TERPSICORETRANSETERAPIA (TTT): UMA REVISÃO ATUAL · Temos feito a TTT em um relativamente amplo...

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TERPSICORETRANSETERAPIA (TTT): UMA REVISÃO ATUAL

Dr. David Akstein*

C O N S I D E R A Ç Õ E S P R É V I A S

A terps icore t ranseterap ia ( T T T ) f o i cr iada e m 1965 ( 3 ) c o m base nos e x t r a o r d i n á r i o s bene f í c ios

p r o d u z i d o s pela intensa l iberação e m o c i o n a l desper tada d u r a n t e o t ranse c i n é t i c o r i t u a l . Esta l ibera­

ção e m o c i o n a l p e r m i t e aos méd iuns o b t e r u m b o m e q u i l í b r i o b iops icosoc ia l .

A f o r a aqueles adeptos que p r a t i c a m o transe r i t ua l c i n é t i c o , t a m b é m os o u t r o s seguidores das

seitas esp í r i tas brasi leiras ( U m b a n d a , Q u i m b a n d a , C a n d o m b l é , X a n g ô e out ras) o b t ê m o re fe r ido equ i ­

l í b r i o através de o u t r o s e lementos c o m p o n e n t e s d o r i tua l c o m o , conf issões, conselhos, banhos de

" d e s c a r g a " , f e i t i ç o s " o u " d e s p a c h o s " , e tc . ( i a ) .

N o Bras i l , país de d imensões c o n t i n e n t a i s , c o m n ú m e r o insu f ic ien te de ps iqu ia t ras, os centros

esp í r i tas t ê m se c o n s t i t u í d o e m núc leos de apl icação de u m t i p o especial de ps icoterap ia popu la r .

Já há m u i t o s anos, autores c o m o Lévi -Strauss, c i t a d o p o r A j u r i a g u e r r a , ( 2 ) a f i rmava que as dan­

ças o u cer imón ias de possessão são fa to res de e q u i l í b r i o . Lou is Mars e E s k o w i t c h , t a m b é m c i tados por

Aju r iaguer ra ( 2 ) , M o n g r u e l ( ' 7 ) e o u t r o s autores t ê m m o s t r a d o o va lo r d o t ranse r i tua l c o m o m e i o de

e q u i l í b r i o nervoso.

T e m o s a f i r m a d o q u e , da mesma manei ra que a Ciência e n c o n t r o u apl icações fa rmaco lóg icas pa­

ra p lantas que , desde t e m p o s m e m o r i a i s eram e m p i r i c a m e n t e usadas p o r fe i t i ce i ros e cu rande i ros ,

i gua lmen te , dos transes c iné t icos r i tua is e fe tuados p o r t o d o s os povos p r i m i t i v o s d e n t r o de suas re l i ­

giões an im ís t i cas , t e m o s e x t r a í d o u m a f o r m a de ps icoterap ia de g r u p o , a Terps icore t ranseterap ia

( T T T ) , cujas bases ps icof is io lóg icas são p e r f e i t a m e n t e compreend idas à luz da Ciência m o d e r n a . ( 4 )

Nosso i n t e n t o neste t r a b a l h o é dar a verdadei ra d imensão d o va lor da T T T na Ps iqu ia t r ia e Med i ­

c ina Psicossomát ica.

A T T T const i tu i -se e m i m p o r t a n t e med ida te rapêu t i ca e p r o f i l á t i c a . O seu papel t e m sido p r i nc i ­

pa lmen te o de fac i l i t a r u m a mais ráp ida e fác i l cura dos pacientes neu ró t i cos o u c o m d is tú rb ios psicos­

somát icos . A T T T deve ser cons iderada c o m o u m a i m p o r t a n t e med ida d e n t r o d o t r a t a m e n t o g lobal

destes pacientes. ( 3 )

P r e s i d e n t e - F u n d a d o r da Soc iedade Brasi le i ra de H i p n o s e M é d i c a , da " I n t e r n a t i o n a l S o c i e t y o f H y p n o s i s " , d a

" A m e r i c a n S o c i e t y o f C l in ica i H y p n o s i s " , da Assoc iação Brasi le i ra de P s i q u i a t r i a , da Assoc iação P s i q u i á t r i c a

d o E s t a d o d o R i o de J a n e i r o , D i r e t o r d o C e n t r o I n t e g r a d o de Pesquisas Méd icas .

2 5

A nossa terap ia de g r u p o , não-verba l , apresenta uma certa analogia c o m o m é t o d o da h ipno -s ín -

tese, p recon izado por Jacob H. C o n n ( ! 3 ) e c o m o m é t o d o empregado por Mesmer em Paris, de 1778

a 1784 . ( 6 )

A q u e l e ps iqu ia t ra amer i cano descreveu em 1 9 4 4 o seu m é t o d o da h ipno-s ín tese q u e , e m resu­

m o , consiste s implesmente na indução do i n d i v í d u o ao estado h i p n ó t i c o e sugerir- lhe que poderá des­

f r u t a r deste estado do m e l h o r m o d o que o desejar. A s s i m , poderá fa lar ou f i car em s i lênc io , poderá r ir

se f o r do seu agrado o u poderá fazer o que desejar, gozando da sensação de ser o que verdade i ramente é.

Seme lhan temen te , na T T T não i n d u z i m o s q u a l q u e r m o d e l o de c o n d u t a aos pacientes, n e m antes

e nem du ran te as sessões; não há q u a l q u e r c o m u n i c a ç ã o verbal d u r a n t e as mesmas, i12}

C o m respei to ao m é t o d o empregado por Mesmer , i n i c ia lmen te devemos re fer i r que ele apl icava

músicas por m e i o de u m ó rgão , o que ensejava intensa ação e m o c i o n a l e sugestiva, e s t i m u l a n d o o apa­

r e c i m e n t o das crises nos " s u j e t s " co locados em t o r n o d o " b a q u e t " .

T a m b é m na T T T as crises c o n s t i t u e m uma si tuação desejada. Igua lmente usamos música e, co­

m o já temos d i t o , sua me lod ia t e m i m p o r t â n c i a secundár ia em relação ao r i t m o , m a r c a d o pe lo

t a m b o r .

As crises, i n c l u i n d o as h istér icas, e as crises convuls ivas ep idêmicas que eram de ocor rênc ia co­

m u m na E u r o p a du ran te a Idade M é d i a , são, segundo nosso p o n t o de v is ta , u m arcaico processo de de­

fesa nervosa.

Devemos supor que as crises e ram f e n ó m e n o s bastante f requen tes nas épocas mais remotas do

h o m e m ; mais sensíveis, por serem mais débeis, e ram as células nervosas d o h o m e m daquelas épocas, e

a s s i m , por indução rec íp roca se i n s t i t u í a m mais fáceis in ib ições do có r tex cerebra l .

Na Idade Méd ia , b e m recentemente — p o d e m o s assim d izer , cons iderando o t e m p o re la t ivo à

h is tór ia d o h o m e m na Te r ra — e ram b e m c o m u m as possessões demon íacas . O i n s t i n t o de im i tação

(ou con tág io emoc iona l ) m u i t o c o n t r i b u i u para a mais fác i l d i fusão daquelas crises sob u m d e t e r m i n a ­

do padrão. I gua lmen te , nas possessões r i tuais brasi leiras observam-se mode los mais o u menos comuns

duran te a sua indução e evo lução .

A "g rande crise h i s t é r i c a " não é hoje tão e n c o n t r a d a c o m o naqueles t e m p o s . O sistema nervoso

centra l era b e m mais sensível e menos resistente aos e s t í m u l o s agressivos amb ien ta is . A ação supra l i -

m m a r de es t ímu los sobre os cent ros emoc iona is , subcor t ica is , i n d u z i a , p o r i ndução negat iva, uma

abrup ta in ib ição co r t i ca l de defesa.

C o m o dissemos, a " g r a n d e c r i s e " não é t â c f r e q u e n t e nos presentes dias; a doença se res t r ing iu a

equivalentes o u se m e t a m o r f o s e o u e m novas f o r m a s ps icopato lóg icas , ou e m certas d is funções psicos­

somát icas, que se desenvolveram c o m o u m resu l tado d o a u m e n t o da resistência nervosa; essas novas

condições der ivam da s i tuação atual de ma io r defesa do cór tex cerebra l , que apresenta ma io r con t ro le

das exc i tações aferenciais re t í cu lo -co r t i ca i s . Sem d ú v i d a , a resistência nervosa dos i n d i v í d u o s f o i sen­

d o i nc remen tada , p r i n c i p a l m e n t e a pa r t i r do século dezenove, pelo apa rec imen to de novos , m u l t i f o r ­

mes e crescentes e s t í m u l o s . N o século a tua l o h o m e m da c idade é s u b m e t i d o a u m a ta l pressão es t imu-

la t iva, que seria insupor táve l a u m o u t r o do século X V , por e x e m p l o . Presentemente, a inda cr iança o u

adolescente, o i n d i v í d u o já sofre u m i n f l u x o e s t i m u l a t i v o t r e m e n d o . ( 4 )

C o n f o r m e diz E l lenberger , ( 1 4 ) ao compara r o h o m e m francês da época de Mesmer e o da época

a tua l , " o h o m e m daquele t e m p o era não só social e ps ico log icamente , mas t a m b é m b io log i camen te d i ­

fe rente de nós. Eles e ram de pequena es ta tura , e x t r e m a m e n t e r i jos (não havia anestesia c i rú rg ica , ne­

n h u m analgésico) ; eles cresciam mais rap idamen te , passando d i r e t a m e n t e da fase de cr iança para a de

adu l tos ; enve lhec iam mais rap idamen te e v iv iam vidas mais c u r t a s " .

Devemos considerar que t e m hav ido uma al teração nervosa no h o m e m , levando a uma ma io r re­

sistência da A t i v i d a d e Nervosa Super io r através d o a p e r f e i ç o a m e n t o o n t o g e n é t i c o e f i l o g e n é t i c o . O

m u n d o moderno ' , a tua l , exerce sobre o i n d i v í d u o uma intensa e veloz es t imu lação , que par te de varia­

dos setores e c o m variações f requen tes , desde a mais ten ra in fânc ia . T o d a a sua v ida n e u r o - h o r m o n a l é

es t imu lada , ocas ionando mod i f i cações de várias naturezas, i n c i d i n d o , inc lus ive, sobre o c resc imen to .

O h o m e m d o m u n d o atual t e m esta tura mais a l t a , e ac red i tamos que isto não ocor ra só dev ido às v i ta ­

minas, a n t i b i ó t i c o s , medidas sanitár ias várias e a o u t r o s recursos m o d e r n o s . ( 4 )

A b o r d a n d o de n o v o a "g rande c r i se " , devemos repet i r que e la, que é hoje m u i t o menos encon­

t rada que em épocas passadas, se restr inge ou se m e t a m o r f o s e a em d is tú rb ios var iados, as chamadas

2 6

conversões o u equiva lentes, o u os chamados d i s tú rb ios ps icossomát icos, re lac ionados c o m f o c o s pato­

lógicos estancados de processo e x c i t a t ó r i o n o c ó r t e x ce reb ra l ; o t o n o p o s i t i v o d o c ó r t e x já é mais ele­

vado e impede uma d i fusão i n i b i t ó r i a fác i l a pa r t i r da per i fe r ia desses focos (po r indução r e c í p r o c a ) ,

graças ao a p e r f e i ç o a m e n t o o n t o g e n é t i c o e f i l o g e n é t i c o .

A nossa terap ia age, e m m u i t o s casos, prec isamente levando o i n d i v í d u o à crise p r i m i t i v a , d i l u i n ­

do esses verdadei ros bolsões estancados d o processo e x c i t a t ó r i o no c ó r t e x , mas d a n d o , após a crise in­

t e n c i o n a l m e n t e p r o v o c a d a , ma io r t r a n q u i l i z a ç ã o e m o c i o n a l e ma io r t o n o pos i t i vo às células cor t i ca is ,

isto é, d a n d o a estas m e l h o r poder c o n t r o l a d o r , m o d e r a d o r e desat ivador das es t ru turas subcor t ica is . É

c o m o se desnudássemos u m i n d i v í d u o mal ves t ido e su jo , e após u m b o m b a n h o , uma boa " t o i l e t t e " ,

lhe cobr íssemos c o m uma bela r o u p a . ( 4 )

A analogia das crises mesméricas c o m as dos transes c inét icos pode ser t a m b é m ev idenc iada pelo

f a t o de que aquelas crises c o n s t i t u í a m uma ab-reação das neuroses c o m u n s , ( 1 4 ) igua lmente c o m o

ocor re nas crises du ran te os transes c iné t icos . O u t r a analogia se refere à d i m i n u i ç ã o progressiva da in­

tensidade das crises a cada sessão que se segue, o que o c o r r e nos transes c iné t i cos , c o m o oco r r i a no

t r a t a m e n t e m e s m é r i c o , is to é, u m a dessensibi l ização.

M e t o d o l o g i a da T T T — 0 nosso m é t o d o considera i m p o r t a n t e , d e n t r o d o c o n c e i t o de g r u p o ,

que cada g r u p o t e r a p ê u t i c o p r a t i c a n d o a T T T tenha n íve is sóc io-cu l tura is semelhantes. ( 7 )

O m i s t i c i s m o é c o m p l e t a m e n t e descar tado na T T T ; o m o n o i d e i s m o , que é m í s t i c o nos transes

r i tua is , está naquela l igado a o u t r a f i n a l i d a d e .

Devemos e luc idar , que a T T T , e m s i , não envo lve a discussão dos p rob lemas dos pacientes (seja

imed ia tamen te antes o u logo após a sessão). E la , por si mesma, leva a uma l iberação nervosa bené f i ca ,

que aumen ta a resistência nervosa dos pacientes, dando- íhes t r a n q u i l i d a d e , e melhores cond ições para

en f ren ta r e resolver os seus p rob lemas . N a t u r a l m e n t e , conhecemos p rev iamente os seus p rob lemas ,

eles, p o r é m são abordados e d i scu t idos n o c o n s u l t ó r i o , onde ap l icamos var iados recursos c o m o relaxa­

ção, h ipnose , ps icoterapia de a p o i o e de o r ien tação , medicação e o u t r o s , t u d o d e n t r o d o t r a t a m e n t o

g lobal a que os pacientes se s u b m e t e m .

As sessões são realizadas semana lmente , à n o i t e . Os pacientes novos já v ê m o r ien tados pelo mé­

d i co i n d u t o r o u o são i m e d i a t a m e n t e antes da sessão c o m respei to aos bene f í c i os d o m é t o d o e, até o n ­

de é poss íve l , c o m relação à técn ica e ao evolver da sessão, mas sem i m p o r o u sugerir u m m o d e l o de

c o n d u t a . O m é d i c o i n d u t o r deve sempre esclarecer aos pacientes que aqueles que não consegu i rem en­

t ra r e m transe devem permanecer na dança , execu tando-a c o m o b e m a dese jarem; m e s m o , nessa s i tua­

ção, uma benéf ica l iberação de tensões emoc iona is represadas é p r o d u z i d a .

T e m o s f e i t o a T T T em u m re la t i vamente a m p l o salão, que p e r m i t e t o t a l l iberdade de m o v i m e n ­

t o dos pacientes, p o r é m resguardando uma certa i n t i m i d a d e , desprov ido de e t ique tas . O local deve ser

t a m b é m agradável aos pacientes, t r a n q u i l o , c o m l im i tada e ind i re ta i l u m i n a ç ã o .

Os pacientes devem p re fe ren temen te v i r e m trajes espor t i vos , igua lmente c o m o o m é d i c o i n d u ­

t o r e seus aux i l ia res; t o d o s devem usar alpargatas o u f i car descalços, se p r e f e r i r e m .

A n t e r i o r m e n t e usávamos uma orques t ra c o m p o s t a por uns seis a sete mús icos , sendo o t a m b o r o

i n s t r u m e n t o mais i m p o r t a n t e . T o d a v i a , dev ido às d i f i cu ldades óbvias de reun i r semanalmente a or­

ques t ra , passamos a empregar u m toca-f itas c o m u m a gravação de al ta qua l i dade , fe i ta e m es túd io c o m

a mesma o rques t ra . Pos te r io rmen te , passamos a usar, a l t e rnadamen te , a refer ida gravação o u u m t a m ­

bor , que ora pode ser b a t i d o n o r i t m o h a b i t u a l , ora e m r i t m o mais ráp ido . Esta ú l t i m a manei ra nos

pe rm i te aumen ta r a exa l tação p s i c o m o t o r a dos pacientes d u r a n t e a T T T .

A s músicas que t e m o s empregado são algumas das mais bon i tas que são cantadas e m cent ros es­

p í r i t as de U m b a n d a (a ma io r das seitas afro-brasi le i ras.)

C o m o somente ace i tamos para a T T T pacientes que jamais f r e q u e n t a r a m cent ros esp í r i tas u m -

bandistas e eles, não c o n h e c e n d o prev iamente aquelas músicas, não te rão possib i l idade de apresentar

u m c o n d i c i o n a m e n t o negat ivo o u desagradável e m relação a elas.

Não t e m grande i m p o r t â n c i a a m e l o d i a , p o r é m o r i t m o , marcado pelas bat idas do t a m b o r , t ê m

i m p o r t a n t e f u n ç ã o n o desencadeamento e m a n u t e n ç ã o d o transe c iné t i co . ( 9 ) Por isso, du ran te as ses­

sões de T T T p o d e m o s usar un i camen te o t a m b o r , sendo pe r fe i t amen te dispensável o u t r o s i n s t r u m e n ­

tos .

27

São u t i l i zados duas f ichas d i fe ren tes para registro das in fo rmações per t inen tes , antes e depois da

sessão: pressão a r te r ia l , pulsação, tensão emoc iona l e ou t ros dados c l í n i cos . A s caracter ís t icas d o t ran ­

se são igua lmente anotadas: p r o f u n d i d a d e , c o n t i n u i d a d e , t i pos de m o v i m e n t o s , reversão ocu la r , per­

turbações sensit ivas, d i s to rção do sen t ido do t e m p o , amnésia, h ipe rven t i l ação , f i xação seletiva de ins­

t r u m e n t o s musicais, tendênc ias mís t i cas , cond ições d o paciente en t re as sessões. São registradas igual­

mente in fo rmações sobre a reação da f a m í l i a ao t r a t a m e n t o , cond ições fami l ia res e a j u s t a m e n t o , e

t a m b é m sobre a adaptação ao m e i o de t r a b a l h o .

I n fo rmações sobre o m é t o d o t a m b é m p o d e m ser dadas imed ia tamen te antes da sessão, e não se

sugere e n e m se exige dos pacientes qua lquer m o d e l o o u padrão de c o n d u t a , c o n f o r m e já i n f o r m a m o s .

T o d a v i a , recomendamos- lhes que c o n t i n u e m dançando da manei ra que b e m o desejarem, mesmo que

não cheguem ao estado de t ranse. Por si só esta prá t ica já poderá p r o d u z i r uma regular l iberação emo­

c iona l .

Técn ica d o t ranse c i né t i co na T T T — Os pacientes, co locados em f i l e i ra , lado a l ado , são o r ien ta ­

dos para man te r os o lhos fechados e se c o n c e n t r a r e m n a q u i l o que mais dese jam: sua c u r a , seu bem-es-

tar , a so lução de seus p rob lemas fami l ia res ou sociais, o u o u t r o desejo i m p o r t a n t e . Buscamos c o m isto

ob te r u m e f ic ien te m o n o i d e í s m o , que t e m i m p o r t a n t e papel na indução d o t ranse.

A o man te r os o lhos fechados desde o i n í c i o , n e n h u m paciente poderá ver a indução e o desenro­

lar do transe dos demais pac ientes, e deste m o d o , não haverá u m m o d e l o a im i ta r . Por consequên­

cia, o t ranse de cada paciente f i ca d o t a d o de caracter ís t icas m u i t o pessoais.

Depois de i n d u z i d o o m o n o i d e í s m o , os pacientes são i n s t r u í d o s para fazer amp los e ráp idos m o ­

v i m e n t o s resp i ra tó r ios , no sent ido de produz i r -se uma h iperven t i lação . Na T T T estes m o v i m e n t o s res­

p i ra tó r ios d u r a m em média u m m i n u t o . É possível que e m i n d i v i d u e s m u i t o sensíveis haja, c o m o con­

sequência, neste c u r t o t e m p o , al terações e lec t ro l í t i cas e b ioe lec t rogenét icas , a u m e n t a n d o a in ib ição

co r t i ca l . É uma suposição, pois n e n h u m a medição f is io lóg ica f o i f e i ta neste sen t ido e m i n d i v í d u o s e m

transe c iné t i co . Sabemos p o r é m que a h ipervent i lação fac i l i t a a indução d o t ranse. Há m u i t o s anos

que Sargant e Fraser ( 2 0 ) t ê m r e c o m e n d a d o o uso da h ipervent i lação para fac i l i ta r a indução da h ip­

nose. Sargant, c i t a d o por Pr ince, ( 1 9 ) inc lu i a h ipervent i lação c o m o i m p o r t a n t e f a t o r para a p r o d u ç ã o

de estado'de possessão r i t u a l .

Logo após in ic iada a fase da h iperven t i l ação , fazemos soar a música o u s imp lesmente o t a m ­

bor. T e r m i n a d a a c i tada fase, os pacientes i n d i v i d u a l m e n t e são logo levados, pelo i n d u t o r , ao transe

c iné t i co med ian te m o v i m e n t o s g i ra tó r ios impos tos ao seu c o r p o e m posição a n t i - n a t u r a l : a cabeça in­

cl inada para b a i x o , c o m o q u e i x o o mais encos tado possível ao p e i t o ; o u a cabeça inc l inada para trás e

o ros to v o l t a d o para c i m a . O ideal seria os pacientes p o d e r e m ser t o d o s induz idos ao transe ao mesmo

t e m p o . Por essa razão, o m e l h o r seria p o d e r m o s con ta r c o m u m b o m n ú m e r o de i ndu to res e au­

x i l iares.

O m o v i m e n t o g i r a t ó r i o é ráp ido e não obedece p r o p r i a m e n t e a n e n h u m a cadênc ia ; p o r t a n t o ,

não há conexão en t re esse m o v i m e n t o e o r i t m o m a r c a d o pelo t a m b o r .

A l c a n ç a d o o estado de t ranse, o operador entrega o paciente aos cu idados de u m dos aux i l ia res,

o qua l o c o n d u z a u m m o v i m e n t o g radat ivamente mais len to até inco rporá - lo e equ i l i b rá - lo d e n t r o d o

r i t m o marcado pelo t a m b o r . A s s i m o c o r r e n d o , o pac iente é d e i x a d o por c p n t a p r ó p r i a , para que pos­

sa escolher o c o m p o r t a m e n t o que desejar.

Os aux i l ia res são d i s t r i b u í d o s entre, os pacientes para evi tar quedas, choques , o u para c o n t r o l a r

o desenvolver dos transes v io len tos .

Pode suceder que o pac iente i n t e r r o m p a espontaneamente o t ranse, p o r é m , passados alguns m i ­

n u t o s , o t ranse poderá ser f a c i l m e n t e r e i n d u z i d o .

Alguns dados sobre o c o m p o r t a m e n t o — A zona co r t i ca l de v ig i lância dos pacientes permanece

conec tada apenas aos e s t í m u l o s sonoros, os e s t í m u l o s verbais não t ê m p r o p r i a m e n t e e fe i to sobre eles.

Porém, uma conversação o u m u r m ú r i o por pe r to pode mesmo i r r i tá - los , d i m i n u i n d o a p r o f u n d i d a d e

d o t ranse. ( 8 ) Por esse m o t i v o é r e c o m e n d a d o a t o d o s os presentes (aux i l ia res, i ndu to res e acompa­

nhantes dos pacientes) que ev i tem fa lar d u r a n t e as sessões de T T T .

D u r a n t e as sessões alguns pacientes dançam c o m o se estivessem s a m b a n d o ; alguns dançam de­

m o n s t r a n d o exa l tada alegr ia, e n q u a n t o ou t ros c h o r a m ; alguns ba lance iam s implesmente o c o r p o , sem

sair d o lugar, e n q u a n t o o u t r o s f i c a m parados; ex i s tem aqueles que p r o d u z e m u m transe v i o l e n t o , c o m

28

grandes mani festações emot i vo -c iné t i cas (crises), p r i n c i p a l m e n t e nas sessões in ic ia is , e n q u a n t o ou t ros

i n t e r r o m p e m espontaneamente o transe e só então c o m e ç a m a c h o r a r ; alguns q u e r e m somente andar

pelo salão, e n q u a n t o o u t r o s p re fe rem f i car de i tados n o chão.

F a t o m u i t o interessante pudemos observar e m pacientes franceses e SUÍÇOS (sessões de T T T nas

c l ín icas dos Professores J . Donnars , em Paris, e R o b e r t K l e i n , e m Lausanne, e no Cent ro de Mus ico te­

rap ia , em Paris, c o m os Professores Gabai e J o s t ) : as mani festações ps i comoto ras , c o m f requen tes cri­

ses, e ram m u i t o mais acentuadas e exuberantes d o que as que temos observado e m nossas sessões aqui

em nosso país.

A c r e d i t a m o s que , c o m o consequênc ia de seu t i p o de c u l t u r a , c o m repressões b e m mais acentua­

das e constantes p u d e r a m , através d o transe c iné t i co , l iberar c o m exal tadas mani festações p s i c o m o t o ­

ras suas tensões repr imidas .

A p r o p ó s i t o , aqui devemos fazer u m i m p o r t a n t e parêntese para exa l ta r o m e r i t ó r i o papel que te­

ve o Prof. A i m ê M a r c h a n d , i lustre m é d i c o parisiense, c o m o i n t r o d u t o r e d i f uso r da T T T na E u r o p a .

A l é m da apl icação c l í n i c a a i números pacientes, t e m f e i t o diversas exper iências c o m o , por

e x e m p l o , na Univers idade de V incennes , j u n t o c o m o Prof . Jean Per r in , onde ap l i cou a T T T em u m

grande n ú m e r o de estudantes. ( 1 6 ) Preparou c o m o Prof . Perr in interessante vídeo-cassete sobre os ex­

pe r imen tos empreend idos naquela Univers idade.

M a r c h a n d t e m f e i t o interessantes recomendações c o m respei to à apl icação da T T T e m escolares

v í t i m a s da t i m i d e z c o m o , por e x e m p l o , uma med ida para homoge in i za r o m e i o e p e r m i t i r me lho r

e q u i l í b r i o nos t raba lhos escolares. í 1 6 )

I m p o r t a n t e opção descobr iu aquele colega parisiense: através de bat idas de palmas, ele t e m con­

seguido ob te r e s t í m u l o s sonoros capazes de subs t i tu i r os das bat idas do t a m b o r , i n d u z i n d o assim o

transe c iné t i co . A respei to d i s to , devemos refer i r que aqui no R i o de Jane i ro alguns Centros Esp í r i tas

Umband is tas usam as bat idas das palmas s u b s t i t u i n d o as do t a m b o r . Pudemos ali observar u m a menor

ação emoc iona l e, consequen temen te , transes menos p r o f u n d o s . Devemos esclarecer, t o d a v i a , que a re­

fe r ida observação de M a r c h a n d é de suma i m p o r t â n c i a , pois podemos em certas c i rcunstâncias não dis­

por de u m t a m b o r (ao v ivo ou em gravação).

O u t r a i m p o r t a n t e referência que aqu i merece ser fe i ta é a respei to d o t r a b a l h o d o Prof.

R a y m o n d A b r e z o l , de Lausanne, Su iça . Fo i ele o i n t r o d u t o r da T T T na Su iça , t e n d o f e i t o dezenas de

seminár ios sobre esta ps icoterap ia não-verbal em seu pa ís , na França e na A l e m a n h a . A sua exper iên ­

cia c l í n i ca c o m esta ps icoterapia já é bastante avanta jada.

O Prof . A b r e z o l esteve n o R i o de Jane i ro d u r a n t e o ú l t i m o Congresso Pan A m e r i c a n o de H i p n o -

logia (12 a 17 de março de 1 9 7 8 ) , q u a n d o apresentou interessante re la to sobre suas exper iências c o m

a T T T em crianças ( ' ) t e n d o t a m b é m naquela ocasião apresentado u m e x t r a o r d i n á r i o f i l m e sobre

uma sessão de T T T d i r ig ida por ele e sua equ ipe.

Na T T T a exa l tação m o t o r a cor responde à l iberação e m o c i o n a l , e n q u a n t o o c o n t r o l e m o t o r

(que p r o c u r a m o s ter , l i m i t a d a m e n t e , dos pacientes du ran te as sessões) cor responde ao c o n t r o l e emo­

c iona l . Por essa razão o ope rador e os auxi l iares p r o c u r a m modera r , até ce r to p o n t o , as mani festações

mo to ras des pacientes mais exa l tados , o que ocor re mais c o m u m e n t e nas pr imei ras sessões a que eles

v ê m .

Esse con t ro le é, até cer to p o n t o , para imped i r que a re fer ida exa l tação seja demasiada ou per i ­

gosa para o paciente. T o d a v i a , não podemos b loquear c o m p l e t a m e n t e aquela exal tação pois assim se

imped i rá a benéf ica l iberação e m o c i o n a l .

Devemos aprove i ta r aqu i para d izer que a l iberação das tensões emoc iona is rep r im idas to rna rá

o i n d i v í d u o mais e q u i l i b r a d o e m o c i o n a l e ps icossomat icamente .

A p r o p ó s i t o , devemos aqu i e luc idar que , c o m o os cent ros emoc iona is e neurovegetat ivos estão

conectados f is io lóg ica e a n a t o m i c a m e n t e , a l iberação das tensões emoc iona is represadas p roduz i rá

consequen temente uma m e l h o r a f u n c i o n a l ps íqu ica e neurovegeta t iva .

F e n o m e n o l o g i a :

1 — Ab-reações emoc iona is (crises)

2 — D is torsão d o t e m p o

3 — D is tú rb ios da sensibi l idade (anestesia e hiperestesia)

29

4 — Memor izações

5 — Regressão

6 — A m n é s i a espontânea

7 — E x i b i c i o n i s m o

8 — Dessensibi l ização progressiva.

A q u i devemos esclarecer que a T T T não evo lu i u n i c a m e n t e p o r ação das crises. A c r e d i t a m o s que

m u i t o s pacientes, que dever iam apresentar as crises, têm-nas, p o r é m , metamor foseadas o u subs t i tu í ­

das por regulares contorsões musculares e pela exa l tação p s i c o m o t o r a na dança .

É bastante c o m u m e m mui,tos pacientes a oco r rênc ia da d is to rção d o sen t ido d o t e m p o . 0 mais

c o m u m é a d is to rção para m e n o s : pensam ter estado e m transe somente por uns 15 m i n u t o s , p o r

e x e m p l o , q u a n d o na real idade o est iveram d u r a n t e 2 horas. Esse era o t e m p o de duração de nossas ses­

sões nos p r ime i ros anos de apl icação da T T T ; p o s t e r i o r m e n t e o reduz imos para 4 5 m i n u t o s , que t e m

s ido o su f i c ien te para o nosso des idera to .

Há pacientes que apresentam anestesia e m certas partes d o c o r p o , p r i n c i p a l m e n t e nos braços, se­

me lhan te ao que ocor re e m certas crises histér icas. T e m o s tes tado esta anestesia e m nossas sessões.

A l g u n s são levados a m e m o r i z a r fa tos e sensações que o c o r r e r a m há longos anos, mu i tas vezes

na in fânc ia . Eles, mesmo, depo is , não sabem exp l i ca r po rque o c o r r e r a m tais lembranças.

A regressão é f e n ó m e n o c o m u m t a n t o du ran te os transes r i tua is c o m o d u r a n t e os da T T T . O

c o m p o r t a m e n t o é m u d a d o e há u m a tendênc ia a p rocu ra r p r o t e ç ã o . Há regressão a n íve is p r o f u n d o s ,

l i be rando f o r m a s de c o n d u t a arcaicas. A regressão, segundo Pr ince, t 1 8 ) s ign i f ica o r e t o r n o a u m n íve l

an t igo de f u n c i o n a m e n t o , p o d e n d o ser " u m a resposta ao " s t r e s s " — o r e f ú g i o da real idade do lo rosa —

o u pode ser mais o u menos consc ien temente o b t i d a c o m o u m m e i o de rec reação . "

A amnésia espontânea se p r o d u z mais c o m u m e n t e nos pacientes q u e est iveram sob o t ranse p ro ­

f u n d o .

0 e x i b i c i o n i s m o é par te in tegran te da v ida de t o d o s os seres h u m a n o s , p o r é m é u m f e n ó m e n o

n i t i d a m e n t e e x a l t a d o seja d u r a n t e o transe c i n é t i c o r i t u a l , seja d u r a n t e o transe c iné t i co da T T T . Te­

mos v is to c o m o m u i t o s pacientes apresentam u m grande prazer e m exibir -se e m belas coreograf ias e

c o m m í m i c a s expressando var iados sen t imen tos .

A dessensibi l ização progressiva já havia s ido observada p o r Mesmer . A cada sessão, as crises t o r -

navam-se mais atenuadas. O m e s m o acontece na T T T , levando os pacientes, das mais exal tadas e x p l o ­

sões emot i vo -c iné t i cas à ma io r t r anqú i l i zação ps íqu ica e ps icossomát ica , à med ida que se sucedem as

sessões.

Neuro f i s io log ia d o t ranse c i n é t i c o — T e m o s m o s t r a d o e m diversos t raba lhos que são fa to res i m ­

por tan tes d e n t r o da neuro f i s io log ia d o t ranse c i n é t i c o :

1 — O m o n o i d e í s m o

2 — A s emoções desencadeadas pelos e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s e pela expec tação

3 — A ação d o m o v i m e n t o g i r a t ó r i o d o c o r p o , e m posição a n t i - n a t u r a l , sobre os cent ros vest i -

bulares.

4 — A h ipe rven t i l ação .

O m o n o i d e í s m o é t a n t o mais i n t e n s o i q u a n t o mais o é o r e f l e x o c o n c e n t r a d o r , que é a base so­

bre a qua l se desenvolve a f e n o m e n o l o g i a i n d u t o r a h i p n ó t i c a . Q u a n d o há essa atenção expec tan te já

há u m a l im i tação d o c a m p o da a t i v idade consc iente d o c ó r t e x cerebra l , p e r m i t i n d o uma série de fe­

n ó m e n o s h i p n ó t i c o s (h ipnose e m v ig í l i a ) , f 1 1 )

O m o n o i d e í s m o assim p r o d u z i d o p r o m o v e uma exc i tação p reponderan te e m u m a zona de v ig i ­

lância co r t i ca l b e m l i m i t a d a , a qua l p r o d u z , por indução negat iva, in ib ição de amplas áreas cor t i ca is ,

p o d e n d o i m p e d i r , en t re ou t ras percepções, a d o l o r o s a .

A ação d o m o v i m e n t o g i r a t ó r i o d o c o r p o , e m pos tu ra an t i -na tu ra l ( c o m a cabeça vo l tada para

o chão o u para o a l t o ) , p r o d u z u m d e s e q u i l í b r i o l a b i r í n t i c o que induz f o r t e exc i tação sobre os cent ros

vest ibulares.

Esta exc i tação s u p r a m a x i m a l n o subcór tex é a inda mais a u m e n t a d a pelas emoções desencadea­

das pela expec ta t i va e pelos e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s , p r o d u z i n d o - s e , ass im, u m a indução negat iva

d o c ó r t e x cerebra l . Desta f o r m a , a in ib i ção c o r t i c a l , já alcançada pela ação d o m o n o i d e í s m o , se d i f u n ­

de a inda mais em t o r n o da área de v ig i lânc ia .

30

Devemos crer que a h iperven t i l ação tenha u m a certa ação na d i fusão desta in ib ição c o r t i c a l , pois

passamos a ob te r mais f a c i l m e n t e o t ranse c iné t i co depois que i n s t i t u í m o s a p r o d u ç ã o da h iperven t i l a ­

ção em nossos pacientes: C o m o já d issemos, é possível que as al terações e lec t ro l í t i cas e b ioe lec t rogê-

nicas que surgem na h iperven t i l ação possam a u m e n t a r a in ib i ção c o r t i c a l . Es tando o t ranse i n s t i t u í d o ,

a área de v ig i lânc ia passa a f i ca r p reva len temente conectada c o m os e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s . O r i t ­

m o persistente marcado pe lo t a m b o r a juda a man te r as cond ições de h ipnogen ia d u r a n t e t o d a a

sessão.

Na i ndução d o t ranse c i n é t i c o t a n t o fa tores da h ipnose h u m a n a c o m o da chamada h ipnose an i ­

mal estão presentes. C o n t u d o , o transe c iné t i co é p r o d u z i d o em m a i o r par te pela ação de fa tores da

h ipnose an ima l que da h u m a n a . Na si tuação c l í n i c a ro t i ne i ra de c o n s u l t ó r i o , a estimulação* verbal é o

mais i m p o r t a n t e f a t o r na i n d u ç ã o , a p r o f u n d a m e n t o e manu tenção d o estado h i p n ó t i c o .

U m a das mais f requen tes técnicas de p r o d u ç ã o da h ipnose an ima l é através de m o v i m e n t o s ro ta ­

t ó r i o s . S v o r a d , ( 2 1 ) e Hoskovec e Svorad ( l s ) apresentaram interessantes e x p e r i m e n t o s usando esta

técn ica e m an imais .

Svora rd ( 2 1 ) usou u m apare lho especial para a ro tação d o an ima l e m t o r n o do seu e i x o verte­

b r a l , n u m a posição a n o r m a l , isto é, na posição sup ina .

O eventua l a p a r e c i m e n t o da ca tap lex ia e m cer tos pacientes na T T T mos t ra o u t r a analogia c o m a

chamada h ipnose an ima l .

E m 1 9 6 7 , j u n t o c o m a equ ipe d o I n s t i t u t o de E lec t roence fa log ra f ia d o R i u de Jane i ro ( ' 1 ) en­

cetamos uma série de exper iênc ias m e d i n d o à d is tânc ia o E E G de i n d i v í d u o s sob o transe c iné t i co ,

r i tua l da U m b a n d a e da T T T .

E m do is dos pacientes, sob e x p e r i m e n t o , i n d u z i m o s o transe c iné t i co med ian te m u i ráp idos m o ­

v i m e n t o s r o t a t ó r i o s , o b t e n d o u m estado ca tap lé t i co por poucos segundos. U m deles permaneceu por

12 segundos e m ca tap lex ia , su rg indo en tão no t raçado ab rup tos sur tos d i fusos e b i la tera is de ondas si

nusoidais de 3 a 4 c /s , isolados o u em grupos. Essa a t iv idade p a r o x í s t i c a (em pacientes norma is , c o m

t raçados no rma is em cond ições normais) faz o re fe r ido t raçado apresentar analogias b e m acentuadas

c o m os o b t i d o s por Svorad ( 2 1 ) e m coelhos sob ca tap lex ia ou in ib ição parox isma l (ou p a r o x í s t i c a ! ,

c o n f o r m e ele d e n o m i n a .

Hoskovec e Svorad ( l s ) d i z e m que a h ipnose an ima l cor responde a u m a in ib ição parox ismal

causada pelo d e s e n v o l v i m e n t o de u m e x c i t a t ó r i o processo nas regiões subcor t i ca is , nos cent ros ref le

xos d o e q u i l í b r i o . Este estado e x c i t a t ó r i o é consequênc ia da s i tuação a n o r m a l d o c o r p o e e x t r e m i d a ­

des no espaço, a qua l é s inal izada pelos receptores vest ibulares, p r o p r i o c e p t o r e s e ex te rocep to res cu­

tâneos.

Indicações e conclusões: — Bons resul tados t e m o s o b t i d o c o m a T T T n o t r a t a m e n t o das chama­

das doenças psicossomáticas e das mais c o m u n s neuroses. Exceção deve ser f e i t a c o m respei to às neu­

roses fóbico-obsessivas, para as quais não recomendamos a nossa te rap ia . Nestes casos, a indução d o

transe c i n é t i c o já é, p o r si p r ó p r i a , m u i t o d i f í c i l de se o b t e r .

Os resul tados mais ob je t i vos são most rados n o t r a t a m e n t o das cond ições que apresentam fo r tes

e in tempest ivas explosões e m o c i o n a i s , c o m o nas neuroses histér icas e na de l i nquênc ia j u v e n i l .

Nas neuroses depressivas leves, que podemos t a m b é m r o t u l a r de neuroses de fadiga o u neuroses

sociais, e nos d i s tú rb ios ps icossomát icos, a T T T igua lmente p r o d u z bons e fe i tos .

A s sessões de T T T t ê m s ido consideradas t a m b é m c o m o u m m e i o de soc io terap ia através do re­

l a c i o n a m e n t o social en t re aqueles que p a r t i c i p a m das sessões. ( 8 ) A s s i m , antes e após as sessões os pa­

cientes se sentam j u n t o s , em pequenos g rupos , t r o c a n d o impressões e con f idênc ias , cada u m fa lando

acerca d o seu p r ó p r i o caso, e assegurando uns aos o u t r o s uma m ú t u a a juda .

T e m o s cons iderado, de uns anos para cá, o possível va lor da T T T não só c o m o ps icoterap ia de

g r u p o mas t a m b é m de massa. ( 1 0 )

São as própr ias bases sóc io-cu l tu ra is da T T T que nos a le r tam a respei to das suas e x t r a o r d i n á ­

rias potenc ia l idades c o m o ps icoterap ia de massa. É f a c i l m e n t e constatável que os transes c inét icos r i ­

tua is , não só no Bras i l , mas t a m b é m em o u t r o s países c o m o o H a i t i e e m várias regiões da A f r i c a ,

c o n s t i t u e m u m a f o r m a de p r o f i l a x i a e t r a t a m e n t o de grandes massas de suas popu lações.

E m a p o i o ao nosso p o n t o de vista podemos relatar q u e , c o m o u m mecan ismo espontâneo, d i ­

r í a m o s quase i n s t i n t i v o , massas de i n d i v í d u o s e n c o n t r a r a m e m out ras épocas m e i o s imi lar de ab-rea-

31

ção das neuroses co let ivas, através das possessões ep idêmicas, e m alguns países da E u r o p a na Idade

Média , e da " m a n i a d a n ç a n t e " ou core ia h is tér ica, e p i d ê m i c a , o T a r a n t i s m o , na I tá l ia . ( 1 0 !

A c r e d i t a m o s que a T T T pode ser apl icada e m t o d o s os casos de neuroses colet ivas o r iundas de

pânicos o u f o r t e s choques e m o t i v o s causados por grandes catást rofes o u tragédias e n v o l v e n d o a co­

m u n i d a d e .

Pode ser apl icada t a m b é m e m grandes massas de i n d i v í d u o s que se des locaram de seu m e i o rura l

para os grandes cen t ros , onde v ivem em c o m u n i d a d e s isoladas, e e n t r a r a m em neurose pela perda de

seus padrões sóc io-cu l tura is e d o a p o i o de seus fami l ia res .

A T T T é con t ra - ind icada nos pacientes ep i lép t i cos e nos ps icó t icos ; igua lmente nos pacientes

c o m prob lemas ósteo-ar t icu lares, p o r não p o d e r e m se mover l i v remente , b e m c o m o naqueles c o m pro ­

blemas cardio-vasculares ( t r o m b o f l e b i t e , insuf ic iênc ia ca rd íaca , c o r o n a r i a n a , e t c ) .

E m ú l t imas palavras, que remos preconizar u m mais a m p l o emprego da Terps icore t ranse te rap ia ,

p o d e n d o ela ser apl icada sem d i f i c u l d a d e por quaisquer ps icoterapeutas capac i tados que seguem não

i m p o r t a que l inha teo ré t i ca .

B I B L I O G R A F I A

1 . A B R E Z O L , R. P. — T T T e t les e n f a n t s . IV Congresso Pan Americano de Hipnologia, R io de J a n e i r o , 12 — 17

de m a r ç o , 1 9 7 8 .

2 . A J U R I A G U E R R A , J . — Les Problèmes du Normal et du Pathologique en Psychiatrieà Partir desApportsPsy-

chosociologiques. Separa ta da C o n f e r ê n c i a p r o n u n c i a d a e m 2 8 de m a i o de 1 9 6 2 , e m Bale , S u i ç a , sob os

a u s p í c i o s de F. H o f f m a n n La R o c h e & C i e . S . A .

3 A K S T E I N , D. — Les Transes R i tue l les Brési l iennes et les Perspect ives de leur A p p l i c a t i o n à la Psych ia t r ie e t à la

Médec ine P s y c h o s o m a t i q u e . Congrès International d'Hypnose et de Médecine Psychosomatique. Paris, ab r i l

2 8 - 3 0 , 1 9 6 5 . P u b l i c a d o e m p o r t u g u ê s na fíev. Brasil Médico, 1 9 6 6 , v ó l . 8 0 , n ° 3 , 1 1 6 - 1 2 2 .

4 . A K S T E I N , D. — K i n e t i c Trances a n d T h e i r A p p l i c a t i o n in T r e a t m e n t a n d Pro f i l ax i s o f Psychoneuroses a n d Psy-

c h o s o m a t i c Diseases. IV Congresso Mundial de Psiquiatria, M a d r i d , 1 5 - 1 8 , s e t e m b r o , 1 9 6 6 . P u b l i c a d o e m

. l í n g u a i ta l iana na Rassegna Di ipnosiE Medicina Psicosomatica, 1 9 6 7 , n 9 6 , 2 3 1 9 - 2 3 2 6 .

5. A K S T E I N , D. — La T h é r a p e u t i q u e des Nevroses de Fat igue par des Transes C iné t iques (Te rps ichore t ranse thé -

rap ie ) . / / / Congrès International de Médecine Psychosomatique, Paris, 1 5-18 de s e t e m b r o , 1 9 6 6 .

6 . A K S T E I N , D. — M e s m e r , o Precursor da M e d i c i n a d o E s p í r i t o . Rev. Bras. Med., Separa ta , v o l . 2 4 , n ° 4 e 5 ,

1 9 6 7 .

7. A K S T E I N , D. — T e r p s i c h o r e t r a n c e t h e r a p y : A G r o u p P s y c h o t h e r a p y Based o n R i t u a l Possession. Congress For

Psychosomatic Medicine and Hypnosis, K i o t o , j u l h o , 1 2 - 1 4 , 1 9 6 7 .

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9 . A K S T E I N , D. — T e r p s i c h o r e t r a n c e t h e r a p y : A N e w D i m e n s i o n in N o n - V e r b a l P s y c h o t h e r a p y . International

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mâ' ernPsychotherapie-Kórperdynamík. E d . H . P e t z o l d . 1 9 7 4 .

1 0 . A K S T E I N , D. — Perspect ivas Psicosociales de la A p l i c a c i o n de la T e r p s i c o r e t r a n c e t e r a p i a . / / Congreso Pana-

metícano de Hipnologia y Medicina Psicosomatica, M é x i c o , 2 3 - 2 6 de n o v e m b r o , 1 9 7 1 . P u b l i c a d o e m i n ­

glês emPsychopathologie Africaine, 1 9 7 4 , v o l . X , n ? 1 , 1 2 1 - 1 2 9 .

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