Post on 02-Oct-2020
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A ENERGIA DETERNIMANDO A TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA
NA LINGUAGEM DA EVOLUÇÃO SISTÊMICA
Ivan Carlos Zampin1
Magda Adelaide Lombardo2
Fátima Bento de Oliveira3
1 Doutorando Pós-Graduação em Geografia Unesp, Rio Claro-SP; Professor. 2 Professora Doutora do Departamento de Planejamento – DEPLAN – Unesp – RC.
3 Professora: Português/Rede Estadual de Educação
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INTRODUÇÃO Neste trabalho é abordada a interpretação visual de várias questões
relacionadas com a ritimia, ou padrões existentes, que compreendem a
composição dos ecossistemas, considerando-se os fluxos de energias
dominantes e a interação vertical definida pela cadeia alimentar onde as energias
fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e
recolocação de nutrientes nos ecossistemas. Os ecossistemas são produtores de
energias, considerando que comandam os seus próprios fluxos de energia e
matéria, com a finalidade de transformação exercida pela natureza.
Com base nessa idéia geral, a imagem revela essa transformação em
linguagem compreensível aos olhos de quem a vê. Este trabalho tem a proposta
de realçar alguns pontos primordiais sobre a teoria dos sistemas, dando subsídios
para a compreensão do processo envolvido com o propósito de conservar e
preservar o meio ambiente através da análise dos ecossistemas. Assim se faz
uma análise e um debate sobre a evolução sistêmica onde são estabelecidas ou
levantadas várias características de geossistemas e ecossistemas, considerando
o clima que é o real fornecedor de energia para as transformações, de forma que
sua atuação repercute na quantidade de calor e água disponíveis, devido à
sazonalidade das estações do ano.
O recorte especial considerado constitui-se na área correspondente às
margens do Ribeirão Claro no município de Rio Claro – SP, evidenciando a
evolução sistêmica que está ocorrendo na vegetação do local, com base nas
relações temporal e espacial.
A forma pela qual ficam estabelecidas as argumentações está baseada nos
modelos, ou modelagem, condicionada aos balanços de massa e energia, onde
em Cristofoletti, (1999), p. 28, fica definido:
[...] Os sistemas ambientais funcionam como sistemas abertos, recebendo, transformando e transferindo inputs de matéria e energia. Na maior parte dos sistemas a consideração sobre o balanço de massa e energia não se torna relevante. Todavia, surgem categorias onde a conservação de massa ou da energia são significativas para o sistema. (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.28).
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Para a aplicação dos conceitos na análise deste pequeno trecho de mata
ciliar às margens do Ribeirão Claro é preciso considerar as relações entre
Ecologia e Energética, que são definidas ou descritas da seguinte forma: Ecologia
“pode assim ser descrita como sendo o estudo das inter-relações dentro de
ecossistemas” ou como Odum, 1959 prefere, “o estudo da estrutura e função da
natureza” e Energética “se refere às transformações da energia que ocorrem
dentro de ecossistemas”.
Considerando o seqüencial prático para essa análise do local,
primeiramente o espaço foi demarcado de forma perimetral em loco e definido, de
forma a estabelecer a obtenção de uma área para o estudo e verificação dos
fenômenos hidrogeomórficos e de ecologia vegetacional. Essa área tem
aproximadamente um hectare, ou seja, (10.000 m²), onde, a paisagem
estruturada realmente pode ser analisada e várias interpretações são possíveis,
dentro do contexto biogeográfico. A área, considerando seu tamanho tem sido
freqüentemente utilizada pela natureza como base para a modelagem dos
padrões de distribuição e riqueza de espécies, manipulando as funções internas
de um fragmento, como por exemplo, as variáveis microclimáticas e a forma de
seu solo. Interfere também nas taxas de ciclagem de nutrientes e também o
tamanho de agregados de propágulos para a colonização vegetal do local em
transformação natural. Esta constatação fica evidente para descrever a análise
sistêmica que está baseada na interpretação, segundo (AB SABER apud
RIBEIRO e LEITÃO FILHO, p. 19, 2000), que diz:
...Ocorrem, ainda, lagoas ou cicatrizes de meandros em locais de forte assoreamento biogênico. Por ocasião de grandes enchentes, além da floresta beiradeira pode-se perceber résteas descontínuas de matas correspondentes ao suporte ecológico de antigos diques marginais, interiorizados pelas divagações localizadas dos cinturões meandricos. Em setores laterais das várzeas, mais distanciados da faixa beira-rio e menos sujeitos a cheias e inundações, existem condições geoecológicas para o desenvolvimento de florestas de várzeas. Mesmo por observações fitofisionomicas rápidas pode-se inferir que tais matas diferem muito em termos de sua composição florística e de biomassa – das florestas que se estendem por colinas e morros. (AB SABER apud RIBEIRO e LEITÃO FILHO, p. 19, 2000).
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É notório na área de estudo que a partir da década de 1970, havia uma
formação de solos hidromórficos que no decorrer do tempo veio se modificando,
pela movimentação dos regimes hídricos do Rio, ou seja, a carga aluvial trazida
pelas correntezas em época das cheias foi sedimentando o referido local de
estudo, ficando claro que essa movimentação natural, acontecida no decorrer
desse tempo, mudou e está mudando a paisagem, ou seja, o solo e a vegetação
predominante.
A interpretação da imagem arremete-nos para a linguagem que está
relacionada às teorias de evolução sistêmica e o fator ou análise mais importante
neste contexto, para esta pesquisa, além da descrição geográfica do local é a
presença ou surgimento de uma nova vegetação compondo esse extrato arbóreo,
que acontece pela mudança de solo. Assim, a vegetação pioneira cede lugar,
provando que a energia aplicada nesse “sistema aberto” determina a
transformação da Natureza.
OBJETIVOS
Este trabalho tem por objetivos mostrar a interpretação da imagem através
da linguagem da evolução sistêmica que se apresenta existente no interior de um
espaço geográfico com vegetação densa de mata ciliar com exemplares de
extrato arbóreo fixado em solo hidromórfico, com folhas caducifólias e
perenifólias, que para esse processo são comuns nesse tipo de arranjo florestal.
Observar as atuações das energias aplicadas ao ambiente, tendo como
conseqüência ilimitados fatores causados pelo clima local, onde o mesmo
determinou e está determinando com o passar do tempo, somado a atuação da
geomorfologia fluvial ou regime hídrico do Rio, considerando carregamentos de
sedimentos advindos de áreas à montante e com a deposição dos mesmos nesse
determinado local na estação das cheias, causaram a mudança de características
do solo fazendo com que essa área esteja em constante evolução sistêmica, ou
seja, na serrapilheira que existe no local se acondicionam os elementos
hidrocóricos que também ali chegam pela influência do Rio passando a existir
uma competição de espécies, sobre-saindo, ou vindo a germinar no local aquelas
que possuem características condicionadas ao solo de origem sedimentar
depositado pelo Rio nesse local. Toda essa análise se dá partindo da imagem que
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mostra uma árvore mais antiga ambientada ao regime hidromórfico, ou seja, solo
extremamente saturado pela ação do lençol freático, cedendo espaço, ou lugar
para uma vegetação que está surgindo devido à mudança nas características de
solo, assim se observa que a troca de energia efetuada pelos fenômenos
naturais, que se aplicam nesse local com o passar do tempo fazem com que a
estrutura vegetacional se modifique.
METODOLOGIA
A análise efetuada a partir da imagem retratada para esse estudo é
definida como sendo um conteúdo de estudos teóricos estabelecidos por
investigação de literatura sobre o assunto, dessa forma são consultados diversos
autores envolvidos com essa linha de pesquisa. Para esse contexto a imagem
mostra uma linguagem que deve ser interpretada seguindo padrões estabelecidos
por diversas teorias relacionadas ao meio ambiente e especificamente à teoria
dos sistemas, evolução sistêmica, fenômenos geoecológicos e geossistêmicos,
envolvidos e diretamente ligados à existência de ecossistemas, onde esse
conceito foi proposto por Tansley (1935) como tendo o objetivo principal de:
... definir a unidade básica resultante da interação entre todos os seres vivos que habitam uma determinada área ou região, com as condições físicas ou ambientais que as caracterizam. Nessa proposição estabelecia-se que “o conceito fundamental de um sistema natural completo inclui, não unicamente o complexo orgânico, mas também os fatores físicos que conformam o que denominamos o hábitat ou meio ambiente. Não se pode separar as comunidades vivas do seu meio ambiente especial em que habitam”. (TANSLEY, 1935 apud CHRISTOFOLETTI, p. 35, 1999).
Para Odum (1971), sua definição de ecossistema diz que:
... é constituído por qualquer unidade que inclui a totalidade dos organismos em uma determinada área interagindo com o meio ambiente físico, de modo que um fluxo de energia promove a permuta de materiais entre os componentes vivos e abióticos. Nessa cadeia de interação com a relevância biológica, pode-se avaliar o fluxo de energia, o fluxo de nutrientes, a produtividade, a dinâmica da
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população, a sucessão, a biodiversidade, a estabilidade e o grau de modificações. É o campo da ação da Ecologia, que pode ser trabalhada, por exemplo, como ecologia das plantas, ecologia dos animais e ecologia humana. (ODUM, 1971 apud CHRISTOFOLETTI, p. 36, 1999).
No tocante a esse assunto, “os ecossistemas”, para Rowe (1961),
considera a definição de ecossistemas como:
... unidade topográfica, um volume de terra e ar mais o conteúdo orgânico estendido arealmente sobre uma parte particular da superfície terrestre durante um certo tempo. (ROWE, 1961 apud CHRISTOFOLETTI, p. 36, 1999).
Em conceituação mais completa e complexa, Bertrand (1972) define a
atuação dos geossistemas sobre os ecossistemas, assim geossistema é aquele
... situado numa determinada porção do espaço, sendo o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos, que fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. (BERTRAND, 1972 apud CHRISTOFOLETTI, p. 42, 1999).
Assim para Bertrand (1972) o geossistema
... resultaria da combinação de um potencial ecológico (geomorfologia, clima, hidrologia), uma exploração biológica (vegetação, solo e fauna) e uma ação antrópica, não apresentando, necessariamente, homogeneidade fisionômica e sim um complexo essencialmente dinâmico. Essa unidade abrange escala de alguns quilômetros quadrados a centenas de Km², podendo ser decomposta em unidades menores fisionomicamente homogêneas, representados pelos geofáceis e geótopos. O geofáceis, correspondendo a um setor fisionomicamente homogêneo que se sucede no tempo e no espaço no interior de um geossistema, possui também potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica, estando sujeito a biostasia e resistasia. (BERTRAND, 1972 apud CHRISTOFOLETTI, p. 42, 1999).
Nesse debate instituído pelos autores que estudaram o assunto fica muito
claro que os resultados de evolução sistêmica estão acontecendo devido à ação
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constante dos geossistemas sobre os ecossistemas. Mostrando que essa forma
de identificar os fatos pela imagem faz com que se descreva os acontecimentos
com base numa linguagem conceitual e concreta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado dessa análise destaca-se a linguagem da evolução
sistêmica. Os ecossistemas realmente estão em constante transformação pela
entrada de energia advindas da imposição dos geossistemas, considerando todas
as formas atuantes, ou seja, o clima, a geomorfologia, a hidrologia e contando
ainda em particular com a energia solar.
Um outro aspecto como resultado dessa discussão é que a temática de
evolução sistêmica tem papel fundamental para a elaboração de modelos
referentes aos sistemas ambientais, sendo legítimo o entendimento de que nos
estudos das mudanças ou transformações nos ecossistemas são de primordial
importância a relação entre a questão areal desse espaço geográfico e o
fenômeno temporal, essa variação é que determina o aspecto de velocidade
dessas transformações.
REFERÊNCIAS
CENTRO DE ESTUDOS E PLANEJAMENTO AMBIENTAL - CEAPLA, Mapas da Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, SP, Rio Claro: UNESP. RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. de F. (Ed.). Matas Ciliares: conservação e Recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 2000. BERTALANFFY, L von., Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p. BERTRAND, G., Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de ciências da terra, São Paulo, n 13, 1972, 27p. CHRISTOFOLETTI, Antonio, Modelagem de Sistemas Ambientais. 1ª edição, São Paulo, Edgard Blücher, 1999. ODUM, E.P., Fundamentals of Ecology, 2ª edição. W.B. Saunders Co., Filadélfia. 1959.