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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
MARIA APARECIDA CASTANHO RAYMUNDO
O ESTUDO DA IDENTIDADE LOCAL/REGIONAL COM VISTAS À APREENSÃO
DOS PRINCÍPIOS FORMATIVOS DA CIDADANIA
PONTA GROSSA 2012
MARIA APARECIDA CASTANHO RAYMUNDO
O ESTUDO DA IDENTIDADE LOCAL/REGIONAL COM VISTAS À APREENSÃO
DOS PRINCÍPIOS FORMATIVOS DA CIDADANIA
Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Julieta W. Cordova
PONTA GROSSA 2012
O ESTUDO DA IDENTIDADE LOCAL/REGIONAL COM VISTAS À APREENSÃO DOS PRINCÍPIOS FORMATIVOS DA CIDADANIA
Autor: Maria Aparecida Castanho Raymundo
Orientadora: Profª. Drª. Maria Julieta Weber Cordova
Resumo
O artigo relata e discute a implementação de um projeto de intervenção educacional
inserido no Programa de Desenvolvimento da Educação do Estado do Paraná e
desenvolvido em uma escola da rede estadual do município de Piraí do Sul, Paraná.
O trabalho abordou a apreensão da identidade local/regional e da cidadania por
meio de um projeto de leitura no Ensino Fundamental. A leitura sempre esteve
presente no centro das reflexões do cenário educacional, enquanto instrumento que
desenvolve habilidades cognitivas que auxiliam o indivíduo a ter acesso à
informação, defender seus pontos de vista e partilhar os bens culturais da
sociedade, podendo, assim, exercer sua cidadania. No entanto, observou-se, nesta
escola, que os alunos egressos das séries iniciais encontravam dificuldades na
leitura, na escrita e na oralidade, estendendo-se à capacidade de interpretação e
reflexão crítica do conteúdo lido, impossibilitando assim, sua inserção social
enquanto cidadãos que tanto podem se integrar na cultura do seu meio, como
podem se fazer transformadores de sua realidade. Nesse sentido, a investigação
orientou-se pela necessidade de oferecer métodos que resultem na formação crítica
dos alunos, minimizando a dificuldade ora apresentada. Objetivou-se assim,
viabilizar estudos que levem os alunos a refletirem sobre o conhecimento histórico e
social, a fim de trabalharem conceitos que remetam à construção da cidadania,
incentivando-os a participarem da sociedade de forma crítica e consciente.
Apontam-se como principais resultados, além do enfrentamento dos problemas de
leitura apresentados, o conhecimento por parte dos alunos da relevância da
memória, da história oral e da escrita na formação da cultura de um povo,
possibilitando a apreensão dos princípios formativos da cidadania, por meio de um
trabalho contextualizado pelo estudo da identidade local e regional.
Palavras-chave: Identidade local/regional; Cidadania; Memória; História oral; Leitura
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1 Introdução
A identidade local e regional sempre esteve presente no centro das reflexões
do cenário educacional enquanto instrumento que desenvolve habilidades
cognitivas, que auxiliam o indivíduo a ter acesso à informação, defender seus pontos
de vista e partilhar os bens culturais da sociedade, podendo, assim, exercer sua
cidadania. Portanto, reconhecendo a importância desse estudo, a escola deve
assumir a função de desenvolver no aluno a capacidade de se perceber como um
ser político socialmente ativo, que possa compreender sua influência na formação e
transformação da sociedade, relacionando presente, passado e futuro, numa
perspectiva local e regional.
Nesse contexto, este artigo surgiu da implementação do projeto “O estudo da
identidade local/regional com vistas à apreensão dos princípios formativos da
cidadania”, realizado no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2011 da
SEED – Paraná. Apresentou como finalidade o resgate e a valorização da identidade
local e regional do município de Piraí do Sul, através da implementação de uma
prática de estudos pela leitura de lendas e contos que tornam o ato de ler mais que
uma tarefa mecânica, mas sim um exercício pleno de prazer e cidadania, de
informação e de formação, de aprendizado, do qual é possível se refletir sobre si
mesmo e sobre a realidade que o cerca.
A justificativa para a escolha desse tema partiu das observações realizadas
na escola com os alunos da 5.ª série, onde constatou-se que esses alunos, oriundos
das séries iniciais não possuem o hábito de ler, trazendo dificuldades de
interpretação de textos de maneira crítica, de forma a promover a consciência da
necessidade de uma contextualização social, política e cultural daquilo que lê.
Nesse sentido, a problemática consistiu, portanto, em buscar alternativas de
estudo, visando superar as dificuldades de leitura e compreensão já apresentadas.
Objetivou-se, assim, que os alunos de 5.ª série pudessem conhecer a relevância da
oralidade e da escrita na formação da cultura de um povo, possibilitando a
percepção de valores e referências culturais, tornando-os conscientes de sua
identidade local e regional, enquanto cidadãos críticos e participativos de seu próprio
meio social.
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Tais argumentações fundamentaram a pesquisa que se dividiu em cinco
etapas:
1.ª etapa – a) Elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica: elaborado a partir
da intenção manifestada pelo Professor PDE e do diagnóstico realizado na escola
de atuação, sendo orientado pelo professor da Instituição de Ensino Superior (IES),
nesse caso, da Universidade Estadual de Ponta Grossa; b) Pesquisa bibliográfica:
foram realizados estudos e reflexões acerca de diversas obras a respeito da
apreensão da identidade local/regional e da cidadania em projeto de leitura no
Ensino Fundamental.
2.ª etapa – Diagnóstico e análise dos dados: paralelamente à pesquisa bibliográfica,
foi realizado diagnóstico no ambiente escolar, a fim de se confrontar teoria e prática.
3.ª etapa – Produção Didático-Pedagógica: foi elaborado uma Unidade Didática,
sob a orientação do professor Orientador da IES, destinada a alunos e professores
da 5.ª série do Ensino Fundamental, proporcionando, através de integração teoria e
prática, reflexões e orientações básicas que serviram de suporte para a
implementação do projeto na escola.
4.ª etapa – Implementação do Projeto na escola.
5.ª etapa – Elaboração do artigo final: apresenta os resultados observados durante o
decorrer do planejamento, implementação e avaliação do projeto, além da reflexão
sobre o vivido.
A proposta desse projeto fundamentou-se no princípio de que a escola é um
espaço democrático em que é indispensável fornecer meios para que o aluno se
aproprie do saber elaborado, estando apto a participar da sociedade como um ser
social, permitindo que a nova geração entre em contato com a literatura local e a dos
Campos Gerais tendo por base metodológica tanto o contato do aluno pela leitura
escrita como pelo estudo oral.
Assim, o estudo proposto buscou enfatizar que o estudo oral possibilita o
acesso ao conhecimento por meio de relatos de acontecimentos revelados de uma
geração à outra que não se encontram em documentos escritos, constituindo-se,
portanto, em uma fonte de pesquisa reveladora de costumes e de modos de vida de
antepassados. Nesse processo, a história oral será utilizada como forma de
abranger contos locais e regionais contados por pessoas da comunidade,
convidados a estarem no âmbito escolar para esse fim.
Já o acesso à leitura das lendas locais e regionais possibilita que o aluno
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compreenda que o mundo não é feito somente pela linguagem visual, mas também
registros escritos, os quais são capazes de proporcionar às pessoas o contato com o
conhecimento, possibilitando a percepção das semelhanças, das diferenças e da
permanência de valores culturais onde se está inserido.
Nesse sentido, o artigo buscou relatar, socializar e divulgar os
encaminhamentos e resultados do trabalho realizado. O texto está organizado em
três momentos. No primeiro, apresentou-se a fundamentação teórica que deu
suporte a esse trabalho, com o objetivo de aprofundar o estudo pelas contribuições
teóricas de autores com produção sobre o tema. Em seguida, no segundo momento,
tendo em conta o aprofundamento teórico, foram relatados os processos de
implementação do projeto na escola e discutida a metodologia empregada,
realizando-se uma reflexão sobre os resultados atingidos. Para finalizar, no terceiro
momento, foram tecidas considerações finais do trabalho desenvolvido.
2 A apreensão da identidade local/regional e da cidadania em projeto de leitura no Ensino Fundamental: pressupostos teóricos
A educação consiste em um processo de assimilação do saber
historicamente construído que se revela mesmo quando o indivíduo não tem
consciência disso. A aprendizagem acontece através da interação com o outro, que
desempenha um papel fundamental nesse processo. Para Duarte (2004, p. 51):
[...] ao se apropriar de um produto cultural, o indivíduo está se relacionando com a história social, ainda que tal relação nunca venha a ser consciente para ele, como é o caso, para a maioria das pessoas, da linguagem oral. As pessoas apropriam-se da linguagem desde a infância e, dessa forma, relacionam-se, sem terem consciência disso, com a história de produção, utilização e modificação da linguagem. Tal consciência só surge quando o desenvolvimento sócio-histórico produz a necessidade dos estudos sobre a linguagem.
Nesse processo, enquanto o indivíduo se apropria da história social, ele vai
se construindo como sujeito, ou seja, como explica Duarte (2004, p. 52):
(...) sua formação realiza-se sempre no interior de relações concretas com outros indivíduos, que atuam como mediadores entre ele e o mundo, o mundo da atividade humana objetivada. A formação do individuo é sempre um processo educativo, podendo este ser direto ou indireto, intencional ou não intencional, realizado por meio de atividades práticas ou de
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explanações orais, etc.
As atividades educativas na escola passam a ter um caráter intencional,
como explica Saviani (1992, p. 17):
O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação de elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
O processo de ensinar e aprender implica, sobretudo, num processo
mediado por conceitos, conhecimentos produzidos em situações concretas na
história da humanidade pelo coletivo humano, pelo sujeito que aprende, pelo sujeito
que ensina e pelo objeto de aprendizagem.
Nessa perspectiva, a escola passa a ter o compromisso de transmitir
saberes sistematizados construídos ao longo do tempo, constituindo-se, portanto,
em um instrumento de memória.
É importante que se eduque por meio da memória, pois é uma forma de valorização
cultural do indivíduo e do grupo ao qual ele está inserido. Resultante de uma prática
social, lembrar de um acontecimento que valorize o ser humano, a sua família e a
sua comunidade promove o encontro de gerações que possuem o mesmo objetivo,
o de preservação e conscientização para o futuro, já que o ser humano está em
constante transformação social.
Cada indivíduo carrega as suas lembranças, mas não se está só neste
lembrar; ao contrário, encontra-se o tempo todo interagindo com a sociedade, seus
grupos e instituições. A memória passa a constituir-se de um processo polifônico, ou
seja, possui a capacidade de permear-se de outras memórias e que, nesse sentido,
o indivíduo não precisa fazer-se personagem presente, pois o mundo é visto como
um emaranhado de experiências, tão diverso quanto os diferentes grupos com o
qual interage. Segundo Halbwachs:
Nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem (1990, p. 26).
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De acordo com Le Goff (2003, p. 421):
[...] pela memória temos a propriedade de conservar certas informações que, por nos remeter a um conjunto de funções psíquicas, permite-nos atualizar impressões e informações passadas ou que representamos como passado.
E é a partir dessa memória individual e coletiva que se forma a identidade
cultural local e regional.
Nesse contexto, resgatar a memória coletiva de uma comunidade
oportuniza o reconhecimento de saberes que tem sua origem nas recordações das
experiências sociais, das histórias locais, dos mitos e lendas, das histórias pessoais,
saberes não-oficiais, não institucionalizados, que representam à memória coletiva
dos diferentes grupos étnicos das classes populares, pois como afirma Félix (1998,
p. 45):
Estudar memória é falar não apenas de vida e de perpetuação da vida através da história, é falar, também, de seu reverso, do esquecimento, dos silêncios, do não ditos, e, ainda, de uma forma intermediária, que é a permanência de memórias subterrâneas entre o esquecimento e a memória social.
Dessa forma, o estudo sobre a memória é fundamental para perceber a
relevância do estudo histórico, bem como sua relação social que aponta para a
própria formação da identidade local e regional que se apresenta como norteadora
da formação da cidadania, tornando o indivíduo cidadão crítico e consciente, capaz
de conhecer o passado, analisar o presente e assim transformar a realidade de
maneira a contribuir para melhoria da sociedade em que está inserido.
Enfim, “memória é a propriedade de conservar certas informações, e que
deve-se trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a
servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p.477).
A construção de um ambiente que permita a formação da cidadania é uma
preocupação constante na educação. O trabalho pedagógico que resgate este
sentido educacional da cultura, que faça com que cada aluno seja aquele integrante
que traz sua experiência de vida para ser compartilhada na escola, por meio de um
relato, de uma contação de história, de uma audição, enfim, socializando o que já
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sabe, permite a preservação de algo maior, que é a identidade do seu próprio povo.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2006) abordam de forma
ampla a necessidade de a escola atender às demandas possíveis sobre “o
aprender” do aluno, de forma que ele esteja integrado à realidade que o cerca, a
questionar sobre o meio social em que vive e inquietar-se diante do que pode ser
transformado. Um ensino-aprendizagem que desenvolva a percepção social por
meio da história e da memória humaniza a escola e a formação crítica acontece de
forma que o conhecimento academicista não seja preponderante para que o saber
sistematizado ocorra.
Então, a condição para ser um cidadão será compreendida ainda durante a
caminhada, sem a retórica de que cidadania centra-se apenas em direitos e deveres.
O papel político do cidadão também está presente no fazer-se homem, fazer-se
povo e o educando precisa de possibilidades metodológicas que viabilizem o
trabalho com o cotidiano, com o que remete ao imaginário popular. O que tem
significado especial para determinada comunidade passa a fazer parte da
construção da vida cidadã no ambiente escolar, sendo educadores e educandos
responsáveis pela legitimação do que é possível como prática pedagógica.
3 O processo de implementação do projeto na escola
As estratégias propostas para esse trabalho fundamentaram-se em uma
metodologia de investigação e intervenção que representam um processo de
construção e socialização de saberes, constituindo-se em: a) diagnóstico da situação
da escola; b) socialização do projeto nos grupos de trabalho em rede; c)
implementação do trabalho efetivado na escola e que envolveu
professores/alunos/pais/equipe pedagógica e direção; d) avaliação e análise do
processo vivenciado.
No diagnóstico da situação da escola, através de observações no ambiente
escolar, verificou-se que os alunos oriundos das séries iniciais encontram
dificuldades na leitura, na escrita e na oralidade, estendendo-se à capacidade de
interpretação e reflexão crítica do conteúdo lido, impossibilitando assim, que o aluno
participe como elemento integrante da cultura e atue como transformador de sua
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realidade.
Constatou-se, ainda que esse problema vem sendo notado pelos
professores, que por sua vez, já desenvolvem, desde 2010, um projeto de leitura
denominado “Incentive seu aluno a ler” , que visa superar essas dificuldade, além de
buscar despertar nos alunos o gosto pela leitura, valorizar o conhecimento adquirido
pela leitura e proporcionar momentos de leitura prazerosa para toda a comunidade
escolar. Esse projeto conta com a participação dos professores das disciplinas de
Lingua Portuguesa, Matemática, Arte e Geografia, além da bibliotecária da escola.
Para esses professores, bons resultados vem sendo alcançados, mas é preciso
ampliar, principalmente a adesão dos demais professores, o que poderá ser
conseguido com mais propostas que envolvam a leitura, como é o caso desse
projeto de intervenção.
Por meio do processo de diagnóstico foi possível compreender a realidade
da escola, e, assim, iniciar a implementação do projeto de modo a contribuir para a
superação do problema e o aperfeiçoamento da prática educativa.
Nesse contexto, o processo de socialização do projeto ocorreu por
intermédio do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), possibilitando interações entre os
participantes, que trocaram experiências, enriquecendo o trabalho e potencializando
ações coletivas que levem os alunos a compreenderem sua identidade local e
regional possibilitando o conhecimento e a valorização da história local e regional de
onde vivem através da leitura de lendas e contos, além de propiciar condições para
que o aluno venha a superar possíveis dificuldades de aprendizagem em relação à
leitura, escrita e oralidade.
Foi possível contar com colegas participativos e interessados em superar os
problemas apresentados, tornando-se colaboradores para o aperfeiçoamento da
proposta de implementação pedagógica.
As interpretações destes colegas colaboradores, à luz dos determinantes
teórico-práticos apresentados, trouxeram importantes contribuições, sendo neste
momento retomados e sistematizados.
Nas reflexões apresentadas tornou-se evidente a importância deste projeto para as
escolas, pois os participantes enfatizaram o grande desafio que nós, professores,
enfrentamos, ou seja, o de inserir os alunos na sociedade, desenvolvendo a
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capacidade de tornarem-se cidadãos críticos que saibam defender seus direitos e
deveres, que sejam bem informados e em condições de compreender e participar na
sociedade em que vivem, capazes de conhecer o passado, analisar o presente e
assim transformarem a realidade de maneira a contribuir para melhoria da sociedade
em que estão inseridos.
Dessa forma, os participantes destacaram que esse projeto de intervenção
traz uma bagagem de enriquecimento ao Projeto Político Pedagógico da escola
oportunizando o diálogo, a reflexão a o respeito pela educação, possibilitando ao
aluno a elaboração de um pensamento autônomo e crítico, verificando as melhores
decisões a serem tomadas diante de situações, considerando os aspectos políticos e
sociais envolvidos frente às diferentes circunstâncias da vida, dando uma visão das
concepções de ensino-aprendizagem e do conhecimento, utilizando muitos recursos
e criatividade e mediando saberes entre os participantes deste projeto.
Outro aspecto a se levar em conta, segundo os participantes, é que o
projeto tende a levar o aluno a identificar o próprio grupo de convívio e as relações
que estabelecem com outros tempos e espaços, além de localizar acontecimentos
numa multiplicidade de tempos, fazendo com que o educando formule explicações
para questões do presente e do passado. Este conhecimento vai levar o aluno a
respeitar modos de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços
em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo
semelhanças e diferenças entre eles.
Na utilização de lendas e contos para o desenvolvimento do trabalho foi
considerado bastante interessante a exploração da história local e regional, que se
constitui em um rico material de apoio ao professor e sua utilização motiva
ludicamente a participação da criança no processo de aprendizagem, criando novas
estratégias para cada vez mais desenvolver o hábito de ler. Sendo assim, trabalhar
histórias, contos e lendas com as crianças proporciona que se criem hábitos de
leitura e o gosto pela contação de histórias. Contribui, especialmente, na formação
de alunos críticos e conscientes do seu papel sócio-político, possibilitando nascer
desta iniciativa leitores e escritores do futuro.
Os participantes destacaram, ainda, que tal proposta além de resgatar a
história local, estará investindo no envolvimento da família e da comunidade na
escola, que certamente enriquecerão ainda mais esse projeto.
Visando o aprofundamento do tema, os participantes deram sugestões que
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trouxeram enriquecedoras contribuições para o aperfeiçoamento do projeto de
implementação na escola, como: a produção de uma coletânea de textos,
produzidos pelos alunos, apresentada em uma “Noite Cultural” envolvendo toda a
comunidade; produção de histórias em quadrinhos; formação de Grupo de
Contadores de História; produção de resenhas e contos de autoria dos alunos;
entrevistas; obras artísticas envolvendo desenhos e pinturas.
Em seguida foi elaborado a Produção Didático Pedagógico – Unidade
Didática com as atividades que seriam realizadas com os alunos, e que, poderão ser
aproveitadas no cotidiano escolar por professores que desejem reorganizar seu
fazer pedagógico de forma mais significativa e criativa.
A implementação do projeto na escola foi desenvolvida no período de julho
à novembro de 2011, em 8 (oito) encontros pedagógicos de 4 (quatro) horas cada,
obtendo o total de 32 (trinta e duas) horas
O primeiro encontro foi destinado à apresentação do projeto para a Direção,
Equipe Pedagógica e Professores da escola. As discussões iniciais propuseram uma
reflexão entre os participantes sobre as dificuldades apresentadas pelos alunos de
aprendizagem em relação à leitura, escrita e à oralidade, provocando, assim, o
comprometimento do coletivo e possibilitando a compreensão de que a
responsabilidade é da escola e dos educadores, no sentido de propiciar ao aluno as
condições mais favoráveis e possíveis melhoras na aprendizagem.
Os demais encontros foram destinados aos alunos da 5ª Série, Turma D,
turno da tarde, desenvolvendo-se atividades criativas e atraentes, com conteúdos
específicos à idade dos alunos a quem se destina esse trabalho – entre 11(onze) e
13 (treze) anos, no contraturno escolar.
O trabalho com os alunos teve início com a explicação do projeto e
socialização entre os participantes. Para tanto, foi utilizada uma dinâmica de caça ao
tesouro, onde foi escondido no Parque Nossa Senhora das Brotas a chave de um
baú onde se encontrava o tesouro (figuras dos contos e das lendas escolhidos para
o desenvolvimento do trabalho) para se trabalhar com os educandos a valorização
da cultura regional e local. Os alunos foram então divididos em grupos. Cada grupo
recebeu um papel contendo as instruções iniciais com uma pista que os levava a
outra pista e assim por diante, até que em grupos encontrassem o TESOURO,
trabalhando desta forma a cultura como sendo um tesouro, que deve ser valorizado
e preservado, pois faz parte da história de cada um de nós.
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Essa atividade constituiu-se em uma importante estratégia motivacional para o
desenvolvimento do projeto, levando o alunos a vivenciarem a aventura e o prazer
que o lúdico proporciona.
Nesse sentido, afirma Machado (2000, p. 37):
As atividades lúdicas ganham espaço, como ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social, ajuda-o a construir novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.
Os demais momentos com os alunos foram divididos de acordo com as
lendas e contos locais/regionais selecionados para as atividades: Lenda Paranaense
Gralha Azul; Lenda de Vila Velha; Lenda da Pedra Grande; Drama da Fazenda
Fortaleza; Lenda das Pombinhas; e A água do bicão.
Cada encontro foi iniciado com a “Hora do Conto”, onde os convidados, pais e
pessoas da comunidade contaram contos populares do seu conhecimento,
desenvolvendo-se, assim, a História Oral, que Thompson define como sendo:
uma historia construída em torno das pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis não só dentre os lideres, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Traz a historia para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade (1992, p. 44).
O envolvimento dos alunos com os convidados e a participação desses
nesse projeto foi impressionante, levando o aluno a informalmente e
espontaneamente conhecer e construir uma percepção sobre o passado e o
presente que resultam na identidade local e regional. Pudemos perceber que, ao
contar suas histórias, os participantes sentiram-se úteis por saberem que suas
trajetórias de vida são fonte de conhecimento para os mais novos.
Em seguida, tendo como apoio a Unidade Didática, foi realizada de forma
coletiva a leitura de textos, utilizando exposição de imagens e discussões do grupo
sobre os fundamentos e mensagens presentes em cada um deles. Tal atividade teve
por finalidade desenvolver os princípios formativos da cidadania no aluno, já que
este pode trabalhar com a capacidade de refletir e interpretar de maneira crítica e
consciente frente ao universo de informações a que são expostos diariamente:
A leitura desenvolve a reflexão e o espírito crítico. É fonte inesgotável de
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assuntos para melhor compreender a si e ao mundo. Propicia o crescimento interior. Leva-nos a viver as mais diferentes emoções, possibilitando a formação de parâmetros individuais para medir e codificar nossos próprios sentimentos. (CAGNETI,1986, p. 26).
Pela leitura e interpretação dessas histórias, tanto dos contos como das
lendas, inseridas em manifestações do cotidiano, proporcionou-se aos alunos um
conhecimento necessário para o reconhecimento de seu espaço na sociedade, bem
como o entendimento da formação e origem da identidade local e regional,
despertando a capacidade de análise crítica, o que certamente resultará em
soluções práticas e positivas para a vivência de sua cidadania.
A sistematização de cada texto foi realizada em grupos através das
atividades propostas. Investindo-se na capacidade que os alunos possuem de se
expressar criativamente, os grupos apresentaram à comunidade, as histórias obtidas
através da oralidade e da leitura, utilizando outras formas de representação:
dramatizações, paródias, painéis e poesias.
4 Considerações finais
A escola contemporânea é uma instituição social que tem como objetivo o
desenvolvimento das potencialidades dos alunos. Eis um dos desafios da escola,
procurar inserir os mesmos na sociedade, desenvolvendo a capacidade de
tornarem-se cidadãos críticos que saibam defender seus direitos e deveres, que
sejam bem informados e em condições de compreender e participar na sociedade
em que vivem.
Não é só da escola a função de desenvolver e formar os cidadãos ativos,
porém, como a escola é um local privilegiado de aprendizagem, ela tem como uma
das responsabilidades a tarefa de inserir o aluno socialmente. E ao professor cabe
então a tarefa de estimular situações que façam com que o aluno reconheça que ele
faz parte de um grupo, de uma comunidade e de uma sociedade e sendo capaz de
compreender que tem uma função importante na comunidade a que está inserido.
Nessa perspectiva, esse Projeto de Intervenção buscou proporcionar
espaços de estudo, discussão, reflexão e ação educativa, uma vez que apresentou a
investigação e a produção do conhecimento sobre a realidade estudada, e apontou
um processo educativo para o enfrentamento desta, atuando diretamente no
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processo ensino e aprendizagem.
Para tanto, o processo de intervenção foi movido pela necessidade de
oferecer métodos que resultem na formação crítica dos alunos, tornando-os aptos a
participarem da sociedade como um ser social, permitindo que a nova geração entre
em contato com a literatura local e a regional, tendo por base metodológica tanto o
contato do aluno pela leitura escrita como pelo estudo oral.
Optou-se por utilizar a história oral nesse projeto por ser ela construída em
torno das pessoas, lançando a vida para dentro da própria história. É o que salienta
Praxedes (2007, p. 158) ao destacar que: “a história oral está centrada nos sujeitos,
nos indivíduos, em suas narrativas do vivido, da experiência e da história”.
Possibilita-se, assim, que os heróis possam vir não só dentre os líderes, mas
também dentre a maioria desconhecida (THOMPSON, 1992).
Segundo Meihy (1996, p. 19) “a história oral implica uma percepção do
passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está
acabado. É isso que marca a história oral como história viva”.
Diante desses conceitos, foi possível perceber que a história oral pode ser
muito bem trabalhada na escola para que o aluno conheça sua identidade local e
regional e que estabeleça um relacionamento com outras gerações. Neste aspecto,
a possibilidade oferecida pela História Oral, propiciou que se resgatasse o cotidiano
das pessoas, considerando que “a memória de um indivíduo é um ponto de partida
de uma parte do todo que é a memória coletiva” (HALBWACHS, 1990, p. 25).
O estudo da história oral foi realizado especialmente a partir de contos
populares contados por pessoas da comunidade. O conto popular é uma narrativa
de pequena extensão, com um número reduzido de personagens, sem qualquer
fundo histórico, mas capaz de retratar as tradições de um povo e suas
manifestações, levando o aluno, de forma informal e espontânea, a conhecer e
construir uma percepção sobre o passado e o presente que resultam na apreensão
da identidade local e regional.
Paralelamente ao estudo da história oral foi realizado o trabalho de leitura,
tendo por finalidade o desenvolvimento do aluno cidadão que possui a capacidade
de refletir e interpretar de maneira crítica e consciente frente ao universo de
informações a que são expostas diariamente.
Para tanto, foi apresentado aos alunos lendas locais e regionais que os
ajudaram a compreender a formação da identidade cultural da região, do município e
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da comunidade onde a escola está inserida. As lendas são histórias anônimas,
transmitidas de geração a geração, muito antigas que fazem parte da imaginação
popular poética, em que a fantasia e o real se misturam.
Acreditamos que esta experiência pedagógica, vivenciada através desse
projeto de intervenção, contribuiu para interpretar, compreender, desvelar e ampliar
a visão de mundo dos envolvidos, tanto professores quanto alunos, aprofundando
questões, dialogando e construindo significados de aprendizagem para os sujeitos e
para a coletividade.
Sem dúvida, virão muitos desafios, dentre eles motivar a comunidade a
participar cada vez mais dos projetos desenvolvidos pela escola, pois sem dúvida
nenhuma podemos afirmar que este Projeto de Intervenção não teria tido tanto
sucesso se não fosse o envolvimento da comunidade; e também encorajar todos
da escola a romperem com práticas ultrapassadas e conservadoras. Tal aspecto
pôde ser vivenciado, ao se perceber, quando da apresentação da proposta desse
trabalho, a dificuldade de alguns professores em aceitar atividades, que segundo
eles, levam à “bagunça” uma vez que a escola conta com turmas numerosas e
indisciplinadas.
Nesse processo, destaca-se o papel do pedagogo como mediador da prática
pedagógica, cabendo a ele articular os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem para analisar as concepções, objetivos e as prioridades da escola,
propondo a diversificação do planejamento dos professores, a fim de propiciar
condições de preparar tanto alunos como docentes e comunidade aos desafios
atuais da educação básica.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação (2004),
o pedagogo ocupa um amplo espaço na organização do trabalho pedagógico, sendo um articulador no processo de formação cultural que se dá no interior da escola. Sua presença é fundamental na organização das práticas pedagógicas e consequentemente na efetivação das propostas. É o mediador no processo ensino-aprendizagem, de forma a garantir a consistência das ações pedagógicas e administrativas.
Dada à importância do pedagogo nesse processo, a oportunidade de
formação continuada através do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) foi
imprescindível para que o objetivo principal da proposta de implementação na escola
fosse atingido, uma vez que para se buscar novas formas de ler e de intervir na
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realidade escolar é necessário proporcionar espaços de estudo, discussão e
reflexão onde os professores possam expor suas concepções, idéias, dúvidas e
incertezas, dividir suas experiências, realizar estudos de aprofundamento teórico e
metodológico que promovam o aprendizado do aluno no processo de escolarização:
O aspecto mais importante em relação à formação de professores é a percepção de que a atualização permanente é condição fundamental para o bom exercício da profissão docente, pois o professor necessita estar em permanente estado de aprendizagem para que possa atender as
exigências que o processo educacional apresenta. (KENSKI, 2003, p. 88)
Sendo assim, estudos e reflexões coletivas sobre o tema precisam sempre
ser retomados, na tentativa de engajar cada vez mais professores na luta por uma
educação significativa e de qualidade para todos.
5 Referências
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