Simplesmente eu, Clarice Lispector

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Texto sobre a peça teatral "Simplesmente eu, Clarice Lispector", de Beth Goulart, feita para o caderno de Cultura (Panorama) do Jornal do Comércio. Porto Alegre, RS.

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ViverCINEMARobert Pattinson estrela filme de época baseado em obra de Guy de Maupassant. Bel Ami - o sedutor estreia nesta sexta na Capital. Página central

MÚSICAFreddie Mercury ganha vida pelo médico Jorge Busetto no show da banda argentina Dr. Queen. O grupo de tributo se apresenta pela primeira vez na Capital no domingo. Página 5

ESTREIANo documentário Vou rifar meu coração, o universo da música brega brasileira ganha destaque através de histórias reais alinhavadas por canções românticas. Página 3

Porto Alegre, 3, 4 e 5 de agosto de 2012 - Nº 11

Lívia Auler, especial JC

“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não sei traduzir.” Com estas

palavras, a atriz Beth Goulart ini-cia a interpretação de um mito da literatura brasileira. Simplesmente eu, Clarice Lispector está em car-taz na Capital durante este final de semana, no Theatro São Pedro, com sessões de sexta a domingo. O solo traz a escritora e sua obra para mais perto das pessoas, através de um diálogo estabeleci-do com o público. “Quando você lê um texto de Clarice, de alguma forma você é convidado a ter um encontro marcado consigo mes-mo”, diz a atriz. É este o encontro proposto pela artista no momento da peça.

Quando leu o primeiro romance de Clarice - Perto do coração selvagem -, Beth tinha apenas 13 anos e sentiu uma identificação imediata. A partir daí, passou a ter grande admi-ração pela escritora de origem ucraniana e, durante a vida, aca-lentou a vontade de fazer alguma coisa sobre esta que é, até hoje, uma de suas autoras preferidas. Uma das questões que Beth vê como importante é aquilo que ela chama de “olhar para o espe-lho de dentro”, aspecto abordado com profundidade na encenação. “Clarice se revela tanto naquilo que escreve, que acabamos por nos revelar junto”, relata Beth.

Por sua intimidade com a figura de Clarice, Beth assumiu, além da interpretação, a adapta-ção e a direção da peça. “Quando comecei a dramaturgia, estava tudo tão claro na minha cabeça que só precisei me cercar de bons profissionais, que pudessem concretizar essas ideias”, afirma. Esse respaldo técnico foi reali-zado por nomes como Maneco Quinderé, na iluminação, Alfredo Sertã, autor da trilha sonora, e Amir Haddad, responsável pela supervisão-geral do espetáculo.

TEATRO

Alma de

Para dar forma ao monólogo e chegar perto do “jeito Clarice de ser”, Beth dedicou dois anos de pesquisa em livros, entre-vistas, teses e declarações da escritora. Todas as informações foram misturadas e se transfor-maram em um ser híbrido: meio Beth, meio Clarice. “Para falar da solidão dela, eu falo da minha solidão; para falar da angústia dela, eu falo da minha angústia”, revela. Esse foi um dos pontos colocados pelo supervisor Amir Haddad. “Quanto mais em você, mais próximo a ela você estará”, disse ele à atriz, destacando que esta afirmação deixa mais rea-lista o que é mostrado no palco. “Eu não preciso deixar de ser eu

para ser ela. Sou eu, sendo ela”, relata Beth.

O palco é um espaço em branco, como se fosse um vazio, preenchido pelas ideias e pela coreografia de gestos, luzes, mú-sica e cena. “Clarice é a principal figura. Faço ela se transformar nos seus próprios personagens e retornar para ela”, explica Beth. Quatro histórias foram levadas em conta para a construção dos personagens: Perto do Coração Selvagem, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, e dois contos do livro Laços de Família: Amor e Perdoando Deus. As transformações são realizadas à vista do público, naturalmente, durante a execução do monólogo.

Clarice A mulher que nos revelaBeth Goulart afirma que

deseja mostrar a mulher por trás da autora. “Conhecer a pessoa Clarice nos aproxima de sua obra”, enfatiza a atriz. Apesar de a peça contar com muito texto, os momentos de silêncio também são valorizados, assim como na obra da escritora. “O texto dela te induz para o estado de reflexão e introspecção, o espetáculo não poderia ser diferente”, afirma.

O amor é a emoção conside-rada norteadora da peça. “Este é o sentimento mais forte na vida e obra da Clarice, e também é um tema que me interessa”, ressalta. Três pontos de identifi-cação são destacados pela atriz: amar os outros, a maternidade e

o respeito e devoção pelo ofício. Outra similaridade entre as duas é o processo criativo. Fisicamen-te, Beth ficou muito parecida com a escritora, auxiliando a identificação pelo público.

Simplesmente eu, Clarice Lispector já tem uma trajetória desde 2009, quando também foi apresentada em Porto Alegre. Naquele mesmo ano, Beth Goulart foi considerada a melhor atriz no Prêmio Shell de Teatro. Com pitadas de humor, o solo traz um olhar amoroso sobre a autora e busca tirá-la daquele lugar inatingível que, muitas vezes, ela é colocada. “Procuro trazê-la para um pouco mais perto de nós”, conclui a artista.

Simplesmente eu, Clarice LispectorSexta e sábado, às 21h, e domingo, às 16h. No Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n). Ingressos entre R$ 30,00 a R$ 70,00.

Beth Goulart apresenta seu olhar sobre Clarice Lispector em espetáculo no São Pedro

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