Post on 26-Jun-2020
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Ciências da Comunicação Vinte Anos de Investigação em Portugal
Teresa Antas de Barros; Sónia Ferreira; Paula Lobo;
Salomé Morais; Paula Rodrigues; Filomena Sobral; Luís
Sousa
978-989-99840-4-2 Viseu, 2019 © O conteúdo desta obra está
protegido por Lei. Qualquer forma de reprodução, distribuição,
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998 páginas
Paula Rodrigues
Pedro Araújo
SOPCOM / Instituto Politécnico de Viseu
Título |
Editores |
ISBN |
eBook |
Design |
Paginação |
Edição |
ii
COMISSÃO CIENTÍFICA
Paulo Serra | Presidente do Congresso
Ana Catarina Pereira – Universidade da Beira Interior Ana Lúcia Terra – Instituto Politécnico do Porto Anabela Gradim – Universidade da Beira Interior António Bento – Universidade da Beira Interior Carlos Camponez - Universidade de Coimbra Catarina Moura – Universidade da Beira Interior César Neto – Instituto Politécnico de Lisboa Elsa Costa e Silva – Universidade do Minho Felisbela Lopes – Universidade do Minho Filipa Subtil – Instituto Politécnico de Lisboa Filomena Sobral – Instituto Politécnico de Viseu Francisco Mesquita – Universidade Fernando Pessoa Gisela Gonçalves – Universidade da Beira Interior Helena Lima – Universidade do Porto Helena Pires – Universidade do Minho Jorge Martins Rosa – Universidade Nova de Lisboa Jorge Pedro Sousa – Universidade Fernando Pessoa
José Gomes Pinto – Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias Luís Bonixe – Instituto Politécnico de Portalegre
Luís Nogueira – Universidade da Beira Interior Luís Nuno Sousa – Instituto Politécnico de Viseu Madalena Oliveira – Universidade do Minho Manuel Cunha – Universidade Católica Portuguesa Margarida Toscano – Rede de Bibliotecas Escolares Maria da Luz Correia – Universidade dos Açores Nuno Moutinho – Universidade do Porto Óscar Mealha – Universidade de Aveiro Patrícia Teixeira – Universidade Fernando Pessoa Paula Espírito Santo – Universidade de Lisboa Paula Lobo Ramalhão – Instituto Politécnico de Viseu Pedro Coutinho Simões – Instituto Politécnico de Viseu Pedro Jerónimo – Instituto Miguel Torga Salomé Morais – Instituto Politécnico de Viseu
Teresa Ruão – Universidade do Minho
Vânia Baldi – Universidade de Aveiro
iii
COMISSÃO ORGANIZADORA
Teresa Antas de Barros | Coordenadora
Ana Mafalda Portas Matias – Instituto Politécnico de Viseu Belmiro Rego – Instituto Politécnico de Viseu Catarina Rodrigues – Instituto Politécnico de Viseu Cristina Azevedo Gomes – Instituto Politécnico de Viseu Filipa Pereira – Instituto Politécnico de Viseu Ivone Ferreira da Silva – Instituto Politécnico de Viseu João Paulo Balula – Instituto Politécnico de Viseu Luísa Paula Fernandes Augusto – Instituto Politécnico de Viseu Madalena Oliveira – Universidade do Minho Nuno Moutinho – Universidade do Porto Paula Rodrigues – Instituto Politécnico de Viseu Paulo Pinto da Silva – Instituto Politécnico de Viseu Paulo Serra – Universidade da Beira Interior Sónia Ferreira – Instituto Politécnico de Viseu Teresa Gouveia – Instituto Politécnico de Viseu
iv
ÍNDICE
PREFÁCIO ............................................................................................................................................ 1
G.T. 1 - CIBERCULTURA 7
BRUNO VIANA, JOÃO FAUSTINO E PAULO COSTA
AS REPRESENTAÇÕES DO BRASIL NOS MEDIA ONLINE PORTUGUESES: UM
PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE DOUTORAMENTO ................................................................ 8
BRENO SCAFURA
A MONETIZAÇÃO DO CULTO: UMA REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
DAS COMUNIDADES DE FÃS NOS MEDIAS DIGITAIS E SUAS INTERFACES COM A
ECONOMIA CRIATIVA .................................................................................................................. 21
RICARDO SOUZA E JOSILÉIA KIELING
O @MOR MIDIATIZADO: UMA ANÁLISE SOBRE A FORMA COMO AS PESQUISAS
APREENDEM A MIDIATIZAÇÃO DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS .............................. 38
MARIA CENTENO E HELENA PINA
AS PLATAFORMAS MUSEOLÓGICAS DIGITAIS E A CULTURA DE PARTICIPAÇÃO ............. 52
G.T. 2 - CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO 65
FERNANDA RIBEIRO E ARMANDO SILVA
A INFOCOMUNICAÇÃO COMO PROJETO COMUM DE DIÁLOGO E PRÁTICA ....................... 66
RAIMUNDA RIBEIRO, LÍDIA OLIVERIA E CASSIA FURTADO
FERRAMENTAS INFOCOMUNICACIONAIS EM AMBIENTES DE ENSINO E
INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO
BRASIL ........................................................................................................................................... 77
ISABEL DINIZ, ANA ALMEIDA E CASSIA FURTADO
ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL: DESAFIOS E OPORTUNIDADES DAS
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS BRASILEIRAS E PORTUGUESAS ........................................ 95
ANA TERRA
A GESTÃO DA INFORMAÇÃO PESSOAL E AS COMPETÊNCIAS
INFOCOMUNICACIONAIS .......................................................................................................... 113
PEDRO AMADO E RITA ALBUQUERQUE
DESIGN E DESENVOLVIMENTO DE UM PROTÓTIPO DE BAIXO CUSTO DE
AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE LEITURA ........................................................................... 124
v
RITA MAIA
UM MUSEU DIGITAL COMUNITÁRIO COMO UMA ESTRATÉGIA DE AMPLIAÇÃO DE
TERRITÓRIO SIMBÓLICO NO CIBERESPAÇO PELO POVO NEGRO DO ILÊ AIYÊ .............. 133
JULIANA LOBO E MARIA ANTUNES
A PLATAFORMA DIGITAL COLABORATIVA COMO REPOSITÓRIO DE PRESERVAÇÃO
DA MEMÓRIA CULTURAL: O CASO DO FESTIVAL GUARNICÊ DE CINEMA ........................ 141
G.T. 3 - COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 157
CRISTINA PONTE, JOSÉ SIMÕES, TERESA CASTRO E SUSANA BATISTA
MEDIAÇÕES PARENTAIS NO USO DE MEIOS DIGITAIS POR CRIANÇAS DE 3-8 ANOS .... 158
ANA OLIVEIRA
HÁBITOS DE CONSUMO MEDIÁTICO E NOVOS LÍDERES DE OPINIÃO – AS REDES
SOCIAIS E A REDEFINIÇÃO DE PAPÉIS .................................................................................. 169
G.T. 4 - COMUNICAÇÃO E POLÍTICA 188
ANNA COUTINHO
O CARTAZ É UMA ARMA! UM ESTUDO DA PRODUÇÃO CARTAZÍSTICA DO MRPP,
ENTRE 1974 E 1976 .................................................................................................................... 189
ANELISA MARADEI
COMUNICAÇÃO NO TWITTER EM MOMENTOS DE PROTESTO: DELIBERAÇÃO
EFETIVA OU DEBATES DISPERSOS? ...................................................................................... 205
SARA CALADO
A COBERTURA DA CAMPANHA ELEITORAL PARA AS PRESIDENCIAIS 2016 NO
TELEJORNAL DA RTP1 .............................................................................................................. 221
FELIPE SOARES
INFLUENCIADORES NA CIRCULAÇÃO DE INFORMAÇÕES E OPINIÕES NAS MÍDIAS
SOCIAIS: ANÁLISE DE DUAS REDES DO TWITTER ............................................................... 239
G.T. 5 - COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL 252
VICTOR THEODORO, CAMILA BARTHS E GISELA GONÇALVES
VINTE ANOS DE INVESTIGAÇÃO EM PORTUGAL: ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA ÀS ATAS
DO GT COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL DA SOPCOM ..................... 253
MAFALDA EIRÓ-GOMES, ANA RAPOSO E CÉSAR NETO
SETE ANOS DE INVESTIGAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS - PERCURSOS DO
vi
PRIMEIRO MESTRADO EM GESTÃO ESTRATÉGICA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS EM
PORTUGAL .................................................................................................................................. 268
ANABELA MATEUS
O CONHECIMENTO EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E EM RELAÇÕES
PÚBLICAS NO BRASIL E EM PORTUGAL: DISTINTAS REALIDADES .................................... 284
ANA MARCELO E ANA DÍAZ
ON-LINE BRANDING: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE DESIGNERS DE MODA
PORTUGUESES .......................................................................................................................... 304
ANGÉLICA DIAS E ANA MELO
AS MARCAS SEM FINS LUCRATIVOS COMO INSTRUMENTOS IMPULSIONADORES
DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS .................................................................... 321
CAMILA BARTHS, VICTOR THEODORO E GISELA GONÇALVES
PROCESSO COMUNICACIONAL EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE
AS RELAÇÕES DE PODER ........................................................................................................ 336
VANESSA SOUZA
IDENTIDADES PLURAIS, VISÃO SINGULAR A GESTÃO DA COMUNICAÇÃO
INTERCULTURAL EM EQUIPES DE PROJETOS VIRTUAIS .................................................... 346
DANIELA FONSECA E JOSÉ MATOS
A COMUNICAÇÃO INTERNA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: O CASO DA
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO – UTAD ........................................ 355
G.T. 6 - CULTURA VISUAL 374
MELISSA DOS SANTOS E RITA SILVA
MUSEU VIRTUAL DOS GRAFFITI FEITOS POR MULHERES EM SALVALDOR .................... 375
CIBELE MENDES E MILENA MATOS
CULTURA VISUAL EM LISBOA - A CANTARIA DE LIOZ NO CEMITÉRIO DOS
PRAZERES .................................................................................................................................. 387
G.T. 7 - ECONOMIA E POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO 400
JAIRO COELHO
OS PROVEDORES DA RTP E SEUS DISCURSOS: ONZE ANOS DE PRODUÇÃO
MEDIÁTICA E ADMINISTRATIVA ............................................................................................... 401
FERNANDO PAULINO E VIVIANE BROCHARDT
DIREITO À INFORMAÇÃO SOBRE AGROTÓXICOS E O PARA 2015 ..................................... 419
vii
G.T. 8 - ESTUDOS FÍLMICOS 435
MARTA ALVES
A DIGITALIZAÇÃO DO CINEMA E A EMERGÊNCIA DO CINEMA PRO-AM ............................ 436
INÊS COELHO
AUTHOR, WHERE ART THOU? ................................................................................................. 452
ANA PEREIRA
CINEMA DE MULHERES: BREVES PROPOSTAS DE ANÁLISE FÍLMICA .............................. 466
ANNA SALUSTIANO
O CANDOMBLÉ NAS LENTES DO FILME BARRAVENTO, DE GLAUBER ROCHA (1962) .... 480
HELENA SANTANA E MARIA SANTANA
O APÓSTOLO DE FERNANDO CORTIZO: COMO A MÚSICA SE EXPRESSA IMAGEM] ...... 489
G.T. 9 - ESTUDOS TELEVISIVOS 502
CARLOS CANELAS, JORGE ABREU E JACINTO GODINHO
AS CONSEQUÊNCIAS DE OS JORNALISTAS DA SIC EDITAREM EM VÍDEO
CONTEÚDOS INFORMATIVOS .................................................................................................. 503
VANDA FERREIRA E MARIA TABORDA
HIBRIDIZAÇÃO E TABLOIDIZAÇÃO DOS TELEJORNAIS: ANÁLISE SISTEMÁTICA DOS
TELEJORNAIS DE HORÁRIO NOBRE PELO REGULADOR DE MEDIA (2008-2016) ............. 514
G.T. 10 - GÉNERO E SEXUALIDADES 529
MANUELA RIBEIRO E CIBELE MENDES
GÊNERO, ESPETÁCULO E COMUNICAÇÃO: ENTRE O CABOCLO E A CABOCLA DO
DOIS DE JULHO .......................................................................................................................... 530
VERA MARTINS E ROSANE ROSA
AS MULHERES (RE) NOMEIAM O MUNDO: ALGO DE FEMINISMOS NAS REDES
SOCIAIS NA INTERNET .............................................................................................................. 541
ANTÓNIO PENA
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA CONSEGUIR ENVELHECIMENTO COM
QUALIDADE DE VIDA.ATIVIDADES FÍSICAS, CULTURAIS E SOCIAIS – O “EU” E O
“OUTRO” – VALORIZAÇÃO DO PRAZER SEXUAL .................................................................. 555
viii
G.T. 11 - HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO 573
JORGE SOUSA
SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DAS ORIGENS DO JORNALISMO ICONOGRÁFICO EM
PORTUGAL: REVISTAS ILUSTRADAS, GRAVURA E FOTOGRAFIA (1835-1914) ................. 574
FERNANDO STRONGREN
TRIBUNA DO POVO E O JORNALISMO ANARQUISTA NO INTERIOR DO BRASIL
(1916-1917) ................................................................................................................................. 600
HELENA LIMA E OLÍVIA PESTANA
A PERDA DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS NA ÍNDIA. ENQUADRAMENTOS
NOTICIOSOS NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS E JORNAL DO COMÉRCIO ..................................... 615
MARCO GOMES
O JORNALISMO ITALIANO NOS ANOS 70: LIBERDADE DE IMPRENSA, PROCESSOS
DE CONCENTRAÇÃO E NOVAS PRÁTICAS DISCURSIVAS ................................................... 625
G.T. 12 - JORNALISMO E SOCIEDADE 641
ANA FONSECA E INÊS AMARAL
DO TRADICIONAL ESPAÇO PÚBLICO AO “NOVO” DIGITAL: A APROPRIAÇÃO PELA
AUDIÊNCIA NOS MEIOS DIGITAIS. PARA UM ESTUDO DO PANORAMA PORTUGUÊS ..... 642
FRANCISCO VERRI E ÉBIDA SANTOS
O ENQUADRAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL EM PORTUGAL E NO BRASIL: UMA
ANÁLISE DO CORREIO DA MANHÃ (PT) E DA FOLHA DE S. PAULO (BR) ........................... 650
ANDREIA FREITAS, ANA SILVA E SUSANA AMANTE
RE[A]PRESENTAÇÕES DO JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO NA VOZ DOS
PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 663
BÁRBARA AVRELLA E BEATRIZ DORNELLES
AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA NO CONTEXTO LOCAL-REGIONAL:
UM ESTUDO COMPARATIVO DO BRASIL E PORTUGAL ....................................................... 684
NELSON OLIVEIRA, LUÍSA CAMPOS, MARIA NEVES, MARIA RIBEIRO E MARIA BARBOSA
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA IMAGEM DO OUTRO NA IMPRENSA REGIONAL: OS
REFUGIADOS NO DISCURSO DE DOIS DOS MAIS REPRESENTATIVOS JORNAIS DA
BEIRA INTERIOR ....................................................................................................................... 697
JÚLIA BARROS E JOÃO JÚLIA BARROS E JOÃO ROCHA
ELEIÇÕES DE CABO VERDE: DA LUSA ÀS REDACÇÕES ..................................................... 712
JÚLIO PINTO
A TIPOGRAFIA NA WEB, CASO DE ESTUDO NOS JORNAIS ONLINE PORTUGUESES ...... 726
ix
G.T. 13 - PUBLICIDADE 740
ANTÓNIO ROSA
UMA TIPOLOGIA DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO ...................................................................... 741
PAULO SILVA, CLÁUDIO SEABRA E ISABEL CUNHA
SMARTPHONES: O SISTEMA NERVOSO DA COMUNICAÇÃO LÍQUIDA ............................... 757
EDUARDO BORBA, MARCELO ZUFFO E FRANCISCO MESQUITA
ESTUDOS DA PUBLICIDADE EXTERIOR: DO CARTAZ CAMALEÓNICO À REALIDADE
VIRTUAL ...................................................................................................................................... 776
ANA MARQUES E JOSÉ ANDRADE
O PROCESSO DE DEBRANDING: ESTUDO DE CASO DO BANCO PORTUGUÊS CAIXA
GERAL DE DEPÓSITOS ............................................................................................................. 785
ANABELA GRADIM E RICARDO MORAIS
PERCEPÇÃO DA TRANSGRESSÃO EM PUBLICIDADE ......................................................... 797
G.T. 14 - RÁDIO E MEIOS SONOROS 802
MAURO MAIA
RÁDIO E MEIOS SONOROS EM PORTUGAL E NO BRASIL: ORIGENS E
ABORDAGENS DAS PESQUISAS ............................................................................................. 803
BÁRBARA AVRELLA E THUANNY CAPPELLARI
O CASO JBS: UMA ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO NO JORNALISMO OPINATIVO
NO RÁDIO .................................................................................................................................... 817
MARIA ANTUNES E RAMÓN SALAVERRÍA
UCCTUNES: ANÁLISE AOS PODCASTS DE ÁUDIO CRIADOS PELOS UTILIZADORES
PORTUGUESES E DISPONIBILIZADOS NO ITUNES ............................................................... 832
JÉSSICA OLIVEIRA
TENDÊNCIAS DE DIVULGAÇÃO DE CONTEÚDOS RADIOFÓNICOS NAS
PLATAFORMAS DIGITAIS: O CASO DA M80 RÁDIO .............................................................. 842
G.T. 15 - RETÓRICA 832
FRANCISCA AMORIM
A RETÓRICA – DISCIPLINA DOS ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: UMA REFLEXÃO
SOBRE A RETÓRICA NO PANORAMA ACADÉMICO PORTUGUÊS ....................................... 861
JOSÉ DOMINGUES
RETÓRICA ................................................................................................................................... 876
x
HADASSA DAVID
A TEORIA DE CHOMSKY E A LÓGICA DA PROPAGANDA ..................................................... 886
G.T. 16 - SEMIÓTICA 900
MANUEL ALBINO
A GEOMETRIA COMO EXPRESSÃO ......................................................................................... 901
SAMUEL MATEUS
DA PERSUASÃO ARGUMENTATIVA À PERSUASÃO SEDUTORA ......................................... 916
MANUEL ALBINO
PROPOSTA DE UM META-SISTEMA ROBUSTO E SINTÉTICO DE ANÁLISE
SEMIÓTICA DE SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO ................................................................ 926
PRISCILA KROLOW
ANÁLISE DO DISCURSO DE FELICIDADE DA INFLUENCIADORA DIGITAL GABRIELA
PUGLIESI #AVIDAEMARA .......................................................................................................... 939
G.T. 17 - TURISMO E TERRITÓRIO 952
PATRÍCIA PINTO, ANA MATIAS E TERESA BARROS
CONTRIBUIÇÕES DO MARKETING TERRITORIAL PARA AS ESTRATÉGIAS DAS
SMART CITIES: O CASO DA CIDADE DE VISEU ..................................................................... 953
LUÍSA AUGUSTO E SARA SANTOS
CIDADES E TERRITÓRIOS: O DIALOGISMO DAS AUTARQUIAS E O ENVOLVIMENTO
DOS PÚBLICOS ONLINE ........................................................................................................... 967
1
PREFÁCIO
Paulo Serra
Presidente da Direção da Sopcom
1.
Publicam-se, agora, as Atas do X Congresso da Sopcom – Associação Portuguesa
de Ciências da Comunicação, que teve lugar em Viseu nos dias 27 a 29 de novembro de
2017, subordinado ao tema “Ciências da Comunicação: Vinte anos de investigação em
Portugal”.
A justificação do tema do Congresso parece mais ou menos óbvia: celebrando a
Sopcom, em 2017, os seus vinte anos de existência, teria todo o sentido desafiar os
congressistas a desenvolverem uma reflexão simultaneamente retrospetiva e prospetiva
acerca do campo das Ciências da Comunicação em Portugal no decurso dessas duas
décadas.
Como procurámos mostrar noutro texto (Serra, 2017), ao longo desse período as
Ciências da Comunicação afirmaram-se, em Portugal, como um campo autónomo de ensino
e de investigação em relação às disciplinas que (entre nós e não só) estiveram na sua
origem, nomeadamente a Sociologia e a Filosofia. Assim, para além dos novos cursos de
graduação e pós-graduação que foram sendo criados um pouco por todo o país, foram
criados centros de investigação que, a partir de 2003, passaram a ser avaliados pela FCT
em painéis específicos da área, tendo nesse ano sido avaliados 8 centros, 5 deles pela
primeira vez. Ao mesmo tempo, a partir de 1999, ano de publicação do primeiro número da
Comunicação e Sociedade pelo Centro de Estudos de Comunicação da Universidade do
Minho, verifica-se a criação de várias revistas científicas, que assim se juntam à Revista de
Comunicação e Linguagens para perfazer as cerca de duas dezenas que atualmente
existem, das quais quatro se encontram indexadas na Scopus (Comunicação e Sociedade,
Estudos em Comunicação, Media & Jornalismo e Observatorio (OBS*)). A própria Sopcom
projetou-se em termos nacionais e internacionais, tornando-se parceira de instituições como
o Observatório da Comunicação (OberCom), a Associação Portuguesa de Sociologia (APS),
o Sindicato de Jornalistas, a Asociación Española de Investigación de la Comunicación (AE-
IC), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a
Asociación Galega de Investigadores en Comunicación (Agacom), a Associação Cabo-
verdiana de Ciências da Comunicação (Mediacom), ou a Associação Moçambicana de
2
Ciências da Informação e da Comunicação (Acicom), com algumas das quais integra
federações como a Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom) ou a
Confederação Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
(Confibercom), participando ainda os seus investigadores em grupos de trabalho e estruturas
diretivas de associações como a ECREA, o IAMCR ou a ICA. Ao nível interno da Sopcom,
os seus Grupos de Trabalho (GT) foram também evoluindo ao longo dos anos, criando-se
uns, extinguindo-se outros, mantendo-se no X Congresso apenas seis dos dezassete que
estiveram presentes no I Congresso, que teve lugar em Lisboa em 1999.
Quanto à escolha da cidade de Viseu para a realização do X Congresso ela surgiu,
por um lado, da vontade expressa pelos docentes, investigadores e responsáveis da Escola
Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu, que asseguraram todas as
condições necessárias para o efeito e, por outro lado, da intenção assumida da Direção da
Sopcom de contrariar a tendência que entre nós marca (também) a realização dos
congressos científicos, quase sempre em Lisboa ou noutras cidades do litoral. Para além
disso, Viseu é neste momento uma cidade em franco desenvolvimento, que aposta
decididamente na qualidade de vida e na cultura e que, assim, faz jus ao seu passado de
local de muitos povos e culturas, da pré-história aos dias de hoje.
2.
Pode-se perguntar se, num tempo em que as ciências em geral privilegiam a
publicação de artigos em revistas indexadas e se desvaloriza os congressos e as atas como
forma de comunicação entre cientistas, estes últimos ainda podem ter um sentido que não
meramente estatutário e ritual – ou, na pior das hipóteses, turístico. A nossa resposta, a esta
questão, é claramente afirmativa.
É um facto que, com a publicação das primeiras revistas cientificas, em 1665 (Journal
des Sçavants e Philosophical Transactions), e a proliferação das mesmas a partir do século
XIX, a revista científica vai tornar-se, progressivamente, a forma dominante de comunicação
entre cientistas, substituindo nesse papel as cartas eruditas e os próprios livros (Kronick,
1962, pp. 5-6; Garfield, 1980, p. 394).
No entanto, é de notar que muitas dessas revistas aparecem ligadas a academias e
sociedades científicas - é o caso da própria Philosophical Transactions, ligada à Royal
Society of London – que, entre outras coisas, garantem a credibilidade do conteúdo e da
autoria, muitas vezes anónima, dessas publicações (Kronick, 1978). Irá surgir mesmo um
tipo de revistas que Kronick identifica como “atas de sociedades” (society proceeedings),
resultantes da apresentação oral ou escrita e da discussão de trabalhos dos membros das
3
sociedades nos encontros mais ou menos regulares das mesmas – e cujo primeiro exemplo
claramente identificável será, segundo o mesmo autor, a Saggi di Naturali Esperienze,
publicada pela Accademia del Cimento em Florença, em 1666-67 (Kronick, 1962, pp. 110-
148).
Quanto aos objetivos dessas reuniões associativas regulares, que emergem pelos
finais do século XVII, elas visavam permitir aos cientistas “fomentar a investigação e/ou
comunicar os seus resultados uns aos outros e ao mundo em geral” e, deste modo, escapar
ao “conservantismo e tradições desgastadas” que caracterizavam as universidades
medievais (Garrison, 1934, pp. 293-4). É nesse contexto que surgem, também, os
congressos científicos, sendo que o primeiro Congresso Médico “foi realizado por 46
médicos de Roma, reunidos todas as segundas-feiras entre 10 de março de 1681 e 8 de
junho de 1682” (Garrison, 1934, p. 294).
Assim, podemos constar que nos tempos iniciais da ciência moderna, nos séculos
XVII e XVIII, revistas e “congressos” coexistem e articulam-se, numa lógica de
complementaridade, no contexto das associações científicas. Foi sobretudo já no decurso
do século XIX que, ao privilegiar o laboratório e o artigo cientifico, a comunicação entre
cientistas subvalorizou o papel das conferências científicas e dos artigos em conferências
(conference papers), esquecendo que estes podem assumir um papel complementar
daqueles na “criação e manutenção de redes cientificas” (Rowley-Jolivet, 1999, § 3).
A este respeito, pode-se mesmo afirmar que “há uma relação simbiótica entre
laboratórios e conferências” (conferences), e isso no que se refere quer aos inputs quer aos
outputs de uns e outras. Assim, o laboratório é essencial para alimentar a conferência com
resultados, métodos e problemas; a conferência é, por sua vez, uma forma de o laboratório
ganhar visibilidade e reconhecimento na comunidade científica de um determinado campo,
bem como de estabelecimento de contactos e redes nacionais e internacionais de que muito
pode beneficiar (Rowley-Jolivet, 1999, § 8-9). Para além disso, as conferências e as redes
científicas que elas alimentam contribuem para “alargar a cultura científica dos
participantes”, contrariando a tendência para uma especialização cada vez mais estreita e,
ainda, para “reforçar a coesão social no seio da comunidade de discurso” (Rowley-Jolivet,
1999, § 10).
3.
Voltemo-nos, agora, especificamente para os congressos científicos.
De acordo com os dicionários da língua, a palavra congresso vem do latim
congressus, e significa “encontro, reunião”. A palavra latina derivará, por sua vez, de
4
congredi, significando “caminhar com”. O congresso científico é, deste modo, um caminhar
com o outro e ao encontro do outro.
Ao eleger a reunião e o encontro como forma de comunicação, o congresso contrasta
com outras formas de comunicação científica, umas mais tradicionais, outras mais recentes.
Assim, e ao contrário da tradicional lição, que também se carateriza pela reunião e pelo
encontro, o congresso acentua o diálogo e a discussão entre o que transmite e o que recebe,
fazendo com que um e outro se confundam em ambos os papéis. Ao contrário do artigo ou
do livro, que se caraterizam pela comunicação escrita e afastada no espaço e no tempo, o
congresso acentua a resposta imediata e potencialmente mais completa.
Sendo um encontro simultaneamente dialogante e agonístico entre cientistas, o
congresso não se limita à transmissão, partilha e discussão do saber - ele contribui, também,
para o seu aumento, abrindo novas perspetivas e novas direções em relação ao que já se
sabe e ao que há para saber.
Para isso, o congresso – o encontro, a reunião – exige tempo. Nessa medida, ele
está mais do lado da slow science do que da fast science, desta ciência que foi “mobilizada”
a partir do século XIX (Stengers, 2013) e que tende a privilegiar a publicação em revistas
científicas, em geral em língua inglesa, com o maior fator de impacto possível e, idealmente,
com mais rapidez que os restantes investigadores/competidores.
Por isso mesmo, apesar do papel que os meios de comunicação online têm vindo a
assumir nos últimos anos na comunicação em geral e na comunicação científica em
particular, o congresso em presença parece ter ainda futuro, pelas vantagens que só o
contacto físico entre cientistas pode trazer, nomeadamente nos espaços e tempos mais
sociais e mais informais deste tipo de eventos (Sohn, 2018).
Esse contacto permite, para além da apresentação e discussão mais completas de
resultados, métodos e problemas, possibilidades como “o networking, a transferência de
conhecimento e o desenvolvimento da carreira” (Zierath, 2016, p. 1155), ou “o brainstorming,
o networking e o estabelecimento de conexões vitais que podem levar a novas iniciativas,
documentos e financiamento” (Oester, Cigliano, Hind-Ozan e Parsons, 2017, p. 1), e que os
meios de comunicação online não permitem por si sós.
Deste modo, não é apenas de saber – da sua partilha e do seu desenvolvimento –
que se trata nos congressos. Trata-se, também, de à volta desse saber, a pretexto dele, os
cientistas de um determinado campo se construírem como (consciência de) comunidade,
uma característica da ciência cuja importância foi há muito enfatizada por autores como
Charles Sanders Peirce, Robert Merton, Michael Polanyi ou Thomas Kuhn.
5
4.
Mas um congresso não permanece – não pode permanecer - apenas nas memórias
dos seus conferencistas e participantes.
E isso não só porque, como diziam os romanos, “Verba volant, scripta manent”, mas
também porque uma coisa é falar, outra é escrever.
Com efeito, longe de ser uma espécie de materialização ou corporização de um
pensamento que lhe seria preexistente, a escrita ensina-nos o nosso próprio pensamento.
Assim, a afirmação de Merleau-Ponty de que “há uma significação ‘linguageira’ da linguagem
que realiza a mediação entre a minha intenção ainda muda e as palavras, de tal modo que
minhas palavras me surpreendem a mim mesmo e me ensinam o meu pensamento”
(Merleau-Ponty, 1960/1991, p. 94) ganha ainda mais sentido quando a aplicamos à palavra
escrita, sobretudo quando aquilo que escrevemos resulta não só do que nós pensámos mas
também do que os outros pensaram sobre o que nós pensámos, da nossa reposta a isso,
enfim, do diálogo e da discussão.
Neste sentido, podemos considerar que o artigo apresentado numa conferência
científica se situa a meio caminho entre a conversa e o artigo cientifico: não sendo tão
informal como a primeira, ele não é, no entanto, tão estruturado e definitivo como o segundo
– é, na sua essência, um texto experimental que precisa de ser confrontado com a prova do
que lhe é diferente e mesmo contrário (Rowley-Jolivet, 1999): a prova da discussão, primeiro,
a prova da escrita para as atas, depois.
As presentes Atas constituem, em nosso entender, um verdadeiro exemplo dessa
dupla prova. As suas cerca de mil páginas permitem apenas antever o imenso labor que
antes, durante e depois do congresso coube aos autores dos diversos textos. Esse labor
não se restringe, contudo, aos autores propriamente ditos – já que, como refere Chartier
(1994, p. 17), “os autores não escrevem livros: não, eles escrevem textos que se tornam
objetos escritos, manuscritos, gravados, impressos e, hoje, informatizados”. O mesmo é
dizer que os livros implicam a mediação de muitos outros “autores” para além dos autores
propriamente ditos - os editores, os revisores, os programadores, os distribuidores, etc. –
sem os quais o livro não poderia existir, e que também contribuem para lhe imprimir
determinadas formas, conteúdos e sentidos.
Pelo labor desses outros “autores” cabe, mais uma vez, uma palavra de
agradecimento aos docentes, investigadores e responsáveis da Escola Superior de
Educação do Instituto Politécnico de Viseu que, em devido tempo, se propuseram o desafio
de organizar o X Congresso da Sopcom.
6
Referências
Chartier, R. (1994). A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
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7
G.T. 1
- CIBERCULTURA
8
AS REPRESENTAÇÕES DO BRASIL NOS MEDIA ONLINE PORTUGUESES: UM
PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE DOUTORAMENTO
REPRESENTATIONS OF BRAZIL IN THE PORTUGUESE ONLINE MEDIA: A
DOCTORAL RESEARCH PROJECT
Bruno César Brito Viana1 João Paulo de Jesus Faustino2
Paulo Frias da Costa3
Resumo
As relações histórico-culturais e afetivas entre Brasil e Portugal são bem mais complexas do que aparentam. São dois povos unidos não somente pela ancestralidade luso-brasileira, mas por uma história em comum, pela cultura e pela língua portuguesa, um elo que nunca se perderá. Este documento traz o esboço de uma investigação cujo foco está na análise comparativa das representações simbólicas sobre o Brasil utilizadas em quatro jornais online portugueses: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã e Jornal de Notícias. A análise se concentrará nas notícias produzidas durante todo o ano de 2016, período de realização das Olimpíadas, do impeachment da ex-Presidente da República, bem como de crises políticas e económica. O estudo pretende investigar quais as representações/imagens sobre o Brasil foram propagadas pelos quatro periódicos, por meio de suas produções noticiosas publicadas em suas versões online; com foco nas práticas discursivas e rotinas jornalísticas utilizadas pelos jornais na construção da notícia sobre o Brasil. A investigação proposta se trata de uma pesquisa histórico-descritiva, de mJtodo hipotético-dedutivo, com abordagem de métodos mistos: qualitativa-quantitativa.
Abstract
The historical-cultural and affective relations between Brazil and Portugal are much more complex than they seem. They are two peoples united not only by Luso-Brazilian ancestry, but by a common history, by the culture and the Portuguese language, a link that will never be lost. This document presents the outline of an investigation that focuses on the comparative analysis of the symbolic representations about Brazil used in four Portuguese online newspapers: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã and Jornal de Notícias. The analysis will focus on the news produced throughout the year 2016, the period of the Olympics, the impeachment of the former President of the Republic, as well the political and economic crises. The study intends to investigate which representations / images on Brazil were propagated by the four newspapers, through their news productions published in their online versions; focusing on the discursive practices and journalistic routines used by the newspapers in the construction of news about Brazil. The proposed research is a historical-descriptive research, of hypothetical-deductive method, with approach of mixed methods: qualitative quantitative.
1 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: brvuno.viana@gmail.com. 2 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: faustino.paulo@gmail.com. 3 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: paulofriascosta@gmail.com.
PALAVRAS-CHAVE Brasil, jornalismo, Internet, Portugal, representação.
KEYWORDS Brasil, journalism, Internet, Portugal, representation
9
Introdução
As representações do Brasil em Portugal começaram ainda em 1500, com o achado,
na época, de um Novo Mundo. A outrora América portuguesa teve início enquanto uma
construção social e histórica europeia (Chauí, 2000). Tal feito culminou no surgimento do
que hoje é o Brasil, a maior nação lusófona do mundo.
Desde então, Brasil e Portugal compartilham uma história, língua e cultura em
comum. As representações continuaram ao longo do tempo e no intuito de aprofundar o
entendimento das relações bilaterais entre os dois países lusófonos, bem como, da própria
história em conjunto e da formação do povo brasileiro, torna-se necessário investigar as
representações simbólicas atuais. É interessante perceber se há representações que se
mantiveram nestes 517 anos e quais as representações contemporâneas se verificam. Com
uma relação e história tão peculiar, a outrora colónia e metrópole mantém atualmente
relações privilegiadas, sendo o Brasil um tema bastante presente nos media portugueses.
Para além disto, o Brasil se tornou um país emergente, que tem conquistado espaço
de liderança económica, sendo atualmente a nona maior economia global, segundo o World
Bank (2017). Recentemente foi sede das Olimpíadas de 2016 e também da Copa do Mundo
de 2014. Também tem sido protagonista de graves crises no âmbito político e económico,
tendo ainda o ano de 2016 sido emblemático pelo agravamento das crises e que culminou
no impeachment da ex-presidente da República, Dilma Rousseff. Neste sentido delimitou-se
o ano de 2016 como recorte temporal para os objetivos deste estudo.
Para Silverstone (2002), investigar os media é encará-los como um processo de
mediação de significados, que transitam entre os limites da representação e da experiência.
Soma-se a isso o facto de que a formação da identidade do povo brasileiro também está
ligada à projeção da imagem do Brasil no exterior (Bignami, 2002). Trabalha-se imagem aqui
como uma forma de representação social, como uma construção mental, uma ideia, opinião,
juízo de valor que se estabeleceu sobre algo ou alguém (Baldissera, 2003; Moscovici, 2007).
Ao optar por investigar tais representações simbólicas do Brasil nos media online de
Portugal, considera-se o alcance e potencial da Internet, bem como as novas práticas
jornalísticas neste ambiente digital e online. Estima-se que atualmente haja mais de três mil
milhões de usuários da Internet44, um número crescente, que representa cerca de 49% da
população mundial. Com o advento da sociedade da informação e da cibercultura observou-
se intensas transformações não somente nos campos das relações interpessoais, mas
também na experiência da comunicação e da mediação entre o utilizador e a notícia.
Atualmente, não somente as audiências, mas também o jornalista precisar lidar com o
44Dados estatísticos disponíveis em: http://www.internetworldstats.com/stats.htm.
10
excesso de informação, além da função de representar a realidade por meio das produções
jornalísticas. Percebe-se que a forma de se produzir e consumir notícias já não é a mesma.
Observa-se novas práticas não só na forma, conteúdo, como também na relação com o
público. As tecnologias emergentes permitiram o surgimento de um jornalismo voltado para
as plataformas digitais. O jornalismo apresentou - e ainda apresenta, pois, o processo está
em curso - significativas alterações em suas práticas que envolvem as etapas de recolha,
tratamento e apresentação da informação, dando origem ao que hoje se chama de
Ciberjornalismo.
Segundo Canavilhas (2001), as possibilidades multimédia, hipertextual, interativo, de
personalização e memória são as principais características do ciberjornalismo. Com base na
convergência entre texto, som e imagem em movimento, esta nova modalidade de
jornalismo online pode explorar muitas das potencialidades que a internet oferece. Assim, o
utilizador pode escolher o seu próprio percurso de leitura, bem como manter uma nova
relação com os meios de comunicação social e jornalistas. Soma-se isto a fenómenos como
a convergência dos media e as recorrentes inovações tecnológicas das fases Web 2.0, que
trouxe mais interatividade, e da fase Web 3.0 que traz mais personalização de conteúdo.
Tudo isto junto tem provocado desafios e ocasionado reflexões, bem como adaptações aos
novos cenários e contextos profissionais que se apresentam.
O objetivo da investigação descrita neste documento é de descobrir as
representações simbólicas/imagens do Brasil publicadas nos media online portugueses,
durante todo o ano de 2016. Para além disto, também há o intuito de realizar uma análise
comparativa das práticas/rotinas jornalísticas utilizadas. Adotou-se os seguintes jornais
lusitanos para efeitos de investigação: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã e o
Jornal de Notícias. Sobre os jornais Diário de Notícias e Público, estes são considerados
periódicos de referência (Faustino, 2004; Fidalgo, 2000; Sousa, 2002) para os leitores
lusófonos da Europa e África. Já o Correio da Manhã apresenta uma linha editorial que
prioriza o noticiário oriundo de temas policiais e assim como o Jornal de Notícias é produzido
para ser um jornal de leitura fácil e rápida, com predominância de temas locais.
A partir da revisão de literatura verificou-se que as representações do Brasil no
noticiário estrangeiro são atreladas, em grande parte, ao elemento exótico, a uma ideia de
lugar paradisíaco e de riquezas. Imagem essa que faz parte do próprio mito fundacional
brasileiro e continua sendo atual, principalmente em Portugal. Entretanto novas imagens
surgem no contexto atual e somam-se à essa já tradicional representação do Brasil. Para
tanto, levantam-se quatro hipóteses acerca da imagem brasileira: a primeira se refere ao
fato do Brasil continuar sendo tratado pelo viés da cultura e de caráter exótico; a segunda é
sobre a economia brasileira; a terceira diz respeito a uma predominância de imagens
11
negativas do Brasil, no tocante à violência e a quarta sobre um Brasil mais noticiado por
questões da política nacional. A intenção é de confirmar ou refutar tais hipóteses.
O projeto de investigação aqui apresentado consiste em um documento introdutório
com o objetivo de descrever os procedimentos metodológicos e científicos para o
desenvolvimento de uma tese de doutoramento, já em andamento, no âmbito do programa
doutoral em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (ICPD) da Universidade do
Porto/Aveiro. A investigação descrita neste projeto é uma reflexão realizada no âmbito das
Ciências Sociais Aplicadas, especificamente no campo da Comunicação e dos media, a
tratar também das práticas sociais decorrentes do fenómeno observado.
Questão de Investigação
A melhor forma de iniciar um trabalho de investigação em Ciências Sociais consiste
em procurar enunciá-lo sob a forma de uma questão de investigação, segundo postulados
de Quivy & Campenhoudt (2008). Devido a complexidade inerente aos projetos de
investigação em Ciências Sociais, uma questão bem formulada serve como um guia para os
estudos a serem realizados, um fio condutor, que apresenta explicitamente o que se
pretende saber, elucidar ou compreender melhor. Neste sentido, evita-se maiores riscos de
desvios e mudanças de escopo em todas as fases de desenvolvimento do projeto. Deve-se
formular uma questão de investigação que seja: clara, concisa e precisa, viabilizando
interpretações convergentes quanto aos seus objetivos; além disto que também seja
exequível., realista e pertinente (Quivy & Campenhoudt, 1998).
Ao utilizar o método 5W1H (Jang & Woo, 2005), pode-se vislumbrar de forma
pragmática o contexto de investigação proposto, a partir das repostas à seguintes seis
questões:
Quem? Brasil.
O quê? Representações simbólicas.
Onde? Nas produções noticiosas de quatro jornais online portugueses.
Quando? Durante todo o ano de 2016.
Como? Através da seleção e recolha de notícias que tratem sobre o Brasil
Por quê? A análise da representação simbólica do Brasil trará uma atualização da
conjuntura de representação social do Brasil no exterior, tendo como base Portugal, país
com o qual sempre manteve relações e cooperações em diversos níveis.
12
Dessa forma, tendo por base os princípios supracitados, a pergunta de investigação
para a presente investigação é: De que forma o Brasil é representado pelos jornais online
portugueses?
Na tentativa de se responder esta questão, a presente investigação se apoiará em
um aporte teórico constituídos por estudos das ciências sociais, bem como na análise dos
dados do estudo empírico. Espera-se que o diálogo entre o discurso representado pela
literatura do assunto e os dados coletados possam não só responder à questão proposta,
bem como levantar novos questionamentos e encaminhar futuras novas investigações.
Hipóteses
A partir da questão de investigação acima posta e da revisão de literatura sobre o
tema, foram levantadas as seguintes hipóteses:
O Brasil é exposto nas produções jornalísticas lusitanas por meio de uma imagem
que foca questões como a violência urbana, corrupção, inoperância das instituições públicas
e desigualdade social;
A economia do Brasil é tema de interesse para os media portugueses;
A cultura brasileira é bastante pautada pelos periódicos lusitanos, principalmente em
notícias referentes a manifestações culturais como a música, o esporte, e as produções
audiovisuais brasileiras, por exemplo;
A política no Brasil e as ações daí decorrentes, bem como os políticos brasileiros,
são bastante noticiados pelos media portugueses;
A investigação “Um olhar sobre o Brasil: Análise de notícias do jornal The New York
Times” (Viana, 2010), realizada como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo,
analisou como o Brasil foi exposto pelo The New York Times em suas notícias, no período
de janeiro a março de 2010. Os resultados mostraram que o Brasil foi demarcado pelo
periódico como um país exótico e com muitos problemas internos, mas que também tem
sido reconhecido por avanços na área económica. Os resultados ainda apontaram a
utilização dos estereótipos do Brasil no exterior (local paradisíaco com belas praias e belezas
naturais, a terra do samba e futebol), que se misturam também com a imagem de uma nação
que possui muitos problemas internos, notadamente: o crime e a corrupção.
Já a dissertação de mestrado “A imagem do Brasil na mídia impressa portuguesa:
um estudo do caso Diário de Notícias e Público” (Viana, 2014), apresentada, em março de
2014, ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN) foi uma
continuidade dos estudos sobre a representação do Brasil nos media do estrangeiro. A
13
dissertação analisou a imagem do Brasil em Portugal, durante os anos de 2012 e 2013.
Verificou-se que o Brasil é muito mais noticiado em Portugal do que antes se imaginava. A
imagem de uma nação cultural e exótica ainda é viva e predominante, aliada ao reforço da
imagem de uma de terra de oportunidades, graças ao desenvolvimento económico
vivenciado pelo país nos últimos anos. As temáticas mais trabalhadas pela imprensa
portuguesa sobre o Brasil foram Cultura e Política, respetivamente. Isso evidenciou que
entre as novas imagens pelas quais o Brasil é representado no exterior, em Portugal,
especificamente, estava a de um país mais sério, que é bastante tratado, também, por
questões políticas.
Objetivo Geral
O objetivo geral é investigar a representação social do Brasil nas produções
noticiosas dos media online portugueses, por meio de um estudo comparativo entre as
práticas discursivas utilizadas pelos periódicos Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias
e Correio da Manhã.
Objetivos Específicos
a) Identificar as representações simbólicas construídas pelos media online
portugueses, mediante Análise Crítica do Discurso e Análise do Conteúdo, adotando
os jornais Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Correio da Manhã como
objetos de investigação, durante o ano de 2016.
b) Comparar as práticas discursivas dos quatro jornais portugueses estudados, com
enfoque nos critérios de seleção e de construção da notícia, a fim de verificar como
isso resulta na representação do Brasil que é difundida por meio das produções
noticiosas de cada veículo.
c) Para além da representação, investigar as práticas/rotinas jornalísticas utilizadas
pelos quatro jornais portugueses definidos para estudo, correlacionando tais práticas,
com foco nas suas dimensões e temporalidades.
d) Interpretar os resultados aferidos, juntamente com entrevistas realizadas com os
diretores e jornalistas dos periódicos, utilizando as Teorias do Jornalismo como
suporte.
Metodologia
A investigação proposta é de caráter histórico-descritiva, de método hipotético-
dedutivo, com procedimento de estudo de caso – dos periódicos Diário de Notícias, Público,
14
Jornal de Notícias e Correio da Manhã – e abordagem de métodos mistos – qualitativo-
quantitativo – (Creswell, 2010). A análise sistemática do corpus se dará, simultaneamente,
por duas abordagens. Trata-se de um projeto de triangulação concomitante, no qual as duas
fases de análise possuem o mesmo peso e se caracterizam por terem os seus dados obtidos
simultaneamente.
5
Figura 1 – Modelo de Projeto de Triangulação Concomitante5
Fonte: Creswell (2010: 247)
A investigação de métodos mistos é mais do que a simples coleta e análise de
diferentes tipos de dados. Na verdade, envolve o uso das duas abordagens em conjunto. A
escolha desse método se deu por considerar que ele proporciona uma maior compreensão
dos problemas de investigação. O desenvolvimento e legitimidade adquirida, tanto pela
pesquisa qualitativa, quanto pela quantitativa, nas ciências humanas e sociais, proporcionou
o uso da pesquisa de métodos mistos que, com o passar do tempo, ganhou mais
popularidade. “Por fim, pode-se obter mais insights com a combinação das pesquisas
qualitativa e quantitativa do que com cada uma das formas isoladamente” (Creswell, 2010:
283).
A estratégia metodológica adotada na pesquisa ainda inclui o método funcionalista,
a análise comparativa entre os jornais lusitanos e a aplicação de entrevistas
semiestruturadas. As técnicas a serem utilizadas são: a) Pesquisa bibliográfica; b) Pesquisa
de campo; c) Análise Crítica do Discurso; d) Análise documental; e) Análise de conteúdo.
55 Note-se que o termo “QUAN” refere-se a quantitativo e o termo “QUAL” a qualitativo.
15
Etapas do Estudo
A primeira etapa do projeto corresponde à revisão bibliográfica e a formação do
Estado da Arte. A segunda etapa corresponde à formação do corpus de análise, seguido da
terceira etapa que será a análise (quantitativa e qualitativa) dos documentos recolhidos e
que formam o corpus analítico. A quarta e última etapa corresponderá à redação da tese,
com a exposição e reflexão pertinente dos resultados obtidos durante toda a investigação.
A respeito da análise do corpus, a primeira fase, de caráter quantitativo, se refere à
quantificação das produções noticiosas dos jornais delimitados, mediante análise de
conteúdo. E a segunda, de caráter qualitativo, a partir da discussão das imagens e
representações simbólicas do Brasil contidas nas produções noticiosas, bem como das
práticas jornalísticas dos periódicos supracitados, mediante análise crítica do discurso, e
com o suporte das Teorias do Jornalismo (Sousa, 2002), notadamente a do Newsmaking
(Wolf, 1999). O intuito é de comprovar, ou não, as hipóteses previamente levantadas. Ao
final, os resultados das análises quantitativas e qualitativas são discutidos, comparados e
mesclados, a fim de determinar se há convergência, diferenças ou alguma combinação. O
intuito principal é enriquecer os resultados alcançados pela investigação e testar, por meio
do método hipotético-dedutivo, a pertinência ou não das hipóteses levantadas; bem como
realizar inferências, deduções e comparar os resultados obtidos.
Além do estudo da representação, também se considera para a investigação
proposta a pesquisa de campo. Essa consiste na visita às redações dos jornais delimitados
para estudo, na intenção de observar o processo de construção da notícia para a ambiência
online. O intuito é descobrir de que forma as novas tecnologias digitais tem modificado as
redações e as práticas jornalísticas. Também durante a pesquisa de campo, vislumbra-se a
aplicação das entrevistas com os diretores dos jornais e jornalistas. Será utilizada a
metodologia das entrevistas semiestruturadas.
O método da análise documental está a ser utilizado para a formação do corpus de
análise, que consiste na recolha de notícias dos quatro jornais selecionados como amostra
dos media online portugueses. No período estabelecido como recorte histórico para
formação do corpus foi realizada a leitura “flutuante” (Bardin, 2004) diária dos quatro jornais
selecionados. Durante este processo, foram estabelecidos alguns critérios para a coleta do
material jornalístico, sendo selecionadas apenas aquelas produções que:
a) Abordem diretamente sobre o Brasil;
b) Discorram sobre instituições, empresas e personalidades ligadas à nação brasileira;
c) Mesmo sobre outras temáticas, que tratem de forma significativa e apresentem
conteúdo relevante sobre o Brasil.
16
Relativamente à recolha de notícias dos jornais delimitados, esta ocorreu durante
todo o ano de 2016. Para tanto, utilizou-se do sistema de busca do indexador de notícias,
disponibilizado online, chamado “Busca Tretas6”6, que permite localizar todos os artigos
disponibilizados por jornais online na internet. Procedeu-se a busca a partir da palavra-chave
“Brasil”, o que acarretou na seleção pelo software, de todas as notícias, no período e jornais
delimitados, que possuíssem o termo “Brasil” ou derivados, como “brasileiro” e “brasileira”,
por exemplo. Foram selecionados pelo indexador de notícias cerca de seis mil peças
jornalísticas. No momento, efetua-se uma filtragem do material, a fim de se eliminar as
publicações que não sejam de interesse para os objetivos deste estudo. As produções
noticiosas selecionadas estão salvas em ficheiros do Microsoft Excel, contendo informações
como a data, hora de publicação, URL, autor, além do texto integral.
Após a formação do corpus de análise, são estabelecidas algumas variáveis de
análise – unidades de registro – para os documentos e categorias analíticas para agrupar
tais unidades. A descrição se dará logo após a aferição de resultados; a interpretação, com
inferências, ocorrerá numa discussão juntamente com os dados qualitativos, com o suporte
das Teorias do Jornalismo.
A fim de mensurar os dados das produções jornalísticas, se estabeleceu um conjunto
de unidades de registro, apoiadas por categorias de análise. Assim, em cada documento
será identificada a unidade de registro e a categoria analítica em que tal documento se
encaixa. De acordo com Bardin (2004), a análise categorial é a ferramenta mais generalizada
na aplicação da análise de conteúdo e tem por objetivo tomar em consideração a totalidade
de um “texto”, passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a
frequência de presença (ou ausência) de itens de sentido.
A considerar que a amostra dos media online portugueses é composta por quatro
jornais, e que se estabeleceu o recorte histórico de todo o ano de 2016, têm-se um elevado
número de produções noticiosas para análise. Neste sentido vislumbra-se a utilização do
software SPSS para este momento de análise quantitativa, a fim de estabelecer relações
estatísticas entre as unidades de registro da grelha de análise de conteúdo. A escolha deste
software deu-se por considerar suas funcionalidades e utilização gratuita para alunos da
Universidade do Porto. Para Coutinho (2015), o SPSS se constitui um auxiliar para um
investigador que tenha procedido uma recolha de dados quantitativos e tenha o intuito de
descrever, analisar e relacionais tais dados ou mesmo contrastar hipóteses da investigação.
66Disponível em https://busca.tretas.org.
17
A seguir, têm-se a grelha de análise (tabela 2) desenvolvida para a investigação
proposta, na qual estão expostos os elementos mais significativos a serem observados nos
documentos.
Tabela 1: Grelha de análise de conteúdo
Já na fase qualitativa, a análise sistemática das notícias a partir da perspectiva da
Análise Crítica do Discurso (ACD), terá como suporte os estudos de Charaudeau (2006),
Unidade de Registro
Categoria de Análise Regra de Enumeração / Classificação
TEMA
• Cultura
• Crimes
• Desporto
• Economia
• Pessoas
• Política
• Outros
• Sociedade
Frequência
GÉNEROS JORNALÍSTICOS Salaverría e Díaz-Noci (2003)
INFORMATIVOS
• Notícia INTERPRETATIVOS
• Reportagem
• Crônica INFOGRAFIA ONLINE
• Infografia DIALÓGICOS
• Chat
• Entrevista
• Fórum
• Enquete
• Vinheta e tira cômica OPINIÃO
• Editorial
• Artigo
• Coluna
• Crítica e resenha
• Carta ao diretor
Frequência
VALORES-NOTÍCIA
• Importância
• Interesse
• Negatividade
• Proximidade
Presença (ou Ausência)
FONTES DE INFORMAÇÃO
• Agências
• Autoridades
• Oficiais
• Media Sociais
• Outros Media
Presença (ou Ausência)
ELEMENTOS MULTIMÉDIA
• Áudio
• Enquete
• Fotografia
• Fotogaleria
• Hiperlinks
• Infografia
• Recursos Interativos
• Vídeo
Presença (ou ausência)
18
Fairclough (1995, 2001), van Dijk (1985, 1990) e Wodak (2001). A análise crítica do discurso
tenta evitar estabelecer uma simples relação de determinação entre os textos e o social. É
importante levar em consideração as afirmativas de que o discurso é estruturado pela
dominação e que cada discurso é produzido e interpretado numa dada perspectiva histórica,
isto é, está situado no tempo e no espaço. Além disso, as estruturas de dominação são
legitimadas pelas ideologias dos grupos que detém o poder. Segundo Ruth Wodak (2001),
a abordagem complexa defendida pelos proponentes da ACD possibilita a análise das
pressões verticalizadas e das possibilidades de resistência às relações desiguais de poder,
que figuram como convenções sociais.
A partir dessa perspectiva, as estruturas dominantes estabilizam as convenções e as
naturalizam, fazendo com que os efeitos da ideologia e do poder na produção de significados
sejam mascarados e assim assumam formas estáveis e naturais. Para Maingueneau (2011),
o discurso só adquire sentido no interior de um universo de outros discursos, lugar no qual
ele deve traçar seu caminho. “Para interpretar qualquer enunciado, é necessário relacioná-
lo a muitos outros — outros enunciados que são comentados, parodiados, citados, etc.”
(Maingueneau, 2011,p. 55).
Pretende-se utilizar o software IRAMTUEQ, de distribuição livre, desenvolvido pelo
Laboratoire d'Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales (LERASS) da
Universidade de Toulouse, para auxiliar na análise de dados textuais, juntamente com a
técnica da ACD. Busca-se se analisar elementos como a macroestrutura, a apontar os
enquadramentos, temas e subtemas abordados por cada jornal. Também será observado,
especificamente, como se construiu a teia discursiva nas temáticas abordadas nas
produções noticiosas. Considera-se também elementos da estrutura textual como
importantes de serem analisados, notadamente: os títulos, parágrafos e formatos.
Resultados
Esperam-se resultados que para além de responder à questão de investigação e
alcançar os objetivos, possam gerar contribuições científicas para o campo da comunicação
social. Contribuições essas documentadas na forma de resultados intermediários, em artigos
científicos e resultados completos, incluindo toda a caminhada até a obtenção de respostas
válidas para a questão de investigação na tese de doutorado.
Conclusões
A contribuição da investigação aqui proposta será inédita para a área científica da
comunicação luso-brasileira, pois trará uma atualização da conjuntura de representação
19
social do Brasil no exterior, tendo como base Portugal, país com o qual sempre manteve
relações e cooperações em diversos níveis.
Há de se considerar, também, que os jornais delimitados para estudo são voltados
também para o mundo lusófono, grupo esse que o Brasil faz parte, sendo a nação
atualmente com mais falantes de língua portuguesa no mundo. Uma relação mais estreita
entre os dois países é de extrema importância, ao se considerar um contexto mais amplo,
que envolve as relações da União Europeia com a América Latina. A contribuição da
investigação segue sendo importante também para os estudos do jornalismo e suas relações
com as novas tecnologias digitais.
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A MONETIZAÇÃO DO CULTO: UMA REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
DAS COMUNIDADES DE FÃS NOS MEDIAS DIGITAIS E SUAS INTERFACES COM A
ECONOMIA CRIATIVA
MONETIZATION CULT: A REFLECTION ON CONTENT PRODUCTION OF FAN
COMMUNITIES IN DIGITAL MEDIA AND INTERFACE WITH CREATIVE ECONOMY
Breno Enzo Scafura1
Resumo
Debruçado em questões contemporâneas oriundas das modificações recorrentes nos protocolos que configuram os medias e a sua influência no tecido social, o artigo aqui proposto guisa compreender melhor as tensões que envolvem o sujeito e o atual panorama infocomunicacional se concentrando na figura do fã de vídeo jogos que se apropria dos objetos de culto inerentes em diferentes games para produzir conteúdo intelectual como atividade econômica. Em seu primeiro degrau será proposto o entendimento do conceito de Economia Criativa, pensando a produção de conteúdo na internet como possível atividade geradora de riqueza. Após refletir sobre o referido fenômeno em conjunto com inquietações presentes na dinâmica de consumo e agenciamento cultural na contemporaneidade, a pesquisa evocará discussões voltadas para as posturas adotadas pelas comunidades de fãs fronte aos novos espaços informacionais, objetivando refletir sobre o agenciamento cultural promovido por determinados fãs de videojogos que se apropriam dos medias sociais como suporte para desenvolver conteúdo intelectual capitalizável.
Abstract
Overturned in contemporary topics originating from recurrent modification in the protocols that configure the media and your influence in the social fabric, the article proposed guise better comprehend the tensions involving the actual panorama of communication and information concentrating in the figure of the videogames fan that appropriates of the worship objects inherent in different games for produce intellectual content as economic activity. On it first step will be proposed the understanding of the Creative Economy concept, thinking in the content production as a possible wealth-generating activity. After reflecting on the aforementioned phenomenon together with concerns about the dynamics of consumption and cultural agency in contemporary times, the paper will evoke discussions aimed at the postures adopted by the fan communities facing the new information spaces, focusing on reflecting on the cultural agency promoted by certain video game fans who appropriate social media as support for developing capitalizable intellectual content.
1 UNIFACS, UCP, Brasil. Email: enzoscafura@gmail.com.
PALAVRAS-CHAVE economia criativa, cultura participativa, comunidades de fãs, medias sociais, contemporaneidade.
KEYWORDS creative economy, participatory culture, fan communities, social media, contemporary.
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Introdução
Dos diversos entraves sociocomunicacionais gerados pela contemporaneidade
destacam-se aqueles que perpassam transversalmente questões relacionadas à tecnologia,
comunicação e cultura. A mediatização, conceito que abarca estes tensionamentos, age de
modo dinâmico, reconfigurando e criando novos protocolos socioculturais. As constantes
mudanças no tecido social vêm inquietando pesquisadores de diferentes eixos do
conhecimento. Mediante a este panorama de intensas práticas discursivas, Muniz Sodré
conceitua a mediatização como “uma ordem de mediações socialmente realizadas no
sentido da comunicação entendida como processo informacional, a reboque de
organizações empresariais e com ênfase em tipo particular de interação” (Sodré 2002, p.21).
Sodré (2002) acredita que os processos de mediatização se tornaram mais
expressivos com a difusão das tecnologias digitais, principalmente aquelas que estão ligadas
à internet. Tratando deste tal impacto sociotécnico na lógica contemporânea de diferentes
cearas da sociedade, Manuel Castells (1999) chama de “Era da Informação” a interacção
entre processos sociais. Para o autor a revolução tecno-informacional fez “surgir uma nova
estrutura social dominante, a sociedade em rede; uma nova economia, a economia
informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real” (Castells 1999, p.
411).
Eis que fronte este cenário mediado por uma configuração mediatizada a produção
cultural também se adequou à evidente presença dos media no cotidiano. A explosão
tecnológica, que colocou os meios de produção a serviço da sociedade, horizontalizou os
processos de produção e disseminação cultural, dando ao consumidor a capacidade de
participar mais ativamente do fluxo informacional. Se apropriando da tecnologia, aqueles
que “apenas” consumiam passaram a actuar como agentes no cenário mediático. A Cultura
Participativa (Levy, 1997; Jenkins, 2006; 2009) evocada pela descentralização da
disseminação de informação elevou a produção de conteúdo intelectual à um novo patamar
no relevo mediático e abriu portas para que produtores de conteúdo originados da audiência
pudessem gerar valor económico através de suas actividades de agenciamento cultural.
O conceito de Cultura da Participação lidaremos aqui está ligado a relação
desenvolvida entre a sociedade e os meios de comunicação como ambientes de construção
coletiva de significados e, também, espaço para a difusão de conhecimento produzido, ideias
e informações. No que tange a internet, ambiente base de nossa investigação, Pierre Levy
(1997) se refere ao ambiente digital originado por esta como um cyberespaço, espaço
definido pelo próprio como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de
computadores e das memórias dos computadores”. Para Henry Jenkins (2006; 2009) a
23
sociedade encara a rede mundial de computadores como “um veículo para ações coletivas
- soluções de problemas, deliberação pública e criatividade alternativa”.
Deparado com os questionamentos que se desenvolvem a partir da reconfiguração
contemporânea na ordem que regem as práticas de consumo, produção e disseminação de
conteúdo, o presente artigo almeja refletir sobre o papel desempenhado pelos agentes culturais
originados da democratização e desestandardização dos protocolos dos media. Tendo como
objecto de análise uma série de indivíduos pertencentes à comunidade de fãs de videojogos
– já consagrados pelas suas comunidades os produtores de conteúdo observados já são
capazes de gerar valores através de suas atividades de agenciamento – que reverberam
conteúdo em plataformas digitais, principalmente nos medias sociais, o artigo tem como
objectivo principal ponderar sobre maneira com que estes indivíduos agenciam suas
comunidades, voltando o olhar principalmente para as suas presenças digitais e a maneira
com que são usadas as ferramentas de monetização e disseminação do conteúdo gerado,
e verificar a possibilidade de os enquadrarmos como membros de uma classe de criativos
capazes de gerar valor simbólico e económico em torno do próprio esforço intelectual.
Fãs como Membros Pertencentes da Classe Criativa
Uma economia pautada no capital intelectual. Aqueles que desdobram sua
criatividade a ponto de tornar tangível, em forma de produtos ou serviços, seus esforços,
podem ser considerados representantes de um recente paradigma econômico, a Economia
Criativa. Apesar de não ser algo novo e que sempre esteve presente na sociedade (Howkins,
2001), o conceito de economia criativa ainda se mostra turvo - o que deixa em aberto a
possibilidade de novos estudos se empenharem em desnudar entraves envolvendo sua
complexidade.
Afim de entender melhor as tensões evocadas pelo capital criativo, Richard Caves
(2000) apontou como indústria criativa o conjunto de instituições que produzem bens e
serviços dotados de “dose substancial de esforço artístico ou criativo”. Focado no grupo que
realiza e faz parte do movimento econômico pautado na criativa, Florida (2002) chamou
atenção para uma classe emergente que se apropria de seus símbolos e ritos para
posicionar-se economicamente. Ele nomeou esta casta de indivíduos como “classe criativa”,
que é composta por aqueles que subvertem a cultura de maneira criativa objetivando exercer
uma atividade econômica. Posteriormente, Stuart Cunnigham (2006), preocupado em
melhor definir o conceito, fala das indústrias criativas como “activities wich have their origin
in individual creativity, skills and talent and which have potential for wealth and job creation
trough generation and exploitation of intellec- tual property”. De forma mais direta, o conceito
de economia se condensa nas práticas que têm como “matéria-prima a criatividade”. Dentro
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deste campo estão atividades relacionadas às artes, produção cultural, cinema, arquitetura,
moda, media, design, dentre outras. Estas atividades são dotadas de peculiaridades
específicas germinam da exploração da produção intelectual como metáfora econômica.
O entendimento da contextualização da Economia Criativa se torna de suma
importância para que o documento proposto possa dialogar com as questões inerentes nas
imbricações originárias do engajamento do fã, especialmente aquele que faz parte da
gamecultura, em interfaces que o levam ao campo da economia criativa. A princípio
podemos aferir que o conteúdo produzido pelo fã, ao gerar riqueza, fator crucial para ser
considerado uma de cunho econômico, é metáfora da economia criativa.
Para Howkins (2001), existem dois tipos de forças criativas que levam a geração de
um produto criativo, a criatividade enquanto motivação pessoal, que segundo ele está ligada
à “nossa realização como indivíduos, e que é privada e pessoal, e a criatividade que encontra
como estímulo um mercadológico, mais presente, de acordo com suas palavras, nas
“sociedades industriais ocidentais que dão mais valo ao ineditismo, à inovação científica e a
tecnologia e os direitos de propriedade”. Apesar de ser considerada uma tendência da
comunicação na contemporaneidade, a produção de conteúdo muito mais se baseia numa
vontade própria do que num investimento. Aqueles que produzem conteúdo ascendem na
comunidade através de muito esforço e muitos deles começaram suas atividades como
hobbie. Um exemplo que ilustra de maneira clara esta nova posição do fã diante de seus
fetiches é a história do youtuber BRKsEDU. Eduardo Benenvuti, o BRKsEDU para a
comunidade gamer, é um analista financeiro que frustrou- se com a carreira de economista
e decidiu fazer algo diferente. Eduardo costuma dizer em seus vídeos que sempre foi fã de
games. Em um vídeo22 publicado em quatro de maio de 2015, Eduardo se coloca como um
grande entusiasta do segmento, enquadrando-se como um fã da velha guarda, mas que
também transita entre as expressões contemporâneas da cultura dos jogos eletrônicos.
Motivado por este forte vínculo com a cultura gamer, em julho de 2010, Eduardo Benevuti
criou o que seria um dos maiores e mais influentes canais brasileiros no Youtube com a
temática de jogos. Atualmente, detentor da incrível marca de 5,286,932 inscritos e
817,706,665 visualizações33, Eduardo Benevuti largou seu antigo estilo de vida e passou se
dedicar de corpo e alma ao projeto. Seu trabalho é tão relevante que as atuais gigantes do
entretenimento em videojogos já demonstraram interesses em parcerias, convidando o
youtuber para testar seus jogos. Sua influência na comunidade é tão grande que Edu tem
até bordões. Imagens de cunho humorístico com gafes e momentos de descontração em
22https://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio.
33Visualizado no dia 9/03/2017.
http://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio
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seus vídeos circulam na rede. Segundo ele44, hoje, o canal é a sua principal fonte de renda,
o que o admite como produtor intelectual criativo. Em seu profile no gigante da reprodução
de vídeos online, Eduardo descreve BRKsEDU como um “canal de gameplays e vlogs de
games e entretenimento!” e ainda conclui: “ou seja: tenho o melhor trabalho do mundo!”.
Assim como Eduardo Benenvuti, outros fãs se apropriam do seu culto para
desempenhar atividades de cunho. Através das plataformas digitais, mais horizontais por
natureza, os membros das comunidades de fãs enquanto um ambiente mais democrático
onde podem agenciar suas manifestações culturais. A cultura da participação está
favorecendo o aparecimento de uma legião de fãs que profissionalizam o culto e colhem de
sua dedicação frutos do capital. Comumente, aqueles que alcançam o status de
embaixadores da comunidade ou seja, representantes eleitos democraticamente através da
relevância de seus conteúdos, conseguem, de certa forma, monetizar as suas atividades.
De acordo com Howkins (2001), “a criatividade não é necessariamente uma atividade
econômica, mas poderia se tornar caso produza uma ideia com implicações econômicas ou
um produto comerciável”. Trocando em miúdos, a capacidade de fãs de tornar seu conteúdo
rentabilizável, como Eduardo fez com seu canal no Youtube, enquadra suas atividades no
hall da economia criativa.
A classe de fãs produtores, que emergem dos ritos de sua cultura tal como Eduardo,
é uma metáfora do que Richard Florida (2002) chamou de classe criativa, que para ele é
uma das forças que compõe a Economia Criativa e as modificações nos paradigmas
econômicos tradicionais. Segundo o autor o mundo está mudando drasticamente desde a
Revolução Industrial e isso não é reflexo exclusivo da evolução tecnológica e dos processos
de globalização.
Na tentativa de definir com exatidão está classe emergente, Florida observou a
existência de dois grupos distintos de criativos. Aqueles que fazem parte de um Creative
Core, coração da classe criativa, e que incluem cientistas, engenheiros, professores
universitários, poetas e novelistas, artistas, designers, e etc. Para ele, estes encontram-se
no centro das atividades criativas por conta da sua capacidade de gerar ineditismo. No outro
grupo, os criativos que trabalham na Indústria Criativa, os indivíduos pertencentes executam
funções dentro de projetos perspectivados pela visão criativa da economia. São pagos para
pensarem e repensarem suas formas usuais de trabalho, com o intuito de gerar inovações,
tanto nos processos quanto nos produtos a que se dedicam.
Partindo do ponto de vista de Florida, poderíamos enquadrar os fãs que produzem
conteúdo dentro do Creative Core, pois suas atividades estão enxertadas de particularidades
44Depoimento retirado do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iioz.
http://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio
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pessoais, novas óticas de enxergar e reproduzir a própria cultura. A produção de conteúdo
desses é uma narrativa original, que mistura elementos de sua criatividade com signos
oriundos das manifestações culturais que perpetuam. Por fim, podemos dizer que os fãs
podem ser considerados verdadeiros representantes da classe criativa. Eles se munem dos
signos contidos em suas culturas e os desdobram em conteúdos para a comunidade, que,
ao os perceberem como representantes, elevam suas produções ao ponto de se tornarem
monetizáveis mediante seu consumo.
A Monetização do Culto
Para endorsar a perspetiva apresentada elencaremos neste momento as maneiras
mais usuais com que os fãs reverberam sua ansia participativa de forma a promover a
geração de capital; sendo essa uma característica primordial para tornarem-se ativos na
economia criativa (Florida, 2002). Dentre elas estão aspectos que consideramos
contemporâneos à forte presença da tecnologia no espaço infocomunicacional e, também,
aspectos que ocorrem decorrente da construção de suas imagens perante a comunidade
que agenciam, no nosso caso são os adeptos das gamecultura.
Voltando a premissa de que os produtores de conteúdo eleitos embaixadores de suas
comunidades são exemplos do que Gramsci (1975) conceitua como “intelectuais orgânicos”,
estes agenciam e são agenciados por aqueles que representam através do reconhecimento
de suas contribuições para o desenvolvimento do grupo a que fazem parte. Sem este status
de representante, torna-se muito difícil ascender à classe criativa no que tange a ideia de
uma economia baseada no produto do intelecto e da criatividade. Trocando em miúdos, o
produtor de conteúdo é um membro da comunidade que a representa, mas que também
depende da sua legitimação e apoio.
Como já discutido anteriormente, o papel da tecnologia nessa nova pirâmide de
consumo é fundamental. O apoio da tecnologia, principalmente da internet e suas
ferramentas sociais, favoreceu o aparecimento de mais intelectuais orgânicos. No que tange
o nicho do nosso corpus de pesquisa, os jogos eletrônicos, o espaço digital é ainda mais
influente, pois boa parte das trocas sociais desenvolvidas por seus membros advém de
plataformas que se baseiam em protocolos tecnológicos.
Observando representantes influentes da gamecultura e que já atingiram o patamar
de membros ativos da economia criativa, sendo alguns de