Post on 10-Dec-2018
TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NO PROCESSO
DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIO NUM CONTEXTO GLOBAL E LOCAL
BORBA, Ana Maria Stelle, Licenciada em Geografia e História, especialista
em Metodologia de Ensino de 1º e 2º Graus , discente do Programa de
Desenvolvimento Educacional, turma 2007
RESUMO
Este artigo aborda a evolução das técnicas utilizadas na produção agropecuária num contexto histórico-geográfico, em escala global, nacional e local, desde meados do século XVIII, na Europa Ocidental, assim como sua associação à ocupação do território paranaense, especialmente da região dos Campos Gerais, com objetivo de destacar a importância da imigração holandesa de tipo capitalista estabelecida no município de Castro em 1951, em formação cooperativista, contribuindo para a alteração da estrutura agrária paranaense com a introdução de novas técnicas numa economia agropastoril, formando a Colônia e Cooperativa Agropecuária Castrolanda. O estudo realizou-se inicialmente através de uma revisão literária e posteriormente com pesquisas realizadas pelos alunos de Geografia do Ensino Fundamental do CEEBJA Paschoal Salles Rosa em Ponta Grossa, entrevista semi-estruturada com um pequeno produtor, engenheiro agrônomo da EMATER e com holandeses da Colônia, além da aplicação de questionário aos produtores cooperados. Percebe-se que transformações resultantes dos processos globais redefinem a prática agropecuária, impondo como necessidade o uso da tecnologia, a geração de sistemas que possibilitem maior produção, melhor qualidade do produto e maior racionalização do processo produtivo, destacando-se a liderança das cooperativas no agronegócio regional no segmento da produção do leite. No processo de construção do espaço geográfico, a sociedade é responsável pela organização, produção, permanências e/ou mudanças na região onde se encontra inserida, sendo de fundamental a implementação de políticas públicas, as parcerias para viabilizar a produção aos produtores, sem distinção.
Palavras-chave: espaço geográfico, agropecuária, tecnologia, cooperativismo.
2
2
INTRODUÇÃO
Muitas preocupações e necessidades fazem parte da sociedade atual. Entre
elas destaca-se a qualidade de vida, a questão ambiental e o sistema alimentar, que
se interligam no processo da produção agropecuária.
A maior conscientização sobre a necessidade de uma alimentação saudável,
o processo de mundialização do comércio, o uso da tecnologia, são fatores que
interferem nos padrões de consumo, métodos e técnicas de gerenciamento, nos
processos de produção e serviços, exigindo maior qualificação profissional.
Trabalhar a geografia dentro de numa perspectiva crítica exige pensar as
relações espaço geográfico e sociedade, escala global e local, tradicional e
moderno, fundamentais para a compreensão da realidade. Considerando essa
temática como num conteúdo significativo, propusemos este trabalho com o objetivo
de destacar o uso da tecnologia na produção agropecuária, considerando o sistema
capitalista.
O trabalho desenvolveu-se no período de fevereiro a setembro, em três
fases. A primeira, buscou reconstruir a trajetória das transformações que ocorreram
no processo produtivo das atividades agropecuárias, a partir do século XVIII, na
Europa Ocidental, considerando sua gradativa apropriação por parte da indústria e
o desenvolvimento tecnológico.
Destacamos na segunda fase, a importância da atividade agrícola, com a
cultura da cana-de-açúcar e pecuária, como alicerces da ocupação do território
brasileiro e paranaense, respectivamente. A referência à cultura da cana-de-açúcar,
justificou-se por implantar, a partir de sua produção, uma nova configuração no
espaço geográfico brasileiro e criar novas relações de trabalho. Foi ressaltada
também sua relevância como matéria-prima para a fabricação do álcool combustível
e do biocombustível.
A atividade pecuária foi abordada como atividade que constituiu a base
econômica paranaense e também foi responsável pela ocupação da região dos
Campos Gerais, que se deu através de “Caminhos Históricos” onde estabeleceram-
se aglomerados populacionais que resultaram em várias cidades do Paraná Velho.
Enfatizou-se à colonização por contribuir significativamente, não só para a ocupação
territorial, mas também para a alteração da estrutura agrária paranaense.
No Paraná, duas fases marcaram o processo de colonização: a do tipo
3
3
camponês e a do tipo capitalista. Esta constituiu o foco central do trabalho que se
desenvolveu através um resgate histórico do grupo de imigrantes holandeses, que
se fixou em 1951 no município de Castro, cidade que se formou em decorrência da
atividade pecuária, com a rota dos tropeiros e ainda tem a atividade como um
suporte para sua economia.
A questão regional merece destaque quando trabalhamos as disciplinas,
especialmente quando se trata da Geografia. Neste sentido, foi estabelecido um
recorte da região dos Campos Gerais, especificamente do município de Castro,
região onde está inserida a Cooperattiva Agropecuária Castrolanda, formada pelos
referidos imigrantes, para servir como objeto deste estudo.
Os holandeses que fundaram a colônia Castrolanda contribuíram, através de
sua prática agropastoril, para a alteração da estrutura agrária paranaense.
Desenvolvendo-se através do sistema cooperativista, conseguiram valorizar as
terras da região, consideradas de solo pobre, e fundar, juntamente com outros
imigrantes da colônia de Carambeí, a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná
Ltda em 1957, formada então pelas cooperativas Castrolanda e Batavo,
respectivamente.
Procurou-se neste trabalho, destacar a importância do sistema cooperativista,
as formas de produzir no campo, estabelecendo a relação de dependência do
processo produtivo agropecuário com a indústria, tendo em vista as imposições do
mundo globalizado.
Em decorrência da globalização, as empresas, de modo geral, estão mais
sujeitas à concorrência, intensificando as parcerias na montagem de cadeias
produtivas descentralizadas, articuladas em conglomerados rurais-industriais
financeiros. As atividades agropecuárias também estão inseridas nesse contexto de
mudanças.
Um conjunto de atividades está ligado à produção agropecuária: pesquisa
científica, fornecedores de insumos, equipamentos, industrialização, serviços. Essa
cadeia produtiva alimentar torna-se bastante complexa, uma vez que impõem
relações biológicas com toda a diversidade relacionada à vida vegetal e animal e
suas conexões com as econômicas.
As práticas desenvolvidas pela cooperativa Castrolanda, dentro dos
princípios cooperativistas, estão inseridas na problemática atual que envolve
pesquisa, tecnologia, desenvolvimento sustentável e cadeia alimentar do
4
4
agronegócio. As cooperativas agropecuárias de produção representam um dos
termômetros do agronegócio brasileiro, principalmente no Paraná.
No contexto produtivo, destacou-se a atividade pecuária, uma vez que no
Paraná, as cooperativas dominam a industrialização do leite. A região dos Campos
Gerais apresenta uma produção leiteira significativa no Estado e a Cooperativa
Agropecuária Castrolanda, uma das maiores do sul do Brasil, responde pela maior
parte dessa produção.
O Paraná tem um valor expressivo na exportação de produtos agrícolas e de
origem animal, gerando recursos não só para o Estado, mas também para o Brasil,
na medida em que gera emprego no campo, ocupa mão-de-obra nas indústrias
processadoras de alimentos, nas fornecedoras de insumos, equipamentos e
segmentos de serviços associados às cadeias produtivas do agronegócio.
As imposições econômicas e tecnológicas do mundo globalizado, transforma
intensamente suas espacialidades e inter-relações. Assim, novas exigências vêm se
impondo não só aos mercados, às instituições, à política e à economia, mas
também aos indivíduos, em termos de formação. Diante desse contexto, as
cooperativas do agronegócio vêm atingindo sustentabilidade num ambiente de
acirrada competitividade, aprimorando sua capacidade gerencial, investindo em
tecnologia e exigindo cada vez qualificação profissional.
O conhecimento que sempre foi o fator primordial para o desenvolvimento,
passa a ser cada vez mais avolumado e abrangente, tendo em vista a intensidade
das informações através dos meios de comunicação. Esse cenário torna necessário
uma aprendizagem constante para que os indivíduos tornem-se agentes criativos,
ativos, sujeitos plenos numa sociedade plural, cada um no seu lugar, mas sempre
em interação com o outro.
Cabe então à educação proporcionar um conhecimento que lhe permita
discernir as condições em que vivem, estabelecendo análise, comparação, reflexão
sobre a realidade, perceber o que aparece como incoerência, contradição, assim
como estabelecer relações e significados aos movimentos da história, em seus
respectivos espaços geográficos.
A Geografia, enquanto ciência social, estuda, analisa e tenta explicar o
espaço geográfico, instância das relações de produção que acarretam
comportamentos espaciais e estruturas territoriais diferenciados. A interpretação do
fluxo de mudanças exige um sistema teórico que permita à disciplina trabalhar
5
5
criticamente aspectos da realidade, mais permanentes e estruturais de longa
duração.
Através da reconstituição de uma trajetória, recuperamos idéias,
posicionamentos, história. A valorização do tempo torna-se fundamental quando
trabalhamos com objetos em movimento, em processo.
Como forma de oferecer subsídios teóricos para fundamentar o tema,
utilizamos no terceiro momento deste trabalho, a exibição de imagens por constituir-
se num importante instrumento de estímulo a aprendizagem. Através da linguagem
audio-visual os alunos observaram imagens sobre a trajetória da ocupação do
território paranaense, partindo do litoral até o segundo planalto paranaense,
chegando à colônia e cooperativa Castrolanda. Uma imagem aérea da área onde a
mesma se encontra, possibilitou a compreensão do seu complexo de produção.
No processo de ensino-aprendizagem, cabe ao professor exercer o papel de
motivador para buscar a emancipação do aluno e a pesquisa apresenta-se como
proposta emancipatória, criativa. Foi proposto aos alunos a realização de pesquisas
em diferentes fontes sobre as atividades agropecuárias, sem tema especifico, para
permitir a autonomia dos mesmos em buscar o que lhes parecesse mais
significativo.
O registro é fundamental para o resgate histórico de uma realidade. Neste
sentido, os alunos realizaram, inicialmente, a apresentação de suas pesquisas para
proporcionar um debate, posicionamentos, discussões sobre o tema pesquisado.
Posteriormente foi feita a seleção das pesquisas e reportagens que acharam mais
significativas para fazer parte de um jornal informativo que foi distribuído aos demais
alunos e professores da disciplina para trabalhos futuros.
Como instrumento de pesquisa ainda foi utilizada a entrevista semi-
estruturada realizada com um produtor de hortaliças da cidade de Ponta Grossa e
com um engenheiro agrônomo da EMATER, para obtenção de dados a respeito da
condição dos pequenos e médios produtores agrícolas diante das exigências do
mercado, assim como da implementação de algumas políticas públicas da
Secretaria de Agricultura.
Para vivenciar a realidade estudada, realizou-se uma visita à colônia
Castrolanda, onde foram entrevistados imigrantes do local. A partir da coleta das
informações, oportunizou-se uma discussão sobre o tema em sala de aula,
oportunizando aos alunos realizar uma análise sobre o contexto estudado, assim
6
6
como estabelecer comparações e posicionamento crítico.
Como complemento, distribuiu-se questionários aos produtores associados
objetivando coletar dados sobre sua prática, assim como verificar seu
posicionamento diante das atividades que desenvolvem no contexto atual.
É fundamental refletir sobre o espaço geográfico e buscar seu valor
explicativo. Os indivíduos precisam conhecer o movimento da história, os contextos,
estabelecer relações, para que possam discernir a realidade em que vivem e
posicionar-se de forma crítica.
DESENVOLVIMENTO
A existência humana segundo Soja (1993), fundamenta-se em três
dimensões: o tempo, o espaço e o ser. “O estudo da relação homem-natureza
acompanha o desenvolvimento da Geografia desde sua origem.” (...) “A
indissociabilidade espaço/tempo é uma característica importante da análise
geográfica e passa pelo entendimento de como o homem reagiu e vem reagindo às
influências da natureza ao longo do tempo.” (FERREIRA, 2002: 287)
A sociedade constituiu-se inicialmente por agrupamentos humanos que
dependiam exclusivamente da natureza e buscavam adaptar-se aos sistemas
naturais. Gradativamente foram criando instrumentos artificiais necessários ao
domínio desse mundo natural, o que provocou a transformação e a organização do
espaço geográfico, que segundo Santos e Silveira (2005), se define como união
indissolúvel de sistemas de objetos e sistemas de ações, e suas formas híbridas, as
técnicas.
Apropriando-se de idéias, das capacidades e técnicas, os indivíduos foram
produzindo no espaço geográfico, sua vida material e sua existência social. Na
busca da satisfação de suas necessidades, foram produzindo diferentes
instrumentos e formas de fazer, chegando a domesticação de plantas e animais. A
prática da agricultura associou-se ao desmatamento. Para Santos e Silveira (2005),
esse processo significou “a imposição à natureza de um primeiro esboço de
presença técnica, pois ritmos e regras humanas buscavam sobrepor-se às leis
naturais”.
As atividades agrícola e pecuária foram sofrendo gradativas transformações
7
7
ao longo do tempo, influenciadas pelas necessidades da estruturação social,
econômica e política. Essa influência repercutiu e repercute na formulação do
pensamento científico que é profundamente dinâmico.
As transformações que ocorreram nas atividades agropecuárias levando a
uma apropriação pré-industrial do processo natural de produção, se deu no final do
século XVIII e início do século XIX, na Europa Ocidental, quando o crescimento
populacional e a urbanização “intensificaram as pressões por demanda sobre a
base agrícola de recursos, dando incentivo às mudanças pré-industriais já em
andamento nas safras de criação de animais domésticos”. (GOODMAN, 1990: 20).
A rotação de culturas com plantas forrageiras e a associação das atividades
agrícolas com a pecuária foram técnicas que passaram a ser intensificadas e
constituíram-se na primeira revolução agrícola.
A nova criação de animais domésticos transformou as práticas existentes ao
introduzir um sistema diversificado de rotação de culturas, mais intensivo quanto ao
uso da terra, que ocasionou tanto um aumento no rendimento dos grãos quanto
maior capacidade relativamente ao número de animais de criação. Esse sistema de
rotação baseava-se no cultivo arável de forragens leguminosas e de variedades de
raiz grossa de plantas tradicionais, que reduziam a extensão de terras
obrigatoriamente alqueiradas, liberando a terra para o cultivo e fornecendo pasto e
forragem invernal para inúmeros crescentes de animais de criação. Essa prática
possibilitou a renovação da fertilidade do solo devido as propriedades de retenção
do nitrogênio derivadas das culturas das ervas forrageiras e ao aumento da
quantidade de esterco disponível.
Entre as décadas de 1820 e 1870, a agricultura passou por uma segunda
revolução agrícola quando se estabeleceram direções no processo de apropriação
industrial com a introdução de forragem animal industrialmente processada e o
crescimento de fertilizantes inorgânicos. Houve assim, um certo distanciamento
entre as duas atividades, uma vez que o esterco animal foi substituído por alguns
produtos químicos (GOODMAN, 1990).
Com a unificação mundial dos mercados de grãos e a competição imposta
pelos produtos de monoculturas no Novo Mundo, o “circuito fechado” da produção
desintegrou-se gradativamente, após 1915, à medida que crescia a demanda dos
insumos produzidos externamente à unidade agrícola: forragem animal processada
individualmente e fertilizantes (GOODMAN, 1990).
8
8
As tendências básicas da apropriação industrial se deram no oeste europeu e
nos Estados Unidos, porém distintas nos padrões de apropriação. Enquanto a
Europa fez avanços no sistema natural de restauração dos nutrientes do solo
desenvolvendo a indústria química, pelas dificuldades relacionadas a exaustão dos
solos, por possuir uma estrutura agrária rígida, os Estados Unidos, possuindo
abundância de terras, escassez de mão-de-obra, utilização da energia humana e
animal como base do processo de trabalho, investiu na engenharia mecânica e
automotora.
Surge então a intervenção nos determinantes biológicos da produtividade
agrícola. Pesquisas foram desenvolvidas voltadas à inovação biológica e genética.
Todos os setores agroindustriais ou de maquinário agrícola, o químico e o de
processamento foram forçados a adaptar suas estratégias de crescimento a fim de
incorporar as oportunidades revolucionárias criadas pelas sementes híbridas e pela
nova genética das plantas (GOODMAN, 1990).
A primeira apropriação real do processo de produção natural ocorreu na
genética das plantas e as técnicas de hibridização de safras tornaram-se o pivô do
desenvolvimento agroindustrial subseqüente.
As culturas foram necessitando cada vez mais de aplicações intensivas de
fertilizantes e produtos químicos para que o rendimento de sua produção fosse cada
vez mais elevado. A indústria química se expandiu e difundiu na Europa e no mundo
com maior intensidade em algumas regiões. O ritmo da produção de alimentos
cresceu extraordinariamente, ocorrendo, desta forma, uma verdadeira revolução – a
Revolução Verde, como foi chamada.
Essa revolução “intensificou ainda mais os índices de desempenho da
atividade agrícola, pois aliou a engenharia genética, que produziu para a agricultura
variedades geneticamente melhoradas, adaptadas ao solo e clima totalmente
diferente do seu ambiente natural (...)” (CAMPOS & TSUKAMOTO, 2003: 19).
A Revolução Verde marcou uma maior homogeneização do processo de
produção agrícola, através da difusão internacional das técnicas da pesquisa
agrícola. As empresas multinacionais de adubos, agrotóxicos, sementes e maquinas
agrícolas foram favorecidas, uma vez que a falta desses produtos aos agricultores
criou uma dependência dos mesmos às referidas empresas.
No caso da pecuária, a apropriação industrial seguiu uma dinâmica diferente,
uma vez que a terra não é fator decisivo para seu desenvolvimento. Desde o início,
9
9
a apropriação desenvolveu-se principalmente, pela eliminação da terra enquanto
espaço. A forragem animal e os equipamentos de capital puderam ser concentrados
em locais convenientes (GOODMAN, 1990).
A prática de rotação de cultura utilizada no século XVIII, contribuiu para o
aumento dos suprimentos de forragem, o que levou os agricultores da Europa
ocidental a substituir a pastagem permanente por métodos de criação e alimentação
em confinamento. A pecuária absorveu tecnologias avançadas desenvolvidas em
outros setores industriais, incorporando inicialmente os motores elétricos, os
sistemas computadorizados e a partir de 1950, o tempo biológico ou reprodutivo
começou a ceder ao “apropriacionismo” industrial (GOODMAN, 1990).
O avanço da ciência animal, especialmente relacionado ao controle de
doenças, permitiu a organização de áreas de criação de gado de corte, introduzidos
inicialmente na Califórnia, Estados Unidos, no séc. XX, criando-se as unidades de
confinamento total da criação de porcos e as granjas avícolas.
As inovações que ocorreram na pecuária proporcionaram o crescimento de
indústrias especializadas no fornecimento de forragem processada, formulada por
computador, equipamentos para ordenha, antibióticos, vacinas e outros produtos
farmacêuticos. O apropriacionismo industrial ficou evidenciado no processo
biológico de produção e criação dos animais domésticos, buscando-se inicialmente
o cruzamento com a obtenção de linhas genéticas com características hereditárias
desejáveis (GOODMAN, 1990).
O conhecimento mais profundo do processo produtivo nos animais de
fazenda e na busca de traços economicamente valiosos caracteriza uma nova era
científica da criação de animais associada particularmente com a difusão da
inseminação artificial na indústria americana de laticínios, proporcionando
crescimento na produção animal do leite e na redução do número de vacas leiteiras.
Os capitais industriais passaram então a obter lucros com a manipulação da
fisiologia reprodutiva dos animais.
Associada à pratica da inseminação artificial, surgiram inovações correlatas
na genética aplicada como a transferência do embrião, a ovulação múltipla,
detecção do estro, sincronização do estro, que permitiram o controle de grande
parte do processo reprodutivo animal (GOODMAN, 1990).
O fundamento da avançada tecnologia de reprodução está na transferência
de embrião, que implica na renovação de embriões de um animal e seu transporte
10
10
no útero de outro. Essa transferência de embrião passou a ter valor comercial na
década de 70.
O processo produtivo relacionado ao modo de produção capitalista,
juntamente com as inovações técnicas, fez com que essas práticas avançassem
influenciando as decisões de planejamento e organização do espaço geográfico,
criando também espaços econômicos desiguais. O uso do território pode ser
definido pela implantação de infra-estruturas e também pelo dinamismo da
economia e da sociedade.
Para podermos explicar o espaço produzido pelos indivíduos, necessitamos
delimitar períodos, redescobrir contextos através da análise dos arranjos espaciais
nas diferentes escalas. Os sistemas de objetos e de ações e suas formas híbridas,
as técnicas, nos indicam como o território é usado, onde, por quem, por quê e para
que. “O território, visto como unidade e diversidade é uma questão central da
história humana e de cada país e constitui o pano de fundo do estudo das sua
diversas etapas e do momento atual” (SANTOS & SILVEIRA, 2005, p.20).
As técnicas são representativas das épocas históricas. Assim, os sistemas
técnicos incluem de um lado a materialidade e de outro, seus modos de
organização e regulação. Elas autorizam, a cada momento histórico, uma forma e
uma distribuição do trabalho. Um dado importante para o entendimento das
situações atuais, é o estudo do povoamento, abordado sobretudo em sua
associação com a ocupação econômica.
Essa abordagem teórica realizada e repassada aos alunos, permitiu-lhes
perceber que ao longo da história da agricultura, o desenvolvimento do capitalismo
foi, gradativamente, tornando as atividades agropecuárias interligadas à indústria.
As relações de produção foram estabelecendo elos que tornaram a cadeia produtiva
alimentar bastante complexa por impor relações biológicas que englobam toda a
diversidade relacionada às vidas vegetal e animal e suas conexões com as
econômicas (FERREIRA, 2002).
Como estratégia de ensino-aprendizagem utilizou-se a pesquisa, considerada
parte integradora na construção do conhecimento. A partir dos fundamentos
teóricos, os alunos tiveram a liberdade de pesquisar os assuntos que mais lhes
chamassem atenção em diferentes fontes.
O registro é fundamental para o resgate histórico de uma realidade. Neste
sentido, foi oportunizado aos alunos a possibilidade agirem como construtores e
11
11
transmissores do conhecimento a partir da realização e apresentação oral de suas
pesquisas, que serviram como fonte de discussões, análises, posicionamentos.
A atividade de seleção dos principais assuntos e a organização dos
mesmos para a elaboração de um jornal agropecuário – Jornal Rural, assim
denominado pelos mesmos, serviu como fonte de informação aos demais colegas e
professores da disciplina de Geografia.
Pensando as relações espaço geográfico e sociedade, global e local,
procuramos destacar a ocupação do território, entendido como sinônimo de espaço
geográfico, por constituir-se na base da vida material e conteúdo das relações
sociais de todo tipo. Destacou-se a importância das atividades agrícola e pecuária,
respectivamente, como fatores essenciais no processo de ocupação e organização
espacial do território brasileiro e paranaense, sob o ponto de vista econômico.
A atividade agrícola, com a cultura da cana-de-açúcar, definiu a forma de
ocupação do território brasileiro, atendendo interesses dos europeus, organizados
sob a forma do sistema capitalista. Criaram aqui uma nova configuração do espaço
geográfico através do convívio obrigatório de pessoas, animais e plantas de três
continentes, uma vez que esse espaço já pertencia aos indígenas, organizados nos
moldes da comunidade primitiva. Assim, o sentido do trabalho, o valor da terra, não
era o mesmo para indígenas e europeus.
O início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma
pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações européias.
(...) “tornava-se cada dia mais claro que se perderiam as terras americanas a menos
que fosse realizado um esforço de monta para ocupá-las permanentemente”.
(FURTADO, 1999: 6).
O açúcar era uma das especiarias mais valorizadas no comércio europeu. No
século XV havia dificuldades para se conhecer qualquer técnica de produção de
produção e também proibia-se a exportação de equipamentos. Neste sentido pode
ser explicado o êxito da “primeira grande empresa colonial agrícola européia”, assim
caracterizada por (FURTADO, 1999, p.9), no Nordeste brasileiro, tendo em vista o
domínio da técnica de fabricação do açúcar por parte dos portugueses.
A contribuição para o desenvolvimento comercial desse produto na segunda
metade do século XVI foi dada pelos holandeses, que nessa época eram os únicos
a dispor de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes
dimensões para um produto praticamente novo (FURTADO 1999).
12
12
A explicação sobre a importância da cana-de-açúcar, para a organização
inicial do território brasileiro e também como matéria prima para o álcool
combustível e o biodiesel despertou o interesse dos alunos, provocando discussões
em relação à importância do domínio técnico para desenvolver uma produção, à
poluição e o uso do biocombustível, a substituição de algumas áreas da região
Norte do Paraná, anteriormente utilizadas para pastagem, destinadas atualmente
ao cultivo da cana.
Pode-se observar que o plantio dessa cultura avança além das áreas
tradicionais, da região nordeste, do interior paulista. A preocupação ambiental, a alta
nos preços do petróleo e a possibilidade de o Brasil oferecer o biocombustível em
larga escala incentiva a iniciativa privada a ampliar e construir novas usinas. Esse
contexto se diferencia dos anos 70 com o álcool combustível, que teve a iniciativa
governamental.
No Estado do Paraná, a atividade pecuária constituiu a base da economia do
Paraná Velho ou Tradicional. A ocupação da área que corresponde ao Estado do
Paraná se deu através de processos históricos-geográficos e econômicos
diferentes, caracterizando uma diversidade territorial.
Havia três subsistemas econômicos diferentes e que praticamente não
mantinham relação entre si: o Paraná Velho, com um processo de ocupação da
planície litorânea que teve início no século XVII, relacionado à procura de metais
preciosos. Esse processo de ocupação atingiu o primeiro e segundo planaltos e
região centro-sul do Estado; o norte do Estado, iniciando seu processo na segunda
metade do século XIX, ligado a expansão da cafeicultura de São Paulo e a região
sudoeste, constituindo o terceiro processo no início do século XX, com a
suinocultura, produção de soja, milho.
Pode-se dizer que o Paraná Velho era a única parte do Estado que podia ser
considerada “paranaense”. Nos séculos XVII e XIX, um movimento em direção sul-
norte e norte-sul, fez com que a ocupação se desse através de “Caminhos
Históricos”, de condições bastante precárias, que permitiam praticamente apenas o
trânsito de tropas de gado bovino e muar. (PADIS, 1981).
Deve-se a esses caminhos, a ocupação de uma parte considerável do
território paranaense. O estabelecimento de aglomerados populacionais que
resultaram em várias cidades do Paraná Velho está relacionado ao caminho do
Viamão a Sorocaba, que ligava os centros criadores localizados no Rio Grande do
13
13
Sul ao principal mercado da época, Sorocaba.
A vegetação natural, a ocorrência de campos em considerável parte dessa
região dos planaltos, foi importante para a economia que se desenvolveu no Estado:
o mate, o pinheiro e a pecuária. As atividades ligadas à pecuária recebiam grandes
investimentos, ficando em segundo plano a produção de alimentos.
Durante o século XIX, enquanto a Europa Ocidental sentia a necessidade de
aumentar a produção de alimentos e revolucionava a produção agropecuária com a
utilização de novas técnicas, a Província do Paraná enfrentava problemas em
relação à escassez de alimentos. Além da falta de investimento na produção de
gêneros alimentícios, outros fatores contribuíram para a crise agroalimentar:
métodos bastante simples de cultivo, como trabalho manual, queimadas, ausência
de um sistema viário que integrasse as diversas regiões.
O abandono da produção agrícola de subsistência em escala comercial gerou
a crise de alimentos. Essa crise fez com que o governo da Província do Paraná
manifestasse sua preocupação em resolver o problema. A estrutura agrária
paranaense era constituída por um sistema agrícola separado da pecuária. A vinda
de imigrantes europeus era considerada uma alternativa para mudança nesse
sistema, tendo em vista a tradição rural diferenciada dos europeus.
Partindo desse referencial teórico, os alunos puderam compreender a
movimentação da população em decorrência da questão econômica, dos
interesses, que devem ser analisados numa dimensão histórica e que os mesmos
interferem na organização e configuração do espaço geográfico, marcada também
pela cultura.
Como complementação do tema proposto, utilizou-se a exibição de imagens
em datashow, por constituir-se num importante instrumento de aprendizagem.
Através da linguagem audiovisual os alunos puderam observar imagens do litoral
paranaense, onde foram apresentadas: algumas construções antigas da cidade de
Paranaguá, que evidenciam traços culturais e históricos; o porto D. Pedro II; a Serra
do Mar.
As imagens relacionadas ao primeiro planalto, destacaram o Palácio Iguaçu,
e a Assembléia Legislativa. No segundo planalto, foi destacada a vegetação, os
símbolos do tropeirismo que estão presentes na cidade de Ponta Grossa e Castro.
Uma imagem aérea cedida pela Cooperativa Agropecuária Castrolanda foi
fundamental para a compreensão do complexo produtivo da mesma, permitindo que
14
14
os alunos pudessem estabelecer comparações entre o espaço rural tradicional e o
tecnificado.
Ainda como parte integrante da construção do conhecimento, foi realizada
uma entrevista semi-estruturada com um dos engenheiros agrônomos da EMATER,
que foi enriquecedora sob o ponto de vista do conhecimento a respeito do papel
desse órgão junto ao pequeno produtor que se depara, em muitas regiões, com
dificuldades de produzir em solos de baixa aptidão agrícola e enfrentar as
mudanças que ocorreram no processo produtivo agrícola. Neste sentido, fica clara a
importância da implementação de políticas públicas.
Achou-se oportuno destacar exemplos de algumas ações desenvolvidas pela
Secretaria de Agricultura do Paraná, que buscam a inclusão social, o
desenvolvimento rural sustentável e o fortalecimento das economias locais.
Destacou-se o apoio aos pequenos agricultores com a prestação de suporte técnico,
relacionado à prática do sistema de Plantio Direto, que tem se mostrado uma
técnica economicamente viável para o pequeno produtor e protege o meio
ambiente.
Outra ação que merece destaque foi o dia de campo promovido pela
Prefeitura de Ariranha do Ivaí e EMATER, com objetivo de discutir com os
agricultores do município a tecnologia de produção de leite. A vivência do pequeno
produtor também serviu para que os alunos conhecessem a realidade desse
segmento tão importante.
Ainda complementando as atividades, uma das alunas envolvidas neste
trabalho, entrevistou um produtor de hortaliças, onde deixou claro que a terra é o
fator essencial para sua sobrevivência e o cuidado com a mesma. Ao responder as
perguntas diz:
“trabalho com a agricultura há 25 anos com a minha esposa. Tenho duas filhas, que hoje trabalham em loja.(...) Os instrumentos que utilizo para produzir é um trator, e enxada, que é muito utilizada. Minha produção vai para as feiras livres do produtor e também para um supermercado. (...) Eu, na minha terra, utilizo adubação verde, aveia, restos das próprias folhas das verduras como adubo, adubo orgânico. As próprias minhocas servem como adubo para a terra. Uso água da minha própria propriedade aonde existe uma mina na qual já fiz até análise em laboratório que constatou água própria para o consumo ...”.
Abordar a questão regional é importante quando trabalhamos as disciplinas,
especialmente quando se trata da Geografia. Neste sentido, estabelecemos um
recorte da região dos Campos Gerais, especificamente da região onde está inserida
a Colônia Castrolanda, fundada por imigrantes holandeses que fizeram parte da
15
15
última etapa da colonização, que se deu em duas fases no Paraná: a de tipo
camponês e a de tipo capitalista. Esta constituiu o foco central deste estudo.
Pretendeu-se discutir a história do território, considerado como sinônimo do
espaço, a partir do seu uso pelo grupo de imigrantes citados, que se desenvolveu
dentro de um sistema cooperativo e contribuiu para a alteração da estrutura agrária
paranaense. A imigração européia era uma estratégia de povoamento, com a
finalidade de inovar as técnicas, introduzindo novos padrões de produção,
promovendo assim a modernização.
Esse foi o caso das 64 famílias holandesas que saíram do norte da Holanda,
em 1951 e vieram para o Paraná, instalando-se numa área de 7.000 hectares, no
município de Castro, região dos Campos Gerais.
Para a instalação dos colonos holandeses, cooperaram o governo estadual, o
governo federal e a instituição Christian Emigration Centre.
Duas fases marcaram o sistema de colonização no Paraná: a das colônias de
tipo camponês e as colônias de tipo capitalista que se desenvolveram em formações
cooperativistas. O sucesso das colônias de tipo capitalista, analisado sob o ponto de
vista econômico, esteve condicionado ao desenvolvimento de uma “economia de
mercado, às facilidades de financiamento e, bem como sua fundamentação em uma
organização de sistema cooperativo” (BALHANA, et al, 1969: 226).
Nesse grupo de colônias que se desenvolveram em formações
cooperativistas estão as colônias holandesas de Carambeí e Castrolanda, Tronco,
Arapoti, a colônia Witmarsum e os colonos japoneses, instalados em Castro, com a
Cooperativa Cotia. Esse tipo de colônia marcou a última fase de colonização e
contribui para modificar a estrutura agrária paranaense que era constituída por um
sistema agrícola dissociado da criação. Dentro do projeto de modernização, a
colonização representou a introdução de novos padrões de produção, novas
relações sociais.
O grupo de holandeses que se fixou no município de Castro trouxe 1250
cabeças de gado leiteiro, tratores, implementos e equipamentos para uma indústria
de laticínios. Apoiados em estudos e pesquisas de alto nível da Central de
Imigração da Holanda, dedicaram-se à pecuária leiteira e também à produção
agrícola, formando a colônia e Cooperativa Castrolanda. As Cooperativas Batavo e
Castrolanda criadas respectivamente em 1941 e 1951, constituíram a CCLPL
(Cooperativa Central de Laticínios do Paraná Ltda), uma usina moderna construída
16
16
no município de Castro e que atualmente faz parte de Carambeí, município
desmembrado de Castro em 1988.
Os primeiros anos dos imigrantes que fundaram a Cooperativa Castrolanda
foram da adaptação à realidade. A venda de gado constituía a renda principal.
Organizou-se um dia de gado leiteiro, inicialmente em algumas propriedades e
posteriormente foi adquirido um terreno para exposições (KIERS, 2000:139).
Buscando cada vez mais a melhoria na produção, foram organizados
cursos de ordenha, e iniciado o controle leiteiro. Em 1955 a colônia contava com um
posto de inseminação artificial onde eram mantidos touros selecionados com
excelentes listas genealógicas e assistido por médicos veterinários. Eram realizados
também exames de tuberculose e controle de febre aftosa. Houve um grande
progresso tanto em qualidade como em produção do leite. Num jornal da época a
fábrica de laticínios foi considerada como a mais moderna da América Latina.
A agricultura também foi significativa para a colônia. O governo holandês
cedeu consultores agronômicos que muito contribuíram para o desenvolvimento das
três colônias do Paraná: Castrolanda, Batavo e Arapoti. Importante também foi a
fundação da escola agrícola, em 1958, onde eram ministradas aulas de botânica,
adubação, pecuária, entre outras (KIERS, 2000:146).
Dez anos mais tarde foi inaugurado o Colégio Agrícola do Instituto Cristão,
onde os alunos tiveram a oportunidade de aprender as atividades agropecuárias e
aplicá-las na prática das propriedades. Através da Associação de Jovens
agricultores fundada sob a direção de engenheiros agrônomos, era possível trocar
idéias a partir de suas experiências, procurando ficar próximos dos níveis da
Holanda. (KIERS: 2001)
Formaram também, pequenos campos experimentais, onde a comissão
agrícola priorizava a produção de sementes. Eram organizadas excursões
instrutivas a propriedades e instituições e os dias de campo, que atraíam firmas que
comercializavam máquinas agrícolas e implementos. A agricultura teve um grande
progresso e passou a contribuir significativamente para o meio de vida da colônia
(KIERS, 2000:147).
A expansão agrícola esteve relacionada ao cultivo da soja e do milho. O
trigo era plantado com segunda cultura, crescendo também a cultura do arroz e do
feijão. Uma comissão formada para os campos experimentais realizava testes com
grande variedade de culturas, para indicar as mais apropriadas para a região,
17
17
considerando as diferenças de clima e solo para determinar a adubação, plantio e
pulverizações. Os campos experimentais permitem aos agricultores a observação
do ensaios que estavam sendo feitos e aplicá-los, se achassem conveniente, em
suas propriedades.
Foi na década de 60, durante o estado desenvolvimentista, que o governo
brasileiro passou atuar decisivamente e com propósitos definidos na agricultura
brasileira. As ações de política agrícola acompanharam as alterações ocorridas na
percepção do papel do estado na economia. A essência desta intervenção está,
num certo sentido, interpretada como a criação de mecanismos institucionais que
transferissem recursos financeiros de outros setores para as atividades agrárias,
sobretudo através do Banco do Brasil que passou a conceder crédito abundante e
subsidiado (SILVA, 2000).
A partir de 1970, implantou-se no Brasil, uma transformação da base
técnica de produção seguindo a Revolução Verde ocorrida na Europa, com
propósito de aumentar a produção de alimentos, dentro dos moldes capitalistas de
produção no campo. Os anos 70 ficou conhecido no Brasil como milagre
econômico. Buscava-se maior produção e diversificação das exportações agrícolas.
O Estado brasileiro viabilizou o processo de modernização da agricultura,
reforçando medidas já existentes na década anterior, como incentivos fiscais,
créditos rural, implantação de grandes eixos rodoviários.
Buscou-se, porém, atender os setores mais capitalizados. A absorção das
novas tecnologias de produção foi específica a algumas áreas, sendo
intrinsecamente relacionada a determinados tipos de culturas caracterizadas por
mercado em forte expansão no comércio internacional, com destaque para a soja
(CAMPOS & TSUKAMOTO, 2003). A modernização da agricultura, analisada sob o
contexto espacial, definiu espaços diferenciados, tendo em vista a maior ou menos
adesão às técnicas modernas.
Críticas também foram feitas à Revolução Verde, quando associada aos
movimentos ecológicos e ambientalistas, que para Moreira (2000), se desenvolve
em três aspectos: sociais, econômicos e técnicos. No aspecto social, a crítica se dá
na própria natureza do capitalismo na formação social brasileira e da tradição das
políticas na área econômica e no campo político de definição de prioridades. O
aspecto econômico refere-se à elevação dos custos do pacote tecnológico desta
Revolução, associada à crise do petróleo, onde houve redução dos subsídios de
18
18
crédito. O terceiro aspecto – o técnico, leva em consideração a poluição, o
envenenamento dos recursos naturais e dos alimentos, a perda da biodiversidade, a
destruição dos solos.
O incremento da cultura da soja, a expansão de novas áreas de cultivo
ocorreu de forma rápida, desordenada e destrutiva através da utilização do fogo,
arado, grade. Muitas regiões com variadas coberturas naturais, em diferentes
condições de clima e relevo foram desbravados. Na mesma proporção que
aumentava-se a área de produção, aumentava também as perdas de solo
(PEREIRA, 2000). Tornava-se necessário uma melhor eficiência em conservação do
solo e manejo das culturas.
Ainda no final da década de 60 foram iniciados, os primeiros trabalhos de
conservação do solo, porém com o uso da mecanização. “Nos países de clima
tropical e subtropical, a erosão causada pelas fortes chuvas ocorre com gravíssimas
conseqüências, com gigantescas perdas de solos, nutrientes e insumos, estes de
elevado custo e de difícil reprodução nas áreas afetadas” (PERERIRA, 2000:
Uma técnica de plantio sem o uso de mecanização estava sendo avaliada e
aplicada em países de clima temperado. No Brasil, a erosão hídrica, eólica e
financeira representava um grande problema a ser enfrentado naquele momento.
Foi iniciado um esforço conjunto integrando pesquisa e extensão oficiais,
cooperativas e produtores, para adotar medidas que minimizassem a degradação
dos solos. A integração resultou num novo sistema de produção chamado Plantio
Direto e posteriormente complementado para Plantio Direto na Palha “por depender
de um solo coberto, protegido e estável, totalmente diferente de tudo o que se tinha
visto e realizado até aquele momento” (PEREIRA, 2000).
O termo “plantio direto “origina-se do conceito de plantar diretamente sobre
o solo não lavrado, e o termo “na palha” acrescenta a idéia de manter o solo sempre
protegido por resíduos” (CARDOSO, 1998:5 )”. Nesse sistema, a rotação de
culturas viabiliza o controle de doenças e produção de palha para proteção do
solo.principalmente em relação ao controle de doenças e produção de palha
proteção do solo, que “sob vegetação natural encontra-se em equilíbrio dinâmico
em relação às propriedades que o caracterizam, pois está em conformidade com o
clima, o material de origem e a posição ocupada no relevo” (FANCELI, 2000:16).
“O sistema de Plantio Direto na Palha originou-se da intenção de combater
a erosão. Esse efeito resulta do controle do escorrimento da água de chuva por
19
19
meio de resíduos que conduzem a velocidade da água em movimento dando mais
tempo para infiltração. O movimento suave da água sobre o solo não perturbado
reduz dramaticamente sua ação erosiva (CARDOSO, 1998).
Para Cury (2000), a filosofia do PDP tem em sua essência o equilíbrio do
ecossistema , já que possibilita a auto-sustentação em termos econômicos, sociais
e ecológicos. Buscando esses benefícios, a Cooperativa Agropecuária Castrolanda
utiliza o sistema de PD em 100% de sua produção, o que resulta em grandes
benefícios ambientais, uma vez que há possibilidade de se preservar os recursos
naturais, reduzindo os níveis de contaminação dos cursos d' água e também para
os produtores que, entre outros ganhos, reduzem o uso de herbicidas, adquirem
maior produtividade das culturas, uma vez que podem regular a temperatura do
solo.
O PD é uma tecnologia importante também para a agricultura familiar. “O
marco do desenvolvimento dessa tecnologia para a pequena propriedade ocorreu
em meados da década de 80, quando foi lançado o primeiro protótipo de
semeadora-adubadora de plantio direto e tração animal Gralha Azul / IAPAR” (
RIBEIRO & MIRANDA, 2000 p:190).
A Cooperativa Agropecuária Castrolanda, é uma das mantenedoras da
Fundação ABC, primeira instituição de pesquisa aplicada à agropecuária criada por
produtores rurais e também uma das pioneiras no desenvolvimento do PD no país.
A década de 70 foi muito significativa para a atividade agropecuária
brasileira. Grandes avanços ocorreram na avicultura, suinocultura, nas técnicas
ligadas à bovinocultura, como a inseminação artificial, confinamento, forragens e
manejo. A criação da Embrapa em 1973, deu impulso à pesquisa na agricultura.
Para a Cooperativa Castrolanda, nos anos 70 houve crescimento horizontal
e os anos 80 favoráveis para o seu crescimento vertical. Na década de 80, ocorreu
uma mudança do papel do estado na economia de mercado. O intervencionismo foi
substituído pelo neoliberalismo, onde considera-se que as forças do mercado são
mais eficazes para promover a prosperidade econômica. O reflexo da política
neoliberal no setor agrícola, fez com que os subsídios fossem eliminados e também
reduzia sua importância na oferta de crédito, procurando transferir para o mercado
as tarefas antes exercidas pelo governo.
A agropecuária brasileira sofreu grandes mudanças significativas na década
de 90, com a abertura e globalização dos mercados. Nos anos 90, a política de
20
20
inserção internacional e de comércio, exigia, entre outros pontos, o aumento de
eficiência na produção, com a incorporação de tecnologia e padrões de
produtividade internacionais, modernizar o sistema logístico de exportação, expor a
indústria nacional à concorrência e à capacidade competitiva internacional.
Em 1995, houve queda nos preços dos produtos agropecuários, a correção
dos financiamentos e a alta da inflação deixou muitos produtores em situação difícil.
“A ordem era baixar os custos, melhorar a produtividade, ser competitivo eficiente.
As cooperativas não ficaram fora desse ambiente” (BORG, 2001, p:132).
De acordo com Garcias (2002), no período de 1995-1999, o governo
brasileiro estabeleceu uma Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior,
considerando o processo de globalização que exigia a participação e expansão no
mercado internacional, inserindo-se dessa forma nos mercados internacionais e nos
processos globais apresentando níveis de competitividade compatíveis com os
padrões internacionais.
Partindo desse contexto, o governo brasileiro sentiu necessidade de
desenvolver políticas de incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologia, de
capacitação profissional, gestão empresarial, aliados a programas de
desenvolvimento da qualidade e produtividade nas empresas (GARCIAS, 2002). A
tomada de decisões estratégicas, como fusões, alianças entre empresas, passou a
fazer parte do mundo globalizado.
As cooperativas paranaenses de leite constituem três grupos: as do Norte,
as do Oeste e as do Sul, que movimentam o maior volume de leite comercializado.
A Coopersul ( voltada para grãos) e a CCLPL ( atuação no processo de recebimento
e comercialização do leite), são as duas centrais que possuem em seu quadro de
associados cooperativas singulares que comercializam leite. Diante da necessidade
de racionalizar as atividades de acordo com um novo arranjo organizacional, em
1996 as cooperativas singulares Batavo, Capal e Castrolanda, que pertenciam às
duas centrais passaram a participar somente da CCLPL. GARCIAS, 2002).
A Cooperativa Castrolanda, deixou a participação societária da Coopersul
por entender que a “atividade de esmagamento da soja não mais trazia vantagens
de valor agregado ao produto, nem tampouco representava uma garantia de
escoamento da safra aos produtores e também por agregar um fator de risco
financeiro” (BORG, 2001,: 133)
21
21
Em 1998, a Cooperativa Central criou uma nova empresa com o nome
Batávia S/A da qual ela mesma era acionista, com 46,% das ações, a Parmalat com
51% e a Agromilk com 3%. Esta empresa ficou com o parque industrial da CCLPL,
sendo a indústria de laticínios, frigorífico de suínos e aves. Em 2000 a Batavia S/A
vendeu a área de carne para a Perdigão S/A, ficando na Batávia S/A a indústria de
laticínios e a marca Batavo para lácteos e carnes. Em 2006 a Perdigão comprou as
ações da Parmalat. Em 2007 a CCLPL vendeu suas ações na Batávia para a
Perdigão S/A. Enquanto isto as Cooperativas Agropecuárias Batavo, Castrolanda e
Arapoti continuam suas atividades servindo os associados com prestação de
assistência técnica e comercializando a produção dos mesmos, como o leite a
granel, suínos vivos e grãos, fazendo com que estes obtenham o melhor preço no
mercado. as cooperativas garantem a organização social dos produtores e as
entidades de classe, a representatividade no setor, mas é o campo que dá a
sustentabilidade dessa cadeia produtiva.
Como forma de vivenciar os conteúdos trabalhados em sala de aula com a
realidade, os alunos realizaram uma visita à Castrolanda, para que através do
estudo do local, pudessem vivenciar o uso do território, considerado como sinônimo
de espaço geográfico. Foi possível observar aspectos do espaço vivido no passado
e no presente e perceber que as mudanças determinadas de fora, interferem na
significação do território, em suas relações econômicas, sociais e individuais,
tornando possível perceber os aspectos do global nos lugares.
O museu da colônia, um importante referencial histórico, mostra através de
sua construção e mobiliário, instrumentos de trabalho, a sua cultura, fatores estes
que serviram como base para o estabelecimento de comparações:
mudanças/permanências.
A entrevista realizada com uma senhora holandesa, que chegou na colônia
aos 11 anos, falou sobre as dificuldades de adaptação, mencionando a necessidade
de voltarem suas atividades também para a agricultura, uma vez que sua prática
estava relacionada à pecuária. O gado também passou por um período de
adaptação em relação ao pasto e ao clima. Destacou que a união e a cooperação
entre as famílias foi fundamental a adaptação e o desenvolvimento da colônia.
Durante a visita os alunos também tiveram a oportunidade de observar o
solo utilizado com o sistema de Plantio Direto assim como o conhecimento da
Cooperativa Central de Laticínios do Paraná no município Carambeí. O objetivo
22
22
dessa visita foi tornar mais compreensível as interferências do processo de
globalização no ambiente institucional, tendo em vista as políticas econômicas e sua
influência na formação de alianças estratégicas da cooperativa que passou a operar
com outros grupos.
Ficou bastante evidente a atualização tecnológica no processo de produção
da Cooperativa Castrolanda, que visa o contínuo investimento em pesquisas,
buscando parcerias com empresas privadas, através de contratos de cooperação
técnica. Mantém também vínculos com empresas de pesquisa pública como IAPAR,
UFPR, EMBRAPA, UEPG, UEL, UNIOESTE, ESALQ-USP, UFRGS, UPF, dentre
outras. Neste sentido proporciona aos seus cooperados o suporte técnico
necessário para o alcance de uma alta produtividade com qualidade, exigências do
mercado global.
No contexto atual, as parcerias, a atuação dos órgãos estaduais são
fundamentais para o desenvolvimento e aplicabilidade da tecnologia. Destacou-se o
papel do IAPAR (instituto Agronômico do Paraná), órgão vinculado à Secretaria de
Agricultura e Abastecimento. Fundado em 1972, busca melhorar a produção das
lavouras e criações do Paraná. Desenvolve tecnologias, adequadas ao perfil do
produtor paranaense, que minimizem o impacto ambiental; fornece suporte científico
aos programas do governo para o setor rural e trabalha em colaboração com
universidades e institutos de pesquisa do país e do exterior, prefeituras, empresas
privadas e cooperativas.
A globalização econômica provocou a concentração de renda e exclusão. O
cooperativismo busca a união, a inclusão, o desenvolvimento econômico e social
tecnológico com elevado potencial para investimentos, proporcionando a
possibilidade dos produtores inserirem-se no mercado competitivo que exige alto
investimento tecnológico. As cooperativas garantem a organização social dos
produtores e as entidades de classe, a representatividade no setor.
Neste cenário, as cooperativas do agronegócio estão “atingindo maturidade e
sustentabilidade em um ambiente concorrencial de acirrada competitividade,
particularmente com as multinacionais de alimentos, imprimindo melhoria e
treinamento intensivo no aprimoramento de sua capacidade gerencial, tecnológica e
na formação e capacitação de seus funcionários e associados” (NEVES, 2005: 43).
Para Neves (2005:107), a cadeia produtiva agroalimentar é longa e
complexa, uma vez que o complexo industrial impõe relações biológicas com toda a
23
23
diversidade relacionada às vidas vegetal e animal e suas conexões com as
econômicas. Exige um esforço de equipe inter e multidisciplinar. A cadeia produtiva
do agronegócio, que tem como base as atividades agropecuárias e engloba todo o
complexo para sua produção, é competitiva e busca cada vez mais eficiência e
avanço.
Aplicando-se a essa cadeia uma concepção de corrente, pode-se dizer que
tem seu elo inicial representado pelo “antes da porteira” englobando áreas de
Ciência e Tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento, em organizações públicas e
privadas, conectado seqüencialmente pelo estabelecimento agrícola, com toda a
diversidade no “dentro da porteira” e seguido pelos elos do “pós-porteira”, com a
industrialização, transformação, o processamento, os equipamentos atacadistas e
varejistas, até chegar ao elo final, que se espalha por todo o mundo: o consumidor.
Também devem ser considerados os elos de suporte representados pelos agentes
do setor terciário. (NEVES, 2005)
O crescimento das cooperativas brasileiras do agronegócio é favorecido
pelas oportunidades de mercado, implementação de uma administração profissional
e qualificação dos profissionais dos diferentes segmentos, prática dos princípios do
cooperativismo, melhor dimensionamento e escalonamento de investimentos, e
também pelo constante investimento em tecnologia.
Essas cooperativas são vistas, segundo Neves (2005), como o motor da
interiorização do desenvolvimento, por unir um contingente enorme de agentes
econômicos e arregimentar um sem-número de mini, pequenos, médios e grandes
produtores rurais, ser a grande fonte geradora de emprego ao longo da cadeia
alimentar por incrementar a renda e a formação de capital e ser também a grande
ativadora do setor terciário regional.
O Brasil lidera o mercado de diversos produtos agropecuários e o
agronegócio apresenta-se como uma potência na economia brasileira.
As cooperativas exercem um papel fundamental na industrialização do leite
no Paraná, estado que possui uma das principais bacias leiteiras do Brasil. A
Cooperativa Agropecuária Castrolanda responde pela maior parte da produção de
leite.
A posição de destaque da Cooperativa é resultado do constante
investimento tecnológico, destacando-se a atuação da Fundação ABC, uma
instituição de caráter particular mantida pelas cooperativas Capal (Arapoti), Batavo e
24
24
Castrolanda, que desenvolve pesquisas, realiza cursos periódicos, simpósios, dias
de campo, recebe apoio técnico para o desenvolvimento das práticas de seus
cooperados.
A Cooperativa Castrolanda, apresenta anualmente na feira de tecnologia
leiteira, a Agroleite, considerada uma referência nacional, o processo produtivo da
cadeia do leite, demonstrando o potencial e a qualidade de sua produção. Como no
início de sua formação, continua realizando leilões de gado, o Leilão Elite, onde
juízes do Brasil e de outros países, continuam participando do julgamento dos
animais, que pertencem às raças pardo-suíço, Jersey e simental.
AUBL (Usina de Beneficiamento de Leite), inaugurada no segundo semestre
de 2008, também coloca a Cooperativa como referência na industrialização de
derivados lácteos. Chegam na unidade, 700 mil litros de leite/dia, vindos dos
produtores que fazem parte do POOL ABC, formado pelas cooperativas Capal,
Batavo e Castrolanda. A UBL funciona como um centro de inspeção. Nela o leite é
evaporado a vácuo, num processo que mata germes e pasteuriza o produto.
Considerando o avanço das pesquisas científicas no setor pecuário, destaca-
se as tecnologias de reprodução bovina que permite uma previsão sobre o
rendimento da carne ou do leite de cada animal. O sêmem sexado, possibilita a
escolha do sexo do bezerro, permitindo a escolha de machos ou fêmeas,
dependendo do tipo de produção desenvolvida pelo pecuarista.
Diante de tanta evolução tecnológica, percebe-se as grandes
transformações no mundo rural e a necessidade de se apoiar técnica e
financeiramente o pequeno e médio produtor que é parte integrante do processo
produtivo.
A preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável, deve ser um
compromisso para quem produz, visando a restauração e manutenção do equilíbrio
ecológico. As cooperativas garantem a organização social dos produtores e as
entidades de classe, a representatividade no setor, mas é o campo que dá a
sustentabilidade dessa cadeia produtiva.
Para complementar este estudo, foram distribuídos questionários ao
produtores cooperados, para que os dados obtidos permitissem uma melhor
compreensão da composição e dinâmica de produção desse local.
Através da pesquisa pudemos constatar na região que serviu de base para
este estudo, a coexistência da pequena, média e grande propriedade numa mesma
25
25
área. As propriedades produtivas tem uma área que varia entre 1.000 ha a 12 ha.
Os produtores são, na maioria, proprietários de toda a área destinada a sua
produção e contam como suporte de armazenagem, silos para forragem e grãos em
suas propriedades.
A trajetória histórica das relações de trabalho mostra que as mesmas se
alteraram passando pelo trabalho escravo, o colonato, a parceria, chegando ao
trabalho familiar, onde a atividade agrícola e/ou pecuária, são para a maioria,
atividades de sua sobrevivência e o que almejam é permanecer na terra.
Constatou-se, através pesquisa realizada com os produtores ligados à
cooperativa, que a maioria deles está instalada na região há vários anos, porém
alguns se estabeleceram mais recentemente. As culturas que desenvolvem está
relacionada às culturas de milho, aveia, azevém e sorgo. Praticam, em grande parte
das propriedades, a integração da atividade agrícola com a pecuária, predominando
nesta, a criação de gado leiteiro e em menor escala, suínos e aves.
O uso da tecnologia de ponta cria dificuldades aos produtores, que muitas
vezes é suprida com a terceirização dos trabalhos e serviços.. Ela representa um
fator que contribuiu para a liberalização da mão-de-obra para outros serviços.
Pudemos constatar neste estudo, que a renda familiar de alguns produtores é
complementada com o trabalho de seus familiares em outro segmento, como:
comércio, associação trabalhista, assistente técnico de ordenhadeira, funcionário
público, transporte, professor, e autônomo.
A prática produtiva da Cooperativa Castrolanda está inserida no contexto da
trajetória de transformações pela qual passou e vem passando a atividade
agropecuária, motivo este, que se tornou o objeto deste estudo.
O sistema cooperativo demonstra sua importância numa atuação de
integração lavoura-pecuária. Essa integração, considerada o ponto fundamental
para a primeira revolução agrícola, é complementado atualmente com a exploração
do mercado de créditos de carbono, e também com o manejo da madeira. Essa
prática evidencia a possibilidade e produzir e obter lucros de uma forma sustentável.
A preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável, deve ser um
compromisso para quem produz, visando a restauração e manutenção do equilíbrio
ecológico.
A tecnologia tem papel fundamental na produção do sistema agroalimentar.
Porém, é imprescindível que os indivíduos não percam a visão de si mesmos, da
26
26
integração, da interação, da cooperação, enfim, da inter-relação entre suas ações e
a natureza.
CONCLUSÃO
O objetivo fundamental deste trabalho consistiu em reconstruir, a partir de
uma revisão literária, a trajetória do processo de transformação que a produção
agropecuária sofreu a partir do final do século XVIII e início do século XIX, no oeste
europeu, sua repercussão numa escala global, assim como a importância dessas
atividades para a economia brasileira, especialmente paranaense, na região dos
Campos Gerais.
O surgimento de necessidades implica em ações para saná-las ou minimizá-
las. As mudanças gradativas que ocorreram no processo de produção agropecuária
estiveram relacionadas, inicialmente, ao aumento da produtividade. Posteriormente,
as mudanças se deram a partir de apropriações sucessivas, porém parciais, de
substitutos industriais para os produtos rurais. Diferentes aspectos da produção
agrícola foram transformados em setores específicos da atividade industrial,
surgindo ramos industriais autônomos: o de maquinários agrícolas e o de
fertilizantes, sementes híbridas.
As bases do sistema alimentar foram preservadas, porém, surgiram capitais
industriais em torno de sistemas agrícolas, de comercialização e de processamento
de grãos e criações. O processo de apropriação industrial de setores da atividade
agrícola não seguiu os mesmos passos da manufatura, nem poderia, uma vez que a
agricultura confronta o capitalismo com um processo de produção natural.
Com a impossibilidade de criar um processo de produção unificado, os
capitalistas industriais foram adaptando-se às especificidades da natureza. O
desenvolvimento do complexo agroindustrial foi sendo determinado pelas inovações
mecânicas, químicas e genéticas.
O conhecimento científico permitiu a interferência na produção biológica. As
novas biotecnologias, particularmente da engenharia genética, marcaram um
avanço na manipulação industrial da natureza e deram início a uma revolução
tecnológica na reprodução de plantas e animais domésticos, nos agroquímicos e na
fabricação de alimentos.
O processo de reprodução de animais e plantas está se constituindo em lucro
27
27
aos capitais industriais. A ciência, a competitividade, o lucro, fazem parte do cenário
global, onde o conhecimento passou a ser a peça chave do desenvolvimento das
sociedades.
No Brasil, o agronegócio vem se fortalecendo, aumentando a competitividade
do país no mercado mundial. Porém, sua sustentabilidade depende de tecnologias
inovadoras que agreguem valor, sejam compatíveis com as preferências dos
consumidores, associando-as à sustentabilidade não só econômica, mas também
social e ambiental.
Essa necessidade vem se refletindo nos rumos da educação. Algumas
instituições já vem se ajustando às novas exigências desenvolvendo programas
educacionais voltados a essa necessidade.
A preocupação das empresas vai além da fabricação do produto. A
qualidade do mesmo é que faz a diferença e aí se faz necessária a atuação de
equipes inter e multidisciplinares para colocar no mercado produtos que atendam as
mais diversas necessidades do consumidor que busca cada vez mais uma
alimentação saudável sob o ponto de vista ambiental, clínico e nutricional.
As alterações que ocorreram e vem ocorrendo no processo produtivo
agropecuário tiveram uma grande repercussão econômica no campo, porém seus
reflexos estendem-se também no aspecto social, ambiental, técnico e humano. No
aspecto social percebeu-se uma certa exclusão por parte dos produtores, tendo em
vista a sua possibilidade ou não de ter acesso à tecnologia, a informação, mercado,
apoio financeiro e técnico.
Pudemos aprofundar, através deste trabalho, o conhecimento sobre as
interferências do processo de globalização também no ambiente institucional, tendo
em vista as políticas econômicas e sua influência na formação de alianças
estratégicas como ocorreu com a Cooperativa.
Possuindo um comportamento voltado para o desenvolvimento, a
cooperativa vem demonstrando sua preocupação constante com a pesquisa e o uso
da tecnologia de ponta. Constitui um pólo difusor do cooperativismo apresentando
como resultado dos investimentos alta qualidade e produtividade. Representa um
modelo na produção de grãos pela prática do sistema de Plantio Direto em 100% de
sua produção.
A valorização do consumidor, associada às políticas de desregulamentação e
de abertura da economia, tornam o ambiente da cadeia do leite cada vez mais
28
28
competitivo. Atendendo as imposições do mercado, a cooperativa, através do
processo produtivo dessa cadeia tornou-se uma referência nacional. Comprova
essa colocação, a realização da Agroleite, o Leilão Elite e a UBL.
O espaço rural apresenta uma diversidade de pequenas, médias, grandes
propriedades, produções, relações de trabalho, unidades familiares, empresas de
comercialização, cooperativas, constituindo um todo produtivo que está em grande
parte atrelado à indústria, ao capital financeiro e outros setores. Faz-se necessário
neste contexto as parcerias, a implementação de políticas públicas.
A modernização do processo agropecuário trouxe dificuldades em relação à
necessidade de readequação da pequena propriedade com novas formas de
produzir, como a integração de atividades, a pluriatividade, suporte técnico,
competitividade, exigências de mercado.
O uso da tecnologia proporcionou a possibilidade de um melhor manejo nas
áreas produtivas, considerando também a questão ambiental, exploração de
diferentes culturas que podem ser adaptadas aos diferentes tipos de solo e clima,
diversificando a alimentação, criando também novos setores de trabalho.
Este trabalho constituiu uma rica oportunidade para que o ensino-
aprendizagem tivesse ótimo resultado por oportunizar diferentes metodologias e
valorizar a disciplina. Pode-se chegar a essa conclusão através da avaliação feita
pelos alunos, como considerou um dos alunos:
“pra mim foi muito importante estudar geografia por que eu aprendi muitas coisas que eu nem imaginava que existia, (...) aprendi, talvez não perfeitamente, mas quando eu ouvir falar e alguma coisa que eu ouvi dentro da sala eu vou saber o que é. Foi uma aula que deu para viajar pelo mundo, conhecer a tecnologia saber sobre a agricultura conhecer novas culturas. foi realmente muito bom.
Ciência, conhecimento, tecnologia, competitividade, produtividade, lucro!
Palavras de ordem no mundo atual. Neste contexto é imprescindível que os
indivíduos não se esqueçam das “três dimensões da existência humana: o espaço,
o tempo e o ser.”
Diante das grandes transformações que ocorreram nas práticas agrícolas e
no sistema alimentar, ainda temos um caminho que será determinado pelas
“limitações estruturais do processo de produção agrícola representado pela
natureza enquanto conversão biológica de energia, enquanto tempo biológico no
crescimento das plantas e na gestação animal e enquanto espaço nas atividades
rurais baseadas na terra”.(GOODMAN: 1990:1).
29
29
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BALHANA, A.P; MACHADO, B.P. Campos Gerais: estruturas agrárias. Curitiba: UFPR- Faculdade de Filosofia, 1968. BONI, C. E; CUNHA, M.S. Evolução da estrutura fundiária no Estado do Paraná no período de 1970 a 1995/96. Agronegócio Paranaense: Potencialidades e desafios.Edunioeste, 2002. CARVALHO, M.S de. Geografia, meio ambiente e desenvolvimeno.UEL.2003 CUNHA, M.S; SHIKIDA, P.F.A; JÚNIOR, W.F.R. Agronegócio Paranaense. FERREIRA, Darlene A.O. O mundo rural e geografia. Geografia Agrária no Brasil.São Paulo:Unesp.2002. FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 2 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998. GOODMAN, D; SORJ, B; WILKINSON, J. Da lavoura às biotecnologias. Agricultura e indústria no sistema internacional.Rio de Janeiro: Campus, 1990. KIERS POT, C.H.L. Castrolanda 50 Anos 1951-2001 NADALIN,S.O.Paraná:ocupação do território, população e migrações.Curitiba:SEED, 2001 NEVES, M.F. Agronegócio do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005. OLIVEIRA, Ricardo Costa de. A construção do Paraná Moderno. Políticos e Políticas no Governo do Paraná de 1930 a 1980: Curitiba, SETI, 2004. PADIS, P. Formação de uma economia periférica: o caso Paraná. Curitiba/São Paulo: Hucitec/SECE, 1981. SANTOS, M; SILVEIRA, M.L. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2005. SANTOS, C. História da alimentação no Paraná. Curitiba: F. Cultural, 1995. SOJA, E. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. Guia para plantio direto. Coordenação: Grupo Plantio Direto. Colaboração: Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP). Julho 2000. CARDOSO, F.P. Plantio Direto na Palha – PDP, 3 ed: GPD, 1998. Informativo IAPAR. SEAB. Agosto, 2004. Informativo de resultados da ação extensionista - O Homem e a Terra. Abril/maio de 2007, ano 6, n. 33. Jornal Gazeta do Povo – Caminhos do Campo, 19, 26 de agosto de 2008.