior
gama de interações. Porém, como já mencionado anteriormente, este é um dos
aspectos a ser considerado, pois somente um ambiente visualmente atrativo
não garante a qualidade de determinado curso/disciplina.
Sobre o uso das ferramentas tecnológicas, uma proposta interessante é
o nivelamento dos alunos, logo no início do curso para ambientá-los para uso
racional da plataforma de estudo, com todos os recursos disponíveis. Quando o
discente domina o uso da máquina e seus recursos tem um melhor
aproveitamento do conteúdo e melhora também seu interesse e participação
nas atividades.
As discussões e estudos sobre o tema, como vimos, ainda são
embrionárias e as soluções estão sendo testadas e adaptadas a cada prática.
Intensificação das pesquisas, coleta de dados reais e atualizados, discussões e
propostas e principalmente aplicação das soluções formam o conjunto de
estratégias para solucionar a questão da evasão da educação superior a
distância e consequentemente contribuir para o aprimoramento deste novo
modelo educacional.
37
CONCLUSÃO
O presente estudo, embora com dados parciais e datados de 2015,
teceu um olhar sobre a evasão na educação superior a distância, suas causas
mais evidentes e as possíveis soluções, algumas já até aplicadas pelas
instituições de educação superior.
Usou como pano de fundo o Censo EAD.BR 2015 (ABED – Associação
Brasileira de Educação a Distância), e a análise de autores na área da
educação, com ênfase no uso das ferramentas tecnológicas do modelo do
modelo de educação a distância.
Como vimos, as causas podem ser intrínsecas ao curso ou extrínsecas
ao curso, sendo em sua maioria de origem extrínseca ao curso, ou seja, razões
pessoais ou conjunturais, como a falta de tempo para dedicar-se ao curso,
priorização de outras atividades em detrimento ao curso, problemas
financeiros, falta de adaptação ao modelo de educação superior a distância,
este último fator de natureza mista (extrínseco e intrínseco), todos os fatores
apontados nos dados estatísticos do Censo.
Destacamos a importância da educação superior a distância e sua
expansão na contemporaneidade, adotando os novos recursos tecnológicos.
Ela é uma modalidade de educação de caráter democrático, social, inclusivo
que visa contribuir para a acessibilidade à qualificação profissional,
educacional, humanística. Não podemos deixar de defender neste momento
conclusivo que a educação é um direito humano. É da essência do homem o
interesse e o direito de aprender, como parte elementar da sua evolução
pessoal, profissional e coletiva.
A educação a distância, desde a sua origem, sempre teve a proposta de
ultrapassar barreiras geográficas e temporais, de atender àqueles que por
ventura não poderiam estar naquele tempo-lugar, mas que tinham o interesse e
o direito de aprender.
Cursos por correspondência, aulas em áudio, telecursos, rádio, TV ou
internet: a proposta da educação a distância sempre foi democratizar o acesso
ao direito de aprender. E evoluiu no uso dos recursos para facilitar o acesso.
38
Vimos também que a crescente demanda por educação a distância, em
todos os graus, mas particularmente a educação superior foi fator
preponderante para a expansão da educação superior a distância no Brasil.
Contudo, o uso das ferramentas tecnológicas no ambiente de internet
para a educação superior a distância, apesar de embrionário já nos apresenta
um cenário rico de informações para identificarmos e tratarmos os fatores
críticos e indutores da evasão na educação superior a distância.
A falta de tempo, ou de priorização do tempo de estudo, apontada como
primeira causa da evasão no ambiente da educação superior a distância, pode
ser interpretada como uma consequência natural da quebra do modelo
tradicional presencial para o modelo a distância. O público envolvido na
educação superior a distância, sejam docentes ou discentes, teve toda a sua
formação educacional anterior e toda a cultura educacional pautada no
ambiente presencial, que entre outros aspectos mantinha o contato físico,
pessoal e afetivo entre alunos e professores; a rotina de vigilância e cobrança,
comum no método educacional tradicional; a natural competitividade que surge
no ambiente estudantil presencial e que colabora para o interesse e
permanência do discente; a não autonomia do aluno em planejar e priorizar
seus horários de estudos em relação a outras atividades.
Identificar o cenário no qual a causa ensejadora da evasão na educação
superior a distância se apresenta e criar condições de adaptação do público
envolvido, especialmente o discente, é o caminho para buscar as soluções
mitigadoras, algumas sugeridas no capítulo anterior.
O fator financeiro, segunda causa ensejadora da evasão na educação
superior a distância apontado pela pesquisa, carrega uma complexidade maior,
pois muitas vezes não depende apenas da organização do aluno relacionada
aos custos com sua educação, mas frequentemente se apresenta como uma
consequência do contexto econômico por que passa o país. Fator que não
pode ser ignorado e exige soluções projetadas e cumpridas na superestrutura.
Além das ações sugeridas que podem ser adotadas pelo discente, como
planejamento dos custos educacionais e verificação de valores e descontos
que mais se ajustem ao seu orçamento pessoal, e das ações possíveis por
parte das instituições de ensino superior para manter o aluno vinculado, com
39
valores acessíveis e propostas de descontos, estágios, há outro aspecto de
extrema relevância que precisa ser preocupação da política educacional
governamental: o controle da política econômica com preocupação voltada
para os aspectos sociais da população.
Neste ponto, discentes, docentes e instituições de ensino superior
acabam ocupando uma posição passiva, pois a questão é macro e envolve
principalmente a política de governo do Poder Executivo Federal, e a atuação
(ou ausência) coordenada das diversas pastas ministeriais, especialmente os
Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento e o Ministério da Educação.
Restringir as políticas públicas educacionais, reduzir verbas destinadas a
educação, implantar uma política econômica que diminua o poder aquisitivo da
classe trabalhadores, gere desemprego e crise de empregabilidade afeta
diretamente a permanência do aluno, na sua maioria trabalhadores em idade
economicamente ativa, nos cursos superiores de educação a distância.
O fator financeiro não se esgota nesta argumentação e não se limita ao
ambiente acadêmico, e nem por ele pode ser exclusivamente solucionado.
O terceiro fator apontado na pesquisa – falta de adaptação ao modelo de
educação a distância – apresenta o leque mais vasto de soluções, quase todas
no âmbito pedagógico, como aprimoramento do ambiente virtual, intensificação
do contato aluno-tutor, nivelamento do discente e docente para o uso racional
das ferramentas tecnológicas, uma linguagem mais atrativa e personalizada
para cada curso.
E sobre este último aspecto, vale uma breve abordagem para destacar a
importância do planejamento do material pedagógico, aliada a elaboração de
um projeto gráfico que leve em consideração as peculiaridades do curso, da
cultura, do ambiente e do próprio aluno.
Gutierrez (1994) nos alerta que uma diagramação leve e harmônica, que
não sobrecarregue demais a página, criação de ícones que representem os
diversos momentos e preocupações pedagógicas contidos no módulo, além de
quadros e ilustrações criam um vínculo mais estreito com o aluno, visando o
enriquecimento temático e visual que facilite a interlocução do material. Assim
a mediação pedagógica, tramita da satisfação visual à apropriação e
identificação do produto por seu interlocutor.
40
Segundo o autor, o processo de elaboração de materiais didáticos em
educação superior a distância é extremamente complexo e importante,
exigindo tratamento pedagógico cuidadoso para que possa alcançar seus
objetivos educacionais. Uma vez que diversos aspectos precisam ser
observados, desde a seleção de temas e conteúdos até a adequação deles ao
ambiente educacional a distância, o planejamento do curso ocupa lugar central.
Sem um planejamento rigoroso e detalhado do material pedagógico, desde a
concepção até a oferta e avaliação, os cursos de podem estar condenados ao
fracasso.
É esta compatibilização que torna cada curso ímpar e cada material
didático um reflexo desta particularidade. Compreender essa dinâmica é
fundamental para enfrentar, com sucesso, as demandas crescentes dos cursos
de educação superior a distância.
Todos os envolvidos devem ter a consciência de que, apesar da
globalização e unificação do acesso a informação, a educação continua sendo
uma relação humana, utilizando máquinas, mas tendo pessoas nos extremos
do canal de comunicação. Perceber tais peculiaridades e planejar os cursos de
educação superior a distância, respeitando suas nuances culturais,
econômicas, humanas do público alvo é contribuir para o desenvolvimento
deste nicho educacional e atender ao seu objetivo central que é democratizar o
acesso a educação.
Concomitantemente, as pesquisas, avaliações e aplicação de soluções
poderão fornecer dados mais fieis para a verificação da qualidade da
experiência educacional superior a distância, contribuindo para a tomadas de
decisões de ordem institucional. Por fim, sugerem-se novas pesquisas e testes
mais regionalizados e segmentados para tonar mais reais os resultados e mais
eficientes suas soluções. Tais testes e pesquisas devem ser incentivados,
representando um verdadeiro investimento para a melhoria da educação
superior a distância.
BIBLIOGRAFIA
41
Censo Ead BR 2015 - ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância.
ABBAD, G., PILATI, R.; PANTOJA, M. J. Avaliação de treinamento: análise
da literatura e agenda de pesquisa. Revista de Administração – USP, v. 38,
n. 3, p. 181-91, 2003.
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3ª ed. Campinas: Autores
Associados, 2003.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v. 1. Tradução de Roneide
Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999
COELHO, Lígia Martha Coimbra da Costa, CAVALIERE, Ana Maria
Villela (Org.). Educação brasileira e(m) tempo integral. Petrópolis: Vozes,
2002.
COELHO, Maria de Lourdes. A evasão nos cursos de formação continuada
de professores universitários na modalidade de educação a distância via
internet. Artigo. ABED, 2001.
FAVERO, Rute Vera Maria, Dialogar ou evadir: Eis a questão!: Um estudo
sobre a permanência e a evasão na Educação a Distância, no Estado do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2006.
GIRAFFA, L. M. M. DOCENTES ANALÓGICOS E ALUNOS DA GERAÇÃO
DIGITAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA ESCOLA DO SÉCULO XXI. In:
Lucia Maria Martins Giraffa et al. (Org.). (Re)invenção pedagógica? Reflexões
acerca do uso de tecnologias digitais na educação. Porto Alegre, RS:
EdiPUCRS, 2012
GUTIÉRREZ, Francisco. Pedagogia para el Desarrollo Sostenible. Heredia,
Costa Rica: Editorialpec, 1994.
42
H. COLEMAN (Ed.). Society and the language classroom. Cambridge:
Cambridge University Press,1996
HOLMBERG, Börje. A discipline of distance education. Journal of distance
education/ Revue de l'enseignement à distance, Athabasca, v.1.1,
1986.Disponível em: http://cade.athabascau.ca/vol1.1/holmberg.html
KEEGAN, Desmond. Foundations of distance education. 3.ed. London:
Routledge, 1996.
LEVINE, S. Joseph. Distance education: a shared understanding. In: ______
(ed.) Making distance education work: understanding learning and
learners at a distance. Michigan: Learner Associates.net, 2005
SILVA FILHO, Roberto Leal Lobo e; MOTEJUNAS, Paulo Roberto; HIPOLITO,
Oscar and LOBO, Maria Beatriz de Carvalho Melo. A evasão no ensino
superior brasileiro. Cad. Pesqu. 2007
MAIA, M. C.; MEIRELLES, F. S.; PELA, S. Análise dos índices de evasão
nos cursos superiores a distância do Brasil. XI CONGRESSO
INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, 2004, Salvador. Anais...
Salvador: ABED, 2004
MOORE, Michael G.; KERASLEY, Moore. Educação a Distância: uma visão
integrada. Tradução de Roberto Galman. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância. São Paulo: Thomson
Pioneira, 2007.
MORAN, José, Informe CEAD - Centro de Educação a Distância. SENAI, Rio
de Janeiro, 1994,
43
NASCIMENTO,T.P.C. ; ESPER, Evasão em cursos de educação continuada
à distância: um estudo na Escola Nacional de Administração Pública.
Revista do Serviço Público Brasília, A.K.; 2009
PALLOF, R.; PRATT, K. O aluno virtual. Porto Alegre: Artmed. 2004.
RUMBLE, G. A tecnologia da educação a distância em cenários do terceiro
mundo. In: PRETI, O. (Org.). Educação a distância: construindo significados.
Cuiabá: NEAD/IE – UFMT; Brasília, DF: Plano, 2000.
SANTOS, Pricila K. Inclusão Digital de Professores: uma proposta de
construção de trajetórias personalizaveis em cursos na modalidade a
distância. 2012. 101f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de
Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2012.
TORI, Romero, Educação sem Distância, São Paulo, Senac, 2017.
VIANNEY, João, et al. Universidade virtual: um novo conceito na EAD. In:
MAIA, Carmem (org.)ead.br: experiências inovadoras em educação a
distância no Brasil: reflexões atuais, em tempo real. São Paulo: Editora
Anhembi Morumbi, 2003