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SORÇÃO DE PETRÓLEO POR FIBRAS VEGETAIS
TATIANA RIBEIRO FERREIRA
ORIENTADOR: PROF. GEORGE SANTOS MARINHO, D.Sc.
Natal RN – Março/2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
SORÇÃO DE PETRÓLEO POR FIBRAS VEGETAIS
Dissertação submetida à
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
como parte dos requisitos para a obtenção do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA
AUTOR: TATIANA RIBEIRO FERREIRA
ORIENTADOR: PROF. GEORGE SANTOS MARINHO, D.Sc.
Natal, Março de 2009
TRABALHOS PUBLICADOS PELO AUTOR
1. FERREIRA, T. R.; MARINHO, G. S. Estudo da sorção de petróleo por fibras
vegetais. Mens Agitat, 2008. v. 3. n. 1. p. 25-32. ISSN 1809-4791.
2. FERREIRA, T. R.; MARINHO, G. S. Análise da capacidade de sorção de petróleo
por fibras de sisal, abacaxi e curauá. In: I CONGRESSO INTERNACIONAL DE
TECNOLOGIAS PARA O MEIO AMBIENTE, 2008, Bento Gonçalves. Anais...
Bento Gonçalves: EDUCS, 2008. ISBN 978-85-7061-495-7.
3. FERREIRA, T. R.; MARINHO, G. S. Sorção de petróleo por fibras de algodão.
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO CEFET-RN, 5., 2008, Natal.
Anais... Natal: CEFET, 2008. ISBN 978-85-89.571-42-5.
4. BEZERRA, H. A. D. ; FERREIRA, T. R.; MARINHO, G. S. Estudo comparativo da
sorção de óleo cru por fibras de abacaxi e capoc. In: CONGRESSO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRN, 19., 2008, Natal. Anais... Natal: UFRN, 2008.
5. FERREIRA, T. R.; MARINHO, G. S. Estudo da sorção de petróleo por fibras
vegetais. In: SEMANA DE TERMOCIÊNCIAS DA UFRN, 2008, Natal. Anais...
Natal: IFRN, 2008. ISBN 978-85-7273-506-3.
6. BEZERRA, L. A. C.; PESSOA, P. A. S.; FERREIRA, T. R.; BEZERRA, H. A. D.;
NEIRA, D. S. M.; MARINHO, G. S. Fibras vegetais como material sorvente de
óleo em derramamentos. In: RIO PIPELINE CONFERENCE & EXPOSITION,
2007, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IBP, 2007.
7. FERREIRA, T. R. Produtos biodegradáveis a partir de fibras têxteis. In:
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRN, 18., 2007, Natal. Mini-
curso. Carga horária: 4 horas.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4258361132912573
Dedico este trabalho a Deus, Pai Maior,
aos meus pais Nazareth e Rodrigues, aos
meus irmãos Frederico, Rodrigo (in
memorian) e Michael (in memorian), ao
meu marido Henrique e em especial ao
meu filho Pablo Rodrigo.
AGRADECIMENTOS
A Deus, porque sem Ele eu nada seria, e à minha família por ser meu porto seguro,
minha referência de valores e princípios.
Ao meu orientador, Prof. Dr. George Santos Marinho, pela parceria, conselhos,
orientações acadêmicas e ensinamentos.
Aos professores, Dra. Ana Catarina da Rocha Medeiros, Dr. Clovis de Medeiros
Bezerra e Dr. Rasiah Ladchumananandasivam, pelas orientações; e Dr. José Wilson
Lage Nogueira e Dra. Marta Costa, pelo empenho e dedicação.
Aos meus colegas de trabalho: Mestra Dorivalda Santos Medeiros Neira, Dr.
Guilherme Fábio de Melo, Engº Hallyjus Alves Dias Bezerra, Mestre Jacques
Cousteau da Silva Borges, Mestre Luciano André Cruz Bezerra, Mestre Manoel
Leonel de Oliveira Neto, Mestre Marco Aurélio dos Santos Rahn, Engª Maria Cleide
Ribeiro de Oliveira, Engª Michelle Paiva Cruz e Roberto França de Oliveira pelas
contribuições e “orientações coletivas”.
Ao meu amigo Prof. George da Cruz Silva, em especial, pelo apoio incondicional.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao Programa de Pós-
Graduação em Eng. Mecânica (PPGEM) e à Agência Nacional de Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) PRH-30, pela oportunidade e apoio financeiro; ao
Lab. Transferência de Calor (LTC), pela estrutura física; ao Lab. Eng. Têxtil e ao
Lab. Nutrição Animal (Zootecnia), pelo espaço e material disponibilizados; à Profa.
Dra. Eve Maria Freire de Aquino, do Departamento de Eng. Mecânica (UFRN), ao
Departamento de Eng. Têxtil (UFRN) e à Vicunha Têxtil S.A., pela doação de fibras;
ao Núcleo de Petróleo e Gás (NUPEG), pela caracterização do petróleo; ao
CTPETRO-INFRA I e LINEP/LIEM e ao CTGÁS, pelas análises de MEV; e ao
Herbário da UFRN pelo apoio na área de botânica.
A todos aqueles que em certos momentos acompanharam minha jornada, apoiando-
me e aconselhando-me, para superar as dificuldades, as quais foram vencidas.
“Não podemos mais ficar inertes, ainda
mais quando sabedores de que hoje
existem técnicas que são adotadas e
utilizadas por outros países que reduzem
drasticamente o risco e principalmente as
conseqüências destes acidentes.”
(Deputado Wolney Trindade)
RESUMO
Atualmente, quando ocorrem acidentes com navios petroleiros ou com tanques de
armazenamento e há derramamento de petróleo em água, são tomadas algumas
providências no sentido de conter e de remediar o derramamento. Para conter o
derramamento, são utilizadas barreiras de contenção ou de desvio que são feitas,
geralmente, de materiais sintéticos como espuma de poliuretano. Para retirar o
petróleo da água, são utilizadas técnicas como queima in loco, agentes
biodegradantes, agentes dispersantes e aplicação de materiais que sorvem o
petróleo. Os materiais que sorvem petróleo também são, em sua maioria, sintéticos
e são muito utilizados pela facilidade de armazenamento e disponibilidade no
mercado. Esta dissertação apresenta o estudo de fibras vegetais de algodão
(Gossypium herbaceum L.), de capoc (Ceiba pentandra (L.) Gaertn.), da folha do
abacaxizeiro (Ananas comosus (L.) Merr.), de sisal (Agave sisalana Perrine) e de
curauá (Ananas erectifolius L.B. Sm.) quanto à capacidade de sorção petróleo em
caso de derramamento acidental em mar. Este trabalho avalia a possibilidade de
substituir os materiais sintéticos utilizados atualmente por materiais naturais,
biodegradáveis e de menor custo.
Palavras-chave: Fibras vegetais de semente. Fibras vegetais de folha. Petróleo. Sorção.
ABSTRACT
Nowadays, when accidents with oil tanker or shore tanks occur and there is oil spill,
some arrangements are made in order to repress and to fix the situation. For the
containment, barriers or detours are usually made of synthetic materials such as
polyurethane foam. In order to clear water away, techniques like in loco burning,
biodegradant agents, dispersant agents and sorbent materials application are used.
The most of the sorbent materials are also synthetic and they are used because it is
easy to store them and their availability in market. This dissertation introduces the
study of vegetable fibers of pineapple leaf fibers (Ananas comosus (L.) Merr.), cotton
fibers (Gossypium herbaceum L.), kapok fibers (Ceiba pentandra (L.) Gaertn.),
curauá fibers (Ananas erectifolius L.B. Sm.) and sisal fibers (Agave sisalana Perrine)
related to their capacity of sorption of oil in case of accidental spill in the ocean. This
work evaluates the substitution possibility of synthetic materials by natural
biodegradable materials with less cost.
Keywords: Vegetal seed fiber. Vegetal leaf fiber. Petroleum. Sorption.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................14 2.1 O PETRÓLEO .....................................................................................................14
2.2 TÉCNICAS DE REMEDIAÇÃO............................................................................17
2.3 MATERIAIS SORVENTES ..................................................................................18
2.3.1 Propriedades dos bons sorventes................................................................20
2.3.2 Capacidade de sorção ...................................................................................21
2.4 FIBRAS VEGETAIS.............................................................................................22
2.4.1 Classificação das fibras.................................................................................23
2.4.2 Fibras de algodão...........................................................................................25
2.4.3 Fibras de capoc ..............................................................................................26
2.4.4 Fibras da folha do abacaxizeiro ....................................................................28
2.4.5 Fibras de sisal ................................................................................................28
2.4.6 Fibras de curauá.............................................................................................29
3 METODOLOGIA ....................................................................................................30 3.1 OBTENÇÃO E PREPARAÇÃO DAS FIBRAS......................................................30
3.1.1 Fibras de algodão...........................................................................................30
3.1.2 Fibras de capoc ..............................................................................................31
3.1.3 Fibras da folha do abacaxizeiro ....................................................................32
3.1.4 Fibras de sisal ................................................................................................32
3.1.5 Fibras de curauá.............................................................................................33
3.2 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DAS FIBRAS.........................................................33
3.3 DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DO PETRÓLEO ......................................33
3.4 ANÁLISES DE SORÇÃO.....................................................................................34
3.4.1 Preparação das amostras de fibras ..............................................................34
3.4.2 Análise de sorção de petróleo ......................................................................36
3.4.3 Análise de sorção de água do mar ...............................................................38
3.5 ANÁLISE DE SELETIVIDADE .............................................................................39
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................................41
4.1 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DAS FIBRAS.........................................................41
4.1.1 Análise da morfologia da fibra de algodão ..................................................41
4.1.2 Análise da morfologia da fibra de capoc......................................................42
4.1.3 Análise da morfologia da fibra da folha do abacaxizeiro............................44
4.1.4 Análise da morfologia da fibra de curauá ....................................................45
4.1.5 Análise da morfologia da fibra de sisal ........................................................46
4.2 ANÁLISE DA VISCOSIDADE DO PETRÓLEO....................................................47
4.3 ANÁLISE DE SORÇÃO DE PETRÓLEO .............................................................47
4.4 ANÁLISE DE SORÇÃO DE ÁGUA DO MAR........................................................51
4.5 ANÁLISE DE SELETIVIDADE .............................................................................55
4.5.1 Análise de seletividade das fibras de algodão ............................................55
4.5.2 Análise de seletividade das fibras de capoc................................................56
4.5.3 Análise de seletividade das fibras das folhas do abacaxizeiro..................57
4.5.4 Análise de seletividade das fibras de sisal ..................................................58
4.5.5 Análise de seletividade das fibras de curauá ..............................................59
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ...........................................................................60 REFERÊNCIAS.........................................................................................................61 ANEXO I – Cadastro da Sumaúma no Herbário UFRN.........................................65
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Produção total de petróleo no Brasil 2000-2008 (ANP, 2009)...............16 Figura 2.2 – Ângulos de contato de líquidos em superfícies sólidas (COSTA, 2006)19 Figura 2.3 – Estrutura da cadeia celulósica (FEITOR, 2006) ....................................23 Figura 2.4 – Classificação das fibras têxteis (LADCHUMANANANDASIVAM, 2006)24 Figura 2.5 – Fibra da semente do fruto algodoeiro....................................................25 Figura 2.6 – Sumaúma..............................................................................................27 Figura 2.7 – Fibras da semente do fruto da sumaúma..............................................27 Figura 2.8 – Fibras das folhas do abacaxizeiro .........................................................28 Figura 2.9 – Fibras da folha da planta de sisal..........................................................29 Figura 2.10 – Fibras da folha da planta de curauá ....................................................29 Figura 3.1 – Processo de separação das fibras de capoc.........................................31 Figura 3.2 – Processo de separação das fibras das folhas do abacaxizeiro.............32 Figura 3.3 – Fibras moldadas em formato esférico ...................................................35 Figura 3.4 – Fibras de folhas cortadas com comprimento de dez centímetros .........35 Figura 3.5 – Etapas das análises de sorção de petróleo...........................................37 Figura 3.6 – Etapas das análises de sorção de água do mar ...................................39 Figura 3.7 – Etapas a análise de seletividade...........................................................40 Figura 4.1 – Convoluções da fibra de algodão..........................................................41 Figura 4.2 – Seção transversal da fibra de algodão ..................................................42 Figura 4.3 – Lúmen da fibra de capoc.......................................................................43 Figura 4.4 – Superfície da fibra de capoc..................................................................43 Figura 4.5 – Superfície fibra da folha do abacaxizeiro ..............................................44 Figura 4.6 – Detalhe da superfície da fibra da folha do abacaxizeiro........................44 Figura 4.7 – Superfície da fibra de curauá ................................................................45 Figura 4.8 – Fibras individuais “soltas” (fibra de curauá)...........................................45 Figura 4.9 – Superfície da fibra de sisal ....................................................................46 Figura 4.10 – Detalhes da superfície da fibra de sisal...............................................46 Figura 4.11 – Graus de sorção de petróleo por diferentes fibras vegetais ................48 Figura 4.12 – Graus de sorção de petróleo por fibras de folhas................................49 Figura 4.13 – Graus de sorção de petróleo por fibras de semente ...........................50 Figura 4.14 – Graus de sorção de água do mar por diferentes fibras vegetais .........52 Figura 4.15 – Graus de sorção de água do mar por fibras de folhas ........................53 Figura 4.16 – Graus de sorção de água do mar por fibras de semente ....................54 Figura 4.17 – Análise de seletividade das fibras de algodão no início do ensaio......55 Figura 4.18 – Análise de seletividade das fibras de algodão após o ensaio .............56 Figura 4.19 – Análise de seletividade das fibras de capoc no início do ensaio.........56 Figura 4.20 – Análise de seletividade das fibras de capoc após o ensaio ................57 Figura 4.21 – Análise de seletividade das fibras da folha do abacaxizeiro ...............57 Figura 4.22 – Análise de seletividade das fibras de sisal ..........................................58 Figura 4.23 – Fibras de sisal após 3 horas de ensaio ...............................................58 Figura 4.24 – Análise de seletividade das fibras de curauá ......................................59
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Composição do algodão (ARAÚJO; CASTRO, 1986) ..........................26 Tabela 3.1 – Conversão de unidades de viscosidade (TEIXEIRA; LORA, 2004)......34 Tabela 4.1 – Grau de sorção médio de petróleo por diferentes fibras vegetais ........47 Tabela 4.2 – Grau de sorção médio de água do mar por diferentes fibras vegetais .51 Tabela 4.3 – Tabela comparativa entre as fibras vegetais de folha ..........................53 Tabela 4.4 – Tabela comparativa entre as fibras vegetais de semente ....................55
1 – Introdução
12
1 INTRODUÇÃO
O petróleo, apesar de ser de fonte não renovável, ainda é a principal fonte de
energia do mundo, devido à dependência da sociedade atual. As atividades de
exploração, produção, transporte e armazenamento envolvem grandes riscos. Os
derramamentos, vazamentos ou despejos ilegais de petróleo em mar trazem um
impacto negativo ao meio ambiente e às atividades dependentes do turismo.
Processos mecânicos, físicos, químicos e biológicos podem ser usados para
recuperar, remover ou degradar o petróleo. Fibras vegetais são de fontes
renováveis, biodegradáveis, de baixo custo e ecologicamente amistosos,
representando uma alternativa sustentável no combate aos derramamentos.
Um material considerado oleofílico possui grande afinidade ao óleo e é,
portanto, um grande sorvente dessa substância. Portanto, foi estudada a
possibilidade de aplicação de fibras vegetais in natura comumente encontradas nas
regiões Norte e Nordeste do Brasil como materiais sorventes de petróleo.
O estudo da viabilidade de uso das fibras de algodão, da folha do
abacaxizeiro, de capoc, de curauá e de sisal envolveu a caracterização das fibras
por microscopia eletrônica de varredura (MEV), a análise do grau de sorção de
petróleo e de água do mar e, por fim, a análise de seletividade (oleofilia versus
hidrofobia).
Esta dissertação está organizada em mais quatro capítulos além desta
Introdução. O Capítulo 2 trata da revisão geral acerca do tema proposto, como o
cenário atual do petróleo no contexto mundial e das as técnicas de remediação
utilizadas em caso de acidentes com derramamentos de petróleo em mar,
enfatizando-se os materiais sorventes e suas propriedades, dentre as quais destaca-
se a capacidade de sorção. O capítulo também trata das fibras vegetais e de suas
características.
No Capítulo 3 é descrita a metodologia utilizada para obter e preparar as
fibras para as análises de sorção de petróleo e de água do mar e para as análises
de seletividade. Esta análise de seletividade consiste em, num meio contendo
petróleo e água do mar, analisar qualitativamente qual fluido a fibra terá mais
afinidade. Neste Capítulo também são descritas as metodologias utilizadas para a
1 – Introdução
13
determinação da viscosidade do petróleo utilizado e para a análise da morfologia
das fibras objetos de estudo.
No Capítulo 4 são descritos os resultados obtidos e algumas discussões
acerca de cada resultado. No Capítulo 5 é apresentada a conclusão desta
dissertação, bem como algumas sugestões para trabalhos posteriores.
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo, serão descritos tópicos sobre o petróleo, sua origem, sua
história, os panoramas mundial e nacional atuais, suas propriedades, sua
importância econômica, os riscos inerentes à sua produção, exploração, transporte e
armazenamento, os tipos de acidentes e as diversas formas de remediação, das
quais a mais disseminada é a aplicação de materiais sorventes, incluindo as fibras
vegetais.
Serão descritas as origens de cada fibra estudada, bem como suas
propriedades e características particulares que as diferem entre si, além dos
trabalhos mais recentemente desenvolvidos na área de sorção de petróleo,
enumerando suas vantagens e desvantagens em comparação aos materiais
comerciais usados atualmente.
2.1 O PETRÓLEO
Segundo a teoria orgânica, com o passar de vários períodos geológicos, uma
grande quantidade de organismos animais e vegetais foi sendo depositada
lentamente no fundo de aquíferos. Os cascalhos desprendidos das rochas à margem
desses rios foram sendo acomodados em camadas sobre essa matéria orgânica,
formando uma espécie de reservatório natural. Essas camadas geológicas,
exercendo calor e pressão sobre esses depósitos orgânicos, favoreceram a
ocorrência de inúmeras reações termoquímicas, transformando-os em petróleo,
composto por óleo e gás (CORRÊA, 2003).
O nome petróleo, também conhecido como ouro negro, tem origem no latim
(petra = rocha e oleum = óleo) e é denominado como o produto da decomposição de
matéria orgânica, resultando numa mistura natural de hidrocarbonetos encontrada
no estado sólido, líquido ou gasoso, dependendo das condições de calor e pressão
a que esteja submetida (ROSA; CARVALHO; XAVIER, 2006).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
15
No princípio, o petróleo surgia em exsudações naturais localizadas em todos
os continentes, porém com mais frequência nos Estados Unidos. Desde 1847, o óleo
era retirado, engarrafado e vendido como lubrificante. Cinco anos depois, foi
descoberto que o aquecimento e a destilação do óleo davam origem a um novo
produto, o querosene, que passou a substituir o querosene obtido do carvão e o óleo
de baleia, muito usados para iluminação. No final de agosto de 1859, na cidade de
Tittusvile, Pensilvânia, foi perfurado o primeiro poço, com 21,2 metros de
profundidade, o qual produzia cerca de 2 m3 por dia de petróleo, totalizando 35
barris (CORRÊA, 2003; THOMAS, 2001).
Até 1945, o maior produtor de petróleo eram os Estados Unidos, seguido da
Venezuela, México, Rússia, Irã e Iraque. Nos anos 60, as altas produções
juntamente com a baixa de preços dos barris de óleo, aceleraram o consumo dessa
fonte de energia. Nessa época, quem dominava a produção de petróleo eram o
Oriente Médio e a então União Soviética. Nos anos 70, enquanto o preço do petróleo
subia bruscamente, muitas descobertas ocorriam no Mar do Norte e no México
(THOMAS, 2001). Hoje, os cinco maiores produtores mundiais são: Arábia Saudita,
Rússia, Estados Unidos, Irã e China. O Brasil está em 15° lugar, com 1,8 milhões de
barris produzidos por dia (STEFANO; LIMA; TEIXEIRA JUNIOR, 2008).
Com o advento da petroquímica, além de ser utilizado para fins energéticos
(centrais termoelétricas, combustíveis e aquecimento de ambientes), o petróleo pode
ser transformado em derivados e em centenas de novos compostos, como plásticos,
borrachas sintéticas, tintas, corantes, adesivos, solventes, detergentes, explosivos,
produtos farmacêuticos e cosméticos, passando a ser imprescindível à vida
moderna, trazendo facilidades e comodidades (REIS, 1996; THOMAS, 2001).
Desse modo, observa-se que o petróleo, apesar de ser de fonte não
renovável, ainda é a principal fonte de energia do mundo, devido à dependência da
sociedade atual. Em 2003, o total de consumo de petróleo no mundo chegou a 13,1
bilhões de litros por dia (SUNI, 2006). No Brasil, em 2008, segundo a ANP (Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), foram produzidos mais de
105 milhões de m3 de petróleo, sendo as plataformas petrolíferas situadas em mar
responsáveis por 90% da produção nacional (ANP, 2009).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
16
O crescimento da produção total brasileira, desde o ano 2000, pode ser
observado na Figura 2.1:
0
20
40
60
80
100
120
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
MILHÕES DE METROS CÚBICOS
Figura 2.1 – Produção total de petróleo no Brasil 2000-2008 (ANP, 2009)
Consequentemente, com esse crescimento na produção haverá o aumento
das atividades de exploração, produção, transporte e armazenamento de petróleo,
aumentando também os riscos de acidentes, os quais são mais frequentemente
causados por erro humano, ocasionando grande impacto no ecossistema e em
atividades como o turismo (SCHNEID; COLLINS, 2001).
A principal fonte de derramamento de óleo no mar se dava no transporte do
petróleo feito por tanques (REIS, 1996). Desde o primeiro acidente, em 1960, até os
dias atuais, ocorreram 143 acidentes de pequeno, médio e grande porte, com
navios: o Amoco Cadiz, por uma pane mecânica, em março de 1978, derramou 227
mil toneladas de óleo no litoral da França; o Exxon Valdez, em 1989, derramou 260
mil barris no Golfo do Alasca; e o Prestige, em 2002, ocasionou o derramamento de
12 mil toneladas de óleo em Galícia, costa da Espanha. Outros acidentes com
navios petroleiros no mar do Japão e no Estreito de Malacca também ocasionaram
grande impacto no ecossistema marinho e efeitos de longo prazo da poluição
ambiental (ADEBAJO et al., 2003; CEDRE, 2009).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
17
Entretanto, existem outras possibilidades de desastres ambientais causados
por derramamentos de petróleo, como foi o caso da ruptura de um tanque
reservatório no Rio Mononghahela, deixando escapar 24 mil barris de óleo. Durante
a Guerra do Golfo Pérsico um vazamento proposital permitiu a poluição das águas
no Golfo de Suez, derramando de 2,5 a 4 milhões de barris de óleo (ADEBAJO et
al., 2003). Em 2006, os derramamentos ocasionados por acidentes com navios
contribuíram somente de 4% a 13%. A maior parte da contaminação se deu por
despejos ilegais de óleos por indústrias (SUNI, 2006).
Quando lançados no ambiente, hidrocarbonetos, solventes, sólidos em
suspensão e uma ampla variedade de componentes químicos, causam impactos
que podem ser reduzidos por meio da implantação adequada de métodos de
remediação (REIS, 1996).
2.2 TÉCNICAS DE REMEDIAÇÃO
A prevenção é a chave para combater a contaminação por hidrocarbonetos.
Entretanto, também são necessários métodos eficientes, confiáveis, econômicos e
éticos para tratar ambientes contaminados quando derramamentos ocorrerem
(SUNI, 2006).
Quando há derramamento de petróleo em mar, pode ocorrer espalhamento
de óleo, evaporação, fotólise (degradação por radiação ultravioleta solar),
biodegradação e emulsificação água-óleo. Processos mecânicos, físicos, químicos e
biológicos podem ser usados para recuperar, remover ou degradar o óleo
(ANNUNCIADO; AMICO; SYDENSTRICKER, 2005).
O método de remediação mais apropriado depende das condições climáticas,
do tipo de contaminante, do tipo de derramamento, da localização da área
contaminada e do tempo. Por isso existem vários tipos de materiais e métodos que
podem ser utilizados no combate a derramamentos de óleo (ADEBAJO et al., 2003;
REIS, 1996).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
18
Destacam-se abaixo os principais métodos de controle ambiental para
derramamentos de petróleo (ADEBAJO et al., 2003; LIU, 1999; PANKRATZ, 2001):
a. Barreiras flutuantes (booms): aplicadas em águas calmas, cercam
fisicamente o óleo para posterior coleta. Funcionam como barreiras de
contenção, confinando o óleo numa área específica, ou como barreiras de
desvio, parando o óleo e evitando sua entrada numa determinada área.
São geralmente fabricadas de materiais plásticos (polietileno, poliuretano,
polipropileno, epóxi, poliéster, náilon, neoprene, dentre outros), porém, em
2005, foi patenteada, no Brasil, uma barreira flutuante preenchida com fibra
vegetal (ANNUNCIADO; AMICO; SYDENSTRICKER, 2007). Têm como
principais características o baixo custo, a durabilidade, a facilidade de
limpeza e o armazenamento compacto;
b. Recuperação mecânica por escumadeira (skimmer): dispositivo mecânico
rebocado por navio usado para remover fisicamente o óleo sobre a água;
c. Aplicação de agente dispersante: dispersa o óleo e acelera a separação
entre óleo e água por meio da absorção do óleo;
d. Aplicação de agente solidificante: polímero hidrofóbico em forma de
grânulos secos que reage com o óleo para formar uma massa solidificada,
coesiva, que flutua sobre a água;
e. Aplicação de agente sorvente: coleta o óleo por sorção, separando-o da
água;
f. Aplicação de outros agentes: podem ser precipitantes, atrativos,
incineradores ou biodegradantes.
2.3 MATERIAIS SORVENTES
Os sorventes podem ser fabricados a partir de materiais sintéticos, orgânicos
ou inorgânicos; apresentam-se em formas de almofadas, travesseiros, colchões,
rolos e mantas (FINGAS, 2001). São classificados de acordo com os materiais
utilizados na sua fabricação. Podem ser divididos em três grandes classes
(ADEBAJO et al., 2003; SCHATZBERG et al., 1971 apud CHOI; CLOUD, 1992):
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
19
a. Minerais orgânicos: zeólitas, aerogéis de sílica, perlita expandida, grafite
exfoliado, vermiculita, argila organofílica, carbono ativado e diatomita;
b. Sintéticos orgânicos: materiais poliméricos tais como espumas de
polipropileno e poliuretano;
c. Vegetais orgânicos ou sorventes naturais, como todo material natural de
origem vegetal: palha, sabugo de milho, fibra de madeira, fibras de algodão,
fibras celulósicas de capoc, umbaru (kenaf), oficial-da-sala (milkweed floss),
turfa de musgos (peat moss).
Esses materiais recolhem o óleo por absorção ou adsorção (FINGAS, 2001).
Quando um fluido entra em contato com a superfície do material, o líquido pode se
comportar entre dois extremos: espalhar-se sobre a superfície (absorção) ou
minimizar o contato (adsorção), isso dependerá das forças intermoleculares que se
estabelecem entre as fases líquida, sólida e vapor (COSTA, 2006).
Tais fenômenos dependem da interação do líquido com os grupos funcionais
da superfície do sólido. Ocorrerão interações fortes se as moléculas do líquido e os
grupos da superfície forem ambos polares. Entretanto, se o líquido for apolar e a
superfície de contato for polar, não ocorrerão interações fortes entre eles e o líquido
tenderá a atingir o estado de menor energia, quando as moléculas do líquido
interagem com elas mesmas, diminuindo o contato com a superfície e formando uma
gota (FOWKES, 1962 apud COSTA, 2006).
Na Figura 2.2, pode-se observar o comportamento do ângulo de contato (θ)
do líquido com a superfície em diferentes situações. Para θ = 0° (Figura 2.2a), a
superfície é totalmente hidrofílica; para 0° < θ < 90° (Figura 2.2b), a superfície é
predominantemente hidrofílica; para 90° < θ <180° (Figura 2.2c), a superfície é
predominantemente hidrofóbica; e para θ = 180° (Figura 2.2d), a superfície é
totalmente hidrofóbica.
Figura 2.2 – Ângulos de contato de líquidos em superfícies sólidas (COSTA, 2006)
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
20
2.3.1 Propriedades dos bons sorventes
Um dos métodos mais estudados para remediação de áreas afetadas por
derramamento de óleo é a aplicação de materiais sorventes, pois apresentam
grande possibilidade de coleta e completa remoção do óleo (ADEBAJO et al., 2003).
Os materiais sorventes usados para recuperar as áreas contaminadas têm a
finalidade de facilitar a retirada do contaminante por meio da mudança de seu
estado líquido para semi-sólido, ocasionada pela agregação do óleo ao material
(ADEBAJO et al., 2003; HALLIGAN; BALL; MEENAGHAN, 1976 apud CHOI;
CLOUD, 1992).
Os bons sorventes são caracterizados, principalmente, por sua hidrofobia
(aversão à água) e oleofilia (afinidade ao óleo). Além disso, devem apresentar a
maioria das seguintes propriedades (ADEBAJO et al., 2003; CHOI; CLOUD, 1992):
� Capacidade de sorção;
� Alta taxa de sorção;
� Capacidade de retenção;
� Possibilidade de recuperação do óleo (facilidade de extrair o óleo sorvido);
� Possibilidade de reutilização (reciclagem);
� Boa flutuabilidade;
� Biodegradabilidade.
A classe dos solventes minerais orgânicos, embora seja utilizada como
sorventes de óleo, apresenta baixa capacidade de sorver e de flutuar (ADEBAJO et
al., 2003).
O uso de sorventes sintéticos na sorção de óleo em derramamentos tem
crescido nos últimos anos, pois esses materiais possuem alta oleofilia e alta
hidrofobia, porém se degradam muito lentamente quando descartados no meio
ambiente. Esses sorventes não biodegradáveis podem ser reutilizados, porém
podem apresentar custo elevado (FINGAS, 2001).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
21
Quanto aos sorventes naturais, alguns materiais como a palha, o sabugo de
milho e as fibras de madeira não são bons sorventes, por possuírem pouca
flutuabilidade, baixa capacidade de sorção e alta hidrofilia (SCHATZBERG et al.,
1971 apud CHOI; CLOUD, 1992). Porém, a maioria apresenta grande capacidade de
sorção, como as fibras de algodão (JOHNSON; MANJREKAR; HALLIGAN, 1973
apud CHOI; CLOUD, 1992) e as fibras de capoc, as quais sorvem óleo até duas
vezes mais que as espumas de polipropileno (KOBAYASHI; MATSUO; NISHIYAMA,
1977 apud CHOI; CLOUD, 1992).
2.3.2 Capacidade de sorção
Para um material ser considerado um bom sorvente, deve apresentar elevada
capacidade de sorção. Esta propriedade depende de fatores como (ADEBAJO et al.,
2003):
a) Área superficial;
b) Tipo de superfície:
i) Porosa: presença de pequenos orifícios na superfície;
ii) Oleofílica: superfície com atração pelo óleo;
iii) Polar: apresenta componentes polares, como os grupos hidroxila (OH).
Alguns são tratados superficialmente com agentes oleofílicos e hidrofóbicos
para aumentar sua capacidade de sorção de óleo em ambiente aquoso (FINGAS,
2001).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
22
2.4 FIBRAS VEGETAIS
Recentemente, a ONU (Organizações das Nações Unidas) decretou 2009
como o Ano das Fibras Naturais. O Brasil, com seu clima favorável ao cultivo
agrícola e seus solos férteis e abundantes, tem um grande potencial para pôr em
prática o que tem sido discutido no cenário mundial (ANNUNCIADO; AMICO;
SYDENSTRICKER, 2005).
O incentivo ao cultivo de produtos de origem vegetal pode agregar valor ao
produto e promover o desenvolvimento econômico e social (TANOBE et al., 2003). O
mercado de fibras naturais no Brasil representa mais de 1 milhão de empregos
(PEREIRA et al., 2007).
A busca por técnicas de remediação ambientalmente corretas aumentou o
interesse pelo potencial dos materiais de origem natural. As fibras naturais são de
fontes renováveis, possuem grande potencial e constituem uma alternativa
sustentável (ANNUNCIADO; AMICO; SYDENSTRICKER, 2005; NEIRA, 2005;
TANOBE et al., 2003).
Além de possuir a maioria das propriedades dos bons sorventes, as fibras
vegetais ainda apresentam a vantagem de serem biodegradáveis, podendo substituir
parcial ou totalmente os materiais sintéticos usados para sorção de óleo (CHOI;
CLOUD, 1992).
Acrescentando-se a isso, as plantas que dão origem às fibras facilitam o
crédito de carbono, retirando gás carbônico do meio ambiente e liberando oxigênio
na fotossíntese, contribuindo para a purificação do ar (ANNUNCIADO; AMICO;
SYDENSTRICKER, 2005; SYDENSTRICKER; MOCHNAZ; AMICO, 2003).
As fibras vegetais são hidrofílicas. Quimicamente são constituídas por
celulose, contendo pequenas porcentagens de outros elementos. A celulose é uma
substância complexa, que tem a fórmula [C6H10O5]n.
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
23
A molécula de celulose é constituída por vários anéis de glicose que possuem
grupos hidroxila (-OH) capazes de formar pontes de hidrogênio com moléculas de
água (FEITOR, 2006). A estrutura da cadeia celulósica é mostrada na Figura 2.3:
Figura 2.3 – Estrutura da cadeia celulósica (FEITOR, 2006)
2.4.1 Classificação das fibras
Segundo Araújo e Castro (1986), as fibras são elementos filiformes,
caracterizados pela flexibilidade, finura e grande comprimento em relação à
dimensão transversal máxima.
No grupo das fibras vegetais incluem-se todas as fibras compostas por
celulose encontradas na natureza já em forma de fibras (ARAÚJO; CASTRO, 1986).
As fibras de semente são originadas de células epidérmicas da semente de
certas plantas, têm estrutura unicelular e são, na sua maioria, constituídas quase
inteiramente por celulose. Exemplos de fibras de semente são: algodão e capoc.
As fibras de folha provêm das folhas de certas plantas e são constituídas
essencialmente por celulose, com substâncias incrustantes e intercelulares
formadas por lignina (ARAÚJO; CASTRO, 1986).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
24
O critério usado para a classificação das fibras é a sua origem, como pode ser
visto na Figura 2.4:
Figura 2.4 – Classificação das fibras têxteis (LADCHUMANANANDASIVAM, 2006)
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
25
2.4.2 Fibras de algodão
Extremamente barata e abundante, o algodão é a fibra de semente mais
comum no Brasil, que possui a maior parte de sua indústria têxtil voltada para seu
beneficiamento (MUXEL; ALFAYA, 2007).
As fibras de algodão (Figura 2.5) constituem o revestimento piloso do fruto do
algodoeiro (Gossypium herbaceum L.). A planta tem o porte de um arbusto de pouco
mais de um metro de altura (ARAÚJO; CASTRO, 1986).
Figura 2.5 – Fibra da semente do fruto algodoeiro
O algodão é usado como fibra têxtil há mais de 7 mil anos. No Brasil já se
desenvolveu mais de 300 tipos de algodão. Atualmente, os seis maiores produtores
mundiais são os Estados Unidos, a China, a Índia, o Paquistão, o Brasil e o
Uzbequistão (NOTÍCIAS AGRÍCOLAS, 2008).
As fibras de algodão têm uma estrutura monocelular, que se desenvolve a
partir das células epidérmicas da semente. A parede externa é formada por uma
cutícula recoberta de ceras. A camada primária (primeira camada interna) é formada
por celulose. Interiormente a esta, é formada a segunda parede (camada
secundária), composta por camadas concêntricas de celulose.
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
26
As camadas concêntricas têm importância na resistência à tração das fibras.
Sua imagem microscópica típica revela sua característica mais marcante: a
presença de convoluções, que são numerosas torções em torno do próprio eixo, as
quais ocorrem, em media, em número de cinco por milímetro. Na Tabela 2.1 pode-
se observar sua composição (ARAÚJO; CASTRO, 1986).
Tabela 2.1 – Composição do algodão (ARAÚJO; CASTRO, 1986)
Composição Percentual
Celulose 85,5%
Óleos e ceras 0,5%
Proteínas e pectoses 5,0%
Minerais 1,0%
Água 8,0%
Total 100,0%
2.4.3 Fibras de capoc
A sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn), também conhecida como paineira
(Figura 2.6), é uma árvore que alcança até 40 metros de altura, ocorrendo em toda a
bacia amazônica, nas florestas inundadas ou pantanosas da várzea dos rios. Ocorre
também em formações secundárias, comportando-se como planta pioneira. Floresce
durante os meses de agosto e setembro com a árvore quase totalmente despida de
folhagem. Os frutos amadurecem em outubro e novembro. A madeira é empregada
na construção de embarcações, para miolo de compensados e produção de
celulose. Das sementes extrai-se um óleo comestível e também utilizado para
iluminação e fabrico de sabão. A pluma que envolve as sementes é composta por
fibras comumente conhecidas como capoc ou paina. A fibra é pouco densa,
volumosa, de cor amarelada ou branca, inodora e não alérgica, sendo muito utilizada
industrialmente para confecção de bóias e salva-vidas, para enchimento de colchões
e travesseiros e, como isolante térmico (CHINEA-RIVERA, 1990; LORENZI, 2002).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
27
Figura 2.6 – Sumaúma
Estudos recentes têm mostrado a viabilidade da aplicação dessa fibra (Figura
2.7) para sorção de óleo, principalmente por apresentar alto teor de oleofilia e baixa
hidrofilia (HORI et al., 2000; HUANG; LIM, 2006; LIM; HUANG, 2007).
Figura 2.7 – Fibras da semente do fruto da sumaúma
O cultivo da espécie pode ser considerado uma alternativa sustentável, pois
cada árvore inicia sua frutificação já no terceiro ano de vida e continua produzindo
até 50 anos ou mais. São produzidos cerca de 600 frutos por árvore, somando 2,7
kg de fibra. A fibra representa 21,1% do peso do fruto (CHINEA-RIVERA, 1990).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
28
2.4.4 Fibras da folha do abacaxizeiro
O abacaxizeiro (Ananas comosus (L.) Merr.) é uma frutífera muito cultivada
em todas as regiões tropicais do país e do mundo. No Brasil, se adapta bem nas
regiões do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre em áreas de cerrado. O Estado da
Paraíba é o maior produtor brasileiro, seguido dos Estados de Minas Gerais, Rio
Grande do Norte, Pernambuco e Ceará (IBGE, 2007). É uma herbácea perenifólia,
de 60 a 90 cm de altura. Folhas suculentas, com ou sem espinhos nas margens
(LORENZI et al., 2006). É das suas folhas que se extrai uma fibra longa de cor
amarelada (Figura 2.8).
Figura 2.8 – Fibras das folhas do abacaxizeiro
2.4.5 Fibras de sisal
As fibras de sisal (Figura 2.9) são extraídas das folhas do agave (Agave
sisalana Perrine), facilmente cultivada no Nordeste brasileiro. No mundo, são
produzidos cerca de 4,5 bilhões de toneladas de fibras de sisal por ano (LI; MAI; YE,
2000). Na Bahia, maior produtor de sisal do Brasil, foram produzidas 233.066
toneladas de fibras em 2007 (IBGE, 2007). Uma única planta produz de 200 a 250
folhas e cada folha contém 4% de fibra, 0,75% de cutícula, 8% de matéria seca e
87,25% de água. Uma única folha pesa cerca de 600g e 3% do seu peso são fibras
(LI; MAI; YE, 2000).
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
29
Figura 2.9 – Fibras da folha da planta de sisal
2.4.6 Fibras de curauá
A planta de curauá (Ananas erectifolius L.B. Sm.) é nativa e rústica, ainda
pouco conhecida e estudada. A planta é característica da amazônia paraense;
cresce até em solo arenoso e pouco fértil chegando a atingir entre 1 m e 1,5 m de
altura. Cada planta produz entre 12 e 15 folhas, das quais são extraídos cerca de
dois quilogramas de fibras (PEREIRA et al., 2007).
As fibras de curauá são fibras de caule (Figura 2.10) muito utilizadas na
fabricação de cordas, sacos e utensílios domésticos, além de aplicações na indústria
automobilística, devido à sua resistência, maciez e leveza (PEREIRA et al., 2007). A
produção atual brasileira, concentrada em Santarém, no Pará, é de 20 toneladas.
Mas é uma cultura que está começando a se expandir, em razão do interesse
despertado pelas pesquisas feitas com o material (ERENO, 2007). A crescente
demanda dessa fibra pela indústria automobilística tornou-a uma espécie
estratégica, aumentado a procura e seu valor agregado (PEREIRA et al., 2007).
Figura 2.10 – Fibras da folha da planta de curauá
3 – METODOLOGIA
30
3 METODOLOGIA
No presente trabalho foi analisada a capacidade de sorção de diversas fibras,
todas encontradas na região Nordeste do Brasil: fibras de semente (algodão e
capoc) e fibras de folha (do abacaxizeiro, de sisal e de curauá).
Neste capítulo serão descritos os processos de obtenção e preparação das
fibras escolhidas para a pesquisa, desde a coleta, em alguns casos. Em seguida,
foram realizados ensaios de caracterização.
Foi dado destaque às análises de oleofilia, hidrofilia e seletividade entre água
e óleo. Os ensaios foram realizados com base na literatura, tendo em vista que não
existem normas ou qualquer procedimento padrão.
3.1 OBTENÇÃO E PREPARAÇÃO DAS FIBRAS
A seguir será descrito como foi obtida e preparada cada tipo de fibra para os
ensaios de sorção de óleo, sorção de água do mar e seletividade.
3.1.1 Fibras de algodão
As fibras de algodão foram fornecidas pela empresa Vicunha Têxtil S.A., do
Distrito Industrial de Natal, Rio Grande do Norte. As fibras foram retiradas de fardos
já no processo industrial e ainda apresentavam cascas, folhas e outras impurezas.
O objetivo do trabalho é usar as fibras no estado natural, por isso as fibras de
algodão serão estudadas sem qualquer tratamento químico ou processo de limpeza.
3 – METODOLOGIA
31
3.1.2 Fibras de capoc
Com o objetivo de confirmar que a espécie de arvore, da qual foram retirados
os frutos estudados neste trabalho, é, de fato, a sumaúma (ou paineira), amostras
de galhos, flores, folhas e frutos da planta foram coletados (out. 2007) e levados ao
Herbário da UFRN para serem identificados e registrados (Anexo I).
Dos frutos coletados para o estudo da sorção de petróleo, as fibras foram
separadas manualmente da casca e do sabugo, que é a parte interna do fruto
(Figura 3.1a). Para facilitar a separação entre as fibras e as sementes (Figura 3.1b),
desenvolveu-se um dispositivo constituído de um recipiente encoberto por uma tela
(Figura 3.1c). Neste aparato, as fibras foram friccionadas sobre esta tela (Figura
3.1d), fazendo as sementes passar por ela e se depositarem no fundo do recipiente,
restando apenas as fibras (Figura 3.1e).
a) b)
c) d)
e) Figura 3.1 – Processo de separação das fibras de capoc
(a) Retirada da casca e do sabugo; (b) Fibras e sementes; (c) Aparato;
(d) Processo de fricção/ (e) Fibras limpas
3 – METODOLOGIA
32
3.1.3 Fibras da folha do abacaxizeiro
As fibras das folhas do abacaxizeiro foram coletadas na Fazenda Ramada II
no Município de Ielmo Marinho, no Estado do Rio Grande do Norte (mar. 2008). No
Laboratório de Engenharia Têxtil da UFRN, as fibras foram obtidas pelo Método
Manual-Mecânico utilizando uma desfibradeira desenvolvida por Aquino (2006) e
postas para secar durante cinco dias, à temperatura ambiente. Com o auxílio de
uma carda manual, as fibras foram escovadas e limpas. Na Figura 3.2 são
mostradas todas as etapas do processo.
a) b) c)
d) e) f)
Figura 3.2 – Processo de separação das fibras das folhas do abacaxizeiro
(a) Desfibramento; (b) Fibras expostas; (c) Separação manual das fibras;
(d) Secagem; (e) Limpeza com a carda manual; (f) Retirada dos talos das folhas
3.1.4 Fibras de sisal
As fibras de sisal foram fornecidas pelo Laboratório de Engenharia Têxtil da
UFRN. Mechas de fibras foram escovadas para retirar o excesso de impurezas
(restos de mucilagem seca) presentes na superfície das fibras.
3 – METODOLOGIA
33
3.1.5 Fibras de curauá
As fibras de curauá foram cedidas pela Profa. Dra. Eve Maria Freire de
Aquino, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN. Com o intuito de
diminuir a quantidade de impurezas na superfície, do mesmo modo que as outras
fibras de folhas, as fibras de curauá foram escovadas com a carda manual.
3.2 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DAS FIBRAS
Com o objetivo de analisar a influência da superfície e da seção transversal
das fibras na sorção de petróleo, utilizou-se a técnica de Microscopia Eletrônica de
Varredura (MEV), realizada no LIMEV do Núcleo de Pesquisas em Petróleo e Gás
Natural da UFRN e no Laboratório de Caracterização de Materiais do Centro de
Tecnologia do Gás (CTGÁS). Este microscópio é capaz de produzir imagens de
altas ampliação e resolução.
3.3 DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DO PETRÓLEO
A viscosidade representa a medida do atrito interno ou molecular de um
fluido. Quanto maior a resistência oferecida ao deslocamento de um fluido, tanto
maior será a sua viscosidade. A viscosidade é uma das mais importantes
propriedades dos óleos. Seu conhecimento é fundamental, pois as fibras serão
estudadas quanto à sorção de óleo de determinada viscosidade.
A amostra de petróleo foi doada pela PETROBRAS – Unidade de Produção
do RN, coletada no Ativo de Produção Canto do Amaro-RN, Estação AP-G, poço
PTS-02U, em 21/02/2008.
3 – METODOLOGIA
34
No laboratório do Núcleo de Pesquisa em Petróleo e Gás, da UFRN, realizou-
se a análise de viscosidade, onde foi utilizado o viscosímetro Saybolt-Furol, cujo
resultado é expresso em segundo Saybolt-Furol (sSF). Entretanto, a unidade de
viscosidade comumente usada é o centipoise (cP), que equivale a 10-2 poise (P).
Para converter as unidades, usa-se a
Tabela 3.1 abaixo:
Tabela 3.1 – Conversão de unidades de viscosidade (TEIXEIRA; LORA, 2004)
3.4 ANÁLISES DE SORÇÃO
O desempenho dos sorventes é medido em termos de retenção total de óleo,
desejável, e água, indesejável (FINGAS, 2001). Retenção de óleo é a massa de óleo
retida comparada à massa do sorvente antes da sua imersão. Do mesmo modo,
retenção de água do mar é a massa de água do mar retida comparada à massa do
sorvente antes da sua imersão.
O método descrito a seguir foi utilizado por vários autores (ANNUNCIADO;
SYDENSTRICKER; AMICO, 2005; INAGAKI et al., 2002; LIM; HUANG, 2007; WEI et
al., 2003), porém, sem um padrão para determinação dos tempos de contato das
fibras com os fluidos, nem para as conformações das amostras de fibras.
3.4.1 Preparação das amostras de fibras
Em geral, as fibras vegetais de semente são macias e apresentam-se em
forma de plumas. Já as fibras de folhas são rígidas (duras) e longas. Neste trabalho,
3 – METODOLOGIA
35
optou-se por uniformizar o formato de todas as amostras de fibras de modo a
padronizar a área de contato delas com o fluido de trabalho (petróleo ou água do
mar). Como na literatura não foi encontrado nenhum padrão quanto ao formato das
amostras, as fibras foram moldadas à mão até assumirem um formato esférico
(Figura 3.3).
Figura 3.3 – Fibras moldadas em formato esférico
Com o intuito de padronizar o comprimento entre as fibras de folhas, todas as
amostras foram cortadas com tesoura, com comprimento padrão de dez centímetros
(Figura 3.4). Ressalta-se que na literatura não foram encontradas referências à
padronização do formato ou comprimento das fibras.
Figura 3.4 – Fibras de folhas cortadas com comprimento de dez centímetros
3 – METODOLOGIA
36
Em todas as análises, utilizaram-se amostras de fibras sem tratamento
químico.
3.4.2 Análise de sorção de petróleo
Foi analisada a sorção de petróleo pelas fibras vegetais selecionadas
(algodão, capoc, abacaxi, sisal e curauá) em diferentes intervalos de tempo. Na
literatura não foram encontrados padrões quanto aos intervalos de tempo estudados,
ficando a critério dos autores. Neste trabalho optou-se por avaliar as amostras de
fibras em 20, 40 e 60 minutos de contato com o fluido.
Inicialmente, seis amostras de fibras de sisal foram moldadas à mão até
assumirem um formato esférico, conforme procedimento adotado no item 3.4.1 da
página 34. Determinou-se a massa inicial de uma das amostras pesando-a em uma
balança digital com resolução de 0,01 g. Em seguida, em um Becker de 60 mL
contendo 50 mL de petróleo, colocou-se a fibra em contato com o fluido. A
temperatura do ambiente laboratorial era de 28°C.
Após um intervalo de 20 minutos a amostra foi suspensa com o auxílio de
uma pinça, sendo drenada por 1 minuto, conforme procedimento adotado por Choi e
Cloud (1992), Tanobe et al. (2006) e Rajakovic et al. (2007).
Imediatamente após a drenagem, a amostra foi colocada sobre uma Placa de
Petri para determinar a massa final (massa inicial da fibra + massa de fluido retido)
pesando-a novamente.
Definiu-se o parâmetro “grau de sorção de petróleo pela fibra” como sendo a
razão entre a massa de petróleo retido e a massa da fibra antes da imersão no
fluido, de acordo com a Equação 3.1:
FIBRA
FIBRAFLUIDO
g
ggGS
−= (3.1)
Onde: GS é o grau de sorção de petróleo pela fibra (adimensional)
gfluido é a massa da amostra de fibra embebida com o fluido (g)
3 – METODOLOGIA
37
gfibra é a massa da amostra de fibra antes do contato com o fluido (g)
Todo esse procedimento foi repetido mais cinco vezes para o mesmo tipo de
fibra (algodão) e para o mesmo intervalo de tempo (20 minutos).
Na Figura 3.5 as etapas do procedimento podem ser observadas.
a) b)
c) d)
Figura 3.5 – Etapas das análises de sorção de petróleo
(a) Pesagem inicial; (b) Contato da fibra com o petróleo;
(c) Drenagem; (d) Pesagem final.
As etapas, desde a pesagem inicial até a determinação do grau de sorção de
petróleo pela fibra, também foram realizadas nos tempos de 40 e 60 minutos.
Estes ensaios foram reproduzidos com todas as outras fibras (capoc, abacaxi,
sisal e curauá), que foram submetidas aos mesmos procedimentos, sendo cada tipo
separadamente.
3 – METODOLOGIA
38
3.4.3 Análise de sorção de água do mar
Para a realização dos ensaios com água do mar, foram coletadas amostras
de água da praia de Ponta Negra, em Natal, no Estado do Rio Grande do Norte. Foi
analisada a sorção de água do mar pelas mesmas fibras vegetais selecionadas
(algodão, capoc, abacaxi, sisal e curauá) nos mesmos intervalos de tempo (20, 40 e
60 minutos).
Inicialmente, três amostras de fibras de sisal foram moldadas à mão,
conforme procedimento detalhado na seção 3.4.1, na página 34. Para determinar a
massa inicial das amostras, cada uma delas foi pesada individualmente em uma
balança digital com resolução de 0,01g. Em seguida, em um Becker de 600 mL
contendo 300 mL de água do mar, as três amostras foram colocadas,
simultaneamente, em contato com o fluido.
Após 20 minutos de imersão, cada uma das amostras foi suspensa com o
auxílio de uma pinça, sendo drenadas por 1 minuto, conforme procedimento adotado
na seção 3.4.2, na página 36. Logo após a drenagem, a massa final de cada
amostra foi determinada por meio da pesagem final de cada uma delas.
Para determinação do “grau de sorção de água do mar pelas fibras” utilizou-
se a Equação 3.1, mostrada na seção 3.4.2, na página 36.
Todos os procedimentos, desde a pesagem inicial até a pesagem final, foram
reproduzidos para mais três amostras de fibras de sisal, totalizando seis amostras
para o tempo de imersão de 20 minutos.
Depois de realizados estes ensaios, novas amostras (seis no total) foram
submetidas a ensaios de 40 e 60 minutos de contato com a água do mar, tomando-
se os mesmos procedimentos de pesagem inicial, tempo de imersão, quantidade de
amostras imersas no Becker (três), drenagem e pesagem final.
Sob as mesmas condições em que as fibras de sisal foram analisadas quanto
à sorção de água do mar, as fibras de algodão, capoc, abacaxi e curauá também
foram estudadas.
3 – METODOLOGIA
39
Na Figura 3.6, detalhes dos procedimentos podem ser observados.
a) b)
c)
Figura 3.6 – Etapas das análises de sorção de água do mar
(a) Amostras imersas;
(b) Detalhe das três amostras imersas simultaneamente;
(c) Drenagem.
3.5 ANÁLISE DE SELETIVIDADE
Segundo Fingas (2001), a seletividade da fibra está na sua oleofilia e
hidrofobia. Assim, foi realizado um estudo qualitativo do comportamento da fibra em
água do mar contaminada por petróleo.
Preparou-se um Becker de 600 mL contendo 500 mL de água do mar e 50 mL
de petróleo, como pode ser observado na Figura 3.7a. Utilizou-se uma amostra de
0,5 g de cada fibra. As amostras foram gentilmente colocadas no Becker contendo
os dois fluidos, conforme Figura 3.7b.
3 – METODOLOGIA
40
Durante um período de 60 minutos (Figura 3.7c), avaliou-se qualitativamente
o comportamento das fibras quanto à seletividade em relação aos fluidos.
Na Figura 3.7d é mostrado, em detalhe, a amostra da fibra de sisal depois do
ensaio.
a) b)
c) d)
Figura 3.7 – Etapas a análise de seletividade
(a) Preparação dos fluidos;
(b) Contato da fibra com os fluidos;
(c) Análise qualitativa;
(d) Detalhe das fibras de sisal
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
41
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Serão discutidos a seguir os resultados obtidos na análise da morfologia da
superfície das fibras; na análise da viscosidade do petróleo; nas análises de sorção
de petróleo e de água do mar pelas fibras; e na análise de seletividade.
4.1 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DAS FIBRAS
As análises morfológicas das fibras, realizadas por meio de Microscopia
Eletrônica de Varredura (MEV), resultaram nas imagens mostradas a seguir.
4.1.1 Análise da morfologia da fibra de algodão
Na análise morfológica da superfície da fibra de algodão (Figura 4.1), é
possível observar a presença de convoluções, uma das principais características da
fibra.
Figura 4.1 – Convoluções da fibra de algodão
CONVOLUÇÕES
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
42
A fibra em fase de amadurecimento apresenta em seu interior (lúmen) uma
substância líquida denominada protoplasma, que é expelida ao atingir o
amadurecimento. A saída do protoplasma do lúmen causa a torção da fibra em torno
do seu próprio eixo, ao que chamamos de convoluções, e sua secção transversal
(Figura 4.2) assemelha-se, na forma, ao grão de feijão (ARAÚJO; CASTRO, 1986).
Figura 4.2 – Seção transversal da fibra de algodão
4.1.2 Análise da morfologia da fibra de capoc
Na Figura 4.3, a análise morfológica da superfície da fibra de capoc revela a
predominância de lúmen, cerca de 77% do volume da fibra, como citado por Lim e
Huang (2007). Devido a essa estrutura tubular, o fenômeno da capilaridade favorece
a retenção de petróleo no interior da fibra de capoc.
SEÇÃO TRANSVERSAL
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
43
Figura 4.3 – Lúmen da fibra de capoc
Na Figura 4.4, pode-se observar uma superfície brilhosa. Isso se deve ao
recobrimento da fibra por meio de uma película de ceras e gorduras.
Figura 4.4 – Superfície da fibra de capoc
LÚMEN
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
44
4.1.3 Análise da morfologia da fibra da folha do abacaxizeiro
Na Figura 4.5, podem-se observar duas fibras da folha do abacaxizeiro com
espessuras diferentes mesmo sendo da mesma planta. Isso se deve ao fato de que,
na natureza, as diferentes condições de clima e solo, por exemplo, influenciam
diretamente no crescimento da planta e, portanto, nas propriedades das suas fibras.
Figura 4.5 – Superfície fibra da folha do abacaxizeiro
As fibras das folhas do abacaxizeiro, assim como todas as fibras de folha, são
multicelulares. De cada célula desenvolve-se uma fibra individual. Todas as fibras
individuais são unidas por lignina para formar a fibra propriamente dita, como pode
ser observado na Figura 4.6.
Figura 4.6 – Detalhe da superfície da fibra da folha do abacaxizeiro
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
45
4.1.4 Análise da morfologia da fibra de curauá
Comparando a Figura 4.7 com a Figura 4.5, observa-se a semelhança entre
as superfícies das fibras de folha.
Figura 4.7 – Superfície da fibra de curauá
Na Figura 4.8, observam-se com clareza fibras individuais soltas, decorrentes,
provavelmente, da cardagem manual, que danifica a superfície da fibra escovada.
Confirma-se, portanto, que as fibras de folha são multicelulares.
Figura 4.8 – Fibras individuais “soltas” (fibra de curauá)
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
46
4.1.5 Análise da morfologia da fibra de sisal
Na Figura 4.9, pode-se observar a semelhança da superfície da fibra de sisal
com a superfície das outras fibras de folhas: fibra da folha do abacaxizeiro (Figura
4.5) e fibra da folha de curauá (Figura 4.7).
Figura 4.9 – Superfície da fibra de sisal
Com aumento na magnitude do MEV, na Figura 4.10, podem ser melhor
observados os detalhes da superfície da fibra de sisal.
Figura 4.10 – Detalhes da superfície da fibra de sisal
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
47
4.2 ANÁLISE DA VISCOSIDADE DO PETRÓLEO
As amostras de petróleo apresentaram uma viscosidade de a 66,5 sSF, à
temperatura de 28°C. Convertendo esse valor para a unidade de viscosidade mais
usual, utilizou-se a Tabela 3.1, da página 26.
Convertendo de Saybolt para ºEngler, multiplica-se 6,65 sSF por 0,02395,
resultando em 1,592675 ºEngler. Convertendo de ºEngler para Poise, utiliza-se a
Equação 4.1:
6
10.º
0631,0.º073,0.º
−
−=Engler
EnglerEnglerPoise (4.1)
Resultando no valor de 1,22.10-6 Poise, ou 1,22.10-5 cP.
4.3 ANÁLISE DE SORÇÃO DE PETRÓLEO
Na
Tabela 4.1 são apresentados os resultados obtidos nos experimentos
realizados para análise de sorção de petróleo pelas fibras vegetais selecionadas.
Tabela 4.1 – Grau de sorção médio de petróleo por diferentes fibras vegetais
Grau de sorção médio
Fibras 20 min 40 min 60 min
Algodão 32,57 ± 3,32 34,55 ± 7,73 38,02 ± 5,38
Capoc 49,28 ± 1,58 53,73 ± 1,12 58,19 ± 3,93
Abacaxi 8,84 ± 1,62 9,19 ± 1,22 9,61 ± 2,01
Sisal 5,55 ± 0,91 6,25 ± 0,40 6,89 ± 0,68
Curauá 7,34 ± 0,57 7,98 ± 0,88 8,86 ± 0,38
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
48
Podem-se visualizar melhor os resultados na Figura 4.11:
Figura 4.11 – Graus de sorção de petróleo por diferentes fibras vegetais
Comparando o grau de sorção de petróleo entre as fibras selecionadas,
observa-se que as fibras de semente sorvem mais petróleo que as fibras de folha.
Acredita-se que vários fatores influenciem nessa diferença de sorção entre os
dois grupos de fibras:
c) Comprimento das fibras:
i) As fibras de semente são curtas, variando de 3,2 a 3,4 cm;
ii) As fibras de folha são longas, em torno de 10 cm;
d) Título das fibras, que é a relação entre diâmetro “d” e comprimento “L”,
sendo L>>d. No sistema direto, as fibras de semente possuem título
menor que as fibras de folha;
e) Área de contato, que está diretamente relacionada ao título;
f) Seção transversal, destacando-se o capoc que, diferentemente das outras
fibras, possui uma estrutura tubular que auxilia na sorção de petróleo
também por capilaridade;
g) Quantidade de lignina, ceras, gorduras e outros componentes na
superfície, visto que as fibras não passaram por nenhum tratamento
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
49
químico antes dos ensaios de sorção (de óleo e de água do mar) e
seletividade. Estes fatores estão diretamente ligados ao grau de oleofilia,
pois são esses componentes que conferem essa propriedade às fibras:
i) As fibras de folha possuem de 7,6 a 12% de lignina em sua
composição (SATYANARAYANA; GUIMARÃES; WYPYCH, 2007),
enquanto que as fibras de semente não possuem lignina em sua
composição. Segundo Pettersen (1984) apud Trugilho, Lima e
Mendes (1996), a lignina atua como material adesivo entre as fibras,
além de conferir dureza e rigidez à parede celular. Somente as fibras
de folha, que são multicelulares, possuem a lignina para unir as fibras
individuais desenvolvidas a partir de cada célula;
ii) As fibras de semente possuem maior teor de ceras e gorduras na
superfície, conferindo-lhes brilho na superfície, como mostrado na
Figura 4.4 da página 43.
Na Figura 4.12, observa-se o comportamento somente das fibras de folha.
Figura 4.12 – Graus de sorção de petróleo por fibras de folhas
Comparando as fibras de folhas entre si, constatou-se que as fibras das
folhas do abacaxizeiro apresentam maior grau de sorção que as demais fibras, em
todas as situações (20 min., 40 min. e 60 min.); em média 15% maior que as fibras
de curauá e 49% maior que as de sisal.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
50
As fibras de curauá e as fibras da folha do abacaxizeiro pertencem à mesma
família de plantas floríferas: Bromeliacaceae (TROPICOS.ORG, 2009) e os teores
de lignina apresentados em sua composição são de 7,5% a 11,1% para as fibras de
curauá e 12% para as fibras da folha do abacaxizeiro (SATYANARAYANA;
GUIMARÃES; WYPYCH, 2007). As fibras de sisal pertencem à família das
Amaryllidaceae (TROPICOS.ORG, 2009) e apresentam teor de lignina de 7,6% a
7,98% em sua composição (SATYANARAYANA; GUIMARÃES; WYPYCH, 2007).
Portanto, nada pode ser afirmado quanto à influência da lignina na sorção de
petróleo por fibras de folha. Torna-se extremamente importante que haja um estudo
mais aprofundado com as fibras analisadas para que se possa afirmar qual o
principal fator que influencia no grau de sorção de petróleo.
Na Figura 4.13 observa-se melhor o comportamento das fibras de semente.
Figura 4.13 – Graus de sorção de petróleo por fibras de semente
Comparando apenas as fibras de sementes, constatou-se que as fibras de
capoc apresentam maior grau de sorção de petróleo do que as fibras de algodão,
em todas as situações (20 min., 40 min. e 60 min.), sendo, em média, 53% maior.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
51
Conforme imagens de MEV, mostradas na seção 4.1 (página 41 e página 42),
as fibras de capoc diferenciam-se das fibras de algodão pelo lúmen e pela
superfície. O interior da fibra de capoc apresenta-se em formato tubular, composto
por 77% de lúmen, e sua superfície é lisa e brilhosa.
A fibra de algodão apresenta seu lúmen em formato “achatado” e sua
superfície apresenta convoluções, que são torções em torno do próprio eixo, como
explicado na seção 4.1.1, na página 41.
Acredita-se que a fibra de capoc apresente grau de sorção maior que a fibra
de algodão devido à sua estrutura tubular, que possui ação capilar, retendo o
petróleo dentro da fibra. Entretanto, nada pode ser afirmado quanto à sorção de óleo
na superfície.
Seria importante que se fizesse um estudo mais aprofundado dos
componentes químicos da superfície de cada tipo de fibra e da influência da
estrutura física da superfície de cada uma delas.
4.4 ANÁLISE DE SORÇÃO DE ÁGUA DO MAR
Na Tabela 4.2 são apresentados os resultados obtidos nos experimentos
realizados com as fibras colocadas em água do mar.
Tabela 4.2 – Grau de sorção médio de água do mar por diferentes fibras vegetais
Grau de sorção médio Fibras
20 min 40 min 60 min
Algodão 0,08 ± 0,03 0,09 ± 0,03 0,09 ± 0,04
Capoc 0,06 ± 0,03 0,07 ± 0,02 0,07 ± 0,01
Abacaxi 10,12 ± 1,94 10,13 ± 1,28 11,25 ± 2,48
Sisal 9,34 ± 1,07 9,44 ± 1,54 10,19 ± 1,19
Curauá 5,11 ± 1,21 6,71 ± 1,96 6,91 ± 1,37
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
52
Podem-se visualizar melhor os resultados na Figura 4.14:
Figura 4.14 – Graus de sorção de água do mar por diferentes fibras vegetais
Submetidas à análise de sorção de água do mar, as fibras de folha
selecionadas apresentam comportamento semelhante entre si e maior hidrofilia que
as fibras de semente, que também apresentam comportamento semelhante entre si.
Pettersen (1984) apud Trugilho, Lima e Mendes (1996) afirmam que a lignina
sendo um componente hidrofóbico.
Entretanto, o que é mostrado no gráfico é que as fibras de folha, que
possuem lignina em sua composição, são mais hidrofílicas que as fibras de
semente.
Partindo desse pressuposto, vê-se necessário, mais uma vez, um estudo
aprofundado dos componentes químicos presentes nas fibras e qual a relação que
existe entre esses componentes e a absorção de água.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
53
Na Figura 4.15 pode-se observar o comportamento das fibras de folha.
Figura 4.15 – Graus de sorção de água do mar por fibras de folhas
Observou-se que as fibras das folhas do abacaxizeiro apresentaram hidrofilia
maior quando comparadas às outras fibras do mesmo grupo. Em todas as situações
(20, 40 e 60 min.) apresentou grau de sorção de água do mar 9%, em média, a mais
que as fibras de sisal e 71%, em média, a mais que as de curauá.
Conforme a Tabela 4.3, comparando a Tabela 4.1 (seção 4.3, página 47) com
a Tabela 4.2 (seção 4.4, página 51), observa-se que as fibras de folha, em geral, são
mais hidrofílicas que oleofílicas.
Tabela 4.3 – Tabela comparativa entre as fibras vegetais de folha
quanto aos graus de sorção médios de petróleo e de água do mar
Grau de sorção médio
20 min 40 min 60 min Fibras
Petróleo Água Petróleo Água Petróleo Água
Abacaxi 8,84 ± 1,62 10,12 ± 1,94 9,19 ± 1,22 10,13 ± 1,28 9,61 ± 2,01 11,25 ± 2,48
Sisal 5,55 ± 0,91 9,34 ± 1,07 6,25 ± 0,40 9,44 ± 1,54 6,89 ± 0,68 10,19 ± 1,19
Curauá 7,34 ± 0,57 5,11 ± 1,21 7,98 ± 0,88 6,71 ± 1,96 8,86 ± 0,38 6,91 ± 1,37
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
54
Na Figura 4.16 observa-se melhor o comportamento das fibras de semente.
Figura 4.16 – Graus de sorção de água do mar por fibras de semente
Como mostrado na Figura 4.16, comparando apenas as fibras de sementes,
constatou-se que as fibras de algodão apresentam maior grau de sorção de água do
mar do que as fibras de capoc, em todas as situações (20 min., 40 min. e 60 min.),
sendo, em média, 31% maior. Porém, ambas as fibras apresentam graus de sorção
menor que 0,1 g de água por grama de fibra, comprovando sua baixa hidrofilia.
Acredita-se que a diferença entre os graus de sorção de água do mar por
essas fibras de semente seja atribuída à quantidade de graxas e ceras presentes na
superfície e nas diferenças de estrutura física (as fibras de capoc possuem estrutura
tubular com predominância de lúmen e superfície aparentemente lisa; enquanto que
as fibras de algodão apresentam convoluções ao longo da fibra e o lúmen
“achatado”).
Observando a Tabela 4.4 abaixo, pode-se constatar que as fibras vegetais de
semente são muito mais oleofílicas que hidrofílicas.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
55
Tabela 4.4 – Tabela comparativa entre as fibras vegetais de semente
quanto aos graus de sorção médios de petróleo e de água do mar
Grau de sorção médio
20 min 40 min 60 min Fibras
Petróleo Água Petróleo Água Petróleo Água
Algodão 32,57 ± 3,32 0,08 ± 0,03 34,55 ± 7,73 0,09 ± 0,03 38,02 ± 5,38 0,09 ± 0,04
Capoc 49,28 ± 1,58 0,06 ± 0,03 53,73 ± 1,12 0,07 ± 0,02 58,19 ± 3,93 0,07 ± 0,01
4.5 ANÁLISE DE SELETIVIDADE
O método de análise de seletividade é qualitativo e, por meio dele, pode ser
observado o comportamento de uma amostra cada fibra quando colocadas em um
recipiente contendo água contaminada por petróleo, de modo a saber se o petróleo
se adere ou não à amostra quando está sobre a água do mar.
4.5.1 Análise de seletividade das fibras de algodão
Na Figura 4.17 podem ser observadas as fibras de algodão em contato com
água do mar contaminada por petróleo no início do ensaio.
a) b)
Figura 4.17 – Análise de seletividade das fibras de algodão no início do ensaio (a) vista frontal e (b) vista de cima
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
56
Na Figura 4.18 observa-se o comportamento das fibras de algodão após uma
hora de ensaio.
a) b)
Figura 4.18 – Análise de seletividade das fibras de algodão após o ensaio (a) vista frontal e (b) vista de cima
As fibras de algodão mostram-se bastante seletivas pelo petróleo, que adere
à superfície da amostra, como mostrado acima.
4.5.2 Análise de seletividade das fibras de capoc
Na Figura 4.19 são mostradas as fibras de capoc no recipiente contendo água
e petróleo no início do ensaio.
a) b)
Figura 4.19 – Análise de seletividade das fibras de capoc no início do ensaio (a) vista frontal e (b) vista de cima
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
57
Na Figura 4.20 observa-se o comportamento das fibras de capoc após uma
hora de ensaio.
a) b) Figura 4.20 – Análise de seletividade das fibras de capoc após o ensaio
(a) vista frontal e (b) vista de cima
Com base nas análises de seletividade (Figura 4.18b e Figura 4.20b), as
fibras de capoc possuem maior capacidade de sorção do que as fibras de algodão,
confirmando os resultados obtidos nos ensaios de sorção de petróleo (seção 3.4.2,
página 36), observando-se o gráfico mostrado na Figura 4.13 (página 50).
4.5.3 Análise de seletividade das fibras das folhas do abacaxizeiro
Na Figura 4.21 pode ser observado o comportamento das fibras das folhas do
abacaxizeiro em contato com água do mar contaminada por petróleo após o ensaio.
a) b) Figura 4.21 – Análise de seletividade das fibras da folha do abacaxizeiro
(a) Fibra em contato com água poluída por petróleo; (b) Detalhe
Pode-se observar no detalhe (Figura 4.21b) que o petróleo adere, em parte,
às fibras das folhas do abacaxizeiro.
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
58
4.5.4 Análise de seletividade das fibras de sisal
Na Figura 4.22, destaca-se o comportamento das fibras de sisal, mostrando
ser mais seletivas pela água do mar do que pelo petróleo.
a) b)
Figura 4.22 – Análise de seletividade das fibras de sisal (a) Fibra em contato com água poluída por petróleo; (b) Detalhe
Este comportamento chamou a atenção para a influência do tempo de
contato. Deste modo, as fibras de sisal foram mantidas por mais duas horas em
observação. Este tempo foi estabelecido empiricamente, sem base em qualquer
literatura. Inclusive, esta análise qualitativa ainda não foi encontrada na bibliografia
até então pesquisada.
Na Figura 4.23, pode-se observar que as fibras de sisal, ao final das três
horas de ensaio, chegam a depositarem-se no fundo do recipiente, apresentando
gotas de óleo apenas em algumas partes da superfície das fibras.
Figura 4.23 – Fibras de sisal após 3 horas de ensaio pelo método qualitativo de análise de seletividade
GOTAS DE ÓLEO NA SUPERFÍCIE DA AMOSTRA
4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
59
4.5.5 Análise de seletividade das fibras de curauá
Na Figura 4.24, as fibras de curauá mostram um comportamento semelhante
das fibras das folhas do abacaxizeiro, porém com mais seletividade pelo petróleo.
a) b)
c)
Figura 4.24 – Análise de seletividade das fibras de curauá (a) Fibra em contato com água poluída por petróleo; (b) e (c) Detalhes
5 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES
60
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Por meio da determinação dos graus de sorção de petróleo e água do mar,
constatou-se que, para um petróleo com viscosidade de 66,5 sSF, em ambiente com
temperatura de 28°C, as fibras vegetais da folha do abacaxizeiro apresentam maior
grau de sorção de petróleo, porém também apresentam maior grau de sorção de
água do mar. Dentre as fibras vegetais de folha, as fibras de curauá apresentam o
menor grau de sorção de água do mar e grau de sorção de petróleo compatível com
as fibras da folha do abacaxizeiro, da mesma família de plantas (Bromeliaceae). Os
ensaios para análise de seletividade vêm comprovar essa afirmação, mostrando a
maior afinidade das fibras de curauá pelo petróleo do que pela água. Entretanto, as
fibras de semente são a melhor opção para remediação de águas contaminadas por
petróleo, com destaque para a fibra de capoc. Acredita-se que diferença de grau de
sorção entre as fibras pode ser atribuída às diferenças de propriedades químicas,
físicas e estruturais. Acredita-se que a presença de lignina nas fibras de folha
diminua a sua capacidade de sorção de petróleo e, conforme observado por Choi e
Cloud (1992), o teor de gordura presente nas fibras de semente pode ter papel
preponderante na sorção de petróleo, como pode ser observado nos ensaios para
análise de seletividade. O diferencial das fibras de capoc está em sua estrutura
tubular (predominância de lúmen) que favorece a sorção de petróleo também por
capilaridade, aumentando a eficiência de sorção. Sendo assim, a possibilidade de
uso de fibras vegetais, com ênfase às fibras de capoc, para remediação de águas
poluídas por petróleo é uma alternativa de baixo custo, de fonte renovável e
bastante eficiente.
Para futuros trabalhos, sugere-se:
a. Estudo de outras fibras vegetais para sorção de petróleo em corpo aquoso;
b. Estudo das variações das condições ambientais no estudo da sorção de águas
contaminadas por petróleo: temperatura, ambiente dinâmico, tipos de óleos;
c. Desenvolvimento de um material (compósito) prático para remediação de corpos
aquosos poluídos por petróleo.
Referências
61
REFERÊNCIAS
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