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COLECÇÃO DE CENÁRIOS GLOBAIS
– SELECÇÃO E ANÁLISE DE PROJECTOS
INTERNACIONAIS DE CENÁRIOS –
Documento de Trabalho Nº 3 /2011
Lisboa
DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território
FICHA TÉCNICA Título: Colecção de Cenários Globais - Selecção e Análise de Projectos Internacionais de
Cenários*
Autores: Paulo Soeiro de Carvalho (coordenação)
Catarina Rogado
Sofia Rodrigues
Edição: Divisão de Informação e Comunicação
Março 2011
Editor: Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
Av. D. Carlos I, 126 1249-073 Lisboa Fax: (351) 213935208 Telef: (351) 213935200 E-mail: dpp@dpp.pt www.dpp.pt
* Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projecto PTDC/AAC-CLI/105164/2008.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 5
2. LEVANTAMENTO E SÍNTESE DE PROJECTOS INTERNACIONAIS DE CENARIZAÇÃO 7
2.1. Os Projectos de Cenarização Analisados 7
2.2. Os 23 projectos seleccionados – uma breve caracterização 8
2.3. Síntese dos 23 Projectos de Cenarização 10
3. NOTAS CONCLUSIVAS 98
3.1. A Escolha das Incertezas Cruciais 98
3.2. Focos Estratégicos e Horizontes Temporais 101
3.3. Arquétipos obtidos a partir de uma visão panorâmica dos projectos de cenários 102
3.4. Cenários Positivos e Cenários Preferidos 109
ANEXO 1: OS 42 PROJECTOS INTERNACIONAIS DE CENARIZAÇÃO IDENTIFICADOS 111
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ACRÓNIMOS
BRIC Brasil, Rússia, Índia e China
CCS Carbon Capture Storage (Captura e Armazenamento de Carbono)
EUA Estados Unidos da América
EM Estado‐Membro
EMN Empresa Multinacional
FMI Fundo Monetário Internacional
I&D Investigação & Desenvolvimento
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OMC Organização Mundial do Comércio
OMS Organização Mundial de Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
PI Propriedade Industrial
PMEs Pequenas e Médias Empresas
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação
UE União Europeia
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1. INTRODUÇÃO
O presente documento constitui uma etapa importante do processo de construção de
Cenários Globais num horizonte de longo prazo que o DPP – Departamento de Prospectiva e
Planeamento e Relações Internacionais – se encontra a realizar no âmbito do projecto
“HybCO2: Abordagens híbridas para avaliar o impacto económico, ambiental e tecnológico de
cenários de redução de carbono de longo prazo – o caso de estudo Português”.1
Com o propósito de oferecer contributos relevantes para a construção de cenários globais, o
DPP fez um trabalho inicial de levantamento e análise de um conjunto de projectos
internacionais de cenarização de âmbito global.
Foram analisados numa fase inicial 42 projectos de cenários realizados por um conjunto muito
diversificado de instituições internacionais de reconhecida qualidade e credibilidade, número
que foi posteriormente reduzido para 23, tendo sido sobre este conjunto mais restrito de
projectos de cenarização que se realizou uma análise aprofundada centrada em diversos
elementos ou características distintivas de cada um daqueles estudos, tendo em vista a
obtenção dos seguintes objectivos:
• identificação e análise comparativa do foco estratégico, âmbito e horizonte temporal de
cada um dos projectos;
• identificação e análise das incertezas cruciais e respectivas configurações contrastadas que
estiveram na base da estruturação e descrição dos cenários;
• identificação de forças de mudança (para além das incertezas cruciais acima referidas) em
cada estudo e respectivo papel no processo de construção e descrição dos cenários;
• apresentação sintética de cada um dos cenários, permitindo a identificação de temas,
questões centrais e arquétipos comuns a vários dos estudos realizados, bem como de
ideias e elementos considerados distintivos nos vários projectos.
Tal com o referido acima, o propósito central deste trabalho de levantamento e análise de
projectos internacionais de construção de cenários de amplitude global foi o de oferecer
contributos relevantes ao nível da identificação de forças de mudança e incertezas cruciais
potenciais que pudessem servir de input de base para o processo subsequente de construção
de cenários globais por parte do DPP2.
1 Projecto que o DPP está a realizar juntamente com a FFCT‐UNL e o ISEG. Financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. 2 Um dos contributos da análise comparativa de projectos internacionais de construção de cenários traduziu‐se na identificação de forças de mudança e incertezas cruciais de âmbito global, que foram utilizadas como inputs de base no workshop participativo e co‐criativo de construção de cenários globais, organizado pelo DPP, e que se realizou no dia 8 de Novembro de 2010 na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo contado com a participação de um número seleccionado de participantes.
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Tendo presente os objectivos do trabalho, o documento estrutura‐se em duas partes,
respectivamente:
• Parte 1 – na qual se faz uma apresentação geral e panorâmica dos projectos ou estudos de
cenarização analisados, e em seguida uma apresentação sintética de cada um dos 23
projectos internacionais de cenarização que foram alvo de uma análise mais aprofundada;
• Parte 2 – na qual se procura oferecer uma sistematização das principais contribuições
obtidas a partir da análise dos projectos seleccionados.
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2. LEVANTAMENTO E SÍNTESE DE PROJECTOS
INTERNACIONAIS DE CENARIZAÇÃO
Com o objectivo de preparar a elaboração de Cenários Globais, o DPP realizou um
levantamento de projectos de cenarização de âmbito global, elaborados nos últimos 15 anos
por entidades de referência nos domínios da Prospectiva e Planeamento estratégico de longo
prazo.
Neste sentido, o presente documento traduz todo o trabalho de levantamento, selecção e
análise de um conjunto diversificado de projectos internacionais de cenarização, visando,
numa fase posterior, a obtenção de contributos relevantes para a construção de cenários
globais por parte do DPP.
2.1. Os Projectos de Cenarização Analisados
Para o levantamento destes projectos de cenarização optou‐se por uma abordagem
panorâmica e de visão global, no sentido de explorar de forma holística os vários projectos
centrados na construção de cenários globais. Embora não seja uma recolha exaustiva de todos
os projectos de cenários publicados nos últimos anos, foi feito um esforço no sentido de reunir
alguns dos trabalhos mais citados na literatura e que têm sido utilizados como referência em
estudos e análises comparativas de cenários. A lista completa dos 42 projectos inicialmente
compilados, bem como uma breve identificação dos mesmos, é apresentada no Anexo 1.
Neste primeiro levantamento de 42 trabalhos de cenarização procurámos, sempre que
possível, autonomizar e identificar as incertezas cruciais seleccionadas, bem como drivers,
tendências, elementos pré‐determinados e o processo de base conducente às estruturas de
cenários utilizado pelas diferentes instituições.
A partir de uma visão global e de uma primeira leitura destes 42 projectos de cenarização
fez‐se, em seguida, uma filtragem e selecção dos trabalhos, tendo sido seleccionados aqueles
cuja pertinência e qualidade considerámos passíveis de uma análise mais aprofundada.
Assim, do levantamento inicial de 42 projectos foram seleccionados 23, tendo os critérios de
selecção incidindo sobre a pertinência do foco estratégico, âmbito temático e horizonte
temporal, a possibilidade de identificar de forma clara as incertezas cruciais utilizadas e
respectiva contribuição para a construção dos cenários, e ainda a qualidade intrínseca dos
próprios cenários.
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2.2. Os 23 projectos seleccionados – uma breve caracterização
A diversidade dos 23 projectos de cenarização que foram analisados em maior profundidade
pode ser constatada pelas duas figuras seguintes, os quais permitem visualizar os diferentes
horizontes temporais e ainda os diferentes tipos de focos estratégicos e temas associados aos
diferentes estudos.
Figura 1: Distribuição dos Projectos por Horizonte Temporal
Fonte: DPP.
Figura 2: Distribuição dos Projectos por Foco Estratégico
Fonte: DPP.
No presente trabalho os 23 projectos de cenarização são apresentados individualmente, sendo
elaborada para cada um deles uma ficha descritiva com informação relativa aos seguintes
pontos:
• Nome do projecto, identificação da entidade responsável, e data de elaboração;
• Os endereços de Internet referentes à localização do projecto, para posterior consulta;
• O horizonte temporal, foco estratégico e âmbito do projecto;
57
311
05
01
202020252030203520402045205020552060
Número de projectos por Horizonte Temporal
41
61
22
11
32
GlobalÁgua
AmbienteComércioEconomiaEnergiaModa
Propriedade IndustrialTecnologia
Território e Ambiente
Número de projectos por Foco
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• As incertezas consideradas nos vários projectos (e respectivas configurações);
• Os drivers e outras forças de mudança identificados em cada projecto (quando referidos);
• Um resumo de cada cenário constituinte do projecto;
• Palavras‐chave relativas a cada resumo de cenário;
• Observações, as quais poderão incluir as metodologias utilizadas em cada projecto
(quando referidas no projecto).
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2.3. Síntese dos 23 Projectos de Cenarização
Apresenta‐se de seguida a lista completa dos 23 projectos internacionais de cenários que
foram alvo de uma análise detalhada e que são descritos posteriormente de forma sintética.
Tal como referido no ponto anterior, para cada projecto de cenarização é apresentada uma
ficha descritiva com a identificação do projecto, as incertezas cruciais e respectivas
configurações, a estrutura base dos cenários, a identificação de outras forças de mudança
utilizadas no projecto e finalmente uma síntese descritiva dos cenários elaborados em cada
um dos projectos.
Os 23 Projectos de Cenarização Analisados e Sintetizados
1. EVA’s Global Scenarios – Playing Fields of the Future (2020)
2. Shell Energy Scenarios to 2050
3. Shell Global Scenarios to 2025
4. Quantifying Four Scenarios for Europe
5. Post‐2012 Climate Policy Scenarios
6. Global Trends to 2025: A Transformed World
7. Global Scenarios to 2025
8. The Future of the Global Economy to 2030
9. Scenarios for the Future International Environment 2010‐2020
10. England’s natural environment in 2060 – issues, implications and scenarios
11. Fashion Futures 2025 – Global Scenarios for a Sustainable Fashion Industry
12. Scenarios for the Future of Technology and International Development (2030)
13. World Trade: Possible Futures (2020)
14. PRELUDE Scenarios
15. World Water Vision – Three Global Water Scenarios (2025)
16. Energy to 2050 – Scenarios for a Sustainable Future
17. The Outlook – Towards 2015 and Beyond
18. Horizons 2020 – A Glimpse of Things to Come
19. Climate Futures – Responses to climate change in 2030
20. Deciding the Future: Energy Policy Scenarios to 2050
21. The Evolving Internet: Driving Forces, Uncertainties and Four Scenarios to 2025
22. Scenarios for the Future (2025)
23. Ecosystems and Human Well‐being: Scenarios (2050)
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PROJECTO 1 EVA’s Global Scenarios – Playing Fields of the Future
(2020) Finnish Business and Policy Forum EVA
Data Publicação: 2009
Horizonte Temporal: 2020
Foco Estratégico: Global
http://www.eva.fi/en/uutiset/english‐global‐scenarios/1531/ (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: Neste projecto é apresentado um conjunto de 10 incertezas:
• Cooperação internacional: irão as perspectivas dos decisores convergir ou divergir?
• Comércio internacional: haverá convergência de mercados, globalização e comércio livre ou um aumento do proteccionismo e restrições de acesso aos mercados?
• Pólos das reformas económicas e sociais: situar‐se‐á o centro das reformas sociais e económicas nos Estados Unidos da América (EUA) e nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ou, alternativamente, na China, Índia, Brasil e nos países do Médio Oriente produtores de petróleo?
• Crise económica: até quando? Até onde? Será rápida a retoma?
• Geopolítica, relações internacionais e regiões geográficas: que conflitos, alianças e mudanças de poder político serão expectáveis?
• Nível dos desequilíbrios ambientais: em que medida os eventos associados a alterações climáticas, catástrofes ambientais, pandemias, migrações, eventual escassez de matérias‐primas, alimentos e água potável, afectam o ambiente onde actuamos?
• Energia e matérias‐primas: como evoluirá a disponibilidade e preço? Como assegurar a eficiência na produção e consumo?
• Tecnologia: como se desenvolverão as tecnologias ambientais e de informação? Quem serão os actores que estarão na génese dessas novas soluções?
• Competição pelos talentos: que tipo de intensidade irá estar implícita na concorrência pelos melhores cérebros e também pelas melhores “mãos”?
• Valores, religião, cultura e terrorismo: como é que o apreço pelo desenvolvimento sustentável, lazer, tempo e comunidades influenciará os valores e os estilos de vida? De que forma podem mudar o significado da religião, multiculturalismo e terrorismo?
Importa referir que as incertezas cruciais que estiveram na origem dos cenários não são explicitamente apresentadas. No entanto, a estrutura base dos cenários permite‐nos deduzir que as incertezas cruciais seleccionadas para a construção da matriz dos cenários foram as seguintes:
Cooperação internacional e Comércio internacional: convergência vs. divergência Centro das reformas sociais e económicas: Oeste vs. Este
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ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
Neste estudo são identificadas de forma sintética um conjunto de tendências, denominadas
“certezas” e “continuidades” (próximo do conceito de elemento pré‐determinado utilizado na
literatura de planeamento por cenários), as quais estarão presentes em todos os cenários
construídos:
• Globalização (o ambiente operacional, apesar da crise económica, manter‐se‐á global);
• Crescente importância da China e da Índia (não apenas em termos económicos mas
igualmente políticos e geopolíticos);
• Aumento das necessidades de energia;
• Continuação da explosão demográfica, combinando um crescimento global da população
mundial (pressionando os recursos e as alterações climáticas) com taxas de crescimento
populacional divergentes entre países e regiões;
• Envelhecimento da população;
• Aumento da importância da produção alimentar;
• Sobrecarga do sector público, e pressões crescentes no sentido da elevação da sua
eficiência;
• Desenvolvimento da tecnologia;
• Aumento da importância das redes de tecnologias de informação e das comunidades
sociais;
• Maior ênfase em questões ecológicas e no ambiente;
• Sensibilização crescente para questões da segurança;
• Intensifica‐se a necessidade de know‐how e de inovação;
• Aumenta a competição por peritos e por mão‐de‐obra estrangeira;
• Modelos de negócio renovados fruto de um ambiente empresarial em mutação acelerada.
Coop
eração
/com
ércio internaciona
l
Centro das reformas sociais e económicas EsteOeste
Divergente
Convergente
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SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Comeback of the West Os países Ocidentais assumem a liderança global das reformas sociais e económicas, enquanto os países asiáticos emergentes, por estarem mergulhados nos seus problemas internos, apresentam menor fulgor na recuperação da crise económica anteriormente sentida. Num cenário de cooperação internacional fortalecida e convergente, os acordos internacionais, a economia de mercado e a tecnologia são encarados como parte da solução para o progresso, e não causa de eventuais problemas. Após um breve reverso no início do Século XXI, a economia mundial recupera rapidamente da crise, sob a liderança do Ocidente, sendo os valores ocidentais fortalecidos por todo o mundo. Com efeito, a economia de mercado, a democracia, as reformas das principais instituições internacionais e uma maior responsabilidade social das empresas são domínios fomentados, destacando‐se a forte cooperação entre os EUA e a União Europeia (UE). Embora o anterior tempo da hegemonia dos EUA tenha terminado, a sua economia recupera entretanto e a influência é restaurada. A UE, por sua vez, vê o seu papel político fortalecido e, em conjunto com a zona Euro, o seu território é alargado e os mercados internos funcionam. A cooperação na defesa, porém, é assegurada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Na Rússia, os elevados preços do petróleo dinamizaram o crescimento económico, mas o país não foi capaz de diversificar a sua economia. Porém, mais importante do que o lucro e o aumento de produtividade no Ocidente, destaca‐se o objectivo de proporcionar um crescente bem‐estar dos indivíduos na sociedade. A Ásia, por sua vez, eleva‐se economicamente, mas mais lentamente do que as previsões mais promissoras levavam a crer. De facto, com o fortalecimento da ética no capitalismo (por exemplo, com a melhoria da qualidade das relações no emprego) verifica‐se uma desaceleração do crescimento económico na China e na Índia. E influenciado pelo papel relevante do Ocidente, o “renascimento africano” surge lento, mas seguro, na medida em que a cooperação para o desenvolvimento, o mercado livre e a tecnologia direccionada para os mercados fizeram de África parte de um desenvolvimento global positivo. Em termos globais, a tecnologia e a inovação potenciam a eficiência e produtividade, e o progresso é conseguido também através do combate às alterações climáticas, que é levado a sério. Palavras‐chave: forte cooperação internacional; liderança ocidental; economia de mercado;combate às alterações climáticas; bem‐estar individual. Chinese capitalism Cenário em que saída da crise, em termos globais, é mais lenta, e o processo de recuperação económica é liderado pela Ásia encontrando‐se fortemente dependente do motor chinês, cujas aquisições de activos no Ocidente transformam por completo a distribuição da propriedade à escala global. O mundo é, portanto, vincado pelo forte crescimento económico e pela mudança do foco político e económico para a Ásia, e assente em redes de cooperação globais orientadas para o mercado. O centro das reformas económicas muda para Este, nomeadamente para a Ásia, países do Médio Oriente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e para centros e redes de conhecimento, que se tornam actores económicos mais importantes do que os governos. A importância de instituições internacionais tradicionais [como a Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC)] decresce e, por seu turno, a UE revela‐se politicamente disfuncional com a perda de poder das suas instituições, embora mantenha a sua área económica, preserve a sua moeda única e as multinacionais europeias apresentem um bom desempenho. O nível avançado de conhecimento permite aos europeus uma bem‐sucedida integração em rede e cooperação com os centros asiáticos e do Médio Oriente, sendo que a Rússia redefine a sua orientação estratégica também para junto destes mercados asiáticos. As metrópoles e redes de especialistas funcionam como os principais motores de crescimento. Esta nova orientação do mercado mundial beneficia especialmente a China, que assiste ao rápido crescimento da sua classe média, fomentando o consumo e o desenvolvimento. De igual forma, os governos dos países do Pacífico actuam como forças de mudança no controlo das alterações climáticas e verificam‐se certos progressos, como o crescente investimento da China na produção de carvão limpo, painéis solares e carros eléctricos. No seu todo, as regras base da cooperação internacional para o comércio mudaram. Trata‐se, no entanto, de uma forma de capitalismo sem democracia, pois os valores democráticos não se sobrepõem ao “oportunismo económico” defendido, que visa meramente o crescimento da economia.
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Palavras‐chave: peso político e económico asiático; cooperação para o mercado; redes de conhecimento; UE disfuncional; metrópoles; capitalismo sem democracia. Battle of the blocs Face à crise mundial profunda e prolongada entretanto vivida, o mundo assiste a um enfraquecimento da cooperação global e ao recuo da globalização, contrapondo‐se o capitalismo estatal proteccionista como alavanca da retoma económica global, assente na emergência de blocos regionais e na prevalência do centro de reformas sociais e económicas no Ocidente. O mundo assenta numa concorrência entre os vários blocos regionais de comércio, modelos e culturas de regulação, concepções ideológicas e sistemas políticos que divergem e competem entre si. Nesta lógica de “geopolítica da sobrevivência”, a auto‐suficiência torna‐se cada vez mais importante, tendo em conta um contexto marcado por uma recessão longa e difícil. Como consequência, os EUA, que sofrem de um crescimento pós‐recessão lento, estão “introvertidos” e isolados, pelo que a relação tradicional transatlântica não funciona. O foco das reformas sociais e económicas desloca‐se, pois, para a Europa e, comparando com os EUA, a UE revela‐se relativamente bem‐sucedida. A cooperação entre a Rússia e a Europa estreita‐se em termos de energia e tecnologia. No seguimento desta reorientação para “dentro” e para o proteccionismo, a ênfase no controlo das alterações climáticas tem um âmbito marcadamente local, confirmando a incapacidade de uma cooperação internacional aos mais variados níveis. No Este, a China sofre de problemas internos de grande magnitude, incluindo o desemprego massivo, migrações e protestos em larga escala. Os maiores problemas internos da Índia têm origem no colapso das infra‐estruturas e no desemprego de mão‐de‐obra qualificada. A situação é exacerbada pela rivalidade entre a China e Índia, sendo a maior razão para esta situação o esgotamento das reservas de petróleo e gás nestes países. Palavras‐chave: fraca cooperação global; blocos de comércio regional; proteccionismo; recessão; reformas sociais e económicas europeias; controlo local das alterações climáticas. Stimulus and collapse Cenário que ilustra a incapacidade de sucesso da cooperação internacional, bem como o recuo da globalização, no qual os planos de estímulo para a saída da crise não geram os resultados desejados, originando o colapso dos sistemas económicos e a falência dos governos. Num cenário de caos, destaca‐se a emergência dos conflitos regionais e a ausência de um líder mundial, que agoniza o bem‐estar global. De facto, um mundo sem um “polícia do mundo” prova ser mais assustador do que um mundo unipolar, e nenhum país ou bloco poderá substituir o vazio da anterior liderança dos países Ocidentais. Vive‐se numa crise global prolongada, contra a qual não funcionam as antigas soluções contra‐cíclicas (planos e pacotes de estímulo tradicionais), pelo que o mundo passa a ter um crescimento económico muito lento, com a China e Índia a serem os países de onde advém a maioria do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Consequentemente e face ao decréscimo do consumo, as quantidades de emissões para a atmosfera diminuíram na fase posterior à depressão económica prolongada. Nos campos da geopolítica e economia, o proteccionismo e os fortes interesses nacionais levam à incapacidade das estruturas cooperativas internacionais responderem aos desafios. Poder‐se‐ia afirmar que, em 2020, a 3ª Guerra Mundial poderá eclodir a qualquer momento. O estatuto internacional dos EUA colapsou, como resultado da depressão e das dificuldades económicas. A competitividade europeia deteriorou‐se, a UE é disfuncional e existe apenas nominalmente (até propostas para sair da UE são apresentadas), e as relações com a Rússia são problemáticas. No Médio Oriente as organizações terroristas aumentaram o seu poder num contexto difícil de eminente colapso do preço do petróleo, semeando conflitos ao usurpar campos de petróleo. Tanto a China como a Rússia reagem aos seus próprios problemas internos com uma mentalidade de superpotência, condição que procuram reaver e que passa pelo uso de mais força em regiões vizinhas. Globalmente, emergem outros problemas como o declínio da ajuda internacional ao desenvolvimento, o aumento de pandemias, migrações em massa e a deterioração das condições dos refugiados. Palavras‐chave: ausência de cooperação global; conflitos regionais; crise económica global; proteccionismo; fraca competitividade ocidental; ausência líder mundial.
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OBSERVAÇÕES:
‐ Projecto elaborado já num momento posterior ao início da actual crise económica mas ainda
muito marcado pela mesma.
‐ Após a apresentação dos cenários globais foi feito um esforço no sentido de serem
identificadas e exploradas as implicações de cada um dos cenários para a Finlândia.
‐ A realidade futura descrita em cada um dos cenários globais é feita por períodos temporais
(2009‐2011 / 2012‐2015 / 2016‐2020 / Estado do Mundo em 2020).
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PROJECTO 2
Shell Energy Scenarios to 2050 Royal Dutch Shell plc
Data Publicação: 2008
Horizonte Temporal: 2050
Foco Estratégico: Energia
http://www‐
static.shell.com/static/public/downloads/brochures/corporate_pkg/scenarios/shell_energy_scenarios_2
050.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
Não existe uma explicitação das incertezas cruciais que estiveram na origem dos dois cenários
construídos. No entanto, os cenários são claramente marcados por uma grande incerteza,
traduzida no nível de mobilização e coordenação das políticas económicas, sociais,
tecnológicas, ambientais face aos grandes desafios da sustentabilidade do sistema energético
global.
Configuração 1: Reactiva – Events outpace actions, ou seja, a sucessão de eventos acaba por
ultrapassar a mobilização e capacidade de agir
Configuração 2: Proactiva – Actions outpace events, ou seja, a mobilização para a acção
antecipa‐se à ocorrência dos eventos, permitindo a sua resolução de forma atempada e
“normativa”.
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
• Crescimento da população e desenvolvimento económico.
• Fornecimento e procura de energia.
• Efeitos sobre o ambiente.
• Preços e tecnologia.
• Escolhas políticas e sociais.
A figura seguinte identifica um conjunto de drivers utilizados para distinguir e caracterizar os
dois cenários construídos.
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Figura 3
Fonte: Shell Energy Scenarios to 2050, Royal Dutch Shell plc, pp.40‐41
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS: Scramble “Events outpace actions” ‐ uma atitude mais reactiva, privilegiando o aumento do fornecimento energético, colocando em segundo plano as respectivas consequências sobre o ambiente e a sociedade. Este cenário destaca a importância da segurança energética nacional, enquanto garante do crescimento económico, e o papel dos decisores políticos face à necessidade de assegurar o fornecimento de energia para si próprios e para os seus aliados, num futuro a curto prazo. Os governos nacionais, principais actores neste cenário, procuram dar resposta às pressões imediatas decorrentes da crescente procura de energia, cujos preços estão geralmente fortes. Nenhum decisor está preparado para mudar o “status quo”, pelo que é prioritário lidar com os problemas do presente. De facto, travar a procura energética e, por conseguinte, travar o crescimento económico, ser‐lhes‐ia demasiado impopular. A atitude adoptada é reactiva. Não é incentivada uma utilização mais eficiente da energia e a política ambiental é encarada como uma pressão e um peso adicional sobre o desempenho económico. Com efeito, acções de encorajamento à eficiência energética e ao combate às alterações climáticas são adiadas, não sendo tomadas atitudes sérias e em larga escala face às emissões de gases com efeitos de
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estufa, até à escassez das provisões e à sucessão de grandes choques climáticos que exijam respostas políticas imediatas. Como consequência destas pressões emergentes, em 2020 a vida tornou‐se volátil e incerta (por exemplo em termos de picos de preços, …). Destaca‐se neste cenário um padrão típico de 3 passos: primeiro, os países lidam com sinais de escassez das provisões e apostam no carvão, hidrocarbonetos e biocombustíveis; depois, quando o crescimento do uso do carvão, petróleo e gás não pode mais ser sustentado, ocorre uma crise global de fornecimentos; a esta crise os governos reagem com medidas severas e rígidas, como o aumento dos preços, restrições à mobilidade, deslocalizações das actividades económicas. Embora as soluções introduzidas revelem benefícios imediatos ao nível da segurança energética, subsistem consequências posteriores negativas e dispendiosas. Em 2020, a repetição do padrão destes três passos voláteis em várias áreas da economia energética, resulta num abrandamento económico global e, para que se atinja um verdadeiro desenvolvimento sustentável depois de 2020, será necessário que se assuma um efectivo compromisso nesse sentido. Palavras‐chave: segurança energética nacional; procura e fornecimento de energia; ineficiência energética; escassez de provisões; adiamento do combate às alterações climáticas; atitude reactiva; choques climáticos. Blueprints “Actions outpace events” – As decisões difíceis são tomadas “mais cedo e não tarde demais”, conduzindo a mudanças tecnológicas e a um melhor balanço entre necessidades económicas e ambientais. Há o reconhecimento de que a partilha de interesses na promoção da eficiência energética e do desenvolvimento tecnológico traz maiores benefícios na concretização de acções. Em 2050, o mundo apresenta um desenvolvimento económico estável e uma integração económica global, cuja actividade permanece vigorosa e ruma para um caminho menos intensivo em termos de dependência energética. Efectivamente, o crescimento económico já não depende do aumento do uso dos combustíveis fósseis, pois a energia proveniente de fontes renováveis cresce rapidamente. É aplicado um preço a um volume crítico de emissões, o que dá um enorme estímulo ao desenvolvimento de tecnologias limpas, tais como a captura e armazenamento de carbono (vd. CCS) e medidas de eficiência energética. Os resultados são emissões de dióxido de carbono muito mais baixas. Neste cenário, as pessoas começam efectivamente a delegar as responsabilidades da complexidade do sistema energético em outro tipo de instituições para além dos governos nacionais, e as acções locais crescentes começam a responder aos desafios do crescimento económico, segurança energética e poluição ambiental. Actores locais de alto nível depressa influenciam a cena nacional, e os esforços nacionais e locais começam a alinhar‐se. Nesse sentido, cidades progressistas por todo o mundo partilham boas práticas no desenvolvimento eficiente de infra‐estruturas, gestão de congestionamentos e fornecimento integrado de calor e electricidade, e investem ainda em energia verde e eficiência energética. Na UE, investe‐se num mecanismo de estabelecimento de preços sobre as emissões de CO2, que é progressivamente adoptado por outros (EUA, China). Este regime permite a emergência de novas indústrias que utilizam combustíveis alternativos limpos e renováveis e a captação e armazenamento do carbono. Verifica‐se um crescente alinhamento das abordagens à gestão do CO2 entre os EUA, China, Índia, Japão, e a Europa. A maioria da população tende a apoiar os líderes nacionais que prometem não só segurança energética, mas também um futuro sustentável. O esforço inicial da adopção de uma postura política proactiva traduziu‐se, posteriormente, na redução da incerteza e na preparação do caminho da sustentabilidade energética para ganhos a longo prazo. Palavras‐chave: desenvolvimento estável; integração económica; menor dependência energética; fontes de energia renováveis; eficiência energética; acções locais; futuro sustentável.
OBSERVAÇÕES: ‐ Uma referência para o facto da Shell (ao contrário do que sucedeu com os exercícios de cenarização que a empresa tem publicado ao longo das últimas décadas, onde existiu sempre uma preocupação clara de não escolher ou apostar em determinados cenários) assumir explicitamente a preferência pelo Cenário “Blueprints”.
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 3
Shell Global Scenarios to 2025
The future business environment: trends, trade‐offs and
choices Royal Dutch Shell plc
Data Publicação: 2005
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Global http://www‐
static.shell.com/static/aboutshell/downloads/our_strategy/shell_global_scenarios/exsum_23052005.pdf
http://www‐static.shell.com/static/aboutshell/downloads/our_strategy/shell_global_scenarios/supp_glo_sc.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
A Shell identifica três incertezas, as quais são apresentadas através do “Triângulo Trilema”,
uma ferramenta analítica que mapeia as relações de força entre:
• Eficiência dos participantes e/ou incentivos no mercado;
• Justiça e Coesão Social na sociedade civil (a força da comunidade) nomeadamente nas
aspirações à conformidade entre si e a serem ouvidos;
• Segurança dos Estados, através das forças de regulação e coerção.
Configurações:
É através desta configuração triangular que são definidos os cenários, numa lógica de
construção em que dois vértices se sobrepõem sempre ao outro: cada um dos 3 cenários surge
através da combinação das forças de dois dos vértices do triângulo, implicando a exclusão da
força do 3º vértice. Isto não significa, porém, que a terceira força esteja totalmente ausente
em cada um dos cenários.
Eficiência
Justiça/Coesão Social Segurança
Alta
Alta Alta
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ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
• Geopolítica internacional, com ênfase para os EUA, China, UE, Índia e África;
• Demografia;
• Padrões de crescimento económico;
• Segurança energética;
• Indústria “energia e carbono”.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Low Trust Globalization Estabelece‐se como prioridade a eficiência económica e a segurança, face a uma exclusão parcial do objectivo de coesão social. É um mundo céptico, no qual a palavra‐chave é “submissão”, assente na postura de se jogar de acordo com as regras e de se estar atento à diversidade de jurisdições dominantes, tendo em conta exigências bem diferentes e geralmente sobrepostas que marcam este mundo. Impera o sentimento de “culpabilização do outro” pelos problemas que possam surgir, sendo que a resposta para lhes fazer face passa pela cultura da regulação e do litígio. A acção é, portanto, reactiva em vez de proactiva, pois as pessoas não agem com o sentido de que os problemas comuns poderão ser previstos e lidados com antecedência. Os mercados são dominados por “coligações globais ad‐hoc”, nomeadamente as grandes empresas multinacionais verticalmente integradas, que controlam todas as potencialidades do mercado em toda a sua cadeia. Porém, as descontinuidades institucionais limitam as integrações além fronteiras. Consequentemente, e face a esta lógica de submissão, surgem grandes barreiras à entrada no mercado de pequenas e médias empresas, e as companhias cotadas em bolsa são as grandes Empresas Multinacionais (EMN). Neste mundo, deparamo‐nos com uma ausência de soluções
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
de mercado para as crises de segurança e de confiança. São desafios chave o cumprimento de regras que impliquem uma rápida evolução e a gestão de riscos complexos. Palavras‐chave: eficiência económica; segurança; exclusão da coesão social; submissão; regulação; acção reactiva; ausência soluções de mercado; crises de segurança e confiança. Open Doors A coesão social e eficiência económica são os motores da agenda política, num mundo pragmático, proactivo e cooperativo, que promove a confiança nos sistemas globais e na globalização. As pessoas cooperam entre si de modo a lidar com problemas futuros, pois é a forma mais eficiente para o fazer. Os governos agem nos bastidores, mantendo a confiança e a segurança através de utilização de incentivos e poder, este de natureza mais “suave”. Há um código voluntário de boas práticas, e a ligação próxima entre investidores e a sociedade civil encoraja a integração além‐fronteiras e a constituição de cadeias de valor virtuais. Destaca‐se uma segurança implícita nos mercados e a harmonização da regulamentação. As empresas estão fortemente orientadas para a inovação e não tanto para a competição extrema, sendo que existe mais capital disponível para investir na inovação, pois os mercados financeiros têm um maior apetite pelo risco. As inovações são disseminadas mais rapidamente devido a esta abertura do ambiente comercial global. Palavras‐chave: coesão social; eficiência económica; mundo pragmático; proactividade; cooperação; confiança na globalização; confiança no governo; segurança nos mercados; inovação. Flags A preocupação pela identidade nacional e pela coesão social sobrepõe‐se às considerações sobre a eficiência económica, em conjunto com a valorização do proteccionismo económico e com a perda de apetite político por uma maior liberalização. É um mundo vincado pela anarquia e desconfiança, onde as pessoas são dogmáticas sobre os seus próprios princípios e causas. Embora estejam ainda interligados com o resto do mundo, as pessoas e comunidades sentem uma necessidade mais forte de expressar a sua identidade em termos de grupo/clube/nação/religião a que pertencem. É, portanto, um mundo fragmentado e polarizado, tanto a nível doméstico como internacional, que coloca um travão na globalização. É bastante fácil dizer “não” ao que seja diferente e que vá contra as normas, pontos de vista ou crenças dominantes. Os grupos que se opõem entre si, tentam adquirir vantagem sobre os outros através de qualquer meio, captando a atenção do Estado para a concretização dos seus objectivos. Ou os governos acenam com a bandeira nacional, para relembrar que será necessário encorajar a unidade entre os diversos grupos e comunidades, relembrando que todos pertencem ao mesmo país, ou a gestão cuidada dos riscos inerentes ao funcionamento de cada país continuará a ser uma questão com elevada prioridade. A segurança é garantida através do isolamento e do fecho das comunidades nas suas próprias fronteiras, pelo que a mobilidade de bens, pessoas e capitais é dificultada e o comércio reduzido. No entanto, os negócios com forte pendor nacional estão bem protegidos, através do sistema de impostos e de subsídios. Palavras‐chave: identidade nacional; coesão social; proteccionismo económico; menor liberalização política; desconfiança da globalização; mundo fragmentado e polarizado; mobilidade dificultada.
Colecção de Cenários Globais
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PROJECTO 4
Quantifying Four Scenarios for Europe CPB – Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis
Data Publicação: 2003
Horizonte Temporal: 2040
Foco Estratégico: Economia
http://www.cpb.nl/en/publication/quantifying‐four‐scenarios‐europe (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Cooperação Internacional
Até que ponto os países serão bem sucedidos no âmbito da cooperação internacional, isto é,
estarão dispostos e serão capazes de cooperar no âmbito de organizações internacionais,
como a OMC e a UE, de modo a encontrar novas formas de cooperação e lidarem com novos
problemas globais. Esta incerteza refere‐se à cooperação não apenas no seio da UE mas
também entre a UE e outras regiões do Mundo.
Configuração 1: “Cooperação internacional alargada”
Configuração 2: “Foco nos assuntos nacionais / privilégio à soberania nacional”
• Reformas institucionais no sector público
Existem certos desenvolvimentos nas economias europeias que colocam o sector público
sobre pressão, destacando‐se o envelhecimento da população, a qualificação dos
trabalhadores, a competitividade das economias, etc.. Qual a postura dos governos perante as
necessárias reformas, e até que ponto serão estas responsabilidades resolvidas na esfera do
sector público e/ou privado?
Configuração 1: “Responsabilidades públicas”
Configuração 2: “Responsabilidades privadas”
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Strong Europe Instituições públicas importantes e uma ampla cooperação internacional. A Europa é a força motriz de uma cooperação internacional alargada, não só em questões comerciais, mas também em outras áreas como as alterações climáticas e a redução da pobreza. Na UE, a reforma dos processos de decisão estabelece‐se sendo a base para a fundação de uma Europa forte, bem‐sucedida e unida, onde o alargamento é encarado como um sucesso e a integração prossegue, tanto a nível geográfico, como económico e político. Os Estados‐Membros (EM) aprendem com as experiências dos outros, originando um processo de convergência entre instituições de toda a Europa. Os países mantêm a coesão social através de instituições públicas que funcionam bem, e a sociedade aceita o facto que a distribuição mais justa dos benefícios sociais acabe por limitar as possibilidades de uma maior eficiência económica. Não obstante, os governos respondem à pressão crescente no sector público ao levarem a cabo reformas selectivas no mercado de trabalho, segurança social e na prestação de serviços públicos, em conjunto com medidas anteriores para lidar com os efeitos do envelhecimento. Esta combinação ajuda a manter uma economia estável e em crescimento. Palavras‐chave: cooperação internacional alargada; combate às alterações climáticas; Europa forte; integração geográfica, económica e política; convergência; coesão social; instituições públicas bem‐sucedidas; reformas selectivas; economia estável. Global economy Cooperação internacional próspera e um avanço rumo a responsabilidades privadas. Neste cenário, os países europeus encontram um novo equilíbrio entre responsabilidades privadas e públicas. A integração política não é possível uma vez que os governos continuam a dar uma grande importância à soberania nacional em muitas áreas. Por outro lado, a integração económica alarga‐se (mas nem sempre se aprofunda), pois os países encontram interesse mútuo na remoção das fronteiras ao comércio, investimento e migração. Nesse sentido, a UE foca o seu funcionamento no mercado interno e apresenta uma quantidade limitada de competências em outras áreas; no âmbito comercial,
Responsabilidades Privadas
Responsabilidades Públicas
Cooperação internacional alargada
Coop
eração
internaciona
l
Reformas institucionais no sector público
Strong
Europe
Global
Economy
Regional
Communities
Transatlantic
Market
Privilégio à Soberania Nacional
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
considera relativamente simples um futuro alargamento a Este e as negociações com a OMC são bem‐sucedidas. A crescente preferência da população pela flexibilidade e diversidade e uma maior pressão em sectores públicos dão origem a reformas e as novas instituições são baseadas em iniciativas privadas e em soluções orientadas para o mercado. Os governos europeus concentram‐se nas suas tarefas chave, tal como a provisão de bens públicos puros e a protecção de direitos de propriedade. Dedicam‐se menos à redistribuição dos rendimentos e dos seguros públicos, o que leva a uma maior desigualdade. Deste modo, e como a cooperação internacional em áreas não comerciais falha, o problema das alterações climáticas intensifica‐se, enquanto as taxas europeias sobre os rendimentos de capital decrescem, devido à competição fiscal. Palavras‐chave: soberania na política nacional; integração económica alargada; competências limitadas da UE; iniciativas privadas; desigualdade de rendimentos. Transatlantic Market Mundo com preferência pela soberania nacional e onde existe espaço amplo para iniciativas privadas. Tendo em conta que neste cenário os países europeus são relutantes em prescindir da sua soberania, os Estados‐Membros da UE focam‐se primeiramente nos interesses nacionais. Consequentemente, as reformas do processo de decisão na UE falham, o que torna difícil uma futura integração na organização. Em termos comerciais, esta redirecciona a atenção sobre si para os EUA e concorda com a integração económica transatlântica. Isto intensifica o comércio nos serviços e proporciona ganhos no bem‐estar de ambos lados do Atlântico, levando a que a prosperidade no “clube dos ricos” contraste fortemente à Europa do Sul e de Leste e à dos países em desenvolvimento. Seguindo as preferências sociais pela liberdade individual e pela diversidade, os países europeus limitam o papel do Estado e dependem mais das trocas comerciais, acelerando o crescimento direccionado para a tecnologia. Ao mesmo tempo, as desigualdades aumentam neste cenário. A herança do grande sector público nos países da UE não é facilmente dissolvida. Aos novos mercados, por exemplo o da educação e o dos seguros sociais, faltam transparência e competição, originando novos problemas sociais económicos. Os mercados políticos são dominados pelo peso social resultante do envelhecimento da população, o que torna difícil desmantelar os sistemas “pay‐as‐you‐go” na Europa continental. O Governo falha, portanto o mercado falha. Palavras‐chave: interesses nacionais; integração económica transatlântica; contrastes de rendimentos; limitação no papel do Estado; novos problemas sociais. Regional Communities Amplas responsabilidades públicas e pouca cooperação internacional. O mundo está fragmentado num número de blocos comerciais e a cooperação multilateral é modesta. A UE não consegue lidar adequadamente com o alargamento a Leste e falha na reforma das suas instituições. Como alternativa, um conjunto de países ricos europeus emerge. A cooperação neste sub‐grupo de EM relativamente homogéneos entre si adquire um carácter mais permanente. Os países europeus dependem de acordos colectivos para manter uma distribuição equitativa dos benefícios sociais e, paralelamente, os governos são mal sucedidos na modernização das disposições do Estado social. Um forte “lobby” de interesses investidos bloqueia as reformas em várias áreas e que, em conjunto com um sector público em expansão, coloca uma tensão severa nas economias europeias. Palavras‐chave: mundo fragmentado; blocos comerciais; cooperação multilateral modesta; falha nas reformas; emergência países ricos; má modernização estado social; tensão na economia. OBSERVAÇÕES: ‐ No ano de 2004, e com base nestes cenários de 2003, o CPB publicou um documento centrado nas questões dos Mercados de Energia e Alterações Climáticas intitulado “Four Futures for Energy Markets and Climate Change” (Abril 2004). O mesmo está acessível em http://www.cpb.nl/en/publication/four‐futures‐energy‐markets‐and‐climate‐change (consultado em 22/03/2011).
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 5
Post‐2012 Climate Policy Scenarios CPB Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis (CPB)
MNP – Netherlands Environmental Assessment Agency
Data Publicação: 2007
Horizonte Temporal: 2020
Foco Estratégico: Ambiente
http://www.cpb.nl/sites/default/files/publicaties/download/post‐2012‐climate‐policy‐scenarios.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Urgência na tomada de medidas políticas
Sentido de urgência, ou de ambição, expresso na tomada das decisões e medidas políticas.
Configuração 1: “Urgente”
Configuração 2: “Menos urgente”
• Colaboração internacional
Qual a vontade de resolver o problema climático através de acções concertadas e qual o grau
de colaboração internacional.
Configuração 1: “Unilateral”
Configuração 2: “Multilateral”
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Colecção de Cenários Globais
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SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Grand Coalition Este cenário apresenta a futura política climática “ideal”, assumido como o objectivo da Holanda nas negociações internacionais (país de onde é originário o presente estudo) e igualmente da UE. A seriedade da situação relativamente à política climática é largamente reconhecida, e há uma vontade considerável de colaborar internacionalmente rumo a uma solução, pelo que existe um elevando sentido de urgência política direccionada para esta causa. Como resultado, acordos internacionais são efectivamente celebrados entre um largo número de países.
Palavras‐chave: política climática ideal; ambição urgente; colaboração internacional. Impasse Este cenário demonstra o que aconteceria se muitos países e regiões falhassem na sua respectiva contribuição para a política climática. Tal situação resultaria na ausência de prossecução de políticas colectivas e na implementação de políticas que tenderiam a ser menos eficazes. A vontade política para o estabelecimento de acordos de colaboração internacional é insuficiente, e os países que acabam por implementar políticas não demonstram grande sentido de urgência, na crença de que a aplicação de medidas políticas rigorosas irá fazer pouca diferença (embora na verdade venha a impor altos custos). De facto, e apesar das intensas negociações, os países desenvolvidos e outros países maiores e em rápido desenvolvimento falham na concretização de acordos climáticos pós‐2012. Em particular, os EUA, Rússia e China não consideram o aquecimento global um assunto urgente, o que conduz a um impasse. Palavras‐chave: ausência de políticas colectivas; fraca colaboração internacional; pouca ambição para as questões climáticas; impasse global. Fragmented Há o reconhecimento de que as alterações climáticas são um problema sério. No entanto, verifica‐se neste cenário uma incapacidade dos países convergirem na definição de prioridades e respostas concertadas, algo que se torna mais grave pelo facto deste se revelar um problema complexo e que ocorre a vários níveis.Efectivamente, existe pouco consenso na rigidez das medidas que deverão ser tomadas e torna‐se impossível estabelecer acordos internacionais vinculativos. Tal deve‐se não só às diferenças de ambição política entre países, nomeadamente no sentido de urgência inerente a esta problemática, mas também à limitação da vontade de trabalhar em conjunto e das oportunidades para isso. É criada, portanto, uma vasta e multicolorida palete de medidas políticas sem colaboração internacional, numa perspectiva fragmentada. Palavras‐chave: diferentes prioridades; ausência acordos internacionais vinculativos; fraca cooperação global; conjunto diferenciado de medidas. Largest Common Denominator Existe algum consenso de que, no âmbito da política climática global, o aquecimento global é um problema, embora o sentido de urgência na resolução desta questão seja reduzido. De facto, este cenário evidencia o trabalho conjunto dos países, mas nenhum deles está disposto a tomar a liderança, pelo que a urgência em encontrar soluções não é encarada de forma igual entre os mais importantes actores internacionais. Existe alguma vontade de agir, desde que sejam acções coordenadas multilateralmente, em particular no que diga respeito aos custos e às consequências para a competitividade. Os negociadores estão preparados para serem flexíveis na área da colaboração internacional, desde que os acordos também possam ser feitos em outras áreas. As aspirações para o estabelecimento de acordos internacionais (a um nível que seja aceitável para todos os envolvidos) são determinadas pelo país menos ambicioso em termos de urgência política que dedica a esta questão. Palavras‐chave: reconhecimento dos problemas climáticos; consenso; fraca ambição; trabalho em conjunto; ausência de liderança; acções multilaterais; colaboração internacional flexível. OBSERVAÇÕES: ‐ Os cenários qualitativos aqui sintetizados são complementados por um trabalho posterior de natureza mais quantitativa.
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 6 Global Trends to 2025: A Transformed World
US National Intelligence Council
Data Publicação: 2008
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Global
http://www.dni.gov/nic/NIC_2025_project.html (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Estados Nação vs. Outros Actores
Que tipo de actores dominam a dinâmica global de cooperação? Importância relativa do
Estado‐nação quando comparado com actores não estatais.
Configuração 1: Estados mais dominantes e com uma dinâmica mais global
Configuração 2: Actores não estatais, como movimentos religiosos, Organizações Não
Governamentais (ONGs) ou indivíduos muito poderosos, e que desempenham papéis
importantes
• Amplitude e tipo de cooperação internacional
Qual o tipo e a amplitude das relações de cooperação entre actores‐chave?
Configuração 1: Grupos de competição através de parcerias e de afiliações transfronteiriças
Configuração 2: Jogadores autónomos que operam independentemente e por vezes
competem entre si
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Impo
rtân
cia do
Estado
‐Nação
Nível de cooperação global
A World without the West
BRIC’s
Bust Up
October
Surprise
Politics is not
always local
Estados dominantes
Actores não estatais
Grupos/parcerias de competição
Jogadores autónomos
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Para além das incertezas cruciais acima identificadas e que estiveram na origem da construção
da estrutura base dos cenários, foram identificadas e descritas outras incertezas, as quais se
apresentam de seguida de forma sintética:
• Haverá uma transição na utilização de combustíveis fósseis para energias limpas (e seu
armazenamento) até 2025?
• Efeitos das alterações climáticas: quão rápido ocorrerá este processo e onde terá mais
impacto?
• Haverá um retrocesso na dinâmica dos mercados globais?
• Irão ocorrer avanços rumo à democracia na China e na Rússia?
• Os receios regionais do armamento nuclear do Irão implicarão uma corrida ao
armamento?
• Viver‐se‐á um período de maior estabilidade e resolução de conflitos no Médio Oriente?
• Conseguirão a Europa e o Japão ultrapassar os desafios sociais e económicos causados
pelas questões demográficas?
• Haverá um trabalho em conjunto entre os poderes globais e as instituições multilaterais,
rumo a uma adaptação da paisagem geopolítica?
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
No estudo são identificados um conjunto de “certezas relativas” (próximo do conceito de
elemento pré‐determinado).
• Emergência de um mundo multipolar – China, Índia, e outros, e o aumento do poder
relativo dos actores não estatais;
• Mudança sem precedentes da riqueza relativa e poder económico do Ocidente para Este;
• EUA permanecem o país mais poderoso mas menos dominante;
• Crescimento económico contínuo delega mais pressão em recursos energéticos,
alimentares e hídricos;
• Redução do número da população jovem, com excepção de alguns estados que mantêm as
trajectórias de crescimento;
• Aumento do potencial de conflitos e disseminação de armas perigosas no Médio Oriente;
• Ameaça de terrorismo diminuirá se houver crescimento económico no Médio Oriente,
bem como redução de desemprego entre os jovens.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS: A World Without the West As novas potências emergentes suplantam o Oeste enquanto líderes no palco mundial. Os poderes emergentes irão assumir um papel mais importante nas áreas que afectam os seus interesses vitais, em particular nas que possam significar uma perda de relevância e protagonismo para os países Ocidentais. Embora estejam preocupados com assuntos domésticos e em sustentar o seu desenvolvimento económico, irão ter cada vez mais a capacidade para se tornarem jogadores globais. Dada a grande diversidade de interesses e a competitividade sobre recursos, os novos poderes poderão facilmente distanciar‐se entre si ou agrupar‐se, e as novas alternativas de coligações não terão necessariamente um carácter permanente.
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DEPROSPECTIVA E PLANEAMENTO
E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Palavras‐chave: influência crescente das novas potências; perda de importância dos países Ocidentais; diversidade de interesses; jogadores globais. October Surprise Ilustra o impacto da falta de atenção global sobre a questão das alterações climáticas. Subsiste uma maior preocupação em atingir o crescimento económico em detrimento da salvaguarda do ambiente. Contrariamente ao que seria de esperar, a comunidade científica não é capaz de emitir alertas específicos sobre os efeitos das alterações climáticas, até que estes se tornem bastante evidentes e acelerados. Esta falta de preocupação global sobre as mudanças climáticas conduz, assim, a impactos de maior amplitude, frequentemente inesperados e possivelmente destrutivos, impulsionando o mundo para um nível superior de vulnerabilidade. As incertezas face ao ritmo, vulnerabilidades específicas ou impactos das mudanças climáticas tenderão a persistir nos próximos 15‐20 anos, mesmo que o conhecimento sobre este tópico seja aprofundado. Um evento climático extremo poderá ocorrer e os governos poderão ser apanhados de surpresa com diferentes tipos de desastres ambientais e perda de influência. Existem incertezas quanto à capacidade de acção face ao combate às alterações climáticas, nomeadamente na redução das emissões, e a maioria acredita que só se saberá se será tarde demais para agir quando se atingir um ponto limite. Esforços de mitigação, como cortes nas emissões de carbono, não deverão ser capazes de fazer grande diferença, pelo menos a curto prazo, e poder‐se‐ão também verificar grandes deslocações de populações a uma escala planetária, o que ameaça tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento. Palavras‐chave: prioridade ao crescimento económico; desatenção ambiental; impactos destrutivos; vulnerabilidades específicas; combate tardio às alterações climáticas. BRICs’ Bust‐Up É um cenário que revela um aumento potencial de geração de conflitos num mundo multipolar, dominado por poderes emergentes, onde se destacam os dois pesos‐pesados ‐ Índia e China ‐, e que neste cenário poderão confrontar‐se entre si. Demonstra até que ponto um conflito num mundo multipolar será tão plausível de acontecer entre estados em ascensão, como entre poderes mais antigos ou mais recentes. Destaque para a importância da energia, e de outros recursos, enquanto grandes forças para o crescimento continuado e para o desenvolvimento. A disputa por recursos vitais parece ser, efectivamente, uma fonte potencial de conflitos. Com efeito, o grau de vulnerabilidade aumenta com a redução da oferta dos produtores de energia e com o aumento da concentração da produção em regiões instáveis como o Médio Oriente. É um mundo onde existem mais confrontos em vez da discussão de outros assuntos, (como a criação de novas fronteiras de comércio), onde o potencial para que qualquer disputa se torne em conflito e conduza a mal entendidos e falhas de comunicação encarados como eventuais ameaças é elevado. Há uma competição por recursos da parte dos poderes emergentes, como a China e a Índia que, embora sejam ricos em carvão, revelam reservas limitadas de petróleo e de gás natural, em relação aos quais apresentam uma forte dependência de externa. Palavras‐chave: conflitos sobre recursos energéticos; crescimento económico continuado; mundo multipolar; poderes emergentes; confrontos. Politics is Not Always Local Redes não‐Estatais emergem para definir a agenda internacional na área ambiental, eclipsando os governos. A coligação global política de actores não estatais desempenha um papel crucial ao assegurar um novo acordo mundial para as alterações climáticas. Neste novo mundo ligado através de comunicações digitais, caracterizado por uma classe média em crescimento e por grupos de interesse transnacionais, a política deixa de ser apenas local e doméstica, e as agendas tornam‐se cada vez mais instáveis e alvo de negociações constantes.
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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Emerge, portanto, um novo mundo no qual os Estados‐nação não são responsáveis pela definição da agenda internacional. A dispersão do poder e da autoridade destes potenciou o crescimento de entidades sub‐nacionais e transnacionais, incluindo movimentos sociais e políticos. Crescem as preocupações públicas sobre a degradação ambiental e a inacção governamental, o que fortalece o estabelecimento de uma rede de activistas políticos que tenta controlar estas questões fora do âmbito nacional. As comunicações globais permitem que os indivíduos se associem directamente com grupos definidos pela sua identidade e redes que transcendem fronteiras geográficas. A protecção do meio ambiente é um assunto para o qual é dirigida uma afluência de interesses e desejos. Palavras‐chave: redes não‐estatais; coligação global; novo acordo mundial; grupos de interesse; dispersão do poder; crescimento da preocupação ambiental; comunicações globais.
OBSERVAÇÕES:
‐ Este estudo inclui uma comparação com outro documento do US National Intelligence
Council intitulado “Mapping the Global Future”.
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DEPROSPECTIVA E PLANEAMENTO
E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 7
Global Scenarios to 2025 US National Intelligence Council
Data Publicação: 2008
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Global
http://www.dni.gov/nic/NIC_2025_global_scenarios.html (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Crescimento Económico
Como consegue o mundo chegar a um alto nível de crescimento económico sustentado, tendo
em conta a rápida mudança na geopolítica no início do Século XXI?
Configuração 1: “Com Restrições”
Configuração 2: “Livre”
• Solidariedade multilateral
Como estarão os equilíbrios de poder em 2025 e até que ponto poderão as políticas e
estruturas de colaboração moldar o contexto global?
Configuração 1: “Causa comum”
Configuração 2: “Objectivos cruzados”
Embora se identifiquem explicitamente as duas incertezas cruciais acima descritas, o estudo
faz o levantamento relativamente exaustivo de um conjunto extenso de incertezas, as quais
são apresentadas na figura seguinte.
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Figura 4
Fonte: Global Scenarios to 2025, US National Intelligence Council, pp.6
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS: Não é apresentada uma estrutura‐base dos cenários a partir das incertezas cruciais identificadas, embora seja possível construir uma matriz de cenarização, posicionando nesta os três cenários construídos.
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: De forma sintética o estudo explora um conjunto de questões ou temas em cada um dos cenários. • Liderança global; • Crescimento económico; • Segurança ambiental; • População e demografia; • Políticas para as alterações climáticas; • Contexto de regulamentação; • Tecnologia e inovação; • Produto, trabalho e mercados de capitais. SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Borrowed Time Descreve um mundo mal preparado para lidar com problemas globais complexos e que aposta em caminhos que conduzem a um futuro insustentável. Ignorando, ou dando pouco crédito às consequências a longo prazo das suas decisões políticas, os líderes deixam às gerações vindouras um futuro “imperfeito” ou “com falhas”. Em resposta ao sucesso limitado dos governos, outros actores não estatais (ONGs, EMNs) tentam criar soluções mas encontram pouco sucesso, face à ausência de uma liderança global clara e de base estatal. Quanto mais poderosas são, as nações tendem a suspeitar umas das outras e evitam qualquer compromisso a longo prazo em projectos de parceria (com excepção para projectos económicos e comerciais de ambição limitada). Nesse sentido, a tomada de decisões a nível internacional pode ser caracterizada como cooperativa apenas quando estão em causa interesses de curto prazo e que requerem pouco esforço.
Livre Constrangido Crescimento económico
Solid
arieda
de multilateral
Constant
Renewal
Borrowed
Time
Fragmented
World
Causa comum
Objectivos cruzados
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De facto, as grandes potências não estão preocupadas em trabalhar em conjunto, rumo à concretização de objectivos que se entrecruzem, mesmo que isso permita a realização dos seus objectivos estratégicos. Acreditam que ao trabalhar individualmente, bilateralmente ou através de agrupamentos informais, haverá a tendência para trazer melhores retornos para os interesses nacionais. Para a maioria, em especial para as grandes economias emergentes, um crescimento económico continuado é a prioridade máxima havendo uma clara preocupação em evitar distracções nesse campo. Embora conscientes de que o fosso entre os ricos e os pobres (também entre nações) se tem vindo a alargar e até a causar distúrbios em alguns países, os líderes das principais nações mundiais acreditam que a solução deverá passar por mais crescimento. Neste mundo, o planeamento para fazer face às mudanças globais é posto de lado até que estas causem um elevado impacto. Existe uma crença generalizada de que parte substancial das soluções para ultrapassar grandes desafios globais (vd. ambiente, alterações climáticas, energia e disponibilidade de recursos) poderá derivar da evolução da tecnologia. Palavras‐chave: futuro insustentável; fraca liderança global; ausência de parcerias; meta de crescimento económico continuado; ausência de planeamento a longo prazo. Fragmented World Descreve um mundo em luta na gestão dos vários problemas, num ambiente de crescimento económico constrangido, algo que é complementado por uma falta de interesse pela solidariedade multinacional, e cuja atitude perante o futuro pode reflectir‐se na expressão “cada um por si”. Nem as nações nem o sistema internacional conseguem ser sustentáveis quando a dimensão dos problemas ultrapassa em larga escala a ambição das soluções, despoletando insegurança e reduzida confiança. Os interesses particulares ganham prioridade ao invés de um crescimento económico global sustentado, e os actores estatais e não estatais apenas dedicam atenção aos desafios globais (tais como as mudanças climáticas) quando se antevêem ganhos imediatos. A cooperação internacional torna‐se, portanto, um termo impróprio, uma vez que as nações se focam no que é melhor para elas, secundarizando os interesses internacionais ou multilaterais. No campo da segurança, existem riscos crescentes devido a um enfoque que privilegia o interesse nacional e uma cooperação multilateral preventiva. Por conseguinte, e na eventualidade de terrorismo (incluindo a possibilidade de ataques biológicos), situações onde possa surgir um grande número de pessoas deslocadas, e de desafios à segurança energética e ameaça de proliferação nuclear no Médio Oriente, há uma probabilidade crescente deste período ser marcada por crises de grande dimensão. Devido ao clima de proteccionismo que entretanto assume um crescente predomínio, a Investigação & Desenvolvimento (I&D) exerce uma forte aposta nas fronteiras internas dos países pelo que a difusão tecnológica decresce dramaticamente. Corroem‐se as políticas para as alterações climáticas, reflectindo o reverso dos objectivos de Quioto, num quadro de progressiva deterioração do(s) ambiente(s). Palavras‐chave: Crescimento económico restringido/limitado; ausência solidariedade multinacional; interesses individuais; insegurança; proteccionismo. Constant Renewal Descreve um mundo no qual as nações se apercebem de que a comunidade internacional tem de trabalhar em colaboração, numa base sustentada, de modo a realizar uma mudança real a nível global. Os líderes adaptam sistematicamente as políticas e as estruturas para que se apoiem as prioridades globais partilhadas e, embora a transição apresente algumas dificuldades, o mundo move‐se na direcção certa. Neste cenário, as crises levaram aos inevitáveis choques que acabaram por forçar as mudanças necessárias nas mentalidades de “jogadores chave”, em “países chave” (tanto desenvolvidos como em desenvolvimento), e que implicaram peso suficiente no sistema global para o curso de novos desenvolvimentos. É um mundo no qual a pressão popular junto de líderes governamentais força a mudança e uma maior cooperação intergovernamental a nível global, através da mobilização para a acção concertada de vários grupos políticos, ONGs, organizações profissionais e populares, enquanto grupos de pressão (“lobbying”). Da parte dos líderes, caminha‐se de forma clara para a assumpção de um compromisso internacional forte e capaz de “fazer o sistema funcionar”.
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Destaca‐se o ímpeto rumo a um futuro sustentável, apoiado por parcerias duradouras e acordos de cooperação, e uma clara mudança na maneira de se pensar os problemas globais. Com efeito, a sustentabilidade ambiental é reconhecida como uma prioridade internacional a par de um crescimento económico global constante, como processo de globalização a manter uma forte dinâmica mas onde menos países são deixados para trás. Torna‐se norma a aposta na inovação tecnológica e na I&D, bem como uma combinação de políticas cooperativas e competitivas. Líderes e grupos de pressão deverão trabalhar para assegurar que os interesses comuns continuem a prevalecer. Na sua essência, o mundo “aprende fazendo”, na busca de soluções pragmáticas (e não dogmáticas), num constante (re)ajustamento sobre a melhor forma de agir, sem “deixar qualquer refém à sua sorte”. Palavras‐chave: colaboração internacional; partilha de prioridades globais; acção concertada de grupos de pressão; futuro sustentável; crescimento económico global constante; globalização acelerada; inovação e desenvolvimento.
OBSERVAÇÕES:
‐ Os workshops do projecto contaram com a colaboração de mais de 200 pessoas de 40 países
diferentes.
‐ É feito um esforço no sentido de permitir a comparação entre os três cenários, utilizando‐se
para o efeito os elementos‐chave descritos nos Drivers/Forças de Mudança.
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PROJECTO 8 The Future of the Global Economy to 2030
Outsights
Data Publicação: 2009
Horizonte Temporal: 2030
Foco Estratégico: Economia
http://www.outsights.co.uk/library/3/TheFutureoftheGlobalEconomyto2030
(consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Tecnologia / Inovação Tecnológica
Qual a velocidade e extensão da inovação tecnológica: irá a tecnologia continuar a ser uma
força maior de mudança, através de uma rápida inovação e conectividade mundial que
aumente as possibilidades, ou será sufocada?
Configuração 1: “(Inovação) rápida”
Configuração 2: “(Inovação) lenta”
• Alocação de recursos
Qual o futuro do modelo económico de alocação de recursos; serão os recursos – naturais,
humanos, financeiros e de conhecimento – disponibilizados através das forças de mercado tal
como tem vindo a suceder nos últimos anos, ou ir‐se‐á desenvolver um processo alternativo de
controlo de distribuição e disponibilização de recursos?
Configuração 1: “Controlada”
Configuração 2: “Mercado Livre”
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Colecção de Cenários Globais
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OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
No processo de construção dos cenários foram utilizadas cinco das vinte e uma forças de
mudança globais desenvolvidas pela Outsights (denominadas “21 Drivers for the XXI Century”)
• Sustentabilidade;
• População;
• Tecnologia;
• Modelos políticos e estabilidade;
• Resultados económicos.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Planned progress O mundo caracteriza‐se por uma rápida aceleração da inovação tecnológica e por um controlo central da disponibilização de recursos, por parte dos governos. Emerge um novo contrato social que dá resposta aos desafios do Século XXI (nomeadamente nas áreas da energia, alimentação, água e alterações climáticas), com a cedência de poder, por parte da população, aos governos centrais. A economia global tende a aproximar‐se do modelo da China, cujo modelo de crescimento excede todas as expectativas. Este crescimento económico é resultado de uma intervenção planeada, na qual os mercados são integrados e interconectados. Os recursos, porém, não são distribuídos por inteiro pelo mercado “livre” e, de igual modo, também a I&D é controlada pelo Estado, sendo que as tecnologias são orientadas para a criação de soluções sob a forma de projectos inovadores. Também o mercado laboral é cada vez mais pautado por um controlo da parte do governo e pelo planeamento dos recursos humanos. De um modo geral, a sociedade terá sido bastante bem‐sucedida em cumprir os grandes objectivos que enfrenta. Os níveis de vida são bons e a privação é rara. Palavras‐chave: rápida inovação tecnológica; controlo dos recursos; novo contrato social; crescimento económico; mercados integrados; controlo estatal. Riding the tiger Este cenário aponta para uma rápida inovação tecnológica e para uma disponibilização dos recursos inserida na lógica do mercado livre, com menor controlo por parte do Estado. Governo limitado mas eficiente e efectivo, que apresenta algum sucesso e relativa estabilidade ao lidar com os desafios existentes, pois a população sente que os seus problemas são ouvidos. Os mercados apresentam soluções e estão fortemente integrados, assiste‐se a um crescimento dinâmico da economia global acompanhado por uma inflação baixa. Na origem desta crescente integração, está o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e de soluções inovadoras e tecnológicas que oferecem respostas aos desafios diários, por exemplo na redução das fronteiras (tanto físicas como virtuais), na livre movimentação no mercado de trabalho (tanto do trabalho qualificado como não qualificado), e na redução da escassez de alimentos. No seguimento desta dinâmica, assiste‐se ao “boom” da Índia (ainda maior do que o da China). O aumento com os gastos de energia e alimentos incentivam o desenvolvimento de novas tecnologias limpas, através da inovação. Cenário encarado como aquele que mais próximo poderá estar de uma linha de continuidade face à era actual. É um mundo coerente com a fé depositada numa filosofia liberal e tecnológica e com o optimismo inerente a esta. Palavras‐chave: rápida inovação tecnológica; livre disponibilização dos recursos; mercado integrado; soluções tecnológicas inovadoras; tecnologias limpas.
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On hold Mundo pautado por uma lenta inovação tecnológica e por uma maior liberalização na alocação dos recursos. Relata a história de um mundo no qual as intervenções com vista ao crescimento económico não só não conseguem responder aos desafios das sociedades, como acabam também por exacerbar esses mesmos desafios e por enfraquecer as sociedades. Os Governos são fracos e sem a capacidade necessária e uma arquitectura multilateral que permita responder aos desafios emergentes, como as alterações climáticas e disponibilidade de recursos. O crescimento está de tal modo limitado que as economias emergentes também estagnaram no seu crescimento, e assistem‐se a grandes pressões inflacionárias. Emerge o espectro da estagflação, com uma lenta e inadequada resposta dos governos face aos problemas de disponibilidade de recursos. As soluções e avanços tecnológicos que possam existir não são adoptados porque as sociedades são avessas ao risco. Com efeito, uma mudança tecnológica lenta e valores conservadores entrincheiram‐se no pensamento convencional, abafando a inovação. Palavras‐chave: lenta inovação tecnológica; livre disponibilização de recursos; falhas na solução de desafios; fraca Governação; crescimento económico limitado; pouca inovação. Life in the slow lane Cenário que aponta para uma lenta inovação tecnológica e para o controlo da disponibilização dos recursos. Os países respondem aos desafios através de uma viragem para si próprios e, tornando‐se mais nacionalistas, criam o “nacionalismo das alterações climáticas e da disponibilização dos recursos”, caracterizado por uma forte posição anti‐globalização e por elevados controlos governamentais das indústrias nacionais. Esta exacerbada regulação governamental inibe a inovação e a tecnologia, e preocupações sobre a cibersegurança levam a um maior controlo sobre a Internet. Consequentemente, a globalização abranda, pois o sentimento proteccionista abrange grande parte do mundo. Caiem as trocas comerciais, o crescimento é muito lento e, naturalmente, a resposta à questão da disponibilização dos recursos e alterações climáticas é fortemente nacionalista, o que leva à racionalização de recursos de modo a ultrapassar as suas limitações. É possível que em 2030 surjam opiniões de que este cenário e esta mudança mais lenta e com uma menor liberdade de escolha valham a pena, enquanto preço a pagar pela estabilidade e maior capacidade de resposta aos perigos ameaçadores do início do Século XXI. Palavras‐chave: lenta inovação tecnológica; controlo da disponibilização dos recursos; viragem nacionalista; anti‐globalização; crescimento lento; racionalização de recursos; combate aos desafios.
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 9
Scenarios for the Future International Environment
2010‐2020 Outsights e Ipsos MORI para o “Foresight Horizon Scanning Centre”
Data Publicação: não disponível.
Horizonte Temporal: 2020
Foco Estratégico: Ambiente
http://www.outsights.co.uk/portfolio/projects/future_of_international_environment_2010_2020
(consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Emergência de novos poderes
Examina a dimensão política e o ritmo de emergência de novos poderes enquanto força chave
de mudança na estrutura de poder do mundo.
Configuração 1: “Mais rápida” – uma rápida emergência de novos poderes implica o
crescimento dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China)
Configuração 2: “Mais lenta” – a emergência lenta de novos poderes antevê que os BRIC não
atinjam as previsões de crescimento mais optimistas
• Abertura Social/Económica/Política
Descreve o progresso do mundo socioeconómico e político, rumo à abertura ou a um mundo
mais fechado.
Configuração 1: “Para o exterior” – a liberalização e a integração económica continuam num
mundo mais extrovertido; a cooperação é uma característica bastante forte
Configuração 2: “Para o interior” – num mundo mais “introvertido”, as barreiras são erguidas e
a liberalização e a integração abrandam; o conflito é comum
Colecção de Cenários Globais
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ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: • Balanço global de poder e arquitectura; • Governança e modelos económicos; • Tecnologia e ciência; • Comunicações e comunidades; • Valores e crenças da sociedade; • Demografia; • Saúde e bem‐estar; • Segurança e conflito; • Alterações climáticas; • Recursos. SÍNTESE DOS CENÁRIOS: New Powers, New Alliances As forças de mudança que conduzem a este cenário caracterizam‐se pelo rápido desenvolvimento económico, em especial dos BRICs, levando à ascensão de novos poderes, e que a par de uma forte competição por recursos, numa perspectiva “introvertida”, individualista e de cariz mercantilista, inviabiliza a afirmação de um sistema baseado em “regras”. O cenário caracteriza‐se pelo surgimento de novas coligações “ad hoc” e novas alianças e poderes, embora o mundo esteja mais vulnerável a choques económicos e o crescimento seja abaixo do ideal. Verificam‐se falhas na arquitectura internacional para absorver os novos poderes emergentes (nem a ONU sofre reformas), um enfraquecimento geral das relações transatlânticas, nomeadamente na dissociação entre os EUA e a UE, e o decréscimo da importância da OTAN para os objectivos dos EUA. Neste contexto, a UE desvia a sua atenção para o Este e depara‐se com a eventual emergência de uma região central denominada “Euroásia”. Proliferam acordos bilaterais, permitindo, por exemplo, a expansão do eixo China‐Rússia e a Organização para a Cooperação de Xangai. A Índia e o Brasil, por seu turno, permanecem estados oscilantes. Neste processo de globalização, são maiores as perdas nos países e entre estes, pois adopta‐se uma posição de competição por recursos finitos, em vez de cooperação, aumentando o risco de guerras entre estados e as tensões entre regiões. Este é um mundo fechado que inibe a sociedade civil e encoraja o crime, existindo um apertado controlo de fronteiras, com as potências emergentes a atraírem emigrantes altamente qualificados. Face à questão das alterações climáticas, a temperatura política aumenta a par da temperatura do clima, e os assuntos que cruzam o pendor ambiental e com o demográfico adquirem elevado impacto.
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Palavras‐chave: novas alianças de poderes; novos poderes emergentes; dissociação EUA e UE; “Euroásia”; acordos bilaterais; competição por recursos; mundo fechado. A New Multipolarity Este cenário caracteriza‐se pela ascensão dos BRIC e por uma resposta global e coordenada às alterações climáticas e à escassez de recursos. Neste cenário, dá‐se uma erosão da soberania nacional, tendo em vista a crescente importância das organizações não governamentais, das multinacionais e da sociedade civil. Domina um verdadeiro fórum global, no qual se defende que apenas uma verdadeira força global poderá lidar com os conflitos globais e multilaterais. Assiste‐se a uma nova multipolaridade, onde a cooperação e as redes globais levam a um desenvolvimento mais rápido, partilhado e assente em avanços tecnológicos. Emergem, portanto, economias bem‐sucedidas, como a Índia, e que se tornam modelos a seguir por África. Destaque para a competição por recursos humanos, na qual a China e a Índia atraem talentos a uma escala global, com uma UE envelhecida e que apresenta elevado défice de mão‐de‐obra. Com esta maior abertura de fronteiras, assiste‐se também ao desenvolvimento do crime organizado nestas redes globais descentralizadas e mais fluídas e à eventualidade de ameaças terroristas (ataques nucleares, biológicos ou químicos). Persiste o fenómeno das alterações climáticas, acentuadas pela emergência do mercado global do carvão. Palavras‐chave: erosão soberania nacional; cooperação global; multipolaridade; desenvolvimento rápido; abertura de fronteiras. The Old Order Remaineth Este cenário apresenta um mau desempenho das economias dos BRIC, o declínio da intervenção militar e o crescimento da diplomacia baseada em “regras”. Neste mundo, a arquitectura política é estável, e as regras de diplomacia são baseadas no multilateralismo, pois as alianças internacionais à volta de assuntos pontuais apresentam oportunidades para a mudança. É indiscutível a hegemonia global dos EUA, que se redescobrem como o “farol” do mundo, surgindo um novo consenso atlântico entre a UE e os EUA baseado em “regras”. Porém, esta arquitectura não reformada que beneficia antigos poderes causa ressentimento entre os novos poderes, como a China e a África, que perdem influência. A volatilidade no Médio Oriente desacelera eventuais mudanças neste território. É considerado “um mundo em aberto”, entre “vencedores e vencidos”, em que a globalização acaba por criar “perdedores” nos países e/ou entre estes, surgindo a necessidade de melhoramento das tecnologias de comunicações para que não aumente o fosso entre os “vencedores e vencidos”. Neste mundo em aberto, o crime e o terrorismo permanecem um desafio, e existem grandes tensões sobre as liberdades da sociedade civil. No entanto, e na lógica de maior cooperação internacional com uma regulamentação apropriada, há maior colaboração em questões como o terrorismo e as alterações climáticas. Os grandes impactos provocados por estas últimas conduzem à migração, tornando‐se esta questão um desafio para os políticos e para a sociedade. Face ao receio da migração, as nações desenvolvidas acabam por se dedicar a esta causa. Palavras‐chave: arquitectura política estável; alianças internacionais; mundo dividido “vencedores e vencidos”; desafio da globalização; tensão sociedade civil. Selfish Incumbents Este cenário revela um crescimento decepcionante dos BRIC e a incapacidade dos EUA e da UE de se afirmarem enquanto “polícias globais”, a par de uma maior preocupação dos países ricos e pobres pelos impactos da globalização. Com efeito, os valores liberais da globalização são colocados em causa por oposição à necessidade do proteccionismo, tendo em conta que a globalização é limitada por tensões sobre o seu impacto nos “perdedores”. O crescimento económico é lento, havendo o risco de depressão, e as relações internacionais são baseadas na lógica do poder em vez de “regras”, pelo que os pedidos para uma abordagem mais cooperativa são limitados, e geralmente ineficazes, e os Estados falham. Vive‐se uma “crise existencial europeia”, que é incapaz de encontrar práticas comuns de cooperação estando perto da desintegração.
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Por outro lado, a China encontra‐se volátil, o populismo de esquerda vigora na América Latina, e a Rússia é autoritária. O panorama para os países em desenvolvimento está a piorar, especialmente na área dos direitos humanos, e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio caem por terra. No seguimento da ausência de uma coesão social, as fronteiras são fortalecidas e a mobilidade é limitada, devido ao nacionalismo e ao receio acrescido de ameaças terroristas. A insegurança é generalizada e também incentivada pela larga distribuição de armas de destruição massiva e pela regularização de algumas armadas terroristas. A questão das alterações climáticas revela‐se problemática e revela fraquezas, pois não são reduzidas as emissões, decorrentes do crescimento económico lento e da ausência de investimentos em tecnologia ou acordos nos padrões de emissões. Os países com recursos, especialmente a água, tornam‐se potencialmente ricos. Palavras‐chave: proteccionismo; impactos da globalização; crescimento económico lento; limitada cooperação global; ausência coesão social; insegurança.
OBSERVAÇÕES:
‐Tanto quanto foi possível apurar, o estudo não foi publicado na sua totalidade, tendo‐se
divulgado apenas uma apresentação em Power Point, e um resumo numa newsletter do
Foresight Programme, datada de Maio de 2008.
‐ Os cenários foram construídos com base em workshops e entrevistas.
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROJECTO 10
England’s natural environment in 2060 – issues,
implications and scenarios Natural England
Data Publicação: 2009
Horizonte Temporal: 2060
Foco Estratégico: Território e Ambiente
http://naturalengland.etraderstores.com/NaturalEnglandShop/NERR031 (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Irá o mundo encontrar uma forma de viver de acordo com os princípios da
sustentabilidade?
• Irá a tecnologia assegurar a resolução dos problemas ambientais ou continuarão a ser
necessárias mudanças nos estilos de vida, para lhes fazer face?
• Como será a ordem mundial? Será dominada por uma globalização assente na
liberalização dos mercados?
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Colecção de Cenários Globais
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SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Connect for Life: A vida em 2060: As pessoas estão ligadas entre si através de redes globais vastas. Embora as decisões e as economias estejam localizadas, vigora um sistema maior e mais eficaz, criado através de milhões de ligações mundiais e que geram um “super cérebro global”. Os valores sociais e ambientais fortaleceram‐se ao longo dos anos – há lealdade entre as comunidades ligadas por todo o globo, unidas devido a propósitos comuns, e os governos nacionais têm uma influência limitada. Como emergiu este cenário: nas primeiras décadas do Século XXI havia um grande foco no uso da informação e das tecnologias visando fundamentalmente a elevação da produtividade. Ao mesmo tempo, no entanto, era dada menor relevância ao potencial das redes sociais e à capacidade e influência da Internet na elaboração de decisões que trouxessem melhores resultados sociais e ambientais. Assim que as redes sociais se tornaram suficientemente grandes e auto‐suficientes, as crenças “tradicionais” e modos de actuação tornaram‐se antiquados e improdutivos. Estes foram, então, desaparecendo à medida que as comunidades “hiper‐ligadas” se tornaram o foco principal. Palavras‐chave: redes globais vastas; ligações mundiais; tecnologias de informação; comunidades “hiper‐ligadas”. Go for Growth: A vida em 2060: Fazer dinheiro é uma prioridade e o crescimento económico continua a ser conduzido pelo consumo desmesurado e baseado em necessidades individualistas, e pela nova tecnologia. Poucas pessoas se preocupam com o ambiente e, para solucionar os mais diversos problemas emergentes na sociedade, aposta‐se no desenvolvimento de tecnologias. Há uma elevada preocupação de que isto nem sempre possa ser a solução para as dificuldades que a Grã‐Bretanha enfrenta. Como emergiu este cenário: as tendências dominantes na primeira parte do Século XXI continuaram. A sociedade permaneceu focada no crescimento baseado no consumo, através de uma economia de mercado conseguida por meio de inovação acelerada. Palavras‐chave: crescimento económico; consumo; nova tecnologia; pouca preocupação ambiental; inovação acelerada. Keep it Local: A vida em 2060: A sociedade gira em torno de nações que sobrevivem e asseguram essa sobrevivência para si próprios. O território de Inglaterra é largamente usado tanto para a produção de bens alimentares como para habitações. Decisões críticas (por exemplo, sobre a segurança e infra‐estruturas) são tomadas no âmbito nacional, em conjunto com outras decisões que são tomadas regional e localmente. As pessoas são muito protectoras da sua área local e pertences, mas têm um forte sentimento de pertença nacional. Os recursos são limitados e são controlados rigorosamente, mas o consumo permanece elevado. Como emergiu este cenário: No início do Século XXI, a sociedade enfatizou o consumo enquanto prestava pouca atenção à necessidade de se trabalhar dentro dos limites ambientais e de recursos. No entanto, nos anos 2020 e 2030, esses limites foram quebrados e emergiu uma série de crises sociais e ambientais. Isto forçou as nações a adoptarem mais medidas proteccionistas, acabando por abrandar e pôr em causa a globalização. Palavras‐chave: sobrevivência individual; decisões locais; controlo dos recursos; consumo elevado; proteccionismo nacional. Succeed trough Science: A vida em 2060: A economia global continua a ser conduzida pela inovação e todos dependem dos negócios para que o país continue a crescer. Londres e o Sudeste de Inglaterra são importantes, mas o resto do país também se está a lançar, uma vez que ambas cidades e os seus arredores produzem bastante. As pessoas confiam que a tecnologia proporcione crescimento enquanto respeita os limites ambientais e de recursos, mas existe alguma preocupação de que isso nem sempre possa ser a solução.
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Como emergiu este cenário: O princípio do Século XXI deu ênfase à melhoria da produtividade na economia de mercado de amplitude global. No entanto, isto serviu apenas para focar a atenção na inovação enquanto meio para a obtenção de ganhos económicos a curto prazo. Consequências de longo alcance para a sociedade e para o ambiente receberam pouca atenção. No entanto, novos operadores na economia global reconheceram que as suas próprias vantagens, a longo termo, requeriam uma abordagem que fosse mais além e que salvaguardasse o capital social e humano a longo prazo. Palavras‐chave: inovação condutora da economia; tecnologia para o crescimento; relativa preocupação ambiental.
OBSERVAÇÕES:
‐ São cenários nacionais para o Reino Unido. Inclui timelines e implicações para cada cenário.
‐ No âmbito deste projecto foi produzido um “Scenarios Compendium”, que resume, analisa e
identifica arquétipos dos cenários de “uso do solo” produzidos nos últimos anos.
Colecção de Cenários Globais
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PROJECTO 11
Fashion Futures 2025 – Global Scenarios for a
Sustainable Fashion Industry Forum for the Future & Levi Strauss & Co
Data Publicação: 2010
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Moda/Vestuário
http://www.forumforthefuture.org/projects/fashion‐futures (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Quão ligado será o mundo?
Configuração 1: “(Mundo) ligado” – a globalização económica expandiu‐se, as barreiras para as
trocas comerciais foram reduzidas, as comunicações têm capacidade para permitir uma maior
unificação e as culturas globais estão mais similares entre si
Configuração 2: “(Mundo) fragmentado” – a globalização entrou em regressão, há mais
proteccionismo, as trocas comerciais à distância diminuíram e as identidades regionais estão
mais fortes
• Quão rápido mudará a sociedade?
Configuração 1: “Depressa” – a velocidade da mudança aumentou na comunicação, nos fluxos
de capitais financeiros, e no ritmo a que as pessoas vivem as suas vidas
Configuração 2: “Devagar” – o ritmo de consumo entrou em reverso, os fluxos de capital
financeiro reduzem‐se e, gradualmente, as culturas mudam
Para além das duas incertezas cruciais acima apresentadas no processo de construção dos
cenários foram identificadas outras incertezas:
• Como irá responder a sociedade à escassez de recursos e às alterações climáticas?
• Como poderá a legislação estruturar a indústria da moda?
• Que rendimento disponível teremos, e em que é que o gastaremos?
• Como se desenvolverão as chamadas “economias emergentes”?
• Avanços tecnológicos.
• Aceitação, por parte dos consumidores, do consumo sustentável.
• Como podem as alterações demográficas afectar a indústria do vestuário?
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: No trabalho existem referências explícitas aos seguintes elementos pré‐determinados:
• Alterações demográficas.
• Crescentes impactos das alterações climáticas.
• Custos crescentes dos recursos chave.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Slow is beautiful Um mundo pautado pela colaboração política e comércio globais, onde se prefere o “lento” e o sustentável. É um mundo moralista e empenhado no combate global às alterações climáticas, que apresenta baixas emissões de carbono e estilos de vida e mentalidades marcados pelo paradigma da sustentabilidade. O palco mundial é um lugar bastante mais homogéneo em 2025, onde os governos ocidentais continuam a demonstrar liderança em muitas frentes, incluindo a agenda da sustentabilidade. Contudo, as economias emergentes do início do Século XXI (China, Brasil, etc.) estão agora mais maduras e competem entre si em termos de crescimento e de liderança global. A rivalidade entre China e EUA está mais forte do que nunca, nomeadamente numa nova corrida rumo a tecnologias sustentáveis pioneiras. De facto, também no campo das tecnologias e da inovação, estas terão de respeitar os acordos alcançados no âmbito da redução do carbono, gestão sustentável da energia e recursos. Para os vários actores económicos, as regras da sustentabilidade são encaradas como parte do caminho para o desenvolvimento económico. A resposta à questão das alterações climáticas foi tomada através de medidas de regulação rigorosas. Assim, os novos acordos climáticos orientaram as economias mundiais para o cumprimento do objectivo de baixas emissões de carbono e redução da utilização de recursos. Como resultado, o consumo decresceu significativamente, tendo os consumidores de 2025 de fazer alguns sacrifícios nos seus modos de viver, algo que acaba por resultar em mudanças comportamentais significativas. Por exemplo, os consumidores mudaram para uma “moda lenta”, do mesmo modo que antes fizeram com a “alimentação lenta” (passou a ser extremamente popular escolher o que é “orgânico” e “local”), havendo portanto uma tendência para níveis gerais de consumo mais reduzidos. A maioria dos consumidores está disposta a pagar mais por um número mais reduzido de peças de roupa de alta qualidade e que sejam sustentáveis e, por todo o mundo, estão mais cientes e interessados nos impactos ambientais da cadeia de fornecimentos do vestuário.
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O consumo sustentável passou a ser uma tendência que atravessa todas as principais economias globais, manifestando uma crescente procura por mais cuidados com a saúde e bem‐estar. A indústria da moda tem tido um trabalho intenso, tanto na limitação das emissões de carbono, como também na alteração da percepção das pessoas por este sector, o qual estava indissociavelmente relacionado com um consumo excessivo e fútil no final do Século XX e início do novo milénio. Hoje, a indústria foi capaz de “tornar a moda sustentável”. Palavras‐chave: colaboração política; comércio global; combate alterações climáticas; sustentabilidade; gestão da energia e recursos; regulação; mudanças comportamentais; consumo reduzido; consumo sustentável. Community Couture A crise de recursos limita o consumo, num mundo baseado em comunidades locais. Mundo fragmentado e assente em comunidades auto‐suficientes, que lutam para lidar com a tensão do crescimento da população e a escassez de recursos, sob a égide de uma economia mundial fortemente abalada. Em 2025, a segurança alimentar e o fornecimento de energia são as prioridades máximas para os países, e não tanto o comércio internacional. Trata‐se de um mundo mal preparado para lidar com os impactos das alterações climáticas e com os conflitos decorrentes da falta de recursos, e onde também existe uma severa limitação das matérias‐primas necessárias para a indústria da moda. De facto, todas as tentativas para que se criassem acordos globais para o combate às alterações climáticas e redução de emissões falharam. E, como resultado, em conjunto com o crescimento da população mundial e do consumo, os preços dos recursos tornaram‐se astronomicamente elevados. Por exemplo, a China não pode mais ser considerada a “fábrica de vestuário do mundo” e com a limitação de recursos na Ásia, em África e na América Central, nenhuma outra economia foi capaz de produzir o suficiente para tomar o seu lugar ou assegurar fontes seguras de fornecimento de recursos. Emerge um sentimento geral de desconfiança, no qual se culpam os governos e os mercados pelo estado actual do planeta. Como resultado, as alianças regionais transformam‐se em blocos proteccionistas onde as comunidades lutam pela auto‐suficiência, e o mundo torna‐se mais fechado. Na indústria da moda são desenvolvidos, no entanto, alguns laços comerciais bem‐sucedidos, através de redes locais bastante activas que se dedicam a roupa em segunda‐mão, fortalecendo os laços entre as comunidades e o surgimento de soluções criativas para a moda. A “classe média” tem menos rendimentos disponíveis do que em 2010 e dá prioridade, à alimentação das famílias, ao aquecimento das casas e aos transportes, tendo menos dinheiro disponível para gastar com a moda. Aumenta o fosso entre os ricos (os que ainda podem comprar peças de roupa novas) e os pobres. Assim, comprar peças de roupa novas revela‐se bastante mais caro do que em 2010, e a indústria da moda, face à queda dramática da produção e na venda de novo vestuário é obrigada a aceitar um ritmo de crescimento mais lento, continuando, no entanto, a dedicar pouco cuidado aos princípios da sustentabilidade. Palavras‐chave: crise de recursos; consumo limitado; comunidades locais e auto‐suficientes; impactos negativos alterações climáticas; desconfiança generalizada; blocos proteccionistas; decréscimo no consumo. Techno‐Chic Sistemas de alta tecnologia correspondem à vontade de um consumidor global obcecado pela velocidade. Mundo próspero que beneficiou de uma mudança proactiva para uma economia baseada em baixas emissões de carbono e de um elevado investimento tecnológico, os quais permitiram a antecipação de outras consequências negativas. A economia global está mais interligada do que nunca, sendo o crescimento sustentado por ciclos rápidos de inovação que providenciam produtos e serviços a novos mercados em todo o mundo, e existem poucas barreiras ao comércio. Embora seja um mundo mais rico, ainda subsistem desigualdades que, gradualmente, vão sendo combatidas, através da capitalização de “oportunidades inteligentes” baseadas na tecnologia em países com menores rendimentos, incentivando assim as indústrias locais e economias nacionais. A política de combate às alterações climáticas esteve no topo da agenda política por mais de 20 anos.
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Período marcado pela crença no potencial da tecnologia enquanto catalisador da mudança. A sua importância passa também pelos crescentes incentivos governamentais que lhe estão associados, como os que visam a aposta nas energias renováveis e na redução das emissões de carbono. Isto acabou por resultar num sentimento generalizado na população global de que a tecnologia para as alterações climáticas é efectivamente protectora e eficaz. A nova e crescente classe média apresenta um apetite feroz pelo consumo da moda, mas este consumismo implica, desde logo, que seja baseado nos princípios da sustentabilidade e da protecção do ambiente. Estes novos consumidores inteligentes beneficiam também do aumento da mobilidade, possibilitada pela redução do carbono em vários sectores, pelo que as viagens adquirem elevado valor neste mundo sempre interligado e consumista. Palavras‐chave: alta tecnologia; consumidor global; mundo próspero; economia interligada; medidas de protecção ambiental; consumismo sustentável e exigente. Patchwork Planet Rápido consumo em blocos culturais globais. Assiste‐se a uma fragmentação da comunidade global e a uma profunda desconfiança entre os vários blocos culturais, causadas por anos de conflito e por elevados níveis de desigualdade entre os países, os quais resultaram da díspar recuperação económica pós recessão internacional e de uma escassez de recursos estratégicos. A balança global de poderes mudou dramaticamente, com destaque para a Ásia que experienciou uma ascensão do seu poder e proeminência, enquanto a tendência de Ocidentalização se enfraqueceu, sendo assombrado por ritmos de crescimento e de consumo mais lentos. Globalmente enfrenta‐se o desafio da escassez de recursos, e a reacção defensiva dos países e regiões é a de guardarem as tecnologias e capacidades só para si, recusando partilhar o “know‐how” da sustentabilidade com outros países, aumentando os níveis de desconfiança entre estes. Também a comunicação global é colocada em causa. São estas tensões geopolíticas exacerbadas, os elevados preços dos recursos e eventos climáticos extremos que levam a que os países sejam mais auto‐suficientes no que respeita a alimentos, energia e até vestuário, e preservem para si a inovação tecnológica desenvolvida. De igual modo, os impactos das alterações climáticas são sentidos, mas os países adaptam‐se a estes através do isolamento e de respostas baseadas na tecnologia, que os mais ricos conseguem adaptar às suas realidades nacionais, aumentando porém a desigualdade com os outros países com menores rendimentos e a competitividade entre estes. A UE lidera no caminho da descarbonização, com tarifas sobre o carbono nas importações entre outras medidas e, face a sugestões para a adopção de um compromisso global, os vários países rejeitam‐nas. Consequentemente, e uma vez que não houve uma acção global concertada para mitigar os impactos dos estilos de vida associados a um elevado consumo, na maioria dos países os consumidores continuam a desejar a aquisição de mais bens, num mundo de tendências que mudam rapidamente. De facto, as cadeias de fornecimento assistem a uma regionalização que pretende responder à procura dos consumidores por uma moda que mude rapidamente, seja regional e patriótica. Existe uma percepção da importância da sustentabilidade, mas apenas devido aos racionamentos de energia e de água, impostos por severas regulações governamentais. Palavras‐chave: blocos culturais; fragmentação da comunidade global; desconfiança; escassez de recursos; exclusividade do “know‐how”; tensões geopolíticas; auto‐suficiência; impactos alterações climáticas; respostas tecnológicas; elevado consumismo; mudanças aceleradas.
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PROJECTO 12 Scenarios for the Future of Technology and International
Development (2030) Global Business Network (GBN) e The Rockefeller Foundation Data Publicação: 2010 Horizonte Temporal: 2030 Foco Estratégico: Tecnologia http://www.rockefellerfoundation.org/news/publications/scenarios‐future‐technology (consultado em 22/03/2011) INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Alinhamento político e económico Refere‐se não apenas à escala de integração económica (fluxo de bens, capitais, pessoas e ideias), mas também ao nível a que as estruturas políticas (suficientemente estáveis e efectivas) permitem que se lidem com muitos dos desafios globais. Configuração 1: “Forte” – economia global mais integrada com elevados volumes de trocas, que permite o acesso a uma mais vasta variedade de bens e serviços, através de importações e exportações, e a uma crescente especialização das exportações. Verifica‐se também uma maior cooperação a nível supra‐nacional, promovendo uma acrescida colaboração a nível geral, instituições globais mais fortalecidas, e a formação de redes efectivas internacionais que permitam a resolução de problemas Configuração 2: “Fraco” – eventual redução do potencial para o desenvolvimento económico nos países em desenvolvimento, por causa da fragilidade da economia global no seu todo, a par do proteccionismo e da fragmentação do comércio, e o possível enfraquecimento dos regimes de governança, que fomentam barreiras à cooperação e levam ao adiamento de acordos e à implementação em larga escala de soluções interligadas para fazer face aos desafios globais emergentes • Capacidade de adaptação (à mudança) Capacidade da sociedade, a diferentes níveis, de lidar com a mudança e de se adaptar eficazmente a esta, passando por uma gestão proactiva dos sistemas e estruturas existentes, de modo a assegurar a sua resiliência face a forças externas, e também pela capacidade de transformação desses sistemas e estruturas quando um contexto de mudança demonstra que estes não são mais adequados. A capacidade de adaptação é geralmente associada com elevados níveis de educação na sociedade. Configuração 1: “Elevada” – é geralmente atingida através da existência de confiança na sociedade; a presença e tolerância da novidade e da diversidade; a força e variedade das instituições; e o fluxo livre de comunicações e de ideias (“bottom‐up” e “top‐down”). Configuração 2: “Baixa” – emergem da ausência das características anteriores e deixam as pessoas particularmente vulneráveis aos efeitos disruptivos causados por choques não previstos.
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Cada cenário procura responder a uma questão central que serve de âncora para o processo de construção dos cenários: ‐ Como poderá a tecnologia afectar as barreiras para uma sólida resiliência e crescimento equitativo no mundo em desenvolvimento nos próximos 15 a 20 anos? * *Nota: “resiliência” refere‐se à capacidade dos indivíduos, comunidades e sistemas de sobreviverem, adaptarem‐se e crescerem face a mudanças e até eventos catastróficos; “crescimento equitativo” implica possibilitar o acesso dos indivíduos, comunidades e instituições a novos instrumentos, práticas, recursos, serviços e produtos.
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
15 Incertezas cruciais apresentadas num workshop elaborado para a elaboração deste estudo, agrupadas em 3 grupos: ‐ Tecnológicas: • Tecnologias com mais impacto no desenvolvimento (novas vs. existentes). • Origem das inovações tecnológicas críticas para o desenvolvimento (nos países
desenvolvidos e em vias de desenvolvimento vs. nos países desenvolvidos e em alguns BRICs).
• Normas sociais e culturais (atrasam a adopção das novas tecnologias vs. permitem a adopção rápida de novas tecnologias).
• Novas inovações que reduzem substancialmente a mortalidade infantil: vacinas, tratamentos, curas (poucas vs. muitas).
‐ Sociais e ambientais: • Identidade comunitária no mundo em vias de desenvolvimento (estática, tradicional vs.
dinâmica, aberta ao novo e não tradicional). • Oportunidades de educação e trabalho para mulheres (restritas vs. em expansão).
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• Ocorrência de “choques” como doenças, fome e desastres naturais (pouco frequentes e administráveis vs. frequentes e altamente disruptivos).
• Qualidade do ambiente local no mundo em vias de desenvolvimento – ar, água, saneamento, edificado, etc. (baixa e a piorar vs. melhor e a melhorar).
• Sensibilização e acção em relação às alterações climáticas globais (não priorizadas vs. priorizadas).
‐ Económicas e políticas: • Performance económica global (pior que o esperado vs. melhoria significativamente). • Regras e normas em torno das actividades de empreendedorismo (inibidoras vs. que dão
apoio). • Oportunidades de educação e formação no mundo em vias de desenvolvimento (estáticas
vs. a aumentar). • Conflito no mundo em vias de desenvolvimento (marginal e contido vs. penetrante e
generalizado). • Relações internacionais económicas e estratégicas (fracas, com barreiras à cooperação vs.
fortes, com mais cooperação supranacional). • Segurança alimentar (pior e mais propensa a situações de ruptura vs. melhor e mais
segura).
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: ‐ Elementos pré‐determinados • Emergência de um mundo multipolar (ascensão da China, Índia, e outros países.); • Crescimento da população mundial; • Maior pressão sobre a disponibilização de recursos energéticos, alimentares e hídricos, em
especial nos países em desenvolvimento; • Maior interdependência global de energia e tentativas de maior utilização de energias
renováveis; (…).
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Lock Step É um mundo com um controlo governamental mais apertado, do tipo “top‐down”, e com uma liderança mais autoritária, com inovação limitada e uma crescente retirada de protagonismo dos cidadãos. Neste cenário, emerge o flagelo de uma pandemia em 2012, cujos efeitos devastadores nos anos posteriores determinam o comportamento dos vários actores envolvidos. Cerca de 20% da população mundial foi infectada por esta pandemia, e também os efeitos na economia se revelaram “mortíferos”, com a drástica redução da mobilidade tanto de pessoas como de bens, debilitação da indústria do turismo e a quebra de cadeias globais de fornecimento. Face ao risco de exposição à pandemia, os governos optam por tomar medidas extremas de protecção dos seus cidadãos, através do uso do controlo autoritário e da imposição de regras e restrições severas que, mesmo após o desvanecimento da pandemia, permaneceram no quotidiano dos cidadãos tendo‐se inclusivamente até intensificado em determinadas situações. O objectivo da tomada de acção pela força seria o de fazer face não só à eventualidade de pandemias, como também de terrorismo transnacional, crises ambientais e risco de pobreza.
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Primeiramente, a noção de um mundo mais controlado ganhou vasta aceitação e aprovação por parte dos cidadãos, que estavam dispostos a prescindir de alguma da sua soberania (e privacidade) em troca de maior segurança e estabilidade, pelo que os líderes nacionais tiveram maior abertura para impor maior controlo e ordens do modo que lhes parecia mais apropriado. Os efeitos desta abordagem foram naturalmente diferentes nos países desenvolvidos e nos países em vias de desenvolvimento. No entanto, em 2025, e após os resultados das anteriores medidas, as pessoas parecem estar saturadas de demasiado controlo “top‐down” e de que os líderes e autoridades fizessem escolhas por eles, especialmente em situações de conflito sempre que os interesses nacionais iam contra os interesses individuais. Até mesmo os que gostavam de maior estabilidade e da previsibilidade deste mundo, começaram a sentir‐se desconfortáveis e constrangidos com a severidade das fronteiras nacionais. O sentimento perdura até que, mais cedo ou mais tarde, emerge outro acontecimento que vem abalar a ordem estabelecida até então. Palavras‐chave: controlo governamental; liderança autoritária; imposição de regras; busca de segurança; regulação “top‐down”; saturação da população. Clever Together É um mundo no qual emergem estratégias altamente coordenadas e bem‐sucedidas para lidar com assuntos urgentes e outros com efeitos a nível mundial. Após o período de recessão de 2008‐2010 o crescimento global regressou em força, indo ao encontro das projecções demográficas e económicas lançadas antes da recessão. No entanto, emergiram dois grandes problemas: primeiro, nem todas as pessoas e lugares beneficiaram equitativamente do regresso deste crescimento globalizado e, segundo, foram ignoradas as verdadeiras consequências ambientais deste crescimento desmesurado. O clima do planeta tornou‐se cada vez mais instável e com efeitos catastróficos, pelo que surgiu uma enorme urgência e pressão no sentido dos governos agirem rapidamente. Num mundo altamente interligado entre si, a melhor forma para o fazer passa pela coordenação mundial de estratégias para lidar com os problemas urgentes. Esta coordenação internacional começou lentamente, tendo posteriormente acelerado de forma intensa e até certo ponto inesperada para muitos. Em 2015 a grande maioria dos países concertou a sua acção contra problemas de escala global, através de acordos internacionais, de sistemas globais coordenados assentes na tecnologia, etc. Estes esforços produziram verdadeiros resultados em 2022, com o efectivo decréscimo nos níveis atmosféricos de carbono. Inspirados pelo sucesso destas iniciativas na acção colectiva global, as iniciativas coordenadas em larga‐escala intensificam‐se, tendo inclusivamente os estados‐nação perdido alguns dos seus poderes e relevância, com o fortalecimento da arquitectura global e das estruturas de governança regional. De facto, estas fortes alianças e alinhamentos entre corporações, ONGs e comunidades, alargaram a possibilidade de resolução de grandes problemas, potenciando uma maior qualidade de vida para todos. Toda esta evolução traduziu‐se num verdadeiro progresso onde antes existiam problemas, num mundo menos gastador, mais eficiente e mais inclusivo. No entanto, este é um mundo longe da perfeição. Um progresso tão rápido implica também elevados consumos e novas pressões nos recursos. Em 2028, o mundo não poderá suportar para sempre os efeitos de um crescimento tão rápido. Palavras‐chave: estratégias coordenadas; crescimento globalizado; consequências ambientais negativas; problemas urgentes; fortalecimento arquitectura global; alianças internacionais.
Hack Attack Um mundo economicamente instável e propenso a choques, no qual os governos estão enfraquecidos, os criminosos prosperam e inovações perigosas emergem. Enfrentam‐se, com alguma frequência, catástrofes com efeitos de larga escala, as quais incluem atentados, efeitos das alterações climáticas, etc. Esta série de catástrofes assíncronas colocou uma enorme pressão numa economia global já de si sob demasiada tensão, e que tinha entrado na segunda década do Século XXI ainda em recessão. Os países não conseguem dar resposta aos custos decorrentes deste panorama, nem tão pouco aos crescentes pedidos de mais segurança, maior cobertura de cuidados de saúde, mais programas e serviços sociais, e reparação de infra‐estruturas.
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Na Europa, Ásia, América do Sul e África, cada vez mais países perderam o controlo das suas finanças públicas, bem como a capacidade de ajudar os seus cidadãos a manter a estabilidade e a ordem. Também a escassez de recursos e disputas comerciais, a par de situações tensas severas na economia e no clima, levaram muitas alianças e parcerias a um ponto de ruptura. Com o enfraquecimento do poder, a rápida desintegração da ordem e a evaporação das redes de segurança, a violência e o crime surgiram de modo descontrolado. Também no campo da tecnologia, surgem métodos sofisticados para derrubar empresas, atacar sistemas governamentais, bancos e bases de dados de informações, e também a propriedade intelectual. Este ambiente de “wild west” causa um profundo impacto no campo da inovação, e marca a passagem para uma era em que a criatividade e as tecnologias assentam tipicamente numa postura de “eu primeiro”, em vez da anterior mais altruísta “eu também”.O fosso entre a população mais abastada e a população mais pobre é maior do que nunca e, em 2025, será mais sensato construir não uma “casa”, mas sim uma “fortaleza”, para a protecção face a riscos e caos no qual o mundo se encontra. A confiança apenas era sentida junto daqueles que conseguem garantir segurança e sobrevivência, num mundo onde o colapso do estado leva ao ressurgimento do feudalismo. Em 2030, a distinção entre mundo desenvolvido e em desenvolvimento já não se afigura particularmente relevante. Palavras‐chave: economia instável; governos enfraquecidos; catástrofes de larga escala; pressão na economia global; instabilidade; insegurança; fosso na riqueza; feudalismo.
Smart Scramble Um mundo economicamente deprimido, no qual os indivíduos e as comunidades desenvolvem soluções localizadas e improvisadas para fazer face a um crescente conjunto de problemas. A recessão global que começou em 2008 não se enfraqueceu em 2010, tendo‐se arrastado por mais tempo. As tentativas para reavivar os mercados e as economias não resultaram, ou pelo menos com a rapidez necessária para que os efeitos contrariassem a depressão económica. Face a este panorama muitos países sofreram um agravamento das suas dívidas, e o surgimento de problemas de desobediência civil e aumento da criminalidade. No geral, a estabilidade económica era tão frágil que a ocorrência de um choque climático repentino ou outro desastre poderiam remeter o mundo para o colapso. Felizmente, esses grandes choques não ocorreram, apesar da permanente preocupação com essa possibilidade. A noção de “sobrevivência” e de “sucesso” variavam bastante consoante a localização – não só no país, mas na cidade e na comunidade. Em muitos locais, as falhas da liderança política e as tensões da fraqueza económica e os conflitos sociais sufocaram a capacidade das pessoas ultrapassarem estas terríveis circunstâncias. No entanto, existem sinais de esperança. A capacidade governamental revelou‐se mais avançada nas partes do mundo em desenvolvimento, e outras áreas com bom acesso a recursos naturais, diferentes habilidades e um conjunto de instituições mais fortes tiveram um melhor desempenho, tal como cidades e comunidades onde um largo número de emigrantes retornados ajudaram a conduzir à mudança e ao progresso. Também as pessoas, em alguns casos, encontraram ou inventaram novos modos, tecnológicos e não tecnológicos, para melhorarem a sua capacidade de sobrevivência e, em alguns casos, para aumentar os níveis de qualidade de vida. As comunidades cresceram, a par da emergência de acções locais para propósitos locais, catalisando o comércio local e unindo os laços de proximidade entre si. Em 2025, a colaboração estava finalmente a melhorar, com os ecossistemas de investigação e de partilha (muitos deles “virtuais”) a começarem a emergir. No entanto, não se verificam grandes progressos na integração e colaboração económica global, e muitos preocupam‐se se as boas ideias irão permanecer isoladas, e se a sobrevivência e o sucesso serão um fenómeno local, em vez de global ou nacional. Palavras‐chave: economia deprimida; soluções localizadas; recessão económica prolongada; insegurança; mudança e progresso; acções locais; propósitos locais; colaboração. OBSERVAÇÕES: ‐ Cenários desenvolvidos em pleno período de recessão e crise mundial, que incluem visões distintas para os países desenvolvidos e para os países em desenvolvimento. ‐ Inclui Timelines para cada cenário e a utilização de Roleplays em cada futuro.
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PROJECTO 13
World Trade: Possible Futures (2020) Foresight Horizon Scanning Centre para a UK Government’s Trade Policy Unit
Data Publicação: 2009
Horizonte Temporal: 2020
Foco Estratégico: Comércio Internacional
http://www.worldtradeweekuk.com/Pages/F8F22494‐8C8B‐479E‐858B‐F37DA4143177.cFile
(consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Acção das organizações globais
Traduz a vontade e capacidade das organizações globais coordenarem as suas acções a nível
nacional, ou de se mostrarem disponíveis para agir a uma escala global.
Configuração 1: “Coordenada”
Configuração 2: “Fragmentada”
• Recursos ambientais
Disponibilidade dos recursos naturais no sentido de haver uma maior ou menor restrição.
Configuração 1: “Escassos”
Configuração 2: “Abundantes”
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
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OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: • Alterações climáticas; • Crescimento populacional; • Crescimento das economias emergentes; • Populações envelhecidas nos países mais desenvolvidos; • Avanços da tecnologia.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Global Innovation É um cenário onde as trocas comerciais procuram ter em consideração e responder ao problema da escassez de recursos e onde existe um elevado grau de coordenação entre as organizações internacionais. O mundo emergiu lentamente da recessão no início da década. Neste período, observa‐se um crescimento lento, com elevados custos energéticos e de mercadorias e o aumento do preço dos bens alimentares, pautado também pela falta de uma resposta internacional concertada. Em 2013, no entanto, emerge um renovado interesse na investigação e desenvolvimento de novas tecnologias para a energia. Em 2015, uma série de incidentes climáticos severos causou efeitos devastadores por todo o mundo, fazendo com que os governos se encontrassem sobre pressão para agirem mais rapidamente e com maior audácia. Foi este “clima de crise” que alertou para a necessidade da colaboração internacional, originando um conjunto de consequências positivas. No espaço de um ano, uma coligação de países e regiões concordaram na definição de novas estratégias para a obtenção de fundos para o investimento tecnológico, de modo a fazer face às emergentes alterações climáticas e seus efeitos. Estas tecnologias criaram um enorme mercado e aceleraram os negócios por todo o mundo. Um benefício lateral deste movimento traduziu‐se num conjunto activo de instituições globais com um apoio popular crescente. Uma melhor coordenação global teve um impacto notável nos países em desenvolvimento, onde os investimentos daquele fundo tecnológico levaram à criação de novos negócios e ao crescimento económico e, consequentemente, a menores níveis de pobreza e de privação. Palavras‐chave: escassez recursos; elevada coordenação; colaboração internacional; novas estratégias; investimento tecnológico; crescimento económico. Global Citizen Cenário que concilia uma acção global coordenada com uma maior disponibilidade de recursos. O mundo experienciou uma aguda mas curta recessão, que terminou em 2010 em parte devido à contribuição que as grandes economias emergentes deram ao nível da recuperação da procura global. Os países aumentaram a colaboração entre si, ao fortalecer os regimes de regulação nacionais e internacionais e ao monitorizar o risco financeiro sistémico. Foi restaurada a confiança no comércio internacional e nos fluxos de capitais, e houve progressos no estabelecimento do estado de direito no comércio internacional e no melhoramento da sua aplicação nas jurisdições nacionais. Também os países em desenvolvimento experimentaram um melhor acesso aos mercados mundiais e aumentaram os investimentos além‐fronteiras nas novas tecnologias. Dá‐se uma renúncia gradual da soberania nacional a favor das instituições globais (tendência esta que é tida como um desenvolvimento positivo), assistindo‐se a um declínio da influência do Ocidente. As empresas líderes globais, em particular a nova classe de multinacionais asiáticas, apostaram de forma decidida em inovações e melhorias no design de produtos de alta tecnologia. Para competir nestes campos, os países Ocidentais centraram‐se nos sectores baseados no conhecimento e fomentaram o acréscimo do número de licenciados nas áreas da ciência e da tecnologia. Nestes casos, o investimento externo e uma boa consciencialização sobre as questões ambientais ao nível do comércio local provaram ser essenciais para alcançar o sucesso. Palavras‐chave: acção global coordenada; disponibilização de recursos; colaboração internacional; instituições globais; inovação tecnológica; investimento na qualificação.
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Fragile Alliances Um mundo onde a disponibilidade de recursos é elevada, e a acção global é fragmentada. O regresso rápido ao crescimento após 2009 não se traduziu numa capacidade efectiva e gerar acordos significativos ao nível do comércio internacional e alterações climáticas, ou numa reforma internacional radical. Aumentou o comércio entre países ricos em capital humano e outros ricos em recursos, tendo crescido também o papel dos “lobbies” multinacionais poderosos, que tomaram a liderança. Mas os países que não possuíam esse capital humano ou recursos naturais para participarem em tais trocas foram deixados de lado. Os países em desenvolvimento e em processo de industrialização investiram numa busca constante de parceiros para as trocas de recursos, de modo a manter o crescimento necessário para a sua estabilidade e desenvolvimento. Isto levou à formação de uma teia complexa de acordos bilaterais, quebrados apenas pela actividade de cartéis de países produtores de recursos, que se agruparam para protegerem os seus interesses e concentrarem os seus esforços de negociação. Os resultados das negociações entre estes blocos de comércio revelaram enormes ineficiências ao nível da alocação de recursos, resultando em níveis baixos de inovação, em falhas na resposta à procura dos consumidores e em produtos de baixa qualidade e excessivamente dispendiosos. Face às falhas nas negociações para o comércio e para as alterações climáticas, num mundo fragmentado e com um comportamento “virado para dentro”, assiste‐se a um ressurgimento das políticas nacionalistas. Nesse sentido, também os programas nacionais de investigação energética são introduzidos para encontrar soluções que tornem os países menos dependentes da instabilidade dos parceiros. A esta falta de colaboração internacional corresponde a noção de que novas soluções energéticas são mais difíceis de encontrar. Palavras‐chave: disponibilização de recursos; acção global fragmentada, ausência acordos internacionais; acordos bilaterais; actividade de cartéis; blocos de comércio, negociações ineficientes; pobre alocação de recursos; políticas nacionalistas. Deglobalisation Mundo caracterizado por uma acção global fragmentada e desconcertada, a par com uma escassa disponibilidade de recursos. Após a recessão, a economia global não regressou a uma fase crescimento, algo que em parte se deveu à falta de coordenação na concretização das reformas adequadas do sistema financeiro internacional. Como resultado, a confiança global decresceu num movimento em espiral vertiginoso. Nesta recessão de longa duração, vive‐se uma estagnação dos preços das mercadorias e uma crise prolongada no comércio e no investimento. Para lhe fazer face, os países adoptaram diferentes estratégias, incluindo o nacionalismo económico, acordos bilaterais e agrupamentos regionais mais próximos entre si. Emergiram, ao longo da década, conflitos sobre os recursos, a par de secas e choques climáticos. Estes, por sua vez, levaram a situações de ruptura na produção de bens alimentares, a restrições nas exportações e a preços elevados e voláteis dos alimentos, e ainda a situações de fome em vários países. Questões como a alimentação e a segurança energética passam a ser o centro tanto da política regional como da regional, pelo que o apoio às políticas agrícolas intervencionistas cresceu para um patamar nacional e regional. Isto levou a que esta resposta trouxesse de novo o proteccionismo, sob muitas formas, assim como um fenómeno de “deglobalisation”. Como resultado, assistiu‐se a uma perda de peso e dinâmica das cadeias de fornecimento, tanto a nível geográfico como em termos empresariais, com um progressivo regresso à integração vertical e a restrições ao investimento estrangeiro. Onde o comércio internacional ainda existe, este é dominado por multinacionais controladas pelos estados, sendo a corrupção e ligações ao crime organizado características comuns. Emergem ainda as desigualdades entre e nos países, com destaque pela negativa aos países em desenvolvimento que são prejudicados pela crescente volatilidade nos mercados. Palavras‐chave: acção global desconcertada; escassez de recursos; recessão da economia; nacionalismo económico; acordos bilaterais; agrupamentos regionais; conflitos sobre recursos; proteccionismo; redução das cadeias de fornecimento; desigualdades; volatilidade dos mercados.
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PROJECTO 14
PRELUDE Scenarios (PRospective Environmental analysis
of Land Use Development in Europe) European Environment Agency
Data Publicação: 2007
Horizonte Temporal: 2035
Foco Estratégico: Território e Ambiente
http://scenarios.ew.eea.europa.eu/reports/fol077184 (consultado em 22/03/2011)
http://www.eea.europa.eu/multimedia/interactive/prelude‐scenarios (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Governança: a que escala serão tomadas as decisões?
Configuração 1: “Escala regional”
Configuração 2: “Escala europeia”
• Desenvolvimento económico: a globalização económica irá continuar?
Configuração 1: “Mercados regionais”
Configuração 2: “Mercados globais”
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
Para além das incertezas acima apresentadas, foram identificadas as seguintes forças de
mudança:
• Consciência ambiental: a importância dos assuntos ambientais no processo de tomada de
decisão no dia‐a‐dia.
• Tecnologia e inovação: Importância do progresso tecnológico e investimentos neste, e
investigação direccionada para actividades existentes e novas áreas emergentes.
• Solidariedade e equidade: o peso que a sociedade atribui à obtenção de um elevado grau
de coesão social, no contexto europeu e global.
• Governança e intervenção: O alcance da elaboração das políticas na questão do uso da
terra e do planeamento do território, em particular a nível europeu.
• Optimização agrícola: o ponto até onde a produção agrícola é realizada tendo em conta a
optimização da sua eficiência e a maximização do lucro.
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Big crisis
Outras forças de mudança importantes indicadas e quantificadas nos cenários:
• Dinâmica demográfica e economia. Incluí: Crescimento populacional; Envelhecimento da
sociedade; Densidade Populacional; Migração interna; Imigração; Mobilidade diária;
Crescimento económico.
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Governança
Mercados globais
Escala Europeia Escala Regional
Mercados regionais
Desen
volvim
ento econó
mico
Lettuce surprise u
Evolved society
Great escape Clustered networks
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Figura 5
Fonte: PRELUDE Scenarios (PRospective Environmental analysis of Land Use Development in Europe), European
Environment Agency, pp.14
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Great Escape – Europe of Contrast Os desenvolvimentos chave neste cenário dizem respeito à importância crescente do comércio internacional (globalização económica), à diminuição da solidariedade social e à forte redução de intervenções políticas. A globalização económica aumenta a pressão concorrencial global, e os interesses no mercado dominam a agenda política. Porém, os governos não intervêm no mercado e optam por cortar nas políticas de segurança social e a protecção social torna‐se cada vez mais individualizada. A tensão social aumenta quando os imigrantes empobrecidos se mudam para os centros urbanos, formando autênticos guetos urbanos, contrastando com as comunidades ricas cada vez mais isoladas. A economia floresce, apresentando um elevado nível de inovação tecnológica.
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A agricultura é orientada para o mercado e procura maximizar o lucro. A produção é intensificada mas a agricultura total diminui, afectando quase 75% do total da paisagem Europeia. A intensificação da agricultura e a expansão urbana afectam negativamente o ambiente rural, e são perdidas muitas reservas naturais e terras agrícolas extensivas. Muitas pastagens são abandonadas ou convertidas em terra arável. No entanto, em algumas áreas de cessação de agricultura, o solo e a qualidade da água melhoram e podem desenvolver‐se habitats naturais mais diversos. Palavras‐chave: comércio internacional; menor solidariedade social; redução intervenção política; pressão concorrencial; interesses no mercado; tensão social; agricultura para o mercado; intensificação agrícola. Evolved Society – Europe of Harmony Os desenvolvimentos chave são marcados por uma crise energética de longo alcance, que desencadeia um apoio acrescido às energias renováveis. Um forte aumento da consciencialização ambiental despoleta alterações mais abrangentes nos estilos de vida e políticas ambiciosas prosseguidas por instituições nacionais e Europeias, a favor do desenvolvimento regional ambientalmente sustentável. A ocorrência de fortes inundações e os preços extremamente elevados da energia reforçam a consciência ambiental, na medida em que muitas pessoas passam a acreditar que os estilos de vida e a economia devem mudar. Ocorre um ressurgimento do campo, quando muitas pessoas decidem mudar‐se de áreas densamente povoadas e se fixam em áreas mais rurais e seguras, especialmente na Europa de Leste. A acção de comunidades locais ganha um novo ímpeto através de preocupações relativas à equidade social. À custa da mudança estrutural as políticas focam‐se no desenvolvimento rural e nas tecnologias eco‐eficientes. A agricultura é “high‐tech” e cada vez mais orgânica, enquanto a área agrícola mantém aproximadamente as mesmas dimensões mas a intensidade do uso diminui. Em áreas dadas a cheias, a terra arável é consideravelmente reduzida. As mudanças na utilização geral da terra não são dramáticas, e as terras agrícolas extensivas com elevado valor natural são relativamente bem preservadas. Palavras‐chave: crise energética; apoio às energias renováveis; consciencialização ambiental; políticas ambiciosas; desenvolvimento sustentável; equidade social; desenvolvimento rural; tecnlogias eco‐eficientes; agricultura “hi‐tech”. Clustered Networks – Europe of Structure: Os desenvolvimentos chave deste cenário dizem respeito aos impactos da dinâmica demográfica (envelhecimento da sociedade), aos efeitos das intensas relações comerciais internacionais que levam a uma forte marginalização da agricultura e à ocorrência de fortes intervenções de ordenamento do território para gerir os desafios do envelhecimento da sociedade. A globalização impulsiona o crescimento económico mas as condições ambientais e de saúde, em particular nos centros urbanos, pioram, e no campo muitas actividade comercial e serviços locais fecham. As necessidades de uma sociedade envelhecida levam ao desenvolvimento de políticas coerentes de ordenamento do território, sendo encorajada a migração para fora de áreas urbanas poluídas. São fundadas, em regiões periféricas, novas cidades com uma forte economia de serviços, enquanto pontos de destaque económico e social. A urbanização é concentrada e o desenvolvimento rural dedica‐se à criação de cinturas verdes em torno de centros urbanos. A agricultura torna‐se marginal e, devido a um abandono da terra em grande escala, a área agrícola e de pasto diminuem fortemente. No entanto, a biodiversidade, água, solo e qualidade do ar beneficiam da diminuição da agricultura e da criação de cinturas verdes. Palavras‐chave: envelhecimento da população; comércio internacional; marginalização da agricultura; políticas de ordenamento do território; migração para áreas rurais; novas cidades; abandono da terra.
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Lettuce Surprise U – Europe of Innovation As inovações tecnológicas disruptivas em “open‐source” têm um papel importante neste cenário. Outros desenvolvimentos chave reflectem‐se num forte aumento da consciência ambiental e processos de decisão política descentralizados e de longo alcance. O grau de intervenções políticas centralizadas é reduzido e a auto‐regulação torna‐se mais importante. Uma grande crise de segurança alimentar atinge a Europa. Contudo, a gestão desta crise falha, e a confiança no governo central e na segurança do fornecimento alimentar da Europa diminui fortemente. Luta‐se por um regime alternativo de produção e controlo dos bens alimentares, bem como pela auto‐suficiência regional em termos de alimentos e energia. Com a descentralização política, que se torna proeminente, novas tecnologias de comunicação facilitam a tomada de decisão local participada e o desenvolvimento em “open‐source” de tecnologias inovadoras. A migração é limitada e os padrões de urbanização não mudam. Cresce a consciencialização ambiental, levando a uma grande procura de alimentos produzidos através de processos e práticas amigas do ambiente. De facto, as inovações tecnológicas oferecem novas oportunidades a este respeito: são inventadas novas variedades agrícolas que possibilitam maiores colheitas com menos “inputs”. A agricultura em áreas‐chave de produção é high‐tech, limpa e com uma escala relativamente pequena. Devido a uma maior produtividade, a área agrícola diminui fortemente, e as áreas de pasto diminuem a um ritmo mais baixo. A redução de área e “input” agrícola levam a uma aumento da biodiversidade e a melhoramentos na qualidade do solo, da água e do ar. O abandono da terra afecta áreas agrícolas de elevado valor natural, mas apenas moderadamente. Palavras‐chave: inovações tecnológicas; consciência ambiental; decisão política descentralizada; auto‐regulação; resposta à crise; novas tecnologias de comunicação; produção alimentar “hi‐tech”. Big Crisis – Europe of Cohesion Os desenvolvimentos chave deste cenário dizem respeito à crescente consciencialização ambiental e à solidariedade social, questões que surgem após a ocorrência de um número crescente de desastres ambientais. As mudanças chave são principalmente despoletadas por programas políticos ambiciosos, do tipo “top‐down”. Uma série de desastres ambientais realçam a vulnerabilidade da Europa e incapacidade desta se adaptar eficazmente às mudanças impostas. Há um apoio generalizado rumo a uma forte coordenação de políticas a nível Europeu e surgem novas preocupações com a solidariedade e a equidade, sendo ainda consolidado, a nível Europeu, um novo conjunto de políticas para desenvolvimento regional equilibrado e sustentável. Enquanto cresce a consciencialização ambiental, são fortemente promovidos sistemas eficientes de transportes públicos. Assiste‐se a uma inversão na tendência de intensificação agrícola após 2015. O excesso de oferta agrícola diminui, sendo o foco principal da agricultura a gestão da paisagem, com alterações limitadas nas formas de utilização da terra. A população diminui ligeiramente em áreas urbanas chave, enquanto a terra agrícola e de pasto diminuem moderadamente. As pressões ambientais iniciais são aliviadas, e o solo, a água e a qualidade do ar beneficiam de uma agricultura mais extensiva e de um abandono limitado da terra. A perda de áreas agrícolas de elevado valor natural mantém‐se relativamente pequena. Palavras‐chave: consciencialização ambiental; solidariedade social; programas políticos “top‐down”; coordenação europeia das políticas; desenvolvimento regional equilibrado; mudanças na exploração agrícola; administração da paisagem.
OBSERVAÇÕES:
‐ É utilizado o método denominado story‐and‐simulation para a construção dos cenários.
‐ Inclui cenários quantitativos.
‐ Foram produzidos vídeos de apresentação de cada cenário.
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PROJECTO 15 World Water Vision – Three Global Water Scenarios
(2025) World Water Council Data Publicação: 2000 Horizonte Temporal: 2025 Foco Estratégico: Água http://worldwatercouncil.org/index.php?id=961&L=1%3F%20target%3D%20title%3D (consultado em 22/03/2011) http://www.inderscience.com/search/index.php?action=record&rec_id=2055&prevQuery=&ps=10&m=or (consultado em 22/03/2011) http://www.ulb.ac.be/students/desge/cours/ENVIF445/Envi‐F‐445.08‐09.global%20water%20scenario.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: • Tendências de produtividade da água: quais as tendências futuras ao nível da eficiência e
produtividade associadas à utilização e consumo de água. • Expansão da agricultura irrigada: qual o investimento no uso da água na irrigação da
agricultura; • Grande aumento da produção de alimentos por meio da agricultura alimentada pela
chuva: consequências intrínsecas a este aumento. • Desmaterialização das economias: importância dos recursos hídricos na economia
(mudanças na estrutura de produção e consumo, ou nas tecnologias de produção). • Auto‐suficiência alimentar nacional versus Segurança alimentar global: auto‐suficiência
poderá levar ao abuso dos recursos hídricos, em oposição a um uso mais racionalizado da água.
• Disponibilidade de tecnologias baratas de purificação de água: quais os desenvolvimentos neste campo e possíveis consequências.
• Aceitação pública de culturas geneticamente modificadas nos hemisférios Sul e Norte: esta questão será objecto de opiniões divergentes dependentes de descobertas científicas.
• Oposição pública a grandes barragens: fonte de opiniões divergentes, devido aos impactos ambientais e sociais.
• Descobertas científicas fundamentais: uma das maiores incertezas, alvo de especulação quanto à possibilidade de acontecerem, pelo que não foi uma incerteza explicitamente considerada na elaboração dos cenários.
• Alterações significativas nos valores humanos e estilos de vida: uma das maiores incertezas cruciais, pois sem uma mudança global destes valores e estilos de vida, medidas tecnológicas e económicas não serão suficientes para resolver o problema da crise hídrica.
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: • Demografia (crescimento da população no Sul; pressões de migração; urbanização no Sul). • Economia (output económico; comércio; prosperidade no Sul; investimento em obras de
água).
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• Tecnologia (expansão da alta tecnologia; eficiência de água; poluição da água; adopção de novas colheitas; investimento no saneamento da água; número de instalações de dessalinização; eficiência de retirada da água).
• Sociedade (modos de vida globais; pobreza; iniquidade). • Governança (estrutura de poder; nível de conflito; globalização). • Ambiente (doenças relacionadas com a água; salinização do solo; água no solo; saúde do
ecossistema). SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Business as Usual (BAU) Representa a trajectória daqueles que não acreditam na existência de uma crise verdadeiramente estrutural, não ocorrendo grandes mudanças políticas ou de estilo de vida e são extrapoladas as tendências actuais. Descreve um mundo no qual as políticas vigentes no início do Século sobre a gestão e desenvolvimento dos recursos hídricos permanecem, na sua essência, inalteradas. Neste cenário, os desenvolvimentos no mundo são largamente positivos durante os primeiros 10 a 15 anos. A procura de água aumenta tanto em termos absolutos como per capita, devido à crescente abundância e produção alimentar per capita e, paralelamente, a tecnologia e a eficiência no uso da água melhoram, como comprovam as taxas observadas ao longo das últimas décadas, e as fontes de abastecimentos de água são desenvolvidas de acordo com as tendências históricas e são implementados planos para grandes infra‐estruturas hídricas. Numa primeira fase, o mundo desenvolve‐se de acordo com as linhas orientadoras das projecções oficiais do sistema da ONU, que dizem respeito à população e ao crescimento económico. Ao longo do tempo, porém, o sistema global torna‐se cada vez mais vulnerável, devido à crescente escassez de recursos per capita, à reduzida qualidade da água na maior parte do mundo, aos conflitos crescentes associados às desigualdades e à escassez de água, e à cada vez menor base de recursos de ecossistemas saudáveis. Na segunda metade do horizonte temporal deste cenário, as crises regionais tornam‐se mais pronunciadas e, na eventualidade de se verificarem “triggers” específicos como uma seca generalizada e douradora, uma quebra no sistema global de trocas de alimentos, poderá também ocorrer uma crise global de escassez de água. Palavras‐chave: manutenção das políticas; aumento procura água; aumento vulnerabilidade; crescente escassez; reduzida qualidade; menos recursos saudáveis; crises regionais e/ou globais. Economics, Technology and Private Sector (TEC) Resulta de políticas defendidas por aqueles que acreditam no mercado, no envolvimento do sector privado e nas soluções maioritariamente tecnológicas, e acção largamente nacional ou local. O sector privado lidera a I&D, a globalização e o crescimento económico, mas os países mais pobres são deixados para trás. Há uma visão optimista no que respeita ao sistema de liberalização de mercados, ao potencial das novas tecnologias e às possibilidades de regular ou limitar efeitos colaterais indesejáveis destes dois. A crescente consciencialização para o problema hídrico manifesta‐se sobretudo através da aplicação dos princípios económicos no sector da água. Mais tarde, a reacção dos consumidores a esta concentração crescente de poder no sector privado leva a que sejam estabelecidas estruturas de gestão com a representação de “stakeholders”, que regulam o sector privado e se tornam actores chave no estabelecimento de preços e na negociação de contratos de serviço com o sector privado. É ainda necessária a execução das regulações governamentais a nível local, regional e nacional, de modo a resolver um número de conflitos entre consumidores a montante e a jusante. Isto leva a consideráveis conflitos e ineficiências. Palavras‐chave: importância sector privado; soluções tecnológicas; aplicação dos princípios económicos; divergência entre os consumidores.
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Values and Lifestyles (VAL) Este cenário poderia materializar‐se pelo ressurgimento dos valores humanistas, um fortalecimento da cooperação internacional, uma forte ênfase na educação, implantação de mecanismos e regras internacionais, e ainda uma maior solidariedade e alterações nos estilos de vida e comportamento da população. Neste cenário assiste‐se à elevação do objectivo do desenvolvimento sustentável, com um enfoque particular na investigação e desenvolvimento nos países mais pobres. Assume‐se igualmente uma vontade de se alcançar um conjunto de objectivos globais e regionais, bem como um forte compromisso para evitar a emergência de uma crise hídrica no novo Século. A ênfase recai no renascimento dos valores humanos fundamentais e nas mudanças nos estilos de vida, de acordo com esses valores. A nível nacional e local, a orientação estratégica recai numa forte ênfase na educação e na capacidade de construção de um caminho que estabeleça valores e estilos de vida sustentáveis. A acção a nível das comunidades ganha proeminência na gestão de bacias hidrográficas, na recolha da água das chuvas para usos agrícolas e domésticos, e na protecção dos ecossistemas. Assiste‐se a um forte crescimento económico e cooperação internacional, num mundo interligado através das redes de comunicações e que aposta na proliferação dos ideais de sustentabilidade para a protecção dos recursos hídricos. Palavras‐chave: valores individuais; componente humana; desenvolvimento sustentável; compromisso de prevenção; mudança estilos de vida; protecção dos recursos hídricos.
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PROJECTO 16 Energy to 2050 – Scenarios for a Sustainable Future
International Energy Agency – OECD Data Publicação: 2003 Horizonte Temporal: 2050 Foco Estratégico: Ambiente http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2000/2050_2003.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: • Velocidade da mudança tecnológica (particularmente no sector da energia, tanto no lado
da oferta como da procura)
Configuração 1: “Rápida” Configuração 2: “Lenta” • Atitudes e preferências em relação ao ambiente global Configuração 1: “Preocupados” Configuração 2: “Despreocupados” Outras questões emergentes para a construção dos cenários, relacionadas com a sustentabilidade ambiental do sistema energético, segurança do fornecimento, e desenvolvimento da tecnologia energética: • Serão, de facto, disponibilizados os recursos energéticos no momento e no local onde são
necessários? • Irá a continuação do crescimento económico e a satisfação das nossas necessidades
energéticas causar danos irreversíveis ao ambiente e assim comprometer o bem‐estar e a segurança das gerações presentes e futuras?
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
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OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: • Crescimento económico; • Crescimento da população; • Globalização e grau de abertura do mercado; • Estrutura de poder e governança; • Questões de segurança global. SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Clean but not sparkling Este cenário é caracterizado por uma forte preocupação com o ambiente global, tanto da parte da população como da parte dos decisores políticos, mas também por um ritmo de mudança tecnológica relativamente lento. Contrariamente à sabedoria comum de que políticas fortemente a favor da preservação do ambiente levariam a um rápido desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente, um número de outros factores poderão pôr em risco esta ideia. Neste cenário, de facto, a combinação de percepções pessimistas sobre a tecnologia e uma política de intervenção demasiado zelosa não permitem que a totalidade do potencial do desenvolvimento tecnológico seja libertado. Além disso, um investimento insuficiente em I&D, ou a falha destas investigações na obtenção de resultados práticos, levam a que exista um progresso tecnológico limitado. Uma vez que neste cenário o papel das tecnologias falha, os objectivos ambientais são em grande parte cumpridos através da introdução de mudanças comportamentais. Palavras‐chave: preocupação ambiental; mudança tecnológica lenta; potencial tecnológico subaproveitado; progresso limitado; mudanças comportamentais. Dynamic and careless Este cenário é caracterizado por uma mudança tecnológica muito dinâmica, com pouca prioridade para a mitigação das alterações climáticas e uma crença generalizada de que um crescimento sustentado e um rápido progresso nas tecnologias irão resolver todos os problemas, sem necessidade de uma grande intervenção política. Verifica‐se, neste mundo, um crescimento económico mais rápido do que no primeiro cenário, havendo uma tendência clara para os mercados serem mais abertos e menos regulados. A grande prioridade é estimular o crescimento económico, partilhado de igual modo entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, embora nem todos consigam atingir elevadas taxas de crescimento. Ameaças globais, como as alterações climáticas, são secundárias nas preocupações tanto dos cidadãos como dos políticos. Baixos preços da energia e a segurança energética passam a ser consideradas importantes condições para o crescimento económico. Inicialmente, o progresso é mais rápido quando baseado em tecnologias à base de combustíveis fósseis, para manter os preços reduzidos. Tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, os problemas locais não são ignorados mas são geridos a nível local e, consistentemente, com os recursos económicos das populações envolvidas ou individualmente através de comportamentos que evitem os impactos da poluição. Como consequência destas condições iniciais, a procura de combustíveis fósseis cresce rapidamente, seguida por um aumento das emissões de gases com efeito de estufa. Estes dois factores aumentam a probabilidade de acontecerem crises de fornecimento e de se assistir a uma degradação nas condições ambientais. De modo a lidar com a segurança do fornecimento e com a contínua busca de baixos custos energéticos, o sistema acelera o desenvolvimento de novas tecnologias. Enquanto a primeira fase do cenário é orientada para as tecnologias baseadas em combustíveis fósseis, na segunda parte do horizonte temporal do cenário emergem também tecnologias não baseadas em combustíveis fósseis. Palavras‐chave: mudança tecnológica rápida; reduzida preocupação ambiental; crescimento económico rápido; prioridade questões energéticas; preferência pelos combustíveis fósseis.
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Bright skies Este cenário caracteriza‐se por uma rápida mudança tecnológica e por uma forte preocupação, da parte da população e dos decisores políticos, pelo ambiente global. Destaca‐se um crescimento global do PIB próximo dos valores apresentados nos primeiros dois cenários (tendências de um comércio robusto e liberalização de mercados), e diferenças de rendimento mais limitadas entre regiões e entre países. Como resultado, os preços da energia irão ser, no geral, um pouco mais elevados do que no segundo cenário, mas mais baixos do que no primeiro. Neste cenário, os governos dos países desenvolvidos concordam em lidar com a ameaça das mudanças climáticas de uma forma coordenada, e em agirem de modo a reduzirem e a reverterem as tendências actuais das emissões de gases com efeitos de estufa. Em devido tempo, os países em desenvolvimento juntam‐se a este processo, e concordam em tomar compromissos severos no controlo das emissões dos gases e sua redução. A nível doméstico, as acções tomadas pelos países desenvolvidos encorajam a redução das emissões energéticas relacionadas com os gases de efeito de estufa e a abrir caminho à disponibilização e utilização de recursos, tanto governamentais como privados, para o desenvolvimento de novas tecnologias que reduzam o efeito das alterações climáticas. Estes esforços produzem um conjunto de resultados tecnológicos positivos, que possibilitam o cumprimento de objectivos ambientais, e realçam ainda a segurança energética enquanto mantêm os preços relativamente baixos. Palavras‐chave: rápida mudança tecnológica; forte preocupação ambiental; acção coordenada; mitigação efeitos alterações climáticas; resultados tecnológicos positivos; cumprimento objectivos ambientais; segurança energética.
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PROJECTO 17 The Outlook – Towards 2015 and Beyond
United Nations Environment Programme (UNEP) – GEO 4 – Global Environment Outlook Data Publicação: 2007 Horizonte Temporal: 2050 Foco Estratégico: Ambiente http://www.unep.org/geo/geo4/media/ (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: • Reacção às alterações ambientais Como vão os principais actores agir perante as alterações ambientais?
Configuração 1: “Reacção proactiva” Configuração 2: “Reacção reactiva” • Sensibilidade do sistema ambiental “Sensibilidade” do sistema ambiental face às crescentes concentrações de gases que contribuem para o efeito de estufa Configuração 1: “Sensível” Configuração 2: “Resiliente”
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
Reacção às alterações ambientais
Sensível
Reactiva Proactiva
Resiliente
Sensibilida
de ambien
tal aos GEF
Sustainability
First
Security
First
Policy
First
Markets
First
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OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: • Estruturas institucionais e sociopolíticas:
‐ Qual a escala dominante na tomada de decisão? ‐ Qual a natureza e o nível de cooperação internacional? ‐ Qual a natureza e o nível de participação pública na governança? ‐ Qual o nível geral e a distribuição do investimento governamental em diversas áreas,
como por exemplo saúde, educação, militar, I&D? ‐ Qual a natureza e o nível oficial de ajuda ao desenvolvimento? ‐ Até que nível se assiste a uma generalização de políticas sociais e ambientais?
• Demografia: ‐ Que acções são tomadas relacionadas com a migração internacional? ‐ Quantas crianças as mulheres querem ter, quando a escolha lhes cabe?
• Necessidades económicas, mercado e comércio: ‐ Que acções relacionadas com a migração internacional são tomadas? ‐ Até que ponto há ênfase na especialização sectorial vs. diversificação na economia? ‐ Até que ponto as pessoas escolhem trabalhar na economia formal? ‐ Qual o nível geral e ênfase da intervenção do governo na economia?
• Inovação científica e tecnológica: ‐ Quais os níveis, fontes e ênfases do investimento da I&D? ‐ Qual a ênfase em termos de tecnologias energéticas? ‐ O que é feito em respeito e acesso e disponibilidade de novas tecnologias?
• Sistemas de valor: ‐ Que acções relacionadas com a homogeneização cultural face à diversidade? ‐ Qual o ênfase dado ao individualismo face à comunidade? ‐ Qual a posição relativa das prioridades em conflito no ramo das pescas? ‐ Quais as prioridades chave a respeito das áreas protegidas? ‐ Como é que as necessidades de recursos mudam, independentemente da variação dos
preços e dos rendimentos? Figura 6
Fonte: The Outlook – Towards 2015 and Beyond, United Nations Environment Programme – GEO4 – Globa
Environment Outlook, pp. 402
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SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Markets First A característica dominante deste cenário reside na fé tremenda de que os mercados podem garantir avanços não só económicos, mas também a nível social e ambiental. Isto pode assumir várias formas: um maior papel ao sector privado em áreas que foram anteriormente dominadas pelos governos, um movimento continuado rumo ao comércio livre, e a comoditização de bens relativos ao ecossistema. De facto, o sector privado, com apoio governamental activo, procura o máximo de crescimento económico, e encara‐o como o melhor caminho para melhorar o ambiente e o bem‐estar humano. Em busca de eficiência económica e de uma redução do fardo fiscal, muitos governos privatizam serviços no domínio da educação, saúde e outros serviços sociais, a par do domínio crescente das organizações privadas na área da I&D. Acelera‐se o comércio internacional, e cresce a cooperação económica internacional. Os esforços para o aumento da privatização e do comércio são acompanhados por um aumento de medidas que visam a comoditização e mercantilização de bens do ecossistema, como a água, material genético, conhecimento tradicional e cultura. No entanto, diminuem os progressos de uma protecção ambiental formal, pois esta compete directamente com os esforços de um maior investimento económico e expansão do comércio. São desvalorizados os ideais de um ambiente sustentável e outras grandes decisões políticas sobre desenvolvimento sustentável. Os efeitos consequentes são visíveis em muitos aspectos da sociedade e do ambiente, pois uma economia em crescimento implica uma procura insaciável de energia e o domínio dos combustíveis fósseis, e os esforços limitados para reduzir as emissões de CO2 resultam num crescimento destas, por todo o mundo. Neste cenário, coloca‐se uma questão chave: quão arriscado será colocar os mercados em primeiro lugar? Palavras‐chave: importância dos mercados; ascensão sector privado; comércio livre; privatizações; cooperação económica internacional; desvalorização questões ambientais; elevada procura energética. Policy First A característica dominante deste cenário assenta numa abordagem altamente centralizada visando o equilíbrio entre o forte crescimento económico e a diminuição do potencial ambiental e dos impactos sociais. O governo, com apoio activo dos sectores privado e da sociedade civil, inicia e implementa fortes políticas, numa aproximação do tipo “top‐down”, para melhorar o ambiente e o bem‐estar humano, enfatizando simultaneamente o desenvolvimento económico. Existe uma concertação de esforços rumo à resolução dos problemas urgentes com que o mundo se depara, entre os quais o das alterações climáticas. Esta questão, e os impactos que lhe são associados, são tidos como uma preocupação prioritária. Opta‐se por uma abordagem mais “holística” à governança, em particular na gestão da economia. O crescimento económico é visto como necessário, mas não é mais encarado de forma isolada, dando‐se uma crescente importância aos impactos sociais e ambientais que lhes são intrínsecos. Destaque para os esforços dos governos nacionais e das instituições internacionais na resposta ao desafio ambiental, e à crescente integração económica e política nas várias regiões e acordos internacionais. Coloca‐se, no entanto, a questão de saber se o carácter lento e incremental desta abordagem será adequado. Palavras‐chave: abordagem centralizada; políticas “top‐down”; crescimento e desenvolvimento económico; menor impacto ambiental; combate prioritário às alterações climáticas. Security First A característica dominante neste cenário é a ênfase na segurança, que consistentemente se sobrepõe a outros valores. É, no entanto, uma noção de segurança bastante restrita, na medida em que pressupõe maiores limites ao modo como as pessoas vivem. Governo e sector privado competem nos esforços para melhorar, ou pelo menos manter, o bem‐estar humano principalmente para os ricos e poderosos da sociedade. Este cenário, que também poderia ter o nome de “Me First”, tem o seu foco numa minoria de pessoas com elevado rendimento.
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Os governos, particularmente os que mantêm um forte controlo a nível nacional, continuam a desempenhar um forte papel na tomada de decisões, mas estão cada vez mais influenciados pelas empresas multinacionais e outros interesses privados. Muitos governos entregam a provisão de serviços públicos a interesses privados para melhorar a eficiência e poupar custos. Trata‐se de um mundo onde se verificam limitações às migrações e ao movimento da população, e as barreiras ao comércio limitam o movimento de bens através das fronteiras. As instituições internacionais, tanto a nível regional como global, vêem a sua autoridade em declínio, e a participação pública e o papel do sector civil, tanto a nível doméstico como internacional, são cada vez mais marginalizados. Sem surpresa, a governança ambiental sofre com estas mudanças: tendendo a ser “bem‐sucedida” normalmente para benefício de sectores particulares da sociedade. Há pouco interesse na resolução dos desafios ambientais, traduzindo‐se numa baixa eficiência energética, reduzida protecção de áreas ambientais, intensiva utilização de combustíveis fósseis, aumento das emissões de CO2 face ao aumento da procura dos recursos, por parte da população. Palavras‐chave: prioridade à segurança; limitações nos modos de vida; controlo governamental; influência dos interesses privados; menor participação pública e das instituições internacionais; reduzido cuidado ambiental. Sustainability First A característica dominante deste cenário é a assunção de que os actores, a todos os níveis (local, nacional, regional e internacional), e de que todos os sectores, incluindo o governamental, privado e sociedade civil, cumprem, de facto, os compromissos assumidos até à data tendo em vista lidar com as preocupações ambientais e sociais. Determinados grupos dos sectores privados e civis, bem como alguns indivíduos chave com recursos pessoais significativos não esperam pela acção dos governos para agirem, acabando por adquirir um papel importante na sociedade. De facto, o Estado, o sector privado e a sociedade civil em geral colaboram entre si para melhorar o ambiente e o bem‐estar humano, com uma forte ênfase na equidade. Igual peso é dado a políticas ambientais e socioeconómicas, valores como a responsabilidade, transparência e legitimidade são acentuados por todos os actores. Tal como no cenário “Policy First”, o processo político ambiental é avaliado em níveis diferentes, incluindo fortes esforços para implementar as recomendações e acordos rumo a uma sociedade sustentável. São conduzidas reformas em instituições nacionais e internacionais, dando lugar a uma participação mais equilibrada. O mundo assiste a uma significativa alocação dos recursos públicos com vista à resolução de preocupações sociais e ambientais, assim como a uma maior integração destas questões na tomada de decisões governamentais. É enfatizada a aposta no desenvolvimento de parcerias público‐privadas eficazes, não só no contexto de projectos mas também para a governança, garantindo que os “stakeholders” providenciam “inputs” estratégicos para a produção e implementação de políticas. Há, porém, um reconhecimento de que estes processos levam tempo e os seus impactos terão lugar mais a longo prazo do que a curto prazo. Palavras‐chave: cumprimento compromissos ambientais; acção governamental e do sector privado; ênfase na equidade; sociedade sustentável; condução de reformas; alocação recursos públicos.
OBSERVAÇÕES:
‐ Inclui cenários quantitativos.
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PROJECTO 18 Horizons 2020 – A Glimpse of Things to Come
Siemens – Pictures of the Future Data Publicação: 2004 Horizonte Temporal: 2020 Foco Estratégico: Tecnologia http://www.siemens.com/innovation/en/publikationen/publications_pof/pof_fall_2004/horizons2020.htm (consultado em 22/03/2011) OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: Tendências Pesadas: • Globalização crescente; • Crescente longevidade; • Menor número de crianças; • Maior importância das mulheres nas empresas e na sociedade; • Livre escolha do estilo de vida; • Crescente importância das comunidades virtuais; • Networking dos meios de comunicação; • Crescente mobilidade (“deslocalização”); • Crescente migração para a Europa; • Aceleração da criação de conhecimento tecnológico e dos ciclos dos produtos. SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Horizon 1: The decelerated society Descreve um desenvolvimento tipicamente relacionado com a tradição Europeia, com um Estado relativamente forte e uma sociedade que valoriza a solidariedade e a sustentabilidade. Tal sociedade está disposta a aceitar um ritmo mais modesto de crescimento económico, juntamente com as consequências associadas no seu sistema de segurança social. Os governos nacionais, corpos políticos e as sociedades desenvolveram soluções sustentáveis para os problemas da saúde, educação e cuidados com os idosos. Também encontraram formas de garantir segurança legal e proteger os cidadãos, de uma forma efectiva, contra o terrorismo. Ainda não se expandiu, por completo, uma “Europa dos 35 Estados”, mas a Europa é ainda assim uma ilha pacífica que flutua num oceano global caótico, em contraste com outras associações de estados e blocos económicos. Em geral, os Europeus confiam nos seus governos, partidos políticos e uniões sindicais. As suas atitudes básicas são conservadoras, e tendem a confiar em instituições conservadoras. São cépticos quanto a grandes mudanças e à imigração de não Europeus. Nesta sociedade, valoriza‐se uma economia altamente responsável do ponto de vista social, tal como a qualidade ambiental de topo e uma partilha da tradição cultural Europeia. Há um sentimento generalizado de responsabilização pelas gerações vindouras, pelo que as tecnologias amigas do ambiente são muito populares e um planeamento económico sustentável é procurado e activamente promovido. A tendência, na maior parte da Europa, é de “desaceleração”, na medida em que as pessoas estão a colocar um travão nas suas necessidades, como resposta necessária à competição global, em parte por uma questão de livre escolha. De facto, o crescimento económico é lento, e a Europa depara‐se com a força competitiva dos países emergentes asiáticos. O consumo deixou de ser um símbolo do estatuto, e o estilo de vida da população tornou‐se mais deliberado, calmo e socialmente seguro, pois as diferenças nos rendimentos entre ricos e pobres estão a reduzir‐se gradualmente. Além disso, existe uma maior variedade de modelos de trabalho que se podem escolher e que permitem uma nova combinação entre os períodos de trabalho, aprendizagem e de lazer.
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Palavras‐chave: Estado forte; solidariedade e sustentabilidade; modesto ritmo de crescimento económico; soluções sustentáveis; Europa pacífica; responsabilidade social; planeamento económico sustentável; desaceleração. Horizon 2: The performance‐oriented “Me” Society Esboça uma sociedade economicamente dinâmica, feita de mercados e concorrência globais. Para além de ser muito flexível, tal sociedade tem de estar preparada para aceitar um elevado nível de responsabilidade individual e um maior risco social. Esta sociedade distingue‐se, no ano de 2020, pela sua dinâmica de economia de mercado. Os estados nacionais definem, agora, apenas a estrutura de regulação e restringem os seus serviços ao mínimo de apoio estatal no domínio da segurança social. E porque as tentativas de reformas governamentais na educação, saúde e fundos de pensões falharam, estas áreas têm sido tomadas pelas empresas privadas, que são responsáveis, cada vez mais, por várias destas áreas na sociedade. Os sectores da saúde e da segurança são os motores mais fortes que conduzem a economia. A par da retirada do papel do estado, emerge a ênfase na responsabilidade individual, motivação para a conquista e a flexibilidade. A auto‐realização é encarada como o objectivo mais elevado e o consumo é um valor em si mesmo. No geral, empresas e indivíduos lutam por favorecerem os seus próprios interesses, sendo os modos de vida nesta sociedade caracterizados por uma excessiva competição e reduzido compromisso para com as estruturas permanentes e, nesse sentido, parcerias tanto privadas como profissionais tanto são rapidamente formadas como facilmente dissolvidas. No geral, todos estes desenvolvimentos levam a um aumento dos problemas sociais, e as pessoas que são “pobres em termos de tempo disponível e ricas financeiramente” contrastam com os que são “ricos em termos de tempo disponível e pobres financeiramente”. Graças ao desenvolvimento da sociedade do conhecimento, alcançou‐se um crescimento económico constante e, consequentemente, as quantias de rendimento disponível aumentaram, havendo ainda algum espaço para o consumo privado apesar da pressão para o financiamento privado na saúde, planos de pensões, mobilidade e segurança. Cada geração tornou‐se a prioridade de topo e, como resultado, assuntos globais que afectem mais do que uma geração são raramente visados. Consequentemente, a competição global por recursos (energia, água e alimentos), é a preocupação central enquanto que à questão da protecção climática, embora seja considerada um importante valor na sociedade, não é dispensada a devida importância, nem a maioria da população está preparada para pagar um elevado preço pelo combate às alterações climáticas. Palavras‐chave: dinâmica de economia de mercado; individualidade; risco social; reduzida intervenção estatal; auto‐realização; aumento dos problemas sociais; crescimento económico constante; competição por recursos; ausência combate às alterações climáticas.
Figura 7
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Fonte: Horizons 2020 – A Glimpse of Things to Come, Siemens – Pictures of the Future, pp. 6‐7
OBSERVAÇÕES:
‐ O documento publicado fala de 76 descritores críticos (áreas nas quais os peritos se dividiam
em dois campos opostos – ou seja, incertezas), sem, no entanto, indicar quais são. O processo
de definição das incertezas assemelha‐se a um Delphi.
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PROJECTO 19 Climate Futures – Responses to climate change in 2030
Forum for the Future & Hewlett Packard Labs Data Publicação: 2008 Horizonte Temporal: 2030 Foco Estratégico: Ambiente http://www.forumforthefuture.org/projects/climate‐futures (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: • Impactos directos das alterações climáticas (e as previsões científicas desses futuros
impactos); • Atitudes públicas em relação às alterações climáticas (da parte da sociedades em geral e
de sectores específicos da sociedade); • Resposta da comunidade empresarial (o grau de compromisso da comunidade empresarial
internacional face ao desafio das alterações climáticas); • Natureza da economia global (o estado e a dinâmica da economia global); • Disponibilidade de recursos naturais (bem como o preço destes, em particular do
petróleo); • Resposta política, a nível nacional e internacional (atitude dos governos nacionais face às
alterações, e os formatos de qualquer acordo internacional); • Quais as tecnologias que são desenvolvidas e utilizadas (o grau de investimento e esforço
em soluções tecnológicas para as alterações climáticas, e quão bem‐sucedidas são).
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Efficiency first Rápida inovação na eficiência energética e novas tecnologias permitiram uma economia baixa em emissões de carbono, quase sem necessidade de mudanças nos modos de vida ou na prática empresarial. O poder da inovação revolucionou a economia. A transformação baseada na alta tecnologia e no baixo carbono implicou cortes muito significativos nas emissões de gases com efeitos de estufa, permitindo simultaneamente manter o crescimento económico. Por todo o mundo, soluções empresariais inovadoras surgem para dar resposta à procura insaciável de oito mil milhões de pessoas que consomem cada vez mais, são cada vez mais ricas e vivem durante mais anos. O resultado é o de um mundo cada vez mais individualista, consumista e rápido. Elevados níveis de crescimento económico na economia global, durante décadas, foram apenas interrompidos por recessões relativamente menores, relacionadas com a disponibilidade de recursos, e o crescimento no Sul revelou‐se particularmente acentuado. No entanto, os níveis gerais de crescimento camuflam a crescente divisão entre ricos e pobres. O mundo parece próximo do “sobreaquecimento”, mas de alguma maneira, continua a desenvolver novos instrumentos eficientes e modos mais sofisticados de agir nas várias situações. Alguns poderão chamar‐lhe a época de ouro da tecnologia e da liberdade, mas outros encaram‐na como um castelo de cartas bastante trémulo. Palavras‐chave: inovação tecnológica; eficiência energética; redução emissões de carbono; revolução tecnológica; crescimento tecnológico; respostas ao consumismo; instrumentos eficientes.
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Service transformation Um elevado preço do carbono conduziu a uma revolução no modo como as necessidades das populações são satisfeitas. O carbono é uma das commodities mais importantes do mundo de hoje, em torno da qual se desenham novos modelos de negócio e instrumentos financeiros por toda a economia global. Este é um novo tipo de mundo consumista, com uma ética de “partilha com os vizinhos”. A Europa liderou o caminho com a sua “Iniciativa para a Independência Energética”, catalisada pelas preocupações sobre a segurança energética, tendo os novos modelos bem‐sucedidos de infra‐estruturas e negócios sido exportados para todo o mundo. Nos dias de hoje, máquinas de lavar roupa são demasiado dispendiosas, por isso os serviços de lavagem colectiva da roupa são mais populares. A posse individual de um carro torna‐se insustentável e indesejável, mas o aluguer de bicicletas e de automóveis estão em expansão e o transporte público em massa é altamente bem‐sucedido. A Índia funciona como um “hub” global de serviços, tendo dado prioridade à instalação de redes de acesso à Internet nas suas vilas em vez de investimentos nas estradas. A profunda transformação nos negócios revelou‐se dolorosa para alguns, com o crescimento do desemprego nos antigos sectores altamente dependentes de carbono. A herança do individualismo deixada pelos EUA – desde uma expansão urbana até à inovação baseada em tecnologia limpa – resultou numa luta competitiva para lidar com a retirada do carbono na economia. As mega‐cidades emergentes tentam lidar com este fenómeno e a escassez de petróleo é um enorme problema. Palavras‐chave: elevado preço carbono; retirada carbono da economia; revolução modelos de negócio; venda de serviços. Redefining progress Novas prioridades no “bem‐estar” e na “qualidade de vida” estão a surgir pelo mundo, à medida que modos de vida mais sustentáveis se vão estabilizando. Esta é uma “economia do bem‐estar” que valoriza altamente o trabalho útil, estilos de vida que impliquem menores impactos ambientais, mais tempo com a família e amigos, melhores resultados na saúde, experiências educativas criativas e um espírito de comunidade mais forte. Os países dão cada vez mais prioridade à resiliência económica e social em vez de se centrarem no crescimento económico. Durante a depressão global de 2009‐2018 as pessoas foram forçadas a reduzir o consumo e a priorizar o modo como se dá resposta às necessidades imediatas. As comunidades favoreceram o conhecimento local e viraram‐se para os seus próprios membros para providenciarem bens e serviços. Quando o mundo emergiu da depressão, estes novos modos de vida sobreviveram: desde reduzidos impactos nos estilos de vida até redes avançadas que, informalmente, dão resposta às necessidades a nível local. Esta não é uma sociedade pós‐capitalista: as pessoas trabalham, consomem e obtêm lucros nos mercados. Os cidadãos encaram o dinheiro como um meio para atingir diversos fins e os governos activos regulam a economia de modo firme. As comunidades não experienciam isolamento face ao mundo exterior, pois os indivíduos encontram‐se intensivamente interligados, por todo o mundo, através de comunicações locais: as diferentes culturas aprendem umas das outras, as mentalidades de Leste misturam‐se com as do Ocidente, e várias comunidades de fé celebram acordos em torno da defesa de padrões de consumo simplificados e de modos de vida mais sustentáveis. Mas a felicidade não é universal. Os “parasitas”, rápidos em abusar da boa vontade dos outros, aproveitam‐se dos acordos colectivos, saqueiam recursos e exploram os vulneráveis. Várias grandes cidades estabeleceram‐se como “refúgios do verdadeiro capitalismo” e alguns governos adoptaram uma posição agressiva “pró‐crescimento”. Nas comunidades que sofreram mais com a depressão, muitas pessoas pobres e excluídas permaneceram isoladas, evitando ofertas de apoio numa luta diária de sobrevivência. Palavras‐chave: modos de vida sustentáveis; “economia do bem‐estar”; resiliência económica e social; secundarização crescimento económico; redução do consumo; acção local; interligação entre comunidades.
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Environmental war economy Medidas severas foram adoptadas no combate às alterações climáticas levando os mercados até aos seus limites. Este é um mundo que acordou para a questão das alterações climáticas. Os esforços para o surgimento de um acordo pós‐Quioto esmoreceram e, em vez de um entendimento, as diferentes regiões do mundo seguiram as suas próprias ideias. Mas quando os impactos ambientais começaram a piorar, o mundo voltou a entender‐se em conjunto. Em 2017 um pacto global foi assinado, mas mesmo assim a comunidade política global foi forçada a reactivar estratégias. Os governos começaram a apostar em políticas severas capazes de transformarem o modo como os negócios funcionam e como as pessoas vivem as suas vidas. Com o passar do tempo, o estado desempenhou um papel cada vez mais forte, racionalizando sectores da indústria para que reduzissem os seus impactos para as alterações climáticas, e até na colocação de “Medidores de Carbono” nas casas das pessoas, para se controlar o seu uso energético. Os governos pressionam os mercados no limite daquilo que aqueles podem proporcionar. Em diferentes modos e em vários países, as economias foram forçosamente reorientadas para se concentrarem em lidar com as alterações climáticas, como acontece muitas vezes em tempos de guerra. Mas em muitos casos isso acontece gradualmente, ao longo do tempo, com os cidadãos a renunciarem ao controlo das suas vidas pouco a pouco e não de forma abrupta, enquanto os regimes de trocas, lei internacional, modos de vida e negócios responderam à crescente crise ambiental. Assim, em 2030, as emissões de gases com efeitos de estufa começaram a descer, mas os custos ao nível da liberdade individual têm sido elevados. Palavras‐chave: combate às alterações climáticas; medidas governamentais severas; controlo emissões carbono; pressão dos mercados; reorientação económica; custos elevados na liberdade individual. Protectionist world A globalização entrou em recuo e os países privilegiam a segurança e o acesso aos recursos a qualquer custo. A globalização entrou numa fase de recuo histórico num mundo dividido. Apesar do Acordo Climático de 2012, as acusações de se ser “fraudulento” nos mercados do carbono e de existirem estações eléctricas “ secretas” e não declaradas, levaram a que a cooperação tivesse colapsado em diferentes facções. Uma resposta às alterações climáticas pobremente coordenada, combinada com guerras violentas sobre recursos, fracturou o mundo em blocos proteccionistas. As alterações climáticas funcionam como um amplificador de risco, junto de comunidades tensas que não estão preparadas para os seus impactos. A competição e o conflito resultantes levam à subida de preços, desencorajam o comércio, dificultam o planeamento a longo prazo e espalham doenças que geram fome e miséria em larga escala. Os governos privilegiam o acesso às suas fontes de aprovisionamento, reservando activos, restringindo exportações e protegendo as suas próprias economias através de elevadas tarifas sobre as importações. Facções violentas e ciber‐terroristas tiram proveito deste caos para promover e fundamentar as suas causas nacionalistas – surgem casos de disputa por recursos, paralisação de redes de comunicação, e o lançamento de ataques bioquímicos ocasionais mas devastadores. As comunicações globais tendem a fragmentar‐se. Um pequeno grupo de académicos preserva uma rede global, com o sonho de “reunir” o mundo. No entanto, a experiência para muitos traduz‐se em dificuldades financeiras e mercados vazios, numa escalada do nacionalismo e segurança restritiva, e conflitos sobre reservas consideradas valiosas. Palavras‐chave: recuo da globalização; foco na segurança; colapso da cooperação internacional; efeitos alterações climáticas; guerras sobre recursos; blocos proteccionistas; riscos dos impactos das alterações climáticas; conflitos generalizados.
OBSERVAÇÕES:
São cenários globais. Incluem timelines para cada cenário e um capítulo sobre implicações.
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PROJECTO 20 Deciding the Future: Energy Policy Scenarios to 2050
World Energy Council Data Publicação: 2007 Horizonte Temporal: 2050 Foco Estratégico: Energia http://www.worldenergy.org/documents/scenarios_study_online.pdf (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES: • Compromisso governamental Este cenário é marcado por uma ideia de “compromisso governamental”. Por um lado, a política ambiental pode apoiar a competição no sector privado, libertando todo o potencial dos mercados, mas por outro lado, os governos poderão compensar a falta de iniciativa privada. Este estudo reflecte‐se nos três aspectos chave do papel do governo no desenvolvimento do sistema energético: compromisso, envolvimento e interferência. Compromisso ocorre quando os governos estão totalmente a par do que se passa, quais os assuntos em discussão, e o que é exigido destes. Passa por fazer o que é necessário para assegurar que o sistema energético funcione optimamente. Envolvimento ocorre quando os governos levam a cabo um número de funções, possivelmente em competição com outros prestadores/fornecedores. Isto pode distorcer o mercado devido à desigualdade no poder. Interferência ocorre quando as acções ou regulações do governo são tão inoportunas que afectam o mercado negativamente, sendo que os sistemas de energia não são desenvolvidos de forma tão efectiva e eficiente como poderiam ser de outro modo. Configuração 1: “Elevado” Configuração 2: “Baixo” • Cooperação/Integração Alianças e iniciativas cooperativas entre as pessoas permites‐lhe sobreviver e prosperar. Em alguns casos, a cooperação é conduzida devido à necessidade mútua de lidar com um problema comum; noutros casos, é conduzida pela necessidade de partilhar recursos complementares e sabedoria para benefício mútuo. Qualquer que seja a razão subjacente, existiu sempre algum grau de cooperação e de integração no desenvolvimento da energia, por vezes apenas bilateralmente, com frequência regional, em alguns casos internacionalmente, e a uma escala global. Este estudo reflectiu sobre três formas de cooperação e de integração: primeiro, há uma cooperação de governo para governo, sob a forma de tratados ou acordos internacionais, por exemplo em padrões ou regras de comércio; em segundo, há parcerias público‐privadas para desenhar programas específicos ou esquemas regulações para atingir objectivos políticos específicos; e em terceiro lugar, há acordos de empresa para empresa, por exemplo no desenvolvimento de novas tecnologias ou acordos voluntários para visar objectivos comerciais específicos. Configuração 1: “Elevada” Configuração 2: “Baixa”
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ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: Os 3 A, relativos à energia:
• Acessibilidade (energia moderna e acessível para todos),
• Disponibilidade [(energia disponível em termos de continuidade, quantidade e confiança), em Inglês, Availabitity] e
• Aceitação (em termos de objectivos sociais e ambientais). Temas chave relacionados com a energia:
• Pressões do fornecimento;
• Pressões da procura;
• Pressões ambientais;
• Pressões políticas. SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Leopardo Tal como o leopardo, neste cenário o mundo olha apenas por si, não coopera, observa o ambiente em busca de oportunidades e é rápido a agir quando as vê. Na maior parte do tempo, mantém‐se no seu território, para o proteger, e interage muito pouco com outros animais, não partilhando alimentos com outros da sua espécie. Este cenário pode ser considerado como sendo “laissez‐faire” ou simplesmente “contido”. Este cenário apresenta o menor compromisso governamental, a par de uma reduzida cooperação e integração global ou regional. O desenvolvimento económico doméstico é o principal driver, sustentado pela segurança energética doméstica. As forças do mercado mundial e do comércio livre tendem a ser dificultadas por barreiras nacionais que protegem a produção local, mas que podem levar a preços mais
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elevados e menor eficiência. O compromisso governamental é constrangido e há poucas taxas e subsídios. Muitos países industrializados estão relutantes em levar a cabo reformas estruturais e continuam a depender de políticas de sociais, aumentando o desemprego e limitando o dinamismo económico. A maioria dos países em desenvolvimento vê o seu crescimento económico limitado pela falta de políticas equitativas em termos de igualdade de género, educação, telecomunicação, electricidade, água, saúde e infra‐estruturas (como estradas, gasodutos e redes eléctricas). O reduzido nível ou falta de compromisso governamental e de cooperação internacional resultam numa dificuldade de reacção atempada e decidida a eventos extremos como choques energéticos ou recessões mundiais. No entanto, a capacidade das forças de mercado na promoção de novas tecnologias mitiga esses impactos nos países que têm recursos internos que lhes permitem financiar a inovação. A falta de cooperação internacional reforça a espiral de pobreza nos países em desenvolvimento. Palavras‐chave: laissez‐faire; reduzido compromisso governamental; reduzida cooperação e integração; desenvolvimento económico; segurança energética; protecção produção local; relutância nas reformas; reduzida equidade nas políticas; reduzida proactividade. Elefante O elefante é um animal social onde a hierarquia familiar é importante. No entanto, embora a unidade familiar seja forte, há pouca inclinação para cooperar entre famílias e estas esforçam‐se por se manterem auto‐suficientes. O elefante tem também muito boa memória e, apesar de uma existência muito estruturada, é muito lento a adaptar‐se. Este cenário pode ser catalogado com termos como o da governança ou o da segurança energética nacionalista. Neste cenário existe um compromisso governamental significativo mas uma cooperação e integração global ou regional mínima. A primeira prioridade é a da segurança energética para apoiar a actividade económica e o crescimento. Os governos intervêm e os países tomam responsabilidade pela sua segurança energética (a curto, médio e longo prazo) através de acções como a diversificação de recursos energéticos primários, desenvolvimento de recursos indígenas, controlo de exportações e/ou assegurar as importações através de negociações bilaterais. Tomam‐se acções para responder à possível escassez de recursos e para assegurar as fontes de fornecimento domésticas, sendo que os países agem de forma isolada para atingir a sua segurança energética. Este cenário não termina com a globalização, mas cria desafios para os bens trocados a nível internacional, que anteriormente eram mais baratos sob as regras da globalização e do comércio livre. Esta viragem para as necessidades domésticas nacionais catalisa o desenvolvimento das capacidades internas e limita o papel das instituições internacionais (como a ONU), fazendo com que os programas globais se revelem menos eficazes do que poderiam ser. Os países estão muito mais preocupados com os seus próprios interesses, o que traz um impacto negativo no crescimento económico, pois algumas soluções domésticas são longe do ideal e/ou dependentes de tecnologias mais antigas e menos eficientes. Palavras‐chave: reduzida cooperação; desejo de auto‐suficiência; segurança energética nacionalista; compromisso governamental significativo; cooperação e integração mínimas; resposta individual à escassez de recursos; necessidades domésticas nacionais. Leão A designação “leão” para este cenário surge pela característica da sociabilidade, que define este animal. Os adultos transferem a sua experiência e competência para os novos. Juntar comida através da caça é um esforço cooperativo exigindo um planeamento cuidado, a identificação clara do objectivo e uma execução controlada e disciplinada. Todos os membros de um grupo partilham os resultados. Este cenário pode ser catalogado com termos como o do “energy globalism” ou “coerência global”. Neste cenário existe um compromisso governamental significativo, e níveis elevados de cooperação e integração global ou regional. Os governos partilham activamente a sua experiência e conhecimentos, principalmente para garantir os direitos humanos básicos e reduzir a pobreza. Em alguns casos, isto fortalece as iniciativas de integração regional. Os países cooperam em assuntos energéticos chave sobre o desenvolvimento sustentável e as preocupações globais sobre as emissões de gases com efeito de estufa e a pobreza energética são objecto de intensas negociações e de fortes acordos e programas
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internacionais. No entanto, as medidas para mitigar estas preocupações podem frequentemente entrar em conflito umas com as outras (por exemplo, a mitigação de gases com efeitos de estufa pode aumentar os preços e consequentemente afectar o acesso dos pobres aos bens básicos). Emergem tentativas para a redução dos défices e insuficiências energéticos, bem como novos estímulos para o desenvolvimento de tecnologias eficientes e eficazes, apropriadas às necessidades dos mercados em desenvolvimento. Financiar este trabalho de desenvolvimento e a implementação de tecnologias bem‐sucedidas nos países em desenvolvimento devem ser encorajadas através de políticas energéticas proactivas, cooperativas, acordos intergovernamentais bilaterais e regionais, e incentivos fiscais específicos. Palavras‐chave: “energy globalism”; coerência global; forte compromisso governamental; iniciativas de cooperação e integração; preocupações ambientais globais; redução pobreza energética; desenvolvimento tecnológico; políticas energéticas proactivas. Girafa A girafa, o animal mais alto da Terra, é escolhido porque passeia calmamente através das planícies e vê perigos e oportunidades a grandes distâncias. As girafas são também muito adaptáveis e podem sobreviver sozinhas. A liderança é muito “solta” pois existe uma hierarquia estabelecida. A girafa não é constrangida por uma estrutura social forte e os indivíduos têm grande liberdade de escolha, sendo essencialmente um animal empreendedor e que pode adaptar‐se prontamente a circunstâncias diferentes. É também capaz de se defender, quer correndo pelas suas próprias pernas (evitando conflitos) ou utilizando as suas pernas como armas. Este cenário é marcado pelo mercado e dominado pelas empresas. Neste cenário existe o mínimo de compromisso governamental mas nele é apresentado uma significativa cooperação e integração global ou regional. O principal driver é o desenvolvimento económico, com a preocupação central focalizada na libertação dos mercados globais para promover o crescimento do PIB através da disponibilização de energia a preços acessíveis e a defesa intransigente do comércio internacional. Há uma confiança acrescida nos mecanismos do mercado, incluindo no mundo em desenvolvimento. O envolvimento do governo é limitado (predominantemente direccionado para a regulação do mercado, quando necessário), e existem poucas taxas ou subsídios, bem como poucas restrições no movimento global de bens e serviços. Os governos fazem pouco para a prevenção proactiva de choques energéticos e consequentes efeitos nos países, e o pouco que é feito tende a ser orientado a curto‐prazo. No lado positivo encontra‐se a capacidade das forças de mercado de incentivarem o surgimento de novas tecnologias, o papel de um sector privado com um modelo de governança melhorado, e menos limitações ao seu acesso. Com efeito, a abertura dos mercados e a redução das barreiras ao comércio encorajam a livre movimentação de bens e serviços, enquanto os empreendedores procuram, activamente, entrar nos mercados emergentes e estimular a inovação. Estas trocas incentivadas pelo mercado levam a uma transferência mais rápida de tecnologia e experiências. A preocupação ambiental é levada a cabo a nível local e regional, mas a crescente dependência do carvão e a maior procura de energia aumentam as emissões de gases com efeitos de estufa. Devido à falta de uma política proactiva de intervenção e antecipação governamental, poderão acontecer graves choques energéticos, mas a economia mundial aberta é resiliente e defende‐se das recessões. O sucesso neste cenário depende das tecnologias existentes que aumentem a segurança e reduzam as emissões de gases com efeito de estufa e outros impactos ambientais. Palavras‐chave: mínimo compromisso governamental; significativa cooperação e integração; desenvolvimento económico; liberalização dos mercados; confiança nos mecanismos do mercado; reduzida proactividade; incentivo às novas tecnologias; trocas tecnológicas e de inovação; preocupação ambiental local; economia resiliente. OBSERVAÇÕES: ‐ A metodologia adoptada incluiu um Delphi modificado, a realização de 20 workshops e o envolvimento de cerca de 400 stakeholders da área da energia.
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PROJECTO 21
The Evolving Internet: Driving Forces, Uncertainties and
Four Scenarios to 2025 Global Business Network (GBN) & Cisco
Data Publicação: 2010
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Tecnologia
http://gbn.com/consulting/article_details.php?id=103&breadcrumb=ideas (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Ritmo de Expansão da Rede (alcance e capacidade)
A construção de redes de banda larga será extensiva, enquanto resultado do efeito combinado
entre investimento privado e público, ou mais limitada? Como será a rede global de banda
larga, no seu alcance e capacidade, no ano de 2025?
Configuração 1: “Extensiva”
Configuração 2: “Limitada”
• Progresso tecnológico
O progresso tecnológico será caracterizado mais por avanços disruptivos ou na sua maioria por
avanços modestos incrementais?
Configuração 1: “Avanços Disruptivos”
Configuração 2: “Avanços Incrementais”
• Comportamento do utilizador (informático)
O comportamento do utilizador (incluindo o apetite por aplicações de Internet ainda mais
ricas) será descontrolado ou mais constrangido? Como irão as empresas e indivíduos
relacionar‐se com a Internet e como irão desenvolver‐se as suas preferências?
Configuração 1: “Exponencial/Descontrolado”
Configuração 2: “Constrangido”
Colecção de Cenários Globais
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Figura 8
Fonte: The Evolving Internet: Driving Forces, Uncertainties and Four Scenarios to 2025, Global Business Network & Cisco, pp.13
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: Foram identificadas 14 forças de mudança, as quais se posicionaram na figura tridimensional acima apresentada, a qual foi elaborada a partir das três incertezas cruciais e respectivas configurações. Na lista abaixo cada força de mudança é integrada numa das três incertezas cruciais. ‐ Construção de Redes: • Intervenção e Investimento dos Governos (banda larga enquanto estrutura básica vs.
laissez‐faire) • Acesso à rede (foco na expansão vs. regulação das redes existentes) • Licenças/ Alocação de Espectro (licenciamento dinâmico vs. status quo) • Controlo de conteúdos (pouco frequente vs. generalizado) • Proteccionismo às empresas nacionais de TIC (junto de seleccionadas vs. generalizado) • Padrões (harmonização vs. fragmentação) ‐ Progresso tecnológico: • Custos de produção (queda rápida vs. estagnados ou queda além dos limites) • Avanços tecnológicos significativos (em todas as tecnologias vs. em muito poucas
tecnologias) • Ligação de aparelhos (Internet integra vários serviços vs. telefones e computadores) ‐ Comportamento do utilizador: • Escolhas de privacidade (sempre e tudo visível vs. redução da conectividade permanente) • Fossos geracionais (mudança do paradigma vs. uma miragem) • Despesas em TIC (incluindo aparelhos) (percentagem crescente de gastos vs.
abrandamento dos gastos) • Migração para cloud computing (completa vs. recuos) • Rich content (crescimento exponencial vs. preço flexível)
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ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
A figura seguinte permite visualizar os quatro cenários seleccionados e descritos numa figura
tradicional construída com base nas três incertezas e respectivas configurações.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Fluid Frontiers É um mundo no qual a Internet se infiltra, tornando‐se universal e “centrífuga”. O progresso tecnológico continua a permitir a conectividade e os instrumentos tecnológicos tornam‐se mais acessíveis (apesar do investimento limitado na construção de redes), enquanto o empreendedorismo global – e a competição feroz – asseguram que uma vasta variedade de necessidades e de solicitações de todo o mundo sejam rapidamente respondidas, em instalações e locais muito diversos. No ano de 2025 o impacto da Internet expande‐se por todo o mundo, resultando em ondas de produtividade essenciais para a transformação do desenvolvimento económico e social de inúmeros países, e para a criação de milhões de trabalhos baseados no conhecimento. A nível mais pessoal, a conectividade permitiu às pessoas descobrirem e agirem de acordo com novas afinidades que atravessaram antigas fronteiras geográficas e culturais, transformando a estrutura de relações humanas e de estilos de vida neste processo. É graças a este acesso às comunicações, educação, cuidados de saúde e entretenimento activo de alta qualidade, que é finalmente possível viver e trabalhar em qualquer lugar. As novas tecnologias – e a disseminação de boas práticas e de experiências promissoras através da Internet – ajudaram a tornar a integração da sustentabilidade e do crescimento económico não só idealista, mas realista. Elas beneficiaram todas as partes do planeta, especialmente o Sul. Palavras‐chave: Internet universal e centrífuga; progresso tecnológico; empreendedorismo global; ondas de produtividade global; transformação das relações humanas; acesso livre a bens básicos; benefícios tecnológicos.
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Insecure Growth Este é um mundo no qual os utilizadores – tanto os individuais como os empresariais – se deixaram de ter uma confiança absoluta na Internet. Ciber‐ataques implacáveis, conduzidos por uma série de motivações da mais variada ordem, desafiam as capacidades preventivas dos governos e instituições internacionais. Surgem alternativas seguras mas muito dispendiosas. Em 2025, o sonho da Internet enquanto “grande transformadora”, plataforma virtual através da qual um mundo mais globalizado poderia agir de modo diferente e os negócios poderiam decorrer de formas inimagináveis, simplesmente falhou na sua materialização. De facto, já em 2015 a existência de falhas de segurança e furtos de dados tornaram‐se cada vez mais frequentes e as suas consequências mais sérias. No entanto, a construção de redes continuou a sua marcha pelo mundo, atingindo ainda os locais mais remotos. As infra‐estruturas de rede chegaram a ser encaradas como um ingrediente chave na competitividade nacional, assumindo‐se igualmente que a Internet era uma plataforma fundamentalmente segura, sem qualquer conotação de perigo. Não foram, portanto, tomadas as acções suficientes para prevenir acções fraudulentas e ataques de ciberterroristas, que colocaram em causa a utilização da Internet e o seu nível de segurança. Assistiu‐se como que ao acordar de um sonho partilhado no qual a Internet era “boa” e, embora não se tenha desistido inteiramente dela, foi‐se sendo adoptada uma abordagem mais guerreira e circunspecta. Tornar a Internet segura não era barato e apenas acessível a redes privadas e a comunidades fechadas, pelo que aqueles que não podiam suportar os custos da segurança, limitavam‐se a ser super vigilantes e a limitar o tempo e as actividades “online”. Palavras‐chave: desconfiança na Internet; pouca capacidade preventiva; falhas de segurança; sonho falhado da Internet; abordagem guerreira; limitação da utilização. Short of the Promise É um mundo sóbrio no qual a estagnação económica prolongada a que se assiste em muitos países, implicou um preço a pagar na divulgação da Internet. A tecnologia não proporciona avanços disruptivos surpreendentes que compensem a desvalorização da Internet, e as respostas políticas proteccionistas face às fraquezas económicas ainda tornam a situação pior – tanto em termos económicos como no que respeita à adopção de tecnologias de rede. De facto, em 2025 o mundo da Internet não apresenta boas notícias e até alguma desilusão, se for tido em conta o potencial que lhe era perspectivado em 2010, pois agora “viajar” na Internet serve apenas para as funcionalidades básicas, isto apesar do crescente número de utilizadores e inovações tecnológicas entretanto proporcionadas, bem como os incentivos governamentais realizados para expandir as redes de banda larga e melhorar a qualidade das ligações. No entanto, a recuperação económica falhou na sua consolidação após os sinais promissores de 2010 e 2011, a dinâmica financeira mudou dramaticamente e os indivíduos e empresas tiveram de procurar um reequilíbrio. Também os consumidores mundiais têm que conter os seus gastos, numa sociedade marcada por elevadas taxas de desemprego, população envelhecida e, portanto, com elevados custos sociais. As actividades consideradas de entretenimento são encaradas como supérfluas e, consequentemente, a Internet é útil apenas para as funcionalidades e serviços básicos, mais do que para experiências de lazer, reduzindo as oportunidades de lucro nos negócios. As empresas viraram‐se, portanto, mais do que para a obtenção de lucros, para a gestão dos custos, e a pressão económica e social implacável obrigou muitos governos a tornarem‐se proteccionistas. Em 2025, há um reconhecimento universal de que o potencial da banda larga se resume a um papel de infra‐estrutura básica, logo, há bastante potencial que ainda é ignorado, e subiste a divisão entre os que possuem acesso digital e os que não possuem. Os esforços para disseminar as capacidades e o alcance da conectividade esbarram, portanto, na necessidade de assegurar outras necessidades mais básicas, não havendo qualquer previsão de quando esta situação poderá mudar. Palavras‐chave: estagnação económica; proteccionismo; reduzidos avanços tecnológicos; potencial básico da Internet; redução consumo na tecnologia; gestão dos custos; reduzido alcance da conectividade.
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Bursting at the Seams Este é um mundo no qual a Internet se torna vítima do seu próprio sucesso. A procura de serviços baseados no IP (Endereço de “Internet Protocol”) é ilimitada, mas constrangimentos ao nível da capacidade e estrangulamentos ocasionais criam um fosso entre as expectativas e o uso real da Internet. Entretanto, normas tecnológicas internacionais não são adoptadas, em parte devido a uma forte reacção global contra as décadas de domínio tecnológico dos EUA. Em 2025, a Internet é comparada a uma locomotiva que trabalha além dos seus limites, sobrecarregada com um fardo cada vez mais pesado e com dificuldade para manter o ritmo, no que respeita ao número de utilizadores e conteúdos, que continuam a “empilhar‐se” neste comboio e do qual nunca saem. De facto, estes utilizadores têm elevadas expectativas, exigindo opções e funções que vão bastante além do que as normas, protocolos e infra‐estruturas existentes poderão oferecer. O volume de informação adicional que vem sendo criada é astronomicamente elevado, e precisa de ser organizada, salvaguardada e armazenada. A plataforma da Internet encontra‐se, portanto, a transbordar de conteúdo, de sinais de coordenação e de comunicações básicas que parecem estar prestes a explodir. Entretanto, a noção de que a Internet deveria ser considerada um bem básico para o Homem, ganhou um apoio maior e mais alargado. Se a Internet era encarada como essencial para o desenvolvimento económico nacional e para a concretização de uma larga fatia de serviços como da educação e dos cuidados de saúde, os seus defensores proclamavam que um livre acesso individual iria acelerar o progresso. Porém, esta visão levou a que surgisse um paradoxo, pois os congestionamentos destes sistemas vieram atrasar ou prejudicar o acesso a estes bens básicos a muitos indivíduos com menos posses. No entanto, a questão que se impõe a todos, no ano de 2025, é “O que virá a seguir?”. A população encontra‐se viciada na conectividade, e todos – literalmente todos – contam com a sua expansão. Mas as limitações são demasiado óbvias para ignorar e ninguém sabe como subir para o próximo degrau, subsistindo a especulação sobre qual a direcção e progresso das alternativas para o caminho da Internet. Palavras‐chave: procura ilimitada; sobrecarga no uso da Internet; elevadas expectativas; excesso de informação; congestionamento dos serviços; especulação sobre o futuro.
OBSERVAÇÕES:
‐ A descrição dos cenários é feita através da descrição de Roleplays de 3 indivíduos em cada
um dos três cenários, seguindo‐se um capítulo com a apresentação das implicações
estratégicas dos cenários.
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PROJECTO 22
Scenarios for the Future (2025) European Patent Office
Data Publicação: 2007
Horizonte Temporal: 2025
Foco Estratégico: Propriedade Industrial
http://www.epo.org/topics/patent‐system/scenarios‐for‐the‐future.html (consultado em 22/03/2011)
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA: Neste estudo não foram autonomizadas e identificadas incertezas cruciais. Os Cenários resultam de cinco grandes forças motrizes (apresentadas em seguida) e da forma como as mesmas se relacionam entre si. • Poder: Com a emergência de novos e poderosos players, quem tem poder e autoridade? ‐ As Corporações Multinacionais? ‐ As Organizações da Sociedade Civil e ONGs? ‐ As Organizações Internacionais? ‐ Ou outros, tais como os gabinetes de transferência de tecnologia (Technology Transfer Offices – TTO’s) ou as empresas de licenciamento e defesa de patentes (denominadas, na gíria, por “trolls”)?
• Selva Global: No momento em que as leis da selva global tomam forma, quem vai sobreviver? E por quanto tempo?
‐ Que países, regiões, hotspots? ‐ Que sectores do mercado e modelos de negócio? ‐ Que força de trabalho global? ‐ Que empresas e universidades? ‐ Que culturas? • Velocidade da mudança: Como podem os humanos e as suas instituições adaptar‐se para
lidar com o ritmo da mudança? ‐ A avalanche de tecnologia? ‐ A inércia institucional e humana? ‐ O sistema de Propriedade Intelectual? • Riscos sistémicos: Conforme a sociedade global se torna cada vez mais confiante em
sistemas complexos interligados, onde estão os pontos de inflexão que os ameaçam? ‐ Nos riscos para as necessidades humanas (exemplos: energia, água, comida, saúde)? ‐ Nos riscos para sistemas essenciais (exemplos: sistemas informáticos que gerem o comércio, a energia, as comunicações, a economia, as finanças, a política e as viagens)? ‐ Nos riscos de segurança (exemplos: terrorismo, criminalidade a nível informático, conflitos armados)? ‐ Nos riscos éticos (exemplos: interfaces entre o cérebro e os computadores, testes genéticos ou selecção genética, clonagem)?
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• Paradoxo do conhecimento: Quando a informação se está a tornar cada vez mais abundante, que conhecimento tem valor?
‐ Acesso ao conhecimento? ‐ Pesquisa de conhecimento? ‐ Gestão de conhecimento? ‐ Produção de conhecimento? ‐ Propriedade do conhecimento?
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
SÍNTESE DOS CENÁRIOS: Market Rules O mundo da Propriedade Industrial (PI) tornou‐se muito dinâmico e pró‐activo e procura assegurar valor para os negócios inovadores. O sistema de direitos de PI deixou de ver a protecção por patente como uma estratégia defensiva, para ser utilizada como último recurso em tribunais, mas sim como um activo a ser explorado e desenvolvido. O valor das patentes, quer a nível individual, quer em “portfolios”, é bem reconhecido pela sociedade, tendo‐se tornado produtos interessantes para os especuladores, que os vêem como produtos financeiros atractivos devido à incerteza relativa ao seu valor. Este interesse faz aumentar exponencialmente o número de pedidos de patente, o que dificulta o trabalho dos Institutos Nacionais de Patentes, que se debatem com uma sobrecarga de pedidos. Os investidores mais astutos em termos financeiros podem suportar o seu investimento com pedidos de patente múltiplos e podem aplicar técnicas de mercado financeiro para distribuir o seu risco; outros juntam‐se ao jogo mesmo que não sejam tecnologicamente inovadores. No entanto, a melhoria das técnicas de avalização de patentes elimina também muitos pedidos de patentes triviais (pouco inovadoras) na primeira fase. A chave do sucesso em PI deixa de ser a mudança tecnológica “pura e dura”, sendo mais valorizadas as capacidades financeiras e empresariais. Os profissionais de patentes são substituídos por “intermediários” que sabem maximizar valor, adquirir direitos e gerar lucros a partir de direitos de PI.
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O licenciamento de patentes passa a ser um negócio de extrema importância, não só para maximizar lucros, mas também como estratégia para suportar linhas de negócio emergentes e novos mercados. O profissional de patentes tem de conhecer uma vasta gama de mercados para quaisquer produtos, uma vez que os direitos de PI são agora mais reconhecidos a nível mundial como produtos comercializáveis. As empresas já não aceitam suportar despesas desnecessárias no sistema de PI – em particular com traduções desnecessárias e litigação em múltiplas jurisdições. No entanto, embora exista um processo de patente praticamente mundial, não é politicamente alcançável um sistema de PI com único pedido, uma única patente e um único sistema de litigação. As Pequenas e Médias Empresas (PMEs), que sempre se queixaram de problemas de custos e de recursos na gestão dos seus direitos de PI estão cada vez mais dispostas a utilizar o sistema, uma vez que já não consideram tão intimidantes os custos de obtenção e de litigação de uma patente. Palavras‐chave: aumento do número de pedidos de patentes; institutos de patentes sobrecarregados de trabalho; patentes como activos financeiros; valorização financeira e comercial das patentes. Whose Game? Na Área Transatlântica de Comércio Livre (TAFTA ‐ Transatlantic Free Trade Area), a protecção por patente desenvolve‐se em várias frentes, principalmente devido à crise económica, aos orçamentos para a saúde mais limitados e ao efeito bloqueador de patentes originárias de fora da TAFTA. De um modo geral, uma vez que o sistema de patentes tradicional já não oferece vantagens competitivas, o Ocidente está a desenvolver mecanismos alternativos de protecção por patente, adaptados a diferentes campos da inovação. Uma vez que continua a haver uma forte procura de produtos de luxo ao estilo Ocidental, música, filmes e design, o Ocidente tenta manter um sistema global de protecção com um forte “enforcement” pelo menos nestas áreas. No entanto, os governos no bloco Ásia ‐ América do Sul, que agora têm grandes laboratórios de investigação e indústrias inovadoras, trabalham na direcção oposta. Embora ainda escolham utilizar modelos “open‐source” para desenvolver infra‐estruturas, estes países estão a utilizar as patentes de um modo crescente para obter royalties e impor os seus standards no estrangeiro. Portanto, embora nesta região os governos tentem manter um sistema fortemente controlado pelo Estado, ao mesmo tempo defendem um forte sistema global de patentes. No entanto, o acordo TRIPS/ADPIC (Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Industrial relacionados com o Comércio) da OMC acaba por ser abandonado devido ao tratamento diferenciado entre os seus membros. Uma vez que a ocorrência de pandemias politizou a saúde, e enquanto outras instituições globais estão enfraquecidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) toma temporariamente controlo das regras de patentes relacionadas com a saúde, regulando, em particular, o exame de patentes. Foram criados obstáculos à patenteabilidade na área farmacêutica e foi restringida a protecção de dados. No entanto, foram eventualmente estabelecidos diferentes regimes de PI relacionados com a saúde, em diferentes regiões, para cobrir as suas necessidades particulares relativas a produtos farmacêuticos. Nas alianças Sul‐Sul, os países experimentam com tratados que focam direitos intelectuais colectivos e “open‐source” para tentar gerir a sua herança de biodiversidade (utilizando, por exemplo, direitos res communis ‐ domínio público ‐ propriedade do Estado). Mas as pandemias também os focaram em necessidades de saúde básicas e na redução da pobreza; eles utilizam maioritariamente I&D financiado publicamente (criando PI propriedade do Estado) para desenvolver novos produtos farmacêuticos. A maior parte dos países menos desenvolvidos ignoram a PI, embora alguns deles se agrupem em torno de países com uma biodiversidade rica para fortalecer a protecção de conhecimento tradicional e direitos intelectuais colectivos. Nestes países, o “open‐source” (e a pirataria explícita, claro) surge como o único meio para ultrapassar a barreira digital. Palavras‐chave: clivagem geopolítica; abandono do TRIPS/ADPIC; tratados sobre direitos colectivos e “open‐source”; criação de um sistema de PI alternativo, paralelo ao clássico.
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Trees of Knowledge: Depois de um longo período de perda de importância, e apesar de esforços para aumentar a qualidade de elevar a “actividade inventiva”, as patentes foram largamente abolidas da maioria das áreas técnicas a nível mundial. Os direitos de autor foram também fortemente alterados. Partilhar informação é agora a norma – os criadores de conteúdos encontram valor nas suas redes e reconhecimento pelos seus pares; os negócios são baseados em providenciar serviços suplementares e valor acrescentado para o utilizador. “Open‐source”, “creative commons” e “science commons” são formas “standard” de protecção para trabalhos e atribuições de autoria. Nos negócios, o segredo, as marcas, os direitos de design e as indicações geográficas são agora utilizadas para proteger as inovações. A vantagem do primeiro a entrar no mercado e a gestão da relação com os clientes são os principais elementos diferenciadores entre os bem sucedidos e os mal sucedidos. A inovação é mais encorajada pelo Estado e por fundos de ONGs. Parcerias público privadas, fundos de recompensa, esquemas de pagamento adiantado e subvenções explícitas do Estado garantem que os verdadeiros inovadores – que trabalham para o bem público – são generosamente recompensados. Isto também assegura que a investigação farmacêutica está focada nas áreas mais importantes relevantes para a saúde pública. No entanto, a distribuição dos (limitados) recursos é rigorosamente controlada em termos de eficiência e tem como objectivo alcançar o maior benefício global para a saúde. Doenças raras ou doenças relacionadas com o estilo de vida não são prioritárias. Os antigos Institutos de Patentes representam um papel importante ao providenciar informação acerca dos diferentes sistemas de incentivos disponíveis (em particular para as PMEs) e ao avaliar propostas de subvenção e recompensa. Eles também providenciam uma plataforma para as negociações das parcerias público privadas. Por isto, o seu novo nome: Agência do Conhecimento. Praticamente não existe litigação em torno das patentes; o “enforcement” é considerado desnecessário. Contudo, a ausência de um móbil lucrativo reduziu os níveis de inovação em alguns domínios (em particular na biotecnologia, onde as preocupações sociais também limitam a disponibilidade de incentivos governamentais). A crescente utilização do segredo para proteger a inovação desacelerou a velocidade de inovação incremental em áreas onde o ‐ se mostrou impossível, o que constitui uma grande desvantagem para pequenas empresas muito inovadoras. E porque as prioridades de investigação são agora orientadas politicamente, vivemos num perigo sempre presente de aprisionamento; o forte “lobbying” realizado pelas empresas focadas em I&D pelo financiamento do Estado está a ter um efeito na neutralidade dos políticos. E o governo nem sempre tem sucesso em planear e gerir a investigação. Palavras‐chave: abolição das patentes; utilização de segredo, marcas e design para proteger a inovação; crescimento do “open‐source”, creative commons e science commons; I&D financiada pelo Estado Blue Skies Os Institutos de Patentes são hoje capazes de se adaptar rapidamente à mudança tecnológica. Esta agilidade reflecte as alterações na forma como os Institutos trabalham, em particular no exame de pedidos de patente. Esta actividade é agora apoiada por ferramentas TIC, permitindo a partilha de informação e de ideias entre instituições de PI e também com o mundo exterior, por exemplo peritos técnicos e fornecedores de informação. Estas alterações permitem que os Institutos emitam patentes fortes em termos legais mais depressa. Os problemas de atraso no estudo das patentes e resultante incerteza legal são consideravelmente reduzidos. Os serviços de informação de patentes também melhoraram e oferecem agora informação extensiva baseada em ferramentas de pesquisa melhoradas que permitem pesquisas técnicas “inteligentes” que utilizam funcionalidades da nova “Web 3.0” e mapeamento de patentes. É agora oferecida rotineiramente informação sobre o licenciamento de patentes e pesquisas que permitem definir standards técnicos sem infringir direitos de patente existentes. As empresas comerciais de prestação de serviços nesta área também representam um papel importante neste contexto. Traduções por computador estão disponíveis de e para praticamente qualquer língua. Os custos das traduções baixaram significativamente para um nível insignificante. Ao mesmo tempo o estado da
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técnica é agora acessível a qualquer perito independentemente da sua nacionalidade devido à disponibilidade de traduções por computador. A linguagem deixa de ser uma barreira e as traduções já não representam uma porção significativa dos custos de obtenção de uma patente. O tipo de IP disponível também evoluiu. Existem agora dois tipos distintos de patentes: uma patente “soft” para áreas técnicas complexas, tais como TICs, e direitos de patente clássicos para áreas como o sector farmacêutico. As “patentes soft” já não oferecem direitos totalmente exclusivos e isto significa que a inovação já não é atrasada por direitos que a bloqueiam. As “patentes soft” promovem a inovação colaborativa, e.g. redes de inovação aberta e “pools” de patentes. Infelizmente, decidir que patentes caem sob que sistema legal criou uma nova arena para batalhas legais. Os casos de disputa são decididos por corpos supranacionais. Devido ao encurtamento de ciclos de produtos tecnológicos e à remoção da exclusividade dos direitos de patente em áreas tecnológicas complexas, tornaram‐se mais importantes tipos alternativos de protecção, tal como o “branding”, o segredo e a protecção tecnicamente implementada da cópia. No entanto o segredo é cada vez mais difícil de gerir pelas companhias devido à grande mobilidade da força de trabalho. Além disto, foram publicadas várias leis que restringem o direito ao segredo de bens comerciais. O segredo e o “branding” não são as únicas alternativas à protecção por patente. Em particular nas tecnologias emergentes e áreas técnicas complexas, o “open‐source” aumentou de importância e é largamente aceite como capaz de apresentar produtos de elevada qualidade. Por isso, para tecnologias complexas, o regime de “patentes soft” coexiste com a abordagem “open‐source” e ambas apoiam um processo colaborativo de inovação. Até para as áreas em que as patentes clássicas estão disponíveis, o “open‐source” tornou‐se, até um certo ponto, parte do sistema. Palavras‐chave: sistema de protecção alternativo para as TIC; tradução por computador disponível de e para todas as línguas; ferramentas robustas de informação e pesquisa; litigação em tribunais supranacionais. OBSERVAÇÕES: O documento publicado pelo EPO não explica a metodologia utilizada para a construção dos cenários, apenas refere as cinco driving forces mais importantes que originam grande incerteza. No entanto, os esclarecimentos obtidos junto da responsável pelo projecto, Shirin Elahi, permitiram averiguar que este incluiu as quatro fases identificadas no diagrama seguinte:
A maioria das mais de 70 entrevistas realizadas na primeira fase foram publicadas no âmbito
do projecto, o que permitiu garantir a participação de personalidades proeminentes e assim
assegurar uma maior credibilidade e aceitação pública. O conteúdo destas entrevistas foi
sintetizado em 27 temas que foram apresentados no primeiro workshop. Para além disto,
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
foram realizadas entrevistas detalhadas para cada um dos cenários, de modo a providenciar
informação adicional mais específica e confirmar os nossos pressupostos.
De acordo com Elahi, no projecto foram analisados três níveis diferentes, nomeadamente o
nível organizacional, o Europeu e o global. Foi explorado que incertezas‐chave poderão estar
em jogo nos próximos 20 anos, tendo surgido oito incertezas que podem variar de intensidade
nos diferentes níveis analisados. Foi seguidamente explorado de que forma cada uma das
incertezas poderia evoluir, criando pequenos enredos, que foram posteriormente agrupados e
eventualmente se transformaram nos cenários publicados. Após a realização deste processo, o
trabalho realizado foi revisitado para determinar como poderiam ser resumidas as oito
incertezas‐chave. Neste percurso foram identificadas as cinco driving forces que constituem a
dinâmica subjacente em cada cenário.
Foi também desenhado um diagrama de sistemas da influência das referidas driving forces
sobre o sistema de patentes.
Fonte: Scenarios for the Future (2025), European Patent Office, pp. 24
O projecto inclui também um capítulo de análise dos diferentes cenários que identifica
questões chave e implicações que surgem de cada um dos futuros possíveis.
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PROJECTO 23
Ecosystems and Human Well‐being: Scenarios (2050) Millennium Ecosystem Assessment
Data Publicação: 2005
Horizonte Temporal: 2050
Foco Estratégico: Ambiente
http://www.maweb.org/en/Scenarios.aspx (consultado em 22/03/2011)
INCERTEZAS CRUCIAIS E CONFIGURAÇÕES:
• Grau e escala de conectividade entre e instituições
Até que ponto o mundo será mais ou menos interligado ao nível da gestão dos impactos
resultantes das intervenções humanas no ambiente?
Configuração 1: “Global” – continuação e escalada da globalização e conectividade entre as
fronteiras dos países
Configuração 2: “Regional” – foco regional e menor conectividade
• Mobilização política face à gestão ambiental (em particular na gestão dos denominados
“serviços de ecossistema”)
Abordagem política face à robustez dos ecossistemas, nomeadamente na gestão dos
potenciais impactos das alterações nos ecossistemas.
Configuração 1: “Reactiva(s)” – as políticas reactivas face aos assuntos ambientais pressupõem
alguma robustez dos ecossistemas
Configuração 2: “Proactiva(s)" – as políticas proactivas permitem antecipar a possibilidade de
fragilidade nos ecossistemas
ESTRUTURA‐BASE DOS CENÁRIOS:
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
OUTRAS FORÇAS DE MUDANÇA:
No estudo são identificadas e descritas outras forças de mudança e respectivas interacções
entre si, destacando‐se em particular as seguintes:
• Forças de mudança “Indirectas”: Demografia, Economia, Sociopolítica, Cultura e Religião,
Ciência e Tecnologia.
• Forças de mudança “Directas”: Alterações e Mudanças Climáticas; Uso de nutrientes de
plantas; Reafectações no uso da terra; Invasões biológicas e doenças.
• Exemplos de interacções entre drivers e ecossistemas: Mudança no uso da terra; Turismo.
SÍNTESE DOS CENÁRIOS:
Global Orchestration Cenário marcado por uma cooperação e conectividade de âmbito global, com ênfase no crescimento económico e nos bens públicos. Trata‐se de uma sociedade interligada a nível mundial e na qual se desenvolvem, de forma bem‐sucedida, os mercados globais, mas que se torna vulnerável devido à sua atitude reactiva relativamente às questões ambientais e à gestão dos ecossistemas. Neste cenário de cooperação e conectividade global, embora as instituições supra‐nacionais estejam bem colocadas para lidar com problemas ambientais, tal como as alterações climáticas, a mobilização política face à gestão dos ecossistemas traduz‐se numa atitude reactiva. Isto torna estas mesmas instituições vulneráveis a “surpresas” decorrentes, por exemplo, de acções adiadas ou de mudanças regionais inesperadas. Existe uma forte crença na capacidade futura das tecnologias repararem e substituírem funções de ecossistemas entretanto perdidas. De um modo geral, pressupõe‐se não só a melhoria do bem‐estar social e económico da população em geral, mas também a protecção e potencialização dos bens e serviços públicos globais. Há uma maior atenção sobre o indivíduo (mais do que na sociedade), na capacidade dos mercados em absorverem todos os impactos do desenvolvimento, e num uso da regulação apenas quando apropriado. No entanto, é dada pouca prioridade a problemas que têm pouco impacto aparente ou directo no bem‐estar humano, em detrimento de outras políticas que melhoram directamente o bem‐estar da população. Esta, por sua vez, sente‐se, em geral, confiante de que o conhecimento e tecnologia necessários para lidar com os desafios ambientais irão emergir, ou poderão ser desenvolvidos sempre que necessário, tal como acontecia no passado. Os problemas ambientais que ameaçam o bem‐estar humano tendem a ser resolvidos apenas quando os mesmos se tornam visíveis. O crescimento económico e a expansão dos bens públicos (como a educação) permitem à sociedade responder efectivamente quando os problemas ambientais emergem. No entanto, se a atenção para com os bens públicos (o chamado capital social) for superior à atenção dedicada ao ambiente e às políticas ambientais proactivas (capital natural), existe um risco acrescido de ocorrerem interrupções regionais no fornecimento de serviços de ecossistema3 à população, podendo ocorrer declínios severos e irreversíveis no bem‐estar humano. Palavras‐chave: sociedade interligada; mercados globais; atitude reactiva; cooperação global; protecção do capital social; eventuais surpresas ambientais.
3 Serviços de ecossistemas: são os benefícios obtidos pelas pessoas a partir dos ecossistemas. Estes incluem serviços de abastecimento, por exemplo, de bens alimentares e de água; serviços de regulação, como a regulação de cheias, da seca, da degradação da terra e de doenças; serviços de apoio como da formação dos solos e ciclos de nutrientes; e serviços culturais como recreativos, culturais, religiosos e outros benefícios imateriais (in Chapter 1, pp.23).
Colecção de Cenários Globais
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Order from Strength Cenário de amplitude regional, com ênfase na segurança nacional e no crescimento económico. O mundo torna‐se progressivamente fragmentado e regionalizado e revela uma postura reactiva em termos ambientais, sob a forma de uma atitude individualista face à gestão dos ecossistemas. Numa escala de conectividade regional, os governos, o tecido empresarial e os cidadãos viram o foco das suas atenções para dentro, em resposta às ameaças dos vários processos que implicam cooperação global. De facto, as nações entendem que olhar para os seus próprios interesses será a melhor defesa contra a insegurança económica e a escassez de recursos, pelo que revelam uma clara preocupação com uma segurança nacional forte, dão prioridade aos mercados regionais, e à restrição da circulação de bens, informação e pessoas. E com a transferência das atenções dos países para a protecção das suas fronteiras e da sua população, o mesmo acontece com as políticas ambientais. Tal como no anterior cenário, a mobilização para as questões ambientais torna‐se secundária face a outros desafios, traduzindo‐se numa atitude política reactiva, pois acreditam que os ecossistemas são robustos e que o desenvolvimento e a aplicação de inovações tecnológicas funcionam como soluções para os desafios ambientais. O foco é o de assegurar a disponibilização de recursos ao indivíduo, encarados como decisivos para a sua sobrevivência. Neste contexto, e sem uma activa e proactiva gestão do ecossistema, a pressão sobre o ambiente aumenta e há um maior risco de grandes perturbações nos ecossistemas. Declínios severos e irreversíveis poderão ocorrer, se não houver particular atenção à gestão dos ecossistemas, e que vá além da questão das reservas de recursos. Palavras‐chave: mundo fragmentado; postura reactiva; conectividade regional; ameaça à segurança nacional; secundarização questões ambientais; disponibilização imediata de recursos; riscos eminentes. Adapting Mosaic Cenário “regional”, com ênfase em centros de decisão local e na governança flexível. Mundo fragmentado, resultante de instituições globais desacreditadas, mas proactivo em termos em termos ambientais. Assiste‐se ao surgimento de tomadas de decisão descentralizadas, sob a forma de estratégias locais de gestão dos ecossistemas e fortalecimento das instituições locais. As políticas proactivas de gestão ambiental e os investimentos de capital humano e social são direccionados para um melhor conhecimento sobre o funcionamento e gestão dos ecossistemas, resultando na melhor compreensão da resiliência, fragilidade e flexibilidade local dos mesmos. É reconhecido o elevado valor acrescentado dos serviços de ecossistema, subjacentes à vida e ao bem‐estar humano, bem como a necessidade de trabalhar com a natureza, em vez de contra ela. Nesta governança regional e local, aumentam as barreiras ao comércio global de bens e serviços, mas as barreiras à informação (para aqueles que estão motivados para a usar) quase desaparecem, graças à melhoria das tecnologias de comunicação e à rápida diminuição dos custos de acesso à informação. Numa gestão regional e proactiva do ecossistema, orientada para a adaptação à mudança, a sociedade torna‐se menos vulnerável a distúrbios nos serviços do ecossistema. No entanto, este foco regional pode diminuir a atenção aos bens globais e exacerbar alguns problemas ambientais. Com efeito, assume‐se como plausível que o enfoque na governança local leve a falhas na gestão dos bens comuns de natureza global, pois com o surgimento de problemas como alterações climáticas, poluição, surpresas ambientais globais e outros, as comunidades apercebem‐se, lentamente, de que não poderão gerir estas questões localmente. Face à emergência dos problemas globais, começam a desenvolver redes entre comunidades, regiões e até nações, para lidar melhor com as questões globais. A reorganização é mais focada em unidades ecológicas, o oposto do anterior tipo de gestão, este baseado em fronteiras políticas que não alinhavam necessariamente com as fronteiras de ecossistemas. Palavras‐chave: governança regional (e local); proactividade ambiental; estratégias locais; surgimento de problemas globais; adaptação à mudança.
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DEPROSPECTIVA E PLANEAMENTO
E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
TechnoGarden
Cenário “global”, com ênfase na tecnologia “verde” (green technology). Mundo interligado a nível global e proactivo em termos ambientais, que confia fortemente na tecnologia e em ecossistemas fortemente geridos com o objectivo de providenciar um amplo conjunto de bens e serviços. Há, inclusivamente, um desenvolvimento entusiástico das tecnologias ambientais, que são adoptadas de forma massiva pelas companhias multinacionais e partilhadas além fronteiras. As novas reformas ou iniciativas políticas beneficiam, em muitos casos, de uma forte cooperação internacional. Tanto a economia como o ambiente são questões beneficiadas, e existem boas condições para que se encontrem soluções para problemas ambientais globais (como as alterações climáticas), numa atitude política proactiva, pois emerge o reconhecimento do valor dos ecossistemas. As inovações tecnológicas e as reformas institucionais orientadas para o mercado são, de facto, utilizadas para esse fim, através, por exemplo, de desenvolvimentos tecnológicos que reduzem o impacto ambiental dos bens e serviços, da expansão e desenvolvimento de princípios de protecção do ecossistema, como o princípio “poluidor‐pagador” ou outras acções como a preservação de bacias hidrográficas. A sociedade trabalha proactivamente com a natureza. Assume‐se, assim, a gestão ambiental como uma área‐chave bem sucedida, embora possa produzir algumas surpresas ecológicas que poderão afectar muitas pessoas, pois existe uma confiança excessiva em sistemas altamente desenvolvidos e dependentes da engenharia e tecnologia. Falhas ou rupturas dos serviços tecnológicos ambientais poderão ter efeitos de longo alcance com impactos elevados, num mundo altamente interligado entre si. Palavras‐chave: mundo interligado; cooperação internacional; proactividade ambiental; princípios de protecção ambiental; confiança tecnológica (excessiva); surpresas ecológicas.
OBSERVAÇÕES:
‐ Inclui uma lista de projectos de cenários anteriores.
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
3. NOTAS CONCLUSIVAS
3.1. A Escolha das Incertezas Cruciais Da totalidade dos 23 projectos de cenarização analisados, foram identificadas 58 incertezas cruciais as quais serviram de base para os 85 cenários apresentados de forma sintética neste documento.
Tendo presente que foram utilizados diferentes métodos de cenários nos vários estudos, situação que se traduziu numa grande heterogeneidade ao nível do tipo de incertezas cruciais e respectiva utilização no processo de construção dos cenários, importa sublinhar que nem sempre se afigurou fácil a comparabilidade dos trabalhos analisados4.
Tendo consciência destas limitações procurámos retirar algumas conclusões da análise conjunta aos projectos de cenários analisados, propondo nomeadamente uma análise que relaciona o tipo de incertezas cruciais com o horizonte temporal dos projectos.
Uma análise aos projectos de cenarização seleccionados permite concluir que quanto mais distante é o horizonte temporal do projecto, mais difusas e menos precisas na sua especificidade se tornam as incertezas cruciais, e, por oposição, quanto mais próximo se encontra o horizonte temporal, maior é o nível de definição das incertezas. Neste sentido, existe um trade‐off entre o tipo e nível de definição das incertezas cruciais a seleccionar e o horizonte temporal dos respectivos projecto de cenarização. Efectivamente, em horizontes temporais superiores a 20 anos (por exemplo, em cenários cujo horizonte temporal é definido para além de 2040), torna‐se difícil construir os cenários a partir de incertezas e outras forças de mudança que exijam um elevado nível de pormenor. Por outro lado, quando o horizonte temporal é muito distante é possível incorporar tendências pesadas e outras forças de mudança cujo tempo de maturação e desenvolvimento é naturalmente mais longo e demorado. Ou seja, embora com um menor nível de detalhe ou definição, cenários com horizontes temporais mais longos permitem a incorporação de questões cujos desenvolvimentos e impactos no foco estratégico ultrapassam em muito determinados horizontes temporais mais próximos.
A Figura 9 apresenta um plano bidimensional que permite relacionar de forma mais detalhada as incertezas cruciais nos diferentes projectos com os respectivos horizontes temporais.
4 De entre as situações que tornam difícil uma análise comparativa entre os projectos de cenarização analisados refiram‐se as seguintes: o projecto n.º 2 apresenta 10 incertezas, não sendo muito evidente quais as incertezas que foram utilizadas para estruturar a construção dos cenários (situação semelhante ocorre no projecto nº20); o projecto n.º 19 não autonomiza nem apresenta incertezas; o projecto n.º 23 não apresenta incertezas e/ou incertezas cruciais mas sim cinco forças motrizes (driving forces) cuja interacção é o ponto de partida para a posterior construção dos cenários.
Colecção de Cenários Globais
99 Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 9: Incertezas Cruciais e Horizontes Temporais
Fonte: DPP.
2020 2030 2040 2050 2060
Grau e escala de conectividade entre e nas instituições
Mobilização política face à
gestão ambiental
Mobilização
Eficiência
Justiça e Coesão Social
Segurança
Cooperação internacional
Importância relativa do Estado‐Nação
Nível de cooperação global
Crescimento económico
Solidariedade multilateral
Inovação tecnológica
Nível Controlo na Alocação de recursos Irá o mundo
encontrar uma forma de viver de acordo com os princípios da
sustentabilidade?
Irá a tecnologia assegurar que os
problemas ambientais sejam resolvidos ou
continuarão a ser necessárias
mudanças nos estilos de vida, para lhes fazer face?
Como será a ordem mundial? Será
dominada por uma globalização assente na liberalização dos
mercados?
ConectividadeGlobal
Ritmo de Mudança da Sociedade e sua
“Modas”
Alinhamento político e económico
Capacidade de adaptação
Governança: a que escala serão tomadas as decisões?
Desenvolvimento económico: irá continuar a globalização económica?
Velocidade da mudança
tecnológica
Atitudes e preferências em
relação ao ambiente global
Como vão os principais actores agir perante as alterações ambientais?
Sensibilidade do sistema ambiental face às crescentes concentrações de gases com efeito de
estufa
Compromisso governamental
Nível de Cooperação / Integração
Construção de redes de TICs/Internet
Progresso tecnológico
Comportamento do utilizador
(informático)
Incertezas Cruciais
Cooperação/ Comércio
Internacional
Centro das reformas sociais e económicas
Urgência na tomada de
medidas políticas
Colaboração internacional
Emergência de novos poderes
Abertura social/económica/p
olítica
Acção organizações
globais
Disponibilidade de Recursos Ambientais
Reformas institucionais no sector público
CooperaçãoGovernança
Ambiente Energia
(Geo)Economia
Tecnologia
Legenda:
MobilizaçãoAtitudes
Sociedade/Consumidores
ActoresGeopolítica
Colecção de Cenários Globais
100
DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A Figura 9 tem implícita uma agregação das incertezas cruciais em torno de sete grupos
temáticos, os quais deram origem à legenda utilizada para categorizar aquelas incertezas.
Os tópicos seguintes estruturam os sete temas e correspondentes questões‐chave que se
podem integrar em cada um daqueles:
a) Ambiente e Energia
Sustentabilidade ambiental; gestão ambiental, alterações climáticas;
b) (Geo)economia
Ritmo e amplitude da recuperação económica, frequentemente acompanhado pela
questão de saber quais as regiões que poderão liderar essa revolução económica;
globalização;
c) Actores / Geopolítica
Estados‐Nação vs. Novos actores; centro de reformas sociais, económicas e políticas;
Emergência de novos poderes;
d) Cooperação / Governança
Cooperação; conectividade entre instituições; abertura social, económica e política;
alinhamento político e económico; acção das organizações globais;
e) Tecnologia
Ritmo da mudança e convergência tecnológica; evolução tecnológica de natureza
incremental ou disruptiva permitindo (ou não) uma mudança de paradigma
tecnoeconómico;
f) Sociedade /Consumidores
Ritmo de mudança da sociedade; comportamento e preferência dos consumidores;
g) Mobilização/ Atitudes
A adopção de uma atitude proactiva ou reactiva ou a mobilização da sociedade face a
grandes desafios globais, em particular às grandes questões da sustentabilidade.
Uma análise mais aprofunda à figura acima apresentada permite‐nos retirar as seguintes
conclusões:
‐ As incertezas cruciais relacionadas com questões ambientais e energéticas tendem a ser
utilizadas em projectos de cenarização com horizontes temporais mais longos;
‐ As incertezas cruciais ligadas à evolução da economia mundial são mais utilizadas em
cenários com horizontes temporais mais próximos. Importa sublinhar que as incertezas de
natureza mais (geo)económica aparecem frequentemente associadas a outras grandes forças
de mudança, entre as quais se destaca a globalização e o nível de abertura social e política das
sociedades;
Colecção de Cenários Globais
101
DEPARTAMENTO DEPROSPECTIVA E PLANEAMENTO
E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
‐ Uma das incertezas cruciais que mais é utilizada nos estudos de construção de cenários que
foram analisados respeita ao nível e amplitude da cooperação internacional, surgindo em
alguns trabalhos relacionada com os temas da governança e da conectividade global. Esta
incerteza é trabalhada em cenários com horizontes temporais muito distintos e com focos
estratégicos igualmente diversos;
‐ A questão da mobilização e atitude (proactividade versus reactividade) da sociedade e das
instituições nacionais e internacionais perante os grandes desafios globais, em particular os
que se relacionam com a sustentabilidade e questões ambientais, encontra‐se presente num
número significativo de incertezas cruciais. Estas incertezas cruciais que trabalham o nível de
mobilização da sociedade, e que em muitos casos são colocadas de forma genérica e pouco
detalhada, estão muito presentes em cenários com horizontes temporais mais longos (2050 ou
mais). Por outro lado, observa‐se que incertezas cruciais mais centradas na capacidade de
adaptação e na rapidez da mudança societal estão associadas a horizontes temporais mais
curtos (2025‐2030);
‐ As incertezas tecnológicas surgem em vários dos projectos de cenarização analisados,
embora apresentem diferenças importantes na forma como são formalizadas. Mais uma vez,
quando a tecnologia está associada à capacidade de resolver determinados problemas
ambientais, o horizonte temporal tende a ser mais distante.
3.2. Focos Estratégicos e Horizontes Temporais
A definição do foco estratégico é uma decisão fundamental num processo de construção de
cenários. De facto, o foco estratégico ou a questão central do exercício de cenarização permite
ancorar todo o processo de scanning de informação, permite distinguir o que é relevante e
irrelevante e é um elemento determinante para a selecção de incertezas cruciais. Neste ponto
faz‐se uma breve referência à ligação que tende a existir entre o foco estratégico dos projectos
de cenarização analisados e os respectivos horizontes temporais definidos.
A figura seguinte (Figura 10) permite posicionar os focos estratégicos dos exercícios de
cenarização face aos respectivos horizontes temporais.
102
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Colecção de Cenários Globais
103
DEPARTAMENTO DEPROSPECTIVA E PLANEAMENTO
E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
1) “Old order vs. New order”
Um dos temas recorrentes ou arquétipos de vários projectos de cenarização analisados é a
noção de que o nível de contrastação dos cenários irá resultar da emergência e afirmação
(ou não) de uma nova ordem mundial, de um novo paradigma tecnológico, económico e
político. Esta ideia de continuidade versus ruptura, “Old Order” versus New Order”,
reflecte‐se na opção de construir e descrever cenários do tipo “Business as Usual” ou “Sem
Surpresas”, contra o qual se derivam futuros alternativos, cujas linhas de força podem
estar ancoradas na geopolítica, na tecnologia na sociedade, no ambiente ou em questões
societais.
2) Integração e Abertura vs. Fragmentação e Isolamento (Geopolítico e Geoeconómico)
Este é um dos elementos de descrição de maior transversalidade nos cenários, sendo um
dos temas em torno do qual um número significativo de incertezas cruciais são
seleccionadas e construídas.
Ao abordar qual o alinhamento político e económico mundial pretende‐se sublinhar a
integração e tipo de relacionamento de e entre países, blocos, regiões, actores. Num
mundo assumidamente globalizado, a descrição dos cenários varia entre uma orientação
para a cooperação e integração, através de alianças internacionais que potenciam
interesses globais, ou para uma lógica de fragmentação, através de estratégias locais que
visam privilegiar interesses privados.
A cooperação internacional tende a estar associada à identificação e exploração de
oportunidades de mudanças de maior amplitude, sendo que algumas das prioridades
globais poderão até ter origem em interesses privados. Por outro lado, os interesses
nacionais tornam‐se prioritários quando as reformas sugeridas a nível global falham.
3) Proteccionismo vs. liberalização dos mercados
Frequentemente implícito num alinhamento político e económico de maior ou menor
cooperação e integração, está o isolamento ou a abertura dos mercados e de que forma
poderá evoluir a uma escala global a liberdade de circulação de capitais, bens, serviços,
pessoas e informação. Efectivamente, é característica habitualmente comum na descrição
dos cenários a menção às dinâmicas de mercado no fenómeno de globalização: um maior
proteccionismo, a par de um acréscimo capitalismo estatal e concorrência entre os blocos
(associado geralmente a situações de fragmentação geoeconómica e geopolítica), por
oposição a uma maior liberalização.
Colecção de Cenários Globais
104
DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
4) Novos Actores vs. Actores Tradicionais
A tipologia, papel e dinâmica dos actores são questões que assumem uma grande
importância em vários exercícios de cenarização analisados. De facto, existem cenários
que se distinguem claramente pela forma como são trabalhados os actores. Inclui‐se aqui a
evolução, o poder e o dinamismo do Estados‐Nação face a outros tipo de actores (ONGs,
EMNs, redes, etc.) ou o jogo político e económico entre actores regionais e supranacionais,
etc.
Quer em casos de maior cooperação ou maior fragmentação, a repartição de poderes
tende a variar entre uma combinação da acção governamental com outras de iniciativa
privada, ou maior influência das redes não estatais em contraponto à acção
governamental ( ou vice‐versa).
A mobilização de outros actores (locais, empresas, ONGs, redes, etc) é mais evidente
quando o Estado‐Nação se revela incapaz. Por outro lado, quando a acção destes novos
actores é combinada com o poder governamental, poder‐se‐á falar de uma espécie de
“Fórum Global”.
5) O Poder – Geopolítica e Geoeconomia
Enquanto marca de água da grande maioria dos cenários analisados, destaca‐se a
identificação de quem detém o poder, onde o mesmo tenderá a localizar‐se em termos
globais e regionais, qual a sua dinâmica e que desequilíbrios o mesmo tende a gerar.
Da leitura dos diferentes projectos conclui‐se que existe uma pluralidade de respostas
quanto a “quem detém o poder”: termos como “poder centralizado”, “ausência de líder”
e, tal como anteriormente mencionado, “Estado‐Nação e/ou ‘novos actores’ ”, são os mais
apontados. Num mundo mais ou menos permeável à globalização, tem‐se igualmente em
conta o fenómeno da dispersão do poder e da autoridade, na medida em que as fronteiras
físicas não são necessariamente sinónimo de “fronteiras do poder”.
Nesse sentido, à questão “onde se situa o poder” sobressaem termos como
“multipolaridade”, “hegemonia Ocidental” ou “potências emergentes”. De facto é
sublinhado o papel e influência das novas potências emergentes, independentemente do
seu futuro poder passar pela afirmação ou pelo declínio. Com maior destaque surgem a
China e a Índia, embora não seja consensual, nos vários projectos, se chegarão sequer a
ser líderes mundiais, em que domínios e quando. É uma ideia volátil, na medida em que é
apenas em alguns cenários que se destaca a premissa de que terão mais poder e até
hegemonia em alguns campos (por exemplo no económico). Em oposição, é mais
frequente a assunção de que o ocidente mantém de forma vincada a sua hegemonia e
influência global, embora sejam recorrentes as crises e eventuais retrocessos na sua
liderança.
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Um dos traços mais marcantes dos vários cenários é a afirmação de que o crescimento e
prosperidade económica indicam onde e quem detém o poder, permitindo ditar a regras
globais. Parece consensual a ideia de que quem detém o poder será quem for capaz de
exercer maior influência no comércio e nos mercados, no controlo de áreas‐chave na
tecnologia e inovação, e quem revelar melhores aptidões na gestão de recursos naturais e
tecnológicos.
6) Tecnologia
Em muitos dos cenários, a tecnologia assume uma grande relevância, sendo trabalhada a
diferentes níveis, entre os quais se destaca a rapidez da mudança e a intensidade do
processo de convergência tecnológica. Em função da configuração das incertezas cruciais
tecnológicas, os cenários tendem a variar em termos de rapidez de mudança, potencial
disruptivo de novos paradigmas tecno‐económicos, e actores que poderão liderar novas
vagas tecnológicas.
Refira‐se ainda que a tecnologia se encontra em vários exercícios de cenarização ligada
com as questões da sustentabilidade ambiental. Neste aspecto, existe uma clivagem clara
entre cenários onde a tecnologia é encarada como algo que poderá resolver ou ultrapassar
alguns dos principais desafios ambientais, em contraponto com futuros possíveis onde
aqueles problemas apenas serão possíveis de resolver com mudanças de atitude e
comportamento por parte da sociedade (nestes casos a tecnologia por si só nunca será
suficiente).
Existem projectos de cenarização onde a diferenciação entre os cenários é feita na forma
como é colocada ênfase na sustentabilidade ou, alternativamente, o futuro está mais
ancorado na tecnologia e na inovação, ou ainda numa lógica de crescimento económico.
A inovação tecnológica é tida como valioso recurso, garante de crescimento e
sustentabilidade e sinónimo de conhecimento e de poder, que poderá unir ou acentuar
rivalidades, consoante se viva num ambiente de unidade e cooperação, ou num de
fragmentação assente em estratégias locais.
Por um lado, poderá funcionar como catalisador da globalização, através do reforço das
comunicações digitais e seu papel na expansão de redes globais. E é neste contexto que
emerge um conceito e um desafio comum a vários projectos de cenarização e que assume
uma relevância particular com a difusão generalizada das tecnologias digitais e da Internet:
a “cibersegurança”. Em contraponto, num mundo mais proteccionista, a importância, o
peso e a difusão tecnológica tendem a ser mais reduzidos e limitados.
Colecção de Cenários Globais
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7) Alterações Climáticas
É notória, no conjunto dos 85 cenários, a atenção dedicada às preocupações ambientais e
à questão da sustentabilidade, mesmo em cenários cujo foco estratégico não é
necessariamente o ambiental. Com efeito, procurar determinar se o mundo será mais ou
menos resiliente às alterações climáticas, bem como uma abordagem às diferentes
posturas (de combate ou de apatia) face a esta problemática, são questões centrais em
alguns dos projectos analisados. Refira‐se que algumas das incertezas cruciais são
inclusivamente seleccionadas e construídas em torno destas temáticas.
Num mundo dividido e fragmentado existem maiores dificuldades em lidar com os
problemas ambientais, visto que os blocos e/ou regiões e/ou países visam, numa óptica de
oportunismo, fazer valer os seus próprios interesses energéticos mesmo que isso
signifique sacrificar a protecção ambiental de âmbito global.
Contrariamente, uma lógica de cooperação global procura integrar este desafio enquanto
prioridade global, adquirindo até um carácter “altruísta”, através do investimento em
novas energias renováveis e na protecção dos recursos. Mitigar os efeitos das alterações
climáticas revela‐se condição determinante para o progresso e sucesso. É neste âmbito
que, tal como atrás mencionado, as inovações e os recursos tecnológicos se poderão
afirmar um valioso contributo.
8) Energia e recursos
A posse e gestão de recursos naturais, a par da segurança energética, são questões
utilizadas em vários dos projectos de cenarização como determinantes para a
prosperidade e crescimento económico.
A tendência é que exista (ou venha eventualmente a existir) maior concentração de
recursos quando há maior proteccionismo, na medida em que existem mais estruturas de
regulação e de controlo sobre estes. Tal não significa, porém, que em cenários de
liberalização dos mercados e integração política, a segurança energética não seja garantida
através de outros mecanismos, com destaque para a capacidade da inovação tecnológica,
de forma a garantir as necessidades energéticas emergentes.
A pressão sobre os recursos dependerá, adicionalmente, não só das exigências e desafios
globais, como também do combate, numa atitude mais ou menos urgente e eficaz, às
alterações climáticas. Os problemas ambientais, por seu turno, serão directamente
influenciados pela atitude adoptada no âmbito da utilização energética e de recursos,
estando, portanto, ambas as problemáticas relacionadas entre si numa espécie de “círculo
vicioso”.
Colecção de Cenários Globais
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
9) Proactividade vs. Reactividade face a Desafios Globais
A mobilização e a atitude da sociedade – distinguindo a proactividade da reactividade ‐ é
um dos temas centrais, em torno do qual alguns projectos diferenciam os cenários
construídos.
Não se poderá falar de inovação tecnológica ou gestão eficaz dos recursos naturais e
energéticos, nem em combate às alterações climáticas ou prosperidade económica, sem se
abordar a questão da proactividade e reactividade face a grandes desafios emergentes. A
noção de proactividade está também articulada em muitos casos com um pensamento de
longo prazo. Com efeito, em vários cenários construídos, é referida a necessidade de
encarar os problemas do presente através de uma “visão longa” (centrada no longo prazo).
Uma postura reactiva acarreta geralmente ir atrás dos problemas de forma desorganizada
e sem uma visão de longo prazo (vd. Cenário “Scramble” da Shell – projecto n.º 2), por
oposição a uma maior capacidade de antecipação e proactividade face a esses mesmos
problemas e desafios (vd. Cenário “Blueprint” da Shell, do mesmo projecto). Refira‐se que
a tecnologia tende a assumir um papel importante na forma como as sociedades assumem
uma posição mais ou menos proactiva ou reactiva, havendo projectos de cenarização em
que o pressuposto de que a mudança e inovação tecnológicas podem resolver os
problemas ligados com o ambiente, alterações climáticas e utilização de recursos pode
conduzir a uma sociedade mais reactiva no que respeita à atitudes e comportamentos
individuais e colectivos.
É assumido em vários cenários que uma postura “top‐down” ou “bottom‐up” mais ou
menos proactiva condicionará a forma como actuais problemas globais poderão colocar
em causa gerações futuras.
10) Mundo desenvolvido vs. mundo em desenvolvimento
Embora as questões ligadas com a emergência de grandes economias e consequentes
alterações nos equilíbrios geoeconómicos e geopolíticos sejam um dos temas centrais em
muitos dos projectos de cenarização identificados, importa sublinhar igualmente a
importância que assumem questões como o fosso entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento, a resolução das assimetrias globais e regionais e os problemas de
redistribuição da riqueza.
A globalização, sob a forma de cooperação e integração, nem sempre significa avanços
iguais entre os países e regiões e, em alguns cenários, apenas tardiamente os países em
desenvolvimento seguem os (bons) exemplos dos países desenvolvidos. Em vários
projectos, a menor integração económica e a entrega de maiores responsabilidades ao
sector privado podem conduzir a uma maior desigualdade entre “o mundo desenvolvido”
e os países em desenvolvimento. A nível ambiental, quando concretizável, a mitigação de
gases com efeitos de estufa pode aumentar os preços e as assimetrias entre ricos e
pobres.
Colecção de Cenários Globais
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11) Fontes de conflitos Nem todos os projectos apresentam cenários positivos ou optimistas, sendo possível
identificar os pontos de confronto mais frequentes, por norma relacionados com a
geopolítica e geoeconomia do poder.
Assim, destacam‐se: a delimitação das fronteiras de comércio; as acções visando a
obtenção de um maior crescimento económico, influência e poder, e que implicam
geralmente menores preocupações com a sustentabilidade ambiental; a disputa e gestão
por recursos energéticos, em certos casos mais intensa por parte das grandes economias
emergentes; o duelo entre os interesses particulares/individuais e os interesses
públicos/comunitários/globais.
Quando há vontade, capacidade e meios para o fazer, a resolução dos conflitos tende a
passar por maior regulação governamental, numa abordagem do tipo “top‐down”, ou, em
alternativa por uma maior aposta na (re)organização de comunidades locais que
apresentam estratégias próprias e de acção imediata (“bottom‐up”).
12) Comportamento dos Actores: Individualismo vs. Bem Comum
As atitudes individuais variam consoante o contexto em que se insere o indivíduo, o qual
pode ser marcado por um cariz reactivo ou proactivo, pela possibilidade das causas se
assumirem como globais e comuns ou se houver um predomínio de objectivos individuais.
Uma das linhas temáticas exploradas pelos projectos de cenarização analisados, e pela
qual se poderá analisar o comportamento individual, é através dos padrões de consumo e
atitudes dos cidadãos enquanto consumidores, pois estes acabam por ser um reflexo dos
incentivos e estímulos gerados pelo contexto político, económico, social, ambiental, e
tecnológico em que se inserem.
Em alguns dos cenários, nomeadamente aqueles onde existe uma atitude mais proactiva
por parte da sociedade, os consumidores preferem que a eficiência económica passe para
segundo plano caso isso signifique uma diminuição das desigualdades sociais. Preferem a
“economia do bem‐estar”, caracterizada por um consumo mais “lento e sustentável”, em
oposição ao crescimento económico conduzido pelo consumo desmesurado e exacerbação
das necessidades individualistas. Trata‐se de um consumidor consciente, que aposta na
partilha e reflecte sobre a existência dos recursos e no nível de conflitualidade associado à
sua obtenção. Quanto maior a consciencialização ambiental, maiores as diferenças nos
estilos de vida adoptados.
Em contraste, num contexto de reactividade, as soluções tecnológicas são encaradas como
a solução para a manutenção de padrões de consumo acelerados, tendencialmente mais
prejudiciais ao ambiente e gestão sustentável dos recursos.
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3.4. Cenários Positivos e Cenários Preferidos
Os cenários são ferramentas de apoio à reflexão estratégica e à tomada de decisões em
contextos de incerteza. Neste sentido, mais importante do que apresentar cenários positivos e
negativos, ou cenários “bons” e “maus”, uma das ambições dos cenários é a de serem capazes
de confrontar o utilizador ou decisor com futuros possíveis que sejam qualitativamente
diferentes e que estimulem a reflexão e capacidade de identificar desafios, explorar
oportunidades e definir implicações e opções estratégicas.
Tendo em conta que nesta colectânea de projectos existem, certamente, cenários que têm
implícitos futuros mais positivos e outros mais negativos, constatou‐se que as linhas gerais de
análise dos vários cenários mais optimistas são geralmente semelhantes entre si.
As características comuns e frequentemente partilhadas nos cenários mais optimistas
consistem nos seguintes pontos:
• Cooperação internacional alargada, nomeadamente nas regras de mercado e no comércio,
no combate às alterações climáticas, na redução de disparidades sociais, numa gestão
sustentável da energia;
• Integração e globalização política, através da acção concertada entre os governos
nacionais e outros actores, alianças entre corporações, ONGs e comunidades,
convergência entre países (UE, ONU, …);
• Economia estável e/ou em crescimento a par de reformas eficazes nos diferentes sistemas
sociais;
• Prioridade global para a sustentabilidade ambiental, através de um crescimento
económico sustentável, frequentemente associado à capacidade de se chegar a acordos
climáticos globais;
• Aceitação de menor eficiência económica no caso de isso significar maior igualdade social;
• Partilha de experiências e iniciativas de integração económica, política e social.
Em sentido inverso, os cenários com cariz mais negativo tendem a ser construídos com base
numa combinação selectiva das configurações opostas associadas aos temas acima referidos.
Tal como não se devem construir de forma “premeditada” cenários positivos em oposição a
cenários negativos, também não é vantajoso que quem desenvolve cenários assuma uma
preferência explícita sobre determinado(s) cenário(s).
Dos projectos de cenarização analisados, são raros os casos onde as entidades autoras dos
projectos assumem uma preferência clara por determinado cenário, seja ele mais ou menos
optimista, embora a esta catalogação de “positivo” ou “negativo” esteja sempre implícita uma
interpretação subjectiva do leitor face ao(s) cenário(s) e ao(s) projecto(s).
A excepção acontece no caso do projecto n.º 2, da Shell, que revela uma clara e assumida
preferência pelo Cenário “Blueprints”, que combina algumas das características anteriormente
descritas como “típicas” de um cenário positivo.
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ANEXO 1:
OS 42 PROJECTOS INTERNACIONAIS DE CENARIZAÇÃO
IDENTIFICADOS
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42 PROJECTOS INTERNACIONAIS DE CENÁRIOS
Nº País Organização Título Horizonte Temporal
Foco Âmbito Data de
Publicação
1 Finlândia Finnish Business and Policy Forum EVA
EVA’s Global Scenarios ‐ Playing Fields of the Future (2020)
2020 Global Global 2009
2 Empresa
multinacional, sede na Holanda
Royal Dutch Shell plc Shell Energy Scenarios to 2050 2050 Energia Global 2008
3 Empresa
multinacional, sede na Holanda
Royal Dutch Shell plc Shell Global Scenarios to 2025 ‐ The future business environment: trends, trade‐offs and choices
2025 Global Global 2005
4 Holanda CPB ‐ Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis
Quantifying Four Futures for Europe 2040 Economia Global 2003
5 Holanda CPB ‐ Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis
Post‐2012 Climate Policy Scenarios 2020 Ambiente Regional / Nacional
2007
6 Estados Unidos da América
US National Intelligence Council
Global Trends to 2025: A Transformed World 2025 Global Global 2008
7 Estados Unidos da América
US National Intelligence Council
Global Scenarios to 2025 2025 Global Global 2008
8 Reino Unido Outsights The Future of the Global Economy to 2030 2030 Economia Global 2009
9 Reino Unido Outsights e Ipsos MORI para o Foresight Horizon Scanning Centre
Scenarios for the Future International Environment 2010‐2020
2020 Ambiente Global 2008
10 Reino Unido Natural England England’s natural environment in 2060 – issues, implications and scenarios
2060 Território e Ambiente
Nacional 2009
11 Reino Unido Forum for the Future & Levi Strauss & Co
Fashion Futures 2025 – Global Scenarios for a Sustainable Fashion Industry
2025 Moda/Vestuário Global 2010
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12 Estados Unidos da América
Global Business Network (GBN) & The Rockefeller Foundation
Scenarios for the Future of Technology and international Development
2030 Tecnologia Regional 2010
13 Reino Unido
Foresight Horizon Scanning Centre para a UK Government's Trade Policy Unit
World Trade: Possible Futures 2020 Comércio
Internacional Global 2009
14 Europa European Environment AgencyPRELUDE Scenarios (PRospective Environmental analysis of Land Use Development in Europe)
2035 Território e Ambiente
Regional 2007
15 Internacional World Water Council World Water Vision – Three Global Water Scenarios (2025)
2025 Água Global 2000
16 Internacional International Energy Agency ‐ OECD
Energy to 2050 – Scenarios for a Sustainable Future
2050 Ambiente Global 2003
17 Internacional United Nations Environment Programme (UNEP) – GEO 4 – Global Environment Outlook
The Outlook ‐ Towards 2015 and Beyond 2050 Ambiente Global 2007
18
Empresa multinacional,
sede na Alemanha
Siemens – Pictures of the Future
Horizons 2020 – A Glimpse of Things to Come 2020 Tecnologia Regional 2004
19 Reino Unido Forum for the Future & Hewlett Packard Labs
Climate Futures – Responses to climate change in 2030
2030 Ambiente Global 2008
20 Internacional World Energy Council Deciding the Future: Energy Policy Scenarios to 2050
2050 Energia Global 2007
21 Estados Unidos da América
Global Business Network (GBN) & Cisco
The Evolving Internet: Driving Forces, Uncertainties, and Four Scenarios to 2025
2025 Tecnologia Global 2010
22 Europa European Patent Office Scenarios for the Future (2025) 2025 Propriedade Industrial
Global 2007
23 Internacional Millennium Ecosystem Assessment
Ecosystems and Human Well‐being: Scenarios (2050)
2050 Ambiente Global 2005
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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
19 PROJECTOS ADICIONAIS NÃO INCLUÍDOS NA ANÁLISE COMPARATIVA
24 Estados Unidos da América / Holanda
Global Business Network (GBN) & Netherlands Organization for Development (SNV)
Future Models of Economic Development in Central America – Scenarios and Implications
2030 Economia;
DesenvolvimentoRegional 2009
25 Reino Unido Foresight Horizon Scanning Centre
Intelligent Infrastructure Futures – The Scenarios Towards 2055
2055 Transportes Nacional 2006
26 Internacional United Nations IPCC – Intragovernmental Panel on Climate Change
Special Report on Emissions Scenarios 2100 Ambiente Global 2000
27 Reino Unido Foresight Horizon Scanning Centre
Powering our Lives: Sustainable Energy Management and the Built Environment
2050 Energia e
ordenamento do território
Nacional 2008
28 Reino Unido Office of Gas and Electricity Markets (UK)
Energy Market Scenarios 2020 Energia Nacional 2009
29 Europa Comissão Europeia TRANSvisions (Report on Transport Scenarios with a 20 and 40 Year Horizon)
2050 Transportes Regional 2009
30 Reino Unido Forum for the Future & National Health Service (NHS) Sustainable Development Unit
Fit for the Future – Scenarios for low‐carbon healthcare 2030
2030 Saúde Nacional 2009
31 Reino Unido
Forum for the Future & TUI Travel PLC & Thomas Cook & British Airways & Carnival UK Group & The Co‐operative Travel & The Travel Foundation & Sunvil Holidays & Advantage Travel Centres & ABTA
Tourism 2023 – Four scenarios, a vision and a strategy for UK outbound travel and tourism
2023 Turismo Nacional 2009
32 Reino Unido
Foresight Horizon Scanning Centre para o Department of Innovation, Universities and Skills
UK Futures: Society & Economy 2030 2030 Sociedade e Economia
Nacional 2008
Colecção de Cenários Globais
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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
33 Internacional World Business Council for Sustainable Development
WBCSD Global Scenarios 2000‐2050: Exploring sustainable development
2050 Global Global 1997
34 Internacional Millennium Project Global Exploratory Scenarios ‐ 2025 2025 Global Global 1997
35 França
Institut National de la Recherche Agronomique (INRA) & Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (CIRAD)
Agrimonde ® ‐ Scenarios and Challenges for Feeding the World in 2050
2050 Alimentação e Agricultura
Global 2009
36 Estados Unidos US National Intelligence Council
Mapping the Global Future 2020 Global Global 2004
37 Reino Unido Foresight Horizon Scanning Centre
Tackling Obesities: Future Choices – Visualizing the Future: Scenarios to 2050
2050 Saúde e
Obesidade Nacional 2007
38 Reino Unido Department of Trade and Industry (UK)
Foresight Futures 2020 2010‐2030 Global Nacional 2002
39 Reino Unido The Oxford Scenarios Beyond the Financial Crisis (2020) 2020 Global Global 2009
40 Reino Unido Building Futures Growing by Degrees – Universities in the Future of Urban Development (2030)
2030 Educação Nacional 2009
41 Internacional McKinsey & Company New Economic Scenarios for 2010: The Global Economy Has Stabilized – Is a Return to Growth Assured?
2010 Economia Global 2009
42 Internacional Global Business Network (GBN)
Global Financial Crisis: Four Scenarios 2013‐2015 Economia Global 2008