Post on 09-Nov-2018
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3277
TURISMO NO NORDESTE BRASILEIRO: CONCEPÇÕES DA POLÍTICA DO PRODETUR A PARTIR DAS DINÂMICAS TERRITORIAIS
LUCIANA MACIEL BARBOSA1
Resumo: O trabalho analisa o Nordeste brasileiro a partir do PRODETUR, política territorial para o turismo iniciada na década de 1990. A relevância da pesquisa está nas formas de produção de territórios, associados a atividades econômicas, culturais e sociais. Adota-se método dialético com abordagens quanto-qualitativas, considerando que o objeto da investigação é decorrente de várias determinações, sujeitos envolvidos e causador de impactos. O PRODETUR modificou territórios nordestinos, estruturou territórios e instigou outros a buscá-lo, a ponto do Programa, após duas décadas, migrar do regional para o nacional. Ações articuladas contribuíram para o crescimento das atividades turísticas nos territórios com ajuda de financiamentos internacionais e contrapartidas estaduais. Essas produções de fixos territoriais promoveram os fluxos de pessoas para as capitais nordestinas, apesar da crise econômica nacional.
Palavras-chave: Turismo; Território; Políticas Públicas
Abstract: The research analyzes the Brazilian Northeast from PRODETUR, territorial policy initiated
in the 1990s. The relevance of research is the forms of production territories associated with economic, cultural and social activities. Is adopted as dialectical method with quantitative and qualitative approaches, because the research object is the result of several determinations, subjects involved and causing impacts. The PRODETUR modified northeastern territories, structured territories and urged others to get him, doing the program, after two decades, migrate from regional to national. Coordinated actions contributed to the growth of tourist activities in the territories with the help of international financing and State counterparts. These territorial fixed productions promoted the flow of people to the Northeastern capitals, despite the national economic crisis.
Key-words: Tourism; Territory; Public Policy
1 – Introdução
A economia da região Nordeste do Brasil tem apresentado índices de
crescimento superiores às estatísticas nacionais, embora, contraditoriamente, ainda
se encontre entre as regiões de maior precariedade socioeconômica do país. As
atividades vinculadas à agropecuária e aos serviços compõem os setores de maior
representatividade na economia regional. Inserido no setor terciário, o turismo é
considerado uma das principais atividades econômicas da região, e aliado a isso,
também se configura como prática social, política, econômica, cultural e ambiental,
promotora de intensas mudanças socioespaciais no Nordeste brasileiro
1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará.
E-mail de contato: luciana1712@yahoo.com.br
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3278
Na região Nordeste, o turismo é promovido, em especial, por políticas públicas
e privadas, sendo o Estado o principal incentivador e planejador da atividade. As
práticas políticas fazem surgir novas configurações espaciais que, vinculadas ao
desenvolvimento da atividade turística, apresentam intensificação do processo de
urbanização núcleos receptores de turismo. A iniciativa privada, comunidades e
turistas compõem os sujeitos sociais do turismo, que com o Estado dinamizam as
relações sociais, econômicas e políticas do fenômeno incidentes no espaço
geográfico.
O planejamento do turismo no Nordeste, a partir das políticas públicas, ocorre
de maneira mais efetiva a partir da década de 1990, com o Programa de
Desenvolvimento do Turismo – PRODETUR/NE. A partir dessa política, a região
ganha destaque como resultado do reordenamento territorial para o
desenvolvimento da atividade turística regional.
Temporal, espacial e politicamente divido em fases de planejamento e atuação,
o PRODETUR inicia oficialmente as atividades em 1995, com o PRODETUR NE I,
finalizado em 2005; amplia a área de atuação para os Estados inseridos no Polígono
das Secas em 2002 com o PRODETUR NE II, apresentando Relatório Final em
2012 e em 2010 se reapresenta sob a denominação de PRODETUR Nacional,
abrangendo estados e municípios de todas as regiões brasileiras. As fases são aqui
analisadas não de forma linear, mas de maneira a entender a totalidade,
compreender as transformações e as contradições das políticas de turismo que
incidem em territórios nordestinos turistificados.
Para esta pesquisa, adota-se metodologia dialética com supostos do
materialismo histórico e abordagens quanto-qualitativas. Trata-se de uma pesquisa
documental. Dados e informações inerentes aos documentos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento – BID, Banco do Nordeste do Brasil – BNB,
Secretarias de Turismo, Instituto de Geografia e Estatística – IBGE entre outros
importantes para a produção deste estudo. A base teórica que subsidia a análise
remete a conceitos das ciências geográfica, econômica, do turismo e outras ciências
sociais.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3279
2 – O Nordeste Brasileiro no contexto do turismo e do PRODETUR
Juntos, os Estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe apresentam área total de 1.554.387,725 km², o
que equivale a 18,3% do território nacional, sendo 877.565,831 km² inseridos no
semiárido (IBGE, 2010). A região Nordeste é ocupada por 53.081.950 habitantes,
com densidade demográfica de 34,15 hab/km² (op.cit).
A economia da região Nordeste registrou, no ano de 2014, maior dinamismo
que a nacional, conforme evidencia o crescimento anual do Produto Interno Bruto
(PIB) de algumas das principais economias da região, como Bahia, com aumento de
1,5% e Ceará com 4,4% (BCB, 2015).
O setor de serviços apresentou um dos maiores aumentos. A receita nominal
do setor terciário, o qual o turismo se encontra inserido, segundo a Pesquisa Mensal
de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu
6,3% no trimestre encerrado em fevereiro de 2015 comparativamente a igual período
de 2014, com destaque para os segmentos serviços profissionais e administrativos,
13,6% e serviços prestados a famílias, 11,9% (op.cit). A esse último são inseridas as
atividades vinculadas ao turismo. Conforme o IBGE (2015), os serviços prestados a
famílias incluem os serviços de alojamento e alimentação, assim como atividades
artísticas, criativas e de espetáculos; atividades esportivas, de recreação e lazer
(exceto clubes)2.
Os serviços vinculados ao turismo também têm representatividade nos
números de empregos formais no Nordeste, registrados pelo Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED). Dados de 2005 a 2014 (Gráfico 01)
mostram que é crescente a admissão de empregos em atividades vinculadas a
serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação, transportes
e comunicações, embora as demissões também se apresentem em crescimento,
2 No entanto, vale ressaltar que essa variável é bastante ampla, pois também inclui lavanderias,
tinturarias e toalheiros; cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza; atividades funerárias e serviços relacionados; outros serviços pessoais (clínicas de estética, higiene e adestramento de animais domésticos, serviços de engraxates e carregadores de malas, etc.); atividades de apoio à educação e serviços de educação continuada (cursos de idiomas, de ensino de esportes, arte e cultura, cursos preparatórios para concursos, etc.).
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3280
que pode estar refletida na sazonalidade dos serviços prestados. Essa informação
reflete a relevância do turismo para o setor e para a economia regional (Quadro 1).
Gráfico 01 – Evolução do Emprego por Subsetor de Atividade Econômica, 2005 a 2014 Fonte dos dados: CAGED (2005 a 2014) – Acessado em junho de 2015. Organização: BARBOSA
(2015)
Na contramão dessa conjuntura, o Nordeste acumula ainda secular dívida
social com precárias condições sociais. Representações quantitativas como o Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM dos Estados que formam a região
Nordeste mostram IDHM Baixo, variando de 0,631, em Alagoas, a 0,684, no Rio
Grande do Norte (PNUD, 2010). A região sustenta ainda extrema concentração de
poder sociopolítico, de riqueza e renda pelo descaso com educação, saúde e com
as periferias urbanas e áreas rurais.
A contradição, essencialmente capitalista, presente nas relações sociais,
políticas e econômicas entre as regiões brasileiras se desenvolvem de maneira
desigual e combinada, a comando de grupos hegemônicos. A profunda disparidade
entre Norte, Nordeste e Centro-Sul não é recente e impulsiona políticas públicas
para atenuação da desigualdade regional. Assim explica Oliveira (1981, p.37),
As contradições da reprodução do capital e das relações de produção em cada uma ou, pelo menos, nas duas principais “regiões” do país, sinal de uma redefinição da divisão regional do trabalho no conjunto do território nacional, começavam a aparecer como conflito entre as duas “regiões”, uma em crescimento, outra em estagnação. É nesse contexto, e tendo por objetivo explícito a atenuação ou pelo menos a contenção da intensificação das disparidades regionais, a correção dos “desequilíbrios regionais”, que nasce o planejamento regional para o Nordeste.
Muller (2000) explica que as políticas públicas são processos de mediação
social, que têm o objetivo de resolver desajustes entre os setores ou ainda entre um
TOTAL DE ADMISSÃO;
2005; 192753
TOTAL DE ADMISSÃO;
2006; 228782
TOTAL DE ADMISSÃO;
2007; 258569
TOTAL DE ADMISSÃO;
2008; 281873
TOTAL DE ADMISSÃO;
2009; 296821
TOTAL DE ADMISSÃO;
2010; 388614
TOTAL DE ADMISSÃO;
2011; 435278
TOTAL DE ADMISSÃO;
2012; 432596
TOTAL DE ADMISSÃO;
2013; 461201
TOTAL DE ADMISSÃO;
2014; 484091 TOTAL DE
DEMISSÃO; 2005;
161793
TOTAL DE DEMISSÃO;
2006; 205053
TOTAL DE DEMISSÃO;
2007; 231645
TOTAL DE DEMISSÃO;
2008; 250266
TOTAL DE DEMISSÃO;
2009; 262788
TOTAL DE DEMISSÃO;
2010; 321428
TOTAL DE DEMISSÃO;
2011; 379968
TOTAL DE DEMISSÃO;
2012; 392729
TOTAL DE DEMISSÃO;
2013; 420580
TOTAL DE DEMISSÃO;
2014; 442654
TOTAL DE ADMISSÃO
TOTAL DE DEMISSÃO
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3281
setor e a sociedade global. O crescente interesse no planejamento e investimentos
em turismo no Brasil parte de experiências vistas economicamente como favoráveis
em territórios com realidades similares à brasileira. Cancún, Veracruz, Acapulco, são
destinos litorâneos mexicanos que investiram no turismo, desde a década de 1960
(BRANDÃO, 2012), como atividade rentável, capaz de gerar divisas e renda nos
lugares. Ações por meio de políticas públicas e intenso investimento privado
configuraram profundas mudanças para além da conjuntura econômica.
Experiências como essas incentivaram o Governo Brasileiro a olhar o turismo
como alternativa econômica para o País. O Nordeste, por suas características
naturais, apresenta condições favoráveis para o desenvolvimento da atividade, por
ter similaridades a outros destinos tropicais subdesenvolvidos e, portanto, adequado
para a concorrência no mercado global. Essa conjuntura contribuiu para impulsionar
o Estado a organizar políticas como Programa de Desenvolvimento do Turismo –
PRODETUR para a região Nordeste, em meados da década de 1990.
As políticas, inclusive as de turismo, são passiveis de mudança de foco, sendo
determinadas, muitas vezes, não por necessidades reais da sociedade, mas por
jogo de interesses políticos. O turismo implanta-se no Nordeste com promessa de
geração de emprego e renda, com entrada de divisas para os países, e com
possibilidade de valorização de patrimônios históricos, culturais e naturais, o que
nem sempre acontece, daí a relevante da reflexão sobre as transformações e
dinâmicas das políticas públicas de turismo nos territórios nordestinos, como o
PRODETUR.
Os interesses do Governo comungam, muitas vezes, com os de grandes
grupos empresariais nacionais e internacionais vinculados ao turismo. Estes
implantam fixos como hotéis, restaurantes e parques aquáticos e dinamizam os
fluxos em espaços artificializados e comercializados para o lazer.
Entre as principais formas de investimento e materialização da atividade
turística no Nordeste, está a implantação dos resorts, a partir da valorização do
turismo de luxo no país. Coriolano e Almeida (2007), a partir de uma visão crítica,
definem esses fixos espaciais como:
São meios de hospedagens com configurações espaciais elitizadas, localizadas preferencialmente em áreas naturais preservadas e, muitas vezes, distantes de áreas urbanizadas. Verdadeiros enclaves nas
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3282
comunidades onde se instalam; formam um mundo isolado e utilizam uma variedade de estratégia para reter o turista, sem dar-lhes chances de sair desses ambientes, para divertimentos e consumos fora das dependências.
São enclaves construídos pelo trabalho humano com características
faraônicas de padrão internacional que destoam da conjuntura local. Historicamente,
muitos resorts apresentam conflitos com as comunidades onde se alocam, uma vez
que, muitas vezes estas são expulsas de suas antigas moradias, ou não são
absorvidas como mão de obra do empreendimento.
O Nordeste é a região brasileira com maior concentração de resorts. Dados
do Relatório de Tendência Resorts 2013, realizado pela BSH Travel Research e
divulgado pela Associação Brasileira de Resorts, o Nordeste possui 48,3% do total
de resorts no Brasil, com 53 empreendimentos, seguida das regiões Sudeste, com
37 resorts; Sul com 17; Centro-Oeste com 8 resort e a Norte com 2
empreendimentos desse porte.
Dessa forma, há forte vinculação dos resorts às regiões litorâneas, como o
Nordeste brasileiro, que apresenta extensa zona costeira, cultura de hospitalidade e
receptividade aos turistas, atrativos turísticos naturais relevantes para o mercado
internacional, mão de obra barata, além de facilidades legais para instalação dos
empreendimentos e incentivos indiretos de políticas de turismo, como o
PRODETUR. Tais fatores contribuem para a concentração desses fixos e para o
reconhecimento da região nordestina como produto turístico internacional.
2.1 – O Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste para o Brasil
Para este trabalho foi investigado o turismo na região Nordeste do Brasil na
relação com o PRODETUR com apresentação das práticas políticas nas diferentes
fases de atuação do programa, desde a década de 1990. A relevância do
PRODETUR para estruturação do turismo no Nordeste impulsiona os estudos
geográficos deste trabalho que o analisa enquanto política territorial precursora de
ações para o fomento da atividade turística planejada para a realidade nordestina e
que posteriormente é ampliada para outros territórios brasileiros.
Vale salientar que a época de estruturação do PRODETUR/NE outros três
programas de turismo: PRODETUR Sul, PRODETUR JK e Proecotur também foram
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3283
idealizados para execução nas demais regiões do país. No entanto, conforme MTUR
(2008), somente o PRODETUR/NE contava com recursos de financiamento
internacional, sendo o único realmente implantado.
Com o PRODETUR destinos turísticos nordestinos são dotados de
infraestrutura básica e de outros fixos importantes para aumento dos fluxos nos
territórios, tais como: infraestrutura de acesso (estradas turísticas, ferrovias, pontes,
rodovias, túneis e viadutos, orlas fluviais, lacustres e marítimas); terminais
rodoviários, ferroviários, aeroviários, fluviais, lacustres e marítimos; centros de
cultura, museus, casas da memória, centros de convenções, centros de apoio ao
turista, teatros, centros de comercialização de produtos artesanais e mirantes
públicos; centro de qualificação de mão de obra para os setores de gastronomia,
hotelaria e turismo; parques ecológicos, temáticos e de exposições e rodeios;
pórticos e portais; sinalização turística; restauração de edifícios, monumentos e
conjuntos históricos; despoluição de praias, incluindo-se ações de urbanização,
saneamento e limpeza (MTUR, 2014). Planos de Manejo, Planos de Uso Público,
Planos Diretores também são contemplados entre as ações da política que requer
parcerias interinstitucionais pela abrangência de temas que envolve o
desenvolvimento do turismo.
Financiados com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID
e coordenados pelo Banco do Nordeste, o PRODETUR/NE I e PRODETUR/NE II
apresentam semelhanças quanto a área de abrangência. Para a primeira fase, a
política abrange, previamente, os polos turísticos: Costa do Descobrimento,
Chapada Diamantina, Litoral Sul, Costa do Descobrimento e Salvador e Entorno na
Bahia; Costa das Dunas no Rio Grande do Norte; Costa das Piscinas na Paraíba;
Costa dos Arrecifes em Pernambuco; Costa dos Corais em Alagoas; Costa dos
Coqueiros em Sergipe; Costa do Sol no Ceará; Costa do Delta no Piauí; São Luís e
entorno no Maranhão. Já para a segunda etapa, o PRODETUR amplia a área de
influência territorial e passa a englobar toda a área pertencente ao chamado
Polígono das Secas, incluindo, portanto, o Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais) e
Capixaba do Verde e das Águas (Espírito Santo).
Ao final dos programas, Relatórios de acompanhamento do BID (2005, 2012) e
do Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2004, 2005) analisam a política no
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3284
Nordeste brasileiro, indicando os gastos, avaliando os resultados alcançados em
quase 20 anos de política e apontando recomendações.
Foram identificadas críticas e denúncias por parte da sociedade civil no
tocante às interferências no patrimônio histórico-cultural de várias cidades, assim
como questões ambientais. As demoras para efetividade das ações planejadas e as
descontinuidades das equipes gestoras também foram apontadas como questões
negativas para o desenvolvimento do programa.
Crescimento do emprego formal vinculado ao turismo; aumento na
participação do Produto Interno Bruto de Serviços no PIB Total, que atingiu 71% na
Região Nordeste em 2011; e o crescimento da movimentação nas capitais que
receberam recursos do Programa, que chegou a 29.599.300 passageiros em 2011
(BID, 2012), foram estatísticas positivas que impulsionaram a continuidade do
Programa para uma terceira fase, agora nacional.
O PRODETUR Nacional amplia a área de atuação da política, voltando-se para
Estados e Municípios de todo o Brasil. Assim como amplia os acordos de
empréstimos com os bancos internacionais BID (já financiador das etapas
anteriores) e com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). As
Secretarias do Turismo de cada unidade da federação e municípios são as
responsáveis pelo gerenciamento do programa. Em 2015, os Estados nordestinos
Ceará, Pernambuco e Sergipe apresentaram, respectivamente, cerca de 32%, 53%
e 2% de execução. Já Bahia, Salvador e Paraíba ainda se encontram em processo
para estabelecimento de contrato com o BID3. Fortaleza é o primeiro município
nordestino a fazer parte do Programa, em 2012, com financiamentos da CAF.
A terceira fase do programa de turismo abrange número maior de espaços
não exclusivamente litorâneos, havendo assim investimentos em outros
geossistemas potencialmente turísticos. Áreas serranas, do agreste e do sertão
nordestino são apontadas como polos turísticos e áreas valorizadas para receber
investimentos e incentivos para o crescimento da atividade turística. Na busca de
financiamentos os estados ampliam a definição dos polos de turismo. O Ceará
3 Informação apresentada no III Encontro Prodetur Nacional, realizado de 27 a 28 de abril de 2015, na cidade do
Rio de Janeiro, promovido pelo BID.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3285
acrescenta três polos de turismo aos já existentes no Estado: Litoral Leste, Maciço
de Baturité e Serra da Ibiapaba.
Pernambuco insere os polos da Costa dos Arrecifes, Agreste e Vale do São
Francisco como áreas prioritárias. Sergipe insere os Polos da Costa dos Coqueirais
e do Velho Chico, em referência ao Rio São Francisco. Paraíba acrescenta o Polo
Costa das Piscinas. E o Estado da Bahia ampla as ações para zona turística da Baía
de Todos os Santos.
Tais propostas evidenciam a expansão da atividade turística em territórios
nordestinos para além de litorais. São incluídos, portanto, atrativos que podem
contribuir para geração de trabalho e renda nos diversos estados sob diversos
segmentos. Também reinventa as formas, funções e práticas existentes nos lugares,
transformando-as para o entendimento às necessidades do mercado turístico. A
urbanização turística4 ultrapassa no Nordeste os limites dos espaços litorâneos,
transformando as paisagens, deslocando a lógica do capital, vinculada ao turismo,
para outros territórios, com suas contradições sociais, econômicas e culturais.
3 – Considerações Finais
O modelo de desenvolvimento econômico brasileiro como vetor do
desenvolvimento, no contexto regional, nacional e internacional tem dado ao turismo
grande importância, apontando-o como atividade produtora de espaço, detentora de
territórios e dinamizadora de grandes e pequenas economias no contexto
internacional, nacional e local. A atividade turística traz a possibilidade de geração
de emprego e renda no Nordeste, entrada de divisas, e valorização de patrimônios
históricos, culturais e naturais, entretanto, também pode provocar impactos
indesejáveis.
O PRODETUR representa importante instrumento para o desenvolvimento
do turismo no Nordeste e no Brasil. Apesar de muitos destinos nordestinos
apresentarem atrativos naturais de grande relevância para o turismo, e os residentes
se mostrarem receptivos aos visitantes, isso não são condições suficientes para
4 Segundo Luchiari (s.d, p.2), a “urbanização turística coloca as cidades no mercado de paisagens naturais e artificiais. Algumas cidades chegam a redefinir toda sua vida econômica em função do desenvolvimento turístico, reorganizando-se para produzir paisagens atrativas para o consumo e para o lazer”.
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3286
garantir o crescimento e a qualidade da atividade turística. Políticas sociais se fazem
necessárias para o desenvolvimento dos territórios
As infraestruturas básicas precárias na maioria dos destinos turísticos,
inclusive nas capitais, serviços que serve de apoio ao turismo sendo deficiente, não
havendo qualidade de vida dos residentes, segurança pública, e facilidade de
acesso nos núcleos receptores o lugar se configura como empecilho ao
desenvolvimento do turismo. A precarização da qualidade de vida urbanos nos
estados nordestinos mostra que ainda há descaso nas políticas públicas que não
minimizam os problemas sociais, não garantindo o atendimento às necessidades
humanas como direito da sociedade.
Ao implantar melhorias na infraestrutura, movimentação de divisas ajuda a
promover o crescimento da Região gera aumento de postos de trabalho e amplia
oportunidades de emprego e investimentos, estimula a qualificação da força de
trabalho que tem melhorado e se ampliado na região Nordeste.
O PRODETUR é qualificado como referência de planejamento regional e
territorial no Brasil. As estatísticas positivas do crescimento econômico do Nordeste
pelo turismo impulsionam Estados e Municípios do Norte e Centro-Sul a aderirem à
mesma política, visando resultados positivos também para suas realidades.
4 – Referência Bibliográfica
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IGBE: Pesquisa Mensal de Serviços. Abril de 2015. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Comercio_e_Servicos/Pesquisa_Mensal_de_Servicos/Fasciculo_Indicadores_IBGE/pms_201504caderno.pdf> Acesso em: 06 jul 2015.
BCB. Banco Central do Brasil. Boletim Regional do Banco Central do Brasil, v. 9, n. 2. Abril 2015. p. 1- 105. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pec/boletimregional/port/2015/04/br201504P.pdf> Acesso em: 06 jul 2015. BID. Banco Interamericano de Desenvolvimento. Relatório de Término de Projeto: PRODETUR NE II. 10 out 2012. Disponível em: < http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37340439> Acesso em 05 nov 2014. ______. Relatório Final de Projeto. Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – PRODETUR NE I 2005. Disponível em: <
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3287
http://edi.bnb.gov.br/content/aplicacao/prodetur/downloads/docs/docum_9_pcr_i.pdf> Acesso em: 03 jul 2015. BRANDÃO, Paulo Roberto Baqueiro. Refletindo sobre as políticas públicas para o turismo em Cancun: um modelo a ser seguido? In: CASTILHO, Cláudio Jorge Moura de; SELVA, Vanice Santiago Fragoso. Turismo, políticas públicas e gestão dos ambientes construídos. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012. p.117-140. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório do primeiro monitoramento: Programa Desenvolvimento do Turismo no Nordeste / Tribunal de Contas da União. Brasília. Jun 2005. 19 p. Disponível em: <
http://portal3.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_governo/areas_atuacao/ind_com_serv/PRODETUR_MONITORAMENTO_1.PDF> Acesso em: 01 jul 2015. ______. Tribunal de Contas da União. Relatório de avaliação de programa: Programa Desenvolvimento do Turismo no Nordeste / Tribunal de Contas da União; Ministro-Relator Benjamin Zymler. – Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2004. 96 p. Disponível em: <
http://portal3.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_governo/areas_atuacao/ind_com_serv/PRODETUR.PDF> Acesso em: 01 jul 2015. BSH Travel Resarch. Relatório Resorts no Brasil 2013. Disponível em: <
http://www.resortsbrasil.com.br/images/relatorios/Pesquisa%20-%20Resorts%20no%20Brasil%20%28BSH%202013%29.pdf> Acesso em 10 jul 2015. CORIOLANO, Luzia Neide M. T.; ALMEIDA, Humberto Marinho de. O turismo no nordeste brasileiro: dos resorts aos núcleos de economia solidária. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2007, vol. XI, núm. 245 (57). http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24557.htm> [ISSN: 1138-9788] Acesso em 07 abr 2015 LUCHIARI. Maria Tereza. Urbanização Turística um novo nexo entre o Lugar e o Mundo. In: Asociación Canaria de Antropología. Prepublicación de GUIZE número 4. Disponivel em:<
http://www.antropologiasocial.org/contenidos/publicaciones/otautores/fortcon.pdf> Acesso em: 03 jul 2015. MTUR. Ministério do Turismo. Estruturação dos Destinos Turísticos Brasileiros: Programas de Desenvolvimento do Turismo - Ministério do Turismo. Apresentação ppt. 5 nov 2014. Disponível em <
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CB0QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww19.senado.gov.br%2Fsdleg-getter%2Fpublic%2FgetDocument%3Fdocverid%3Df679f9f8-afae-40fa-af44-b72e307e8084%3B1.0&ei=-
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3288
gqgVYe2CMq0ogSZkIDgBg&usg=AFQjCNH4V5ownQX1x0hfI5ItmKM5DqwpnA&bvm=bv.96952980,d.cGU> Acesso em: 06 jul 2015. MULLER, Pierre. Les politiques publiques. Paris, PUF, Que ais-je, 2000. OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma religião: SUDENE, Nordeste. Planejamento e conflito de classes. 3ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. 2010. Disponível em: <
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/> Acesso em: 06 jul 2015.