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7/21/2019 Simbolismo
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Antologia
Cruz e Souza
A GATA
De neve, de uma maciez de arminho e lactescência de
neve, de uma nervosidade frenética, era luxuosa,
principesca, de certo, essa orgulhosa gata. As esmeraldas
de seus olhos claros fosforeavam sensualmente,
eletricamente, quando alguém, no conforto da casa, lhe
acarinhava de manso o dorso, o focinho tenro, polposo,
espiguilhado de prateados fios sutis; e, no seu lindo pêlo
cetinoso e alvo, como numa fresca e virginal epiderme de
mulher aristocrtica, perpassava um frisson de ternura, um
estremecimento, como se em toda ela vi!rasse alguma
!risa de espiritual e amoroso. " era ent#o fidalga nas
sensa$%es, no ronronar apaixonado, ao luar, so! o cintilante cristal das estrelas, pelas caladas
vastid%es da noite, ou, nas horas de sesta, nos quentes, enlanguescedores morma$os, pregui$osa
e fatigada, anelando o repouso, numa onda de gozo e vol&pia, enroscada, serpenteada, torcicolosa
e convulsa, como um organismo suave e dé!il que um vivo azougue eletriza e agita. Talvez fosse a
alma de uma vaporosa rainha que ali vivesse nesse precioso animal, alguma misteriosa vis#o polar
dentro daquele feltro !ranco, daquela pel&cia rica, daqueles focos eslavos; algum sonho, enfim,
errante, vago, perdido nesse no!re exemplar felino de formas lascivas, flexuosas e delicadas. 's
vezes, mesmo, ela errava, como a n(made que perde a rota da caravana pelos desertos
escaldados de sol, em !usca de alimento; e os seus olhos, penetrantes no verde &mido e agudo
das luminosas pupilas, mais até fantasiosa a tornavam e mais nevoeiro davam ) sua lenda de
fadas. " assim, arminho girante, que as quatro veludosas patas faziam fidalgamente caminhar,
miando histérica, era como uma son*m!ula idealizada e amante que solu$ava e gemia
implorativamente a sua dor, através dos aposentos, na indiferen$a de quase todos. +m dia, porém,
uma doce m#o feminina e perfumada quis têla -unto de si e elevoua consigo para a tepidez e a
pompa das alcovas cheirosas, vivendo com ela ao colo, passandolhe os ntimos alvoro$os de seu
sangue de /irgem 0 como se a gata fosse um profundo seio de afagos a que ela confiasse todos os
seus mistérios e segredos de 1oiva ainda presa no claustro cerrado, como as mon-as normandas,
da carne inquietante e alucinadora. Agora, com a formosa seda do pêlo vi!rando ) carcia, alta e
feliz a ca!e$a artstica, vive nesse colo impoluto, em sonhos deliciosos e gozos infinitos de
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orientalista, o !elo exemplar felino, voluptuoso e dolente como a lua em!alada e cismando,
imaculadamente, no seio azul das esferas. 2 3issal 4
A5+671A89:
solid#o do 3ar, < amargor das vagas,
ondas em convuls%es, ondas em re!eldia,
desespero do 3ar, furiosa ventania,
!oca em fel dos trit%es engasgada de pragas.
/elhas chagas do sol, ensang=entadas chagas
de ocasos purpurais de atroz melancolia,
luas tristes, fatais, da atra mudez som!ria
De trgica runa em vastid%es pressagas.
>ara onde tudo vai, para onde tudo voa,
sumido, confundido, es!oroado, ) toa,
no caos tremendo e nu dos tempos a rolar?
@ue 1irvana genial h de engolir tudo isto,
mundos de 7nferno e 6éu, de udas e de 6risto,
luas, chagas do sol e tur!ilh%es do 3ar?B
6C6"" DAE A53AE
AhB Toda a alma num crcere anda presa,
solu$ando nas trevas, entre as grades
do cala!ou$o olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
quando a alma entre grilh%es as li!erdades
sonha e sonhando, as imortalidades
rasga no etéreo "spa$o da >ureza.
almas presas, mudas e fechadas
nas pris%es colossais e a!andonadas,
da Dor no cala!ou$o, atroz, funéreoB
1esses silêncios solitrios, graves,
que chaveiro do 6éu possui as chaves
para a!rirvos as portas do 3istério?B
A53AE 71D"67EAE... Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,
fugitivas a!elhas delicadas
das colméias de luz das alvoradas,
almas de melanc<licos poetas.
@ue dor fatal e que emo$%es secretas
vos tornam sempre assim desconsoladas,
na pungência de todas as espadas,na dolência de todos os ascetas?B
1essa esfera em que andais, sempre indecisa,
que tormento cruel vos nirvaniza,
que agonias tit*nicas s#o essas?B
>or que n#o vindes, Almas imprevistas,
para a miss#o das lmpidas 6onquistas
e das augustas, imortais >romessas?B
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E71F:17AE D: :6AE:
3usselinosas como !rumas diurnas
Descem do acaso as som!ras harmoniosas,
Eom!ras veladas e musselinosas
>ara as profundas solid%es noturnas.
Eacrrios virgens, sacrossantas urnas,
:s céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das "strelas ma-estosas
7luminando a escurid#o das furnas.
AhB por estes sinf(nicos ocasos
A terra exala aromas de ureos vasos,
7ncensos de tur!ulos divinos.
:s plenil&nios m<r!idos vaporam...
" como que no Azul plangem e choram
6taras, harpas, !andolins, violinos...
BRAÇOS
ra$os nervosos, !rancas opulências,
!rumais !rancuras, f&lgidas !rancuras,
alvuras castas, virginais alvuras,
latescências das raras latescências.
As fascinantes, m<r!idas dormências
dos teus a!ra$os de letais flexuras,
produzem sensa$%es de agres torturas,
dos dese-os as mornas florescências.
ra$os nervosos, tentadoras serpes
que prendem, tetanizam como os herpes,
dos delrios na trêmula coorte ...
>ompa de carnes tépidas e fl<reas,
!ra$os de estranhas corre$%es marm<reas,
a!ertos para o Amor e para a 3orteB
ANTÍFONA
Formas alvas, !rancas, Formas claras
De luares, de neves, de ne!linasB
Formas vagas, fluidas, cristalinas...
7ncensos dos tur!ulos das aras
Formas do Amor, constelarmante puras,
De /irgens e de Eantas vaporosas...
rilhos errantes, mdidas frescuras
" dolências de lrios e de rosas ...
7ndefinveis m&sicas supremas,
Harmonias da 6or e do >erfume...
Horas do :caso, trêmulas, extremas,
équiem do Eol que a Dor da 5uz resume...
/is%es, salmos e c*nticos serenos,
Eurdinas de <rg#os flé!eis, solu$antes...
Dormências de vol&picos venenos
Eutis e suaves, m<r!idos, radiantes ...
7nfinitos espritos dispersos,
7nefveis, edênicos, aéreos,
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Fecundai o 3istério destes versos
6om a chama ideal de todos os mistérios.
2...4
Violões que Choram
AhB plangentes viol%es dormentes, mornos,
Eolu$os ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
ocas murmure-antes de lamento.
1oites de além, remotas, que eu recordo,
1oites da solid#o, noites remotas
@ue nos azuis da fantasia !ordo,
/ou constelando de vis%es ignotas.
Eutis palpita$%es ) luz da lua.
Anseio dos momentos mais saudosos,
@uando l choram na deserta rua
As cordas vivas dos viol%es chorosos.
@uando os sons dos viol%es v#o solu$ando,
@uando os sons dos viol%es nas cordas gemem,
" v#o dilacerando e deliciando,
asgando as almas que nas som!ras tremem.
Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e geis que percorrem
6ordas e um mundo de dolências geram,
Gemidos, prantos, que no espa$o morrem...
" sons soturnos, suspiradas mgoas,
3goas amargas e melancolias,
1o sussurro mon<tono das guas,
1oturnamente, entre remagens frias.
/ozes veladas, veludosas vozes,
/ol&pias dos viol%es, vozes veladas,
/agam nos velhos v<rtices velozes
Dos ventos, vivas, v#s, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos viol%es ecoa
" vi!ra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Eo! a fe!irl agita$#o de um pulso.
@ue esses viol%es nevoentos e tristonhos
E#o ilhas de degredo atroz, funéreo,
>ara onde v#o, fatigadas no sonho,
Almas que se a!ismaram no mistério.
Litania dos pobres
:s miserveis, os rotos
E#o as flores dos esgotos.
E#o espectros implacveis
:s rotos, os miserveis.
E#o prantos negros de furnas
6aladas, mudas, soturnas.
E#o os grandes visionrios
Dos a!ismos tumulturios.
As som!ras das som!ras
mortas,
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6egos, a tatear nas portas.
>rocurando o céu, aflitos
" varando o céu de gritos.
Far<is ) noite apagados
>or ventos desesperados.
7n&teis, cansados !ra$os
>edindo amor aos "spa$os.
3#os inquietas, estendidas
Ao v#o deserto das vidas.
Figuras que o Eanto :fcio
6ondena a feroz suplcio.
Arcas soltas ao nevoento
Dil&vio do "squecimento.
>erdidas na correnteza
Das culpas da 1atureza.
po!resB Eolu$os feitos
Dos pecados imperfeitosB
Arrancadas amarguras
Do fundo das sepulturas.
7magens dos deletérios,
7mponderveis mistérios.
andeiras rotas, sem nome,Das !arricadas da fome.
andeiras estra$alhadas
Das sangrentas !arricadas.
Fantasmas v#os, si!ilinos
Da caverna dos DestinosB
po!resB o vosso !ando
I tremendo, é formidandoB
"le - marcha crescendo,
: vosso !ando tremendo...
"le marcha por colinas,
>or montes e por campinas.
1os areiais e nas serras
"m hostes como as de guerras.
6erradas legi%es estranhas
A su!ir, descer montanhas.
6omo avalanches terrveis
"nchendo plagas incrveis.
Atravessa - os mares,
6om aspectos singulares.
>erdese além nas dist*ncias
A caravana das *nsias.
>erdese além na poeira,
Das "sferas na cegueira.
/ai enchendo o estranho
mundo6om o seu solu$ar profundo.
6omo torres formidandas
De torturas miserandas.
" de tal forma no imenso
3undo ele se torna denso.
" de tal forma se arrasta
>or toda a regi#o mais vasta.
" de tal forma um encanto
Eecreto vos veste tanto.
" de tal forma - cresce
: !ando, que em v<s parece.
>o!res de ocultas chagas
5 das mais longnquas plagasB
>arece que em v<s h sonho
" o vosso !ando é risonho.
@ue através das rotas vestes
Trazeis delcias celestes.
@ue as vossas !ocas, de um
vinho
>reli!am todo o carinho...
@ue os vossos olhos som!rios
Trazem raros amavios.
@ue as vossas almas trevosas
/êm cheias de odor das rosas.
De torpores, dJindolências" gra$as e quintJessências.
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@ue - livres de martrios
/êm festonadas de lrios.
/em nim!adas de magia,
De morna melancoliaB
@ue essas flageladas almas
everdecem como palmas.
alanceadas no letargo
Dos sopros que vem do largo...
adiantes dJilusionismos,
Eegredos, orientalismos.
@ue como em guas de lagos
<iam nelas cisnes vagos...
@ue essas ca!e$as errantes
Trazem louros verde-antes.
" a languidez fugitiva
De alguma esperan$a viva.
@ue trazeis magos aspeitos
" o vosso !ando é de eleitos.
@ue vestes a pompa ardente
Do velho Eonho dolente.
@ue por entre os estertores
Eois uns !elos sonhadores.
5K"E>IA16", >ierre >uvis de 6havannes