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8/18/2019 SANTOS, Bento Silva - A Metafísica Da Memória No Livro X Das Confissões de Agostinho
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A METAFÍSICA DA MEMÓRIANO LIVRO X DAS CONFISSÕES DE AGOSTINHO1
Bento Silva Santos(UFES – Departamento de Filosofia)
Nos escritos de Agostinho de Hipona (354-430) 2 a memória exerce a função de
elemento indispensável no processo do conhecimento seja em relação à percepção do
continuum espaço-temporal, seja em relação à atividade reprodutiva e criativa da
imaginação. Uma abordagem completa acerca da teoria da memória deve examinar como
Agostinho tematiza a formação das imagens mnemônicas, os processos da memorização e
da recordação, o papel da vontade nesses processos, a relação entre imagem mnemônica e
objetos percebidos, o fenômeno do esquecimento, com todas as suas implicações sobre o
indivíduo como sujeito consciente. Neste artigo, porém, me limito a examinar a concepção
agostiniana da presença de Deus na mente humana ou da memorização dos objetos do
conhecimento racional no Livro X das Confissões3.
1. A MEMÓRIA COMO RECEPTÁCULO DA EXPERIÊNCIA PASSADA
Quando Agostinho inicia sua abordagem sobre os “vastos palácios” (lata praetoria)
da memória na primeira parte do Livro X das Confissões, o leitor mais atento não terá
dificuldades de encontrar suas fontes. Além de ter lido textos de Plotino, a principal fonte
1 Publicado em Veritas. Revista de Filosofia 47 (2002) 365-375.
2 Para uma visão geral da filosofia de Agostinho, Cf. J. BRACHTENDORF, Confissões de
Agostinho.São Paulo: Loyola,2008, especialmente 121-155; 205-238; É. GILSON, Introdução aoestudo de Santo Agostinho.São Paulo: Paulus/Discurso Editorial,2007; M.R.N. DA COSTA, Santo
Agostinho: um gênio intelectual a serviço da fé . Porto Alegre,Edipucrs,1999; B. SILVA SANTOS, A questão do tempo no Livro XI das “Confissões” de Agostinho de Hipona, in FRECHEIRAS,M.L. & PAIXÃO, M. P. (orgs.) Em torno da Metafísica.Rio de Janeiro, 7Letras,2001, 38-54;Acerca das obras filosóficas de Agostinho, cf. V. CAPANAGA, Obras de San Agustín 3: Obras
filosóficas. Madrid, BAC, 1982
3 Acerca da teoria da memória de Agostinho, cf. G. O’ DALY, La filosofia della mente in Agostino.Palermo,Augustinus,1988, 165-188; A. SOLIGNAC, Libro decimo delle Confessioni, inCRISTIANI, M. & SOLIGNAC, A. Sant’Agostino. Confessioni 4: Libri X-XI .Milano, FondazioneLorenzo Valla-Arnaldo Mondadori Editore,1996, 169-247
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de Agostinho foi, porém, a obra Tusculanae disputationes (I,24,56-25,61) de Cícero (106
a.C.-43 a.C.). Estudando as faculdades específicas da mens, chamada animus, Cícero
enumera, primeiramente, a memória: “Em primeiro lugar, tem a memória, a memória
infinita de inumeráveis coisas, que Platão afirma ser reminiscência de uma vida
precedente”4. Tendo recordado o célebre diálogo Ménon (81e) de Platão, Cícero apresenta
duas conclusões: 1a) a memória contém impressas na alma, as noções, que chamamos de
ej nnoiva", de tantas e tão grandes coisas; 2a) o animus possui tais notiones antes de entrar no
corpo; essas pertencem, de fato, à ordem das realidades imutáveis. Cícero fornece, portanto,
a Agostinho não somente o esboço de uma análise especulativa da memória, mas também
expressões como animus, notiones, species, admiratio, vis animae. Longe de ser um merorepetidor de suas fontes, Agostinho possui uma capacidade pessoal excepcional de reunir
em um sistema todos os dados para elaborar uma espécie de fenomenologia transcendental
da memória. Agostinho manifesta uma admiratio inigualável perante os vastos e recônditos
campos da memória; tal admiração, porém, não se reduz a uma retórica, mas tem uma
ressonância metafísica.
Em outras obras Agostinho utiliza a terminologia platônica da “memória” e do
“esquecimento” para descrever os estados mentais relativos à posse ativa ou latente do
conhecimento. Neste sentido, aprender significa recordar . Esta terminologia é mais
explícita nos primeiros escritos, e quando Agostinho ainda vivia houve muitos equívocos a
este respeito; por essa razão, nas Retractationes dedicou-se à correção de sua terminologia.
Por exemplo, referindo-se à obra Contra Academicos 1,22 na qual, falando da mente que
procura a verdade, afirmara que a verdade, uma vez encontrada, permite à mente “por
assim dizer, retornar ao lugar de onde veio e voltar, plena de serenidade, ao céu”, ele
observa ( Retr. 1,1,3) que se tivesse usado o verbo “ir” em vez de “voltar”, teria excluído ainterpretação, em si errônea, da encarnação como estado de queda moral ou como punição
pelos pecados cometidos. Todavia, não rejeita o termo utilizado (rediturus) e o justifica
citando Eclesiastes, Paulo e Cipriano. A passagem do Contra Academicos deve ser
interpretado em sentido metafórico. A expressão “por assim dizer” indica claramente uma
4 CÍCERO, Tusculanae disputationes I,24,56-25,61: Habet primum memoriam, et eam infinitumrerum innumerabilium, quam quidem Plato recordationem esse vult vitae superioris.
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metáfora, e este caráter metafórico é explicado em Retr. 1,1,3: “Eu disse ‘no céu’ tendo em
vista dizer Deus, seu criador [...] sem dúvida, portanto, Deus mesmo é uma espécie de lugar
do qual se origina a felicidade humana”. Portanto, termos de derivação platônica, à luz da
teoria da iluminação, podem ser um modo cômodo, e “por assim dizer” simbólico, de falar
do acesso da mente às verdades a priori e do fato de que tais verdades devem ser realizadas
através do pensamento5.
O exame da memória no Livro X constitui apenas uma etapa na subida alma para
Deus. É necessário “transpor” a força (vis) com a qual infunde vitalidade ao corpo –
“ultrapassarei esta minha força com que me prende ao corpo e com encho de vida o meuorganismo”6 - e a força (vis) com a qual infunde a este sensibilidade: “transporei também
esta minha força; de fato, possuem-na também o cavalo e a mula, uma vez que também
sentem por meio do corpo”7.
No início de sua análise, Agostino utiliza uma série de metáforas para designar a
extraordinária riqueza da memória: “vastos palácios” (lata praetoria), “tesouros”
(thesauri), “receptáculos secretos” (abstrusiora quaedam receptacula) (X, 8,12), “imensa
corte” (aula ingens), “amplo seio” (ingens sinus animi) (X,8,14), “santuário amplo e
infinito” ( penetrale amplum et infinitum) (X,8,15), “concavidades escondidas” (cavae
abditores) (X,10,17), etc. Estas imagens enfatizam a imensidade, a potência e sacralidade
da memória, deixando entrever na mente de Agostinho uma admiratio. Esta nada mais é do
que uma confessio laudis. Neste sentido, a memória representa o próprio espírito como uma
fonte que transborda de modo inexaurível, oferecendo assim uma excelente proximidade
com Deus em sua infinitude e potência criadora. Dois elementos do conteúdo imenso da
memória são explicitados no parágrafo inicial: as imagens impressas pela percepção de todaespécie de coisas e o “tudo o que cogitamos” (quidquid etiam cogitamus):
5 Cf. AGOSTINHO, Conf. X,17, 26
6 AGOSTINHO, Conf. X, 7,11: Transibo vim meam, qua haero corpori et vitaliter compagem eiusrepleo.
7 AGOSTINHO, Conf. X, 7,11: Transibo et istam vim meam; nam et hanc habet equus et mulus:sentiunt enim etiam ipsi per corpus.
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“Chego aos campos e vastos palácios da memória, onde estão os
tesouros das inumeráveis imagens impressas pela percepção de toda
espécie de coisas. Aí está escondido tudo o que pensamentos aumentando
ou diminuindo ou até modificando os dados que os sentidos atingiram”8.
Desses elementos destaca-se um dos significados do termo cogitare: a atividade
desenvolvida pelo espírito sobre aquilo que já possui para modificar os dados, e tal fato é
indicado pelos termos no gerúndio: “aumentando” e “diminuindo”. Em seguida, Agostinho
descreve as facilidades e dificuldades no exercício da memória: algumas vezes, o que seprocura vem repentinamente; outras vezes, é preciso um esforço ingente para encontrá-lo;
às vezes, surgem recordações desagradáveis que impõem a necessidade de afastá-las.
Agostinho recorda especialmente o caso em que as recordações se apresentam em série
ordenada, na ordem de sua sucessão, o que sucede somente “cum aliquid narro memoriter”
(“quando digo alguma coisa de memória”).
A memória fornece as imagens das coisas no passado que são percebidas seja em
sua singularidade, seja distintas por gêneros, segundo a ordem dos cinco sentidos: por
exemplo: “a luz, as cores e as formas dos corpos penetram pelos olhos; todas as espécies de
sons pelos ouvidos; todos os cheiros, pelo nariz...”. Se através das imagens as próprias
coisas se oferecem ao pensamento que as recorda, se é possível fornecer um juízo acerca da
diferença das qualidades sensíveis mesmo quando há trevas e silêncio, a memória se
apresenta, de fato, como grande receptáculo e instrumento da consciência do mundo: “Aí
[no imenso palácio da memória] estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os
pormenores que neles pude perceber pelos sentidos...”9.
8 AGOSTINHO, Conf. X,8,12: Et venio in campos et lata praetoria memoriae, ubi sunt thesauriinnumerabilium imaginum de cuiuscemodi rebus sensis invectarum. Ibi reconditum est quidquidetiam cogitamus, vel augendo vel minuendo vel utcumque variando ea quae sensus attigerit .
9 AGOSTINHO, Conf. X,8,14: Ibi enim mihi caelum et terra et maré praesto sunt cum omnibus,quae in eis sentire potui.
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2. MEMÓRIA E CONSCIÊNCIA DE SI MESMO
Excetuando o esquecimento, toda experiência passada presente em nós deve-se à
grandeza da memória: eventos, ações, afetos, quer se trate de experiência direta ou indireta.
Se mediante a recordação podemos imaginar o futuro, a memória possui uma função não
somente retrospectiva, mas também prospectica: “Medito as ações futuras, os
acontecimentos, as esperanças. Reflito em tudo, como se me estivesse presente”10. A
memória possibilita, portanto, totalizar tanto a experiência interior como a exterior, tecendo
ou entrelaçando a existência humana na medida em que revive o passado e projeta o futuro.
O termo meditor no texto em questão sugere uma reflexão profunda sobre o ser e o agir
que é colocada em ato no próprio livro X das Confissões.
Para Agostinho, “meditação” é uma atividade mental que edifica uma ponte entre o
conhecimento dos objetos terrenos e conhecimento do ser e dos atributos de Deus. O
programa de uma ascensão até Deus através de uma sucessão de atividades mentais, a partir
das imagens até o pensamento, do pensamento à meditação, da meditação à contemplação é
um esquema tipicamente agostiniano. Toda a sucessão de atividade conduz a alma ao limiardaquela visão eterna de Deus que é o escopo de toda criatura racional. Em geral, os termos
cogitatio ou meditatio são quase sinônimos, mas entre ambos existe uma diferença
importante. Cogitatio pode estar interessada em coisas mundanas e até mesmo em objetivos
corrompidos, ao passo que a meditatio diz respeito somente à pura reflexão da essência das
coisas, cognoscível seja à base dos dados empíricos dos sentidos, seja à base do
conhecimento intuitivo da mente. Quando é voltada para um fim virtuoso, a cogitatio é a
mesma coisa que a meditatio, e tem como escopo a ascensão da mente para Deus, fimsupremo de toda a vida humana. No caso do Livro X das Confissões, o primado que
Agostinho atribui à ação da graça, não elimina mas reforça a necessidade de uma lúcida
consciência de si mesmo e de um esforço para conformar as próprias motivações e a
própria conduta aos apelos desta graça divina.
10 AGOSTINHO, Conf. X,8,14: futuras actiones et eventa et spes, et haec omnia rursus quasi praesentia meditor .
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Se a memória revela-se uma grande força e um santuário infinitamente amplo, o
animus humano, porém, é assaz estreito para possuir a si mesmo. Daí a admiração e o
estupor de Agostinho: os homens admiram tantas coisas – os píncaros dos montes, as
enormes ondas do mar, as largas correntes dos rios, a amplidão dos oceanos, as órbitas dos
astros -, mas negligenciam a si mesmos. As imagens usadas sugerem que a admiração
frente à amplitude da memória deveria conduzir os homens ao divino, pois este “vasto
palácio” vem a ser o ponto de conjunção entre o espírito humano e o Espírito divino.
3. MEMÓRIA E AS DISCIPLINAS LIBERAIS
Dentro da memória existem conhecimentos aprendidos nas artes liberais11, e tais
conhecimentos são conservados em um lugar interno, mas não de modo espacial: “em um
lugar mais íntimo, que na verdade não é um lugar” (interiore loco, non loco)12.
Diferentemente das lembranças das percepções sensíveis, não são as imagens que são
conservadas, mas as próprias realidades13. Nesta distinção podemos encontrar a inspiração
plotiniana de Agostinho: “A ciência dos seres imateriais é totalmente sem matéria”14.
Quando Agostinho aborda a recordação das noções intelectuais15, é possível
constatar a diferença que o separa de Plotino. Nas Aporias sobre a alma16, Plotino julga que
as noções intelectuais são objetos de uma “visão” ou de uma “contemplação” direta sem
11 As artes liberais dividem-se, tradicionalmente, em sermocinales ou artes do discurso (trivium:gramática, retórica, dialética) e reales (quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música).Tais “artes” faziam parte da formação intelectual do pensador da Idade Média. Cf. L. M.MONGELLI (org.) Trivium e Quadrivium: as artes liberais na Idade Média.Cotia,Íbis,1999
12 AGOSTINHO, Conf. X,9,16
13 AGOSTINHO, Conf. X,9,16: nec eorum imagines sed res ipsas gero.
14 PLOTINO, Enéadas V,9 7 e 4,2; (cf. PLATÃO, Timeu 42 e) No mesmo significado , cf.ARISTÓTELES, De anima III,4, 430 a 2-5; 5,430 a 19-20; Metaph. L 9, 1075 a 1-4.
15 Cf. AGOSTINHO, Conf. X,10,17
16 Cf. PLOTINO, Enéadas IV, 3-3
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depender da memória; esta última conservaria somente a recordação do “discurso” que
acompanha o ato que as pensa ( nov hma) e permaneceria na imaginação ( fantasiva).
Agostinho assume a segunda parte da solução de Plotino quando afirma: “retenho as
imagens dos sons de que se formaram estas palavras”17, mas julga que as noções estão
presentes na memória. Segundo Plotino, a memória se encontra ao nível da alma, da alma
imaginativa. Ora, na medida em que torna atual a sua participação no Nou'" e no Uno, a
alma de deve abandonar as recordações das coisas terrenas e superar também as formas
inteligíveis para atingir o Uno18. Na antropologia agostiniana, a memória é uma “força”
(vis) da alma intelectual (da mens no De Trinitate).
Agostinho pergunta como tais noções penetraram em sua memória: “Donde e por
que parte [tais noções] entraram na memória? (Unde... in memoriam meam?)”. Eis uma
questão diante da qual Agostinho permanece impotente. Verdade é que aprendeu tais
noções, mas as reconheceu como verdadeiras em seu coração sem dar crédito ao parecer
alheio. Para elucidar este problema, deve-se recorrer à teoria agostiniana do conhecimento.
Os aspectos essenciais de tal teoria são os seguintes: Agostinho faz uma distinção entre o
conteúdo de uma noção, ou de uma afirmação, e a sua verdade. O conteúdo depende de
uma reflexão (cogitatio), e a verdade implica, ao contrário, uma referência à verdade
divina. A palavra de um outro, o diálogo, o ensinamento de um mestre são apenas uma
admoestação (admonitio) que remete sempre para o Mestre interior (Deus ou Cristo, o
único capaz de comunicar a verdade19. As noções adquiridas explicam-se à luz das razões
eternas, que não são o princípio dos nossos conceitos, mas normas, regulae, que nos
permitem formar juízos de valor e de verdade. A teoria agostiniana supõe a existência de
uma relação entre o espírito humano e o espírito divino, relação que é de ordem metafísica
e não da ordem de uma “visão” ou de uma “intuição”. Em diversas passagens Agostinho
17 AGOSTINHO, Conf. X,10,17: sonorum quidem, quibus haec verba confecta sunt, imaginesteneo. Trata-se de três questões enunciadas no início do parágrafo: “Quando ouço dizer que existemtrês espécies de questões, a saber: ‘se uma coisa existe (an sit ?), qual a sua natureza (quid sit ?) equal a sua qualidade (quale sit ?)”.
18 Cf. PLOTINO, Enéadas IV 3,31-32; 4,1-4
19 A propósito, remeto ao meu artigo O De Magistro de S. Agostinho e o problema da linguagem, inDA COSTA, J. R. (org,) Ensaios & Estudos.Belo Horizonte,O Lutador,1997, 151-169
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confirma a tese segundo a qual o espírito humano não é a tabula rasa de Aristóteles20, mas
emerge já estruturado, provido de arquétipos, de valores e leis que exercem a função de
“tear”, sobre o qual se ordenam os dados concretos da experiência, e de regras, para julgar
esses dados. A memória é, de certo modo, a faculdade que permite ao espírito humano
encontrar-se em relação com o intelecto divino e participar nas razões eternas.
Conseqüentemente, ela é a dimensão a priori do espírito21.
No parágrafo seguinte (X,11,18), Agostinho descreve de que modo se aprendem as
noções que não dependem das percepções sensíveis, e tal aprendizado consiste no exercício
do espírito sobre os conteúdos da memória. Trata-se de “coligir pelo pensamento aquelascoisas que a memória encerrava dispersas e desordenadas” e também de fazer aparecer o
que nela se encontrava escondido e negligenciado e, assim, descobrir as recordações
colocadas à parte e escondidas em concavidades secretíssimas. Se, de um lado, Agostinho
se admira diante da multidão dos conhecimentos aprendidos e conhecidos deste modo, não
deixa de sublinhar, de outro lado, o risco do esquecimento e, portanto, a necessidade de
recordar tais conhecimentos em intervalos apropriados de tempo. Do contrário, “imergem e
como que se dissolvem em remotos recessos”. É necessário então coligir os conhecimentos
da dispersão em que caíram.
É neste contexto que Agostinho utiliza a construção com o verbo cogitare: “e
novamente reagrupá-los (cogenda) para que se possa saber, coligindo-os como depois de
20 A imagem da alma como tabula rasa aparece no De anima (III,4, 429 b-430 a) de Aristóteles:
“[...] o intelecto (oJ nou'") é, certo modo, em potência, idêntico aos inteligíveis, mas não em ato,antes de pensar. Deve ser como uma tábua na qual nada está escrito em ato(w{sper ej n grammateivw/ w/ | mhqe; n uJ pavrcei ej nteleceiva/ katagegrammev non)”. Segundo umainterpretação objetiva do texto, Aristóteles não quer dizer que o intelecto é em absoluto tabula rasa,mas, ao contrário, “diz que em potência ele é todos os inteligíveis, o que quer dizer que é positivacapacidade de captá-los”. (G. REALE, História da Filosofia Antiga 5.São Paulo,Loyola,1995, 248-249).
21 Para uma confirmação desta interpretação, cf. AGOSTINHO, De quantitate animae 20,34; De Magistro 7,19; II, 36; 13,43; De libero arbítrio II,12,33-34; Conf . VII,10,16; XI,3,5. Cf. também DeTrinitate XII,15,24
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uma espécie de dispersão – daí o termo cogitare”22. Cogitare é o ato com o qual o espírito
colige de novo as recordações passadas, a fim de que as noções possam ser re-aprendidas.
O termo designa uma atividade específica do espírito (animus) que não consiste somente
em reencontrar as recordações escondidas, mas também em coligir (conligere) aquelas que
estão presentes para, em seguida, ao “reelaborá-las”, organizá-las em “noções”, definidas
com precisão. Conseqüentemente, a cogitatio realiza o conteúdo das noções que será
referido às razões eternas, a fim de que se possa perceber as verdade das mesmas.
Depois de ter muito “imaginado” nos “tesouros” de uma memória, Agostinho
afirma que foi graças à reflexão (cogitatio) sobre coisas aprendidas que pôde escrever oupregar sem grandes dificuldades. Se a obra de Agostinho é um fruto admirável de uma
cogitatio, explica-se assim o modo pelo qual utiliza as suas “fontes”: mesmo que cite textos
e alguns autores explicitamente, como, por exemplo, Ambrósio de Milão, os autores na De
civitate Dei e nos escritos contra os pelagianos, Agostinho compõe de modo assaz pessoal.
Recorrendo ao material que conserva na memória, ele prefere ora breves fórmulas
extraídas, por exemplo, de Plotino ou de Porfírio, ora freqüentemente “esquemas de
pensamento”, “instrumentos conceituais”, que são transformados e integrados ao seu
“sistema” doutrinal específico.
4. MEMÓRIA E SABER MATEMÁTICO
Agostinho prossegue sua reflexão sobre a memória e estabelece em X,12,19 que “as
relações e as infinitas leis dos números e das medidas” não foram nela retidas através dos
sentidos, porque tais idéias “não têm cor, nem som, nem cheiro, nem gosto, nem são táteis”.
Em outras palavras: como as noções das matemáticas (aritmética e geometria) e as suasmútuas relações (operações de cálculo, proporções, construções de figuras) estão presentes
na memória? Ao comentá-las, Agostinho distingue entre os sons das palavras que
22 AGOSTINHO, Conf. X,11,18: et cogenda rursus, ut sciri possint, id est velut ex quadamdispersione colligenda, unde dictum est cogitare.
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significam esses conhecimentos e as próprias noções, que não percebidas pelos sentidos. Os
sons não são idênticos em grego e em latim, e as noções não pertencem a nenhuma língua23.
5. MEMÓRIA DA MEMÓRIA
No parágrafo seguinte (X,13,20), Agostinho reflete sobre a memória através da
própria memória, mas tal reflexão não exclui a intelligentia. À memória Agostinho deve
muitas coisas, a saber: 1) os conhecimentos intelectuais adquiridos; 2) o modo pelo qual os
adquiriu; 3) as objeções errôneas que se opõem, nas disputas, aos conhecimentos
verdadeiros24, mas, ainda que falsas, não é falso lembrar-se de tais erros!; 4) a distinção
entre conhecimentos falsos e conhecimentos verdadeiros; 5) a diferença entre o modo em
que percebe agora esta distinção e o modo em que a tinha percebido no passado mediante a
cogitatio. Disto conclui que, a partir do presente, retorna ao passado e antecipa o futuro:
“Em suma: lembro-me de recordar, e, no futuro, se me lembrar de ter podido recordar estas
coisas, as recordarei justamente graças à força da memória”25.
6. MEMÓRIA, AFEIÇÕES E ESQUECIMENTO
Segundo Agostinho, o homem é capaz de recordar as sensações e as afeiçõespassadas, como a alegria, a tristeza, o medo e o desejo. Mas tal capacidade não implica
reviver as afeições das quais se tem recordação: de fato, freqüentemente, enquanto
recordamos uma afeição, experimentamos uma outra diversa, como, por exemplo, o fato de
evocar com alegria as tristezas passadas26. Quando se refere à tristeza, à alegria e ao medo
23 AGOSTINHO, Conf. X,12,19: Audivi sonos verborum, quibus significantur, cum de hisdissetitur, sed ilii alii, istae autem aliae sunt. Nam illi aliter graece, aliter sonant, istae vero necgraecae nec latine sunt nec aliud eloquiorum genus.
24 Agostinho tem em vista provavelmente os perigos morais na leitura dos poetas (cf. Conf . I,16,25-26), as controvérsias entre os retóricos sobre o fim e os preceitos da eloqüência e especialmenteas disputas entre as seitas filosóficas (cf. Conf . III,4,8: a influência da obra Hortensius de Cícero, oqual desmascara os erros; cf. De utilitate credendi 6,13).
25 AGOSTINHO, Conf. X,13,20: Ergo et meminisse me memini, sicut postea, quod haec reminiscinunc potui, si recordabor, utique per vim memoriae recordabor .
26 Cf. AGOSTINHO, Conf. X,14,21: Aliquando et e contratio tristitiam meam transactam laetusreminiscor et tristis laetitiam.
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como affectiones contidas na memória, Agostinho estabelece uma dupla diferença entre a
affectio no momento em que foi experimentada e aquela que persiste na memória. Às vezes,
a recordação da affectio provoca uma reação que podemos definir como neutra: “De fato,
recordo-me de ter estado alegre, sem estar alegre, e recordo-me da tristeza passada sem
estar triste”; outras vezes, suscita uma reação contrária: “Evoco com alegria as tristezas
passadas; e com amargura relembro as alegrias”. Essas diferenças não colocam problema
algum em se tratando de uma affectio concernente ao corpo. Mas o que acontece quando se
trata de uma affectio do espírito? Não emerge aqui o problema da identificação, já bem
atestada na linguagem corrente, da memória com o animus?
“Mas se é assim, por que será que, quando me recordo de minha
tristeza passada com alegria, a mente tem a alegria, e a memória (tem) a
tristeza, de modo que a minha mente se regozija com a alegria que em si
tem, e a memória não é triste porque nela está a tristeza? Será porque não
faz parte da mente?”27
Para elucidar esta dificuldade, Agostinho se serve de uma comparação, dizendo que
a memória é “quase como o ventre da mente (quasi venter est animi)”, enquanto a alegria e
a tristeza seriam o seu alimento, doce ou amargo. Segundo o sentido desta imagem, a
memória recolhe, assimila e transforma as várias emoções, de modo que estas se depositem
na própria mente, perdendo, porém, o seu “sabor” individual.
No parágrafo seguinte (X,14,22) tem-se não mais uma discussão sobre a memória
das affectiones, mas, sim, uma memória de noções. Agostinho enumera quatro pavqh
segundo a divisão herdada dos estóicos: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. As noções se encontram na memória do mesmo modo que as noções das disciplinas liberais. Se as
consideramos do ponto de vista da linguagem, tais noções são neutras no plano da
afetividade, mas a memória conserva não somente “os sons destas palavras (tristeza e
27 AGOSTINHO, Conf. X,14,21: Cum ergo ita sit, quid est hoc quod, cum tristitiam meam praeteritam laetus memini, animus habet laetitiam et memoria tristitiam laetusque est animus ex eo,quod inest ei laetitia, memória vero ex eo, quod inest ei tristitia, tristis non est? Num forte non
pertinet ad animum?
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temor), conforme as imagens impressas em nós pelos sentidos corporais, mas também a
noção dessas mesmas coisas”28. Agostinho julga, portanto, como certo que as idéias
relativas às emoções (rerum ipsarum notiones) residem na memória, visto que somos
capazes de evocá-las novamente, ou porque tais idéias foram confiadas à memória pela
mente ou porque a própria memória as assimilou de outros modos. Além disso, pensa
também que estas idéias estão necessariamente presentes na memória sob a forma de
imagens: de fato, elas não estão fisicamente presentes. Portanto, não obstante os problemas
que surgem ao considerar a sua assimilação parecida àquela das imagens dos objetos
corpóreos, Agostinho procura adaptar a sua teoria da acumulação das imagens ao fenômeno
da recordação das emoções
29
.
Nos parágrafos seguintes Agostinho multiplica as dúvidas sobre a memória, a fim
de confessar deste modo a sua ignorância. A questão central evocada em X,15,23 é a
seguinte: as coisas que ele nomeia (por exemplo, o nome de “pedra” ou de “sol”) se
encontram impressas na memória por meio de imagens ou por si mesmas? Diferentemente
do problema tratado no De doctrina christiana30, Agostinho discute o modo pelo qual as
coisas nomeadas estão presentes na memória: estão presentes por meio de imagens a pedra,
o sol e também, embora seja menos claro31, a dor e a saúde do corpo.; estão presentes por
si mesmas os nomes dos números por que contamos e as demais noções de ordem
intelectual.
Quando Agostinho menciona a lembrança de um “esquecimento” (oblivio) em
X,16,24, surgem dificuldades maiores. Trata-se aqui do significado do termo oblivio: “Não
28 AGOSTINHO, Conf. X,14,22: non tantum sonos nominum secundum imagines impressas asensibus corporis, sed etiam rerum ipsarum notiones inveniremus. Convém precisar, porém, que ohomem adquire essas noções per experientiam passionum suarum.
29 Cf. G. O’DALY, La Filosofia della mente in Agostino, 182-183
30 A questão concernia à relação entre res e verba (cf. De doctrina christiana I 1; II 1,1-5,6).
31 Cf. AGOSTINHO, Conf. X,17,26: “(Na memória) estão gravadas, ou por imagens, como oscorpos, ou por si mesmas, como as ciências e as artes”.
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falo do som desta palavra, mas da coisa que significa”32. Para Agostinho, memória e
esquecimento estão ao mesmo tempo presentes. Se o esquecimento é privatio memoriae,
como pode estar presente na memória?
“Se nós retemos na memória aquilo de que nos lembramos, e se
nos é impossível, ao ouvir a palavra ‘esquecimento’, compreender o que
ela significa, a não ser que dele nos lembremos, conclui-se que a memória
retém o esquecimento (...) O esquecimento, quando o recordamos, está
presente na memória, não por si mesmo, mas por uma imagem sua”33.
Segundo o raciocínio de Agostinho, o esquecimento parece não ser ausência de
memória, precisamente porque é graças a ela que sabemos o que seja o oblivio, embora o
esquecimento seja a eliminação deste saber: “quando (o esquecimento) está presente,
esquecemo-nos”. Daí o paradoxo: “Mas quem saberá indagar, enfim, este mistério? Quem
poderá compreender o modo como as coisas realmente se realizam?”34. Na tentativa de
elucidar esta questão, Agostinho procura explicar a presença do oblivio na memória através
de sua imagem, mas percebe que, no momento mesmo em que coloca a pergunta, emerge
uma resposta negativa: quo pacto dicam?35 Agostinho toma como exemplos uma cidade,
lugares diversos, a face de um homem, a saúde ou as dores do próprio corpo para ilustrar a
questão de como se encontra a imagem do esquecimento. Mas Agostinho depara com a
seguinte dificuldade: de que modo o oblivio pode ter gravado a sua imagem na memória, se
a sua função é especificamente a de cancelar tudo quando fora impresso?
A solução agostiniana implica uma alternativa assaz esquemática: conservação do
esquecimento ou por sua imagem ou por si mesmo. Na verdade, o esquecimento é um
32 AGOSTINHO, Conf. X,16,24: Non eundem sonum nominis dico, sed rem, quam significat .
33 AGOSTINHO, Conf. X,16,24: At si quod meminimus memória retinemus, oblivionem autem nisimeminissemus, nequaqum possemus audito isto nomine rem... sed per imaginem suam.
34 AGOSTINHO, Conf. X,16,24: Et hoc quis tandem indagabit? Quis comprehendet, quomodo sit?
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termo genérico utilizado para expressar o protelar da recordação de um objeto, de um fato,
de um conhecimento passado que não conseguimos mais recordar. De fato, o esquecimento
é uma ausência de memória; só por causa de seu nome parece ser o seu contrário.
7. MEMÓRIA E PROCURA DE DEUS
O estudo sobre a memória constitui apenas uma etapa da ascensão da alma para
Deus, e o parágrafo em questão (X,17,26) é ao mesmo tempo a conclusão sobre a memória
e um convite para superá-la: é preciso atravessar a memória, mas aqui emerge o paradoxo:
deve-se encontrar a Deus, ao mesmo tempo para além da memória e, no entanto, nela e
através dela mesma. Dado que Deus não está na memória de modo imediato, Agostinhoafirma que a memória contém a Deus e ao mesmo tempo o esconde através da vontade
universal de felicidade, de beata vita. O exemplo dos dois homens é esclarecedor: um quer
ser militar; o outro decide o contrário. O motivo da decisão oposta é o mesmo: ambos
“desejam ser felizes”. Isto quer dizer que os homens podem procurar a alegria em objetos
ou situações, mas o fim almejado é sempre o mesmo: alegrarem-se. Sem que se possa dizer
onde e quando, é através da experiência que todo homem faz da alegria que se reconhece,
em sua memória, o que significa o nome de beata vita36 . A idéia de beata vita está na
memória não à maneira da imagem de uma cidade conhecida, dos números, da eloqüência,
mas à maneira do gaudium (cf. X,21,30). Trata-se, segundo Agostinho, de uma alegria da
qual Deus é termo, fonte e causa: et ipsa est beata vita, gaudere ad te, de te, propter te
(X,22,32).
Segundo o capítulos que concluem o Livro X acerca da relação entre memória e
procura de Deus (X,23-27), podemos encontrar a Deus somente em Deus mesmo, em sua
plena transcendência, acima de nosso eu e de todas as coisas. É necessário que Deus semanifeste e permita que se faça uma certa experiência de si mesmo, talvez obscura, mas já
suficiente para iniciar o conhecimento de seu mistério. Portanto, Deus deve estar ao mesmo
35 AGOSTINHO, Conf. X,16,25: quo pacto dicam imaginem oblivionis teneri memória mea, nonipsam oblivionem, cum eam memini? O termo pactum, diferentemente de modus, implica a idéia deuma tentativa, de uma convenção.
36 Cf. AGOSTINHO, Conf. X,21,30-31
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tempo na memória e acima da memória. Deus está certamente na memória, mas só na
medida em que foi conhecido: ex quo didici te (X,24,35). O conhecimento de Deus deve
sempre salvaguardar o mistério de sua transcendência. É Deus que se torna imanente ao
homem permitindo-lhe o conhecimento de seu mistério. Só quem descortinou esta verdade
pôde proclamar esses célebres dizeres: “Tarde Vos amei,ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei! (Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova...)”37 .
ANEXO
ESQUEMA DE LEITURA E COMENTÁRIO DO LIVRO X DASCONFESSIONES DE AGOSTINHO DE HIPONA
PRELÚDIO (I 1,1-V 7,13)I 1,1-2 (= capítulo I [em algarismos romanos], § 1 [em algarismos arábicos],linhas 1 e 2 )
O apelo à verdadeI 1,1-2. Cognoscam... cognitus sum: “Conhecer-te-ei... como sou conhecido”(cf. 1Cor 13,12b: ej pignwvsomai kaqw;" kai; ej pegnwvsqhn ej pignwvsomai kaqw;" kai; ej pegnwvsqhn ej pignwvsomai kaqw;" kai; ej pegnwvsqhn ej pignwvsomai kaqw;" kai; ej pegnwvsqhn - “Vemos, pois, emespelho e de maneira confusa mas, depois, veremos face a face. Agora o meuconhecimento é limitado, mas depois conhecerei como seu conhecido”.
2. Virtus... coapta tibi: Virtude da minha alma… adaptai-a a Vós...3. Haec est mea spes: Esta é a minha esperança... 4. sanum gaudeo: gaudeo com acusativo (e não sane): ... desta esperança me
alegro quando toda vez que retamente me alegro...
5. Tanto minus... magis fletur 6-7. veritatem... facit eam: fazer a verdade (verdade da ação e da vida).
Deus tudo penetra
II 2, 1-2. Cuius oculis... conscientiae: cf. Eclo 42,18-20: “Ele sondou asprofundezas do abismo e do coração humano, penetrou os seus segredos.Porque o Altíssimo possui toda a ciência e vê o sinal dos tempos. É ele que
37 AGOSTINHO, Conf. X, 27,38
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anuncia o passado e o futuro e revela o fundo dos segredos. Nenhumpensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe é escondida”.
4-7. Nunc autem... nisi de te: munc autem tem valor adversativo. Existemfórmulas que sintetizam a relação do homem com Deus.15. tacet... affectu: cala com a voz, mas grita com o coração.
Confessar-me aos homens?!III 3, 3. Curiosum... desidiosum: Raça curiosa... indolente...13-15. quibus demonstrare... caritas aperit . Necessidade da “fé”.4, 16. medice meus intime.25. quia fuerunt et non sunt .
O fruto das “confissões”
IV 5, 12-13. Indicabo me talibus: “Mostrar-lhes-ei quem sou/ eu me abrirei atais pessoas”. Duplo fruto das confissões.16-17. de fraternis... tuis. (cf. Ap 8,3-4). “Corações fraternos” - turíbulos -hinos e gemidos a Deus - Templo Santo - perfume - MISERICÓRDIA.6, 21-22. Hic est... qualis sim.22-23. secreta exultatione... cum spe.38. quis iam sim et quis adhuc sim.
V 7, 13. Facis cum temptatione... exitum: traduz exatamente o grego e[kbasin da 1 Cor 10,13: “Tu nos asseguras uma caminho de saída”.
PRIMEIRA PARTE (VI 8,1-XXVII 38, 1-2): o conhecimento de Deus.
1. A procura de Deus nas obras visíveis
VI 8, 1. Non dubia sed certa conscientia.2-3. Percussisti cor meum... terra: “Feristes-me o coração...” Cf. Rm 1,20:“Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade – tornou-se
inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que nãotêm desculpa”; 9,15: “Pois ele diz a Moisés: Farei misericórdia a quem eu
fizer misericórdia e terei piedade de quem eu tiver piedade”. Anúncio daconcepção das relações entre liberdade e graça.6. Quid autem amo, cum te amo? – “Que amo eu, quando Vos amo?”.
Reflexão sobre os “sentidos espirituais”.9, 21. Et quid est hoc?26. Fallitur Anaximenes.31. Ipse fecit nos.
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31-32. Interrogatio mea... species eorum (a tradução bras. parafraseia o texto:“A minha pergunta consistia em contemplá-las; a sua resposta era sua
beleza”). Os sentidos de “intentio” e “species”.41. Homo interior .10, 45-46. Nonne omnibus... haec species?59. Hoc dicit eorum natura. Vident .
2. A procura de Deus nos sentidos e na memória
VII 11, 1-2. Quis est... animae meae? “Quem é Aquele que está no cimo daminha alma?” 2. Transibo vim meam: “Ultrapassarei esta minha força...”. O termo “vis” =
atividade da alma segundo os seus diversos poderes.
a) A memória como receptáculo da experiência passada
Fonte imediata: Cícero, Tusculanae disputationes I,24,56 – 25,61: faculdadesespecíficas da alma - memória: três pontos (contém “impressas na alma asnoções, que chamamos ej nnoiva" ej nnoiva" ej nnoiva" ej nnoiva", de tantas e tão grandes coisas”)...
O palácio da memória
VIII 12, 2-3. lata praetoria: “vastos palácios”: receptáculo das imagens queprovêm da percepção sensível. Portanto, seria absurdo conceber a memóriacomo um vaso ou como cera, dada a imensa multidão de objetos nelacontidos.3. de cuiuscemodi rebus sensis: “onde estão os tesouros das inumeráveis
imagens impressas pela percepção de toda espécie de coisas”. Comparaçãocom Aristóteles, Metafísica I,,1, 980a-982a: sensações memória38 experiência arte ( tev cnh tev cnh tev cnh tev cnh) teoria/ciência ( ej pisthvmh ej pisthvmh ej pisthvmh ej pisthvmh). 1o elementoencerrado nos “tesouros” da memória: as “imagens...”.
4. quidquid etiam cogitamus = 2o elemento: o sentido do verbo “cogitare”.8-9. posco ut... volo: “Quando aí estou, posso chamar todas as imagens quequero”.13, 19. Distincte generatimque servata: a memória como instrumento daconsciência do mundo.
38 As “lembranças”, ou seja, memória, quando referida ao homem, deve ser entendido, ao mesmotempo, como lembrança sensível e lembrança abstrata. A relação entre imagem e memória é assimexplicada por Aristóteles no Da memória 1,451 a 15-16: a memória está “de posse da imagem,considerada como cópia daquilo de que é imagem”.
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b) Memória e consciência de si mesmo
14, 48-49. Ibi mihi... meque recolo: excetuando o esquecimento, toda nossaexperiência passada está presente em nós: eventos, ações, efetos. A memóriaretrospectiva, prospectiva e totalizante. O termo Meditor : reflexãoaprofundada sobre o ser e o agir .15, 62-64. Magna ista vis... pervenit? “Grande é esta potência da memória...um santuário enorme”. Caráter insondável do sujeito diante imensidade damemória, que é uma vis animi. Notar a relação entre admiratio=stupor esantuário memória como ponto de conjunção entre o espírito humano e oEspírito divino.
c) Memória e disciplinas liberais
IX 16, 2-4. Hic sunt... sed res ipsas gero: “Aqui (na memória) existemtambém todas as coisas que aprendi das disciplinas liberais”. Notar aexpressão: interiore loco, non loco. São as noções mesmas e não as imagensprovenientes da percepção sensorial.4-17. Nam quid... proferuntur .X 17, 1-2. tria genera... quale sit .
2-5. sonorum quidem... attigi: “retenho as imagens dos sons que acompanhamtais palavras”. a recordação das noções intelectuais. Paralelo em Plotino, Aporias sobre a alma: noções intelectuais = objeto de uma “visão” ou de uma“contemplação” direta sem depender da memória: esta última conservariasomente a lembrança do “discurso” que acompanha o ato que as pensa( nohvma) e permaneceria na imaginação ( fantasiva). Agostinho julga, porém,que as próprias noções (res ipsas) estão bem presentes na memória.14-15. Unde... in memoriam meam? “De onde e por onde entraram na minhamemória? Comentar a teoria do conhecimento de Agostinho: distinção entre oconteúdo de uma noção, ou de uma afirmação ( reflexão [cogitatio], e a suaverdade ( implica uma referência à verdade divina; as razões eternas sãonormas que permitem formar juízos de valor e de verdade; não são, portanto, oprincípio dos nossos conceitos). Cf. AGOSTINHO, De Trinitate XII,capítulo15, parágrafo 24: “Assim, é preferível crer que a natureza da menteintelectiva foi criada de tal modo que, entrando em contato com as coisasinteligíveis segundo sua natureza, e tendo assim disposto o Criador, possa veresses conhecimentos em certa luz incorpórea de sua própria natureza. Assimacontece com olho do corpo que vê os objetos que o cercam na luz natural,
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pois pode-se acomodar a essa luz, já que para ela foi feito”39. O espíritohumano não é a tabula rasa de Aristóteles.
16-17. sed in meo recognovi: “mas na minha (mente) as reconheci” (trad. br.:“mas reconheci-as existentes em mim”), isto é, reconheci de certo modo (asnoções). Se ao prefixo re do verbo recognovi dermos o sentido iterativo (Istoé,no sentido de que “reconhecei” uma segunda vez), o verbo parece indicar queAgostinho acolha ainda a teoria da reminiscência de Platão; mas, segundoConf . VII, XVII 23, Agostinho renunciou a tal teoria; o prefixo re, portanto,tem valor intensivo: “reconheci de certo modo” as noções.17. vera esse approbavi: “julguei-as verdadeiras”: approbare é, na noética deAgostinho, o ato com o qual o espírito reconhece a verdade de seusconhecimentos, confrontando-as com as “razões eternas”.
21. cavis.22. nisi admonente... eruerentur .XI 18, 1-18. Quocirca... dicatur : De que modo se aprendem as noções quenão dependem das percepções sensíveis? O aprendizado consiste no exercíciodo espírito sobre os conteúdos da memória.12. indidem.13-15. et cogenda... cogitare. Sentido de “cogitare” no De Trinitate: é o termoque indica o ato com o qual a alma pensa a si mesma, passando de umconhecimento implícito a um explícito (XIV,6,8). A imagem da Trindade
presente na natureza espiritual do homem secundum rationalem mentem:memória, inteligência e vontade (ou mens, notitia, amor ): O conhecimentoexplícito dá-se quando o que estava implícito na memória (= 1o elemento, oque gera [gignem]; é a faculdade pela qual a alma está presente a si própria, ouseja, uma presença de si a si, a consciência)40, no âmago da mente (in abditomentis), passa para a superfície (in conspectu mentis). O termo gerado(genitum) é o pensamento ou (saindo de seu silêncio) o seu verbum (=2o elemento). E a dileção é a vontade, o terceiro termo (= 3o elemento) que une oprimeiro ao segundo. O conhecimento se dá quando é objetivado pela reflexão(cogitatio).
39 Agostinho esclarece que a alma pode ver as coisas inteligíveis, em certa luz espiritual, que possuiuma natureza própria. Quando ele escreve: “Nossa mente é iluminada pela primeira verdade”,entenda-se em sentido efetivo, não formal ou imediato. Deus é luz de nossa inteligência, porque oentendimento divino produz as realidades criadas no ser inteligível, dando-lhes uma subsistênciaobjetiva. Assim, as razões eternas são objeto de nossa intelecção, Entretanto, isso não traz em si,uma visão imediata da essência divina. A luz, que banha com claridade de aurora as obscuridadesda alma, é com toda evidência, uma luz criada incorpórea “sui generis” (cf. Luiz ARIAS).
40 Segundo Agostinho, a memória possui um “nosse”, anterior ao “cogitare”, e no qual já estãoembrionariamente a palavra interior e a dileção.
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d) Memória e saber matemático
XII 19, 1-2. Item continet... innumerabiles. A expressão numerorumdimensionumque se refere aqui a aritmética e à geometria. Os significados de“rationes” e “leges”.7. Vidi lineas fabrorum: “Vi as linhas traçadas por mestres de arte”. Às linhas
tenuissimae e, todavia, visíveis, se opõem illae aliae as da figurasideais.
e) Memória da memória
XIII 20, 1-12. Haec omnia... recordabor . O que Agostinho deve à memória?Cinco pontos.
f) Memória das affectiones
XIV 21,1-2. Affectiones... continet . Affectio designa um ato emotivo da almaconseqüente a uma percepção, um modo de reagir quando se é atingido.Diferença entre a affectio no momento em que foi provada e aquela quepersiste na memória. Como entender a affectio do espírito? Solução:
memória como quasi venter est animi.22,25-26. Quattour esse... tristitiam. Passa-se da discussão da memória dasaffectiones para uma memória de noções. Como entender uma memória denoções? As quatro pavqh pavqh pavqh pavqh segundo a divisão herdada dos estóicos. Enquantonoções, são neutras no plano da afetividade. Todavia, existe uma diferença:
per experientiam passionum suarum.
g) Dúvidas sobre a memória
XV 23, 1-2. Sed utrum... dixerit? Problema: as coisas que ele nomeia seencontram na memória pelas suas imagens ou por si? Através das imagens:a pedra, o sol. Por si mesmas estão presente os números numerantes (e asoutras noções de ordem intelectual. Que dizer da memória e do esquecimento?XVI 24, 1. Quid, cum oblivionem nomino. Agostinho fala aqui do significadodo termo oblivio. A memória do “oblivio” é um caso particular.25, 20-21. Ego certe... sudoris nimii. Notar o uso dos pronomes pessoais ereflexivos de primeira pessoa. Alusão a Gn 3,17.19: labor e fadiga queencontra para compreender a si mesmo.
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21-23. Neque... libramenta. Fontes: Cícero; Jó 38,33. Problema paradoxal: egosum, qui nemini, ego animus... Questão: De que modo o oblivio pode ter
inscrito a sua imagem na memória, se a sua função é especificamente aquelade cancelar tudo quando fora registrado?47-48. qua id quod meminerimus obruitur : existe esquecimento quando secancela (indicativo) aquilo que deveremos recordar (condicional).
h) Memória e procura de Deus
XVII 26, 1-12. Magna vis... finis nusquam. Mesma admiração pelo caráter“sacro” da memória sublinhada por metáforas de poder e, sobretudo, deinfinito. Conteúdo da memória com uma nova indicação sobre affectiones:
notio é de ordem cognitivo; notatio se refere a uma experiência per nescioquas notiones vel notationes = “não sei quais noções ou notações (notatio =ação de marcar com um sinal; exame), como os sentimentos da alma...”.13-14. tanta vitae... mortaliter .14. Transibo.24. Qui separavit me a quadrupedis.XVIII 27, 1-17. Perdiderat... tenebatur .1-2. Perdiderat... quaesivit eam.XIX 28, 1-22. Quid... fuerimus: Referência a um conhecimento esquecido;
relação memória-esquecimento; atividade dinâmica da memória.
3. A procura de Deus e a “vita beata”
XX 29, 1-34. Quomodo... teneretur . Uma série de perguntas e suas respeticasrespostas.XXI 30, 1-14. Numquid... experimur : Como está a idéia de vita beata namemória? Sob a forma de gaudium. O texto retorna ao caráter neutro oucontrário da lembrança das affectiones, mas aqui, vê-se Agostinho pensandoem sua vida passada: a affectio presente implica um juízo de consciência.
31, 26. Ubi... beatam. Pergunta sem resposta, mas todo homem fezexperiência da alegria; é, portanto, através desta experiência que o homemreconhece, na sua memória, o que significa o nome de beata vita.XXII 32, 1-3. Absit... putem. Agostinho não quer encontrar a alegria fora deDeus.XXIII 33, 1-2. Non ergo... beati volunt .10-11. Beata... veritate. A idéia de verdade é objeto da vontade universal.34, 25. Cur autem veritas parit odium.
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25-26. inimicus... praedicans. Dois momentos da resposta à questão: Por que éque a verdade gera o ódio?
33. oderunt... indicat .33-34. Inde retribuet eis.
Deus na memória
XXIV 35, 1-9. Ecce... meam. Observar as quatro repetições de ex quo didicite: Deus não está na memória por si mesmo, mas aí está depois que foiconhecido. É, antes, com uma intervenção pessoal que encontramos a Deus.Não se pode atingir a Deus por via independente da Revelação. Mas a reflexãode Agostinho aqui, e sobretudo no De Trinitate, reconhece, na inteligência da
fé, a vida do espírito como portadora de um sinal da consubstancialidade,distinção, circumincessão, da vida trinitária divina ( memória, inteligência evontade ou mens, notitia e amor ).XXV 36, 1. Sed... memoria mea. Deus não pode ser reduzido a nenhum dosobjetos contidos na memória, nem tampouco na memória como animus.XXVI 37, 1-3. Ubi... supra me?: in te supra me.
Tarde Vos Amei!
XXVII 38, 1-2. Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova, sero teamavi.
SEGUNDA PARTE (XXVIII 39, 1-XXXIX 64, 1-2): o conhecimento de simesmo.
Agostinho segue o esquema das três concupiscências presente em 1Jo2,16: concupiscentia carnis (sexualidade, paladar, audição, olfato, visão);concupiscentia oculorum (curiositas ou avidez de conhecimento) e ambitiosaeculi (orgulho, amor dos louvores, vanglória e amor próprio). Âmbito dasreflexões de Agostinho: exame de consciência e procura de um justoequilíbrio no juízo moral incertezas e escrúpulos do autor.
Miséria da vida humana...
XXVIII 39, 1-4. Cum inhaesero... sum.2-3. Nunc autem.
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4-6. Contendunt... contendunt . “As minhas alegrias, pelas quais devereichorar, lutam com as tristezas, pelas quais deverei alegrar-me… Lutam as
minhas tristezas más com as alegrias boas…”. A repetição do verbo expressaduas tensões internas.9-10. Numquid... super terram?10-11. Quis velit... difficultates?11. Tolerari… amari. Eis uma nova tensão e idéia de combate e luta.XXIX 40, 1-2. Et tota spes… tua. Agostinho não desespera da condiçãomiserável da existência.2. Da quod iubes et iube quod vis = Dá o que ordenas e ordenas o quequeres.
Pelágio (insiste na “força e qualidade da natureza humana” e na
“santidade natural”) e o princípio fundamental da heresia pelagianismo:
afirmar a onipotência moral da vontade livre. O homem sempre pode sozinho
e por si mesmo querer e realizar o bem. O querer e o fazer dependem
unicamente da própria vontade. Daí deduziam outros erros: negação do pecado
original, inutilidade da graça interior atuando sobre a vontade, falsa idéia da
redenção, etc. Sentido da fórmula de Agostinho: Da quod iubes et iube quodvis41.
1. A “CONCUPISCENTIA CARNIS”
a) A sexualidade
XXX 41, 1-2. Iubes certe... ambitione saeculi. Citação de 1Jo 2,16.
5-23. Sed adhuc... esse doleamus.42, 24-41. Numquid... victoriam.
41 Acerca das relações entre a liberdade, a vontade e a graça:“ Duas condições são exigidas parafazer o bem: um dom de Deus que é a graça e o livre-arbítrio. Sem o livre-arbítrio não haveriaproblemas; sem a graça, o livre-arbítrio (após o pecado original) não quereria o bem ou, se oquisesse, não conseguiria realizá-lo. A graça, portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade, massim de torná-la boa, pois ela se transformara em má. Esse poder de usar bem o livre-arbítrio éprecisamente a liberdade. A possibilidade de fazer o mal é inseparável do livre-arbítrio, mas o poderde não fazê-lo é a marca da liberdade. E o fato de alguém se encontrar confirmado na graça, a pontode não poder mais fazer o mal, é o grau supremo da liberdade. Assim, o homem que estiver maiscompletamente dominado pela graça de Cristo será também o mais livre” (E. GILSON).
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b) O gosto
XXXI 43, 1-12. Est alia... vocantur .2-5. cotidianas ruinas… sempiterna.5. Nunc autem… necessitas.8. et Dolores... pelluntur .44, 13-14. Hoc me docuisti... accedam.14-30. ad quietem satietas... nondum stat . Agostinho propõe uma análisecompleta sobre onde se entrecruzam psicologia e juízo moral . O que ésuficiente para a saúde é muito pouco para o prazer (quod saluti satis est,delectationi parum est ).
45,31. Audio vocem... Dei mei.32-55. Ebrietas... quod vis. Emerge aqui uma confessio do poder da graça. Se é o poder da graça que domestica tais inclinações, não se admite a“fraqueza” da razão para controlar a “fraqueza” da vontade (akrasia)?46, 59-67. Docuisti me... temptatione.68-77. Noe... improbari. Uma série de exempla tirados, excetuando um, doAntigo Testamento.47, 87-88. quia et imperfectum eius... oculi tui.
c) O odor
XXXII 48,1. De inlecebra... nimis.
d) O ouvido
Capítulo complexo. A reflexão de Agostinho se funda noentrecruzamento de quatro momentos: 1) O ouvido mesmo (soni, vox, voxatque cantus); 2) O affectus interior (cor, religiosus et ardentius, flamma
pietatis, affectus spiritus nostri, occulta familiaritas); 3) O significado
inteligível (eloquia tua, sententiae, sancta dicta, mens, ratio); 4) O juízo devalor (dignitatis locum, honor proprios modos, saepe me fallit, pecco).
XXXIII 49, 1-2. Voluptates... liberasti me.2-3. in sonis... eloquia tua.3-4. cum suavi... cantantur .4-7. aliquantulum... congruentem.
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8-18. Aliquando... sentio. Agostinho passa aqui de um léxico afetivo ouemocional a um intelectual e moral affectus, spiritus são distintos de mens e
ratio. Temor de Agostinho: ser enganado pela delectatio carnis
enfraqueceo “nervo” da mens.50,19. Aliquando autem.20-21. melos... suavium.26. Verum tamen cum reminiscor .35. Tamen cum mihi accidit .37-38. Ecce ubi sum... pro me flete.
e) A vista
XXXIV 53, 43-44. sacrifico... meo.44-45. pulcra traiecta... veniunt .47. operatores et sectatores.47-48. inde trahunt... utendi modum.
2. A “CONCUPISCENTIA OCULORUM” OU “CURIOSITAS”
A curiositas almeja um prazer desordenado de fazer experiência e desaber “efeitos teatrais”, observação inútil das obras da natureza, a magia
e também, na religião, a procura de “sinais e prodígios”.
XXXV 54,9. concupiscentia oculorum... appelata est .55, 22-23. voluptatis... curiositatis.27. laniato cadavere.32. in spectaculis.32-35. ad perscrutanda... cupiunt .36-38. artes mágicas... desiderata.56, 39-40. immensa silva... dispulerim.45-47. iam theatra... detestor .
50-51. Sed obsecro... castam.57, 56-72. multis minutissimis... incipio.73. talibus vita mea plena est .
3. O “AMBITIO SAECULI” OU “SUPERBIA”
XXXVI 58,1. Numquid etiam hoc.8-9. qui compressisti ... superbiam meam.9. mansuefecisti.
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9-10. Et nunc... est mihi.59, 13-16. Sed numquid… potest .
13-14. Domine… dominaris.15-16. numquid… vita potest .16-17. timeri… ab hominibus.22-23. humanae societatis… ab hominibus.29-30. qui statuit… in aquiline.31. tenebrosi frigidique.32. pusillus... sumus.32-33. Praetende alas tuas.34. propter te... in nobis.36-38. Cum autem… benedicitur .
XXXVII 60, 2-3. Cotidiana fornax... língua9-10. a voluptatibus... a curiositate.61,25-26. Quid igitur... laudibus? 35-36. continentiam… iustitiam.62,52. Ecce.. veritas, vídeo.XXXVIII 63,1. Egenus... sum.1-2. melior... mihi.6-11. privatam... gloriatur .XXXIX 64, 1-2. Intus etiam... temptationis malum.
9-11. vides... sentio.
CONCLUSÃO
XL 65,1. Ubi... veritas.3. teque consulerem?7.consideravi et expavi.7-8. nihil... sine te.8. nihil... inveni.
8-9. Nec ego ipse inventor .15-16. quia lux... consulebam.16-17. et audiebam... iubentis.17-18. Et saepe... delectat .22-24. Et aliquando... non erit .24-25. Sed recido... ponderibus.26-27. Tantum consuetudinis... digna est!XLI 66, 1-4. languores... potest .4-5. Proiectus... tuorum.
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5.Tu es… praesidens.5-6. At ego... meam.
XLII 67, 1. Quem invenirem... tibi?18-19. Falax... mediator .XLIII 68, 1. Verax... mediator .69-70.69,17-21. subditus... sacrificium.21-22. faciens... serviendo.25-26. Multi enim... medicina tua.70, 30-31. Conterritus... in solitudinem.38-39. Non calumnientur mihi superbi.39. quoniam... meum.
40-41. pauper cupio... requirunt eum.