Post on 23-Jul-2016
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ser movediço | rodrigo m leite | 04
já fui sólido
também já soube de coisas
entretanto
o mistério é a condição do ser movediço
ser movediço | rodrigo m leite | 06
ser movediço
mas não fugir da chuva da praça dos loucos
a noite é feminina, ainda não veio
logo haverá o convite
ao baile do fogo
dos corpos colados, aos passos vadios
cidade deserta
ser movediço | rodrigo m leite | 08
as mãos estão frias
não mortas, é
um frio
igual ao da barriga
ansiedade antes do toque
ser movediço | rodrigo m leite | 10
sob o ford amarelo que rumina
entre marquises, mel mercado
da noite ganhei frio e promessa do álcool
recriei o caminho da volta
quarteirões de vadalirismos abandonados
para namorar entre frutas podres neon
ser movediço | rodrigo m leite | 12
ilustração de gabriel archanjo
ser movediço | rodrigo m leite | 14
teu corpo feito um rio
águas turvas arrepios
minha saída naufragar
teu sexo feito peixes
cardumes cardumes
o meu desejo ir pescar
ser movediço | rodrigo m leite | 16
oferecer
olhos com fome
exigir infrações
que não faltem vias
nem tinta para
forjá-las
ser movediço | rodrigo m leite | 18
suor
não estão longe os teus segredos
nem difíceis as minhas respostas
é necessário, toda via
o exercício
cumprir o destino dos músculos
o gesto da mão, roupas queimando no vão
ser movediço | rodrigo m leite | 18
mamilos sem sutiã lambem o tecido transparente
inscrevem-se na página inédita
inauguradas transgressões dos membros
que afoitos acendem poemas
no território da cama
ranger uma música contínua
a preferida dos vizinhos
seja com os dentes, seja com o móbile
ser movediço | rodrigo m leite | 22
ilustração de gabriel archanjo
ser movediço | rodrigo m leite | 24
frio
perder-se entre panos encardidos
domésticas oníricas dunas
tender ao deslocamento
ao canal desabitado
ao sabor do cimento com lodo
com os testículos tímidos
quebrar o gelo do teu sexo depilado
lamber a tua febre: adorar os musgos
as lesmas foder
ser movediço | rodrigo m leite | 24
apesar do teu silêncio
que tem sempre um maior vigor
do meu sexo exala o berro
de um último espécime em extinção
e ainda que pálido
estremeça ante a morte presumida
armado enrijece
não fode mas também não foge
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do sexo exausto
não se (h)ouve o grito
amemo-nos em silêncio
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não se conheciam
nunca um ouvira falar sobre o outro
isso os colocavam em um
Sítio Comum
ainda que estivessem movediços
ok,
Quando se conhecerem
não é um possibilidade
continuarão eternos desconhecidos
porém
companheiros nisso
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ilustração de gabriel archanjo
sER mOVEDIÇO | pOESIA | rODRIGO m lEITE
iLUSTRAÇÕES | gABRIEL aRCHANJO
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