Post on 11-Nov-2018
Sistema Financeiro Internacional: de Bretton Woods ao Não-
Sistema
Prof. Dr. Diego Araujo Azzi
2017.2
Aula 4
Leitura
Conti et alli. O sistema monetário internacional e seu caráter hierarquizado. In: Cintra; Martins.
As transformações no sistema monetário internacional. IPEA, Brasília, 2013.
• A “moeda” tem a natureza de um bem coletivo, um equivalente geral do qual todos se beneficiam, e sua utilidade aumenta quanto mais pessoas a utilizam
• Porém, a economia mundial nunca teve uma moeda propriamente internacional
– De todas as moedas, o dólar é hoje a única moeda que tem alcance global em todas três as funções clássicas da moeda
• Funções clássicas da moeda (usos público e privado)
– Meio de pagamento (moeda veicular; moeda de intervenção)
– Unidade de conta (moeda de denominação; equivalente geral)
– Reserva de valor (moeda de poupança, investimento e financiamento)
• Sistema monetário internacional: um sistema de competição monetária por zonas de influência
• Elementos políticos e econômicos fazem com que algumas moedas sejam utilizadas em âmbito internacional e outras não
• Um sistema monetário hierarquizado, medido pela maior ou menor internacionalização das moedas
• A força de uma moeda não é igual a sua valorização
• A hierarquia das moedas, internacionalização (% turnover cambial acima de 5%, 2010)
– Dólar (85%) – Global
– Euro (40%) – Concentrado em UE e África
– Iene (19%) – Sudeste Aisático e EUA
– Libra esterlina (13%) – Atlântico Norte e UE
– Dólar australiano (7,6%) – Ásia-pacífico; EUA
– Franco suíço (6,4%) – PIB “baixo”, alta hierarquia
– Dólar canadense (5,3%) – NAFTA (+ CETA)
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– Real brasileiro (0,7%) – Mercosul (+ BRICS)
– Renminbi chinês (0,3%) – PIB alto, baixa hierarquia • Economia ainda muito fechada e mercado de capitais
muito regulamentado (em transformação) Fonte: CINTRA, 2013.
• Toda ordem monetária internacional repousa sobre uma ordem política (R. Gilpin, 2001)
• Numa economia nacional, a moeda é geralmente imposta pelo Estado
• No sistema internacional nenhuma moeda é explicitamente imposta, pois não há um Estado supranacional que tenha poder para tanto
– Opções estratégicas de cada país
• Determinação do uso internacional de uma moeda: dinâmica dada pela oferta ou pela demanda?
• Hipótese Demanda: a internacionalização das moedas se dá pela escolha dos investidores internacionais, um processo conduzido pelo mercado
• Hipótese Oferta: a internacionalização das moedas se dá num contexto de competição entre moedas, ligado à relação de forças entre os Estados
• Autores buscam relativizar a soberania dos agentes na escolha das moedas internacionais – Agentes escolhem moedas apenas enquanto ativos,
mas não determinam seu grau de internacionalização
• Aspectos determinantes: hipótese Oferta – tamanho da economia nacional e integração com a
economia mundial
– poder geopolítico (inclusive militar)
– voluntarismo político
– instituições fortes e/ou favoráveis
– política econômica responsável e bons resultados macroeconômicos
• Principais determinantes da internacionalização
– tamanho da economia nacional e integração global
– poder geopolítico (inclusive militar)
– voluntarismo político
• Determinantes Secundários
– aparato institucional
– práticas econômicas “responsáveis”
• Tamanho da economia nacional e integração global
Determinantes
– A) Economia de rede: quanto maior a rede de atores utilizando certa moeda, maior o estímulo para que outros também utilizem (facilidades de intercâmbio e redução da incerteza)
– B) Economia de escala: quanto mais volumosas forem as trocas realizadas com uma certa moeda, mais baixos serão os custos de transação das operações
• Tamanho da economia nacional e integração global
– É consenso na literatura que o tamanho da economia nacional emissora de determinada moeda (seu PIB) tem relação com seu uso internacional
– Exceções:
– China: apesar da escala da economia e do volume de comércio, é uma economia ainda relativamente fechada e bastante regulada do ponto de vista financeiro
– Suíça: economia de pequena escala mas com fortes fluxos financeiros, em virtude da abertura do setor financeiro e do papel do sistema bancário suíço (paraíso fiscal)
• Poder Geopolítico
– Poder (Strange, 1986): a capacidade de uma pessoa ou um grupo de pessoas de influir sobre o estado das coisas de tal maneira que suas preferências tenham prioridade sobre as preferências dos demais
– Os países mais poderosos podem impor aos demais países o uso de suas moedas.
– No sistema financeiro internacional, no entanto, esta imposição acontece de forma implícita (via sistema bancário; influência nas instituições multilaterais; etc.).
• Voluntarismo político
As autoridades governamentais podem
– A) se esforçar para internacionalizar o uso de sua moeda (EUA; Inglaterra) – diplomacia monetária
– B) adotar uma postura neutra (BCE; Japão)
– C) evitar quer sua moeda seja usada no âmbito internacional (China)
• Voluntarismo político
– Apesar de ser considerado um aspecto importante na internacionalização do uso das moedas...
– ... É importante notar que o voluntarismo político está condicionado pelo poder geopolítico de cada país
Periferia do sistema:
– Moedas periféricas tenderão a continuar sendo mais demandadas pelo mercado na sua condição de ativos financeiros, e não de moeda
– Dessa forma, moedas periféricas tenderão a ter o seu espaço de circulação restrito ao âmbito doméstico
• As características e a hierarquia do sistema não são estáticas, mas as transformações se processam no longo prazo (ex. libra>dólar)
• Características de inércia e histerese no uso internacional das moedas
• Decisões nacionais isoladas tendem a ter pouco
efeito sobre o grau de internacionalização monetária (voluntarismo político inócuo)
• Tais transformações são sobretudo fruto de alternações no contexto geopolítico e geoeconômico mundiais