Post on 15-Feb-2017
Maria Inês Möllmann 1
Seminário sobre ValenciaRepresentações sociais e memória social:
vicissitudes de um objeto em busca de uma teoria
Disciplina Representações Sociais, Sociabilidade e Comunicação
PPGCOM/URFRGSProf. Valdir José Morigi
2015/2 Aluna: Maria Inês Möllmann
2
Um dos capítulosMemória, Imaginário e Repre-sentações SociaisCelso Pereira de Sá. (org.)Museu da República. Rio de Janeiro: 2005
Valencia
Universidade del Pais Vasco
Dpto. de Psicologia Social y Metodologia de las Ciências del Comportamiento
San Sebastian; España
pspvagj@ss.ehu.es
Introdução
O estudo da Memória Coletiva (MC) se refere ao tempo como categoria organizadora do conhecimento.
Como encarar o estudo do tempo comocategoria organizadora do conhecimento, se não for com uma metateoria1 dinâmica?Representações sociais e memória social: vicissitudes2 de um objeto em busca de uma teoria
1. Área do conhecimento que teoriza sobre a própria teoria de uma ciência. http://www.dicionarioinformal.com.br/metateoria/ A metateoria abarca as teorias e as confere legitimidade. Se não seguirmos uma metateoria, as teorias ficam desacreditadas. http://brunolaze.blogspot.com.br/2013/01/o-que-e-metateoria.html 2. Alteração; sequência de mudanças ou transformações. http://www.dicio.com.br/vicissitude/
Objetivo do texto
Confrontar algumas linhas de semelhançaTeoria das Representações Sociais (TRS) e nos estudos da Memória Coletiva (MC).
Por meio de uma dupla estratégia
Dupla estratégia
1. Alguns pontos que se concretizaram na visão atual MC e algumas das linhas basilares RS
2. Revisão da dimensão construtivista dos atuais estudos em MC, por meio de quatro características comuns com RS: processual, complexa, insertada em dinâmicas intergrupais e funcional
Estudos MC e RS
Visão atual MCAto de memóriaInstrumento preciso de recuperaçãoAtividade construtivaAlgo dado no passadoProcesso
Bases RSEnfoque dinâmicoFenômenos fazendo-se
Estudos MC e RS
Memória ColetivaAto de memória Freud
Ebbianghaus1856/19391850/1909
Instrumento preciso de recuperação
Bergson Anos 1930
Atividade construtiva BartlettHalbwachs Vigotsky
1941/19921896/1934
Algo dado no passado - passivoProcesso – conceito de categoria social - ativo
Schwartz 1990
Representações SociaisEnfoque dinâmico Lewin 1931Fenômenos fazendo-se Moskovici 1984
MC e TRS – Similares inquietudes
Conhecimento social é co-construído pelo conhecedor (Eu) e pelo Outro (a outra pessoa, o outro grupo, a outra sociedade, a outra cultura) - Modelo triádico Ego-Alter-Objeto (ou símbolo,representação)
Essência da teoria de conhecimento social de Moskovici (1984) leva em conta as dimensões construcionistas, dinâmica, social e funcional do estudo dos fenômenos sociais (Valencia, 2004)
Postulados atuais:
Ação em processoTransformamos as recordaçõesO que inter-relaciona Recordar [relação com algum evento, tema ou entidade do passado] e Comemorar [reproduz o passado com fins atuais fazendo consciente a narrativa original da comunidade] renova o sentimento de si mesma e sua unidade 3 resistir à mudança das concepções de si mesma 4
3. Durkheim (1965)4. Hutton, 1988)
Ação mais típica da MC: esquecimento- não é um déficit, mas algo válido; uma memória é substituída por outra mais estratégica e prática, tão básica quanto a própria recordação5
Diferente da memória individual [duração se assimila com uma melhor memória]
5. Davis & Starn, 1989
Não necessariamentePode ter essas característicasMas não depende delas
Informações estranhas do passado se juntam ao trabalho de maneira imprevisível
MC da cotidianidade apropriada pelas elites, mídia ou profissionais e agentes da cultura
Levam a um domínio da MC
Podem conter mudanças paradoxaisDependem de uma relação previsível de espaço e tempoPrecisão esperada da memória se amoldaproximidade física dos observadores, em tempo e espaço, ao evento
Memória e tempoEstudo do passar do tempo é recenteMC tradicionalmente tinha base na dissociação entre recordar e a sequencia linear do tempoAtualmente, é tão central que pode ser sua baseTempo é construção social, objetivo de identificar o antigo e o novo, variam de acordo com o contexto e a históriaRelação comunidade-tempo: ajuda a compreender a si mesmo. Grupo pode perder sua referência comum – passado compartilhado - em relação aos eventos da vida atual ou realMECANISMOS 1) Nominação retrospectiva: nomear eventos, temas e lugares antigos de acordo com os da posterioridade2) Colapso de comemoração: festas ou datas comemorativas recordando mais de um evento (Semana Santa Cristã)PRESENTISMO versões 1) instrumentalista: manipulação do passado por propósitos do presente2) Versão de significado: passado é inevitável ao interpretar o mundo
Memória e espaçoJunto com o TEMPO, é onde a preservação de Recordações descansa em sua ancoragem e objetivação (Wachtel, 1986)Ancoragem: monumentos, artefatos, textos. Meios de memória (Halbwachs, 1941/1992). Lugares de memória (Nora, 1989)Material. Existe no mundo, mais que na cabeça das pessoas, em artefatos que marcam sua existência: diários, retrospectivas de televisão, museusHá que considerá-los tais formas culturais para uma análise de memóriaIlusória. Não existe só o espaço objetivo, onde a Recordação persiste, também se dá através da ilusão do espaço.Céu se anexava à Palestina na Idade Média.Memória judaica persistiu sem ocupar um espaçoEspaço da Recordação se converte em mais global e mais local.GLOBAL: Auschwitz, Chernobil, HiroschimaLOCAL: Ressurgimento interesse na família, grupo étnico
Memória e espaço
MEMÓRIA REDEFINE O ESPAÇO DOS GRUPOS E DAS COMUNIDADES
Nenhuma memória particular contémtudo o que conhecemos sobre um determinado evento, personalidade ou assuntoMC: conjunto das memórias parciais articuladas em um mosaico
Parcialidade da memória e sua relaçãocom os grupos tem repercussões sobre o passado pertenças grupais4 de julho, em 1800, significa
festa, descanso - trabalhadores
cerveja - alemães ouvir os oradores - autóctones
Parcialidade da memória e suasrepercussõesPertenças grupaisContinuum de recordações não dá contaComplementação com outras memóriasAs do passado coexistem com as do presenteSe articulam com as de outros grupos (adquirem maior relevância)Significados particular (para uns) e universal (para outros)
Parcialidade da memória e suasrepercussõesSignificados particular (para uns) e universal (para outros)Há sujeitos que participam da constituição ativa das MC (elites)Atividades para transmiti-la (técnicos)Consomem-na (cidadãos)
Parcialidade da memória e suasrepercussões (problema da marginalidade na memória e sua recuperação assume relevância)Memórias nacionais foram inventadasConstruída visão específica da nacionalidadeFruto da aristocracia, monarquia, igreja, inteligência e classes altas
Para que?
Trabalho em MC é sempre um meio para algo mais ([do que se faz]
Do ato de coleta de informações pela análise de como ajuda a nos relacionarmos através do tempo e do espaçoFunções social, política e cultural da recordação6
6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função social6
Como grupos sociais constituem e reconstroem MemóriaMoldar a pertença grupal e a exclusão, a ordem social e a comunidadeRecordação: o que pertence/não pertenceEnfoque presentista: facilita equívocos históricos, como revisionismo (Holocausto e Guerra Civil Espanhola)
6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função política6
Níveis amplos e cotidianosIdentidade política: reconstrução do passado de maneira que se amolde ao presenteMitos, símbolos, imagens e recordações de fundaçãoEm seu conjuntoConstituem a identidade de um povoOrienta no tempo e no espaço
6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função política6
Repressão: memória silencia as vozes dos que tratam de interpretar o passado de forma contraditória
Grupos dominados: versão da MC criada pelos dominantes é assumida sem questionamentos (mulheres, grupos minoritários, nações sem estado)
6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função cultural6
Atividade de dar significadoRecordações são um tipo de refúgio, aos quais se pode acudir para buscar calor e inspiração (Smith, 1985)Relação entre Tecnologias de Comunicação e Recordação: humanos recordam diferenteMudanças: da cultura oral a escritaDe manuscritos a impressos, para a cultura dos meios 6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função cultural6
Tecnologias de Comunicaçãoe Recordação: humanos recordam diferenteMudança das sociedades impactamDa cultura oral a escritaDe manuscritos a impressos, para a cultura dos meiosCultura escrita progressiva externalização da memória (Jedlowsky, 2001)
6. Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
Função cultural6
XX Wagner Pacifi e Schwartz (1991)
DESENVOLVIMENTO CULTURAL DA MEMÓRIAPovos sem escrita. Memória étnica. Práticas de memória: destrezas desenvolvidas. Sociedades livres, criativas e vitaisPré-história / Antiguidade. Oralidade para escrita, oral não suplantadada pela escrita. Práticas de memória: comemoração, coleções documentais. Cidades emergentesIdade Média. “Cristianização” da memória. DMC dividida entre litúrgica e Cotidiana. Pouca cronologia. Recordação dos mortos, Santos mortosEntre a Ilustração e a Atualidade. Romantismo do Século 19. Revolução gradual pela imprensa escrita, necessita de uma classe média. Comemorações, moedas, medalhas, selos, estátuas. Arquivos, livrarias, museus: moldar identidades compartilhadas dos cidadãosSéculo 20. Meios eletrônicos de gravação e transmissão. Muda maneira de recordar e novas habilidades de conceituar memória. Não apenas ordenamos, imagens são modelos e metáforas para pensar sobre elas6. Le Goff (1992)
MC - Finalizando
Rápidas mudanças sociais do último século: grandes alterações no trabalho de memóriaCrescimento da consciência histórica linear: solução aos problemas existenciais de transformações rápidas. Passado continua sendo a ferramenta analítica mais útil para mudança constante7 Há autores que propõem: amnésia social como produto da modernidade 7. Hobswan (1972)
MC (MS) e RS: objeto com similaridades
Atualização dos estudos sobre MC a partir dos anos 1990, faz com que a transformação a que tem se sujeitado por suas características de dinamismo, complexidade, de inserção em dinâmicas (inter) grupaisa converta em um objeto de estudo com características similares às RS
MC (MS) e RS: objeto com similaridades
Atualização estudos MC trata desses sistemas de crenças, ideias e práticas em que o tempo desempenha dupla função:8
1. estabelece uma ordem permite aos indivíduos orientarem a si mesmo e controlar o mundo social em que vivem2. facilita a comunicação entre os membros de uma comunidade lhes provê um código para nomear e classificar os aspectos de seu mundo e de sua história individual e grupal 8. Moscovici (1973, 1984, 1988)
MC (MS) e RS: novos aportes mútuos
“Pensamento constituinte e pensamento constituído”9 RS de conteúdos de MSIdentidades nacionais, eventos públicos, esquecimentos ou repressões de MCRS e MCO papel da linearidade do tempo como categoria organizadora do pensamento
9. Jodelet (1984)
MC (MS): novos insights para RS
em seus três campos básicos10
1. Constituição e funcionamento do conhecimento popularizadoPopularização científica, tecnológica, econômica2. Objetos culturalmente construídos ao longo do tempo Saúde mental, papéis sociais, corpo humano, infância3. Condições e eventos sociais e políticos Estrutura social e desigualdade, desemprego, anomia 10. Wagner (1994)
MC (MS) e RS: relações
Poderia efetivar contribuições 1. Estudos e processos de representações polêmicas e antecipadas - objeto de desejo de Mead (1932) 112. Estudo de representações hegemônicas afrontando o tempo como RS
Para fazer frente a “série de representações sociais relativas ao passado que cada grupo produz, institucionaliza, guarda e transmite através da interação de seus membros.” 12
11. Moscovici (1988)12. Jedlowsky (2001)
Gracias!
Maria Inês MöllmannRelações-públicas, jornalista, especialista em
marketingProfessora universitária
(51) 9971-6132(51) 3268-5252 (residência)
mariainesmollmann@gmail.com