Post on 24-Mar-2016
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Giles Slade Futebol:
Você gosta de comer, mas .não gosta de tomar remédios
E que tal se alguém juntasse as
duas coisas em uma, e ainda
colocasse no formato de guloseima?
Essa é a proposta dos nutracêuticos.
Celso Roth, o bigode
e um pendrive
Gastronomia: Um gastropub
em Caxias
Turismo: Estilo: Amsterdã, sua
linda
O preço da
alta costura
Entrevista:
ANO 02 EDIÇÃO 04
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TRENDLINE[MAG] . ANO[02]
Foto Samuel Ramos
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TURISMO / GO THERE
QG DO ESTILO / STYLE
IMIGRAÇÃO ITALIANA / SÉRIE PARTE III
CULTURA / FOLK
IMPEDIMENTO / FÚTBOL
TELEFONE VERMELHO / CRT
Você pode ficar alto nos Países Baixos
Não é caro, você que é pobre
Bella Polenta
Festival de Folclore, o retorno
Juarez, o highlander dos Pampas
Batendo queixo no pago
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QUE FOME / FOOD
SAÚDE / GOOD LIVING
O primeiro gastropub da região
Massagens e drenagens ajudam, mas não resolvem sozinhas
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2412
ENTREVISTA / SPOTLIGHT
Giles Slade
NEGÓCIOS / BUSINESS
20 MÍDIA / MEDIA TALKING
Mercados que as grandes não querem
A nova Todeschini Kazalla
Informação e desinformação18 MERCADO / MARKET ANATOMY
24CAPA / FEATURED
Você ainda compra comidano mercado?
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Foto Janaina Silveira
Foto Image.net
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CAROS LEITORES QUEM FAZA ficha de que o primeiro ano de
Trendline passou só foi cair na
diagramação: ao revisar os
rodapés, percebi que ali diz
"Ano[02]".
É muito legal olhar para trás e ver
tudo o que passou. Ver como o
nosso projeto se desenvolveu e,
tal qual uma criança que ainda
ontem engatinhava, já
conseguimos - com alguma desenvoltura - dar os primeiros passos.
Sabemos que ainda temos um longo caminho pela frente, mas também
reconhecemos o quanto essa revista cresceu.
Conhecemos muita gente boa ao longo desses doze meses: parceiros
comerciais, leitores, admiradores e um sem fim de amigos que tanto
ajudam a mantermos esse padrão editorial que vocês conheceram, o
mesmo que surpreende algumas pessoas que recebem a Trendline
e perguntam: «Tem certeza que essa revista é produzida no interior
gaúcho?». Nossa meta, há um ano, era apresentar um produto de mídia à
altura da Serra Gaúcha. Penso que conseguimos. Agora, contudo, é hora
de ir além: estipular novas metas e continuar superando expectativas.
Seria impossível nominar todos os agradecimentos que são devidos
nesse período de Trendline, de maneira que me limito a agradecer
a todos vocês por terem nos acompanhado nesse tempo, permitindo
que um projeto dessa monta, realizado de maneira independente e longe
de um grande centro urbano, esteja prosperando.
Imaginem quando a criança crescer.
Samuel Ramos, o seu editor.
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Nova Prata . RS . Serra Gaúcha
Terça a sábado, ao meio dia:
- comida caseira no fogão
Terça a sábado, à noite:
- Filés e panquecas;
- Frutos do mar e outros pratos
especiais (reservas para, no
mínimo, doze pessoas)
Terça a sábado, ao meio dia:
- comida caseira no fogão
Terça a sábado, à noite:
- Filés e panquecas;
- Frutos do mar e outros pratos
especiais (reservas para, no
mínimo, doze pessoas)
Identidade própria.Proposta única.
ENTREVISTA / SPOTLIGHT
Por Samuel Ramos*Jornalista, editor da Trendline [mag].samuel@tlmag.com.br
Você lembra quanto pagou pelo seu último telefone celular? E peloseu notebook? Você lembra quanto tempo o modelo anterior durou? E o motivo pelo qual você trocou? Bem-vindo ao mundo daobsolescência planejada, um modelo de negócios amplamente utilizado por grandes empresas que se baseia no compre mais.
Giles Slade: «Você compra, o produto quebra»
«No meu tempo...» é um dos começos de frases mais
utilizadas por pessoas que hoje atingiram mais de 50
ou 60 anos quando querem registra a mudança pelo
qual passou o mundo no decorrer das últimas décadas
e de como, na opinião dessas pessoas, alguns valores
se perderam.
Se em alguns casos há exageros, em outros eles estão
certos. Eletrodomésticos, carros, bens de consumo e,
claro, sobretudo os eletrônicos ganharam número nas
nossas vidas e residências, e possuem um papel
incompreensível para as gerações anteriores. Nossa
sede por novidades e por quantidade de tralhas
eletrônicas é inimaginável para alguém que morou em
uma casa que possuía um único televisor.
Giles Slade, escritor americano, é uma das pessoas
que mantém sérias críticas quanto a esse nosso estilo
de vida moderno. Veja nos próximos parágrafos o
porquê:
Giles Slade Se você substituiu algum eletrônico nos
últimos meses, as chances são grandes de que o
equipamento trocado ainda pudesse funcionar. E as
chances são maiores ainda de que o modelo recém
trocado irá funcionar por menos tempo do que esse
que foi substituído.
[mag] Giles, você é o autor de uma obra muito famosa
nos meios acadêmicos, chamada «Made to Break:
Technology and Obsolence in America» (Feito para
quebrar: tecnologia e obsolescência nos Estados
Unidos) - 2006 - Harvard Press. O livro, infelizmente,
não possui tradução em português, então peço que
defina esse conceito para os nossos leitores.
Mais do que um modelo de negócio, esse sistema de
obsolescência programada, que prevê uma vida útil
reduzida para uma série de produtos, se tornou a
essência do estilo de vida americano durante o último
século e também foi exportado para todo o mundo nas
últimas décadas.
A descartabilidade é, hoje, indispensável para toda a
sociedade de consumo. É preciso formar
consumidores eternamente descontentes, sempre
interessados em substituir os produtos antigos por
novos. A impermanência é essencial, e essa cultura
quebrou totalmente com o senso de tradição e
durabilidade das gerações anteriores.
[mag] Eu acho curioso que essa discussão sobre a
durabilidade dos bens tenha surgido na Europa e nos
Estados Unidos com muita força e aqui no Brasil o tema
não tenha ganhado debates públicos, sobretudo nos
meios de comunicação. Recentemente em uma
viagem vi lâminas de barbear importadas,
superavançadas, com cinco linhas de corte, a um
preço de US$ 30 por seis cartuchos. Aqui no Brasil, a
mesma marca vende aparelhos com três linhas de
corte, pelos mesmos US$ 30 e eles duram, em média,
cinco vezes menos. No terceiro barbear a sua cara fica
igual a do Freddy Krueger.
GS Lâminas de barbear são produtos de higiene
pessoal que há muito tempo são considerados
«descartáveis». A cultura de consumo evoluiu de uma
maneira que hoje até mesmo lentes de contato são
consideradas descartáveis. Esses produtos duram por
uma quantidade bem específica de tempo e o pior é
que essa condição é entendida pelo consumidor no
momento da compra. Ele sabe que não irá durar.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]12
Technology and
Obsolence
in America
«A história reserva um lugar de destaque para sociedades que constroem coisas que duram - para sempre, se possível.
Que lugar terá uma sociedade viciada no consumo, que baseia a sua cultura no efêmero das coisas que são feitas para quebrar?»
Giles Slade
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]14
Quando o consumidor paga caro por um item que ele
sabe que irá durar pouco, aí temos o começo do
processo de consumo repetitivo, e esse é o estágio que
antecede o da obsolescência programada.
Eu acredito que a maior parte dos produtos que estão
no mercado hoje, sobretudo os fabricados por grandes
empresas, possui uma vida útil pré-determinada e ela é
atribuída de acordo com pesquisas de mercado, ou
seja, é deliberadamente atribuída de acordo com o que
o consumidor aceitará como tempo normal de uso de
determinado produto. Mas tudo começa na
predisposição de uso e de compra, ou seja, com o fato
do produto ser encarado como descartável. Somente
depois é que entra a obsolescência planejada.
Já sobre o custo dos produtos, hoje eu moro no
Canadá e aqui os carros são muito mais caros do que
nos Estados Unidos, mesmo com o nosso câmbio um
pouco mais favorável. As explicações que nos dão aqui
devem ser as mesmas que você ouve aí: impostos de
importação e custo de transporte. Contudo, a verdade
é que as empresas vão cobrar o valor máximo que
cada mercado aceita. Se o consumidor aqui no
Canadá ou aí no Brasil paga mais, os fornecedores irão
explorar isso até o limite que seja possível.
O preço alto é bom para a lucratividade desses
negócios e é bom para o bolso do governo, que recebe
mais impostos nessas vendas.
GS Na verdade o que originou o livro foi mais um
trabalho de pesquisa sociológico do que econômico.
Eu andava à procura de respostas que explicassem
por que as nossas relações interpessoais, aqui na
América do Norte, haviam se tornado tão frias,
austeras, insatisfatórias e por que andamos tão rudes
entre nós em público.
Minha conclusão é que começamos a estabelecer
relações pessoais de acordo com as premissas
econômicas, ou seja, começamos a nos tratar não
como pessoas, mas como produtos, o que também
significa que se nossas relações são produtos, elas
também podem ser descartáveis.
Parece haver uma vinculação entre a nossa atitude
com os bens de consumo e a nossa atitude entre as
pessoas. Isso levou a uma desvalorização do contato
entre humanos.
[mag] Como foi que surgiu a ideia de escrever o «Made
to Break»?
FOTO ALAN BENNETT
TRENDLINEMAG . NO[04] 15
[mag] Durante o seu trabalho de pesquisa, quais foram
as evidências que você encontrou que corroboram a
tese de que as indústrias constroem produtos feitos
para falhar/quebrar depois de determinado tempo de
uso?
GS
dessas «falhas» programadas. A primeira delas é o fato
de continuamente comprarmos novos produtos para
substituir os antigos. Faça as contas e pense consigo
mesmo: quantos celulares você teve nos últimos dez
anos? Quantas vezes trocou seu televisor?
Outro ponto que mostra como o consumidor virou
refém dessa estratégia é o custo de reparo das
mercadorias que apresentem problema. Em 100% dos
casos, o conserto custará praticamente o preço de um
novo produto.
Os próprios serviços de assistência são guiados a
gerar novas vendas, pois em geral há dois problemas:
as peças de cada fabricante são únicas - limitando o
trabalho das oficinas - e o preço do reparo é muito alto.
Esses dois fatos encorajam o consumidor a comprar
um novo equipamento. Outras vezes a entrega das
peças é muito demorada, e o equipamento está tão
presente na rotina das pessoas que o cliente
simplesmente desiste de esperar e compra um novo
item.
Há várias evidências que comprovam a existência
Esse sistema mostra claramente como os produtos
não são feitos para não durar.
Há uma regra simples que diz: quanto mais caro você
pagar por um produto, mais tempo ele irá durar.
Digamos, por exemplo, que você compre um
automóvel da Chevrolet ou da Ford, e então ele quebra
depois de dois ou três anos. Se você comprar uma
Mercedes ou um BMW, é possível que ele quebre só
depois de sete ou oito anos. Da mesma forma, se você
comprar um relógio simples, ele funcionará por alguns
anos, mas se você tiver comprado um Patek, ele
provavelmente irá durar toda sua vida (se você estiver
preocupado com isso, claro).
E aí eu volto a falar sobre o custo e tempo da garantia.
Se você adquire uma lavadora, uma secadora em uma
grande loja, ou um computador na Apple ou na Dell,
eles te darão dezoito meses de garantia
pelo produto. Porém, depois desse tempo, se
torna muito caro para eles assumirem o risco do
produto sofrer avarias, então essa garantia mais curta é
outra evidência de como as coisas são feitas. Caso
contrário, eles poderiam nos dar, vamos dizer, cinco
anos de garantia.
GS Os produtos que possuem o seu tempo de vida útil
mais reduzido são, sem sombra de dúvidas, os
equipamentos eletrônicos. Computadores, telefones,
smartphones, câmeras digitais e etc. são feitos para
durar dezoito meses. Depois disso, só com muita sorte
você continuará usufruindo desses equipamentos.
Há outras classes de produtos que, com o passar dos
anos, também adquiriram características descartáveis.
É engraçado dizer isso, mas as lâmpadas e as meias
de nylon (meias-calças) que nossas avós usavam
duravam muito mais do que as comercializadas hoje.
Com todo o avanço tecnológico é impressionante ter
que admitir isso, mas é outra prova inconteste de como
a característica original dos produtos é alterada para
fazer com que compremos mais.
A primeira lâmpada da história, criada por Thomas
Edison, em 1881, durava 1.500 horas de uso. Em 1911,
algumas lâmpadas vinham com um certificado de
duração de 2.500 horas. Então, em 1924 um cartel
entre os principais fabricantes na Europa e nos EUA
negociou de forma a limitar a vida útil de uma lâmpada
elétrica para 1.000 horas.
(nota do editor:
no Brasil não passará de doze, se quiser mais é preciso
pagar)
[mag] E com base na sua pesquisa, quais são os
produtos que mais apresentam problemas para os
consumidores?
Em Livermore, na Califórnia (EUA), se localiza a
Centennial Bulb (centenária lâmpada
de bulbo), que se encontra ligada
ininterruptamente há 110 anos.
A história da lâmpada
integra o roteiro do documentário
«Comprar, tirar, comprar» (Comprar, jogar fora,
comprar), produzido pela TV3 da Catalunha.
FOTO DIVULGAÇÃO
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]16
Outro exemplo bastante utilizado pelos historiadores é
a invenção da meia de nylon, na década de 40. Os
engenheiros da DuPont, criadora das meias,
desenvolveram um produto tão resistente que era
possível rebocar um carro com uma meia elástica.
Então, por uma necessidade óbvia de mercado (a
DuPont não desejava vender uma meia calça que
durasse um século), a vida útil das meias de nylon foi
sendo reduzida e hoje qualquer arranhão inutiliza um
desses produtos
.
GS Há algumas classes que estão cada vez durando
menos. Brinquedos de criança, por exemplo, estão se
tornando cada vez mais frágeis. E alguns
consumidores já encaram isso como normal,
começam a enxergar os brinquedos como
descartáveis.
A maior amostragem advém dos produtos chamados
low end, que são geralmente os mais baratos. Veja
esses aparelhos de MP3, a maior parte deles possui
uma vida útil extremamente curta. O mesmo se pode
dizer dos fones de ouvido que vêm com eles,
raramente é possível utilizar algum desses produtos
por mais de alguns meses.
Outra classe que está diminuindo mais e mais a sua
vida útil é a das câmeras digitais. Esses aparelhos, que
hoje viraram uma espécie de brinquedo infantil, eram
caríssimos no começo da década passada. Hoje, ao
contrário, são extremamente baratos e mal
construídos. Entendo que, por serem baratos, o
consumidor não se sente lesado quando quebram
fácil. E esses produtos estão durando cada vez menos.
Talvez isso explique o fenômeno.
GS Essa é a parte do desenvolvimento econômico em
que se baseia a economia do consumo que ninguém
quer conhecer.
(nota do editor: todas essas
informações constam no documentário da TV3
«Comprar, tirar, comprar», disponível no YouTube ou no
Vimeo - inclusive com legendas)
[mag] É possível identificar uma tendência de que a
vida útil dos produtos esteja decaindo, digamos, na
última década?
[mag] Já referimos anteriormente que quando um
produto quebra se torna mais barato e cômodo
simplesmente comprar um novo do que efetuar o
reparo. Isso levanta outra questão, que você aborda no
seu livro: para onde vai todo esse lixo eletrônico e
tecnológico, oriundo dos aparelhos abandonados?
A dura realidade é que o lixo eletrônico é enviado para
países em desenvolvimento, tais como China,
Bangladesh, Índia, Nigéria e outros. Nesses países, os
restos dos aparelhos eletrônicos são desmontados a
mão por pessoas que vivem disso, contribuindo para
formar imensos lixões.
É claro que esse tipo de atividade é ilegal, vender lixo,
que é o caso, mas as empresas recolhem esses
dejetos - ou contratam companhias que façam o
trabalho sujo por elas -, chamam isso de reciclagem e
através dessa etiqueta «verde», obtêm liberação dos
órgãos internacionais de fiscalização.
Os metais mais valiosos desse entulho são removidos
do lixo eletrônico através do uso de soluções ácidas,
altamente tóxicas, e que muitas vezes são despejadas
em rios e fontes de água.
A resistência do nylon, que foi reduzida de maneira a permitir
um produto menos durável, é um exemplos clássicos
na história da obsolescência programada.
FOTO DIVULGAÇÃO
O material plástico é queimado em altíssimas
temperaturas, o que polui o ar com petroquímicos e
acaba afetando a todos nós. Em suma: estão
realmente prejudicando o meio ambiente com essa
prática e, lamentavelmente, a opinião pública não tem
ideia de como esse tipo de «reciclagem» é feita e nem
do efeito nocivo que todo esse consumo excessivo
causa ao nosso planeta.
GS Imagino que você esteja citando instituições como
o Sillicon Valley Toxic Coalition. Bem, esses órgãos
tentam passar leis federais nos Estados Unidos e
influenciar outros países a fazerem o mesmo, porém,
sinceramente, com essa situação econômica que
vivemos e com o atual cenário político, é realmente
impossível mudar algo nesse momento.
GS Sim, existem. Fabricantes de maquinário pesado,
tais como Caterpillar e AGCO, por exemplo, sabem que
o seu consumidor não aceita trocar o equipamento a
cada par de anos. Além deles, produtos do segmento
de luxo, tais como grandes marcas de carros e
relógios. Esses são produtos feitos para durar.
[mag] E existem órgãos - governamentais e não
governamentais - que estejam monitorando essas
ações? Há alguém ao lado do consumidor nessa
história?
[mag] E a postura das empresas, há casos de
empresários que estejam preocupados em colocar no
mercado produtos de maior durabilidade?
Uma estratégia muito interessante desses fabricantes
é construir equipamentos que possam durar um
número específico de anos, que sejam facilmente
desmontáveis - e recicláveis. Esse é realmente o
melhor caminho a seguir.
GS Certamente. Não só é possível, como é a maneira
mais correta e inteligente de trabalhar. Existe um ditado
em inglês que diz o seguinte: compre barato, compre
duas vezes (buy cheap and buy twice). E se você
compra um produto caro, é natural que você espera
que ele dure mais. Penso que é esse o motivo pelo qual
as pessoas pagam por relógios Rolex ou por jóias de
ouro e diamante.
GS Estou finalizando esse livro agora mesmo, porém
ele não terá o mesmo tema de «Made to break».
Estou me concentrando em escrever sobre a maneira
como a nossa cultura de bens materiais e a nossa
relação com a tecnologia - por mais de um século - está
mudando o nosso comportamento humano e
permitindo que troquemos o relacionamento pessoal
em favor de interações com máquinas.
[mag] E é possível fazer produtos de grande
durabilidade e ainda fazer dinheiro, ter um bom lucro?
[mag] Para finalizar, você me disse, antes de iniciarmos
a entrevista, que está escrevendo um novo livro. Fale
mais sobre esse novo projeto.
TRENDLINEMAG . NO[04] 17
Cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidas a cada ano. Uma boa parte desse descarte é encaminhado
para países em desenvolvimento. A China é um dos destinos mais comuns [foto acima].
FOTO DIVULGAÇÃO GREENPEACE
MERCADOS / MARKET ANATOMY
Por Alexandre Lattari*marketsbyfactfinder.blogspot.com* Trader, especulador.
«Por que dizer muitas coisas para algumas pessoas se posso dizer nada para todo o mundo?»
Quando a ausência de notícias e de comentáriosé uma boa notícia
Em sua aparição inesperada nos palcos ingleses, após
longos anos de ausência, Jerry Seinfeld lançou a frase
acima, para falar sobre o fenômeno Twitter. É uma
discussão premente, entre a comunicação em excesso
(overcommunication) e, bem, o não ter nada de útil
para dizer. Chistes à parte, é interessante verificar
como hoje tomamos como normal uma ferramenta de
comunicação simplesmente inimaginável há 20 anos.
Outro dia li um artigo de um analista financeiro norte-
americano em que ele reconhecia a importância das
redes sociais e da Internet, mas repudiava a
repercussão dada a informações de baixa qualidade.
Notoriamente o comportamento de manada (herding)
dos participantes dos mercados tem sido
potencializado por uma avalanche incessante de
análises, visões e comunicados contraditórios..Citemos, por exemplo, a celeuma que absorveu boa
parte dos esforços da mídia especializada no início de
maio/2011. Dados fornecidos trimestralmente pelo
órgão regulador dos mercados acionários dos Estados
Unidos (SEC, a Securities and Exchange Commission)
revelaram que o hedge fund do lendário George Soros
havia liquidado quase todas as suas posições em
ativos lastreados em ouro e prata. De pronto, diante do
sinal emitido pelo “homem que quebrou o Banco da
Inglaterra”, analistas passaram a avaliar as
perspectivas macroeconômicas dos países do G-7.
Inflação ou deflação à vista?
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]18
A matéria de capa da revista acima - propositadamente não identificada -, de maio de 2009,convidava o leitor a «bombar» na bolsa de valores. Por ironia, menos de seis meses depois da publicação,o índice cairia quase 50%.
Não chegaram a conclusão alguma, principalmente
porque outros grandes hedge fund managers - dentre
eles John Paulson e Eric Sprott - mantinham suas fés
inabaláveis nos metais preciosos.
Não antes de julho último a verdade veio à tona: o
Soros Fund Management liquidou suas posições
porque estava encerrando suas atividades. Simples
assim. Uma trajetória profissional fantástica de mais de
40 anos chegara ao final. Habitué dos informativos da
área, não percebi qualquer mea culpa por parte dos
mesmos analistas.
A sanha dos veículos de comunicação por page views
e números de audiência, que se refletem diretamente
em suas receitas de publicidade, abriu uma nova
perspectiva no uso da informação. Com alguma
experiência é possível servir-se de estatísticas de
mecanismos de busca na Internet e/ou manchetes de
publicações para aprimoramento do timing de
mercado. Diga-se, de passagem, que esta abordagem
contrária (contrarian) não é nova.
Paul Montgomery desenvolveu, por décadas, um
reconhecido trabalho associando pontos de virada nos
mercados acionários a capas da revista Time. Mas não
se enganem. O assunto é extenso e exige certas
características do traço cognitivo do investidor.
O tema deste artigo não é fortuito. Da minha
experiência percebo que sempre que conhecidos
personagens - frequentemente associados a crises
econômicas e crashes de mercados - começam a
ganhar visibilidade, boa parte da queda de preços já se
esgotou no curto ou médio prazo.
Atualmente não conheço nenhum representante desse
grupo melhor que o superstar Noriel Roubini, consultor
e professor da Universidade de Nova Iorque. À medida
que preços de ativos aceleram a queda, cresce o
número de aparições televisivas do Prof. Roubini e de
buscas pelo seu nome na Internet. Um fato alimenta o
outro até o atingimento do clímax.
Quando os preços subitamente se estabilizam e
começam a subir ninguém se interessa mais pelas
palavras proféticas do Dr. Roubini... até o próximo
crash.
Como disse uma vez Mark Twain, “a história não se
repete, mas rima”.
TRENDLINEMAG . NO[04] 19
Acima, capa do The Economist de novembro de 2009, quando o Ibovespa marcava cerca de 65 mil pontos.
Depois, a famosa capa que marcou o ápice da especulação imobiliária americana, em junho de 2005.
A indústria de publicidade passou os últimos 50 anos
olhando para as grandes cidades. Lá estavam não
apenas o maior número de pessoas, mas também as
taxas de crescimento mais consistentes. Logicamente,
para esses mercados também foi - e é - direcionada a
maior fatia de investimentos das grandes marcas, de
diferentes segmentos, seja no quesito publicidade,
ações culturais ou patrocínios a eventos.
Tal realidade ainda perdura nos dias de hoje e qualquer
agente de mídia que contatar o marketing de grandes
empresas (ou mesmo o pessoal de mídia das agências
de publicidade, que cuidam das contas dessas
empresas) ouvirá algumas explicações parecidas com
essa: «Nosso foco é o mercado de São Paulo e Rio» ou
«Direcionamos todo nosso investimento para grandes
centros e no momento não temos verba».
O que mui tas dessas grandes empresas
desconhecem é que nas pequenas e médias
localidades se encontram excelentes indicadores
econômicos. O Rio Grande do Sul, por exemplo,
possui 10 das 50 cidades com maior renda domiciliar
média (IBGE). Dessas, sete possuem menos de 200
mil habitantes. Na Serra Gaúcha estão quatro das dez,
e, à exceção de Caxias do Sul, três se encaixam nesse
perfil: Nova Bréscia, Carlos Barbosa e Bento
Gonçalves possuem menos de 200 mil moradores.
Também no quesito Produto Interno Bruto (PIB) per
capita (IBGE), a listagem dos primeiros lugares é
dominada por pequenas cidades. Na região da Serra,
Nova Prata e Nova Bassano encabeçam a listagem,
sendo o 5º e 6º lugares, respectivamente, no Estado.
Para efeito de comparação, Caxias do Sul fica na 22ª
posição e Porto Alegre na 23ª.
PAPO DE MÍDIA / COMUNICATE
Por Paulo Mattos Pinto** Diretor de Mídia.
Você mora no interior, tem um bom padrão de vida e gosta das grandes marcas. Mas a verdade é que elas não estão nem aí para você ou para a sua cidade.
Essa realidade se repete em outros Estados do Brasil.
Estudo realizado pelo Ipea, em 2009, mostrou que as
cidades de médio porte vinham crescendo
praticamente o triplo dos municípios de grande porte:
enquanto o crescimento do PIB de municípios com
mais de 500 mil habitantes foi de 1,55% entre 2002 e
2005, o de cidades com menos de 100 mil habitantes
foi de 3,22%, e o de cidades com população entre 100
mil e 500 mil foi de 4,71%.
Tal realidade tem provocado alguma movimentação
entre as marcas mais ligadas que, sabiamente, têm
dividido seus orçamentos de marketing entre grandes,
médias e pequenas cidades, evitando, assim,
concentrar toda sua verba nos saturados (e mais
caros) mercados das metrópoles.
Essa movimentação, contudo, ainda é bastante
incipiente e você não irá encontrar uma participação
forte de uma grande marca em uma ação que seja
realizada em cidades menores - à exceção de
incentivos fiscais que se transformam em apoio à
realização de feiras e mostras municipais. A verdade é
que ainda perdura um grande preconceito por parte do
empresariado e de alguns publicitários quanto aos
mercados menores.
As redes e marcas locais mais antenadas é que se
beneficiam dessa ausência. Essas, que conseguem
aproveitar o maior poder aquisitivo da população e a
falta de um grande número de concorrentes em
determinados segmentos, conseguem planejar e
executar ações de excelente relação custo x benefício
para colher uma maior presença comercial.
Bom para eles.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]20
O Brasil que as grandes nãoquerem
Nossas estradas estão passando por umupgrade importante
Apesar das críticas, cada vez mais frequentes, as estradas daSerra Gaúcha, em especial a RS 470, trechos da RS 122, RS 324, Rota do Sol (ERS-486), bem como outras, estão passando por importantes melhorias.
Através do programa de capacitação das rodovias para deficientes visuais, buracos estão sendo implantados paraaplicar o alfabeto Braille nas estradas, fazendo, assim, comque todos possam dirigir em segurança. Até mesmo quemnão enxerga - e aqueles que enxergam poderão dirigir à noitecom os faróis desligados. Só tem vantagens!
Você, contribuinte, pode ficar tranquilo que o dinheiro dos seusimpostos seguirá financiando a construção de mais e maisburacos. Somente assim teremos estradas seguras para todos.
Para agradecer ao governo por essa importante obra,contate o Secretário de Infraestrutura do RS no Twitter: @betoalbuquerque
na foto, trecho da RS 324, entre Nova Prata e Nova Bassano | crédito sônia reginato . jornal correio livre
Nossas estradas estão passando por umupgrade importante
Realização:
Faltando menos de dois anos para o aniversário de
quatro décadas da Kazalla, a loja, referência no
segmento de móveis planejados sob medida,
representante oficial da Todeschini, acaba de
inaugurar o seu novo show room, em Veranópolis.
A nova loja, completamente reformulada - em apenas
duas semanas, para a loucura de todo o staff - traz um
padrão visual bastante contemporâneo para o local,
em linha com a apresentação que ocorre nas demais
lojas da famosa marca de móveis de Bento Gonçalves.
Além de ser bastante clean, com um toque quase
minimalista, a decoração também convida o cliente a
se aconchegar nos ambientes montados.
«Queremos que as pessoas caminhem aqui dentro,
sem ter medo de tropeçar em nada. E também
queremos que elas possam conferir de perto o
acabamento e todos os detalhes do produto que
oferecemos», explica Fábio Kaczalla, diretor da
empresa.
O projeto de reformulação já vinha sendo programado
há vários meses e no ano passado, com a qualificação
da Todeschini Kazalla de Veranópolis como loja
referência na região em que está instalada, foi posto
em execução, contando com projeto da equipe de
design da Todeschini e execução da própria equipe de
montagem da loja.
Fábio, por sinal, enche a bola dos colaboradores,
responsáveis pelos projetos que saem da loja: «Todos
os nossos funcionários e funcionárias passam por
cursos de qualificação periódicos. Isso começa no
conhecimento que o pessoal do projeto precisa ter de
decoração, design de interiores e termina na
montagem, com o trabalho dos profissionais
especializados», menciona.
Esse respaldo da direção ao trabalho de seus
colaboradores é resultado de um longo trabalho de
investimento em pessoal, que faz da Todeschini
Kazalla a única empresa da região que possui uma
equipe própria de montagem trabalhando na execução
dos projetos.
Por Redação Trendline [mag]redacao@trendlinemag.com.br
NEGÓCIOS / BUSINESS TRENDS
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]22
Todeschini Kazalla, de cara novaTodeschini Kazalla, de cara nova FOTOS SAMUEL RAMOS
Além disso, o reconhecimento de Fábio à qualidade da
sua equipe se apoia na própria experiência que ele
possui no ramo: como é o representante da segunda
geração de uma família moveleira, atividade que os
Kaczalla iniciaram ainda na década de 70, já trabalhou
em praticamente todas as áreas da loja: «Já trabalhei
na venda, nos projetos, na montagem e até na
logística. Houve uma época que eu passava o dia na
loja e, no fim do expediente, lá pelas oito horas, saia
todas as noites para buscar material em Bento
Gonçalves. Atravessava a Serra, carregava a
camionete e voltava. Chegava em casa tarde da noite,
cansado, e no dia seguinte começava tudo de novo»,
conta.
Seus pais, Fabiano Kaczalla e Cleci Rigon Kaczalla,
ainda hoje sócios do negócio, acompanham de perto
todo o dia a dia da empresa e relembram como tudo
começou: «Tínhamos uma pequena oficina de
conserto de rádios aqui nesse espaço, era o nosso
trabalho no começo dos anos 70. Então, em 1973,
começamos a trabalhar com a venda de móveis. A loja
ficava bem aqui onde estamos hoje. Na época esse
prédio era uma casa antiga, bem simples. O Fábio
cresceu aqui, praticamente dormia na loja, sempre
esteve muito envolvido com o negócio da família»,
revelam.
Com o sangue moveleiro correndo nas veias, a família
Kaczalla acompanhou toda a evolução do setor, que
sofreu grandes modificações ao longo das últimas
décadas: «Esse segmento sempre foi muito
concorrido. Desde as lojas que vendiam móveis, sem
personalização alguma, até a consolidação do
mercado hoje, muita coisa passou. O setor está
amplamente profissionalizado e os clientes já
procuram as lojas e os fabricantes esperando um alto
padrão de atendimento, produto e acabamento. De
nossa parte temos a convicção de que a Todeschini
Kazalla está muito bem consolidada e preparada para
atender a esse público exigente e aos novos desafios
que o mercado oferece», avalia Fábio.
A Kazalla desde 2003 mantém todo o espaço de sua
loja, de 240 m² de área, voltados exclusivamente para
os produtos da Todeschini.
Visite:Av. Oswaldo Aranha nº 1115, CentroVeranópolisFone: (54) 3441 1215
Comida delaboratório
CAPA / FEATURED
Texto e fotos de Samuel Ramos*samuel@trendlinemag.com.br* Jornalista e editor da TL[mag]
E se você fosse à farmácia para comprar gomas, balas, chocolates e sopas?
Guarde esse nome: Nutracêuticos. Apesar do termo
ter sido criado em 1989, o tema é tão novo que até
mesmo no Wikipedia, em português (o site
enciclopédia que jogou a última pá de cal no finado
mercado de vendas dos enciclopedistas andarilhos),
as meras quatro linhas que definem o conceito foram
adicionadas apenas esse ano.
A rigor, se refere à combinação de uma coisa que
adoramos (comer), com outra que detestamos (tomar
remédios - exceção feita aos hipocondríacos).
Bom, na verdade o tema é mais complexo do que isso.
Ainda há algum ceticismo quanto às propriedades
terapêuticas dessa nova classe de produtos
farmacológicos- o próprio Wikipedia afirma que o
termo «nutracêutica» está mais vinculado ao marketing
do que à ciência, mas o fato é que produtos criados a
partir desse preceito de combinar nutrição e
farmacêutica já são uma realidade.
O ponto de partida dos pesquisadores desses
produtos reside na fitoquímica, campo da farmácia que
estuda os componentes presentes nas frutas,
verduras, legumes e cereais.
Também são alvos de pesquisa ervas, folhas, raízes e
espécies vegetais. Tudo para que, segundo os
entendidos, se possa identificar elementos que
possam trazer benefícios a saúde.
Debate científico a parte, em termos de mercado, é fácil
entender que a combinação de nutrição e farmacêutica
se desenha como um caminho muito atraente para
esse trilionário mercado global.
A possibil idade de agregar à alimentação
determinados princípios ativos não apenas facilita o
tratamento de algumas adversidades físicas, mas
também descortina um novo mundo para os
laboratórios, sejam eles pequenos ou grandes.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]24
Chocolate que promete diminuir a fome e
aumentar a saciedade é um dos produtos
nutracêuticos que está sendo desenvolvido
na região.
Nutracêutico não é alimento funcional
Embora os nutracêuticos não tenham nenhuma
relação direta com os alimentos funcionais (que são
produtos que declaram ter benefícios extras, além da
nutrição básica), foi por causa desses últimos que eles
surgiram.
Na década de 80 o governo do Japão estabeleceu um
programa para desenvolver alimentos saudáveis para a
sua população. Esse financiamento fez com que
surgisse, pela primeira vez, pesquisas orientadas a
descoberta de alimentos funcionais, dando origem a
uma série de novos produtos que, ainda hoje, muitas
vezes são confundidos com suplementos. A grande
diferença é que os funcionais são consumidos na forma
in natura, como um alimento convencional, e não
através de shakes, pós ou cápsulas. Os exemplos
nessa área são muitos, e passam por peixes, grãos,
legumes, frutas, verduras, cada um com funções
específicas.
Da década de 90 para cá, o assunto interessou a
diversos pesquisadores e empresas ao redor do
mundo se dedicaram a procurar novas substâncias
que de alguma forma pudessem ser identificadas como
benéficas à saúde. A identificação de populações que
tivessem uma baixa incidência de determinas doenças
foi um dos pontos de partida que levaram os cientistas
a estudar a alimentação desses grupos. Um caso
clássico nesse sentido foi identificado com os
esquimós, cuja alimentação baseada em peixes
parecia ter uma relação com a baixa incidência de
problemas cardíacos.
A partir de premissas como essa, estudos foram
realizados para identificar substâncias presentes nos
mais diversos tipos de alimentos que pudessem, de
alguma maneira, trazer benefícios para quem os
consumia. Daí a isolar esses princípios ativos, para,
então, introduzi-los em alimentos comuns, foi tão óbvio
quanto dois e dois são quatro. Nascia, então, a
nutracêutica, e com ela um novo campo de
possibilidades para a alimentação humana, tão amplo
que tem potencial para revolucionar cardápios por todo
o mundo.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]26
BALAS, GOMAS, SOPAS, IOGURTES, CHOCOLATESE SORVETES SÃO ALGUMAS DAS FORMAS DECONSUMO DE PRODUTOS NUTRACÊUTICOS
Cada produto que ela comercializa hoje passou por um
longo tempo de testes. Ao final, diferentes
nutracêuticos, com as mais variadas indicações, foram
desenvolvidos. E nos mais diversos sabores: vão
desde balas de laranja, abacaxi, limão, banana,
morango, dentre outros, até sopas de mandioquinha e
de ervilha com bacon.
Claro que o sabor não agrada a todos. Por mais que
Graciana se esforce, alguns paladares, mais afeitos ao
doce tradicional, irão estranhar, por exemplo, o gosto
das balas e o amargor do chocolate (que é composto
de 70% cacau). Contudo, se você não for nenhuma
formiga, não deve ter problemas em consumir numa
boa. A sopa que a Graciana nos serviu também foi uma
agradável surpresa: ao contrário das instantâneas
oferecidas no varejo, não é tão rala. E possui um sabor
bem melhor. (P.s.: Faço a ressalva de que o fato da sopa
nutracêutica ter superado o gosto daquelas «de
mercado» é tarefa facilitada simplesmente pelo fato
dessas últimas serem muito ruins).
O valor de varejo dos nutracêuticos ainda não é aquele
que a Graciana gostaria. Pelo fato deles contarem com
matérias primas importadas, o investimento mensal
médio em um desses produtos deve variar entre R$ 50
e R$ 100. Contudo, quem paga, acaba achando muito
mais cômodo e prático se deliciar com balas, sopas e
chocolates que possuam algum efeito terapêutico. «A
perspectiva no setor farmacêutico é que as cápsulas
saiam de uso nos próximos anos. As grandes
empresas estão trabalhando em outras formas de uso,
e as balas são o futuro», resume.
E na prática, o que temos no cardápio?
Para conhecer alguns produtos desse novo campo de
pesquisas, contatamos diversas farmácias de
manipulação da Serra Gaúcha. Foi assim que
chegamos até a farmacêutica Graciana Neumann,
que comanda uma manipulação na cidade de Nova
Prata. Apesar de residir e trabalhar em um pequeno
município, ela possui, hoje, no mercado, a amostra
mais completa de produtos nutracêuticos da região.
Graciana comenta que o tema é realmente bastante
novo, e que muitos colegas da área já estão
trabalhando para produzir nutracêuticos. «Em Porto
Alegre e São Paulo você já encontra em diversos
lugares, aqui as pessoas ainda estão conhecendo e
começando a olhar para esse ramo», explica.
Ela também nos explicou quais são as aplicações mais
comuns para essa nova categoria de produtos: saciar a
fome (auxiliando dietas); reduzir o apetite; controlar a
insônia; reduzir a ansiedade (calmante natural) e, por
fim, agir como estimulante. Para isso, diferentes
princípios ativos - todos derivados de produtos naturais
- são isolados e inseridos dentro de diferentes formas
de alimento, tais como balas, gomas, sopas, iogurtes,
sorvetes, dentre outros.
Para operacionalizar o uso, ela nos conta que passou
os últimos três anos realizando experimentos:
«Passava o tempo todo tentando melhorar o paladar, o
aroma, a consistência. Algumas balas derretiam,
outras ficavam com um gosto horrível, enfim, tudo que
se possa imaginar, aconteceu. O mais difícil de tudo, no
fim, é retirar dos produtos o gosto de remédio», avalia.
TRENDLINEMAG . NO[04] 27
Graciana Neumann, que trabalha na cidade de Nova Prata, é uma das pioneiras na pesquisa e no desenvolvimento de produtos nutracêuticos na região da Serra Gaúcha.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]28
Grandes de olho nesse mercado
Apesar desse mercado ainda ser novo e, por isso
mesmo, ainda de baixo faturamento, gigantes do setor
farmacêutico estão com os dois olhos em cima de
novas possibilidades de negócio. «No Brasil, tudo
começou em 2005. Nos últimos três anos melhorou
bastante, cresceu bem. Hoje, duas grandes empresas
já tomaram a dianteira e praticamente dominam a
distribuição e a comercialização das matérias primas»,
conta Graciana.
Por falar no conteúdo desses alimentos feitos em
farmácia, perguntamos a ela sobre os riscos de uma
dosagem excessiva. A farmacêutica nos explicou que
esses produtos não utilizam substâncias que causem
dependência e nem que apresentem risco de uma
hiperdosagem. Segundo ela, os nutracêuticos se
caracterizam pela presença de princípios ativos
derivados de produtos naturais, manipulados com
dosagens extremamente seguras. «Mesmo assim, é
importante não deixar esses produtos ao alcance de
crianças, sobretudo pela cor chamativa», acrescenta.
A farmacêutica também revela que os grandes
divulgadores dessa nova categoria de produtos, que
servem para complementar a dieta - Graciana é
categórica quando diz que eles não substituem
refeições - não têm sido os farmacêuticos, mas sim os
nutr ic ionistas: «Os nutracêut icos não são
medicamentos, portanto não é necessário receituário
para adquirir. Mesmo assim, é sempre bom consultar
um nutricionista antes. São eles que indicam o melhor
complemento dentro de uma dieta específica, e muitos
p r o f i s s i o n a i s , c o m q u e m c o n v e r s a m o s
periodicamente, estão aprovando o uso desses
produtos», resume.
Graciana também espera que o desenvolvimento dos
nutracêuticos desperte o interesse para novas formas
de ingestão desses produtos. E conta com o apoio de
chefs de cozinha: «O farmacêutico não tem formação
gastronômica, por isso consegue ir até um limite em
termos de formulação de sabores. A partir daí, é preciso
iniciar um trabalho de pesquisa com chefs, em busca
de aproximar cada vez mais o sabor desses alimentos
dos que as pessoas costumam consumir. É possível,
por exemplo, acrescentar um princípio que reduza o
apetite em sobremesas, consomès ou em qualquer
prato de preferência das pessoas. As possibilidades
são muitas», conclui.
«Muitos profissionais da áreafarmacêutica acreditam queo futuro da indústria passa
pela eliminação das cápsulase comprimidos, com aadoção cada vez mais
frequente de balas e gomas».Graciana Neumann
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TRENDLINE[MAG] . DEZ 2010 JAN/FEV 201122
QUE FOME / FOOD IN MY BELLY
Texto e fotos de Samuel Ramossamuel@trendlinemag.com.br
O pub do rei
Um lugar para beliscar, petiscar, beber, jantar e dançar.Assim é o The King Pub, de Caxias do Sul, o primeirogastropub da região. Tá bom prá ti?
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]30
Os pubs não são mais novidade. Sobretudo na Serra
Gaúcha, onde a tradição das Public Houses (o nome
pub é uma contração informal - apelido - desse termo)
já se estende por alguns anos.
Claro que na maior parte dos casos, os nossos pubs
gaudérios tem muito pouco a ver com a rotina desses
estabelecimentos na cidade referência do assunto:
Londres. O modelo exportado de lá, também
consolidado na Irlanda, chegou na Austrália e Nova
Zelândia da mesma maneira: como regra geral, pub
abre cedo, fecha antes da meia-noite, possui ambiente
rústico e vive de servir doses cavalares de trago - em
especial de cerveja. Aqui, com exceção da cerveja, as
coisas são um pouco diferentes: o pessoal toma banho
antes de ir a um pub (????), chega tarde e sai depois
que a carruagem da Cinderela virou abóbora.
Essa característica básica do serviço de bebida
alcoólica faz do pub gaúcho uma espécie de boteco
Reloaded, ou para ficar na linguagem local, uma
releitura mais fina do bolicho, budega (com U), bareco
e afins. E apesar de alguns estabelecimentos
possuírem uma boa cozinha, com acompanhamentos
dignos ao trago nosso de cada dia, a verdade é que as
opções mais refinadas são escassas.
Pois é justamente nesse vácuo que os ingleses tiveram
a brilhante ideia de criar os gastropubs. Se desde
sempre os pubs foram dedicados com afinco ao vinho
(o precursor dos pubs foram as tabernae dos romanos,
estalagens que atendiam aos enófilos ao longo das
estradas romanas) e à cerveja, porque não dedicar a
mesma atenção à cozinha?
Pois foi exatamente assim que pensou o pessoal do
The King, em Caxias do Sul, local que desde o começo
desse ano abriga o primeiro gastropub da Serra
Gaúcha.
A proposta deles é se posicionar nesse nicho de
mercado, se dedicando a atender não apenas as
necessidades líquidas de seus clientes, mas também
dispondo de uma carta gastronômica mais ampla e,
que contemple, também, uma culinária mais elaborada
e complexa.
Dessa forma, além de uma extensa carta de cervejas,
vinhos, espumantes e cocktails, há também uma
diversidade de pratos que vão desde aperitivos (como
o agnolini frito, da foto acima), steak & fries (bife com
batatas fritas) e, claro, bacalhau, codorna, risotos e o
que mais a chef Tuta inventar.
TRENDLINEMAG . ANO01NO.01TRENDLINEMAG . ANO01NO.01
O THE KING APOSTA EM UMAMBIENTE MODERNO,
DESCOLADO E CASUALPARA ATRAIR TANTO O
PÚBLICO DE HAPPY HOURS,QUANTO O PESSOAL QUE
QUER UM LUGAR LEGALPARA JANTAR E ATÉ
MESMO OS BALADEIROS.
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]32
Gastronomia e diversão
Maurício Rech, o promoter da casa, nos conta que o
The King inaugurou esse ano, em fevereiro. Ele mesmo
explica que a proposta do The King é tripla: 1) atrair as
pessoas que saem do trabalho para que venham ao
pub aproveitar a happy hour; 2) Fazer com que o
vivente que veio para o happy fique para o jantar; e 3)
Fazer com que, depois do jantar, se possa esticar a
noite em uma balada. «Nossa casa aqui contempla e
agrada a essas três situações. Você pode vir aqui
beliscar e tomar uma cerveja, também pode vir para um
belo jantar ou então optar por vir mais tarde e curtir uma
de nossas festas. Claro que nossa ideia é fazer com
que as pessoas encarem o cardápio completo de
gastronomia e diversão», emenda.
No quesito diversão, impossível não citar a presença
do DJ Gui Oliveira. Responsável pela programação
musical - que é dividida com as bandas e acústicos -,
ele mostra muita sensibilidade na escolha da trilha
sonora eletrônica que embala as noites do The King: o
chillout, música de longe mesmo, é mesclada com
deep house, nu disco e outras vertentes. Gui também é
o DJ residente da pista de dança, que fica ali mesmo no
pub, ao lado do restaurante.
Torta Holandesa, do The King: tão doce e tão boa que chega a doer os carrinhos.
TURISMO / GO THERE
Texto de Janaína Silveira*contato@radarchina.com* Jornalista, diretora do Radar China.
É uma viagem essaAmsterdãFôlego, bom humor e umpunhado de euros.
Os três itens acima descrevem tudo o que você
precisa para curtir a famosa Amsterdã. A cidade vive
intensas 24 horas, que vão da pura contemplação
artística ao prazer da festa pela festa. Escolha o seu
barato ou aproveite de tudo. De uma forma ou de outra,
você ficará com vontade de voltar.
Os pequenos prédios que ladeiam os canais, em
ângulos que desafiam a física, ora inclinados à direita,
ora à esquerda e algumas vezes projetando-se para a
frente são só o início das surpresas. Aliás, um passeio
de barco pode ser ótima pedida para conhecê-los.
Pode parecer tudo meio igual, mas igualmente
encantador.
O emaranhado de ruas estreitas e a extensão de canais
com prédios que parecem se debruçar sobre eles
transforma a geografia urbana quase em labirinto.
Fácil se perder por ali, então tenha sempre em mãos o
seu endereço. E decore em qual parada deve descer. O
sistema de transporte público é super eficiente e vale a
pena utilizá-lo. Os bondes elétricos cobrem a maior
parte da região central, onde usualmente estão os
turistas.
Um dos truques ao chegar à cidade – ou mesmo ao
planejar a visita, pois ele pode ser adquirido online – é
comprar o Amsterdã City Card, um cartão inteligente
que garante a entrada em museus e a utilização de
todo o sistema de transporte, à exceção do trem que
liga o Aeroporto Schiphol à Estação Central. Há
versões para um (39 euros), dois (49 euros) ou três dias
(59 euros).
A primeira impressão é de que Amsterdã é uma festa.
São jovens que estão por ali. Músicos pelas ruas
esperando por doações em euros impõem um ritmo,
quem sabe até uma ginga. A cidade tem um grupo de
capoeira que vez ou outra apresenta suas evoluções
nas praças. E são várias.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]34
FOTO PANO ART´S
OS PRÉDIOS DE AMSTERDÃ
NÃO ESTÃO TORTOS, FOI VOCÊ
QUEM BEBEU POUCO.
FOTO JANAÍNA SILVEIRA
Amsterdã é verde. O Vondelpark, bem no centro, é
parada obrigatória. E Amsterdã se move sobre duas
rodas. A maioria dos moradores opta pela bicicleta –
veículo que por lá têm itens obrigatórios, como pisca-
alerta e espelho retrovisor. Os ciclistas podem circular
casualmente em terno e gravata ou sobre saltos
agulha. Sim, quem vai ao escritório também opta pelo
transporte ecológico.
A cidade tem esse ar de que tudo é muito bacana, tudo
pode e de que todos se respeitam. Deve ser por isso
que por ali circulam livremente os usuários de
maconha ou haxixe, recém deliciados com as ervas em
algum dos diversos coffee shops (ou pot shops?).
Onde, aliás, não é vendido álcool. O cardápio chega a
ser inusitado. Você entra e escolhe o quanto quer
experimentar de poder lisérgico. Se for se aventurar na
religião do Bob Marley, a dica é pegar leve.
O consumo livre da cannabis é motivo de orgulho local.
Lojinhas vendem sementes, cogumelos que
prometem alucinações e toda uma gama de
apetrechos para ampliar e melhorar a experiência de
fumar.
Mas nem só de cannabis vivem as lojinhas de
souvenires: um produto que carrega o orgulho
holandês são os famosos tamancos em madeira, bem
como moinhos de vento, tulipas, holandesinhas em
porcelana e, como não poderia deixar de ser, um que
outro mimo que reverencie a erva e seus derivados.
À noite, o Red Light District, ou o bairro da Luz
Vermelha, fervilha.
Os imensos janelões dos prédios típicos, aqueles
mesmos que se debruçam sobre os canais, são vitrines
para prostitutas que atuam legalmente na cidade. E há
muita gente disposta a conhecer o trabalho de perto.
Um programa de 15 minutos sai por 50 euros. Se você
quer apenas matar a curiosidade, nem tente registros
fotográficos: o clique pode provocar confusão e uma
noite na cadeia pode ser a consequência.
À luz do dia, o Rijksmuseum é um dos endereços
preferidos. A coleção abriga obras do holandês
Rembrandt (1606-1669), um dos maiores nomes da
pintura ocidental. A poucos metros dali, um museu
dedicado a outro conterrâneo de peso, Vincent Van
Gogh (1853-1890), mestre do pós-impressionismo.
Amsterdã não é conhecida como cidade verde apenas por causa da liberação do consumo de cannabis. O senso
de ecologia da sua população faz com que as bicicletas sejam o meio de transporte mais comum.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]36
FOTO JANAÍNA SILVEIRA
Reserve pelo menos cinco horas para visitar os dois
museus, nem pense em destinar um tempo menor do
que esse.
Se houver fôlego para mais história, inclua a Casa de
Anne Frank no seu roteiro. A adolescente alemã de
origem judaica que morreu aos 15 anos em um campo
de concentração escreveu um diário, cuja publicação
póstuma, em 1947, se transformou em um dos livros
mais importantes do século 20. Ela e a família viveram
escondidos em Amsterdã por quase uma década
(1934-1942).
Para relaxar, existe o Heineken Experience, uma micro
viagem pela cervejaria mais famosa da Holanda.
Depois, feche o dia com um prato de queijo Gouda,
preferência nacional. Aliás, toque gastronômico: há
casas especializadas em carne argentina a cada
esquina. E a sorveteria norte-americana Ben & Jerry's
garante a sobremesa perfeita para quem quiser adoçar
a vida ou, simplesmente, dar um jeito na larica.
TRENDLINEMAG . NO[04] 37
Os museus da cidade são parada obrigatória.
O mesmo vale para os parques.
FOTO KARSTEN QUALMANN
FOTO ELVIS SANTANA
A moda que aparentemente “custa caro” tem uma razão de ser. E a tal alta costura vai muito além de assustar por suas cifras e encantar por sua beleza.
Ela perpetua o fazer manual, a verdadeira artesania das roupas através das gerações.
Obra de arte...
Para vestir.
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]38
QG DO ESTILO / STYLE
Por Quéli Giuriatti*twitter.com/quelig
*Jornalista e Professora de Moda
FOTO IMAGE.NET
Muitas vezes, ao lermos uma revista de moda
bacana, nos deparamos com editoriais recheados de
roupas lindas e caríssimas. Coisa que extrapola fácil os
três dígitos.
E nos perguntamos: quem compra uma peça de R$
10 mil ou mais? Para tudo nessa vida há uma
explicação e vou arriscar-me aqui dizendo: a alta
costura tem valores astronômicos sim, mas que,
muitas vezes, nem cobrem o custo de produção. Em
outras palavras: um vestido de R$ 30 mil vale quanto
pesa - dependendo do trabalho de confecção até saiu
barato.
Antes de virar a página e desistir da matéria, deixe-me
explicar o porquê e, para tanto, vou precisar dar uma
voltinha no tempo.
Na virada do século XIX para o XX, um inglês chamado
Charles Frederick Worth mudou-se para a capital
mundial da moda, Paris, na França, e causou uma
revolução.
Criou, numa só tacada, a moda como a conhecemos
hoje – no formato de criador/estilista + criação/coleção
+ consumidoras – e os desfiles/shows fechados de
apresentação das roupas para a clientela.
Esperto como ele só, Worth também fundou a
Chambre Syndicale de La Haute Couture, ou seja, a
câmara da alta costura, e delimitou por meio de várias
regras quem poderia entrar e permanecer neste nicho. Essa instituição existe até hoje e, entre seus dogmas,
estão:
- Nenhuma peça pode ser costurada em máquina,
apenas à mão, o que garante que o avesso é
perfeitíssimo, contudo, gasta dezenas de horas de
trabalho;
- Conforme o nível de detalhamento, um único vestido
pode ser trabalhado por 300, 400 horas só em
aplicações de canutilhos (de cristal), por exemplo;
- Só podem ser feitas duas cópias de um único
modelo apresentado no desfile, ou seja, se o desfile
teve 25 vestidos, haverá, no máximo, 50 vestidos (ou
menos) neste mundo;
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]40
- Se uma consumidora norte-americana comprou um
tailleur verde menta da haute couture Chanel, a outra
interessada e possível compradora não poderá ser das
Américas! Essa mulher poderá ser da Europa, Ásia,
África ou Oceania. Assim, garante-se que as clientes
tenham exclusividade total;
- Um busto de modelagem é esculpido em madeira
conforme as medidas da cliente (o que custa
muitíssimo caro) e a compradora em si deve realizar
duas provas, no mínimo, da peça encomendada. A
primeira prova é numa réplica em algodão (que é
descartada) e a segunda já no tecido escolhido. Muitas
recebem as equipes das marcas nas suas mansões,
em qualquer lugar do mundo, no maior conforto;
FO
TO
IM
AG
E.N
ET
TRENDLINEMAG . NO[04] 41
- A marca deve manter um ateliê com um número
mínimo de costureiras full time e a maison deve ficar
localizada em uma determinada região/bairro de Paris.
E agora, o ponto fundamental: alta costura é apenas a
francesa. Os políticos, ainda mais espertos que os
estilistas, registraram a exclusividade do termo haute
couture para a França. Então, seja na Itália, no Japão
ou no Brasil, pode-se realizar peças de “alta costura”
incrivelmente rebuscadas ou extravagantes, porém
não pode-se denominá-las assim.
A proteção legal é a mesma que o Brasil tem sobre a
cachaça. Ou seja, existem centenas de fermentações
da cana-de-açúcar no mundo inteiro, entretanto,
cachaça só se for feita em território tupiniquim.
A semana de alta costura francesa ocorre
semestralmente. São poucas marcas e, a cada
temporada, algumas grifes “caem” por não conseguir
sustentar esse modo de criar tão especializado,
artesanal e raro. O processo todo de criação é
dispendioso e a mão de obra, superespecializada,
onera, pois cobra bem pelo seu savoir faire. Para você
ter noção, existe Mestrado em Bordado na França. No
Brasil, tivemos apenas duas damas da sociedade
clientes de verdade de haute couture: Carmen Mayrink
Veiga e Bethy Lagardère. Se você nunca ouviu falar
nelas, entre no mágico Google e conheça essas sábias
senhoras. São atemporais no quesito elegância.
Agora, como é que todo esse sistema persevera se, lá
no início da matéria, ousei dizer que mal se paga?
A Haute Couture é responsável por gerar imensos
volumes de mídia espontânea para as marcas. Um
desfile em Paris repercute na TV, revistas, jornais e sites
que, entre aspas, “bancam” toda essa função. E vou
além: você pode não ter grana para comprar uma
roupa com a etiqueta Yves Saint Laurent, porém, com
certeza, um batonzinho ou um perfuminho você tem,
certo? E por que você comprou um batom que custa
uma fortuninha e um perfume que cada aplicação sai
por R$ 10? É, minha amiga, algo, algum dia, chamou
sua atenção e a conduziu a um sonho mítico, em um
baile de máscaras, no qual você estava esvoaçante e
linda num longo incrível Christian Dior...
Mas ainda resta uma dúvida: no Brasil, temos alta
costura? Sim, com certeza. E as revistas – aquelas do
início dessa conversa – valorizam e muito nossos
grandes criadores nacionais, aproveitando peças
desfiladas em seus editoriais de moda. Porém, não
temos direito de usar o nome. André Lima, Lino
Vi l laventura, Samuel Cirnansck, Alexandre
Herchcovitch, Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho, e
tantos outros nomes de nossa cena fashion fazem
vestidos por encomenda, no tamanho da modelo, e
com exclusividade. O valor é que é para bolsos
profundos.
Se o seu é curto, paciência. E ponto final.
FOTO DIVULGAÇÃO CHRISTIAN DIOR HAUTE COUTURE SPRING/SUMMER 2011
O Rio Grande do Sul tem um folclore rico, que mistura
as tradições dos primeiros gaúchos e os costumes dos
povos que aqui se instalaram ao longo da sua história,
principalmente dos negros, alemães e italianos.
No caso da Serra Gaúcha, podemos afirmar
tranquilamente que a colonização italiana marcou
fortemente esse local. Quando os imigrantes aqui se
instalaram, trouxeram consigo as tradições folclóricas
da Itália do final do século XIX e início do XX, que aqui
se fundiram com as já existentes, transformando-se em
uma espécie única de folclore, que muito pouco se
parece com as tradições existentes no seu país de
origem nos dias atuais.
De influência italiana notamos: as festas de igreja,
capelinhas, histórias e contos e as cantigas
italianas - principalmente aquelas que contam a saga
da imigração -, crendices , superstições ,
benzimentos, artesanato, comidas típicas, entre
outros.
Os imigrantes, quando aqui chegavam, organizavam-
se para que as primeiras construções levantadas na
comunidade fossem a igreja e o salão de festas. Mais
do que representar toda a religiosidade desse povo,
essas duas construções representavam o encontro e a
vida social destes imigrantes. Ali eles festejavam,
praticavam esportes, cantavam, e, claro, se divertiam.
Geralmente relacionadas às festas realizadas em
homenagens a santos padroeiros e da devoção da
comunidade, estas manifestações folclóricas ainda
são mantidas em quase todas as cidades de
colonização italiana.
Outra manifestação mantida são as histórias e mitos
sobre os primeiros imigrantes e contados por eles.
Por Ângela Pomatti *angelapomatti@yahoo.com.br*Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas - PUC-RS.
ESPECIAL / A IMIGRAÇÃO, PARTE 3
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]42
O termo folclore provém da expressão folk-lore, de raiz saxônica, que significa: folk povo e lore saber. Nessa, que é terceira parte do Especial sobre Imigração Italiana, a historiadora Ângela Pomatti fala mais sobre o folclore que chegou aoBrasil através dos imigrantes que chegaram às colônias.
Nannetto, polenta così
Um dos mitos mais presentes entre os descendentes
de imigrantes italianos são as histórias do Nanetto
Pipetta.
Escritas pelo frei Aquiles Bernardi, em dialeto italiano, e
publicada inicialmente em forma de folhetim pelo jornal
Stafetta Riograndense, de Caxias do Sul, entre os anos
de 1924 e 1925, as histórias de Nannetto Pipetta
descreviam como era a vida dos primeiros imigrantes
italianos no Brasil.
A saga de Nanetto Pipetta representava a busca
utópica da cucagna em terras distantes.
Nascido em Veneza, em noite de lua minguante, e por
isso fadado ao azar durante toda a vida, este
personagem demonstrava as dificuldades dos
italianos recém-chegados, bem como o sonho de
melhorar de vida, sempre vendo-se envolvido em
contratempos e acidentes, que fazem com que os
contos assumam uma veia cômica.
Dentre muitas
manifestações
folclóricas
trazidas pelos
imigrantes
italianos está
a Capelinha,
que ainda hoje
costuma circular
entre os lares
de diversas
localidades da
região.FOTO DIVULGAÇÃO
Os contos de Nanetto Pipetta chegaram a ser
publicados em um livro: Vita e Stòria de Nanetto Pipetta
– Nassuo in Itália e vegnudo in Mèrica par catare la
cucagna (1937). Porém, com o início da Segunda
Guerra Mundial, o livro foi proibido, de acordo com a
política governamental de reprimir os estrangeirismos.
A partir de 1956, após o fim das proibições, a obra foi
reeditada várias vezes. Apesar de surgirem como
publicações, não se encaixando na definição de
folclore que prega a transmissão oral, as histórias de
Nanetto Pipetta transformaram-se em mito e foram
passadas oralmente pelos imigrantes aos filhos e
netos, tornando-se contos de aceitação coletiva. Hoje
a figura de Nanetto Pipetta é considerada um símbolo
da cultura italiana no Rio Grande do Sul.
Merica, Merica
Outra manifestação folclórica muito presente no Rio
Grande do Sul é a presença de cantigas italianas que
remetem à chegada dos imigrantes e/ou aos primeiros
anos desta colonização no Brasil.
Uma das canções mais conhecidas chama-se Merica,
Merica. Ela tornou-se uma espécie de hino dos
imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, pois
descreve a saga da chegada dos primeiros imigrantes
ao estado.
Dalla Italia noi siamo partiti
Siamo partiti col nostro onore
Trentasei giorni di macchina e vapore,
e nella Merica noi siamo arriva'.
A Bela Polenta também é uma das cantigas mais
conhecidas e descreve a fabricação da polenta,
alimento muito tradicional na serra gaúcha - que não é
lá muito conhecida na Itália -, desde o seu plantio,
preparo, até ser servida. Essas canções são
amplamente conhecidas e cantadas em praticamente
todas as festas que homenageiam a cultura italiana.
Quando si pianta la bela polenta,
la bela polenta si pianta così,
si pianta così, si pianta così.
Bela polenta così.
Cia cia pum, cia cia pum.
Cia cia pum, cia cia pum.
Ainda podemos citar outras manifestações folclóricas
muito conhecidas, como o artesanato em palha de
milho e trigo, utilizado na confecção de bolsas e
chapéus; a alimentação típica; as crenças populares,
como benzimentos e superstições, os costumes como
o filó e os jogos de carta, entre outros inúmeros
exemplos.
TRENDLINEMAG . NO[04] 43
«Nanetto, piampianelo, el se tirava vanti verso le tere
alte. Co la speransa de catar calche ànima viva.»
Trecho da história de Nanetto Pipetta.
Além dos livros e da transmissão oral das histórias,
os contos do imigrante também integram o folclore
da região através de interpretações cênicas, tais como
o Teatro de Bonecos de Nazareno (Caxias do Sul).
Ininteligível para leigos, o jogo de mora é um dos mais
divertidos - e barulhentos - da tradição folclórica
dos imigrantes que chegaram à Serra Gaúcha.
FOTO DIVULGAÇÃO
FOTO GILMAR GOMES
FOLCLORE É CULTURA / FOLK
Por Marcelo Pandolfo Nedeff** Coordenador Geral e Diretor Artístico do Festival Internacional de Folclore de Nova Prata
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]44
Nova Prata tem ritmo e esse ano voltou a dançar. É dessa formaque eu encaro o retorno do Festival Internacional de Folclore.
A cidade voltou a dançar
Devemos comemorar, pois esse ano o Festival
Internacional de Folclore de Nova Prata voltou a
ocorrer, mostrando que esse povo tem ritmo.
Ritmo que tomou um compasso de espera, pois
tivemos que aguardar quatro longos anos para
entender melhor a nossa população, seus desejos e
seus sonhos e encarar o amadurecimento do projeto.
O Festival de Folclore é de extrema importância para o
município, pois é vitrine tanto para os talentos da casa
quanto para artistas internacionais, que durante os
dias de festa apresentam suas mais variadas
expressões culturais, através da dança, da música e
das artes em geral.
Esta declaração de amor ao público, seja no palco, nas
escolas, nas feiras, nas praças e nas ruas, fez com que
a energia fosse restabelecida: no começo de agosto
nossa cidade estava colorida, saudável e feliz. Durante
uma semana Nova Prata não apenas esteve na moda,
mas também foi a própria moda.
Não acho que tenhamos perdido o título de “Cidade
Cultura”, penso que ele talvez estivesse apenas
adormecido, pois vimos durante esses dias de Festival
quantos artistas temos, e o belíssimo trabalho que
cada grupo apresentou. Acredito, sim, na palavra
“reinvenção”.
O festival, em sua nova formatação, agora se encaixa
em nosso calendário permanente de eventos,
merecendo ser repensado quanto a uma festa “oficial”
do nosso município. Não precisamos ter as mesmas
feiras que outras cidades possuem, pois já fomos
considerados o melhor Festival da América Latina pelo
IOV – International Organization of Folk Art – entidade
que mantém relações institucionais com a UNESCO.
O sucesso da verdadeira festa que é o Festival de
Folclore se deve também à pluralidade de nosso povo,
constituído não somente por descendentes italianos,
como ocorre na maioria das cidades vizinhas, mas
também por outras tantas etnias: africanos, poloneses,
alemães, dentre outros povos.
Atribuo a esse fato a nossa identificação com estes
artistas que a cada edição do Festival nos encantam e
entendo que nos reconhecemos através de suas
manifestações.
Tenho certeza de que o Festival Internacional de
Folclore veio para ficar, conquistou sim o seu lugar no
coração de todos os pratenses e da população da
região da Serra, pois ao vermos os sorrisos e os olhos
de cada um dos espectadores, brilhando nas noites
gélidas de espetáculo, não tenho dúvidas: Nova Prata
tem ritmo, portanto, precisava voltar a dançar.
FOTOS SAMUEL RAMOS E EDIANE BUSSOLOTTO
EM FORMA / GOOD LIVING
Por Maria Cristina Frazon Telles*mcritell@pressa.com.br* Personal Trainer, Pós Grad. em Fisiologia do Exercício – UGF/RJ
Com tantos tratamentos e promessas de resultados de maneira rápida, parece que é possível ter aquele corpo perfeito sem fazersacrifícios na academia. Será?
A magia estética ajuda, mas não substitui.
Já pensou, passar horas por mês fazendo
procedimentos maravilhosos nas coxas, abdômen e
nos famosos glúteos mas aí na hora de dar tchau o
esquecido braço ficou balançando?! Você pensou que
escaparia da boa e velha malhação em uma
academia? Na na na, ledo engano.
Para ter um visual proporcionalmente trabalhado e
saúde em dia, é preciso complementar os tratamentos
que a tecnologia nos oferece com um bom treinamento
com pesos e uma dose de aeróbicos.
Também não é possível se esquecer da reeducação
alimentar. Mesmo que você encare uma das muitas
alternativas cirúrgicas (lipoescultura e afins), a verdade
é que a duradoura transformação do corpo, no longo
prazo, resulta do cuidado com duas áreas:
alimentação e exercícios. Sem esse cuidado duplo
com o corpo nenhum procedimento extra será
suficiente para garantir o corpo “invejável” desta ou
daquela pessoa.
Tecnologia à parte, os BONS e VELHOS exercícios são
a garantia para conseguir BONS e DURADOUROS
RESULTADOS. Ainda dá tempo, estamos na contagem
regressiva para o verão. Se você realmente deseja um
corpo que sempre pediu a Deus, tenha certeza que
com o passar do tempo todo o esforço e suor serão
muito bem recompensados. Comece já a batalhar pelo
corpo que merece exibir quando o calor chegar.
PersonalTrainer MusculaçãoPilates
Ginástica
Bike Indoor
Rua Pinheiro Machado, 770Galeria da SOAL, Veranópolis-RS
Fone: (54) 3441-7237
Para quem pretende exibir uma silhueta curvilínea na
próxima temporada de calor, o mercado está
bombando com inúmeros tratamentos de fora pra
dentro - e vice-versa. São tantos que é até complicado
escolher por quais deles iremos optar. E mais difícil
ainda é descolar toda a grana que se precisa para ficar
bem, investimento que sempre é encarado como uma
necessidade estética e de autoestima.
Que atire a primeira pedra a mulher que nunca
experimentou ao menos uma drenagem linfática para
melhorar a aparência. Até mesmo os homens, quem
diria, também estão investindo no cuidado com seu
corpo - ao que somos muito gratas, é claro!
Massagens, cremes, máquinas que vibram, aparelhos
de beleza que agem através de radiofrequência
reduzem medidas, melhoram a celulite, o tônus
muscular, tudo de forma rápida e prática.
Agora, se você é daquelas que experimentam todas as
novidades, a hora da vez é um tênis específico para
corrida e outro para musculação. A ideia é que a
tecnologia do solado ajude a emagrecer e dar tônus
muscular aos glúteos, coxas e panturrilhas.
Mas fiquemos atentos, tudo isso acontece de maneira
localizada. E o restante do corpitcho, como fica?
Laboratório Bioclínico da Região Serrana Travessa 31 de Outubro, 7 - Centro
Garibaldi - RSFone: (54) 3462 5660
A sua confiançaé o nosso compromisso.
IMPEDIMENTO / FUERADEJUEGO
por Douglas Ceconello*www.impedimento.org* Jornalista e editor do Impedimento
Fica, sai, chega, voltaCelso Roth
No futuro breve, todos os técnicos de futebol serão
substituídos por um APLICATIVO. Não tem jeito. É uma
evolução natural da tecnologia e do futebol:
acrescentar todo o conhecimento tático já adquirido
em um PENDRIVE e conectá-lo para dar palestra aos
jogadores antes dos embates futebolísticos. Quando
esta revolução finalmente acontecer, não vai adiantar
chorar e socar paredes. Será um passo irreversível da
modernidade, como todos estes que vem se
sucedendo recentemente. No entanto, teremos muito
a lamentar, sobretudo a ausência do já mitológico
Celso Roth.
Nascido em Caxias do Sul, Celso Roth (Sexy Hot para
os íntimos) está perdendo dinheiro, justamente por ser
único e inconfundível.
Se abrisse uma agência – “Bigode Empreendimentos
Futebolísticos” é uma sugestão de nome – poderia
atender Grêmio e Inter ao mesmo tempo, colocando
sósias à beira do gramado. Nos últimos anos, desde
Cláudio Duarte, nenhum outro técnico tem socorrido a
dupla Gre-Nal com tanta frequência.
Nas últimas décadas, Celso Roth adquiriu aquele
car imbo de “técnico que aje i ta a casa”,
independentemente se esta característica será usada
para livrar um time do rebaixamento ou para conduzir
ao flamante título da Libertadores, como ocorreu em
2010 com o Inter. Dificilmente nosso eterno sargento é
chamado para iniciar um trabalho de fôlego, liderando
um time de janeiro a dezembro, com a possibilidade de
consolidar uma trajetória sem sobressaltos ou
constantes ameaças de demissão.
É bem verdade que Sexy Hot também colabora para
este estado de ebulição infinita em suas aventuras.
Como não é de arreganhar os dentes para qualquer
ANEDOTA, tende a ser rotulado de ranzinza pela
opinião pública, o que sempre deixa sua rotina repleta
de sensações extremas. Também se destacou por não
ser exatamente um ás da psicologia no trato com os
craques, colocando Ronaldinho na reserva de ITAQUI
no Grêmio, em 1999, e chamando o colorado
Chiquinho de “xodó da torcida” ao mandá-lo resolver
um jogo aos 40 minutos do segundo tempo. Se não
merece ser caricaturado com chifres e tridente,
também não é santo, este Roth.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]48
FOTO JEFFERSON BERNARDES / VIPCOMM
Em sua epopeia rothiana, o treinador já passou três
vezes pelo Inter e outras quatro pelo Grêmio (contando
esta atual). Seus grandes títulos foram vencidos em
sua HOSPEDAGEM no Olímpico ou no Beira-Rio.
Comandando Fabiano Cachaça, ganhou a primeira
taça de expressão, com o Gauchão de 1997. Depois,
com o Grêmio, faturou o Estadual de 1999 e a Copa Sul
daquele mesmo ano. Também logrou um triunfo de
respeito ao faturar a Copa Nordeste com o Sport em
2000. Desde então, até levantar a Libertadores com o
Inter ano passado, viveu um retumbante CELIBATO de
troféus, um dos maiores desde sua primeira conquista,
a copa DALTRO MENEZES, em 1996, com o Caxias.
Pode não ser um retrospecto totalmente glamoroso,
mas certamente não é pela ausência de taças que
Celso Roth é tão carinhosamente odiado por colorados
e gremistas.
A grande celeuma que a presença de Celso Roth
desencadeia onde quer que sua carteira de trabalho
seja assinada não se refere à disposição em trabalhar.
Muito pelo contrário, já que testemunhas confiáveis
podem comprovar que o homem é praticamente um
PEÃO insaciável, que tenta ajeitar o time a marretadas
faça chuva ou faça sol. O problema é que, devido à sua
inquestionável autoestima, este caudilho da casamata
sempre encontra uma forma de bater de frente com a
opinião do UNIVERSO e, num jogo decisivo, sacar um
atacante para colocar um volante, preferir o craque
indiscutível pelo centromédio contratado da segunda
divisão do ACRE. Quando a casa está desabando e
parece prudente que todos juntem seus pertences e
desçam pela escada de incêndio, ele semicerra os
olhos e prega: “Cautela”.
Dessa forma, é importante ressaltar que há dois
aspectos de fundamental importância para que Celso
Roth finalmente ingresse no PANTEÃO dos treinadores
inquestionáveis. A primeira, e sem dúvida a mais
urgente, é retomar em seu ESPECTRO o uso daquele
inolvidável bigode, cuja ausência provocou a
derrocada de sua autoridade moral à beira do campo.
FOTO IURI MÜLLER
TRENDLINEMAG . NO[04] 49
Em priscas eras, não havia jogador e juiz que
não murchasse a crista ao se deparar com
aquele glorioso e eriçado chumaço de pêlos. A
segunda mudança, mais sutil, é perceber que,
por mais injusto que pareça, o planeta
infelizmente não segue uma rotação rothiana.
As galáxias não orbitam ao redor daquela
nuvem de resmungos e genialidades táticas.
Quando Celso Roth, qual um cachorro atento,
levantar a orelha para ouvir ao menos uma
ínfima parcela do que nós, simples mortais,
estamos dizendo, sem dúvida começará a
pavimentar com tijolos dourados seu caminho
para o hall da fama do futebol.
Porque, bem, ele é muito mais charmoso que
um pendrive.
FOTO DANIEL MARENCO FOTO DIVULGAÇÃO GOOGLE IMAGES
FOTO FERNANDO SANTOS/FOLHAPRESS
TELEFONE VERMELHO / CRT
Por Marcos Beck Bohn** Jornalista, com Mestrado em Comunicação Transnacional e Mídia Global pelo Goldsmiths College, em Londres.
De fato, a Escócia é o Rio Grande do Sul do Reino Unido.
Cama na varanda
Durante muitos anos, ouvia a famosa música do Raul
Seixas (composta, como muitas outras, em parceria
com o Paulo Coelho) e me identificava bastante com
um verso escondido lá no meio da canção. É mais ou
menos assim: “Quando todos praguejavam contra o
frio, eu fiz a cama na varanda”. Não é que tenha
nascido dez mil anos atrás, mas sempre achei que
fosse um homem do frio. Até passar o último inverno no
Rio Grande do Sul.
Era ainda outono. Camarada de longa data chama
para ver um jogo qualquer na televisão. Ali pelo meio
da partida, ele estranha: “Tá com frio, meu?”. Estou
encolhido no canto do sofá, abraçado a mim mesmo,
tentando disfarçar a vontade de ir embora antes do fim.
Quando qualquer um dos presentes falava, o ar era
cortado por aquela fumacinha que sai da boca nos dias
gelados. Isso, dentro do apartamento, que fica na parte
alta de Porto Alegre.
No livro «Educação de um Bandido», autobiografia do
Edward Bunker, que vem a ser o Mr. Blue do filme Cães
de Aluguel, ele conta da própria surpresa quando
compra a primeira ceroula. Está em viagem – ou em
fuga – para o nordeste dos Estados Unidos, subindo a
Rota 66. Quando alcança Oklahoma, descobre que o
carro tem diversas fendas que ele ainda não havia
notado. O aquecedor não dá conta de amainar o gélido
vento que entra. E o Bunker, que nunca tinha saído de
Los Angeles, percebe que não tem roupa para o frio.
Antes de assaltar o banco de uma cidadezinha
qualquer (ele não esperava até ficar completamente
sem dinheiro), vai até uma loja para comprar casacos e
blusões. A atendente, então, sugere a ceroula. Talvez
porque tenha contado que estava vestindo duas
calças. “Sempre achei que só homens velhos usassem
cuecão”, arremata o Bunker. E sai, aquecido para
continuar a sua jornada de alguns crimes, muita
literatura e temporadas na prisão.
Se ele, numa improvável hipótese, tivesse conhecido
algum gaúcho gauderiando pelos pagos do Tio Sam,
provavelmente já saberia que a verdade é bem outra.
O cuecão, meu amigo, é a salvação da lavoura.
Comprei dois antes de me mudar para Londres.
Quando voltei, achei por bem trazê-los na bagagem. O
nosso inverno ainda não estava na metade, e ambos já
tinham sido muitíssimo mais usados – aqui – do que o
foram na Inglaterra.
Mesmo assim, naquela noite do convescote esportivo,
no apartamento na parte alta de Porto Alegre, o cuecão
ajudou, mas não resolveu. Diz o anfitrião, sem saber da
ceroula: “Mas o que aconteceu contigo, tchê?”. Diante
da pergunta, desacostumado com o frio, lembrei-me
de uma teoria que circula em algumas rodas de
conversa “underground”. Fala sobre a função social do
bairrismo. Lugares em que os habitantes encontram
formas de valorizar coisas que, na verdade, são
desagradáveis, ou até bastante desagradáveis.
Em texto publicado aqui no ano passado, escrevi que a
Escócia é o Rio Grande do Sul do Reino Unido. Lá,
segundo os próprios escoceses, é o único lugar do
mundo onde se tem as quatro estações do ano no
mesmo dia. Felizmente, não é só por essa
característica que nos parecemos com eles. Passei
menos de uma semana por aquelas bandas. Tempo
suficiente, no entanto, para poder dizer: é verdade. Faz
sol, chove, faz frio, o céu abre, esquenta de novo...
Tudo em poucas horas. Com todo o respeito, e
sinceramente apreciando a Escócia, pergunto-me:
isso lá é coisa para se orgulhar?
A propósito, o nosso frio não é o problema. Gosto do
frio e de tudo que representa. Mas lamento por aquilo
que ele não nos trouxe. A estrutura do Rio Grande do
Sul não condiz com o frio que faz no estado. Cama na
varanda, meu guasca, nem vestindo duas ceroulas,
nem que tivesse nascido há dez mil anos. Pior para
quem a única opção é dormir ao relento. Sem poesia,
sem lirismo meia-boca, sem qualquer pueril
identificação com uma canção. Talvez sem um próximo
inverno, de tanto frio. Agora... Agora é primavera, a
gente nem lembra mais.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]50
Nossos resultadosrefletem qualidade!
Estamos trabalhando para conquistara melhor gestão de qualidade emanálises clínicas - ISO9001.