TESTEMUNHA AFIRMA QUE O CORONEL DA RESERVA DA PM...

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A GAZETA Vitória (ES), quarta-feira, 3 de maio de 2006 C I DA D E S 11

Página: 11 CYAN MAGENTA YELLOW B L AC K

PÁGINA 11 - QUARTA-FEIRA - 3/MAIO/2006 - 22:36

S EG U RA N Ç A

TESTEMUNHA AFIRMA QUE O CORONEL DA RESERVA DA PM WALTER FERREIRA – QUE SERIA PADRINHO DE OUTRO PRESO – É QUEM TERIA INTERESSE NA MORTE DO JUIZ

Detento revela planopara assassinar juizFuga de executor teria custado R$ 100 mil;só após 20 dias Sesp abriu inquérito----------------------------------------------------------------------------

SANDRESA CARVALHOs ca r v a l h o @ r e d e g a z et a .co m . b r

Um plano para assassinar ojuiz adjunto da Vara de Exe-cuções Penais, Grécio No-gueira Grégio, foi reveladopara a Secretaria de Seguran-ça Pública e Defesa Social(Sesp) no último dia 3 demarço, após depoimento deum detento. No entanto, o in-quérito policial para investi-gar o caso só teria sido aberto

pela secretaria no dia 23, 20dias após a denúncia, depoisque o próprio juiz encami-nhou um ofício ao Núcleo deRepressão às OrganizaçõesCriminosas (Nuroc), pedin-do providências.

A Secretaria de Segurançaafirma que as denúncias dopreso não eram verdadeiras(vide texto abaixo).

O depoimento do preso –que não será identificado porquestões de segurança – foi

feito ao delegado Joel LyrioJúnior, na sede da Secretariade Segurança Pública, emBento Ferreira, Vitória.

Em seu depoimento, pre-senciado pelo secretárioEvaldo Martinelli e pelo sub-secretário Renato Duguay, odetento revelou que haviaum plano para dar fuga aosuspeito de pistolagem Mau-rício Cabral, que está preso,para que ele matasse o juizGrécio Nogueira Grégio.

Interesse. A testemunhaafirma que era o coronel dareserva da PM Walter GomesFerreira - que seria padrinhode Maurício Cabral - quem

teria interesse no crime.O objetivo seria desestabili-

zar o juiz Carlos Eduardo Ri-beiro Lemos, com quem Gré-gio trabalha. Cabral teria ten-tado fugir duas vezes, mas osplanos foram frustrados.

Ainda segundo a denúncia,a fuga custou R$ 100 mil e te-ria sido paga em dezembrodo ano passado, a mando dotraficante Antônio Marins, oToninho Pavão.

Cerca de dez dias depois dodepoimento do detento, asinformações sobre o planopara assassinar o juiz Grégiochegaram ao conhecimentodos magistrados da Vara deExecuções Penais, que de-

nunciaram o caso ao Conse-lho da Magistratura do Tri-bunal de Justiça.

O secretário Martinelli foiconvidado pelos desembar-gadores a comparecer ao TJno dia 16 de março, onde con-firmou ter recebido as infor-mações sobre o plano de exe-cutar um magistrado.

Aos desembargadores ,Martinelli teria dito quenão investigou o caso e nãoavisou aos juízes sobre asdenúncias por ter despreza-do o depoimento do deten-to. O secretário contesta es-sa informação e garante queas informações do detentonão eram verdadeiras.

Juiz já teve atuaçãoem casos polêmicosO juiz Grécio Nogueira Gré-gio está lotado na Vara deExecuções Penais há quasetrês anos, mas já trabalhouem outro setor polêmico: aVara da Central de InquéritosEspeciais de Vitória.

Com o juiz Carlos EduardoRibeiro Lemos e Marcelo Jo-nes de Souza Norto, Grégioatuou em casos polêmicos.

Entre eles estão os inquéri-tos que apuraram denúnciassobre desvio de verbas na As-sembléia Legislativa, pormeio de supostos pagamen-tos de patrocínios de eventose festas comunitárias.

Nesse inquérito, ele decre-

tou a prisão do ex-presidenteda Assembléia Legislativa Jo-sé Carlos Gratz e de outrosdeputados estaduais.

Foi ele também quem impe-diu a tramitação de um pro-jeto de lei que previa a voltade benefícios como o auxílio-paletó na Assembléia Legis-lativa, durante o recesso par-lamentar de dezembro doano passado.

O magistrado também ex-pediu diversos mandadosde busca e apreensão queresultaram no fechamentode bingos que funciona-vam i r reg u larmente naGrande Vitória.

Magistrado diz queSesp se omitiuO juiz Grécio Nogueira Grégioafirmou que as informaçõesprestadas pelo secretário EvaldoMartinelli não são verdadeiras.“Mas prefiro não comentar o ca-so para não gerar polêmica”, dis-se. O juiz Carlos Eduardo RibeiroLemos comentou que o depoi-mento continha informações re-levantes. “O depoimento é muitocontundente e traz muitos ele-mentos que deveriam ser inves-tigados. Infelizmente, a Secreta-ria de Segurança omitiu-se e nãoinvestigou. Nós descobrimos es-se depoimento. Depois disso, osecretário foi chamado ao Tribu-nal de Justiça e confirmou queele existia. E confirmou que nãoinvestigou nada e sequer nosavisou. Houve uma omissão sé-ria da Secretaria de SegurançaPública. Pedimos ao Tribunal deJustiça para que intercedessejunto ao Poder Executivo e co-brasse do secretário uma posi-ção mais responsável. Porque, seele faz isso em relação a outrasautoridades, todos nós podemosestar em grande risco”, afirmou.

Secretário: “Informações eram falsas”

O secretário de SegurançaPública e Defesa Social, Eval-do Martinelli, afirmou, na tar-de de ontem, que a secretariainvestigou as denúncias feitaspelo detento em relação a umplano para executar o juiz ad-junto da Vara de ExecuçõesPenais, Grécio Nogueira Gré-gio, e verificou que elas nãoeram verdadeiras.

Evaldo Martinelli afirmouque a s e c re ta r i ainvestigou as denúnciasfeitas por detento------------------------------------

Segundo Martinelli, as in-vestigações foram realizadasno mesmo inquérito que apu-rou as queimas de ônibus,ocorridas no início deste anona Grande Vitória.

“Todas as medidas desse ca-so foram adotadas. Isso esta-va no meio das investigaçõesdos incêndios de ônibus, e adenúncia foi investigada pelaDelegacia Anti-Seqüestro epelo setor de Inteligência daPolícia Militar”, disse.

O secretário afirmou quenão havia necessidade de avi-sar os juízes da Vara de Exe-cuções Penais sobre a novaameaça.

“Os juízes já têm segurançapessoal. Em relação a eles,não havia nenhum risco amais, porque eles já estavamcom segurança pessoal. Nãotem que ficar comunicandoas pessoas, até porque o pre-so queria vender as informa-ções, e elas revelaram-se fal-sas”, disse Martinelli.

Descartado. O secretárionegou que tenha informadoao Conselho da Magistraturado Tribunal de Justiça que odepoimento do detento foi“ d e s c a r tad o” .

“O depoimento não foidescartado. Ele foi incluído

no inquérito policial, e fo-ram investigadas todas asinformações que consta-vam nele. Isso foi repassadoaos desembargadores e aosjuízes interessados”, garan-tiu o secretário.

Martinelli acrescentou: “Sehavia algo, a apuração mos-trou que não foram verídicasas informações prestadas”.Ele disse ainda que a secreta-ria descartou a possibilidadede haver um plano para ma-tar o juiz. “A apuração davaconta de que as informaçõesprestadas pelo preso não ti-nham consistência. As apura-ções feitas pela DelegaciaAnti-Seqüestro e pela PolíciaMilitar mostraram que nãohá plano”, concluiu.Preso citou coronel

Ferreira e Cabeção

Pelo menos duas pessoasque foram citadas pelo de-tento como envolvidas nosuposto plano para assassi-nar o juiz Grécio NogueiraGrégio também são acusa-das de envolvimento namorte de outro juiz de Exe-cuções Penais: AlexandreMartins de Castro Filho,executado em 24 de marçode 2003.

O coronel Walter GomesFerreira foi denunciado co-mo um dos mandantes damorte de Alexandre Martins,que também trabalhava como juiz Carlos Eduardo Ribei-ro Lemos na época em quefoi morto.

O processo contra Ferreiraestá tramitando na 4ª VaraCriminal de Vila Velha, e ojuiz Sérgio Ricardo de Souzajá condenou o coronel da re-

serva a ser julgado por júripopular no processo, mas adefesa de Ferreira recorreu.

O outro acusado é Fernan-des de Oliveira Reis, o Fe r-nando Cabeção, que foi con-denado em novembro do anopassado a 23 anos de prisão,como um dos intermediáriosda morte do juiz AlexandreMartins de Castro Filho.

Ordem. Segundo o depoi-mento do detento, Ca b e ç ã oteria ordenado que os de-tentos exigissem a saída dojuiz Carlos Eduardo RibeiroLemos da Vara de Execu-ções Penais, durante o epi-sódio da queima de ônibusno início deste ano.

Um bilhete nesse sentidofoi entregue a um motoris-ta, em um dos ônibus ata-cados na Grande Vitória.

“ Fe r re i ranão é santo,mas isso elenão deve”

O advogado do coronel Wal-ter Gomes Ferreira, ClóvisLisboa, descartou ontemqualquer participação de seucliente em um suposto planopara assassinar o juiz adjuntoda Vara de Execuções Penais,Grécio Nogueira Grégio.

Segundo Lisboa, essa afirma-ção não passa “de mais umamentira” para prejudicar seucliente. “Ele não é nenhumsanto. Mas essa de tramar amorte do juiz não existe. O co-ronel Ferreira tem a mais altaconsideração pela família dojuiz Grécio, que é toda formadapor policiais militares”, disse.

O advogado explicou que ocoronel Ferreira não temcondições de sair do presídioou mesmo comunicar-se portelefone com quem quer queseja. “Acredito em um ato dedesespero do juiz CarlosEduardo para manter-se nopoder. Ele não deve querer adescentralização da Vara deExecuções Penais”, disse.

Clóvis disse, ainda, que échegada a hora de acabarcom esses depoimentos sigi-losos. “A GAZETA tambémfoi vítima disso. Por trás des-ses depoimentos sigilosos,estão gravações de ligaçõestelefônicas com base emgrampos ilegais”, afirmou.

Para o advogado, investiga-ções desse nível causam sur-presa para a defesa e paraquem está sendo acusado,pois não há chances de con-frontar quem acusa comquem está sendo acusado.

“Ainda mais se o secretáriode Segurança diz que as infor-mações não são verídicas. Fer-reira não é santo, mas isso elenão deve. E tem consideraçãoenorme pela família do juiz.”

Advogado do militarafirma ainda que o militartem consideração pelafamília do juiz Grécio------------------------------------

OUTRA VÍTIMA. Dois dos citados pelo detento teriam envolvimentona morte do juiz Alexandre Martins Filho. FOTO: GILDO LOYOLA - 16/09/2002