Post on 28-Nov-2015
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
José Ribamar Martins dos Santos Junior
#VEMPRARUA: Mobilizações sociais e Facebook em Belém
ANANINDEUA
2013
José Ribamar Martins dos Santos Junior
#VEMPRARUA: Mobilizações sociais e Facebook em Belém
Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação apresentado à Universidade da
Amazônia, como requisito para a obtenção
do título de Bacharel em Comunicação
Social – Publicidade e Propaganda.
Orientadora: Profa. Ma. Elizabeth
Mendonça.
ANANINDEUA
2013
José Ribamar Martins dos Santos Junior
#VEMPRARUA: Mobilizações sociais e Facebook em Belém
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à
Universidade da Amazônia, como requisito para a obtenção do título
de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade Propaganda.
Orientador: Profa. Ma. Elisabeth Mendonça de Vasconcellos
Banca Examinadora
___________________________________________
Profa. Ma. Elisabeth Mendonça de Vasconcellos
(Orientadora)
___________________________________________
Profa Ma. Danila Cal
(Professora Convidada)
Apresentado em: __ / __ / __
Conceito:_______________
ANANINDEUA
2013
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço Aquele que sempre me amou e me mostrou o caminho, foi o
consolo em momentos de aflição; o motivo da minha alegria e esperança: Jesus;
Aos meus pais, irmãs e familiares responsáveis pela construção de meu caráter, assim como
minha esposa Andrya por nunca ter deixado de me apoiar ou acreditar em mim. E por ter me
ameaçado, caso eu não concluísse;
À minha filha, Ana Clara, pelos momentos em que me fez abstrair do trabalho com seu jeito
carinhoso e ver que por mais difícil que seja a vida, ela sempre deve ter momentos de doçura;
À minha "inusitada" orientadora Elisabeth Mendonça, por sua disposição e boa-vontade
sempre, por seu apoio e por acreditar no meu projeto "até mesmo antes de ver"...
A todos meus educadores, que me incentivaram e mostraram o caminho dentro da academia
para ser um profissional e uma pessoa melhor. O meu muito obrigado.
A todos os meus amigos e ao Galpão17, que tiveram infinita paciência nos momentos de
ausência, quando não pude estar quando deveria. Esta ausência não foi em vão;
Aos entrevistados, que apesar de todos os possíveis e impossíveis problemas, sempre se
mostraram abertos a responder e participar do meu projeto;
E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que hoje eu escrevesse estas linhas;
não ser citado não quer dizer que não foi lembrado;
José Ribamar Martins dos Santos Junior
―Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso à todos
aqueles que acreditam – apesar da incredulidade
vigente – que há possibilidade de mudança para
melhor, mesmo que não seja o caminho mais fácil.‖
Rib@ Jr
―Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o
mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e
a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez;
quando se puder assistir em tempo real a um atentado no
ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo
significar apenas rapidez online; quando o tempo, como
história (sic), houver desaparecido da existência de todos os
povos, quando um esportista ou artista de mercado valer
como grande homem de um povo; quando as cifras em
milhões significarem triunfo, – então, justamente então –
reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde?
E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que
quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a
decadência simplesmente como… Decadência. Essa
constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem
tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a
destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita
odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais
dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e
otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.‖
[Heidegger adapt. por Abujamra e Bacic (Programa
Provocações, Rede Cultura).
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo estudar o movimento de mobilização social através das redes
sociais, com foco na mobilização do dia 17 de junho de 2013, ocorrida em Belém do Pará.
Para tanto realizou-se uma análise histórica e teórica sobre contraculturas, pós-modernidade,
redes sociais e as relações nessas redes. Demonstrou-se que a mobilização social virtual é
viável, porém não é a única aplicável. Ressaltando as particularidades da mobilização – e do
ciberativismo, como um todo -, concluiu-se que ainda há muito a ser trabalhado dentro do
paradigma das redes sociais virtuais - Facebook - no território paraense, do ponto de vista
social, intelectual e cognitivo.
Palavras-chave: Facebook, Mobilizações Sociais, Ativismo, Cibercultura, Movimento Belém
Livre.
ABSTRACT
This work aimed to study the movement of social mobilization through social networks, with
a focus in the mobilization on June 17, 2013 that occurred in Belém do Pará. For that, there
were made historical and theoretical analysis of countercultures, postmodernity, social
networks and relationships in these networks. It has been demonstrated that the virtual social
mobilization is viable, but it is not the only one applicable. Emphasizing the particularities of
the mobilization - and cyber-activism as a whole - it was concluded that there is still much to
be worked within the paradigm of virtual social networks - in this case, Facebook - in the state
of Pará, from the social, intellectual and cognitive development point of view.
Keywords: Facebook, Social Mobilization, Activism, Cyberculture, Movimento Belém Livre.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados sobre conexão e número de usuários no Brasil – 2013......................... 21
Tabela 2 – Velocidade de conexão e número de usuários no Brasil – 2013..................... 22
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Diagrama de Baran: exemplo de diagrama de redes ....................................... 25
Figura 2 - Aparência do Facebook em 2004 e 2006......................................................... 31
Figura 3 - Aparência do Facebook em 2007 e 2009......................................................... 32
Figura 4 - Aparência do Facebook em 2009 e 2012......................................................... 32
Figura 5 - Aparência da página inicial do Facebook – Formulário de inscrição .............. 33
Figura 6 – Exemplo de compartilhamento ciberativista no Facebook............................... 42
Figura 7 – Tela de Membros com os Administradores ..................................................... 47
Figura 8 – Tela da Seção de Arquivos do Grupo............................................................... 48
Figura 9 – Timeline do Movimento Belém Livre............................................................. 49
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
3G – A terceira geração de padrões e tecnologias de telefonia móvel, substituindo o 2G. É
baseado na família de normas da União Internacional de Telecomunicações (UIT)
4G - A quarta geração de padrões e tecnologias de telefonia móvel, substituindo o 3G. É
baseado na família de normas da União Internacional de Telecomunicações (UIT)
BRT – Bus Rapid Transit
CTIC - Centro de Estudos Sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação
Fiat – Fabbrica Italiana Automobili Torino. Um dos maiores fabricantes veiculares no
mundo.
NIC - Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR
G1 – O G1 é um portal de notícias brasileiro mantido pela Globo.com e sob orientação da
Central Globo de Jornalismo.
SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
TCI – Tecnologias da Informação e da Comunicação
SUMÁRIO
1 DA CONTRACULTURA E PÓS-MODERNIDADE ÀS CONVERGÊNCIAS
VIRTUAIS ................................................................................................................... 14
1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14
1.2 BREVE HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE ........................................................... 18
1.3 E NO BRASIL... ........................................................................................................... 21
1.1.1 Conexões fixas ............................................................................................................. 22
1.4 Novas formas de conexão – as ―redes‖ ......................................................................... 23
1.5 Redes Sociais enquanto mídia ...................................................................................... 26
1.6 As relações nas redes sociais ........................................................................................ 27
1.7 FACEBOOK ................................................................................................................. 30
1.7.1 Pequeno histórico ........................................................................................................ 30
1.7.2 Como funciona? .......................................................................................................... 32
1.7.3 Dados recentes ............................................................................................................. 34
1.7.5 Facebook, Capital Social e a Negociação de Identidades. ....................................... 35
1.8 CIBERATIVISMO NAS REDES. ............................................................................... 38
1.8.1 Mobilização e Ativismo .............................................................................................. 38
1.8.2 Diferença entre Ativismo e Ciberativismo ............................................................... 39
1.9 Tipos de Ciberativismo ................................................................................................. 41
1.10 Ciberativismo no Facebook .......................................................................................... 42
2 ESTUDO DE CASO – MOVIMENTO BELÉM LIVRE / #VEMPRARUA ........ 43
2.1 Onde Tudo Começou .................................................................................................... 43
2.2 Reunião de Planejamento do ato ................................................................................... 44
2.3 O ato em si – 17 de junho de 2013 ............................................................................... 45
2.4 O Grupo do Facebook ―Movimento Belém Livre‖ ...................................................... 46
2.4.1 A Timeline do Grupo .................................................................................................. 49
3 METODOLOGIA E ANÁLISE ................................................................................ 50
3.1 METODOLOGIA ......................................................................................................... 50
3.1.1 Análise Quali-Quantitativa ........................................................................................ 50
3.1.2 Estudo de caso ............................................................................................................. 51
3.1.3 Revisão Bibliográfica .................................................................................................. 51
3.2 ANÁLISE ..................................................................................................................... 52
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 58
REFERÊNCIAS VIRTUAIS ................................................................................................. 60
APÊNDICE A ......................................................................................................................... 63
APÊNDICE B .......................................................................................................................... 64
APÊNDICE C - RESULTADO DA PESQUISA QUANTITATIVA ................................. 66
ANEXO A – ENTREVISTAS ................................................................................................ 69
Entrevistado 1 - Pedro Loureiro ............................................................................................... 69
Entrevistado 2 - Caio Mota ....................................................................................................... 71
ANEXO B - MATERIAL REFERENTE À MOBILIZAÇÃO DO DIA 17/06/2013 ........ 77
ANEXO C - AMEAÇA REAL NA MOBILIZAÇÃO ......................................................... 79
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1 DA CONTRACULTURA E PÓS-MODERNIDADE ÀS CONVERGÊNCIAS
VIRTUAIS
1.1 INTRODUÇÃO
Desde o período em que a História sinaliza como o início da espécie humana, a
necessidade e o poder que a comunicação teve no processo histórico e na conservação deste
foi de vital importância. Por muitas vezes esta comunicação se reinventou, transmutando-se e
derivando tantos outros processos. Com o surgimento da era tecnológica – em meados dos
anos 50 - a sociedade nunca teve dentre a sua história tantas revoluções e readaptações quanto
as que estamos vivendo. A velocidade e a facilidade que a tecnologia imprime na pós-
modernidade fez com que o mundo vivesse transformações intensas. Se antes tínhamos que
enviar cartas, as quais demoravam dias e semanas para chegar ao seu destinatário, hoje
smartphones com aplicativos como What’sApp1 cumprem o papel de comunicar com
eficiência e velocidade. A forma como nos relacionamos tem se modificado rápida e
profundamente. Ao mesmo tempo, os sentidos e os objetivos do termo ―comunicação‖
conquistaram horizontes nos quais os limites se ampliam e ganham novas plataformas a cada
nova descoberta.
Lévy (1999) defende o fato de por trás de quaisquer tecnologias, existem atores
sociais que se habitam, propagam, modelam, criam e até destroem utilizando-se da técnica
(―os técnicas”, como o autor referencia). Ou seja, não somos meros coadjuvantes no espaço
técnico social, mas atuantes nele. Porém, mesmo assim este autor afirma que os atores - por
sua vez, a grande maioria – passam despercebidos do grande potencial que esta técnica (mais
especificamente a internet) pode proporcionar em termos de conhecimento. Os seres humanos
ainda descobrem a técnica e suas facetas sem deixar de vivê-las inseridos nas mesmas e
assistindo sua evolução – um dos paradigmas da pós-modernidade.
1 What’sApp é um aplicativo disponível para várias plataformas de smartphones (iPhone, Android, Nokia Symbian, etc) onde
as pessoas interagem através de SMS de forma gratuita, diferente do SMS comum – bastando para isso conexão com a
internet.
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Com isso, a civilização vive – agora intensamente - um ambiente baseado em redes,
tanto físicas quanto virtuais. A convergência desta para b faz com que real e virtual fundam-se
em um conceito multidimensional, apesar de muitos autores discordarem e discutirem a
profundidade da afirmação anterior. O termo ―espaço‖, antes de cunho geográfico, agora
ganha o prefixo tecnológico ―ciber‖ onde a união dos dois passa a simbolizar todo o conjunto
de redes e elementos que compõem a World Wide Web – a rede mundial de computadores. O
que outrora era cultura se convergiu no termo cibercultura*, que simboliza a extensão do
conceito físico para o virtual, não o ressignificando, mas agregando-lhe novas formas e
limites. Com isso, se faz necessário observar como este novo panorama se desenvolve facilita
entender a internet enquanto realidade social, e assim entender como cada indivíduo apropria-
se desta realidade.
Pode-se afirmar que a força motriz para este trabalho foi aprofundar o conhecimento
sobre a cibercultura – mais especificamente o ciberativismo - e os fenômenos comuns a ela,
na tentativa de consequentemente entender os novos processos e fenômenos comunicacionais
da atualidade e torná-los conhecimento comum a todos quem por eles demonstrar interesse,
afinal o conhecimento acerca deste tema existe, mas em diversas fontes e difundidos em
vários pontos de tal forma uni-los em uma linha de pensamento tornou-se necessário, apesar
do recorte de análise não poder abranger todo o infindável universo da cibercultura.
Verificar este evento em Belém se torna um desafio a partir do momento em que
percebemos constantes modificações nos serviços oferecidos na região, o que incentiva
mudanças de comportamento – como o fato da disponibilidade de conexões 4G, wi-fi
públicas. Além disso, a mobilização do dia 17 de junho foi algo de cunho inédito até então, de
potencialidades ainda desconhecidas. Em meio a conflitos, ideais, crenças e valores, a grande
massa produziu muito conteúdo, em diferentes formatos, plataformas (celulares, tablets, entre
outros) e de forma descentralizada. Consequentemente, inviabilizando uma pesquisa profunda
em pouco tempo.
A pesquisa busca responder uma problemática: o ciberativismo nas redes sociais
(Facebook) utilizando o potencial comunicacional destas redes promove o interesse da
sociedade civil enquanto ator social participativo na discussão de ideias e propagação de
paradigmas dentro e fora do ciberespaço?
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As hipóteses aqui apresentadas serviram como norteadores para aquisição de
respostas, servindo de gatilho para a busca de informações que as constatem ou as
contradigam, para indicar a melhor e mais correta resposta acerca do tema proposto.
A primeira hipótese levantada foi a possibilidade de se modificar e ressignificar
atores sociais ativamente através das mobilizações sociais virtuais, para que suas ações sejam
refletidas em atos no mundo físico; há também a hipótese de que as mobilizações ocorram
apenas no virtual como forma de negociação de capital social; e por último, a hipótese de que,
apesar de viável como movimento social, a mobilização social virtual não poderia ser a única
aplicável para a organização de eventos presenciais.
Esta pesquisa apresenta enquanto objetivo geral estudar o movimento de mobilização
social através das redes sociais, especificamente do Facebook. Com relação aos objetivos
específicos, este trabalho visa perceber a importância do Facebook (Redes Sociais) no
processo comunicacional das mobilizações; verificar a interferência da mobilização social
virtual na participação efetiva dos integrantes da rede; analisar o ciberativismo enquanto
ferramenta comunicacional para a conscientização social no Movimento Belém Livre.
Dentre as várias metodologias existentes para a pesquisa na internet, a que mais se
mostrou aplicável no trabalho o estudo de caso, sendo a pesquisa quantitativa e qualitativa.
Por fim -porém não menos importante - a revisão bibliográfica com a análise de materiais
escritos – a exemplo de artigos científicos, livros de teóricos da área, matérias em endereços
eletrônicos, etc. - se faz parte essencial deste processo.
Ter em mente estes conceitos é de suma relevância para o desenvolvimento deste
trabalho, já que o objeto norteador do mesmo resume-se em observar, conceituar e discutir
conceitos do cotidiano, os quais – por estarmos vivenciando ao mesmo tempo em que se
desenvolvem – muitas vezes passam despercebidos, ou carecem de um olhar mais atento. No
campo da pesquisa acadêmica, o tema do ciberativismo tem sido pouco explorado, tendo em
vista que é um tema relativamente novo, pouco recorrente e que apenas nos últimos anos vem
ganhando força e características próprias, herdadas dos conceitos sociológicos. Ganhou mais
força no território brasileiro recentemente (enquanto esta pesquisa se desenvolvia), quando
então se iniciaram as mobilizações e passeatas populares que foram intituladas pela Revista
Veja em sua edição histórica como ―Os sete dias que mudaram o Brasil‖. O assunto tomou o
espaço nas redes sociais virtuais e os posteriores movimentos e atos sociais nas redes sociais
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acabaram por despertar o interesse em se tentar entender o porquê disto e de que forma
surgiram, desenvolveram-se e como influenciam/são interpretados enquanto atos sociais,
políticos ou não. Isto se mostra de grande valia para a sociedade, visto que estamos no núcleo
destas reorganizações de ideias. Também utilizaremos a denominação ―virtual‖ e ―física‖ para
distinguir as ações em rede presenciais no mundo físico das ocorridas no mundo virtual.
Para que houvesse um entendimento maior deste processo, precisou-se realizar um
estudo com uma análise mais profunda, com o objetivo de entender o fenômeno de forma
imparcial e esclarecida. A tecnologia por si só apenas serviu de suporte, pois o processo
envolveu diversos campos do conhecimento como a política e sociologia. Porém o foco aqui
será a Comunicação, sempre estabelecendo conexões – quando se fizer necessário – com
outras áreas do conhecimento. A análise será fundamentada em teorias e metodologias
comunicacionais, oferecendo assim esclarecer uma das diversas faces as quais este tema está
interligado.
O que nos direciona a alcançar os objetivos desta pesquisa pode ser definida em
vários níveis que se equiparam em importância.
Primeiramente, o trabalho surge com o intuito de suprir a escassez de estudos na
região que foquem nas mídias sociais virtuais, fenômeno que é global, destacando a influência
desses meios na Amazônia – mais especificamente em Belém.
Nesse contexto, a pesquisa desenvolve uma análise sobre a (des) espacialização que
conecta o cidadão pós-moderno nas tendências mundiais, quebrando limitações de espaço.
Essa nova tendência insere o cidadão, que antes era considerado inofensivo e neutro, em
certas questões políticas, como no caso das mobilizações dos ―sete dias‖.
Concluindo, o interesse acerca do trabalho também surge da grande proliferação de
informações, compartilhadas via internet, que criam e modificam certos conceitos, entre eles o
conceito de mobilização social virtual - tema decorrente das mídias sociais - que possibilita a
interação direta entre ―perfis‖. Este nível pode ser definido também pela pergunta: As
mobilizações sociais virtuais realmente tornaram-se sinônimo de mobilização social e elas
implicam em novas formas de relações comunicativas dentro e fora do espaço virtual?
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1.2 BREVE HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE
Após as grandes revoluções que o mundo experimentou após a Segunda Guerra
Mundial, o mundo até então bi polarizado com o contexto da Guerra Fria começa a
experimentar a divulgação e movimentação popular de várias parcelas de minorias sociais –
como os ―hippies‖ - e de discursos contrários às formas opressoras do poder social vigente no
pós-guerra. O famoso Festival de Woodstock, ocorrido nos Estados Unidos em 1969 foi um
marco na divulgação dos ideais libertários que eclodiram naquela década e influenciariam
uma ordem que se opunha ao que estava estabelecido na sociedade, discutindo, criticando e
até rompendo com os padrões, valores, moralidade e costumes vigentes. A cultura vivia um
momento de redimensionamento, transformação. Nascia um dos mais fortes movimentos de
Contracultura2, que perduraria na sua busca utópica por novos paradigmas e modos de vida e
evoluiria junto com a sociedade através da pós-modernidade.
Naquele momento singular, que daria surgimento nas décadas seguintes a várias
linhas de pensamento e ideologias de ordem musicais, artísticas, sociais e ideológicas tão
díspares – e ao mesmo tempo complementares, como o punk e o surgimento das BBS - a
tecnologia deu seu grande salto ao iniciar a disseminação de tecnologias como a ARPANET 3,
antes exclusivas para uso militar e acadêmico. Além do crescimento tecnológico, o imaginário
coletivo era alimentado por histórias de ficção científica onde se explorava como temática a
preocupação com a integração ―sociedade-tecnologia‖ que viria futuramente. Todo este
panorama foi responsável por modificar durante a evolução das tecnologias o modo como
interagimos com as mesmas.
Na metade da década de oitenta, o termo cyberpunk emergiu como uma nova estética
de ficção científica na literatura e no cinema. O escritor americano William Gibson, através
2 Termo que apesar de ter maior força na representatividade desta década, não é exclusivo dos anos 60, como
aponta GOFFMAN, JOY em Contracultura através dos tempos: do mito de Prometeu à cultura digital. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2007. 3 ARPANet, acrônimo em inglês de Advanced Research Projects Agency Network (ARPANet) do Departamento
de Defesa dos Estados Unidos da América, foi a primeira rede operacional de computadores à base de
comutação de pacotes, e o precursor da Internet.
P á g i n a | 19
de seu livro ―Neuromancer‖ e o filme Blade Runner, do diretor Ridley Scott, mostravam
riqueza em detalhes estéticos na linguagem imersos no panorama tecnológico de tal forma que
a tecnologia se tornava algo informal aos seus personagens (Lemos, 2004. p.13). O termo
―ciberespaço‖, utilizado por Gibson na obra citada acima, tornou-se uma referência para os
escritores de ficção científica e posteriormente, para a sociedade em geral através do acesso a
esta cultura. O movimento cyberpunk foi extremamente representado de forma sintética entre
o paradoxo da alta tecnologia agregada à baixa qualidade de vida. Atualmente, o termo
―cyberpunk‖ transcende a justaposição das palavras ―cyber‖ e ―punk‖. Hoje, ele pode ser
encarado de forma resumida como um movimento similar à Contracultura da década de
sessenta, com o adicional propiciado pelas novas tecnologias.
Em meados dos anos 90, com os grandes movimentos sociais e o surgimento de
culturas efêmeras (diferentes das décadas anteriores, que criaram características identitárias),
Pimenta e Silva (2009) verifica que o ideal utópico da década de 60 ―foi incorporado ao
sistema, que o tornou produto cultural massificado‖; desta forma, não anula suas
características, como o referido autor afirmou:
―Mas se a estética e a cultura alternativa gerada pelos hippies,
em parte virou ―moda‖ para o consumo global a essência de
suas propostas de ruptura com o sistema e a cultura dominante
influenciaram também novas formas de sociabilidade geradas a
partir daquele momento‖. (PIMENTA E SILVA, 2009).
Lévy (1998) expõe que a tecnologia e a sociedade viveram uma espécie de
―mistura‖, da qual não dependeu exclusivamente da massificação tecnológica, visto que:
―[...] a tecnociência produziu tanto o fogo nuclear como as
redes interativas. Mas o telefone e a internet ―apenas‖
comunicam. Tanto uma como os outros construíram, pela
primeira vez neste século de ferro e loucura, a unidade
concreta do gênero humano. [...] Nem a salvação nem a
perdição residem na técnica. Sempre ambivalentes, as técnicas
projetam no mundo material nossas emoções e, intenções e
projetos. Os instrumentos que construímos nos dão poderes
mas, coletivamente responsáveis, a escolha está em nossas
mãos‖. (LEVY, 1998)
P á g i n a | 20
Desta forma, encaramos a tecnologia apenas como uma ferramenta tecnológica de
uso social (Lemos, 2002). Neste contexto, tendo esta como base, surgem novas formas de
interação e novos sentidos entre os mais diversos atores sociais, proporcionando novas formas
de sociabilidade. E dentro deste ciberespaço, constitui-se a cibercultura, compatível com os
novos padrões e formas de sociabilidade comuns a este espaço.
De acordo com Lemos (2009), a cibercultura então pode ser considerada como a
representação da própria cultura contemporânea que vivemos, como uma evolução natural da
cultura tecnológica. A tecnologia então, anteriormente tida como algo ruim, perigoso –
considerando que para alguns críticos do contexto atual da cibercultura, resulte, hoje, em uma
―desconfiguração‖ dos indivíduos em identidades fragmentadas em um espaço virtual - pode,
também, apresentar novas possibilidades de interação e socialização que vá além das
caracterizações negativas impostas por alguns teóricos. Porém, este dito ciberespaço não pode
ser encarado apenas como um ―local‖ para que grupos mobilizatórios e de caráter político o
utilizem como se este fosse totalmente livre e desprendido de regras sociais e apreender e
divulgar ideologias contra o poder dominante – denominado de ―sistema‖. Para Pimenta e
Silva (2009), isto fica bem claro, pois a cibercultura não pode ser considerada a promoção de
um lugar comum para que os atores sociais apenas troquem informação; mas sim transportem
e ampliem a discussão através da reunião em grupos de assuntos em comum (p. 2).
Para termos ideia do impacto que esta abrupta realidade teve na sociedade em geral,
a primeira conexão com a internet de forma mais próxima como a que conhecemos hoje foi
feita no Brasil em 1991, para fins educacionais. Desde então, a velocidade que estas
mudanças subsequentes em conjunto com o crescimento e a imersão da cibercultura
imprimiram no cotidiano evoluíram e/ou mudaram nosso modo de percebê-lo, individual e
coletivamente. Na última década, com a popularização de aparatos tecnológicos como
smartphones, tablets, etc. e com a crescente modernização e disseminação das redes wi-fi, este
cotidiano transmutou-se: a forma de relacionamento social e de comunicação não só ganhou
novos canais, mas também novos significados. No panorama atual, é possível estar em um
lugar virtual e fisicamente ao mesmo tempo, do mesmo modo que podemos estar em um lugar
físico e em outro lugar virtual extremamente distante do primeiro fisicamente. São realidades
que se complementam, nunca se anulando (LEMOS, 2009).
Lemos propõe uma visão integradora de forma suscinta:
P á g i n a | 21
Neste sentido, se a modernidade pode ser caracterizada como uma forma de
apropriação técnica do social, a cibercultura será marcada, não de modo
irreversível, por diversas formas de apropriação social-midiática (micro-
informática, internet e as atuais práticas sociais [...] da técnica. (LEMOS,
2009, p. 13).
1.3 E NO BRASIL...
A cada dia, percebemos que o número de conexões no Brasil cresce
assustadoramente, uma vez que as empresas de telecomunicações oferecem e atualizam
serviços, com maior taxa de transferência de dados, conexões 4G, mais estabilidade, dentre
outros parâmetros. De acordo com o IBGE4, no Brasil, segundo a Associação Brasileira de
Telecomunicações, a Telebrasil, o número de acessos à internet chegou a 122,4 milhões em
outubro deste ano, com um crescimento de 43% em relação a outubro do ano anterior.
Segundo a Telebrasil, ―37 milhões de novos acessos foram ativados nos últimos doze meses e
em 2013 o ritmo de ativação está sendo de 1,4 nova conexão por segundo.‖5
O constante crescimento do número de vendas de dispositivos portáteis como tablets
e smartphones aliados a planos de conexão de dados de baixo custo dinamizam e expandem o
leque de opções a usuários; mesmo assim, o Brasil está longe de ser um país completamente
interligado à rede mundial, conforme as tabelas abaixo (TIC 2013):
Tipo de Conexão Total dos Usuários
TV a cabo 37%
3G 21%
xDSL 19%
Rádio 10%
Discada 7%
Satélite 2%
Não sabe/Não respondeu 8%
4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
5 Conforme pesquisa publicada em http://www.telebrasil.org.br/sala-de-imprensa/na-
midia/4971-acesso-a-banda-larga-cresce-43-em-12-meses. Acesso em nov/2013.
Tabela 1 – Dados sobre conexão e número de usuários no Brasil - 2013
Fonte: TIC – CTIC / Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR
P á g i n a | 22
A divisão por velocidade é a mostrada na tabela a seguir.
Velocidade da Conexão Total dos Usuários
Até 256 kbps 9%
Acima de 256 kbps até 1 Mbps 18%
Acima de 1 Mbps até 2 Mbps 18%
Acima de 2 Mbps até 4 Mbps 9%
Acima de 4 Mbps até 8 Mbps 7%
Acima de 8 Mbps 14%
Não sabe/Não respondeu 26%
A referida pesquisa ainda afirma que em média 40% dos domicílios brasileiros têm
acesso à Internet. Devemos assim concluir que estes dados influenciam não somente o nosso
pensar sobre a estrutura, que reflete diretamente nos mecanismos e como se estrutura
socialmente as tecnologias; as redes 3G e 4G, que permitem acesso à internet quando
contratado tal serviço, tiveram crescimento médio de 54% em relação ao mesmo período do
ano passado, com 100,8 milhões de conexões. Isto representa, de acordo com a Anatel,
37,34% do total (37,34% de 269,92 milhões). Quanto à natureza dos dispositivos de acesso,
dos 100,8 milhões afirmados acima, 85,6 milhões (39,56% do total de conexões celulares) são
conexões de celular, incluindo os tão citados smartphones. Conexões através de modens de
acesso e outros tipos de dispositivos somam 15,2 milhões. (CTIC, 2012).
1.1.1 Conexões fixas
―Na banda larga fixa – residências e comerciais, os acessos somaram 21,6 milhões
em outubro, equivalente a cerca de 35,5% das residências do país, e 39% dos domicílios
urbanos. Desse total, 1,7 milhão de conexões foram ativadas nos últimos doze meses, com
crescimento de 11% no período‖. (CTIC, 2012). Pode-se então afirmar que o pelo fato do
suporte físico ter aumentado de capacidade, e estar disponível, os atores sociais irão cada vez
incorporar este benefício ao seu cotidiano social, alterando assim o fluxo nas redes sociais, na
Fonte: TIC – CTIC / Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR
Tabela 2 – Velocidade de conexão e número de usuários no Brasil – 2013
P á g i n a | 23
produção e disseminação de conteúdos, e no alcance geográfico que este conteúdo terá, além
de sua influência na rotina social (CASTELLS, 2000).
1.4 NOVAS FORMAS DE CONEXÃO – AS ―REDES‖
A sociedade vivencia ao inicio do século XXI o desenvolvimento tecnológico
refletindo na popularização dos microcomputadores, motivando o surgimento da era da
computação social (web 2.0). Essa computação social colabora com a prática de
compartilhamento através das redes telemáticas mundiais ou inteligência coletiva,
modificando o ritmo de vida das pessoas. Logo os processos sociais e as tecnologias ditam as
transformações culturais, sociais e políticas.
A comunicação na contemporaneidade neste contexto é vista como uma ferramenta
multifacetada na configuração da sociedade, mudando conceitos, reorganizando culturas e
agregando valores. Esta ferramenta tem sido responsável por reconfigurações de ordem
temporal, geográfica e ideológica em um fluxo alto e em diferentes níveis. Porém, não se
pode analisar somente como fato puramente dependente da tecnologia, apesar de ser muito
marcada pela mesma, como alerta Lemos (2005).
O que classifica de forma muito sintética o mecanismo de redes para um
entendimento rápido é o caráter colaborativo que caracteriza as redes, sejam elas virtuais ou
físicas. No conceito de Manuel Castells, vivemos uma nova forma de sociedade: a sociedade
em rede, globalizada e interconectada de forma dinâmica. Ele mesmo afirma que o termo
globalização ―é outra maneira de nos referirmos à sociedade em rede, ainda que de forma
mais descritiva e menos analítica do que o conceito de sociedade em rede implica‖. (Castells,
2005).
Com o surgimento das novas ferramentas comunicacionais virtuais – onde as redes
sociais são consideradas uma categoria -, tecnologias como conexões de alta velocidade
(banda larga) e a facilidade de interação social entre pessoas (transpassando até mesmo a
distância física) reconfiguraram espaços virtuais até então utilizados com intuito apenas
comunicacional para persuadir, expor ideias, criticá-las, ampliar e dinamizar a possibilidade
de interação entre os seres humanos, sincretizando várias culturas e linguagens – ou até
P á g i n a | 24
mesmo criando novas. Estamos vivendo profundas modificações nas formas sociais e nas
práticas da chamada cibercultura.
Sabendo que o advento da internet trouxe diversas mudanças para
a sociedade, visto que é possível a construção de laços sociais
através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador
(CMC). (RECUERO, 2009).
Quando se analisa o paradigma atual com o conceito de rede (Figura 1) como nova
forma de conexão, é preciso especificar que o conceito de sociedade em rede é bastante
antigo; o que se aborda – de forma generalizada - aqui é uma nova forma de pensar na
coletividade interconectada através de laços tecnológicos, em tempo real, de forma global.
Lemos (2000) afirma que a cibercultura é a própria cultura marcada pelas tecnologias digitais.
A facilidade e a praticidade que a tecnologia imprimiu a estes conceitos expandem
suas formas de significação. Porém, não se pode afirmar que pelo fato de estarmos em um
tipo de sociedade em redes, que todas as pessoas usufruam de igual número de conexões ou
estejam obrigatoriamente interligadas. O conceito de sociedade em rede é abrangente dentro
de suas limitações, pois a disponibilidade de ferramentas pode acabar resultando em um
Figura 1 – Diagrama de Baran: exemplo de diagrama de redes
Fonte: SALIMON, Mário (2010) apud BARAN, Paul (1964)5
P á g i n a | 25
―darwinismo tecnológico‖. Portanto é preciso considerar os contextos analisados para não
tecer paradigmas incongruentes.
Sendo assim, desmistificam-se algumas ideias equivocadas a respeito de sociedades
em redes: apesar da tecnologia e do acesso à mesma, não se pode definir sua capacidade sem
observar a forma como se utilizam da tecnologia, quais os parâmetros sociais e estruturais das
mesmas. Não é a tecnologia que define a rede, e sim o contrário.
6Para a Sociologia, o conceito de redes possui metáforas para identificar e visualizar
de forma mais apurada a rede analisada. Os nós de uma rede são os atores sociais desta,
sendo os traços que os ligam as conexões entre estes atores, podendo ser de um para um, um
para todos, ou de todos para todos (RECUERO, 2009).
A necessidade de articulação social de forma interconectada vem da própria
reafirmação dos atores sociais, conscientes de seu papel não mais passivo, mas a possibilidade
de viver uma experiência de sociabilidade duplamente. Aquele que produz também distribui e
consome conhecimento, num fluxo intenso e interligado. A possibilidade de articulação de
ideias e compartilhamento – antes restrita a diversos parâmetros - agora se constitui como a
bandeira do modelo de sociedade contemporâneo. Ou seja, para haver o acompanhamento das
evoluções tecno-científicas, há de existir também uma reconfiguração social física e
estrutural. Segundo Himanen e outros (2005), existem 10 categorias de
comportamento/factuais onde se podem identificar tendências globais da evolução social:
Aumento da competitividade internacional nos impostos
A nova divisão global do trabalho
Envelhecimento da população
Pressões crescentes na sociedade do bem-estar
A segunda fase da sociedade da informação
A ascensão das indústrias culturais
A ascensão das bioindústrias
Concentração regional
6 Imagem disponível em http://blogs.mariosalimon.com/jorn/wp-content/uploads/2010/04/toolbox_diagrama-
de-baran.png. Acesso em nov/2013
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Uma divisão global mais profunda
A propagação de uma ―cultura de emergência‖
Das tendências que podemos observar de forma mais óbvia, vale ressaltar a ―pressão
crescente‖ na sociedade, as modificações nas ―relações globais de trabalho‖ – principalmente
em tempo onde empresas como o Google, Facebook e Yahoo não obedecem a horários
comerciais, nem concentram todos os seus funcionários num mesmo espaço físico -, a
―ascensão‖ das indústrias culturais e a ―divisão global‖ de forma mais profunda. A
reconfiguração e o avanço tecnológico fazem com que haja, mesmo que de forma indireta –
mas não menos efetiva – uma mudança nos costumes, nos espaços físicos e nas relações dos
atores sociais e nas sociedades onde se encontram inseridos.
1.5 REDES SOCIAIS ENQUANTO MÍDIA
O simples fato de existirem atores sociais interconectados através da tecnologia
estabelecendo relações de troca, já configura um ambiente de rede social:
―Quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e organizações, é
uma rede social.‖ (GARTON, HAYTHONTHWAYTE e WELLMAN, apud
RECUERO, 1997).
Mesmo havendo a necessidade de compartilhamento e troca de conhecimento,
pensamentos e sentimentos entre indivíduos, as redes sociais enquanto ferramentas midiáticas
criaram novos paradigmas para a reestruturação social que a globalização trouxe.
“Redes sociais tornaram-se a nova mídia, em cima da qual informação circula, é
filtrada e repassada; conectada à conversação, onde é debatida, discutida e, assim,
gera a possibilidade de novas formas de organização social baseadas em interesses
das coletividades‖. (LOPES apud RECUERO, 2011, pg. 15).
A chamada ―rede social‖ trata-se de um conjunto formado por diferentes grupos que
partilham entre si de valores e informações se conectando através de seus interesses. Essa rede
social se torna virtual a partir do momento que é mediada pelo computador e usa-se de
ferramentas de comunicação para conectar esses grupos de indivíduos.
P á g i n a | 27
Como afirma Recuero (1997), ―A grande diferença entre sites de redes sociais e
outras formas de comunicação mediada pelo computador é o modo como permitem a
visibilidade e a articulação das redes sociais, a manutenção dos laços estabelecidos no espaço
off-line‖. Porém, dentro desta perspectiva positivista, é que com a evolução tecnológica de
forma efêmera, Johnson (2001) exprime sua incerteza quanto ao futuro das redes sociais de
forma mais apocalíptica, quando afirma que:
―Há alguma coisa errada na escala da experiência, e não podemos deixar de temer
que o problema vá só se agravar à medida que nossos ambientes virtuais forem se
tornando mais profusos, mais realistas.‖ (JOHNSON, 2010, p. 70).
A ligação proporcionada pelas redes, independente do objetivo que se tenha,
profissional ou entretenimento, é utilizado da mesma maneira em todas suas variações, já que
o objetivo principal é o compartilhamento de informações, conhecimentos, ideias de acordo
com o interesse de seus atores. Os sites de redes sociais aumentam significativamente as
conexões sociais online, que não necessariamente são as mesmas das conexões offline.
1.6 AS RELAÇÕES NAS REDES SOCIAIS
O conceito de redes sociais é tão abrangente que, para um maior direcionamento do
conhecimento, de acordo com Recuero a partir de Johnson (2001) podem ser analisadas de
acordo com certas propriedades:
a) Grau de Conexão - Basicamente o quantitativo de conexões que um determinado
nó (como um perfil no Facebook) possui na rede. Informação de suma
importância para se determinar a relevância do perfil em relação à rede e vice-
versa;
b) Densidade - caracteriza a profundidade das relações descritas acima, mensurando
a relação conexão / conexões suportadas. Uma rede densa possui interligações
entre seus nós de forma profunda;
P á g i n a | 28
c) Centralidade - Esta propriedade seria como a mensuração da popularidade e/ou
relevância de determinado nó/perfil com relação aos outros na rede. Quanto mais
central este nó for, mais ele se encontra próximo de outros nós na rede. Importante
para verificar a relação e existência de grupos fechados e em redes bastante
conectadas (Recuero, 2009, p.74) – como ocorre com o Facebook. Scott, citado
por Recuero (2009) afirma que a medida desta propriedade é importante para
indicar um perfil que é essencial para que a informação circule na rede – quanto
maior, mais centralidade ele possui;
d) Centralização - Muitas vezes confundida com a propriedade acima. Numa
simplificação, pode-se afirmar que ‗centralidade‘ mensura os nós, e a
centralização mensura a rede, de modo mais ―macro‖. Importante salientar como
nos exemplos dados acima, que aqui podemos continuar a analogia ao Facebook,
desta forma referindo a grupos – como o coletivo de perfis, neste caso – e a
negociação dos mais variados valores e relações entre os vários grupos na rede.
Esta propriedade fará mais sentido adiante;
e) Multiplexidade - A variação de relações e trocas dentro das conexões sociais,
entre perfis e grupos, pode ser mensurado pela multiplexidade. Recuero (2009)
cita um exemplo importante:
Imaginemos, por exemplo, que um determinado ator A utiliza o Orkut, o Google
Talk e o Twitter para manter uma conexão com o outro ator B. Essa variedade de
plataformas poderia indicar uma multiplexidade do laço. Outra forma de
compreender a multiplexidade pode vir da identificação de diferentes tipos de capital
social7 nas interaçòes entre esses atores, também. (RECUERO, 2009. P. 77-78);
Porém, é importante salientar que as redes sociais na internet possuem e imprimem a
dinâmica e a emergência do nosso mundo globalizado. Sendo assim, não são instituições
estáticas (Recuero, 2009), mas sim dinâmicas e multifacetadas, fazendo com que sua estrutura
se inter-relacione e de certa forma dependa das relações e diferentes trocas entre os atores
sociais desta rede.
7 Capital Social é uma forma de troca de valores entre os atores das redes sociais. O tópico será abordado com
maior detalhamento mais adiante.
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Estas relações, por possuírem comportamentos coletivos, descentralizados, aonde o
sistema social em que os atores se encontram – neste caso o mundo físico – irão tender a
exibir os mesmos comportamentos na mesma dinâmica no físico e no virtual (RECUERO, p.
80). Para melhor compreensão, a autora destaca certos aspectos da dinâmica nas redes sociais:
a) Cooperação - A cooperação é um aspecto fundamental na composição de redes,
pois, se não houver uma organização de atitudes visando cooperação, não haverá
sociedade, nem agir social;
b) Competição - O termo por si só já tem uma historicidade associada à disputa, à
medição de forças de dois elementos diferentes. A competição pode gerar
cooperação entre membros de grupos e/ou entre grupos sociais. Geralmente
associado à lutas, mas não à hostilidade. Esta última pode ser associada ao
―conflito‖ – termo antagônico ao primeiro aqui explanado;
c) Conflito - Geralmente associado à confusão, discordância de ideias. É importante
observar que ―conflito‖ e ―competição‖ só são separados de forma clara em
teoria. Além disso, o conflito não pode ser associado à ruptura ou a associações
unicamente destrutivas à estrutura social, pelo fato de não ser um aspecto isolado
dentro da rede;
Os aspectos acima listados, apesar de possuir certa densidade em suas associações e
significados, se tornam de fácil visualização quando atuam juntos na prática. Cooperação,
conflito e competição podem coexistir dentro de uma mesma relação entre atores sociais, em
diferentes níveis e por muitas vezes fundidos. A separação teórica se fez necessária porque
―auxilia a compreender os efeitos dessas interações sobre a estrutura de determinadas redes
sociais.‖ (Recuero, 2009. p. 82). Além disso, existem outros valores citados como: auto-
organização, agregação, adaptação - valores estes inerentes ao mecanismo social, não só fruto
das diferenças entre personalidades dos atores sociais, mas característico dos diferentes níveis
que eles possuem e das relações que estabelecem.
P á g i n a | 30
1.7 FACEBOOK
1.7.1 Pequeno histórico
Criado em Fevereiro de 2004, esta rede social8, desde seu início, tinha como objetivo
a troca de informações, vídeos ou fotos e a possibilidade de se encontrar pessoas. Seus
fundadores: Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, ex-alunos da Universidade
de Harvard, inicialmente implantaram apenas pra quem fazia parte da universidade.
―Eles o chamaram thefacebook.com, e logo o site se tornou extremamente popular
no campus de Harvard. Um mês após seu lançamento, os criadores o expandiram
para incluir estudantes de Stanford, Columbia e Yale. Em 2005, os estudantes em
800 redes universitárias ao longo dos Estados Unidos podiam se unir à rede, e a sua
filiação cresceu para mais de cinco milhões de usuários ativos. Em agosto do mesmo
ano, o nome do site mudou para Facebook.‖ 9
Antes o site era restrito a estudantes universitários – até meados de 2006. Hoje
qualquer pessoa pode efetuar o cadastro gratuito e usufruir das vantagens da rede.
O website já atingiu cerca de 750 milhões de usuários, conseguindo integrar
praticamente toda a internet (sites, blogs, portal de vídeos, etc), e está entre os sites mais
acessados de todo o mundo.
Diferente de seus concorrentes, o Facebook permitiu a interatividade em tempo real de
forma mais dinâmica, pois a ferramenta permite que perfis sejam marcados em postagens –
texto, imagens – e possui um feed10
de notícias constantemente atualizadas de forma
automática, o que permite que o usuário saiba em tempo real de vários acontecimentos
8 Referenciamo-nos ao Facebook como site, pois o conceito de rede social – já exposto anteriormente – é
executado pelos atores sociais através das ferramentas disponíveis pelo site. Sendo assim, apenas uma
ferramenta e não a rede social em si. Porém, desde então consideraremos o termo ―Facebook‖ como sinônimo de
rede social, numa espécie de Metonímia.
9 fonte: http://informatica.hsw.uol.com.br/facebook.htm. Acessado em set/2013.
10 Feeds são usados para que um usuário de internet possa acompanhar os novos artigos e demais conteúdo de
um site ou blog sem que precise visitar o site em si. Sempre que um novo conteúdo for publicado em
determinado site, o "assinante" do feed poderá ler imediatamente.
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referentes aos perfis conectados à sua rede (perfis e páginas com os quais possui vínculo). A
cada evolução, o Facebook foi se ajustando e se tornando uma ferramenta acessível. Também
foram desenvolvidos aplicativos para as plataformas iOS, Android, Windows Phone e Java-
based11
Atualmente, o Facebook possui grande valor de mercado enquanto plataforma e uma
visibilidade assustadora no cotidiano da mídia tradicional e no convívio social.
11 iOS, Android, Windows Phone e Java Based são sistemas para dispositivos móveis (celulares, smartphones,
tablets) respectivamente da Apple (iPhone, iPad), Samsung (e vários outros fabricantes como Motorola e Sony
Ericsson), Celulares Nokia (sériem Lumia) e outros aparelhos com suporte a Java.
Figura 2 – Aparência do Facebook em 2004 e 2006
Fonte: http://www.imagenshistoricas.com.br/historia-facebook-imagens/
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1.7.2 Como funciona?
Quando foi fundado, o acesso ao Facebook era restrito à universidade de Harvard,
como forma de inter-relacionar os alunos da Universidade, além de facilitar o
Figura 3 – Aparência do Facebook em 2007 e 2009
Fonte: http://www.imagenshistoricas.com.br/historia-facebook-imagens/
Fonte: http://www.imagenshistoricas.com.br/historia-facebook-imagens/
Figura 4 – Aparência do Facebook em 2009 e 2012
P á g i n a | 33
compartilhamento de informações referente às atividades acadêmicas, o favorecimento do
capital social, a promoção de eventos – como encontros - e o estímulo de relações
interpessoais. (Rosa, Santos apud Kirkpatrick, 2011).
Atualmente, o usuário acessa o endereço www.facebook.com, onde se depara com
uma página inicial contendo o campo de login12
– para os usuários já cadastrados – e um
pequeno formulário – contendo Nome, Sobrenome, E-mail, Senha de Acesso, Data de
Nascimento e Gênero. O simples preenchimento do mesmo já garante o acesso ao site através
de um perfil básico. Após esta primeira etapa, o usuário poderá personalizar seu perfil com
seus dados nas mais variadas categorias, como Escolaridade, Último emprego, tipo de
relacionamento, etc.
Dentro do site, o usuário então pode iniciar buscas através da sua lista de contatos
por e-mail, nome, ou outra característica através do campo de busca do Facebook, e assim
escolher os perfis aos quais deseja se filiar, ou conectar – encontrar amigos, parentes, etc.
12 A palavra ―Login” significa ―o processo através do qual o acesso a um sistema informático é controlado
através da identificação e autenticação do utilizador através de credenciais fornecidas por esse mesmo utilizador.
Essas credenciais são normalmente constituídas por um nome de utilizador ou apenas utilizador (do inglês
username) e uma palavra-passe ou senha (do inglês password).‖ (Fonte: Wikipedia)
Figura 5 – Aparência da página inicial do Facebook – Formulário de inscrição
Fonte: http://www.facebook.com
P á g i n a | 34
1.7.3 Dados recentes
Nos últimos anos, com a ascensão meteórica do Facebook de ferramenta à parte do
cotidiano social, os dados sobre o site têm sido reveladores. De acordo com a pesquisa mais
recente do Digital Insights13
:
Mais de 1,5 bilhões de usuários;
751 milhões de usuários acessam o Facebook a partir de rede móvel com 7.000
dispositivos diferentes;
Há mais de 10 milhões de aplicativos para Facebook até agora;
23% dos usuários do Facebook verificam a sua conta mais de cinco vezes por dia;
74% dos comerciantes acreditam que o Facebook é importante para a sua
estratégia;
350 milhões de fotos são carregadas a cada dia;
Uma publicação recebe até 75% do seu total de acessos em suas primeiras 5 horas
depois de publicada;
Há mais de um bilhão de visitantes únicos mensais no Youtube;
4,2 bilhões de pessoas usam dispositivo móvel para acessar sites de mídia social;
Mulheres conferem a página social de uma marca com mais frequência do que os
homens;
Mais de 23% dos comerciantes estão investindo em blogs e mídias sociais;
Cerca de 46% dos usuários da web se voltam para as mídias sociais para fazer a
compra;
13 Disponível em http://socialmediatoday.com/sites/socialmediatoday.com/files/social-media-2013_0.jpg.
Acessado em nov/2013. Traduzido pelo autor.
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60% dos consumidores diz que a integração de mídia social torna-os mais
propensos a compartilhar produtos e serviços.
1.7.4 Características
O Facebook, por possuir uma representatividade mundial muito forte – se comparado
com concorrentes do mesmo gênero - além de uma representatividade no cotidiano brasileiro,
tem atraído os mais diversos perfis de usuários e empresas, dadas a dinâmica e versatilidade
que o site possui: jogos, aplicativos, ferramentas de gerenciamento de conteúdo, de
visualização de conteúdos.
1.7.5 Facebook, Capital Social e a Negociação de Identidades.
Dentro da perspectiva de redes, pode-se supor que toda relação, grosso modo, é uma
troca. Mesmo que sejam valores intangíveis, ou de categorias diferentes, atores sociais sempre
estão a permutar, como parte da própria sociedade. Esta troca pode se dar com o espaço, com
os atores sociais do espaço, e com os dois ao mesmo tempo. Como explanado anteriormente,
existem aspectos dinâmicos nas relações sociais que devem ser observados, a exemplo da
cooperação e do conflito – vistos anteriormente. Essas dinâmicas propiciam aos atores sociais
negociações não baseadas em valores financeiros, mas sim em permuta de valores. Castells
(2005) apud Putman percebe o termo capital social ―como características da vida social —
redes, normas e confiança — que permitem aos participantes agir mais eficientemente na
prossecução14
de objetivos comuns que favoreçam a cooperação entre eles.‖ (p. 287)
Os atores decidem suas interações nessas redes sociais com base nos valores
percebidos nessas trocas (Recuero, 2009). Esses valores são compreendidos como o acesso ao
capital social construído na rede. O conceito de capital social é frequentemente associado aos
14 s.f. Pouco usual. Ação ou efeito de prosseguir (continuar); dar continuidade a; prosseguimento: dar
prossecução ao procedimento cirúrgico; O mesmo que andamento, continuação, prosseguimento. (disponível em
http://www.dicio.com.br/prossecucao/ acesso em nov/2013)
P á g i n a | 36
valores que circulam nas redes sociais e que são percebidos pelos atores que fazem parte dela.
Assim, o capital social é um conceito que possui um duplo aspecto, coletivo e individual, uma
vez que é um valor coletivo (RECUERO apud PUNTAM, 2000).
Em uma primeira análise, para que não haja confusões quanto à utilização dos termos
sociológicos15
, uma definição do termo ―capital social‖ aceita é de que este seria composto
por uma série de valores gerados a partir da percepção que um grupo de usuários cria de outro
determinado usuário – no caso do Facebook. Neste caso, quando um perfil passa a tecer
comentários pertinentes, compartilha conteúdos de qualidade, possui influência percebida,
popularidade, dentre tantos outros atributos, ele permeia uma negociação invisível com os
grupos aos quais pertence e com sua rede. Ou seja, ser eficiente e consistente em suas
interações dá ao perfil uma audiência, uma popularidade (ROSA; SANTOS, 2013).
Quando se percebe o potencial das redes sociais como uma extensão de seus contatos
sem as limitações físico-espaciais, podem-se ascender perfis até então desconhecidos em
referências, aumentando seu grau de influência dentro da rede. Exemplos disso são as
―celebridades do Facebook‖: termo usado para descrever perfis que possuem laços com
diversas pessoas por causa de sua influência e relevância em certo assunto e/ou rede de
contatos.
Negociação de identidades
Quando o usuário cria seu perfil no Facebook, de modo subjetivo ele procura pessoas
com afinidades pessoais, profissionais, intelectuais, culturais, etc. para se conectar – fazer
parte de sua rede. Este processo desencadeia a Negociação de identidades, mesmo que de
modo subjetivo e inconsciente. As postagens que cada um faz – texto, fotos, vídeos, links, etc.
– para criar sentido e agregar valores à percepção identitária de seu perfil, numa espécie de
manutenção, configura basicamente uma situação de negociação de identidade.
15 Nomenclaturas como atores sociais, redes, são termos da Sociologia. Neste caso, ―é um ator social quando ele
representa algo para a sociedade (para o grupo, a classe, o país), encarna uma idéia, uma reivindicação, um
projeto, uma promessa, uma denúncia. Uma classe social, uma categoria social, um grupo podem ser atores
sociais.‖ SOUZA, H. J. Como se faz análise de conjuntura. 11a ed. Petrópolis: Vozes, 1991. 54p
P á g i n a | 37
As características identitárias (características e traços de personalidade) de um ator
social – no caso, o usuário do Facebook – podem ser ocultadas, dissimuladas ou manipuladas.
Sendo assim, este usuário passa criar e sustentar uma imagem projetada por ele, como uma
imagem ideal. De certa forma, este tipo de manobra facilitaria – em tese – a recriação da
imagem deste perfil. Marra e Rosa (2013) define que ―a elaboração de perfis equivale a um
exercício de si próprio, onde o usuário experimenta novas formas de ser em sites como
Facebook‖. Considerando os eventos recentes envolvendo redes sociais, é de considerar que
grande parte dos usuários experimentam repentinas mudanças de seus traços identitários,
como se possuíssem uma espécie de ―inconstância‖ na manifestação de sua personalidade: ou
seja, em determinado momento e/ou determinado grupo, traços de sua personalidade podem
criar por partes dos outros integrantes sentimentos como indiferença, rejeição e discordância.
Então, como forma de recriar ou reinventar sua imagem perante seu grupo, oculta, modifica
ou dissimula determinados traços de sua identidade percebida, como forma de reverter tal
situação.
Vemos então que o real nunca se mostrou algo de fácil delimitação. As situações
sociais geram sentimento de expectativa dos dois lados da relação, levando os atores sociais
(usuários) a negociar suas identidades através ―da seleção de caracteres (traços e
características identitárias) [...] que serão expressos, dissimulados [...] por meio da
representação.‖ (Marras e Rosa; Santos, 2013, p.48). b
Vários autores culpam as referências socioculturais e a pós-modernidade associadas
às possibilidades e manipulações tecnológicas como agravantes deste panorama. Baudrillard
(1999) afirma que a tecnologia seria uma espécie de comprometedora do caráter identitário. Já
Levy (2002) e Lemos (2009) em suas respectivas obras unificam a tecnologia à manutenção
da identidade do ator social.
Já Castells (1999b) predizia:
Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades
múltiplas. No entanto, essa pluralidade é fonte de tensão e contradição tanto na
autopresentação quanto na ação social (CASTELLS, 1999b, p.22).
Considerar as suposições acima se faz necessário pelo simples fato de esclarecer
acontecimentos e percepções que, enquanto usuários, percebemos no convívio da rede. As
interações virtuais, em pleno século XXI, ainda são elementos de uma atmosfera de dúvida e
P á g i n a | 38
receio quanto à veracidade do conteúdo. (Marras e Rosa; Santos, 2013, p. 33-37). Entender os
processos sociais que se desenvolvem junto com a própria rede quando da utilização da
ferramenta e dos recursos disponíveis nos faz pensar criticamente a atuação e os
posicionamentos dentro da dinâmica virtual.
1.8 CIBERATIVISMO NAS REDES
1.8.1 Mobilização e Ativismo
Há uma sutil diferença entre os termos mobilização e ativismo. O primeiro denomina
uma visão macro, mais subjetiva do evento social. Já o segundo, uma visão específica, com
ares de politização. O termo ―Mobilização‖, de acordo com o Dicionário (2008-2013):
1. Pôr(-se) em movimento. = MOVER, MOVIMENTAR ≠ IMOBILIZAR
2. Pôr(-se) em .ação ou em uso. = .ATIVAR, ENVOLVER ≠ DESMOBILIZAR
3. Incitar(-se) à participação. = MOTIVAR, IMPULSIONAR
("mobilização", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, http://www.priberam.pt/dlpo/mobiliza%C3%A7%C3%A3o [consultado em
30-11-2013]).
Aprofundando, segundo o Dicionário de Sociologia, ―A mobilização tenderia assim a
fundir cada indivíduo num ‗público social e político‘‖.
Já ―Ativismo‖ é definido sinteticamente:
1. Atitude moral que insiste mais nas necessidades da vida e da ação que nos
princípios teóricos. 2. Propaganda ativa do serviço de uma doutrina ou ideologia.
("ativismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
http://www.priberam.pt/dlpo/ativismo [consultado em 30-11-2013]).
Podemos considerar então, para efeito neste projeto, Mobilização enquanto ato de
motivação coletiva de atores sociais. Segundo Bernardo Del Toro16
, ―Mobilizar é convocar
vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido
16 Um dos mais importantes pensadores e autores sobre educação e democracia na América Latina. Frase
proferida na exposição realizada no I Seminário Internacional de Mobilização Social pela Educação – Interação
família-escola-comunidade, Fortaleza, 14 out. 2011.
P á g i n a | 39
também compartilhados.‖ Já o conceito de Ativismo pode ser usado para definir os atos –
físicos ou virtuais – que serviram para propagação das ideologias dos grupos mobilizados,
com maior força prática.
1.8.2 Diferença entre Ativismo e Ciberativismo
O ativismo social, desde os primórdios da vida em sociedade, sempre foi conjugada
como ferramenta ideológica de modificação do espaço social, através da agregação de vários
atores sociais que compartilham um mesmo ideal – não único, porém prevalecente – se
tornando agentes de transformação social. Nas últimas décadas, especialmente os anos 60 e
70, foram marcados por vários movimentos – lutas ideológicas, homossexuais, feministas,
liberalistas, onde a principal característica organizacional desses movimentos era a insistência
na autonomia e a recusa a qualquer hierarquia centralizada com líderes e/ou porta-vozes.
(Schieck, 2005).
Os ideais da Contracultura continuavam enraizados no imaginário coletivo, década
após década – afinal, aqueles que viveram as décadas supracitadas repassavam as histórias, as
ideologias e as atitudes através da educação a seus filhos, criando uma conservação oral dos
rastros desta contracultura.
O ativismo pode assumir a forma de protesto passivo, de greve, de desobediência
civil, de atos de repúdio, como é o caso da invasão de terrenos ou propriedades por parte de
instituições como MST17
, motins e, em caso extremo, o terrorismo e a guerra civil.
Para Pimenta e Silva (2009), a hipótese levantada sobre o ―ressurgimento‖ de traços
culturais de décadas passadas é como:
Revitalizar os preceitos de uma era e analisa-los sob a ótica atual, permitindo que a
cibercultura, antes de promover um espaço de ação para ativistas, também ofereça,
através de uma espécie de ―contra-informação‖, a possibilidade de discutir sua
amplitude para a esfera pública tradicional, faz com que a tecnologia não constitua
17 Movimento dos Sem Terra – Mobilização de agricultores, funcionários rurais.
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apenas um ―palco‖ para meras trocas simbólicas entre grupos e atores sociais que
busquem a identificação [...] mas que vá além: constitua a consolidação de novas
propostas, seja em socialização como na própria forma de referendar novas formas
de comunicação alternativa aos grandes conglomerados de informação que
estabelecem o modelo atual de sistema econômico e político, sem aberturas para
discussão e construção de uma nova sociedade. (PIMENTA E SILVA, 2009, p. 2-3)
A tecnologia e o movimento global, com a disseminação e o sincretismo de várias
culturas emergentes e subculturas – como o cyberpunk - criariam precursores para costumes
tão difundidos no ambiente virtual, como o movimento DIY18
. Schieck (2008) exemplifica
essa dinâmica estrutural com o advento das redes digitas – como a internet:
As redes digitais aprofundam as contradições do capitalismo cognitivo ao ampliar os
espaços democráticos da crítica, da criação cultural e da diversidade, abrindo espaço
para a emergência de uma esfera pública interconectada, com um potencial mais
democrático que a esfera pública dominada pelos mass media (SCHIECK apud
AMADEU, 2008: 31).
Seguindo a tendência evolutiva e os avanços sócio-tecnológicos, as redes sociais
virtuais então ganham uma nova função: o ativismo virtual. Pessoas que até então agiam de
forma isolada em áreas de pequena abrangência começam a utilizar os recursos destas
ferramentas comunicacionais virtuais para difundir suas ideias, na maioria das vezes em prol
de causas coletivas, de amplitude regional ou até mesmo global. Sendo assim, é evidente
afirmar que estas novas formas de comunicação rompem limites antes considerados
intransponíveis. As possibilidades são ampliadas e começa a surgir uma nova forma de pensar
o espaço comunicacional virtual. O que antes dependia de uma estratégia muito elaborada e
de uma logística planejada pode ser realizado quase que instantaneamente. Sendo assim,
Lemos (2010) pondera:
Pensar a ciberdemocracia do futuro deve partir do reconhecimento
dos rumos da democracia não apenas em uma sociedade de fluxo
massivo industrial informacional, mas em uma sociedade planetária
18 Sigla para Do It Yourself – elemento advindo da cultura punk e pós-punk (AMARAL, 2005, p.15). Costume
bastante disseminado em vídeo no Youtube e em blogs pela internet, onde as pessoas são orientadas a soluções
onde elas mesmas resolvam diferentes problemas.
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em que o fluxo massivo juntam-se funções pós-massivas pós-
industriais conversacionais. Hoje computadores e redes telemáticas
transformam-se em máquinas de comunicação, politizando a
informação. (LEMOS, 2010).
Apesar deste panorama favorável, aonde o hibridismo de culturas e as constantes
trocas nas redes sociais, a evolução e o convívio virtual vêm acompanhado de um otimismo
que é ponto de ruptura entre vários autores que abordam este assunto. Baudrillard (1999)
afirma que a realidade foi reconfigurada em uma simulação eletrônica dela própria – ou seja,
as impressões que possuímos da realidade são eliminadas por um mundo melhor só existente
na esfera virtual - perdendo assim a força da realidade. Já Nussbaumer (2005) apud Lemos
(2002a) referencia que ―a modernidade teria lançado e esgotado o sonho tecnológico,
enquanto ‗a forma ciber, ligada à dimensão das tecnologias micro-eletrônicas (digitais), vai
manter uma relação complexa com os conteúdos da vida social‘‖ (p. 20, grifos do autor). Ou
seja, é uma nova forma de experimentar o real (Lévy, 1999). É importante salientar que
consequentemente, com as evoluções e transformações da pós-modernidade, o aparato
tecnológico apenas serviu de canal para que a insatisfação social, a crítica ao sistema vigente
ganhasse novas vozes e formas, através das redes sociais virtuais. A mobilização e o ativismo
sempre fizeram parte do processo organizacional social e da sistematização mundial,
possuindo agora traços da virtualidade.
Com essa apropriação, o ativismo virtual deixou características mais aparentes de sua
forma mais primitiva. Com relação a esta interação mediada, Recuero (2008) salienta que
quando um usuário se conecta a um grupo, esta atitude não se faz somente para discussão de
ideias, organização e agendamento de eventos ou avaliação de propostas, mas serve como
uma identificação e afirmação de identidade por parte deste usuário.
1.9 TIPOS DE CIBERATIVISMO
O Ciberativismo possui diferentes formas de expressão, o que determina a forma
como as ferramentas são apropriadas para o uso social. Rebeca Freitas Cavalcante (2010), em
sua tese de mestrado, cita Vegh (2003) para explanar as três linhas nas quais o Ciberativismo
se desenvolve – considerando a internet, neste caso específico, o Facebook – como um
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organizador e mobilizador. De acordo com Vegh, estas linhas são: a chamada para uma ação
off-line; para uma ação off-line, mas que também obtém êxito online; e a chamada para ação
possível somente online. No caso específico do tema proposto, a primeira opção nos faz maior
sentido, uma vez que ―a primeira forma [chamada para ação off-line] inclui o convite para
atividades do movimento, enviado por e-mail ou sob a forma de aviso colocada no sítio (sic)
da organização.‖ (CAVALCANTE, 2010, p. 45). Este ciberativismo, mais comum, utiliza as
redes sociais como um grande centralizador de informações e contatos, dependendo das
relações entre atores sociais dentro da rede para amplificar o espectro de atuação – através de
compartilhamentos.
1.10 CIBERATIVISMO NO FACEBOOK
Sites de redes sociais virtuais como o Facebook – objeto escolhido para análise – não
modificou este panorama, mas segundo Schieck (2008) ela potencializou os recursos
disponíveis aos atores sociais, horizontalizando a relação entre eles, onde todos possuem igual
poder técnico de produzir, difundir, contestar e receber conteúdo. Além de encurtar as
distâncias e possibilitar a dinamização de debates, o Facebook – por possuir compatibilidades
com dispositivos móveis – facilita a atualização acerca de mobilizações e ações ativistas, além
da atualização em tempo real de informações pertinentes.
O ativismo no Facebook – aqui chamado de ciberativismo – é um dos
comportamentos refletidos do convívio social que mais evoluíram e ganharam adeptos dentro
da rede, além de ser considerado um dos tipos mais relevantes de comportamento dentro do
site de redes sociais. Mesmo com a restrição quanto ao conteúdo publicado19
- criando uma
―liberdade vigiada‖ (Schieck apud Breton, 2000), a facilidade que a ferramenta imprime fez
com que fosse natural e essencial a integração da mesma ao cotidiano dos ativistas. Vantagens
como a redução de custos de divulgação, a possibilidade de uma causa ganhar milhares de
19 O Facebook possui filtros inteligentes para textos e imagens feitos pelo próprio site, além de dispositivos que
possibilitam denúncias por parte dos próprios usuários da rede, de acordo com
https://www.facebook.com/help/370657876338359. (Acessado em novembro/2013)
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adeptos em instantes e o acompanhamento de publicações de outros seguidores impôs, de
certa forma, uma nova estética e dinâmica ao pensar político na sociedade. (Fig. 6).
2 ESTUDO DE CASO – MOVIMENTO BELÉM LIVRE / #VEMPRARUA
2.1 ONDE TUDO COMEÇOU
O aumento das passagens dos transportes públicos de São Paulo foi o estopim para a
eclosão de várias manifestações civis por todo o Brasil, fruto da indignação popular por
motivos mais profundos, como a corrupção ativa, a impunidade e o descaso das autoridades
com a legislação brasileira.
Este sentimento de repúdio e revolta contra o sistema vigente – traço característico
da pós-modernidade – começou a efervescer nas redes sociais e atos começaram a ser
planejados. No caso de Belém, a mobilização uniu-se para sair às ruas protestando por
Figura 6 – exemplo de postagem Ciberativismo
Fonte: Elaborado pelo autor.
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melhorias, especialmente na segurança pública e no trânsito da capital – as obras do BRT, que
estavam paradas desde o ano anterior. (G1, 2013).20
2.2 REUNIÃO DE PLANEJAMENTO DO ATO
O grupo do Facebook ―Movimento Belém Livre‖ foi o centralizador das reuniões em
Belém. O grupo marcou uma reunião, que foi difundida pelo Facebook, para que houvesse
uma organização da pauta: quais seriam as palavras de ordem, além de estipular trajetos,
táticas de defesa, entre outros assuntos pertinentes à mobilização em si. Os ativistas se
reuniram no anfiteatro da Praça da República, no centro de Belém, no dia 16 de junho de
2013. A reunião – intitulada "Não é por centavos, é por Direitos" foi divulgada através de
várias publicações e compartilhamentos – inclusive de pessoas não pertencentes ao grupo
―Movimento Belém Livre‖ – no Facebook. Em média, 10 mil pessoas confirmaram a presença
na passeata.21
O principal problema discutido foi sobre o trânsito belenense. Além deste foi
levantada a possibilidade de abordar outros problemas da cidade, de cunho social coletivo,
como o salário dos professores, transporte deficitário ou os problemas de saneamento e saúde
da capital paraense. Seguindo a influência da mobilização de São Paulo, a gratuidade do passe
livre estudantil foi consenso entre os participantes.
De acordo com o G1, portal de notícias online:
Na página da rede social, os organizadores dizem que "impulsionados pelas recentes
manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus pelo país, nós, belenenses,
também queremos ter um espaço para debater sobre as nossas questões, como por
exemplo o mal que mais têm nos atingido diariamente: o trânsito caótico na entrada
e saída de Belém, o BRT". (G1, 2013)22
20 http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/06/manifestacao-em-belem-reuniu-10-mil-pessoas-diz-policia-
militar.html acessado em 02/10/2013, 16hs)
21 De acordo com dados dos administradores do grupo ―Movimento Belém Livre‖, no Facebook.
22 Disponível em http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/06/reuniao-discute-mobilizacao-para-passeata-em-
belem.html. Acessado em 18, set. 2013.
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Das diferentes rotas para a passeata seguir, houve alternativas como passeatas por
diversas ruas de Belém; saída do bairro de São Brás até a Praça da República; saída do
Entroncamento até São Brás, dentre outros.
De acordo com o voto da maioria, a saída seria do bairro de São Brás até o
Entroncamento. No momento posterior, foi discutido se as pessoas deveriam seguir pela
própria Avenida Almirante Barroso ou se por dentro das vias asfaltadas do BRT23
. Apesar de
grande parte ter votado em fechar as vias, os manifestantes decidiram ocupar metade da via
apenas.
Foi levantada a possibilidade de repressão policial e que não deveria ser feita de
forma radical. Em coro, os presentes entoavam "sem violência". Por fim, discutiu-se o uso de
bandeiras de movimentos e partidos políticos durante a passeata. Decidido por grande parte
dos presentes no local, houve a entoação de frases como "sem partidos". Mesmo assim, foi
esclarecido para as pessoas que preferissem levar bandeiras e/ou camisas de partidos não
seriam reprimidas nem censuradas, tampouco impedidas de participar do ato.
2.3 O ATO EM SI – 17 DE JUNHO DE 2013
As mídias tradicionais apontaram um número presente de mais de 13 mil pessoas,
fato contrariado pelas organizações da mobilização – que afirmam um número superior. Os
manifestantes entoavam mensagens de protestos e cobravam pacifismo dos integrantes da
mesma. O ato durou em média 4 horas, percorrendo grande parte da cidade de Belém, onde os
manifestantes convidavam as pessoas que estavam observando nas vias e nos prédios ao
longo do trajeto para também participarem. O sincretismo dos protestos não impediu que o
mesmo acontecesse; pelo contrário, apenas fortaleceu o slogan ―não é por causa de 20
centavos!‖.
―Na reunião da passeata eu vi tanta gente, gente mais nova gente mais velha, que
militou nos anos 80 e resolveu aderir. É a primeira vez que tanta gente diferente sai
23 Bus Rapid Transit
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às ruas. Estamos de parabéns. A passeata pretende acordar as pessoas, para nos
darmos conta de que podemos fazer algo. A primeira coisa é ir para as ruas, porque
quem deveria fazer por nós que são os políticos não fazem. A partir daí, cada grupo
reivindica uma pauta específica, mas acordar é o primeiro passo. Podemos mudar‖
(citação na matéria do jornal )24
Um dos fatos marcantes da passeata foi a entoação de um jingle de campanha
publicitária da marca de carros Fiat – feita para a Copa das Confederações deste mesmo ano -
foi transformada em mote da passeata. Os presentes entoavam a plenos pulmões ―vem pra rua,
vem pra rua!‖ – utilizando o refrão do jingle para fazer alusão ao fato das pessoas que
compartilhavam suas insatisfações e seus ideais de mudança apenas nas redes sociais
deixassem âmbito virtual para participarem fisicamente da passeata.
De acordo com o G1, os presentes manifestantes se uniram e entoaram: "Eu pago,
não deveria. Transporte público não é mercadoria!" (G1, 2013). Várias instituições como o
Corpo de bombeiros, policiais civis e militares, além de instituições de saúde, como o Serviço
Móvel de Urgência e Emergência (SAMU) estavam presentes no protesto.
Ao fim do trajeto, um carro de som que seguia junto aos manifestantes orientando a
passeata leu as reinvindicações acordadas no dia anterior e estimulou a entoação de várias
palavras de protesto, antes de todos os presentes dispersarem, dando fim ao protesto.
2.4 O GRUPO DO FACEBOOK ―MOVIMENTO BELÉM LIVRE‖
O grupo responsável pela pré-reunião, bem como divulgar os ideiais e informações
úteis à mobilização foi formado há mais de cinco meses, tendo cinco administradores como
seus mediadores, a saber: Jorge Andre Silva, Victor Hugo Rocha, Santa Suellen e Robson
Fernandes. Como é um grupo fechado, as solicitações de novos usuários só podem ser
aprovadas por um destes administradores.
24 Citação na matéria do jornal online G1, disponível em
http://m.g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/06/manifestacao-em-belem-reuniu-10-mil-pessoas-diz-policia-
militar.html
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O grupo possui áreas diversas áreas, para maior interação com os usuários e um
espaço comum de compartilhamento de informações, como:
a) Área de Membros
Área onde se tem acesso à lista com os perfis dos usuários ligados ao grupo. Pode-
se visualizar apenas os administradores, bem como todos os outros membros por
ordem cronológica de adesão, por ordem alfabética do nome. Também é possível
sugerir pessoas para adicionar, bem como localizar membros através da caixa de
pesquisa; (Figura 7).
b) Eventos
Na área de eventos, os usuários do grupo publicam eventos de interesse do grupo,
como atos, mobilizações, reuniões, simpósios, dentre outros;
Figura 7 – Tela de Membros com os Administradores
Fonte: Elaborada pelo autor
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c) Fotos
Esta área concentra todas as fotos e vídeos postados pelos administradores do
grupo, bem como todas as imagens e vídeos que são inseridos na timeline25
.
d) Arquivos
Na área de arquivos, os usuários colocam à disposição documentos, atas do
grupo, livros, panfletos para impressão bem como outros materiais, que ficam
disponíveis para download de todos os usuários do grupo; (Figura 8).
Na descrição do grupo no Facebook, existe o seguinte texto:
Precisamos entender quem é o Movimento Belém Livre: somos todos nós!
Precisamos refletir sobre o que estamos fazendo, ou acabaremos reproduzindo o que
rejeitamos. Propomos aqui horizontalidade (sem lideranças) propomos aqui o
25 De acordo com a Ajuda do Facebook, Timeline (―linha do tempo‖, em inglês) é ―linha do tempo é a sua
coleção de fotos, histórias e experiências que contam sua história.‖ (Disponível em
https://www.facebook.com/help/133986550032744#O-que-é-a-Linha-do-tempo-do-Facebook?) acesso em
nov/2013
Figura 8 – Tela da Seção de Arquivos do Grupo
Fonte: Elaborada pelo autor
P á g i n a | 49
apartidarismo, mas não seremos anti-partidários, buscando não ofender os
movimentos sociais. Propomos a ausência de eixo midiático (portanto mídia livre!
todos são a mídia). Neste momento é muito importante a nossa união. Não
entregaremos manifestantes para a polícia. (MOVIMENTO BELÉM LIVRE,
acessado em 30 nov. 2013).
O grupo registra 13.110 perfis afiliados ao mesmo. Nota-se que existem usuários
afiliados ao grupo das mais variadas camadas sociais, partidos políticos e regiões do Brasil –
inclusive fora do país.
2.4.1 A Timeline do Grupo
A Timeline do grupo é o lugar de maior interação entre os membros, onde qualquer
um deles pode publicar uma foto, uma imagem, um link para outro site, ou apenas escrever
algum recado para que todo aqueles que acompanham o grupo tenham acesso. Nota-se que a
maioria das postagens tem cunho político e partidário; porém é fácil observar entre postagens
de cunho relevante ―piadinhas de Face‖, links para outros assuntos afins – assuntos relevantes,
de acordo com o objetivo do grupo – descrito na seção ―Sobre‖. (Figura 9)
Figura 9 – Timeline do Movimento Belém Livre
Fonte: Elaborada pelo autor
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3 METODOLOGIA E ANÁLISE
Neste capítulo, apresentamos a metodologia da pesquisa, expondo detalhadamente os
passos seguidos e os procedimentos adotados à condução do estudo, coleta, tratamento e
análise dos dados; obtendo, dessa forma uma melhor compreensão e entendimento do trabalho
em questão. Além desta, a análise dos dados coletados e as impressões acerca do material será
descrita adiante.
3.1 METODOLOGIA
3.1.1 Análise Quali-Quantitativa
Durante a elaboração deste estudo, foram aplicadas pesquisas qualitativas e
quantitativas para um maior direcionamento quanto ao resultado do mesmo. As pesquisas
quantitativas foram aplicadas em duas etapas: para todos os usuários do Facebook, através do
compartilhamento que se iniciou no meu perfil pessoal, além de grupos como ―Marketing e
Comunicação Belém‖; além deste, foi elaborado o mesmo questionário para ser aplicado ao
grupo ―Movimento Belém Livre‖, para se ter uma visão mais profundada do grupo.
As perguntas foram elaboradas de acordo com a ―técnica do funil‖ (GIL, 1999, p.40),
onde partiam de perguntas mais abrangentes às mais direcionadas aos objetivos da pesquisa.
No texto de apresentação da pesquisa, foi-se apresentado o tema, bem como o objeto de
estudo da mesma. Procurou-se perceber a faixa etária dos usuários, seus costumes quando da
utilização de redes sociais, sua percepção sobre a mobilização de 17 de junho e, por fim, sua
opinião sobre a eficácia do fenômeno e sua visão sobre os reflexos percebidos no cotidiano
após a mobilização.
A plataforma escolhida para a aplicação do questionário da pesquisa quantitativa foi
o PollDaddy (www.polldaddy.com), plataforma online de pesquisas tipo questionário, que
possui planos gratuitos e pagos. Dada a fácil integração desta plataforma ao Facebook, bem
como suas ferramentas para análise dos dados, e o controle sobre os mesmos, inferiu-se por
usá-la.
P á g i n a | 51
Após vários problemas devido aos mecanismos de exibição de publicações do
Facebook, o questionário foi aplicado no dia 12 de novembro de 2013, ficando disponível
para o público até o dia 30 de novembro de 2013. Os compartilhamentos foram feitos em
média 3 vezes por dia, tanto na Timeline do perfil pessoal quanto do grupo ―Movimento
Belém Livre‖. Observou-se que muitas pessoas curtiam a postagem da pesquisa, porém não
respondiam - apenas a compartilhavam com sua lista de contatos.
Com relação à pesquisa qualitativa, foram eleitos 5 pessoas da área de Comunicação,
para obter uma percepção mais aprofundada acerca do aspecto comunicacional. Tentou-se um
contato através de videoconferência, porém pelo fato do tempo escasso de todos os
entrevistados, optou-se pela entrevista por e-mail. Entrou-se em contato com os selecionados,
explicou-se o objetivo da pesquisa e foi enviado para o e-mail pessoal de cada um o
questionário base, sendo esclarecido de que poderiam fazer colocações pertinentes, caso
achassem necessário.
3.1.2 Estudo de caso
Paralelamente à aplicação das pesquisas, houve uma análise da mobilização do dia
17 de junho de 2013 através de matérias de jornais, relatos das pessoas que participaram, além
da análise de vídeos, imagens e o acompanhamento do movimento enquanto ele acontecia
através da captura de postagens e publicações na época em que o mesmo acontecia. Mesmo
que de forma não oficial, a investigação aconteceu online e off-line com diversas pessoas
envolvidas no objeto de estudo, mas que não quiseram/puderam colaborar com esta pesquisa.
3.1.3 Revisão Bibliográfica
Fez-se necessário analisar diversos livros, revistas, artigos de jornais na internet
como base científica para refutar ou corroborar as hipóteses expostas anteriormente. A
diversidade de especificidades sobre o tema, bem como os diversos desdobramentos que o
P á g i n a | 52
mesmo possui fez com que houvesse um grande volume de conteúdo bibliográfico analisado;
porém, apenas uma pequena parte serviu para aplicação e referencial direto do assunto, dado o
recorte escolhido para o mesmo.
3.2 ANÁLISE
O tema, por si próprio já desperta um paradoxo, dada a complexidade existente ao
tentar se definir o limiar entre real e virtual. Porém a importância – em alguns casos urgência
– que as redes sociais virtuais imprimem no cotidiano fazem esta investigação não apenas útil,
mas necessária. Mais do que conhecer do ponto de vista empírico, se fez necessário analisa-la
à luz da ciência. Dado os intermináveis paradoxos e os paradigmas que a cada dia são
construídos e derrubados, a pesquisa se tornou extremamente propícia.
Dado o tema, tratou-se de investigar e esclarecer os conceitos norteadores. Desde a
desmistificação do conceito de virtual, de redes sociais e o entendimento sobre as trocas
sociais e identitárias, tornou-se mais fácil afastar a falsa imagem de que as redes sociais são
uma espécie de universo paralelo. A dinâmica que ela imprime no convívio social faz com
que haja um ciclo infinito: as relações sociais virtuais influenciam no mundo real, e vice-
versa. Como referencia Lévy "o virtual não substitui o real, ele multiplica as oportunidades
para atualizá-lo." (LÉVY, 1999a, p.88).
Através das pesquisas quantitativas e qualitativas, pôde-se esclarecer e conhecer
melhor o objeto de estudo, dado que a Região Amazônica – em específico Belém – possui
pouca ou nenhuma linha de pesquisa que envolva cibercultura e seus reflexos na vida social
da região. O que torna ainda mais essencial o escopo desta pesquisa – mesmo que não
aprofundada o bastante para a carência da região – para nortear a percepção do potencial de
estudos que podem ser desenvolvidos em Belém. O enfoque comunicacional, por possuir uma
riqueza nos preceitos de Nussbaumer (2005) ―aposta no poder que oferecem os computadores
pessoais nas mãos da população, defendendo a necessidade e a possibilidade de, através das
novas tecnologias, transformar e readaptar o sistema em função de ideais sociais - e não o
inverso.‖ (p. 10).
P á g i n a | 53
A dificuldade do tema persiste no fato de que o mundo virtual ainda não é bem
absorvido em toda a sua riqueza multifacetada, visto que constatou-se com a pesquisa de que
há, mesmo que inconscientemente, uma separação do real físico com o virtual. Através da
pesquisa pode-se notar que este embasamento teórico sugerido anteriormente aplica-se à
pratica de forma bastante elucidativa. Considerando o enfoque psicológico comunicacional
dado a este estudo, perceber diversas características com relação à vida social virtual no
Facebook torna seus atores sociais mais conscientes do seu papel e do potencial do mesmo.
Quanto à hipótese de que a mobilização virtual em Belém, acredita-se sim em seu
poder de ser autônoma, não dependendo de uma mobilização presencial para validar a
primeira. Porém, entre os entrevistados – profissionais da pesquisa qualitativa e o público da
pesquisa quantitativa – ainda há um certo receio, dado que esta possibilidade ainda não é
interpretada pela maioria de forma homogênea. Inclusive, há um comentário feito por um dos
entrevistados que ressalta – além do que foi proposta aqui – que, como citado anteriormente
neste estudo, a mobilização social virtual ainda representa a esperança de um mundo melhor,
como referenciado por
―Refletiu que as pessoas passaram a perceber que podem através das tecnologia
sociais se conectar entre si e participar diretamente de qualquer tipo de movimento
social (sic) o que aumenta a participação democrática do povo em relação ao estado.
Não dependemos de mídias tradicionais pra nos mobilizar, elas são parciais com os
interesses próprios e não estão a favor do povo, estão a favor delas mesmas. A
neutralidade da rede garante a possibilidade de tudo isso e um nova possibilidade de
um mundo melhor começa a ser debatido com mais esperança no dar
certo.‖(depoimento dado por um usuário através do formulário desta pesquisa)
Aqui se fez deveras ressaltado o argumento de Baudrillard acerca do otimismo
―cego‖ que as tecnologias imprimiram na pós-modernidade. Mesmo que os atores sociais
sejam críticos com relação às suas visões, eles não escondem – em grande maioria – a visão
da possibilidade de ―um mundo melhor‖ que possa ser construído através da democratização
que as redes sociais virtuais – e a Internet, em um âmbito mais abrangente – imprimem nas
relações sociais.
Porém, a dificuldade em controlar e/ou delimitar os possíveis resultados gerados
pelas interações virtuais, alimentam – mas não confirmam de forma plena – a hipótese de que
mobilizações ocorram apenas no virtual como forma de negociação de capital social.
P á g i n a | 54
Ainda sobre as hipóteses levantadas, a de que, apesar de viável como movimento
social, a mobilização social virtual não poderia ser a única aplicável para a organização de
eventos presenciais é a que mias faz sentido, no âmbito regional. Tendo-se em vista que ainda
há uma carência percebida de nivelamento social e intelectual, isto acaba por refletir
diretamente nas redes sociais virtuais, o que compromete de certa forma os efeitos das
mobilizações unicamente virtuais; há indicações também de que – apesar da ferramenta
Facebook oferecer grande dinamismo -, a organização das mobilizações precisa ser revista.
Indicações estas feitas pelos próprios entrevistados.
O confronto entre embasamento teórico e a prática cotidiana, foi presente em grande
parte do desenvolvimento. Afinal, por mais profundos que sejam os estudos, eles nunca irão
suprimir, mas apenas tentar prever os paradigmas, uma vez que a velocidade e a dinâmica que
a virtualidade impõe faz com que modificações intensas, apesar de possuir características
previsíveis, podem acontecer em fração de segundos. No entanto, há de ser evidenciado o
confronto e o complemento de teorias – numa espécie de paradoxo – elucidou grande parte
daquilo que vivenciamos e pouco conhecemos. Posteriormente, este estudo pretende servir
como norte para que pesquisas sobre este objeto de estudo possam aprofundar-se.
As opiniões colhidas nas pesquisas quantitativas e qualitativas também desenham um
panorama visível, porém pouco interpretado de que grande parte da evolução social se deu
pelas ideiais sobre as mobilizações dentro das redes sociais virtuais. Ou seja, muitas pessoas
que talvez não tivessem a oportunidade de serem informadas de forma ―imparcial‖ (com
relação à mídia tradicional), assim o fizeram; este movimento também colaborou para
despertar um sentimento coletivo de ativismo por grande parte dos atores sociais que antes
não havia. O slogan ―Vem pra rua‖ realmente significou e simbolizou profundas modificações
intelectuais, políticas e ideológicas, mesmo que pareça ―momentânea‖, como referenciado por
um dos entrevistados.
Existiram diversos pontos positivos com relação à pesquisa, implicando em uma
crescente atenção para a virtualidade enquanto faceta da realidade. Porém, ainda existem
vários progressos a serem efetuado antes que esta tecnologia possa ser vista absolutamente
como igual entusiasmo por parte da sociedade.
P á g i n a | 55
De modo sutil, foi desacreditada a teoria da primeira hipótese, que a possibilidade de
se modificar e ressignificar atores sociais ativamente através das mobilizações sociais virtuais,
para que suas ações sejam refletidas em atos no mundo físico. Segundo este estudo, desde que
seja bem trabalhada, organizada, ela não se faz tão eficaz como deveria.
Por fim, a dificuldade em desenvolver a pesquisa dentro do ambiente virtual foi
percebida pelo fato de, com a grande possibilidade de recursos que este oferece, há também
um fator negativo: as pessoas podem deixar de responder, ou sentirem-se sem algum tipo de
pressionamento ou obrigação de fazê-lo, diferentemente do que aconteceria caso as mesmas
intervenções fossem feitas presencialmente. Além da assertiva anterior, nota-se que devido
aos recentes escândalos e eventos ocorridos com o envolvimento de redes sociais virtuais faz
com que grande parte dos usuários enxerguem as redes sociais virtuais com certa
desconfiança – não da ferramenta em sim, mas dos outros integrantes da rede. A exemplo
disto, na pesquisa acerca do ―Movimento Belém Livre‖, muitos usaram pseudônimos como
nome, acredita-se ser devido as constantes ameaças anônimas recebidas pelos integrantes do
grupo, que se encontra como "fechado". O fato de não ter tido muita atenção por parte dos
integrantes pode ser devido ao fato anterior'
A democratização e o livre acesso à informação também representam um risco para
estes usuários, quando em posses erradas. Um caso em particular (ilustrado no ANEXO 5)
ratifica esta situação – infelizmente – de modo claro. O simples fato de haver pessoas que
discordam do ponto de vista de outras na mesma rede social pode servir de motivo para que
haja comportamentos excludentes, como ameaça, coerção e retaliação.
Estes comportamentos, como observados, podem corroborar não só para que o meio
possa ser alvo de restrições ou censuras, mas também que a democracia que este espaço
inspira dificulte ações semelhantes à este projeto, pois a coerção e o abuso de liberdade
comunicacional faz com que haja uma generalização de atores sociais iniciantes na rede;
todos os ―estranhos‖ à rede são tratados com certa desconfiança por parte do grupo, devido à
fragilidade estimuladas por comportamentos como o descrito acima – dificultando a obtenção
– neste caso - de resultados científicos por uma adversidade social.
P á g i n a | 56
Conclusão
Neste estudo, o objetivo central pretendido foi estudar o movimento de mobilização
social através das redes sociais - especificamente do Facebook. Este primeiro momento se
baseou na aplicação prática de teorias e definições elaboradas por estudiosos da comunicação
e de outras áreas complementares discutidos entre pesquisadores da área, na busca de definir
conceitos até então pouco esclarecidos.
Com relação aos objetivos específicos, este trabalho visava perceber a importância
do Facebook (Redes Sociais) no processo comunicacional das mobilizações; verificar a
interferência da mobilização social virtual na participação efetiva dos integrantes da rede; e
analisar o ciberativismo enquanto ferramenta comunicacional para a conscientização social no
Movimento Belém Livre. Nesse sentido, observou-se que efetivamente o grupo no Facebook
serviu de divulgador e agregador de ideias, objetivos, mobilizações.
Após a revisão bibliográfica, a conceituação teórica e a observação prática, além dos
resultados das pesquisas, percebeu-se que o ―Movimento Belém Livre‖ é de fato uma
ferramenta comunicacional a serviço da conscientização social. De acordo com as pesquisas,
uma melhor organização tornaria este papel mais efetivo; porém esta heurística não só existe
como possui um poder e abrangência de exatidão imensurável.
A primeira hipótese levantada foi a possibilidade de se modificar e ressignificar
atores sociais ativamente através das redes sociais. O que significa dizer que indivíduos que
antes não eram politizados ou sensíveis às causas sociais coletivas passaram a se importar e
colaborar ativamente de forma comunicacional, debatendo virtualmente e expondo opiniões e
pensamentos, numa democracia virtual. O fato deste mesmo indivíduo comparecer aos atos
físicos – passeatas, protestos – num primeiro momento dependerá de outros fatores fora do
escopo desta pesquisa. O papel dos afiliados ao grupo é de extrema importância, mesmo que
haja alguns integrantes que não possuem o mesmo foco da maioria; isto não compromete a
integridade deste enquanto ferramenta ativista.
Mostrou também que, apesar de viável como movimento social, a mobilização social
virtual não poderia ser a única aplicável para a organização de eventos presenciais, pois a falta
de credibilidade relativa que a ferramenta possui – como a volatilidade de dados – faz com
P á g i n a | 57
que a grande parte de seus usuários encare questões expostas nas redes sociais como parte de
outra realidade mais permissiva, mas um pouco distante da realidade física.
Quanto à mobilização, notou-se também que a diversidade de pessoas, ideologias,
culturas estava muito bem representada. Dentre os vários relatos sobre a mobilização do dia
17 de junho – bem como as outras subsequentes – a maioria deles aponta para um fato em
comum: existiam pessoas carregando cartazes e entoando frase de efeitos como ―abaixo o
preço da farinha‖ – ou seja, totalmente desconexas com o que foi acordado na reunião pré-
mobilização. Atribuiu-se estas incidências ao fato de que, por serem divulgadas no Facebook,
quaisquer pessoas que se identificassem de alguma forma com a mobilização poderia
comparecer para dar sua contribuição presencial.
Contudo, baseado na lógica que dentro da comunicação não existe um padrão
absoluto pelo simples fato desta ser reflexo e expressão do pensamento humano, aceitou-se
que os objetivos e hipóteses não anulam umas às outras, apenas delimitam um caminho mais
provável e coerente, o que nos faz concluir que além do poder de disseminação de
informações em tempo real e do fato de que elas tornaram-se peças-chave para a prática do
ciberativismo de dentro para fora da rede, ainda há muito a ser trabalhado dentro do
paradigma das redes sociais virtuais - aqui Facebook - no território paraense, do ponto de
vista social, intelectual e cognitivo.
P á g i n a | 58
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pdf>. Acessado em outubro/2013.
P á g i n a | 63
APÊNDICE A - TERMO DE RESPONSABILIDADE
Através do presente instrumento, isento meu orientador e a Banca Examinadora de
qualquer responsabilidade sobre o conteúdo existente no referido Projeto Experimental,
assumindo que a realização do mesmo foi proveniente de pesquisas e reflexões.
Declaro ainda que o TCC apresentado para defesa com título: #VEMPRARUA:
Mobilizações Sociais Virtuais e Facebook em Belém não é cópia de nenhum outro trabalho
produzido.
Em, _____/_____/_______
_______________________________________
ALUNO (A)
Visto do orientador: _____________
Data:___/___/____
P á g i n a | 64
APÊNDICE B - FORMULÁRIO DA PESQUISA QUANTITATIVA APLICADA NO
GRUPO MOVIMENTO BELÉM LIVRE E COMPARTILHADA NA
TIMELINE DO FACEBOOK.
Questionário para o TCC #VEMPRARUA: Mobilizações Sociais e Facebook em Belém
1. Qual seu ?Nome
R:
2. Qual a sua Idade?
R:
3. Qual seu e-mail (campo exigido para validar a pesquisa)?
R:
4. Qual a sua Profissão?
R:
5. Escolaridade
R:
6. Quanto tempo você dedica ao uso de redes sociais (Facebook)?
a) 1 a 2 horas
b) 3 a 6 horas
c) 4 a 8 horas
d) Mais de 8 horas
7. Além do Facebook, quais outras redes sociais você utiliza?
a) WhatsApp
b) Twitter
c) Orkut
d) Outro? Especifique:
8. O Facebook é usado por você para: (marque as que se aplicarem)
a) Entretenimento (jogos, atividades musicais, etc)
b) Informação (leitura de feed de páginas como Folha do Estado de SP, etc)
P á g i n a | 65
c) Compartilhamento (leitura e compartilhamento de notícias, postagens, pensamentos,
etc).
d) Discussão e Ativismo (participação de grupos políticos, religiosos, campanhas no
Facebook de caráter social/político
9. Sobre a mobilização ocorrida em Belém no dia 17 de junho de 2013
a) Compareci
b) Compartilhei
c) Acompanhei pelo Facebook
d) Acompanhei pelas mídias tradicionais (Televisão,rádio, jornal)
e) Através dos compartilhamentos de amigos e conhecidos no Facebook
f) Através de outras redes sociais
10. A mobilização virtual através do Facebook pode ser considerada uma forma de
protesto legítima?
a) Sim
b) Apenas virtual, não necessariamente levada a sério
c) Não
d) Não sei responder
11. Quais os efeitos causados - através da perspectiva comunicacional – pelas
mobilizações através do Facebook – particularmente a ocorrida em Belém?
Resposta
12. Quais foram os reflexos no cotidiano dos compartilhamentos de notícias da
mobilização de Belém através do Facebook?
Resposta
P á g i n a | 66
APÊNDICE C - Resultado da pesquisa quantitativa
Os dados apresentados abaixo fazem parte da pesquisa quantitativa elaborada entre
os dias 15 e 30 de novembro de 2013. O ―Questionário A‖ refere-se à pesquisa feita através
da Timeline e compartilhamentos. Já o ―Questionário B‖ foi feito exclusivamente para o
grupo no Facebook ―Movimento Belém Livre‖. As respostas aqui apresentadas são apenas as
de maior importância.
1. Escolaridade
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fundamental
Superior
Doutor
Pós-Doutor
Questionário B
Questionário A
2. Quanto tempo você dedica ao uso de redes sociais (Facebook)?
0 20 40 60 80 100
1 a 2 horas
3 a 6 horas
4 a 8 horas
Mais de 8 horas
Questionário B
Questionário A
3. Além do Facebook, quais outras redes sociais você utiliza?
0
20
40
60
80
100
WhatsApp Twitter Orkut Outras
Questionário A
Questionário B
P á g i n a | 67
4. O Facebook é usado por você para: (marque as que se aplicarem)
0
20
40
60
80
100
Discussão e
Ativismo
Relacionamento Entretenimento
Questionário A
Questionário B
5. Sobre a mobilização ocorrida em Belém no dia 17 de junho de 2013:
0 10 20 30 40
Acompanhei pelo Facebook
Acompanhei pelas mídias
tradicionais
Acompanhei através dos
compartilhamentos de amigos e
conhecidos
Compartilhei
Acompanhei através de outras redes
Compareci
Questionário B
Questionário A
%
P á g i n a | 68
6. A mobilização virtual através do Facebook pode ser considerada uma forma de
protesto legítima?
0 20 40 60 80 100
Sim
Apenas virtual, não
necessariamente levada
a sério
Não
Não sei responder
Questionário B
Questionário A
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ANEXO A – ENTREVISTAS
Entrevistado 1 - Pedro Loureiro
Pedro Loureiro, mais conhecido como Pedrox, é Jornalista e Professor de Comunicação da
UFPA e da Estácio FAP, além de blogueiro conhecido no cenário paraense.
3) Antes da primeira mobilização do dia 17 de junho, você fazia parte de algum grupo
no Facebook ou em outra rede social que estivesse engajado na organização da
mobilização?
R: Participei. Do ―Movimento Belém Livre‖
4) Qual seu comportamento dentro do Facebook? Compartilhava os posts sobre a
mobilização, curtia ou apenas visualizava? Por que?
R: Postava conteúdo, curtia e comentava com a intenção de estimular a inquietação política
dos usuários.
5) Você esteve presente na mobilização? Se sim, quais as suas impressões?
R: Não. Estava em aula na UFPA.
6) Como você percebe este evento de mobilização social virtual?
R: As redes sociais possibilitaram o agrupamento de pessoas com intenções em comum,
mobilizando-se por uma causa - ainda que de maneira difusa e sem objetivo claro e
definido.
7) Do ponto de vista comunicacional, como você interpreta este evento? O que a
linguagem e as ferramentas comunicacionais influenciaram?
P á g i n a | 70
R: Sem dúvida as redes sociais permitiram o empoderamento dos usuários das redes sociais
que puderam trocar conteúdos e impressões, além de discutir política - ainda que de
maneira superficial e em um viés de confirmação onde as pessoas curtiam e
compartilhavam o que era compatível com suas opiniões e modos de pensar.
8) Na sua opinião, a mobilização social virtual é viável, efetiva? Por que?
R: A mobilização social virtual é viável e efetiva, pois gera repercussão na sociedade e
provoca inclusive os meios de comunicação tradicional e gestores público, permitindo um
mecanismo de relativa pressão social.
9) Esta mobilização faz parte do processo físico ou há diferenças?
R: Há uma retroalimentação, a mobilização social provoca o processo físico que provoca
mais mobilização online o que motiva mais manifestações presenciais e assim
sucessivamente.
10) Como você percebe a relação mídia tradicional x redes sociais no evento do dia 17 de
junho?
R: A mídia tradicional foi posta em cheque no seu caráter hegemônico na disseminação da
informação. O que as emissoras de TV mostravam podia ser desmentido por fotos, vídeos
ou relatos de pessoas que estavam presentes nos eventos, o que relativizou sua influência
e acabou modificando a maneira de abordar os fatos relacionado aos protestos, inclusive
reduzindo o uso de termos generalizantes, como ―baderneiros".
11) Na sua opinião, dentro da mobilização virtual a motivação das pessoas em curtir e
compartilhar se dava por uma questão de capital social (troca de influência, destaque na
timeline, etc) ou por engajamento político, ideológico?
R: As pessoas interagiam movidas por influência dos movimentos ocorridos em SP e no resto
do Brasil e por interesses políticos supostamente apartidários, no entando foi perceptível
a presença de simpatizantes de partidos no grupo.
P á g i n a | 71
Entrevistado 2 - Caio Mota
Caio Mota é formado em Jornalimsmo gestor cultural e participante do Coletivo Fora do
Eixo.
2) Profissão
Gestor Cultural
3) Antes da primeira mobilização do dia 17 de junho, você fazia parte de algum grupo
no Facebook ou em outra rede social que estivesse engajado na organização da
mobilização?
R: Sim. em vários de midiativismo.
4) Qual seu comportamento dentro do Facebook? Compartilhava os posts sobre a
mobilização, curtia ou apenas visualizava? Por que?
R: Faço posts colocando minha posição sobre os diversos temas envolvendo a pauta, curto e
compartilho posts que tenho identificação com a opinião
5) Você esteve presente na mobilização? Se sim, quais as suas impressões?
R: Estive em várias mobilizações de cidades diferentes. As mobilizações de junho tiveram
características distintas, com multipautas e participação de muitos grupos, mas
principalmente de pessoas que não faziam parte de grupos organizados.
6) Como você percebe este evento de mobilização social virtual?
R: Entendo ele como necessário. as mídias sociais são plataformas de conexão e trabalhar
mobilização nelas é um processo natural e crescente.
7) Do ponto de vista comunicacional, como você interpreta este evento? O
R: Que a linguagem e as ferramentas comunicacionais influenciaram?
P á g i n a | 72
as mobilizações de junho foram uma disputa memetica onde as mídias sócias tiveram um
papel central. As pessoas iam pra ruas porque estavam envolvidas com as narrativas
construídas mais do que com as pautas propriamente.
8) Na sua opinião, a mobilização social virtual é viável, efetiva? Por que?
R: É viável e efetiva, porque as mídias sociais são as principais ferramentas de mobilização
disponíveis
9) Esta mobilização faz parte do processo físico ou há diferenças?
R: Uma se conecta com a outra. as mobilizações virtuais provocam as mobilizações de rua e
as mobilizações de rua alimentam o conteudo das mobilizações virtuais. uma coisa está
ligada a outra diretamente.
10) Como você percebe a relação mídia tradicional x redes sociais no evento do dia 17 de
junho?
R: As mídias tradicionais estavam envolvidas com os interesses políticos e nas redes sociais
os interesses eram mais diversos não tinha uma linha específica.
11) Na sua opinião, dentro da mobilização virtual a motivação das pessoas em curtir e
compartilhar se dava por uma questão de capital social (troca de influência, destaque na
timeline, popularidade entre amigos, etc) ou por engajamento político, ideológico?
R: Os dois. as midias socias são muito difusas nesse sentido. os interesses são diversos e tem
de tudo. as midias sociais são a representação virtual dos convivios sociais. como as
manifestações de junho foram muito difusas com multipautas acabou mobilizando
interesses diversos também.
Entrevistado 3 – Victor Hugo Rocha
Victor Hugo é formado em Publicidade e Propaganda, planner e integrante do grupo
―Movimento Belém Livre‖, no Facebook.
P á g i n a | 73
3) Antes da primeira mobilização do dia 17 de junho, você fazia parte de algum grupo
no Facebook ou em outra rede social que estivesse engajado na organização da
mobilização?
R: Sim.
4) Qual seu comportamento dentro do Facebook? Compartilhava os posts sobre a
mobilização, curtia ou apenas visualizava? Por que?
R: Estive envolvido desde a concepção dessa mobilização. Uma amiga que já havia atuado
junto comigo no Proibidos de Votar, um projeto colaborativo que acompanhava as
votações da CMB durante as tentativas de mudanças dos nomes de ruas pautados na CMB
por parte do Vereador Gervásio Morgado; achou que Belém deveria pautar a questão do
BRT. Eu e essa amiga já acompanhávamos os problemas do BRT desde essa época do
Proibidos de Votar, antes mesmo das obras começarem e eu conhecia bem o projeto por já
ter trabalhado na Assessoria de Comunicação do projeto Ação Metrópole.
Quando essa amiga resolveu fazer algo, reuniu algumas pessoas em quem confiava e
acreditava que poderiam ajudar. No primeiro grupo de pessoas a quem ela pediu ajuda
estavam, além de mim, o Maécio Monteiro, um artista visual que costuma fazer
intervenço~es em Belém e tem um grupo de pessoas que desenvolvem ações horizontais de
arte em periferias e que já havia feito mobilizações do Occupy em Belém. Também tinham
algumas pessoas em quem ela confiava, paraenses e que moravam em SP, e uma paulista
que também morava em SP, amiga desses paraenses, mas que estava envolvida com as
manifestações de SP.
Vale ressaltar que nessa época essa amiga fazia uma vivência na Casa Fora do Eixo
Amazônia, no entanto a ideia de iniciar a mobilização partiu dela, mesmo sem comunicar o
pessoal da Casa.
5) Você esteve presente na mobilização? Se sim, quais as suas impressões?
R: Sim. Vi muita gente querendo expressas diversos tipos de indignações e nenhum
consenso. O fato da manifestação sair do nada para lugar nenhum fez dela uma
manifestação neutra, o que facilitou a aderência do maior número possível de pessoas,
P á g i n a | 74
pois não eram explícitas as discordâncias. Foi um evento para que o povo pudesse
extravasar suas indignações independente de suas contradições.
Um recado ficou dado aí. Sair de casa para protestar e cobrar seus direitos passava a
deixar de ser entendido como um comportamento das pessoas chatas que sempre
reclamam das coisas e começou a ser percebido como um direito justo e um
comportamento de certa forma mainstream. O protesto saiu da marginalidade pra se
tornar a pauta principal da mídia e da vida de muita gente.
6) Como você percebe este evento de mobilização social virtual?
R: As pessoas sempre usaram seus canais de comunicação para mobilizar. A internet é uma
ferramenta que potencializa o alcance e o impacto desses canais. Os movimentos sociais
sempre precisaram se articular em redes para mobilizar e a internet só faz gerar mais
possibilidades para algo que já acontecia. Acredito também que a aderência de mais
pessoas tem a ver com o tipo de informações que essas pessoas passam a consumir no seu
dia a dia no período que segue depois do advento da internet. Antes com uma imensa
maioria consumidora de conteúdo televisivo, as informações consumidas em geral eram
pautadas pelo consumismo, o maior responsável pelo modelo de comunicação de massa
existente. Quando todo mundo pode gerar conteúdo informativo e divulgar pela internet,
esse tipo de conteúdo consumista para a disputar a atenção das pessoas com outros tipos
de conteúdo, dentre eles, os conteúdos relacionados a movimentos sociais, ambientais e
etc. Se somarmos isso a mobilização em rede desses movimentos, vemos que a força de
disputa dessas pautas sociais e ambientais por atenção no cotidiano das pessoas cresce
exponencialmente conforme o discurso consumista perde força juntamente com a mídia
de massa. As empresas acabam buscando formas de comunicação mais focadas em
valores e plataformas sociais para falar com as pessoas e sobreviver a essa nova realidade
e as pessoas passam a cada vez mais discutir as transformações sociais que querem ver no
mundo em detrimento do consumo desenfreado.
7) Do ponto de vista comunicacional, como você interpreta este evento? O que a
linguagem e as ferramentas comunicacionais influenciaram?
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[Acho que a resposta anterior responde a esta também]
Esse evento pode ser entendido como um marco na percepção do poder que se encontra
nas mãos das pessoas a partir do momento que elas se percebem empoderadas de
tecnologia e meios de comunicação nos quais elas são as geradoras de conteúdo.
8) Na sua opinião, a mobilização social virtual é viável, efetiva? Por que?
R: Minha opinião é de que uma mobilização é tão efetiva quanto ela é capaz de mobilizar
quem pretende. Como trabalho com planejamento, entendo que toda ação só é efetiva se
atingir seu objetivo. A mobilização virtual é efetiva pra mobilizar pessoas que usam a
internet. Se entendermos que essas pessoas podem ser multiplicadoras e mobilizar
inclusive quem não usa internet, podemos entender que a internet é uma ferramenta
essencial para mobilizar nos dias de hoje. No entanto ainda existem segmentos excluídos
não só do acesso a internet, como também dos círculos sociais que fazem uso dessa
ferramenta. Não consigo imaginar uma mobilização de quilombolas, ou sem-terras que se
inicie através da internet. No entanto consigo imaginar uma pauta específica desses
grupos que tenha relevância suficiente para gerar indignação nos usuários de internet e
que estes possam criar mobilizações para apoiá-los. No final das contas levar em
consideração a relevância e para quem é relevante é o mais importante para entender qual
a melhor, ou as melhores ferramentas para mobilizar cada segmento social.
9) Esta mobilização faz parte do processo físico ou há diferenças?
R: O que seria o processo físico? O offline? Como comunicador entendo que tudo isso,
online e offline, faz parte da realidade das pessoas. Faz parte do cotidiano. Não acho
pertinente separar o mundo online do mundo offline quando a gente vive uma realidade
de convegência de conteúdos. O que acontece offline vira pauta online e vice-versa. Tudo
é espaço comunicacional.
10) Como você percebe a relação mídia tradicional x redes sociais no evento do dia 17 de
junho?
R: A mídia tradicional vem devagar tentando se adaptar a lógica de co-criação de conteúdo e
precisa aprender parar de dizer o que as pessoas devem pensar e começar a gerir o que ela
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dizem a seu favor e contra. No início a mídia tradicional tentou pautar, a nível nacional, o
que o povo deveria pensar sobre as manifestações taxando os ataques como gerados por
uma minoria de vândalos. A partir do momento que a maioria está ouvindo mais o som
das ruas que o da mídia, essa mídia passa a perder credibilidade por usar um discurso
manipulatório de criminalizar um movimento social. É aí que a mídia tradicional tenta
entender mais de perto o que acontece e reconhecer alguns dos discursos que vinham das
ruas abrindo mão de parte de suas imposições. A comunicação deixa de ser unidirecional
e passa a ser multidirecional e com infinitos emissores.
Em Belém, no dia 17 de junho, a mídia só quis gerar audiência pela relevância do
conteúdo pra quem não podia estar nas ruas. Nesse momento inicial ainda não
percebíamos o que cada jornal pensava. Essas coisas só ficariam claras em manifestações
seguintes, quando ficava explícito o apoio das organizações ORM ao prefeito Zenaldo,
finalizando matérias sobre as manifestações citando o vandalismo e, em entrevistas com o
prefeito, a sua disposição deste em dialogar com os moviementos, mas que estes não
tinham lideranças e que assim ele não teria como dialogar. Essas matérias muitas vezes
foram seguidas de comerciais de 1 minuto sobre o BRT como solução para os problemas
do trânsito da cidade. Uma solução midiática eficiente para mostrar que o prefeito fazia a
sua parte. Do outro lado, víamos o grupo RBA sempre pautando as deficiências da saúde
(Santa Casa e etc.) e os ataques que as manifestações faziam a sede das ORM quando o
roteiro das manifestações precisava passar em frente a esta empresa.
11) Na sua opinião, dentro da mobilização virtual a motivação das pessoas em curtir e
compartilhar se dava por uma questão de capital social (troca de influência, destaque na
timeline, etc) ou por engajamento político, ideológico?
R: Acredito que as pessoas compartilham aquilo que tem relevância. Se entendermos que o
compartilhamento era por capital social, significa que as pessoas acreditavam que o
conteúdo era relevante pra seus amigos e seguidores; se o compartilhamento fosse por
engajamento, significa que as pessoas percebiam o conteúdo como relevante pra elas
mesmas. Acho que o que aconteceu foi um misto das duas coisas e que um não
necessariamente exclui o outro.
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ANEXO B - MATERIAL REFERENTE À MOBILIZAÇÃO DO DIA 17 DE JUNHO
DE 2013
(Fotos: André Mardock / Imagens: Movimento Belém Livre)
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ANEXO C - Ameaça real na Mobilização
Relato de um membro do grupo, disponível na Área de Arquivo do Grupo “Movimento
Belém Livre” (documento no formato original).
Relatos do que aconteceu na passeata de 24/06/2013
Caminhamos de São Brás à Prefeitura. Gritamos Palavras de ordem sobre todos os
temas que assolam nossa cidade e nosso País. Na frente da prefeitura, em meio a
uma confusão e outra, quatro pessoas foram presas. Mas nós conseguimos ler uma
carta. Descreve Perfeitamente o Movimento e seus objetivos!
Mas depois de lermos pela 3° vez a carta, para que todos pudessem contempla-la,
percebemos pessoas indo para o local de concentração da polícia, em frente ao
Fórum do MP, onde os presos ficavam em ônibus. No caminho de lá, foi-me
informado que ao todo, eram 10 presos.
Os manifestantes se mobilizaram para não deixar o ônibus passar, e nem a tropa de
choque agir. Fizeram duas barreiras humanas. Uma para barrar o ônibus, ficavam
Captura da mensagem
Fonte: Movimento Belém Livre
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sentados, outra para barrar a tropa, em pé e com as mãos ao alto. Depois de muito
debate, muito questionamento, a OAB apareceu lá. Muita conversa se desenrolou.
Pois queríamos que não prendessem os nossos companheiros por nada, queríamos
saber quem eram também, queríamos garantir-lhe a segurança. Então foi decidido
em acordo com a polícia e com o aval da OAB e de secretário do prefeito que:
Um grupo de estudantes acompanhariam os presos em viaturas e o ônibus iria lento
para que todos pudessem acompanha-lo. Mas a prática foi outra. O ônibus arrancou
e os manifestantes tentaram pará-lo. Massacraram os manifestantes, inclusive os
que tentaram fazer barricadas, as pessoas conseguiram parar o ônibus por alguns
instantes, mas o batalhão de choque conseguiu desviar o ônibus para uma rua
pequena, em seguida cercaram as pessoas que conseguiram passar e os demais
ficaram na entrada da rua pois o batalhão impediu a passagem... as pessoas se
dividiram em grupos e tentaram chegar a delegacia por caminhos diferentes mas
foram dispersas pela polícia em diversos pontos diferentes... já chegando na
Tamandaré indignados com a violência com a qual éramos impedidos de prosseguir
em grupo, alguns de nós resolveram fazer uma barricada e a incendiaram coisas
que encontravam... daí veio a polícia e tudo ficou muito confuso... bombas, gás...
armas apontadas na cara de qualquer um... atiraram num rapaz na minha frente mas
o tiro não pegou... ele estava com as mãos na cabeça, não ameaçava
ninguém...nem estava perto da barricada...isso aconteceu na Tamandaré na esquina
da são Pedro... ao entrar na São Pedro estava perto de umas sete pessoas quando
a rotam veio e nos parou sacando suas armas e nos constrangendo...eu corri para
traz...senti medo...eu tenho um filho de dois anos e também tenho dois mais
velhos...eles dependem de mim eu não sou criminosa... gostaria muito de ter tido
mais coragem para ir até a delegacia...me desculpem mas não consegui.. De uma
coisa eu sei as pessoas que estavam ali na esquina onde teve a barricada só
fizeram o que fizeram, depois da violência da polícia, até eu, que tantas vezes já me
manifestei contra o vandalismo desta vez presenciei algo que só vai entender quem
ficou até o fim... DESESPERO... nós tínhamos o direito de ir para a frente daquela
delegacia para esperarmos pela soltura de nossos companheiros de protesto...este
direito assim como os outros nos foi negado.. é só o que eu tenho a dizer sobre
isso...mas uma vez peço desculpas aos que ficaram até agora...lá no abatedouro
desculpem mais foi o que eu vivi sou uma mulher de 33 anos estou nisso pelo futuro
dos meus filhos e por que acredito que se ficarmos parados em casa só saberemos
aquilo que eles querem que nós saibamos pela mídia..