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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS
CURSO DE PSICOLOGIA
Promoção de saúde e estilo de vida: dimensões do
comportamento religioso
CAROLINA ZUKOSKI PEDRO
Itajaí
2007
CAROLINA ZUKOSKI PEDRO
Promoção de saúde e estilo de vida: dimensões do
comportamento religioso
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do titulo de Bacharel
em Psicologia da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI.
Orientador: Prof. MS Aurino Ramos Filho
Itajaí
2007
Dedico esta Monografia para as pessoas que
acima de tudo dão valor à vida e ao que é
essencial a ela. Para aqueles que refletem sobre
suas ações, sobre o seu mundo e seus
significados, que se sentem sujeitos ativos e
responsáveis em relação à vida.
AGRADECIMENTOS
A todos os meus professores durante a caminhada pelo Curso de Psicologia, que
tantas vezes me inspiraram a continuar.
Ao Prof. Aurino Ramos Filho, que me orientou desde os primeiros períodos do
Curso, e que foi meu tutor na composição desta Monografia.
Aos profesores Márcio Espíndola Patrianova e Mário Uriarte Neto, que se
propuseram a avaliar meu trabalho com boa vontade e interesse.
À minha familia, que sempre me deu suporte para seguir aquilo que me inspirasse
e me deixasse feliz, sendo verdadeiros amigos.
Ao meu namorado, Rafael de Santiago, que esteve ao meu lado ajudando,
alegrando e sendo um ótimo companheiro.
Aos meus amigos que deram suporte e apoio, quando era necessária uma boa
risada ou um momento de desabafo.
SUMÁRIO
Resumo................................................................................................................... 5 1 Introdução ............................................................................................................ 6 2 Saúde................................................................................................................... 9
2.1 Saúde no Brasil ........................................................................................... 11 2.2 Promoção de Saúde .................................................................................... 14 2.3 Psicologia e saúde....................................................................................... 16 2.4 Promoção de saúde, qualidade de vida e estilo de vida.............................. 22
3. Comportamento Religioso ................................................................................. 25 3.1 Religiosidade e espiritualidade .................................................................... 25 3.2 Psicologia da Religião.................................................................................. 27 3.3 Comportamento religioso, saúde e promoção de saúde ............................. 30 3.4 Ações realizadas acerca do tema atualmente ............................................. 35 3.5 O profissional da saúde e suas práticas ...................................................... 40
4 Considerações Finais......................................................................................... 43 5 Referências Bibliográficas.................................................................................. 45
PROMOÇÃO DE SAÚDE E ESTILO DE VIDA: DIMENSÕES DO COMPORTAMENTO RELIGIOSO
Orientador: Prof. MS Aurino Ramos Filho Defesa: junho de 2007
Resumo
A compreensão da promoção de saúde trás à reflexão suas possíveis relações com os
comportamentos diários das pessoas, levantando hipóteses e suscitando estudos que exploram
cientificamente a correlação entre religiosidade e saúde. Foi objetivo desta Monografia investigar,
por meio de uma Metodologia Bibliográfica, sobre essa correlação entre o comportamento religioso
dos indivíduos e a promoção da saúde, sobretudo em relação ao estilo de vida incorporado pelas
pessoas e que caracteriza-se como comportamento religioso. Descobriu-se uma forte correlação
positiva entre estas duas dimensões, podendo-se afirmar que o comportamento religioso é promotor
de saúde. Conclui-se que este comportamento colabora para a promoção da saúde dos indivíduos, e
compreende-se a importância disto para os profissionais da saúde e estudantes desta área o
conhecimento acerca de como trabalhar com a religiosidade de seus pacientes.
Palavras-chave: promoção de saúde; comportamento religioso; estilo de vida
Abstract
The constant interest about health promotion brings to reflection its possible correlations with the
daily bahavior of people, with the coming of researches and the crescent interest about que religion
question, and if this would be allied to men´s health. Uniting these two ideas, studies come to
explore cientifically this theme in search for answers about the correlation between religiosity and
health. It was objective of this monography to investigate, through a bibliographic methodology,
about this correlations between religiosity and spirituality of the individuals and health promotion,
above all in its relation with life style incorporated by people and that characterizes as a religious
behavior. It was uncovered a strong positive relation between these two dimensions, being possible
to confirm that the religious behavior is a health promoter. Concludes that it is important for the
health professionals and students of this field the knowledge about how to work with the religiosity
of their patients.
Key-words: health promotion; religious behavior; life style
1 Introdução
A discussão acerca de novas formas de ver-se e trabalhar a saúde vem
sendo tema de pesquisas recentes, não se envolvendo somente a teoria, mas
também as práticas dos profissionais desta área. Desde a definição do que
chama-se saúde, até de que formas ocorrem as ações vinculadas a ela, há
transformações a fim de adequar-se à proposta da promoção da saúde, e
sobretudo ao ambicioso lema que moveu e vem movendo a Organização Mundial
da Saúde (OMS) e demais envolvidos, de “saúde para todos no ano 2000”
(BRASIL, 2001). Este lema foi sendo apresentado pela Declaração de Alma-Ata
(1978) e pela Carta de Ottawa (1986), sendo, contudo, reconhecidamente utópico
desde seu princípio (MACEDO, 1984).
Ainda hoje se trabalha a fim de ao menos tentar se aproximar deste
objetivo, surgindo trabalhos recentes que abordam o tema da saúde de diferentes
formas, incluindo-se o questionamento sobre possíveis correlações entre a saúde,
e o comportamento religioso. Esta monografia procura responder esta mesma
questão, partindo-se, contudo, da questão de definir, primeiramente, o que se
compreende por saúde.
Entender de que formas se define a saúde em determinados contextos e
determinadas épocas ajuda a compreender a realidade atual, estando este
trabalho, portanto, em compromisso com uma visão da Psicologia Social de
compreender os fenômenos. A saúde, essencial ao homem, com o passar do
tempo passou por definições que iam desde um puro apego ao pensamento
mágico, crenças em curas divinas, até um distanciamento que colocasse a
Biologia como a fonte de todas as respostas. Nas épocas mais atuais, o que se
percebe são as definições mais ligadas a esse apego biológico ainda bastante
forte, mas que aos poucos modifica-se a fim de acrescentar-se a essência
subjetiva e objetiva do homem como indivíduo, não generalizando-o.
A fim de compreender-se o relacionamento com a religiosidade e
espiritualidade, estas também necessitam de maiores explicações e compreensão,
de modo que também a Psicologia lhes dá o significado de expressões do ser
7
humano, em seu meio social, seja micro ou macro, e da mesma forma em ação de
forma subjetiva e íntima. São fenômenos e sentimentos que fazem parte de um
processo cultural e político, que moldam o indivíduo e que consegue nos contar
um pouco sobre sua história, suas escolhas e o motivo de suas crenças.
Relacionar as formas como o sujeito se compõe como pessoa pelo viés da
sua religiosidade e espiritualidade é mostrar como seus hábitos e costumes para
com a saúde se formaram e se mantém. Fatores ligados a religião e
espiritualidade correlacionam-se de forma positiva para com a saúde dos
indivíduos. Contudo, não é papel deste presente trabalho explicar o inexplicável,
ou julgar que o místico e o desconhecido são capazes de curar. O que aqui
investigou-se foi de que formas as crenças de uma pessoa, contidas e compostas
pelo seu pensamento e sua ação ligados a religião e a espiritualidade,
correlacionam-se com comportamentos que promovem sua saúde.
É motivo para tal preocupação a reconhecida presença de uma grande
população que declara-se adepta a uma religião no Brasil. De que forma ignorar-
se uma dimensão tão presente na população brasileira, quando as pesquisas
apontam para uma relação positiva entre práticas religiosas e saúde? Como o
profissional da saúde pode lidar com estas questões, quando o tema da religião
lhe cerca tanto em contexto como em sua própria crença e na fala de seu cliente?
E como Levin (2001) coloca, como negar para a sociedade científica a descoberta
de uma nova forma de fazer bem ao seu paciente? Como negar esta
compreensão a ele?
Investigou-se tais questões por meio de uma Metodologia Bibliográfica, a
fim de responder a questão tanto da correlação entre saúde e comportamento
religioso como à pergunta sobre o que fazer sabendo-se a resposta para a
questão da correlação entre religiosidade e promoção da saúde. Apesar de
pautar-se em conceitos próprios da Psicologia, este trabalho procurou englobar a
compreensão e ação dos demais profissionais da saúde, tendo-se em vista que
atualmente é primordial o trabalho multidisciplinar e interdisciplinar. É importante
que, desde o meio acadêmico, procure-se não somente a integração com as
demais áreas de conhecimento, mas que exista um pensamento direcionado tanto
8
para a ação do psicólogo, como também para todos aqueles profissionais da
saúde que procuram respostas para questões relacionadas à subjetividade dos
indivíduos que atendem.
2 Saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão da Organização das
Nações Unidas (ONU) especializado em saúde, que define seu principal objetivo
como alcançar o maior nível possível de saúde para todas as pessoas. Define
saúde como “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não
meramente a ausência de doença ou enfermidade” (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007).
Deve-se levar em conta, contudo, que o conceito que é definido hoje não é
uma constante imutável, e muito menos universal. Conceituar a saúde é defini-la
dentro de um momento histórico e cultural, e de uma determinada visão dentro
deste contexto. Não é algo natural e que sempre existiu, mas algo construído
dentro dessas realidades. Portanto, é impossível compreender e criticar
conscientemente um modelo em saúde se forem ignorados os momentos
históricos, sociais e culturais de sua criação e de sua atual ação. Como colocam
Medeiros, Bernardes e Guareschi (2005, p.264), “(...) não existe uma unidade no
conceito de saúde, mas formas que o conceito vai assumindo de acordo com os
campos que o atravessam”.
Dois modelos merecem destaque para a compreensão deste processo: o
biomédico e o biopsicossocial. O modelo biomédico, fruto das descobertas da
Medicina durante os séculos XVIII e XIX e da crença no modelo cartesiano que
propõe a divisão entre mente e corpo, coloca a prioridade da compreensão das
doenças no orgânico; não leva em consideração a mente no que diz respeito a
alguma alteração no corpo, tendo em vista a separação proposta por aquele
modelo. O foco de todo o tratamento a fim de melhorar a saúde de um indivíduo
está no médico e na enfermidade (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).
O modelo biopsicossocial pretende expandir a visão um tanto limitada do
biomédico, juntando aos fatores biológicos as dimensões psicológicas e sociais
relacionadas às enfermidades e estados de saúde. Contudo, apesar de adicionar-
se à compreensão da saúde os aspectos primordiais para a compreensão do
próprio indivíduo, é ainda difícil a total integração desses aspectos, que ainda
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parecem estar inclusos somente na retórica a respeito do tema. A prática, dentro
da proposta biopsicossocial, que atende à definição de saúde proposta pela OMS,
corre um grande risco de atuar de uma forma biologista, dado todo o histórico de
atuação dos profissionais da saúde, bem como a formação destes ainda não
compromissada com esta nova visão (TRAVERSO-YÉPEZ, op. cit.).
Constantemente citada e utilizada, a definição da OMS sobre a saúde tem
sido discutida. A principal crítica é a falta de especificidade do que seria uma
condição de completo bem-estar. Critica-se que o formato deixa espaço para uma
interpretação ainda bastante biologista, e que isto é decorrente das dificuldades
econômicas e sociais de muitos países, onde a ação acaba por focar-se no
controle de doenças e índices de mortalidade, que são a prioridade para garantir
uma sobrevivência básica da população (ELIAS, 2004).
Busca-se adicionar na compreensão da saúde a dimensão espiritual do ser
humano, já havendo alguns avanços nesta direção, como é o caso da inclusão
disto no instrumento criado pela OMS para medir e avaliar a qualidade de vida, o
World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100), composto por cem
questões. Neste instrumento, foram dedicadas quatro questões ao tema da
espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais, com o esforço de fazê-las do
modo mais genéricas possível, a fim de que qualquer tipo de adepto ou não
adepto de uma crença ou religião fosse capaz de responder (FLECK, 2003).
Neste sentido, surge a questão espiritual no questionamento das
concepções do que é saúde. Isto pode ser percebido pelo aumento de pesquisas
relacionadas ao tema, de várias áreas da saúde (FLECK, 2003; FARIA; SEIDL,
2005; MARQUES, 2003; VOLCAN et al, 2003).
O objetivo de uma saúde para todos é algo complicado, que implica muito
além da boa vontade de órgãos e instituições, pois precisariam se apropriar de
realidades culturais que muito diferem ao redor do mundo. Trabalhar com
conceitos mundiais seria um tanto generalista e omitiria muitos dados e realidades
concretas. Deste modo, se percebe importante focar-se em uma realidade local,
principalmente do ponto de vista das grandes diferenças entre cultura ocidental e
oriental, bem como em relação as realidades econômicas um tanto distantes entre
11
os países atualmente, para se compreender melhor o significado de saúde para
determinada população.
2.1 Saúde no Brasil
No Brasil, a OMS atua com um escritório regional, nomeada como
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), presente nos outros países da
América Latina também. Utiliza os mesmos conceitos da instituição matriz, mas
apropria-se da realidade local para a realização de ações e estudos com técnicos
e cientistas vinculados. Deste modo, a OPAS coopera com os governos para
melhorar a implementação de serviços públicos de saúde, a fim de alcançarem-se
metas comuns a vários países e deste modo promover a equidade em saúde
(OPAS, 2007).
A primeira forma de se garantir direito à saúde para um grande público, no
Brasil, foi por meio da Lei Eloi Chaves de 1923, na constituição do Sistema de
Saúde Brasileiro. Contudo, não se garantia atendimento para todo o cidadão, mas
apenas para aqueles trabalhadores que colaboravam financeiramente com a
Previdência Social, que trabalhassem com sua carteira de trabalho assinada. As
demais pessoas precisavam aderir ao atendimento particular ou às instituições
filantrópicas. Desta realidade histórica, cria-se a forte idéia da saúde pública como
uma mercadoria, não se diferenciando do atendimento privado (ASSOCIAÇÃO
PAULISTA DE MEDICINA, 2004).
Na década de 1970, iniciam-se questionamentos quanto a este sistema de
saúde, que culmina em um movimento de democratização da saúde, que pretende
alterar o estado de hegemonia dos praticantes da medicina. Isto gera o eixo do
processo de luta pela Reforma Sanitária Brasileira, movimento que buscou
investigar as práticas médicas e sua relação histórica que tornou esta uma mera
produção de serviços de saúde. Buscou-se organizar o sistema de saúde,
caracterizando-se primeiramente quais modelos médico-assistenciais
hegemônicos estavam presentes: o modelo privado e o sanitarista, que
correspondem às possibilidades pelo atendimento privado e aquele garantido pela
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previdência social, ambos focados no atendimento à doença, e não ao indivíduo;
bem como práticas manicomiais em casos de saúde mental. Compreendidas as
problemáticas partiu-se, então, para a elaboração de estratégias para se alterar
este quadro, utilizando-se para isto a noção de Vigilância da Saúde (PAIM;
TEIXEIRA; VILASBOAS, 2002).
Este conceito não surge no Brasil a fim de lidar com a crise em seu sistema
de saúde, mas sim na era renascentista da Europa, onde se levantavam dados a
respeito dos óbitos e suas causas. Contudo, este armazenamento de informações
só passa a ser utilizado com objetivos científicos a partir do século XVII, mas
somente no século XVIII e XIX considera-se esta vigilância uma parte integral para
prover-se saúde à população, interpretando-se os dados a fim de identificar-se
ações apropriadas, como no caso de epidemias. Este conceito evolui cada vez
mais, contudo até a década de 1950 ele permanece como um sistema de
observação próximo das pessoas expostas a doenças, identificando-se sintomas e
realizando medidas de isolamento e controle. Contribuindo para as práticas em
saúde pública, a vigilância é reconhecida, no ano de 1968 nas Discussões
Técnicas da 21ª Assembléia da OMS, como uma função essencial deste
processo, possuindo como características básicas a coleta sistemática de dados,
a consolidação e análise destes, e a disseminação da informação por meio de
relatórios epidemiológicos. Em 1979, com o fortalecimento do movimento pela
reforma sanitária brasileira, surge a proposta da criação do SUS, deixando-se um
pouco a visão de vigilância de saúde e partindo-se para uma visão de promoção
desta (FREITAS in COSTA; FREITAS, 2003).
No ano de 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil trás uma
proposta para uma nova maneira de ver-se a saúde e a seguridade social,
preparando-se a partir daí o Sistema Único de Saúde (SUS), que é assim definido
na Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990:
Art. 4 O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração Direta e Indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde – SUS” (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004, p. 42).
13
Isto significa que a saúde pública, bem como os setores privados, devem
atuar no Brasil por meio dos princípios e diretrizes do SUS, projeto já em atuação
que pretende moldar a visão mercantilista da saúde para uma visão sistêmica e
participativa de todos os sujeitos envolvidos no processo de produzir-se saúde.
Suas diretrizes são de descentralização, participação da comunidade e
atendimento integral das pessoas, realizando-se propostas fundamentadas nos
princípios de universalidade, igualdade, equidade e gratuidade aos usuários dos
serviços (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004). Deste modo, o SUS
coloca a responsabilidade pela saúde não apenas naquele que possui as formas
de cura e prevenção, mas também em todas as pessoas envolvidas neste
sistema, bem como seus governos, dando grande atenção às ações municipais e
comunitárias, já que descentralizar significa colocar o poder das decisões nas
mãos daqueles responsáveis pela execução das ações, ou seja, cada vez mais
perto da realidade tangível e da pessoa sendo atendida.
Tanto entidades públicas como privadas podem estar envolvidas com o
SUS, já que sua essência são as diretrizes e princípios. Busca-se é que tais ideais
sejam seguidos, a fim de proporcionar-se, principalmente, as questões da
equidade e universalidade. São muitas as questões políticas que cercam os
projetos envolvidos com o SUS, entre eles a possibilidade de continuidade ou
descontinuidade de programas vinculados aos governos nas mudanças de
mandatos, além das questões de financiamento.
Inúmeras são as críticas ouvidas a respeito do SUS, mas nem todas podem
ser consideradas, tendo-se em vista as inúmeras afirmações feitas sem
fundamento ou conhecimento do que se trata esse sistema. O SUS surge em uma
época em que as relações de custo/efetividade, típicas de um pensamento
mercantilista da saúde, estão bastante marcadas na mente das pessoas, e logo, a
população pouco espera de um atendimento público comparando-se com os
planos privados já em vigor. Esta população ainda custa a adaptar-se a idéia de
que possui o direito ao atendimento na saúde, por estar ainda imersa em uma
cultura de consumo deste serviço. O pagamento para conseguir o tratamento
14
garantido é forte na idéia das pessoas, mas não tão distante da realidade
(ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2004).
A grande quantidade de pessoas sendo atendidas através do sistema de
saúde pública gera filas, falta de vagas e falta de remédios. Estes problemas,
geram a visão de que o sistema público de saúde é algo meramente
assistencialista, havendo conformidades para com esta atuação e a falta de
envolvimento em prol de mudanças a fim de se objetivar uma real promoção de
saúde. Outro problema é a falta de humanização, onde ocorre um distanciamento
entre o usuário e o profissional que vão muito além daquele que estabelece o
profissionalismo da relação, e que acabam por tornar a situação de atendimento
desconfortável e mecânica. O distanciamento, além de prejudicial na ação do
profissional da saúde, é uma grande falha no planejamento de programas de
ação. É necessária a participação de todos os envolvidos, tanto o profissional da
saúde quanto, principalmente, a própria pessoa que procura desenvolver a sua
saúde (DIMENSTEIN, 2001).
As reivindicações por parte da população são cruciais para melhorar este
processo. Ouvir as demandas torna mais fácil a organização de um sistema que
possa atendê-las. É preciso, contudo, que a população, incluindo-se então os
profissionais da saúde, conheçam melhor o que é o SUS. A fim de tornar possível
que os ideais propostos pelo SUS apliquem-se cada vez mais à realidade e que
sejam conhecidos no meio acadêmico, a fim de construir-se um sistema de saúde
o mais universal e preocupado com a diferença de cada pessoa, aplica-se uma
visão a fim de definir-se a saúde e as ações envolvidas com ela, que já são
familiares às diretrizes do SUS: a promoção da saúde.
2.2 Promoção de Saúde
A fim de atender-se a uma demanda que busca cada vez mais uma saúde
não centrada na doença, e um atendimento mais humanizado, vêm-se agregando
às práticas e estudos acerca do SUS o conceito da promoção de saúde. É
importante compreender que promoção, prevenção e educação de saúde são
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conceitos distintos. Trabalhos de prevenção atuam com riscos e probabilidades de
adoecimento, enquanto que a educação atua de forma a transmitir informações
relativas à saúde, possibilitando que o indivíduo seja o principal responsável por
sua saúde, optando por adotar ou não mudanças de comportamento que visem a
adoção de um estilo de vida saudável. A promoção de saúde engloba múltiplas
estratégias, podendo utilizar-se de métodos educativos e de prevenção, de forma
a tornar mais viáveis tais processos, bem como sustentar em seus projetos as
mudanças requeridas que vão além do contexto do setor da saúde de um Estado,
como o econômico, sócio-cultural e legislativo. (SOUZA; GRUNDY, 2004, BRASIL,
2001).
Segundo o documento elaborado com base na Primeira Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em novembro de 1986, a
“Carta de Ottawa”, define-se promoção de saúde como um “(...) processo de
capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. (BRASIL,
2001, p.19). Trata-se de um projeto ao qual não somente o setor da saúde de um
Estado deve estar comprometido, mas vários setores de sua sociedade, dentre
pequenas e grandes comunidades. A promoção da saúde é algo a ser tomado
como ações e intervenções focadas em grupos sociais e instituições, sendo
utilizadas múltiplas estratégias e métodos, a fim de se adequar aos diferentes
resultados esperados. (MOYSES; MOYSES; KREMPEL, 2004).
Deste modo, para cada comunidade, grupo ou instituição, serão
diferenciadas as formas de ação e intervenção, não se esperando resultados fixos,
como em uma fórmula. Deve haver uma adaptação dos projetos às necessidades
e possibilidades de cada país e região, sua cultura, economia e sistema social.
(BRASIL, 2001).
Os objetivos de um projeto de promoção de saúde devem procurar atender
aos pré-requisitos para a saúde, aos quais, se presentes, formam uma base ideal
sólida para que ocorram melhorias nas condições de saúde. Os requisitos seriam
paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos
sustentáveis, justiça social e eqüidade, sendo este último referindo-se não a uma
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possibilidade de tratamento igual para todos, mas sim de um olhar que seja capaz
de captar as diferenças individuais dos sujeitos e saiba respeitar isto e promover a
saúde do indivíduo sem tentar generalizá-lo e padronizá-lo (BRASIL, op. cit.).
A preocupação existente para com o compromisso da equidade, em um
país com as extensões territoriais e variedades culturais como o Brasil, deve ser
grande por parte dos profissionais da saúde, se é intenção destes a melhor
compreensão e atendimento à tão variada população. O próprio estudo de temas
que tentam englobar toda uma população brasileira, no quesito saúde, precisa
atentar-se para esta enorme diversidade presente, a fim de não haverem
generalizações injustas. Promover saúde, no caso do Brasil, mais do que nunca
se deve ater às diferenças culturais presentes em Estados, Municípios e
comunidades, tanto em relação a modos de atuação, quantidade de pessoas,
recursos disponíveis, compreensão da linguagem, problemáticas levantadas pela
população, entre outros.
2.3 Psicologia e saúde
A Psicologia, como ciência que estuda o comportamento humano,
relaciona-se não somente com a saúde mental dos indivíduos, mas também com a
somática, já que comportamentos que visam o cuidado ou a falta de cuidado para
com a saúde são também objetos de estudo, sobretudo da área que se designa
como Psicologia da Saúde (SILVA, 2005). Assim, a Psicologia procura
compreender de que modos as pessoas agem a fim de cuidar de sua própria
saúde e a do outro, ou mesmo como que deixa-se de tomar este cuidado.
Em seu trabalho junto à saúde, a Psicologia foca-se principalmente nos
comportamentos, suas aprendizagens e condições de manutenção e extinção dos
mesmos, já que é o processo de vida das pessoas que trará as doenças e a
saúde, sendo, portanto, primordial investigar-se não somente condições de cura,
mas também de prevenção e promoção da saúde dos indivíduos. Deste modo,
criou-se uma disciplina chamada Psicologia da Saúde, que iniciou-se com um
17
grupo de trabalho em 1970, tornando-se oficialmente uma divisão da American
Psychological Association (APA) em 1979. É definida como:
Um conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais da disciplina da Psicologia para promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento de doenças, a identificação da etiologia e diagnóstico dos correlatos de saúde, doença e funções relacionadas, e a análise e aprimoramento do sistema e regulamentação da saúde (MATARAZZO apud KERBAUY, 2002, p. 815).
Além desta denominação, foi ainda formulada a chamada Medicina
Comportamental, que une conhecimentos da medicina com aqueles das ciências
comportamentais, a fim de compreender os processos de saúde e doença, e a
partir daí elaborar estratégias e técnicas de prevenção, diagnóstico, tratamento e
reabilitação (KERBAUY, op.cit.).
Promover saúde no âmbito da Psicologia é trabalhar com a subjetividade
dos indivíduos inseridos nos contextos de saúde e doença. São vários os
materiais e as práticas produzidas acerca de trabalhos realizados por psicólogos
em hospitais, centros de atendimento, programas de educação, atendimento
particular, acompanhamentos e encaminhamentos (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001;
KERBAUY, 2002; ROEHE, 2004; MEDEIROS; BERNARDES; GUARESCHI,
2005). Percebe-se, pois a atuação em prol da promoção da saúde, em que o foco
não está na doença, mas sim naquele que está doente e nas possibilidades não
somente globais, mas também individuais de melhora e tratamento.
A Psicologia é uma importante interface para trabalhar-se com a prevenção
e adesão a tratamentos que visam a recuperação de um estado enfermo, ou ainda
de um estilo de vida que venha a promover condições mais saudáveis. Auxilia não
somente a compreender o que ocorre com o corpo e a mente enferma, mas
também a saber aceitar e adaptar-se a novas condições de vida, sejam elas
permanentes ou passageiras. Colabora ainda com a compreensão do cuidado
próprio e com o poder e responsabilidade com a qual cada indivíduo possui sobre
a sua vida e saúde. Kerbauy (2002, p.5) coloca que:
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explicar a mudança e demonstrar que podemos exercer algum controle no decorrer de vida é peça chave para construir novos estilos de vida que a saúde ou a doença exigem e conseqüentemente os programas de prevenção, tratamento e manutenção.
Relacionar-se com contextos e culturas, no que a Psicologia Social estuda
como o contexto sócio-histórico-cultural, é compreender o indivíduo de forma
“verdadeira”, sem retirá-lo de seu espaço e generalizando suas características
íntimas ao ambiente e sua história de vida. Utilizando-se da mesma metáfora que
Patto (in BOCK, 2003) utiliza para explicar a importância de contextualizar-se os
conceitos da psicologia com seus momentos históricos, pode-se perceber que
olhar para o sujeito desconsiderando seu contexto é como tentar separá-lo em um
varal, onde sua posição é individual e separada dos demais. Contudo, no chão
ficou toda sua história, cultura e contexto social. Pode parecer, com este exemplo,
que será mais fácil caracterizar este indivíduo, por estar separado da “pilha de
roupas”, mas, contudo, ao mesmo tempo que retira-se as informações que não
parecem cruciais ao entendimento de um processo de cura, ignoram-se também
aspectos essenciais para compreender-se o comportamento que leva ou levou
àquela situação, elemento essencial para ocorrer a prevenção e a educação em
relação aos processos de saúde e doença.
Contudo, o que é ainda freqüente, é a separação entre o subjetivo e o
coletivo, entre o individual e o comunitário, e principalmente entre a psicologia, a
saúde e a política. Estas separações reforçam a manutenção de estruturas e
procedimentos como padrões a serem aplicados não em sujeitos, mas em coisas,
por ignorar-se a dimensão em que este está inserido, no que Lukács (1974 apud
RODRIGUES; FIGUEIREDO, 2003) define como reitificação, que é o processo de
deixar que as relações entre as pessoas tomem o aspecto de uma coisa, não
humana e nem máquina.
O que se pretende, conhecendo-se formas mais ideais de trabalho e a
limitação desta dualidade entre o social e o individual é que a Psicologia agregue
seus conhecimentos e assuma o compromisso de atuar junto à saúde, em
especial junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). É preciso que o psicólogo tome
para as suas práticas os princípios do SUS, da inseparabilidade entre o contexto e
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o indivíduo, da autonomia e co-responsabilidade, que coloca não somente o
sujeito doente como responsável por sua cura, mas também os profissionais em
serem responsáveis por seu papel dentro deste processo, e a transversalidade,
que é reconhecer a impossibilidade de esgotar o problema somente por uma
ciência, e de saber agregar-se os demais conhecimentos a fim da obtenção de
respostas e soluções, através da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade
(BENEVIDES; PASSOS, 2005).
Analisar a saúde, sob a ótica ligada à Psicologia Social, é considerar o
processo da saúde e da doença como uma construção. Isto significa olhar para o
indivíduo e compreender que a sua história de vida construiu toda uma rede de
significados, crenças e regras que fazem com que se comporte de determinada
maneira, em destaque, neste caso, aqueles comportamentos que voltam-se para a
saúde, seja a prevenção e manutenção de algo prejudicial ou que traga
benefícios. O processo social ao qual o indivíduo está inserido e produzindo toda
esta subjetividade que expressa-se em seu comportamento, não é meio natural,
mas sim construído. A fim de compreender-se o sujeito, busca-se compreender
sua história de vida e o seu meio social (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).
Promover saúde é também tarefa da Psicologia, não somente pela
possibilidade deste profissional trabalhar com essa subjetividade dos sujeitos, mas
também por trabalhar com o comportamento dos indivíduos. A práxis não é
somente ater-se à saúde ou ao Psicólogo, é também área primordial para o
trabalho interdisciplinar e multidisciplinar. Não somente o hospital, as clínicas, os
consultórios, e os postos de saúde são alvos de um trabalho da Psicologia, mas
também a escola e as organizações.
A produção do aluno e o seu tempo dentro da escola são espaços para a
promoção da saúde, pois todo um conhecimento e atitudes para com o meio social
se formam neste contexto, bem como a aquisição de comportamentos e estilos de
vida. O momento escolar dos indivíduos perpassa a infância, onde se constróem
concepções que servirão para conduzir a vida desta pessoa adulta. O que
geralmente se realiza neste contexto da escola é a prevenção e a educação para
a saúde, com palestras e oficinas a fim de tratar de temas sobre a prevenção de
20
doenças e campanhas de vacinação. Promover saúde, contudo, engloba estas
práticas e vai além, pensando-se nas relações que estão inseridas naquele
contexto, entre a sociedade e o indivíduo, a fim de conhecer a instituição e ser
agente de mudanças. Sendo a educação um importante fator na vida do homem, é
este momento também um promotor de saúde. A aprendizagem é um forte agente,
que permite que a informação torne-se conhecimento, e que o conhecimento
torne-se ação. Informar a fim de prevenir, não é promover saúde, se não prestar-
se atenção à dimensão da educação e a importância de aprender-se e não
somente passar-se conteúdos. É papel do profissional da saúde, inserido nesta
tarefa, de tornar a criança um indivíduo ativo na relação com sua própria saúde
(CONTINI, 2000).
É comum ainda, como prática dos profissionais da saúde, a educação para
a saúde além da educação formal da escola, que ocorre por meio de palestras,
oficinas, visitas às famílias e produção e divulgação de material pela mídia. Neste
meio, há também o desafio da informação em tornar-se conhecimento, pois não
basta que saiba-se que determinado comportamento é bom, e o outro ruim, mas
sim de significar-se isto na vida do indivíduo, ou seja, construir uma compreensão
do que realmente é aquela informação, de saber que o próprio comportamento e
cuidado é agente de mudanças na saúde do indivíduo, e não somente a situação
passiva ao qual a própria palavra “paciente” carrega consigo (KERBAUY, 2002).
A realização de programas educacionais relacionados à saúde já é pratica
comum, sendo questões chaves a adesão dos indivíduos por vontade própria e a
utilização de uma abordagem educacional, e não somente a transmissão de
conhecimentos sem o compromisso da aprendizagem. É objetivo destes
programas, que, sobretudo, as pessoas sejam capazes de se auto-gerenciar e
melhor se conhecer, associando as informações a suas realidades, a fim de
produzir-se compreensão e sentido.
Nas organizações, o trabalho também tende a centrar-se na prevenção e
educação, sobretudo em relação a acidentes de trabalho e situações de risco, que
não somente colocam em risco a vida de funcionários, mas que também causam
às empresas gastos adicionais. Neste contexto, educar e prevenir vem junto com
21
uma série de regras a serem seguidas, de forma a tornar o ambiente de trabalho
mais saudável e livre de riscos. Promover, contudo, engloba estas práticas e vai
além, como no caso das escolas: é tornar o indivíduo responsável e capaz de
administrar a sua saúde tanto no contexto de sua empresa como fora dela, bem
como promover formas da informação tornar-se conhecimento. Enxergar o
indivíduo como parte do seu contexto é primordial, a fim de compreender-se
motivos de recusa a utilizar-se materiais de segurança, bem como a aceitação de
riscos em prol da bonificação salarial por alto risco (SPECTOR, 2002).
É trabalho do psicólogo e outros profissionais da saúde, a produção de
projetos a fim de haverem mudanças e implantações de propostas que visam esta
promoção da saúde tanto nestes como em outros contextos. O psicólogo atua
como aquele que compreende a relação e os comportamentos desses indivíduos
em relação, inseridos em seus contextos sócio-cultural-históricos, a fim de
trabalhar-se em conjunto com os demais profissionais a fim de elaborar projetos
que se encaixem com a proposta do SUS, sobretudo a equidade.
Contudo, o trabalho a ser realizado corre o constante risco de levar-se pelo
modelo médico, onde procura-se adaptar o paciente em relação à instituição onde
insere-se, bem como aos padrões de normalidade que vêm a ser estabelecidos
como possíveis curas, além de poder-se cair no modelo cartesiano em que
separa-se mente e corpo. A fim de evitar tais situações, é primordial que os
profissionais da saúde atenham-se ao contexto em que se inserem ao relacionar-
se com o paciente a sua frente, não somente de que realidade veio este indivíduo,
mas também onde ele está no momento do atendimento. É preciso questionar que
instituição é esta onde tanto o profissional quanto o paciente estão inseridos, e
onde ocorre a sua relação, a fim de investigar-se de que formas o processo
saúde-doença ali ocorre, de que formas as relações com os demais profissionais
se estabelecem junto aos pacientes, e como fluem as informações e a
colaboração, se o trabalho é isolado, multidisciplinar ou ainda interdisciplinar
(KERBAUY, 2002).
22
2.4 Promoção de saúde, qualidade de vida e estilo de vida
A Organização Mundial de Saúde define qualidade de vida como
a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (THE WHOQOL GROUP apud FLECK, 2000).
Este conceito vem ao encontro com aquele proposto para a promoção da
saúde, onde a percepção de todos os indivíduos envolvidos, sobretudo a pessoa
em relação a sua própria saúde, é de extrema importância a fim de haver
reflexões e descobertas a respeito daquilo que é melhor para si e para sua
comunidade. Propõem-se controle social do processo, e não meramente esperar-
se por ajuda ou somente buscar este tema em situações de doença, mas sim
construir-se a saúde enquanto um projeto de vida, indo além da prevenção e da
educação.
Qualidade de vida, deste modo, vem a ser um conjunto de realidades
objetivas e subjetivas, uma relação entre meio ambiente, seus aspectos físicos,
psicológicos, o nível de independência deste sujeito, suas relações sociais e
crenças pessoais. Deste modo, promover saúde é também ajudar os indivíduos a
pensarem sobre a sua qualidade de vida.
O Brasil está envolvido nas questões relativas a qualidade de vida, em seu
auxílio junto com outros países à Organização Mundial da Saúde (OMS) na busca
de melhor compreender a esta questão dos indivíduos ao redor do globo,
elaborando o World Health Quality of Life – 100 questões (WHOQOL-100). Para
criar tal instrumento, foi necessária uma metodologia transcultural bastante
original, envolvendo-se profissionais de todas as partes do mundo, com a
finalidade de tornar o trabalho acessível ao maior número possível de culturas e
países. A elaboração de cada questão e trocas de informações foi discutida
amplamente, e a tradução recebeu a ajuda de grupos focais que além de suas
colaborações para verificar-se a compreensão da escala, auxiliaram dando
sugestões para a mesma (FLECK, 2000).
23
O instrumento é composto por cem questões divididas em seis domínios:
físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e
espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. Cada um destes domínios é
dividido em vinte e quatro facetas, cada qual apresentando quatro perguntas. Há
ainda uma vigésima quinta faceta com perguntas gerais sobre qualidade de vida.
A testagem da escala apresentou um bom resultado, podendo e sendo utilizada
atualmente. Contudo, devido à grande extensão de suas questões, foi criada uma
versão mais compacta, chamada de WHOQOL-bref, composto por vinte e seis
questões (FLECK, op.cit.).
É uma importante novidade a utilização da dimensão espiritual, religiosa e
de crenças em uma escala de uso em nível mundial, sobretudo relacionando-se à
qualidade de vida, fator tão próximo e necessário à saúde. Uma das grandes
preocupações foi a de tornar o módulo respondível a pessoas que se consideram
tanto “crentes” como “descrentes” de uma religião ou espiritualidade, a fim de não
se tornar uma área do instrumento a ser deixada em branco ou sem sentido algum
para essas pessoas, tendo-se em vista que são importantes tanto as respostas
daqueles que se consideram crentes como dos descrentes, não havendo a
intenção de tornar o resultado tendencioso a relevar ou ignorar a espiritualidade e
sua relação com a qualidade de vida.
O estilo de vida, seus comportamentos e costumes são freqüentemente
associados com a manutenção de condições favoráveis ou desfavoráveis à saúde,
bem como a qualidade de vida (KERBAUY, 2002; MOYSES; MOYSES;
KREMPEL, 2004; SOUZA; GRUNDY, 2004; MEDEIROS; BERNARDES;
GUARESCHI, 2005). Muitas doenças são diretamente relacionadas com
comportamentos específicos, que juntamente com questões genéticas teriam a
chance de gerar distúrbios e doenças nos indivíduos. Do mesmo modo, certos
estilos de vida ajudam a prevenir as pessoas de adquirirem certas doenças e
moléstias. Alguns exemplos de casos seriam os das doenças cardíacas,
respiratórias, doenças sexualmente transmissíveis, transtornos alimentares,
distúrbios psicológicos, problemas odontológicos, doenças na pele, entre outros.
24
Muitas situações são evidentes na relação entre um comportamento e uma
causa que pode beneficiar ou prejudicar a saúde, como o uso de preservativo em
relações sexuais e a manutenção da higiene, mas outros casos, onde
conseqüências negativas estão mais distantes, é um pouco mais difícil
compreender-se a relação entre comportamento e saúde, e do mesmo modo mais
difícil é a educação para evitar-se um estilo de vida que não colabora para a
saúde do indivíduo.
3. Comportamento Religioso
3.1 Religiosidade e espiritualidade
As definições de religião tendem a se distinguir entre o reconhecimento de
um mistério que exige uma interpretação, até o sentimento de absoluta
dependência a esse mistério ou crença e entidades relacionadas. Podem-se ainda
encontrar definições que focam ora o aspecto individual, ora o aspecto comunitário
da religião.
A espiritualidade é uma relação entre a pessoa e um ser ou força superior
ao qual ela acredita e dá valor sendo esta uma experiência individual, capaz de
exteriorizar-se (ser percebida por outros) caso esta se relacione com aspectos
institucionais e valores religiosos, realizando-se os comportamentos religiosos.
Contudo, é possível que o indivíduo não se associe direta ou indiretamente com
uma religião a fim de vivenciar sua espiritualidade, que também pode ser
entendida como um sistema de crenças pessoais que pode auxiliar a pessoa a
compreender a sua realidade objetiva e subjetiva (SEIDL; TROCCOLI; ZANNON,
2001; MOREIRA-ALMEIDA; NETO; KOENING, 2006).
Já a religião, é definida como um aspecto não tão amplo, contemplando
aquelas práticas específicas e centradas em uma instituição, cada uma com seus
costumes, regras e modos de organização social. Assim, “a religião é a
formalização social da espiritualidade” (ROEHE, 2004, p. 401), pois trás ao meio
público expressões e sentimentos subjetivos de crença e fé. Do ponto de vista
psicológico, a religião é um fenômeno tipicamente individual, mas pode e deve ser
estudado em sua dimensão social e coletiva.
Pode-se perceber dois tipos de espiritualidade, uma mais conectada e
próxima de aspectos religiosos, e mesmo presente na prática religiosa, onde há a
presença de rituais, freqüência a cultos e instituições daquela religião, bem como
a formação de comunidades, e ainda uma outra, que se relaciona mais com a
busca de um sentido para a vida e seus mistérios, sem necessariamente vincular-
se à instituição ou comunidade religiosa (VOLCAN et al, 2003). As chamadas
26
crenças pessoais são valores sustentados por um indivíduo, e que compõem a
estrutura de seu estilo de vida e comportamento, não estando, necessariamente,
vinculado a uma religiosidade ou espiritualidade.
São muitas as definições propostas por diversos autores, que colocam a
espiritualidade e a religiosidade como fenômenos distintos, mas não distantes;
eles se diferenciam, estando o primeiro mais relacionado com aspectos
individuais, particulares, e o segundo mais ligado a aspectos que envolvem
práticas de rituais e adesão a comunidades e instituições. Apesar de definidos de
formas diferentes, religiosidade e espiritualidade atuam em conjunto no fenômeno
da fé das pessoas, sendo esta “separação” algo útil somente para definições de
conceitos.
Nesta pesquisa, compreende-se a religiosidade na dimensão proposta por
Martín-Baró (SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004), que a define como
o conjunto de todas as formas concretas de expressão das pessoas em relação a
sua religião, que podem aparecer através de suas representações sociais, práticas
religiosas ou derivadas desta e pelas relações ou vínculos estabelecidos com os
membros da comunidade religiosa em que se encontra inserido o sujeito.
Martín-Baró coloca dois elementos que compõem as representações
religiosas dos indivíduos: a verticalidade-horizontalidade e a transcendentalidade-
historicidade. O primeiro elemento refere-se a como a pessoa percebe-se diante
de sua divindade, referenciada pelo autor como Deus: o indivíduo pode perceber-
se distante e submisso ou próximo e companheiro. O segundo elemento refere-se
à idéia de salvação, seja para aceitar aquilo moldado por Deus, sendo passivo em
sua espera por salvar-se ou como um indivíduo ativo rumo a essa salvação
(ROEHE, 2004). Coloca ainda que:
A opção por um ou outro tipo de religião ou religiosidade, não é somente um assunto de valores individuais ou preferências subjetivas, é também uma decisão social e política que transcende para bem ou para mal na vida dos povos (SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004, p.79).
Deste modo, a religiosidade do indivíduo é muito mais do que
características subjetivas não visíveis ao observador, pois é também a história de
27
vida deste indivíduo e as suas ações concretas, seja na comunidade ou no
contexto familiar e privado. Leva-se em conta a construção dos significados que
levam às ações, bem como as motivações e códigos de conduta.
3.2 Psicologia da Religião
A área da ciência psicológica, historicamente, evoluiu de suas bases
filosóficas, fisiológicas e biológicas, a fim de tornar-se uma ciência única e
competente em estudar o seu objeto de investigação, o comportamento humano.
Para tanto, apropriou-se do método de estudo próprio de toda ciência, com o
empirismo e a objetividade de suas observações e investigações. Contudo, é a
Psicologia que estuda ainda a subjetividade dos indivíduos. Apesar de isto não ser
objetivamente observado por qualquer pessoa, é o profissional psicólogo aquele
quem estuda e treina sua percepção e técnicas de entrevista a fim de entender os
fatores menos tangíveis às pessoas, mas que habitam incansavelmente suas
mentes (KERBAUY, 2002).
A religião e a espiritualidade, como fenômenos caracteristicamente
humanos, são estudadas por diversas ciências, como a Teologia e a Antropologia.
Contudo, somente a Psicologia apropria-se deste conhecimento com o olhar para
o fenômeno mental e comportamental, ou seja, psicológico; é a Psicologia quem
estuda o comportamento do homem para com aquilo em que este chama de
sobrenatural e místico, sagrado e superior, bem como as relações que este
estabelece para com as outras pessoas devido a sentimentos e crenças
envolvidas nisto, buscando-se o significado da experiência religiosa nos
indivíduos.
A Psicologia da Religião estuda o comportamento religioso dos indivíduos,
seja este expresso de forma individual, em uma comunidade, de forma pública ou
privada, não estando a ausência deste comportamento descartada de seu estudo.
Como parte da ciência psicológica, utiliza-se de sua metodologia descritiva e
objetiva, a fim de pesquisar e estudar o seu fenômeno comportamental. Não se
defendem ideologias ou credos das religiões e crenças, mas busca-se a
28
compreensão do que é o comportamento religioso, de que formas ele surge, ou
não, na vida das pessoas, e em que o significado disto influi no seu cotidiano e em
sua história de vida. (ROSA, 1971; PAIVA, 2003).
Pode-se citar o início dos estudos em Psicologia da Religião nos primórdios
do pensamento filosófico, com Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Jeremias e
Buda, pois são estes pioneiros em questionar tanto a religião como a relação do
ser humano com ela, obviamente dentro de seus contextos histórico-cultural e
social, com suas limitações e métodos não aceitos por nossa ciência psicológica
hoje. Contudo, assim como a própria Psicologia, a reflexão e curiosidade a
respeito do relacionamento do homem com o sobrenatural sempre foi alvo de
investigação (ROSA, 1971; PAIVA, 2002; FARIA; SEIDL, 2005).
O primeiro livro lançado sobre o assunto dentro da ciência psicológica foi de
autoria de Edwin Diller Starbuck, no ano de 1899 intitulado “Psicologia da
Religão”, marcando o início do estudo sistemático e científico do tema (ROSA,
1971). Posteriormente, surgiram outras obras que vieram a se tornar clássicos a
respeito do tema.
Em 1902, é lançado o livro “As variedades da experiência religiosa”, por
William James. Este autor, filósofo e psicólogo, representa grande importância
para a história da Psicologia por acrescentar um pensamento funcionalista a esta
ciência e a filosofia do pragmatismo, onde apenas aquilo que possui uma
conseqüência faria sentido (SCHULTZ, 2002). Defendeu também a idéia de
considerar-se aspectos menos exigentes no método científico do empirismo dentro
da Psicologia, a fim de considerar-se aspectos mais subjetivos, como o fatos
espiritual e religioso na vida das pessoas.
Burrhus Frederic Skinner, biólogo e posteriormente psicólogo, em seu livro
“O mito da liberdade”, de 1983, aborda o tema da religião em sua busca em
responder a respeito da liberdade humana, partindo de sua teoria
comportamentalista, onde o ambiente é provocador dos comportamentos do
homem. Sigmund Freud, criador do modelo psicanalítico de compreender-se e
aplicar a psicologia, expõe em seu livro “Cinco lições de psicanálise” o artigo “O
29
futuro de uma ilusão”, onde procura aspectos racionais da religião para os
homens, considerando-a uma “ilusão necessária”, uma neurose (FREUD, 1974).
Uma associação mais direta existente entre um autor da psicologia e as
questões da religiosidade e espiritualidade surge com Viktor Frankl (1983), que
compreende as motivações dos indivíduos de forma diferente de seus mestres,
que ora consideravam como busca de poder, ora como satisfação sexual. Frankl
compreendeu que o que os indivíduos buscavam era o significado de suas vidas,
e a partir disto fundou sua teoria da Logoterapia, que mais do que todas as outras
escolas de Psicologia, leva em conta os aspectos espirituais e religiosos do
indivíduo, a fim de compreender a sua subjetividade e o sentido que dá à vida
(SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004).
Atualmente, pesquisas sobre o tema encontram grande força nos Estados
Unidos e na Europa, não somente na Psicologia propriamente dita, mas também
na Medicina e sua curiosidade sobre as influências da religiosidade e da
espiritualidade sobre a saúde (LEVIN, 2001; PAIVA, 2002, 2003; FLECK et al,
2003; FARIA; SEIDL, 2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; MOREIRA-ALMEIDA;
NETO; KOENING, 2006).
No Brasil, vêm-se abordando o tema de forma cada vez mais freqüente,
não somente dentro da Psicologia, mas também nas diversas áreas da saúde,
procurando-se, sobretudo, formas de compreender como a religiosidade e as
crenças pessoais envolvem-se com a saúde das pessoas, seja no enfrentamento,
tratamento, cura e explicação de transtornos mentais (AMATUZZI, 2003; FARIA;
SEILD, 2005; MARQUES, 2003; PANZINI; BANDEIRA, 2005; VOLCAN et al,
2003).
É importante ainda destacar um livro considerado clássico no tema, do ano
de 1971 entitulado “Psicologia da Religião”, escrito por Merval Rosa. É nesta obra
que encontram-se reunidos muitos conceitos que até hoje não encontram melhor
forma de serem definidos, como a do comportamento religioso.
Várias teorias psicológicas procuram uma forma de determinar o que
definem por “comportamento”, e de que formas o estudam. Pode-se encontrar,
portanto, aqueles que se focam ora no comportamento objetivamente observado,
30
e ora aqueles que incluem em sua gama de investigações aqueles
comportamentos que são relatados pelo indivíduo, e que somente ele experiencia
e tem conhecimento. O comportamento religioso é definido como atitudes e ações
que se referem especificamente ao divino ou sobrenatural, ocorra este no meio
público ou privado (ROSA, 1971). Deste modo, portanto, não somente aquilo que
mais de uma pessoa observa será tido como um comportamento religioso digno
de investigação científica, mas também aquilo que vier pelo diálogo que a pessoa
traga, pois é experiência vivida e possuidora de significado, como qualquer outro
evento da vida que se relata para alguém, mesmo esta não tendo sido capaz de
presenciar. Investiga-se, portanto, de que formas estas crenças, ou ausência de
crenças, influencia na vida das pessoas, se colaboram ou não para a saúde e o
bem-estar geral do ser humano e seu bem-estar percebido, e de que formas estão
envolvidas no desenvolvimento da personalidade destes.
3.3 Comportamento religioso, saúde e promoção de saúde
Compreender a relação entre a saúde do indivíduo e o trabalho de
profissionais tanto da área especificamente científica da saúde com de outras
áreas, exige também a compreensão de que houveram processos históricos de
separação e união entre estas duas áreas. A medicina e a religião, em seu
nascimento intrincado, uniam as habilidades de cura com as significações das
doenças e males. Desta época até os dias atuais, percebe-se que é mais fácil
para o paciente aceitar uma condição debilitada ou de dor se esta for melhor
compreendida, seja como causa de estar doente ou simplesmente como aquilo
funciona em seu organismo, seja para compreender aquilo como um castigo
divino, como um destino melhor do que a morte, ou ainda como um golpe de má
sorte. Os profissionais da saúde e os pregadores religiosos são capazes de
unirem seus esforços a fim de proporcionarem melhores condições de cura,
conforto durante a doença, seu enfrentamento (ou coping) e compreensão dos
estados terminais (SERRANO, 2003).
31
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), em
sua quarta edição revisada, coloca a questão espiritual e religiosa como possível
causa de transtorno clínico. Lê-se na seção “Condições Adicionais que Podem Ser
um Foco de Atenção Clínica”:
V.62.89 Problema Religioso ou Espiritual: Esta categoria pode ser usada quando o foco de atenção clínica é um problema religioso ou espiritual. Exemplos incluem experiências angustiantes que envolvem a perda ou o questionamento da fé, problemas associados com a conversão a uma nova fé, ou o questionamento de valores espirituais que podem não estar, necessariamente, relacionados com uma igreja ou religião institucionalizada (DSM-IV, 2000, p.645).
Contudo, ocorrendo um distanciamento entre a ajuda que a religião
proporciona a significação da doença (principalmente no fator de enfrentamento,
aceitação e esperança), bem como sua cura, a doença passa a ser vista e
explicada de forma puramente biologista, vista as vezes sequer de forma
compreensível ao paciente, como uma anomalia a ser removida do corpo:
Cada doente, cada sofredor, busca um sentido para sua dor e seu mal-estar, no plano psicológico ou no plano espiritual. É possível conviver com a dor, desde que para ela se construa explicação e significado. (...) Para o mundo científico, porém, a doença não tem propósito nem significado. Ela é anormalidade: é patologia a ser extirpada (SERRANO, 2003, p.03).
Com essa separação entre instituições de saúde e instituições religiosas,
resta ao paciente suas crenças pessoais, familiares e comunitárias para ajudar a
significar o momento da doença; isto é claramente visível pela oração e esperança
presentes em pacientes em estados terminais ou com doenças incuráveis, que
surgem a fim de aliviar ansiedades e temores de perder a própria vida ou a de
entes queridos. Contudo, por mais irracional que pareça manter a esperança em
face da morte já dita como certa, não se pode afirmar que as orações e a
esperança de nada irão adiantar para esses pacientes, mesmo sabendo-se da
impossibilidade de uma melhora física, já que é com a mente que se trabalha nos
estados terminais, com medidas paliativas, a fim de se garantir qualidade de vida
até os últimos momentos da pessoa.
32
Pesquisas apontam a religião como uma forma de enfrentamento, ou seja,
como um suporte para que o indivíduo enfrente situações difíceis de sua vida,
muitas vezes geradoras de stress (FARIA; SEIDL, 2005; LEWIS; MALTBY; DAY
2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; SARRIERA in TEIXEIRA; MULLER; SILVA,
2004; SEIDL; TROCCOLI; ZANNON, 2001). O comportamento religioso auxilia na
preservação de pensamentos positivos, ou seja, que mantém a esperança e a
força de vontade para que o indivíduo busque ajuda para a resolução de seus
problemas.
Marques (2003), relaciona a espiritualidade a um “pára-choque” contra o
estresse, por favorecer a pessoa na formulação de significados mais positivos e
produtivos para si mesmo e para as outras pessoas na ocorrência de situações
perturbadoras, graves ou que gerem um alto estresse. Se o comportamento
religioso auxilia na manutenção de esperança, auto-estima e significação do
processo de enfermidade, seja ela crônica ou não, então é possível dizer que o
comportamento religioso é um elemento que contribui para uma adaptação
positiva do sujeito.
A adaptação relaciona-se com a capacidade do sujeito em adaptar-se a
mudanças em sua vida que geram stress, seja a perda de um emprego, o
nascimento de um filho, a morte de um ente querido, a descoberta de um quadro
clínico grave. A capacidade em adaptar-se às novas situações, ou aprender a
viver com constantes e incontroláveis mudanças, faz parte de um conjunto de
comportamentos que favorecem a saúde do indivíduo, pois este será capaz de
manejar melhor seu stress gerado deste tipo de situação e que pode vir a
prejudicar a saúde deste indivíduo (MARGIS et al, 2003).
Tamanha foram as relações entre comportamentos religiosos e o
enfrentamento, no decorrer de pesquisas, que estudos levaram a formulação do
chamado “enfrentamento religioso”, que é este enfrentamento elaborado a partir
de estratégias que utilizam-se de comportamentos religiosos, tais como a busca
maior ou menor pela resolução de um problema, atribuindo ou não maior
responsabilidade à sua crença de auxiliar neste processo (FARIA; SEIDL, 2005).
Panzini e Bandeira (2005) trazem ao Brasil a Escala de Coping Religioso-
33
Espiritual (Escala CRE), realizando o trabalho de tradução, elaboração e validação
do constructo para a realidade brasileira. A escala possui por objetivo aprimorar
pesquisas futuras na temática da Psicologia da Religião, saúde e qualidade de
vida, tendo-se claro que a relação entre o enfrentamento religioso e a saúde,
segundo a revisão do tema pelo autor, é positiva.
Outro fator dentro desta dimensão é o suporte social próprio das
comunidades religiosas, onde a pessoa não sente-se sozinha, recebendo e tendo
onde buscar ajuda. A Religião é responsável pela formação de inúmeros grupos
de pessoas e comunidades, ora de realidades e contextos bastante distintos, ora
de realidades próximas, tanto culturalmente como economicamente. A presença
de um estilo de vida comunitário compõe uma rede de apoio que representa um
recurso para a promoção da saúde das pessoas (OLIVEIRA; BASTOS, 2000).
Uma das metas da promoção da saúde é justamente o trabalho que as
comunidades são capazes de exercer sobre o indivíduo, como de cuidado e
suporte, a fim de que não somente o setor público responsável pela saúde esteja
encarregado destes indivíduos, mas também uns aos outros sejam capazes de se
auxiliar, e principalmente o próprio indivíduo. O convívio comunitário entre as
pessoas gera tanto o comportamento de cuidado como de troca de informações,
sejam elas técnicas médicas ou saberes populares (op.cit.).
As comunidades e o convívio familiar também moldam comportamentos e
estilos de vida, e sendo o estilo de vida fator que influencia na saúde (KERBAUY,
2002; MOYSES; MOYSES; KREMPEL, 2004; SOUZA; GRUNDY, 2004;
MEDEIROS; BERNARDES; GUARESCHI, 2005), é interessante atentar-se para
as dimensões mais diretamente relacionadas com contextos e doutrinas religiosas.
É popular que certas religiões colocam que seus adeptos devem ou não devem se
comportar e agir de certas formas, bem como não consumir certos produtos.
As crenças, tanto no sentido religioso como de verdades e mitos a respeito
da saúde também são constantes, pois moldam atitudes para com a saúde dos
indivíduos, principalmente em relação à adesão a tratamentos médicos. Algumas
pessoas param certas medicações por acreditarem já estarem boas, mesmo que
isto seja contrário à orientação médica, bem como terem a crença de que não
34
necessitam de remédios. Contudo, simplesmente negar-se estas crenças não é
suficiente, sendo necessária uma compreensão e educação a este respeito. É
preciso desconstruir a crença, entendê-la, a fim de que o individuo não se
prejudique com ela, mas sim que possa aprender formas de colaborar
positivamente para sua saúde.
Esta é a proposta, e a realidade não se distancia muito. Mesmo não se
levando em conta aquilo que é dito sobre a promoção de saúde atualmente, as
comunidades religiosas, por serem um grupo de pessoas que tende a ser unido,
acaba por propiciar essa promoção da saúde. Grupos fortes tendem a dar suporte
para as pessoas em momentos de crise e altamente estressantes, bem como de
cuidado e preocupação, fatores que colaboram para a recuperação e aceitação de
doenças. Neste caso, não é a crença em si que auxilia, mas sim as pessoas que
se organizam em torno desta crença.
Estudos apontam as doutrinas religiosas como fatores que diminuem a
propensão das pessoas abusarem no uso de álcool e outras drogas, de
manterem-se dentro de um núcleo familiar, e a partir daí associar-se a demais
instituições sociais como a escola, havendo ainda a desistimulação de estilos de
vida desregrados e promíscuos, atenuando-se ainda efeitos de solidão, de
atitudes intolerantes de violência e de autodestruição (SERRANO, 2003).
Sarriera (in TEIXEIRA; MULLER; SILVA, 2004) aponta para diversas
pesquisas realizadas nos Estados Unidos correlacionando estes temas, onde a
maioria aponta para correlações positivas entre saúde e espiritualidade. A
ocorrência de correlações negativas se dá em relação a chamada “religião do
ópio”, que limita-se em tornar o indivíduo não pensante e acrítico, fato este que
ocorre não somente a nível religioso, mas também a nível político.
Percebe-se, portanto, que a religião é fator que pode proporcionar ao
sujeito estratégias de enfrentamento, bem como de aceitação e promoção de
saúde (LEVIN, 2001; MARQUES, 2003; SERRANO, 2003; ROEHE, 2004; FARIA;
SEIDL, 2005; PANZINI; BANDEIRA, 2005; DALGALARRONDO, 2006; MOREIRA-
ALMEIDA; NETO; KOENING, 2006).
35
3.4 Ações realizadas acerca do tema atualmente
Estudos acerca da relação entre comportamento religioso e saúde crescem
em número e aproximam-se cada vez mais de ações. Tais estudos, na ótica da
Psicologia da Religião, evoluem tendo-se em vista a capacidade de não se limitar
a um credo religioso, mas sim de expandir-se acerca da experiência religiosa do
indivíduo, seja fato objetivo ou subjetivo (PAIVA, 2003). Tendo-se isto como o
objeto de pesquisa, a ação passa a ser possível.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) dá um passo importante a
fim de que se torne legítimo o comportamento religioso como dado relevante para
a compreensão do ser humano em seu processo de saúde e doença, ao elaborar,
dentro de seu instrumento de qualidade de vida, o World Health Organization
Quality of LIfe – 100 questions (WHOQOL-100), um módulo destinado a
espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais (FLECK et al, 2000, 2003). Com
este instrumento, a questão da relevância da experiência religiosa para a
contribuição na qualidade de vida dos sujeitos é clara e impossível de ser
ignorada. Se as relações são positivas ou negativas, contudo, isto cabe a cada
sujeito e a sua experiência, sendo comprovado, contudo, numa perspectiva
epidemiológica, que a relação destas duas dimensões é positiva.
Em um nível mais próximo a realidade aqui tratada, percebe-se que
também as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) dão abertura para
trabalhar-se com aspectos mais subjetivos do indivíduo, como a qualidade de vida
e o bem-estar. Isto ocorre por embasar-se na conceituação da promoção da
saúde, que coloca como primordial a compreensão do indivíduo em sua
individualidade e coletividade, ou seja, uma visão de equidade (ASSOCIAÇÃO
PAULISTA DE MEDICINA, 2004) levando em consideração, portanto, que não
trata-se mais somente da doença, mas sim do indivíduo, de como suas ações
moldam atitudes que ora prejudicam e ora promovem a saúde.
Partindo-se desta compreensão, o que se percebe nos estudos
encontrados, é a relação positiva entre o comportamento religioso e a promoção
da saúde, indo de encontro às afirmações de alguns autores (LEVIN, 2001;
36
TILLMANN in TEIXEIRA; MULLER. SILVA, 2004; SARRIERA in TEIXEIRA;
MULLER; SILVA 2004).
Cerqueira-Santos, Koller e Pereira (2004), em seu estudo sobre as práticas
entre os neopetencostais, constata que a procura pela religião a fim de
resolverem-se problemas, não somente da saúde, deve-se ao fato de que a igreja
proporciona uma inclusão social muitas vezes não encontrada nos sistemas
públicos de saúde. Há ainda uma dimensão de inclusão junto a essa comunidade,
algo que muitas vezes não é experenciado no cotidiano fora do contexto religioso,
dada as exigências da globalização, que torna as pessoas individualistas e
competitivas.
Isto mostra a dimensão da humanização dos serviços de saúde como uma
necessidade, a fim de que as pessoas sintam-se confortáveis não somente no
contexto mais próximo a elas, mas também naquele um pouco mais distante e que
ainda assim é essencial para a sua saúde, que é a prática médica e demais áreas.
Serrano (2003) descreve o processo de aproximação à religião e distanciamento
da saúde exclusiva ao cuidado médico como algo advindo do reducionismo das
artes médicas, que facilitariam o retorno de idéias que muitos acreditavam que
seriam extintas com a evolução cada vez maior da Medicina. Tais idéias são as
crendices e o pensamento mágico, como de curas milagrosas, a utilização de
remédios caseiros e simpatias excluindo-se o medicamento farmacológico, entre
outros.
O que se percebe é que esta dimensão está cada vez mais exposta, sendo
necessário, contudo, algumas ressalvas. As experiências religiosas e espirituais,
apesar de contribuírem muito para a composição do indivíduo e para o tratamento
e compreensão de sua saúde, não é algo a ser receitado ou colocado como um
ingrediente de cura. Como já foi frisado, todo resultado acerca das correlações
positivas ou negativas, entre comportamentos religiosos e saúde, são fruto de
olhares epidemiológicos, que levam em consideração uma generalização nos
casos vistos, a fim de que seja possível elaborar-se uma resposta para questões
como as relações entre fumo e câncer de pulmão. Não é garantido que o fumante
terá câncer pulmonar, e também não é garantido que o não fumante jamais o terá.
37
Contudo, se a maior parte dos resultados de pesquisas apontam para maios casos
de câncer de pulmão entre pessoas fumantes, é possível afirmar-se que o hábito
de fumar pode causar câncer, ou ainda afirmar de forma mais categórica que sim,
o hábito de fumar causa o câncer pulmonar.
Da mesma forma, comportamentos religiosos contribuem para a promoção
da saúde dos indivíduos. Não de forma a ignorar-se a ciência médica e ficar-se
somente com as práticas religiosas e sentimentos positivos em relação à
espiritualidade, mas de modo a unir os fenômenos que interagem neste meio. Pois
se a experiência religiosa proporciona melhores sentimentos em relação à própria
pessoa e aos demais, além de prescrever modos de vida mais saudáveis, como
não fumar e beber, é inegável que isso esteja promovendo saúde, mais do que
somente prescrever-se de forma informativa, e não educativa, que determinados
hábitos lhe prejudicam e outros não.
Há um certo medo dos profissionais da saúde quanto à substituição da
ciência da Medicina pela Religião; isto já faz parte de fatos relatados, de
tratamentos que são abandonados em virtude de maiores promessas e melhores
condições vindas de outros serviços prestados por instituições religiosas. Isto se
dá, contudo, em grande parte pela falta de proximidade que o profissional da
saúde, em sua preocupação com a cientificidade, vem tomando, ao se descartar
uma linguagem melhor compreensível pela população sendo atendida, e fechar-se
espaços de diálogo que iriam além dos roteiros de anamnese. Torna-se nesses
casos mais interessante buscar ajuda naquele que melhor parece compreender,
que usa a mesma linguagem. Há ainda o fator de confiança, tendo-se em vista as
relações de “lealdade” aos quais as pessoas criam freqüentando sempre o mesmo
serviço e comunidade religiosa, geralmente nas proximidades de seu bairro e com
sua família; o adepto da religião é o seu cliente, que procura sua instituição em
busca do atendimento de suas necessidades, alívio de medos e um maior sentido
para sua vida (CERQUEIRA-SANTOS; KOLLER; PEREIRA, 2004).
A exclusão das ciências da saúde em detrimento das crenças e religião,
contudo, é mais uma fantasia catastrófica, por parte da maioria dos críticos, do
que uma realidade possível de ocorrer. Ignorar-se a dimensão da religiosidade e
38
espiritualidade é ignorar-se um aspecto da subjetividade do indivíduo, bem como
de que modo constrói redes de apoio social e enfrentamento, não sendo, contudo,
estes aspectos suficientes para garantir saúde plena aos indivíduos.
Críticas mais concernentes, contudo, apresentam-se acerca de questões
éticas e metodológicas (SERRANO, 2003). Por um lado, percebe-se que pode
haver desconforto em tratar-se de questões de cunho religioso e espiritual, tanto
da parte do médico como do paciente. Isto, porém, é parte de qualquer interação
que ocorre entre profissionais da saúde, não bastando a questão de desconforto
para descartar esta dimensão, tendo-se em vista que diversos temas podem
causar o mesmo efeito, como casos de violência, abuso sexual,
homossexualidade, entre outros.
Quanto à metodologia, é um problema presente em todas as ciências, que
é o perigo das informações tendenciosas e da omissão de dados. Muitas
pesquisas são acusadas de terem seus dados manipulados a fim de que os
resultados corroborem com aquilo que é desejo do pesquisador, não
correspondendo, portanto, a verdade (PAIVA, 2003; SERRANO, 2003). Outra
dificuldade metodológica é a falta de precisão em medir-se de forma objetiva a
crença e a fé, afirmando-se, contudo, que isto não é de extrema necessidade,
tendo-se em vista que não é precisamente isto que promove ou não a saúde dos
indivíduos, mas sim fatores que derivam destas crenças e valores. Medir a
presença ou não dos aspectos de crença ou fé só não coerentes quando há um
objetivo maior do que a mera especulação de haver ou não haver tal presença.
Fator importante dentro das críticas realizadas, não em relação as
pesquisas, mas em relação a religião atuando sobre os indivíduos, relaciona-se ao
fato de que, assim como a mídia, a religião é fonte de forte poder coercitivo sobre
as pessoas. Isto pode levar a tomada de ações e mudanças no estilo de vida dos
indivíduos, bem como a adesão de práticas de prevenção ou não, que é o caso do
uso de preservativo e anticoncepcional, censurados em algumas crenças.
Atualmente, contudo, percebe-se que apesar das pessoas declararem-se adeptas
de determinadas religiões e credos, alguns fatores ligados a estilos de vida, e que
não mostram uma coerência com modos de saúde, não são seguidos, como é o
39
caso citado a respeito de métodos anticoncepcionais (LEVIN, 2001; SERRANO,
2003).
Ainda dentro do poder coercitivo das religiões, questiona-se sobre as
“religiões-espetáculo”, dadas a promover a adesão de pessoas a suas doutrinas,
com promessas e propagandas. Critica-se, sobretudo, a comercialização de
favores e a circulação alta de dinheiro em meio a aqueles que realizam o
sacerdócio. O que compreende-se disto, contudo, é que a religião, assim como a
própria Medicina já há alguns anos, adaptou-se a idéia capitalista ocidental, de
imediatismo frente a comercialização. Isto significa que, não é o adepto uma
simples vítima de um processo capitalista, mas sim um construtor dele, que talvez
sinta-se mais confortável imerso em um contexto e trocas imediatas a esperar
atitudes a longo prazo, sem realizar uma troca material, mas somente espiritual.
Lida-se, portanto, com adaptações a realidades já há muito tempo existentes, e
que encontram uma população que contenta-se com este serviço (SERRANO,
2003).
Mas não são somente as religiões que exercem poderes coercitivos sobre
os indivíduos. A palavra da ciência também é carregada de um misticismo de
verdade inquestionável, sendo o profissional da saúde aquele que a carrega, e
que muitas vezes assume um papel de grande poder sobre a vida dos indivíduos
que atende. A mídia, tendo rápido acesso às informações acerca da ciência, as
repassa ao público, que logo absorve isto como verdade única e inquestionável.
Prega-se uma evolução na Medicina sem limites, e esta passa a ser muito mais
cobrada e adorada do que as próprias religiões. Como coloca Serrano (2003,
p.10) “(...) a morte e o mal-estar na cultura deixam de ser vistos como naturais. O
médico e o psicólogo passam a ser culpabilizados por deixá-los ocorrer”. O que se
compreende, portanto, é que as ciências da saúde, assim como as religiões,
também pregam promessas de paraísos e soluções milagrosas aos problemas de
saúde das pessoas. Contudo, a história de verdade absoluta e inquestionável da
ciência expõe descontentamento quando isto não ocorre.
É importante, portanto, a todo profissional da saúde, compreender este
papel que pode estar representando, de uma falsa onipotência sobre aqueles que
40
atende. A fim de trabalhar com as questões religiosas do paciente, é necessário
primeiramente, como coloca Serrano (2003), desconstruir a deificação própria, de
médico, de terapeuta. É compreender não ser o único agente a auxiliar na saúde
do indivíduo em sua frente, reconhecer que a própria pessoa é de suma
importância para este processo, bem como todos aqueles que fazerem parte de
suas relações sociais.
3.5 O profissional da saúde e suas práticas
Assim como seu paciente ou cliente, o profissional da saúde é um indivíduo
socialmente construído, com sua história própria e valores. A presença de uma
religião ou espiritualidade pode ser constante, forte, fraca ou inexistente, como em
qualquer outra pessoa. Contudo, o que se questiona é de que formas isto pode
estar interagindo com os indivíduos que atende. De que formas as crenças do
profissional irão se encontrar com as crenças do paciente?
Primeiramente, pode-se pensar na questão do diálogo. É saber popular o
comentário de que “música, religião e gosto não se discutem”. De que maneira,
então, conversar com um paciente que suas crenças de vida e de religião opõem-
se aquela do profissional? Partindo-se de exemplos mais simples, sabe-se que
certas religiões proíbem a transfusão de sangue, procedimento este bastante
comum em cirurgias. Outro fato, são os jejuns, períodos onde a pessoa recusa
alimentar-se devido a determinada crença. E pegando-se um exemplo mais ligado
a crenças pessoais do que religiosas, vemos pessoas que recusam-se a tomar
remédios, que não comem certos tipos de alimentam, ou que possuem crenças
errôneas acerca de procedimentos e tratamentos médicos, recusando-os mesmo
antes de conhecer a verdade.
Como cientista em sua formação e como profissional a zelar por códigos de
ética, os cabe aos profissionais da saúde saberem divulgar e expor a verdade
acerca da ciência que representa ao paciente. Crenças errôneas, sejam ligadas de
forma pessoal ou religiosa, precisam ser mostradas pela lente científica, objetiva e
comprovada de sua eficácia, de modo a ser compreendida. É opção do paciente
41
optar por procedimentos, aderir a tratamentos ou não, mas é dever do profissional
da saúde fazer o possível para que haja uma compreensão do que esta pessoa
está recusando ou aceitando.
Em relação a suas próprias práticas, contudo, como pode proceder o
profissional que recusa-se a realizar os procedimentos que considera impróprios
segundo suas crenças pessoais, morais e religiosas? Exemplos disso referem-se
principalmente a transfusão sanguínea e a prática do aborto legal. Tais questões,
assim como para os pacientes, são de cunho bastante pessoal, cabendo ao
profissional definir prioridades e ações. Em seu código de ética profissional, e em
seu juramento quando formado, obtêm conhecimento de seus deveres, e sabe
que a lei, acima de tudo, tratará de suas ações de forma objetiva e sem considerar
detalhes subjetivos. Ou seja, independente de crença ou de valor moral, o
profissional da saúde precisa exercer a sua função conforme a ciência, quando
está representando a mesma. Fatores que recusa e discorda precisam ser
manejados a fim de ou serem evitados ou trabalhados, com o intuito de
compreender-se que sua crença não é maior ou menor que a do outro, e que isto
não pode ser critério para recusar-se atendimento de direito, por lei, a pessoa que
lhe procura.
Considerações quanto a subjetividade contudo, passam cada vez mais a
fazerem parte da realidade do profissional da saúde e de seus pacientes e
clientes. Como já foi exposto, as diretrizes do SUS apresentam a dimensão da
promoção da saúde, que colocam uma visão de equidade, de consideração pela
subjetividade dos indivíduos, bem como sua história de vida. Leva-se em
consideração, portanto, questões de crença, fé e religião, mas não de modo que
estas sejam determinantes de alterações na própria ciência, mas sim de modo que
tudo aquilo englobando tais fenômenos, como o suporte social, as questões de
enfrentamento e sentimentos positivos advindos destas práticas, sejam
trabalhados com maior intensidade.
É comprovado que, havendo a presença de comportamentos religiosos, a
presença deste enfrentamento, suporte social e sentimentos positivos também
possuem grande chance de estarem em conjunto, e é sobre estas dimensões que
42
o profissional da saúde estará especificamente trabalhando. Não ignorar a fala
sobre religiosidade e espiritualidade, é o primeiro passo, pois é através da
compreensão disto que poderá se compreender os modos de enfrentar-se
situações da vida, de encontrar suporte em sua comunidade e igreja, bem como
que sentimentos estão prevalecendo nos momentos de saúde e doença.
A psicoterapêutica, própria do psicólogo, estando nesta fase em que tenta
escapar do modelo biomédico para um modelo biopsicosocial, mais do que nunca
precisa estar atenta a questão da religiosidade como forma de promover saúde,
tendo-se em vista a enorme carga de subjetividade presente nesta realidade do
indivíduo. A ação do psicólogo como psicoterapeuta, em sua investigação tanto
individual como grupal dos indivíduos, leva em conta inúmeros aspectos e
inúmeras construções da vida desses sujeitos, e ignorar-se esta dimensão seria
uma perda de importantes dados a fim de não somente compreender-se o
indivíduo, mas também de lhe mostrar que todas as áreas da sua realidade
colaboram para o seu meio de vida, mesmo que considere certas dimensões
impróprias para o estudo do homem ou mesmo sobrenaturais.
A Psicologia não atuará a fim de desvendar o sobrenatural ou procurará
desafiar as verdades do universo procurando pela morada dos deuses e se estes
realmente existem. O interesse desta ciência são os indivíduos que a procuram e
aquilo que eles vivem, seja isto diretamente observável ou compreendido somente
pelo relato da pessoa.
4 Considerações Finais
A associação entre saúde e comportamento religioso é coerente, tanto
quanto associar a modos de higiene e hábitos alimentares. São condições que
auxiliam, mas não condenam ou determinam totalmente a condição de saúde ou
doença de um indivíduo. Sob um olhar epidemiológico, que leva em conta dados
que mostram generalizações apontando para determinada resposta padrão, é
constatado que a religião é sim um fator que contribui para a manutenção de
saúde, menores incidências de doenças e taxas menores de mortalidade (LEVIN,
2001).
Contudo, tendo-se este conhecimento, surge a questão de como agir com
este novo dado. Não há como ignorar uma verdade que vem a contribuir com a
saúde das pessoas atendidas pelos profissionais da saúde. Seria como ignorar
que a boa circulação do ar auxilia a não propagação de doenças dentro de um
ambiente ou ignorar a descoberta de um novo medicamento que alivia a dor.
Surge a questão de que ignorar passa a significar a negação de um recurso a
mais no tratamento dos indivíduos pelo serviço da saúde.
O que se nega ou passa-se a considerar, contudo, não é um dado objetivo
e fixo, passível de uma padronização, como a aplicação de um medicamento ou a
organização de uma sala de espera a fim de haver melhor circulação de ar. O que
passa a ser um novo recurso, tanto aparado pela lei como pelas novas
descobertas das ciências da saúde, é a subjetividade dos indivíduos como item a
ser considerado em todo o processo de promoção da saúde. É relevante, e é uma
verdade amparada pela ciência.
Critica-se, contudo, neste tipo de proposta, que a religião é assunto por
demais subjetivo e delicado, individual demais. Deve-se esclarecer, contudo, que
não se discutem credos e fé, e nem trata-se disto a função do profissional da
saúde. Sua missão, tendo-se em vista a consideração da subjetividade do
indivíduo durante o tratamento, e neste caso a face religiosa disto, é que passa a
ser considerado em uma anamnese. Por exemplo, comportamentos do dia-a-dia
da pessoa, relações sociais, crenças de cura, crenças de doença, regras de
44
conduta do seu meio. Todos estes dados subjetivos e não diretamente ligados à
doença como é vista atualmente, tem por objetivo investigar a construção do
processo de saúde ou de doença, pois conhecer as variáveis que levaram o
indivíduo a ser o que é hoje colabora para a elaboração de comportamentos
saudáveis a serem seguidos, bem como dos que devem ser evitados.
Compreendeu-se que é responsabilidade dos profissionais da saúde
manterem-se atualizados sobre o sistema de saúde onde atuam, bem como
acerca das variáveis que contribuem no processo, como o aqui investigado da
promoção da saúde e sua relação com o comportamento religioso. Havendo esta
relação, é objeto a ser trabalhado, e não mais ignorado ou erroneamente dito
como inválido. É uma questão comprovada cientificamente, e que vem reforçar a
importância dos aspectos subjetivos dos indivíduos nos processos de saúde e
doença.
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