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Salvaterra de Magos
Séc. XVIII – Séc. XXI
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Para os meus sobrinhos:
* Rogério;
(Fernandes Travessa)
*Cláudio José,
que um dia tiraram a alternativa e foram Cavaleiros
Tauromáquicos
* Lembrando com um carinho especial, o meu cunhado,
Manuel Fernandes Travessa,
um apaixonado, destas “coisas” dos toiros
Foto da Capa: Rotunda na EN 118, frente à Praça de Toiros de Salvaterra, com
um motivo alrgórico ao Campino
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Informações para a história daTauromaquia
Salvaterra de Magos Séc. XVIII – Séc. XXI *********** Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, 64 – 1º Telem.918905704 Tel. 263 505178 *************** Composição: Papel Bruchado – Formato A5 Sistema PDF **************** Blogue: “ www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt”
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O MEU CONTRIBUTO
Sou descendente de gente simples do campo, meu avô paterno, foi campino, como foram todos os seus irmãos. A minha passagem pelo mundo da festa brava, cingiu-se apenas na escrita de uma ou outra notícia, ou artigo de alguma efeméride, como: “Os 76 anos sobre a morte do famoso toureiro
ribatejano, natural de Salvaterra de Magos; Vicente Roberto”, que foi publicada no “Diário do Ribatejo”, ou a recolha de recordações numa grande entrevista, a José Luis das Neves, o único obreiro vivo, da construção da Praça de Toiros, publicada no Jornal “Aurora do Ribatejo” com o titulo, “Os 50 anos da inauguração da praça de toiros de Salvaterra” e, a entrevista ao antigo forcado, “José Hipólito – Figura Típica da Terra” que saiu também naquele semanário de Benavente. Em 1976, fiz notícia jornalística, de uma jornada reivindicativa de toiros de morte em Portugal, que teve lugar no salão nobre do Clube Desportivo Salvaterrense, e, na sua sequência, meses depois levou à morte de toiros na praça de Salvaterra. Um outro artigo fiz sair no já desaparecido jornal Vale do Tejo, quando do falecimento do aficionado António Cadório. De vez enquanto lá me aparecem pedindo a minha ajuda, entusiastas destas coisas dos toiros, ou estudantes interessados em saber algo sobre a morte do Conde dos Arcos, ocorrida num brinco de toiros, aqui em Salvaterra. Esta morte, para muitos é ainda uma incógnita e motivo de grandes discussões entre aficionados, e não só, também os que gostam de “contos e lendas” ligados à terra, tentam
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desvendar o que apenas se sabe pelo que está escrito. O meu espólio sobre a temática taurina em Salvaterra, sendo guardado ao longo de muitas décadas, não é coisa que valha, são documentos recolhidos por carolice, que cruzam dados sobre lavradores/ganadeiros que aqui tinham terras, desde o séc. XIX, e faziam criação de toiros. O campino tinha lugar de destaque naquelas importantes casas agrícolas, como guardador das manadas de gado bravo. Os cavaleiros, toureiros e moços de forcados, são outros componentes que enriqueceram a festa brava nos séc. XX e XXI, desta vila ribatejana. Com tais documentos, pensei se não valeria a pena agrupar todo este material e, com ele fazer um livro, para não se perder tanta informação, que muito valerá aos interessados em aprofundar Sendo uma tradição de séculos, não só ribatejana, aqui está esta edição – “Salvaterra de Magos – Pedaços para a História da Tauromaquia nesta Vila - séc. XIX, XX e XXI”. É um pequeno trabalho que ficará ao dispor de quem um dia queira fazer um estudo profundo da história da tauromaquia em Salvaterra de Magos. Se isso vier a acontecer, já me sinto contente !! Janeiro de 2011 JOSÉ GAMEIRO
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I A Última corrida de Touros em Salvaterra
Nota Prévia
A trágica morte do jovem fidalgo, Manuel
José de Noronha e Menezes, 7º Conde dos
Arcos, filho do Marquês de Marialva, numa
corrida de touros, em Salvaterra de Magos,
tem servido para muita transcrição ao longo
dos tempos, levou a que Luiz Augusto Rebello
da Silva, numa das suas obras marcantes, e
um marco de referencia do romantismo
português, no séc. XIX. Ao longo dos tempos,
em tudo quanto é editado sobre Salvaterra,
não deixa de aparecer,” A Morte do Conde
dos Arcos”. Conto que sendo romanceado,
segundo alguns autores, foi escrito cerca de
70 anos depois do acontecimento.
A MORTE DO CONDE DOS ARCOS
“O sr. D. José, primeiro do nome, era em
Salvaterra um rei em férias. –A verdade é que
os maldizentes notavam, em segredo, que
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Sua Majestade, estava sempre ao torno e o
Marquês no trono. O prolóquio fundava-se na
habilidade mecânica do monarca como
torneiro, e no carácter dominador do
marquês como ministro.
Vicejavam os campos em plena primavera.
A amendoeira cobria-se de flores, os bosques
esfolhavam-se, as veigas vestiam-se e
matizavam-se, e a brisa doidejava indiscreta
arregaçando o lenço à donzela que passava,
ou roubando um beijo à rosa perfumada.
Tudo eram alegrias e cânticos… os rouxinóis
nas moitas, o coração nos amores, e a
natureza nos sorrisos ao sol esplêndido que a
dourava.
O Rei estava em férias em Salvaterra e,
uma tourada real chamara a corte a restante
fidalguia do país a esta vila. Os fidalgos
respiravam nestas ocasiões menos oprimidos.
Não os assombrava tão de perto a privança
do ministro. Os touros eram bravos, os
cavaleiros destros, o anfiteatro pomposo, e o
cortejo das damas adorável. O prazer na
boca de todos. Por cúmulo de venturas o
Marquês de Pombal ficara em Lisboa, retido
pelo conflito com o embaixador de Espanha.
Contava-se em segredo nos recantos do
palácio o diálogo entre o enviado castelhano
e o secretário de estado português, louvando-
o uns em voz alta, para os ecos daquelas
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paredes repetirem os elogios, crucificando-o
outros sem piedade, para saciarem os ódios.
As devotas e os fidalgos puritanos eram pelo
espanhol, e pediam a Deus que os rebates da
guerra próxima despenhassem o plebeu
nobilitado do seu pedestal político. Os
magistrados e os homens de capa e volta,
defendiam o marquês e respondiam com
meios sorrisos às fogosas jaculatórias dos
zelosos do trono e do altar.
O Marquês de Pombal, tinha-se negado
com firmeza às concessões exigidas
imperiosamente pelo governo castelhano:
– Muito bem, - atalhou o embaixador – um
exército de sessenta mil homens entrará em
Portugal e fará …
- O quê ? – Perguntara o marquês, sorrindo-
se com a tremenda luneta assentada e no
tom mais indiferente.
- Fará entender a razão e a justiça de el-rei,
meu amo, a Sua Majestade, e a vossa
excelência! – Redarguiu meia oitava acima o
espanhol, supondo o ministro fulminado.
Sebastião José de Carvalho franziu as
sobrancelhas, carregou a viseira, e cravando
a vista e a luneta no diplomata, retorquiu-lhe
friamente:
- Sessenta mil homens muita gente é para
casa tão pequena; mas querendo Deus, el-rei
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meu amo e senhor, sempre há-de achar onde
possa hospedá-la. Mais pequena era
Aljubarrota e lá couberam os que D. João de
Castela trouxe.
Vossa excelência pode responder isto ao
seu governo. E, levantando-se para despedir
o embaixador, acrescentou:
- Bem sabe vossa excelência que pode
tanto cada um em sua casa, que mesmo
depois de morto é precisos quatro homens
para o tirarem!
O embaixador saiu jurando por Dyos y la
Virgem Santíssima, e o marquês preparou-se
para a guerra.
O caso é, como dizia o nosso Zeferino na
Sobrinha do Marquês, que Sebastião José de
Carvalho foi um grande ministro e que fez
muito pela nação. Hoje há menos quem
responda assim à letra às ameaças dos
estrangeiros.
Berra-se muito, dorme-se a sono solto ao
som dos hinos patrióticos e depois salva o
castelo de madrugada e está salva a pátria.
O marquês de Pombal prezava as artes e
protegia e animava as classes médias. Esse
pouco que o reino progrediu deveu-se a ele.
Se a indústria nunca acabou de sair da
infância, a culpa quase toda foi dos maus
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governos que sucederam ao seu, e também
do povo que não quis trabalhar deveras…
Mas vamos aos touros reais. Desses é que o
ministro não gostava nada.
Queria-os ao arado e não à farpa, e
parecia-lhe melhor, que os toureadores,
sendo fidalgos, servissem o Estado com a
pena ou com a espada, e, sendo mecânicos,
que lavrassem, tecessem e ganhassem
honradamente a vida, enriquecendo-se a si e
à nação.
Mas el-rei D. José, cedendo em tudo ao
marquês, quanto aos touros não admitia
reflexões. Nisto era rei a valer
e Bragança legitimo. Os
fidalgos sabiam-no e por isso
desfrutavam doces prazeres
– a satisfação do gosto
nacional e a contradição da
vontade do ministro.
Desatendê-la sem perigo e pela mão do
soberano era para eles um deleite e um
triunfo. Nestas funções não vigorava a
severidade das últimas pragmáticas. Outro
motivo de júbilo.
Quem queria podia arruinar-se em luxuosos
vestidos, enfeites e toucados.
As bordaduras e os recamos de ouro, os
veludos e sedas de fora, talhados à francesa,
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resplandeciam constelados de pérolas e
diamantes. Por cima dos mais ricos trajos e
das mais vistosas cores desenrolavam-se os
anéis ondeados das empoadas cabeleiras. As
damas ostentavam as graças de seus
donaires e tufados, e emoldurando o belo
oval dos rostos nos penteados caprichosos,
sorriam-se para os gentis campeadores, e seus
olhos cheios de luz e de promessas
estimulavam até os tímidos.
Correram-se as cortinas da tribuna real.
Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo
depois entra pelos camarotes o vistoso
cortejo, e vê-se ondear um oceano de
cabeças e de plumas. Na praça ressoam
brava alegria as trombetas, as charamelas e
os timbales.
Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos
todos, com o conto das lanças nos estribos e
os brasões bordados no veludo das
gualdrapas dos cavalos. As plumas dos
chapéus debruçam-se em matizados
cocares, e as espadas em bainhas lavradas
pendem de soberbas talins.
Os capinhas e forcados, vestem com garbo
à castelhana antiga. No semblante de todos
brilha o ardor e o entusiasmo.
O Conde de Arcos, entre os cavaleiros, era
quem dava mais na vista. O seu trajo, cortado
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à moda da corte de Luiz XV, de veludo preto,
fazia realçar a elegância do corpo.
Na gola da capa e no corpete sobressaiam
as finas rendas da gravata e dos punhos.
Nos joelhos as ligas bordadas deixavam
escapar com artificio os tufos de cambraieta
alvíssima.
O conde não excedia a estatura ordinária;
mas, esbelto e proporcionado todos os seus
movimentos eram graciosos.
As faces eram talvez pálidas de mais, porém
animadas de grande expressão, e o fulgor
das pupilas negras fuzilava tão vivo e por
vezes tão recobrado, que se tornava
irresistível.
Filho do marquês de Marialva e discípulo
querido de seu pai, do melhor cavaleiro de
Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a
nobreza e a naturalidade do seu porte
enlevavam os olhos.
Ele, e o corcel, como que ajustados em uma
só peça, realizavam a imagem do centauro
antigo. A bizarria com que percorreu a praça,
domando sem esforço o fogoso corcel,
arrancou prolongados e repetidos aplausos.
Na terceira volta, obrigando o cavalo quase
a ajoelhar-se diante de um camarote, fez que
uma dama escondesse turvada no lenço as
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rosas vivíssimas do rosto, que decerto
descobririam o melindroso segredo da sua
alma, se em momentos rápidos como o
faiscar do relâmpago pudesse alguém
adivinhar o que só dois sabiam.
El-rei, quando o mancebo o cumprimentou
pela última vez, sorriu-se, e disse voltando-se: -
Porque virá o conde quase de luto à festa ?
Principiou o combate.
Não é propósito nosso descrever uma
corrida de touros. Todos teem assistido a elas
e sabem de memória o que o espectáculo
oferece de notável. Diremos só que a raça
dos bois era apurada, e que os touros se
corriam desembolados, à espanhola.
Nada diminuía, portanto, as probabilidades
do perigo e a poesia da luta. Tinham-se
picado alguns bois. Abriu-se de novo a porte
do curro, e um touro preto investiu com a
praça.
Era um verdadeiro boi de circo. Armas
compridas e reviradas nas pontas, pernas
delgadas e nervosas, indício de grande
ligeireza, sinal de força prodigiosa.
Apenas tocara o centro da praça,
estancou como deslumbrado, sacudiu a
fronte e, escavando a terra impaciente,
soltou um mugido feroz no meio do silêncio,
que sucedera às palmas e gritos dos
espectadores.
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Dentro em pouco as capinhas, saltando a
pulos as trincheiras, fugiam à velocidade
espantosa do animal, e dois ou três cavalos
expirantes, denunciavam a sua fúria.
Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair
contra ele. Fez uma pausa. O touro pisava a
arena ameaçador e parecia desafiar em vão
um contendor.
De repente viu-se o Conde dos Arcos firme
na sela provocar o ímpeto da fera e a haste
flexível do rojão ranger e estalar, embebendo
o ferro no pescoço musculoso do boi.
Um rugido tremendo, uma aclamação
imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes
triunfais das trombetas a charamelas
encerraram esta sorte brilhante. Quando
o nobre mancebo passou a galope por
baixo do camarote, diante do qual
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pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a
mão alva e breve de uma dama deixou
cair uma rosa, e o conde, curvando-se
com donaire sobre os arções, apanhou a
flor do chão sem afrouxar a carreira,
levou-a aoslábios e meteu-a no peito.
Investindo depois com o touro, tornado
imóvel com a raiva concentrada, rodeou-
o estreitando em volta dele os círculos até
chegar quase a pôr-lhe a mão na nuca.
O mancebo desprezava o perigo e pago
até da morte pelos sorrisos, que seus olhos
furtavam de longe, levou o arrojo a arrepiar a
testa do touro com a ponta da lança.
Precipitou-se então o animal com fúria cega
e irresistível.
O cavalo baqueou trespassado e o
cavaleiro, ferido na perna, não pôde
levantar-se. Voltando sobre ele o boi
enraivecido arremessou-o aos ares, esperou-
lhe a queda nas armas, e não se arredou
senão quando, assentando-lhe as patas sobre
o peito, conheceu que o seu inimigo era um
cadáver.
Este doloroso lance ocorreu com a
velocidade do raio. Estava já consumada a
tragédia e não havia expirado ainda o eco
dos últimos aplausos.
De repente um silêncio, em que se
conglobam milhares de agonias, emudeceu
o circo. Rei, vassalos e damas, meio corpo
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fora dos camarotes, fitavam a praça sem
respirar e erguiam logo a vista ao céu como
para seguir a alma que para lá voava envolta
em sangue.
Quando mancebo, dobrado no ar, exalava
a vida antes de tocar no chão, um gemido
agudo, composto de soluços e choro, caiu
sobre o cadáver como uma lágrima de fogo.
Uma dama desmaiada nos braços de outras
senhoras soltara aquele grito estridente,
derradeiro ai do coração ao rebentar do
peito. El-Rei D. José com as mãos no rosto,
parecia petrificado. A corte desta vez
acompanhava-o na sua dor. Mas o drama
ainda não tinha concluído. Quem sabe!?
O terror e a piedade iam cortar de novas
mágoas o peito a todos. O Marquês de
Marialva assistira a tudo do seu lugar.
Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos
seguiam-lhe os movimentos brilhando a cada
sorte feliz.
Logo que entrou o touro preto, carregou-se
de uma nuvem o semblante do ancião.
Quando o Conde dos Arcos saiu a farpeá-lo,
as feições do pai contraíram-se e a sua vista
não se despregou mais da arriscada luta.
De repente o velho saltou um grito sufocado
e cobriu os olhos, apertando depois as mãos
na cabeça. Os seus receios haviam-se
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realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na
arena, e a esperança pendia de fio ténue !
Cortou-lhe rapidamente a morte, e o
marquês perdido o filho, luz da sua alma e
ufania de suas cãs, não preferiu uma palavra,
não derramou uma palavra; mas os joelhos
fugiam-lhe trémulos, e a elevada estatura
elevou-se vergando ao peso da mágoa
excruciante.
Volveu, porém, em si, decorridos momentos
alivia palidez do rosto tingiu-se de
vermelhidão febril subitamente. Os cabelos
desgrenhados e hirtos revolveram-se-lhe na
fronte inundada de suor frio como as sedas
da juba de leão irritado.
Nos olhos amortecidos faiscou instantâneo,
mas terrível, o sombrio clarão de uma cólera,
em que todas as ânsias insofridas da
vingança se acumulavam.
Em um ímpeto a presença reassumiu as
proporções majestosas e erectas como se lhe
corresse nas veias o sangue do mancebo que
perdera.
Levando por acto instintivo a mão ao lado,
para arrancar da espada, meneou
tristemente a cabeça. A sua boa espada,
cingira-a ele próprio ao filho neste dia que se
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convertera para sua casa em dia de eterno
luto.
Sem querer ouvir nada, desceu os degraus
do anfiteatro, seguro e resoluto como se as
neves de setenta anos lhe não branqueassem
a cabeça. – Sua majestade ordenou ao
marquês de Marialva, que aguarde as suas
ordens! – disse um camarista, detendo-o pelo
braço.
O velho estremeceu como se acordasse
sobressaltado, e cravou no interlocutor os
olhos desvairados, em que reluzia o fulgor
concentrado dum pensamento imutável .
Desviando depois a mão que o suspendia,
baixou mais dois degraus.
- Sua majestade entende foi já bastante
desgraçado e não quer perder nele dois
vassalos…
- El-rei manda nos vivos e eu vou morrer! –
atalhou o ancião, em voz áspera, mas sumida
– Aquele é o corpo do meu filho! – e
apontava para o cadáver – Está ali!
Sua majestade pode tudo menos desarmar
o braço do pai, menos desonrar os cabelos
brancos do criado que o serve há tantos
anos. Deixe-me passar, e diga isto.
D. José vira o marquês levantar-se e
percebera a sua resolução. Amava no
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estribeiro-mor as virtudes e a lealdade nunca
desmentidas. Sabia que da sua boca não
ouvira senão a verdade, e a ideia de o perder
assim era-lhe insuportável.
Apenas lhe constou que ele não acedia à
sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes
convulsos e, debruçado para fora da tribuna,
aguardou em ansioso silêncio o desfecho da
catástrofe.
A esse tempo já o marquês pisava a praça,
firme e intrépida como os antigos romanos
diante da morte.
Dentro do peito o seu coração chorava,
mas os olhos áridos queimavam as lágrimas
quando subiam a rebentar por eles.
Primeiro do que tudo queria a vingança.
Por impulso instantâneo, todo o
ajuntamento se pôs de pé.
Os semblantes consternados e os olhos
arrasados água, exprimiam, aquela dolorosa
contenção de espírito, em que um sentido
parece concentrar todos.
- Deixai-o ir ao velho fidalgo! A mágoa, que o
trespassa, não tem igual. O fogo, que lhe
presta vida e forças, é a desesperação.
Deixai-o ir, e de joelhos!
Saudai a majestade do infortúnio. O pai
angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e
pousou-lhe depois um ósculo na fonte.
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Desabrochou-lhe o talim e cingiu-o, levantou-
lhe do chão a espada e correu-lhe a vista
pelo fio e pela ponta de dois gumes.
Passou depois a capa no braço e cobriu-se.
Decorridos instantes estava no meio da praça
e devorava o touro com a vista chamejante,
provocando-o para o combate.
Cortado de comoções tão cruéis, não lhe
tremia o braço e os pés arreigavam-se na
arena como se um puder oculto e superior
lhos tivesse ligado repentinamente à terra.
Fez no circo um silêncio gélido, tremendo e
tão profundo, que poderiam ouvir-se até as
pulsações do coração do marquês, se
naquela alma de bronze o coração valesse
mais do que a vontade.
O touro arremete contra ele. Uma e muitas
vezes o investe ego e irado, mas a destreza
do marquês esquiva sempre a pancada. Os
ilhais da fera urfam de fadiga, a espuma
franja-lhe a boca, as pernas vergam e
resvalam, e os olhos amortecem de cansaço.
O ancião zomba da sua fúria. Calculando as
distâncias, frustra-lhe todos os golpes sem
recuar um passo. O combate demora-se.
A vida dos espectadores resume-se nos
olhos. Nenhum usa desviar a vista de cima da
praça. A imensidade da catástrofe imobiliza
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todos. De súbito solta el-rei um grito e recolhe-
se para dentro da tribuna.
O velho aparava a peito descoberto a
marrada do touro, e quase todos ajoelharam
para rezarem por alma do último marquês de
Marialva.
A aflitiva pausa apenas durou momentos.
Por entre as névoas, de que a pupila trémula
se embaciava, viu-se o homem crescer para
a fera, a espada fuzilar nos ares e logo após
sumir-se até aos copos entre a nuca do
animal.
Um bramido, que atroou o circo, e o baque
do corpo agigantado na arena, encerraram
o estremo acto do funesto drama. Clamores
uníssonos saudaram a vitória.
O marquês, que tinha dobrado o joelho
com a força do golpe, levantava-se mais
branco do que um cadáver. Sem fazer caso
dos que o rodeavam, tornou a abraçar-se
com o corpo do filho, banhando-o de
lágrimas e cobrindo-o de beijos.
O touro ergueu-se, e, cambaleando com a
sezão da morte, veio apalpar o sítio onde
queria expirar. Ajuntou ali os membros e
deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do
conde dos Arcos.
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Nesse momento os espectadores olhando
para a tribuna real estremeceram. El-rei, de
pé e muito pálido, tinha junto de si o marquês
de Pombal, coberto de pó e com sinais de ter
viajado depressa.
Sebastião José de Carvalho voltava de
propósito as costas à praça falando com o
monarca. Punia assim a barbaridade do
circo. – Temos guerra com a Espanha, senhor.
E inevitável. Vossa majestade não pode
consentir que os touros lhe matem o tempo e
os vassalos. Se continuássemos nesse caminho
… cedo iria Portugal à vela.
- Foi a última corrida marquês. A morte do
conde dos Arcos acabou os touros reais
enquanto eu reinar
– Assim o espero da sabedoria de vossa
majestade.
Não há tanta gente nos seus reinos, que
possa dar-se um homem por um touro.
- El-rei consente que vá em seu nome
consolar o marquês de Marialva ?
- Vá ! É pai. Sabe o que há-de dizer-lhe…!
- O mesmo que ele me diria a mim, se
Henrique estivesse como está o conde. El-rei
saiu da tribuna, e o marquês de Pombal,
entrando na praça em toda a majestade da
sua elevada estatura, levantou nos braços o
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velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e
triste:
- Sr. Marquês! Os portugueses, como V. exª.,
são para darem exemplos de grandeza de
alma e não para os receberem.
Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos
seus!
A Espanha declara-nos a guerra e el-rei,
meu amo e senhor, precisa do conselho e da
espada de v.exª. e travando-lhe da mão,
levou-o quase nos braços até o meterem na
carruagem.
D. José I, cumpriu a palavra dada ao seu
ministro. No seu reinado não mais se picaram
touros reais em Salvaterra.”
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II
O CONDE DOS ARCOS –
A SUA ORIGEM E MORTE
NOTA PREVIA
É pela carta real de 2 de Fevereiro de 1620
que, pela primeira vez se fala deste título;
Conde dos Arcos. É um título atribuído com
conotação à povoação de Arcos de
Valdevez.
Segundo alguns historiadores, o nascimento
do 7º Conde dos Arcos; D. Manuel José de
Noronha e Menezes, terá acontecido em
Marvila, no ano de 1740.
Em 1989, quando pesquisava o local onde
teria existido o “Teatro Régio de Salvaterra”,
pessoas que agora teriam 115 anos de idade,
disseram-me que na meninice deles, o povo
falava que o sítio onde teria acontecido a
corrida, era num terreno aberto, por
detrás do Paço das Damas. Lembravam-
se, que no primeiro quartel do séc. XX,
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aquela zona foi urbanizado com algumas
casas. E que alguns lhe chamavam
“Canto da Ferrugenta”, outros o “Páteo
do Pardalada”. Quanto ao registo da morte
sabe-se foi feito nos serviços da secretaria do
paço real de Salvaterra e, do mesmo, fez
notícia a “ Gazeta de Lisboa”, jornal da
época.
A POLÉMICA
A curiosidade em conhecer melhor o que
foi escrito por Rebello da Silva, sobre a “Última
corrida de toiros em Salvaterra e a morte do
Conde dos Arcos” tem levada à realização
de vários colóquios, onde as inúmeras
intervenções, causam sempre alguma
polémica. Também em 2003, Vitor Escudero,
considerado um investigador no mundo dos
toiros, em Portugal,
Arraigadamente disse numa reunião de
aficionados, realizada em Salvaterra, “É uma
das maiores mentiras da nossa História”, o
Conde dos Arcos morreu, na Murteira
(Samora Correia).
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De acordo com o registo cronológico dos titulares “Conde dos
Arcos”, regista-se a sua morte em 1779, mas em documentos
usados posteriormente, como: “certidão de óbito”, a sua morte
ocorreu em 10 de Fevereiro de 1778.
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Já antes, Pizarro Monteiro, falecido em 1991,
deixou escrito em 1982, que a morte do
Conde dos Arcos, nunca aconteceu de
maneira trágica em Salvaterra, mas sim de
morte natural, conforme uma oração fúnebre
deixada escrita em 1778.
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Também quando das obras, realizadas na
Igreja Matriz da vila, em 1958, o padre José
Rodrigues Diogo, pároco da freguesia, em
presença de três pedras tumulares em frente
ao altar daquele templo, disse: Uma delas é
do Bispo João Soalhães, fundador da Igreja,
em 1296, cujo orago é S. Paulo. Uma outra é,
do Conde dos Arcos, veio do convento de
Jericó, quando do sismo de 1858.
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III
A CONSTRUÇÃO DA PRAÇA DE TOIROS
Corria o ano de 1919, os mais idosos, ainda
falavam da existência de uma praça de
toiros, uma construção em madeira, que
existiu na vila, que era explorava pela
Misericórdia de Portalegre. Na vila de
Benavente andava no ar, o entusiasmo para
a construção de uma praça de toiros. Na
taberna do José Luis das Neves, ali na esquina
da Trav do Martins, com a rua Direita, um
grupo de aficionados, juntava-se todas as
noites, e um deles não tirava da cabeça a
vontade das gentes da terra vizinha, de virem
a construir uma praça de toiros. Que inveja
aquela, de não terem também uma aqui em
Salvaterra de Magos. A ideia amadureceu e
foi avante, um grupo se formou mesmo ali -
Francisco Maria Gonçalves, Augusto da
Silva,Manuel Lopes Gonçalves, Luiz Gonçalves
da Luz, António Henriques Alexandre, Augusto
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Gonçalves da Luz, Carlos Alberto Rebelo,
Pedro de Sousa Marques, e o taberneiro, José
Luis das Neves, depressa fizeram uma
“circular” com várias cópias, que circulou por tudo quanto era sitito da vila.
José Luis das Neves, contou-me isto e muito
mais, quando o entrevistei, no aniversário dos
50 anos da inauguração da Praça de Toiros,
efeméride que fiz publicar no Jornal Aurora
do Ribatejo. Nessa época trabalhava José
das Neves, no Grémio da Lavoura. De início,
tiveram alguns contratempos, mesmo de
lavradores que não aceitaram o entusiasmo
do grupo, um deles chegou mesmo a
oferecer uma quantia em dinheiro, para
desistirem da ideia, pois não acreditava. A
circular, distribuída à população dizia assim:
“De há muito que os Salvaterrenses, e outros
mais, cuja longa permanência aqui os leva a
considerar esta também sua terra Natal, vêm
mostrando desejos de voltarem a possuir
novamente uma Praça de Toiros nesta
localidade. E, para que essa ideia se torne um
facto, combinaram os abaixo assinados
reunirem-se quanto antes, o que fizeram
ontem, em casa dum dos signatários,
deliberando o seguinte; Procurar levara a
efeito a construção desse dito edifício e, uma
vez concluído, oferecê-lo ao Hospital da
Misericórdia desta vila; Diligenciar falar e
escrever a todos, sem execepção, a fim de
angariar os donativos precisos para a
construção imediata do referido edifício,
31
ficando todo e qualquer desses donativos à
responsabilidade dos mesmos signatários, que
prestarão contas a seu devido tempo, se
assim lhes for exigido. Inútil seria dizer que a
construção de tal edifício de espectaculos
representará mais um engradecimento para
a nossa terra e uma dávida, cremos, de
importante valor para o nosso Hospital, Casa
de Caridade esta que tão digne e
merecedora é que a ajudem. Assim, pois,
espera a Comissão que todos a coadjuvem,
por toda e qualquer forma, peocurando
vencer sempre dificuldades que apareçam, a
fim de se conseguir principiar e chegar à
conclusão de tão útil e desejado edifício.
Nesta esperança e agradecendo
antecipadamente, se subcreve com toda a
consideração e respeito.
Salvaterra de Magos, 18 de Setembro de
1919. A Comissão”.
Este e mais alguns documentos, me
ofereceu José Das Neves, quando da referida
entrevista, dizendo-me: Estão aqui nesta
gaveta há umas boas dezenas de anos.
Replicando disse-me - iguais a estes, apenas
tinha o Fernando de Sousa Marques, filho do
meu amigo Pedro Marques, que de vez
enquando a emprestava e parece que
veiram a desaparecer. Estes, o Dr. José
Cardador, fez usos deles, num livro que
escreveu sobre a Misericórdia, mas depois me
devolve-os Dos documentos oferecidos por
José das Neves, faça aqui uso de alguns.
32
Uma carta foi enviada à Câmara Municipal,
na pessoa do seu presidente, pedindo a
oferta de um pedaço de terreno, com
sessenta metros de diâmetro à entrada da
vila, onde estava um resto de pinhal, e três
velhos Moínhos já sem uso.
Um ofício, com data de 18 de Setembro de
1919, foi dirigido ao Ministério das Finanças,
pedindo a decência de pinheiros do Pinhal
do Escaroupim, próximo desta vila. A
construção da praça iniciou-se, que levou
vários meses, já que as bancadas, foram em
madeira. A decoração interior, tinha
parecenças com a do Campo Pequeno.
Terminada a obra, uma Comissão
encarregou-se dos festejos da inauguração –
António Sousa Vinagre, Dr. Armando Santos
Calado, Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, José
Rebelo de Andrade e Henrique da Costa
Freire.
O dia da inauguração, foi marcado para 1
de Agosto de 1920, e no programa constava,
33
que às 5 horas, seria lançado uma salva de 21
morteiros. Às 8 horas, entrada de toiros a pé.
Às 13 horas, a embolação dos que seriam
corridos. Às 16 horas, sessão solene no Club,
em homenagem ao falecido bandarilheiro,
Vicente Roberto da Fonseca, e seu irmão
Roberto Jacob da Fonseca, sendo
descerrado os retratos dos dois grandes
artistas, executando por essa ocasião a
Banda Euterpe Alhandrense o “hino Irmãos
Robertos”, escrito expressamente para este
fim pelo seu inteligente,maestro Serra e
Moura. Às 17, 30 horas começará a corrida
de toiros em que tomam parte os laureados
artistas; José Casimiro e Adolfo Macedo, a pé
Teodoro Gonçalves, Ribeiro Tomé, Vital
Mendes, Francisco Rocha, Mateus Falcão e
Manuel dos Santos, da Golegã, Os forcados
do valente grupo de que é capataz, Manuel
Burrico, o director da corrida, Roberto Jacob.
Os touros desta corrida são generosamente
oferecidos pela firma Roberto & Roberto.
No segundo dia dos festejos, haverá uma
uma segunda corrida, em que tomam, José
Casimiro e Adolfo Macedo, e os laureados
bandarilheiros amadores, D. Carlos
Macarenhas, D. Pedro de Bragança, Patrício
Cecílio, Francisco D`Oliveira, João malhou da
Costa e Rafael Gonçalves. Campinos António
Eugénio de Menezes (abegão), Joaquim
Coimbra, Manuel Coimbra, Francisco Souto
Barreiros. carecas; António José Rebelo de
Andrade, papagaio; D. Baltazar de Freitas
34
Lino. Os touros para esta corrida foram
gentilmente oferecidos pelo novo ganadero
Francisco Ferreira Lino, orindos da antiga
ganadaria António Ferreira Roquette.
Os jornais, ABC e “A Manhã”, entre outros
envaram a Salvaterra de Magos, os seus
jornalistas, das suas páginas sobre
tauromaquia, para fazerem a reporgem. O
Jornal A Manhã, diário republicano, fez sair
no dia 6 de Agosto, edição que se esgotou.
em Salvaterra de Magos, mesmo sendo
dobrado os exemplares à venda. Algum
tempo ainda levou a entregar a praça à
Misericórdia, foi necessário mais algumas
ofertas em dinheiro, dos lavradores e do
povo, que acorria aos bailes, já sem
encargos, foi a chave entregue à
Misericórdia. A Associação de Beneficência –
Misericórdia de Salvaterra de Magos, faz
chegar à Comissão Construtora da Praça de
Touros, o ofício nº 9 “À execlentíssima
Comissão Construtora da Praça de Touros
desta vila” * Tendo chegado às minhas mãos,
o ofício de V. Exªs., que acompanhava a
chave da praça de touros, eu, em nome da
Comissão Administrativa tenho a honra de
lhes agradecer a sua benemérita intenção, e
bem assim a todos os senhores que
concorreram para a construção daquela
propriedade, e de lhes notitificar que na acta
da sessão de hoje, lhes fica exarado um voto
de louvor pela sua bela intenção.
Saúde e Fraternidade.
35
Salvaterra de Magos, 16 de Março de 1924
(a) – José Eugénio de Menezes
O CICLONE
Cerca de uma vintena de anos depois,
ventos ciclónicos fizeram-se sentir por todo o
país. Em Salvaterra de Magos, os estragos
foram imensos, a Praça de touros, sofreu
muitos estragos. Jorge de Melo e Faro (Conde
de Monte Real) e sua esposa, exmª Snrª D.
Maria Teresa Castro Pereira Guimarães de
Melo e faro, tomaram a iniciativa da sua
reconstrução e organizaram duas corridas,
entegando as receitas ao Hospital, Da
primeira corrida 13.851$50 e da segunda
corrida 115.176$65 ( À primeira corrida
dignou-se assistir Sua Excelência o Senhor
Presidente da República, General António
Oscar de Fragoso Carmona).
Para reparar os estragos, também contribuiu
com avultada quantia, o benemérito de
Salvaterra, o lavrador; Gaspara da Costa
Ramalho
Nota: O Dr. José Asseiceira Cardador, no seu livro “Subsídio para o Estudo
da Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, - 1970, faz
refrências à Praça de Toiros
***********************
***************
36
IV
TOIROS DE MORTE EM SALVATERRA
Depois do acontecido em 1762, com a
morte do Conde dos Arcos, vários abusos
com mortes de toiros aconteceram em
praças portuguesas.
Em 1921, Joaquim Mella, na praça de toiros
das Caldas da Rainha, estoqueou um toiro e,
logo de seguia em Salvaterra de Magos, o
toureiro “Faculdades”, que muitas vezes fez
37
parelha com os irmãos Roberto(s), abateu
toiros o que deu origem à publicação de uma
nova lei que revogava as anteriores
proibições, que vinham de 1837 e 1838.
Novamente e apesar das proibições, em
1927, foram mortos toiros em praças de
Portugal. Novo decreto-lei, foi publicado no
Diário do Governo, de 11 de Abril de 1928,
estabelecendo pesadas sanções para os
prevaricadores, bem como aos proprietários
das praças.
Em 1952, Manuel dos Santos, estoqueou um
toiro no Campo Pequeno e, mais tarde coube
a vez ao matador António dos Santos. Os
anos decorriam e os aficionados, toureiros e
ganadeiros pugnavam, mesmo em surdina,
pela morte dos toiros na arena, das praças
portuguesas,
Aproveitando as incertezas políticas que
pairavam em Portugal, depois da revolução
dos cravos, em 1974, novamente o “mundo”
ligado a festa tauromáquica, realiza em
38
Salvaterra de Magos, no dia 18 de Dezembro
de 1976, no salão do Clube Desportivo local,
um colóquio, Da reunião, fiz noticia que foi
publicada no jornal “Diário do Ribatejo” em
18 de Dezembro de 1976, que aqui
transcrevo:
“Sim, toiros de morte em Salvaterra de Magos foi a
palavra de ordem, no colóquio realizado no passado
dia 18, no Salão do Clube Desportivo Salvaterrense.
Promovido pela Comissão Pró-Toiros de Morte em
Portugal e apoiada pela Comissão da Praça de Toiros
de Salvaterra, e na sequência de outras sessões sobre o
mesmo tema, foi levada a efeito uma sessão e
esclarecimento sobre a situação da tauromaquia em
Portugal e dar a conhecer o ponto da situação sobre o
movimento que se está a desenvolver para as corridas
na próxima temporada, sejam integrais. Compunham a
mesa do colóquio: Dr. Queirós (advogado), José Júlio,
Parrreirita Cigano, António Portugal, Ludovino
Bacatume Mestre Batista (toureiros). Rogério Amaro
(critico e pegador de toiros), João Ramalho(ganadeiro)
João Mascarenhas, Chony, Francisco Rocha
(aficionados), e ainda as senhoras; Isabel Cadencio e
39
Carolina Bacatum. Foram ainda convidado e, estiveram
presentes; forcados, campinos e alguns elementos da
Comissão que tinham em seu poder a gerência da praça
de toiros da misericórdia local.
Abriu o colóquio, o sr, Chony que fez algumas
considerações sobre as perspectivas e a sua viabilidade
dos toiros de morte em Portugal. Seguidamente foi
dada a palavra ao ganadeiro João Ramalho, que fez
uma síntese dos toiros de lide e as dificuldades na sua
criação. O dr. José Queiró, começou a sua intervenção,
por fazer algumas considerações ao processo judicial,
onde estão envolvidos os matadores e cavaleiros, que
intervieram na já célebre corrida de 31 de Outubro do
corrente ano, em Vila Franca de Xira. Depois fez
algumas análises ao Decreto-Lei, que proíbe os toiros
de morte em Portugal e que data de 1836,e que foi
confirmado pelo Decreto de 1919, que prevê para as
infracções nalguns pontos multas de 2$00 e 15$00,
mais tarde em 1921 saiu a Portaria que vem de igual
modo regulamentar as corridas de toiros e suas
implicações, ainda em 1928, saiu outro Decreto-Lei
sobre igual matéria e que na opinião jurista, tal matéria
publicada, está desde há muito ultrapassada, e que urge
40
modificar. Pela sua intervenção recebeu grandes
aplausos.
O crítico de toiros do “jornal de noticias” e forcado,
Rogério Amaro, iniciou a sua intervenção sobre o papel
dos moços de forcados e a necessidade de os
agrupamentos serem reduzidos, se os toiros de morte
for uma realidade, foi muito aplaudido. José Júlio,
António Portugal e Parreirita Cigano descreveram
cada uma à sua maneira o papel do matador de toiros,
em Portugal e em Espanha, Por todos foi condenado o
obsoleto Decreto, que ainda regula as corridas com
toiros de morte em Portugal. As senhoras, Isabel
Cadencio e Carolina Bacatum, referiram-se ao papel
das senhoras no ambiente tauromáquico, aplaudiram e
incentivaram os elementos da Comissão Pró-Toiros de
Morte a prosseguir a sua luta, que era aliás a luta de
todos os aficionados.
O sr. João Mascarenhas, que na sua intervenção,
empregou grande entusiasmo e bastante aficion,
começou por exortar os presentes a apoiar a Comissão,
que está a trabalhar no projecto, que se espera dentro
de algum tempo venha a ser entregue ao governo. Fez
uma crítica, às ausências dos aficionados, que servem
nos meios da comunicação social, e manifestou a sua
41
grande alegria, por naquela sala encontrar grande
número de jovens e que se estava em presença de novos
aficionados. Loduvino Bacatum, também deu uma
achega, focando os aspectos dos toureiros, que sendo
reconhecidos como trabalhadores na sua profissão,
nalguns Ministérios, inclusive o do Trabalho, não
podiam ser matadores de toiros, em Portugal, também
deu a conhecer pormenores ao público presente de
como tem sido o “mister”de empresário neste país, e
que num futuro muito próximo, tal condição, terá que
ser mais humana.
Ao entrar-se no período de perguntas aos elementos
que compunham a mesa, assistiu-se a um dialogo, muito
vivo e entusiasta, com perguntas que pelo seu
conteúdo,verificava-se que os aficionados
Salvaterrianos, estavam deveras preocupados com o
futuro das corridas de toiros, muito especialmente com
as de toiros de morte, sendo muito frequente ouvir-se “a
petição para a frente”, começar com os toiros de morte
em Portugal, ela se efective, mas terminaram, com a
morte do Conde de Arcos, na Primavera de 1762. Por
último foram exibidos filmes, dando conta à assistência
de como são frias e sem motivação, as corridas de
toiros em Portugal, em paralelo com as realizadas em
42
Espanha, onde o público vê o espectáculo, cheio de
vibração quando o matador remata a faena, com o
estoque final. A assistência, cerca de três centenas e
meia de pessoas, saiu deveras entusiasmada, assinando
por fim as listas, para a respectiva petição de toiros de
morte em Portugal.
18-12-76 * JOSE GAMEIRO
**************
Uns meses depois, num ambiente, então descrito de
provocar a lei, na praça de toiros de Salvaterra, em 15
de Maio de 1977, os toureiros Armando Soares e o
espanhol “El Macareño”, estoquearam 4 toiros. Do
acontecido, o jornal “Aurora do Ribatejo”, publicou
notícia, em 25 de Maio de 1977.
43
44
V
CRIADORES DE TOIROS EM SALVATERRA
Nota Prévia
No séc. XIX, existem registos de lavradores
de Salvaterra de Magos, para além de terem,
a sua actividade agrícola, desenvolviam a
criação de gado bravo. Havia as pequenas e
grandes ganadarias. Nas pequenas,
trabalhavam um restrito grupo que não
passavam do Moiral, Contra Moral e
Campinos.
45
Nos meses da Primavera e Verão, o gado
pastava nas terras frescas da bacia do rio
Tejo. Como no campo de Salvaterra e Lezíria
Grande (Vila Franca de Xira). No tempo de
Outono e Inverno, alimentavam-se do pasto
da charneca, lá para os lados do Chaparral e
Coelhos, pastando algumas vezes nas terras
frescas, que viriam a pertencer anos depois à
Barragem de Magos.
RODRIGO FERREIRA DA COSTA (Dr.)
Natural de Salvaterra de Magos, foi médico
e criador de gado bravo, por volta de 1873,
forneceu vários curros de toiros para a praça
do Campo de Sant`Ana. Falecer em 1878, na
sua terra-natal.
ANTONIO FERREIRA ROQUETTE
Natural de Salvaterra de Magos, teve casa
agrícola nesta vila, foi criador de toiros, com
divisa: turquesa e branco. Os seus toiros
gozavam de grande fama. Enviou alguns
curros para a praça de Sant`Ana, em Lisboa
46
e chegou a fornecer curros para Madrid. O
lavrador de Alpiarça, João Ignácio da Costa,
comprou-lhe alguns toiros, para apurar as
suas rezes. Tal como seu irmão, José Ferreira
Roquette, foi toureiro e cavaleiro amador,
conseguindo grande popularidade.
JOSE LUIZ DE BRITO SEABRA
Nasceu em Salvaterra de Magos, em 30 de
Agosto de 1845, foi dono com sua mãe do
palacete construído nesta vila, que mais tarde
passou a propriedade da família Monte Real.
Foi lavrador e ganadeiro, presidente da
câmara municipal de Salvaterra de Magos,
membro da Junta Geral do Distrito de
Santarém. Foi sócio fundador do Real Club
Tauromachico Portuguez, fundado em 23 de
Fevereiro de 1892. Faleceu em Valada, no dia
27 de Julho de 1893.
47
ANTONIO JOSE FERREIRA DA SILVA
Nasceu a 19 de Setembro de 1889, filho do
ganadeiro com o mesmo nome, forneceu
toiros para serem corridos em várias praças
dos pais, a sua divisão era Azul, e as manadas
pastavam nos campos de Salvaterra.
ROBERTO DA FONSECA JUNIOR
Nasceu em Salvaterra de Magos, filho
reconhecido do antigo bandarilheiro, Roberto
da Fonseca, quando da abertura do seu
testamento * Nos últimos anos do séc. XIX,
pretendeu ser toureiro, convencido de que
não tinha aptidões artísticas, dedicou-se à
criação de toiros de lide.
JOSE FERREIRA ROQUETTE
JFR
48
Nasceu em Salvaterra de Magos, era irmão
de António Roquette, teve uma manada de
toiros bravos, com a divisa verde.
JOÃO ANTÓNIO FERNANDES
Pequeno lavrador, natural de Salvaterra de
Magos, tinha uma vacada e, alguns toiros de
selecção, que pastavam nos campos da vila,
junto ao Tejo. Forneceu curros para várias
praças dos pais.
ROBERTO & ROBERTO
(Vicente Roberto e Roberto da Fonseca),
RR
Nasceram em Salvaterra de Magos, como
bandarilheiros ganharam fama e proveito,
dedicaram-se à agricultura e tiveram uma
ganadaria de toiros de lide, que pastavam
nos seus campos de Salvaterra. Um curro de
49
toiros desta ganadaria, foi corrido na arena
do Campo de Sant`Ana, em Dezembro de
1987, onde teve lugar a última corrida nesta
praça. Actuaram os cavaleiros Casimiro
Monteiro, Alfredo Tinoco, José Bento de
Araújo e D. Luiz do Rego.
Estes ganadeiros integraram em Portugal, o
primeiro lote, que construíram “Tentaderos”
para testarem as suas vacas e, para tal
construíram um, na sua Herdade dos Coelhos.
FRANCISCO FERREIRA LINO
FFL
Nasceu em Salvaterra de Magos, filho de
João Francisco Lino, iniciou a actividade
agrícola, aos 18 anos, depois de passar pelo
comércio em Lisboa. De pequeno lavrador,
foi comprando propriedades e, por volta de
1915, acabou de construir o seu Palacete,
cujo começo vinha antes do terramoto de
1909, na sua Quinta da Ómnia. A sua
50
ganadaria, teve início naquela época, sendo
os seus animais oriundos de António Ferreira
Roquette.
JOSE VICENTE DA COSTA RAMALHO
Filho do lavrador e benemérito, Gaspar da
Costa Ramalho, em 1936, era detentor de
casa agrícola, com criação de toiros, que
pela fama adquirida nas praças portuguesas,
começaram a ser solicitados para as arenas
de Espanha.
IRMÃOS ROBERTO
(Vicente Roberto Ferreira da Fonseca, Roberto
Ferreira da Fonseca (Dr.) e,
João Roberto Ferreira da Fonseca)
IR
Receberam por herança casa agrícola e
ganadaria, de seu pai João Roberto, que por
51
sua vez recebeu da firma Roberto & Roberto.
A Ganadaria, na primeira metade do séc. XX,
muita fama lhes deu.
JOÃO RAMALHO
(JOÃO JOSE DE MORAES SARMENTO COSTA RAMALHO)
Nasceu em Salvaterra de Magos, filho do
lavrador e ganadeiro; José Vicente da Costa
Ramalho * Sede: Quinta da Gatinheira
(Salvaterra de Magos) * Divisa: Lilás e Branco
* Historial: Em 1961 compra 30 vacas Toiros a
José Pedrosa e 1 toiro e 4 vacas “Chamaco”,
vindas de Pinto Barreiros, com ferro de irmãos
Roberto (Salvaterra de Magos) * Em 1963,
compra 8 vacas Urquijo x Alves do Rio, a Dr.
José Manuel Andrade (linha toda dada ás
filhas: Thereza e Helena Ramalho)
52
JOSE LUIS PEREIRA DIAS
Natural da Malveira (Oeste), na década
de 70 do séc. XX, veio para Salvaterra de
Magos, onde tem morada * Divisa: Azul e
Preto * Toiros oriundos: José Manuel Andrade,
Engº Ruy Gonçalves e Cabral de Ascensão *
Antiguidade: 1976
FELICIDADE DIAS
(Felicidade da Conceição Filipe Pereira Dias)
* Nos anos 70 do séc. XX, fixou residência em
Salvaterra de Magos * esposa do ganadeiro
José Dias e, mãe dos Irmãos Dias * Divisa:
Encarnado e Amarelo * Toiros oriundos:
Andrade Salgueiro e Manuel César Rodrigues
* Ganadaria conhecida desde 1984.
53
IRMÃOS DIAS
José Luís Pereira Dias e Felicidade da Conceição
Filipe Pereira Dias
Filhos de José Dias e Felicidade Dias,
* Ganadaria desde 1976 * Tem sede em
Salvaterra de Magos (Ribatejo) * Toiros
oriundos de Norberto Pedroso, que iniciou
uma ganadaria em 1910, com vacas
portuguesas de Manuel Duarte Oliveira e
Condessa da Junqueira. De Emílio Infante da
Câmara, também adquiriu algumas vacas e
sementais.
THEREZA E HELENA RAMALHO
(Thereza Margarida e Helena Rita Bastos de Moraes
Sarmento Ramalho)
54
*Morada na Quinta da Gatinheira (Salvaterra
de Magos) * Divisa: Laranja e Verde Musgo * A
sua ganadaria é oriunda de seu pai João
Ramalho. Antiguidade já conhecida em 1976,
nos últimos anos deixaram de ter registo,
passando os seus animais a integrar a
ganadaria de seu pai, com o fim de serem
corridos em Espanha.
***************
**************
*****
55
VI
CRIADORES DE CAVALOS EM SALVATERRA
Nota Prévia
As terras de Salvaterra de Magos, junto ao
rio Tejo, férteis em aluvião, onde a erva fresca
era muito convidativa param a criação de
gado cavalar, dando origem ao
aparecimento de algumas Coudelarias.
Nas Estatísticas de Portugal, dos últimos
anos do séc. XIX, constam que a produção
animal, de gado bovino,
cavalar e asno, criada neste
concelho, tinha grande
peso na economia do pais,
quer em quantidade e qualidade. O burro,
56
era aproveitado em grande quantidade para
os cruzamentos com (égua/cavalo), dando
origem ao Macho/Mula, para os trabalhos
mais exigentes da lavoura.
Entre os vários criadores do gado da raça
cavalar, constava a casa agrícola, Cadaval,
de Muge.
PORFIRIO NEVES DA SILVA
Natural de Salvaterra de Magos, foi grande
lavrador com terras no concelho onde
nasceu e, nos concelhos vizinhos. Era
respeitado por todo o Ribatejo (anteriormente
Estremadura), pela dedicação a que se
entregou à criação do gado cavalar. Nos
registos antigos do Ministério do Exército,
verifica-se que foi muito pretendido, pela
qualidade do seu gado, que apresentava na
remonta, todos os anos.
Em 1907, foi Administrador-Interino da
Câmara Municipal da sua terra-natal, o que
57
lhe valeu o seu toponímico à rua que mais
tarde passou a Gen. Humberto Delgado.
JOÃO OLIVEIRA E SOUSA
Oliveira e Sousa, sendo engenheiro,
pertenceu aos quadros do exército, com o
posto de Capitão.
Era abastado lavrador, com residência em
Salvaterra de Magos, contava em 1935, com
propriedade nos concelhos de Salvaterra de
Magos, Coruche, Benavente, Vila Franca e
Azambuja.
Também possuía propriedades no norte do
pais, pois era oriundo da zona
da Guarda.
Na sua actividade agro-
pecuária, dedicava grande
apreço pela criação do gado cavalar, onde
incluía bons exemplares nascidos de uma
éguada da raça lusitana, que pastava por
vezes na Lezíria Grande (Vila Franca de Xira).
58
A sua coudelaria, proveio de António José da
Silva, que em 1893, já cuidava de criar bons
exemplares de cavalos, destinados à
remonta, realizada pelo exercito português.
Com a sua morte, os filhos, continuaram a
casa agrícola (Oliveira e Sousa, Herdeiros),
tendo os netos o cuidado de continuarem a
administram a Casa Agrícola. As instalações
da Coudelaria, são na Quinta do Massapez,
em Salvaterra de Magos
IRMÃOS ROBERTO
João Roberto da Fonseca, em 1939, com 78
anos de idade, pai de Vicente Roberto da
Fonseca; de Roberto da Fonseca (Dr.) e de
João Roberto Ferreira da Fonseca, tendo a
sua casa agrícola, dedicava especial
atenção à criação do gado bravo e do gado
cavalar. Teve exemplares em várias
exposições em Salvaterra. Em 1928 recebeu
um diploma, pela presença de 10 poldros,
59
considerados de grande qualidade, numa
exposição do então Ministério da Guerra.
ANTONIO DA SILVA LAPA
Natural de Salvaterra de Magos, desde
jovem, como agricultor interessou-se pela
criação de gado cavalar. Depressa,
escolheu e veio a manter uma raça de
cavalos que destinava à cavalaria militar e
desportiva.
Para esse tipo de exemplares, usava o
cruzamento do Português “Alter” com
“Zapota”, animal das terras da Andaluzia
(Espanha). Aos 76 anos de idade, ainda era
um credenciado criador de cavalos.
MENEZES & IRMÃO, LDª
Os irmãos José Eugénio de Menezes e
António Eugénio de Menezes, fundaram uma
Sociedade Agrícola. Por falecimento deste
60
último, passou a pertencer à firma, seu filho,
António de Menezes. Foram criadores de
cavalos raça Lusitano, em terras de Salvaterra
e do Pombalinho (Santarém).
JOSE LOPES FERREIRA LINO
Nasceu em Salvaterra de Magos, em 1914,
na década de 60, sendo funcionário da
câmara municipal de Salvaterra de Magos,
fazia uma pequena agricultura e, tinha gosto
pela criação de cavalos e éguas, que
pastavam nas terras de Alcamé (Vila Franca),
apresentando-os depois à venda na Remonta
Anual, que o exército fazia em Salvaterra de
61
Magos. Sendo um grande aficionado da festa
brava, possuía um jogo de cabrestos, que
fazia exibir nas Festas da terra.
******************
**************
62
VII
A DINASTIA ROBERTO
Nota Prévia
Desde menino de escola, ouvia falar dos
Roberto(s). Diziam que foram toureiros. Nesse
tempo, talvez em 1955, passando eu, na rua
Cândido dos Reis (Antiga Rua S. António), dei
comigo envolvido entre uma multidão, que
em grande alegria descerravam uma placa
de homenagem aos irmãos toureiros. Esse
grande número de pessoas, estavam ali com
os representantes da Casa do Ribatejo,
deixando uma lápide na parede, por cima da
porta de um prédio da família, o seu preito de
gratidão, aos homens que um dia honraram
63
Salvaterra e o Ribatejo, com as suas belas
actuações em praças de toiros de Portugal e
Espanha.
O tempo passou…! Nunca mais, os seus
conterrâneos se lembraram deles, nem uma
rua com o seu topónimo. Foram simplesmente
esquecidos. Os autarcas, aqueles que
decidem, nunca tiveram em conta, o seu
valor artístico que levou a todos os cantos, o
nome de Salvaterra, nem a lembrança da sua
benemerência.
A ORIGEM
O nome Roberto referenciado em Salvaterra
de Magos, nos meados do séc. XVIII, segundo
alguns estudos genealógicos, estará ligado
aos falcoeiros, vindos da Holanda, como
mestres daquela arte. Henrique Jacob (1744-
1829), um deles, casou com Ana Josefa de
Vasconcellos, desta vila, e daí o início da
dinastia – Os Jacob (s).
António Roberto da Fonseca, tal como os
seus irmãos Luís Roberto da Fonseca, Tito da
Fonseca e Antão José da Fonseca, nasceram
em Angra do Heroísmo (Açores), vindo ainda
64
crianças para Lisboa, instalando-se depois em
Salvaterra de Magos. Segundo algumas
crónicas da época, um batalhão da última
invasão francesa estava aquartelado no lado
norte do Tejo, num palacete de Valada. Aqui
em Salvaterra de Magos, houve forte
confronto com o exército português, tendo o
povo local muito ajudado nesse combate
militar, fazendo desbaratar os invasores.
Muitos residentes da vila foram foragidos.
António Roberto da Fonseca, recebeu a
protecção dos Conde de Almada, que
tinham á época um palacete na vila. Aos 12
anos de idade, mostrou algumas aptidões
para enfrentar toiros de lide. Seus irmãos, Tito,
Luís e, o Antão, também exprimiam este gosto
e, tourearam alguns anos.
ANTÓNIO ROBERTO DA FONSECA,
Nele foi encontrada muita aficion, foi
bandarilheiro profissional, a sua apresentação
pública, foi na então
pequena povoação
da Glória (Glória do
Ribatejo), depois de
receber lições de:
Manuel Faria, António
Cordeiro e Vicente
Tinoco, afamados
lidadores da época.
Toureou na antiga praça de toiros existente
65
no Salitre (Lisboa), com seus irmãos; Antão e
Luís Roberto, que faleceu em 1862.
* Retirou-se da profissão de picar toiros, em
1859, bastante velho e arruinado de saúde.
Veio a falecer em Salvaterra de Magos, a 21
de Março de 1882. Os seus três filhos; Vicente
Roberto, Roberto Jacob da Fonseca e João
Roberto, também enveredaram pela arte do
toureio.
Algumas crónicas da época, da
especialidade taurina, conservam textos, das
actuações destes “monstros” da tauromaquia
portuguesa, que foram Vicente e Roberto da
Fonseca. A tourear, ganharam fama e
proveito, mas foram humildes na vida cívica.
Depois de retirados das arenas,
recolheram-se à vida da agricultura, na sua
terra natal, Salvaterra de Magos.
A agricultura, e a criação de gado bravo,
foram caminhos bem aproveitados, que
deixaram a seus descendentes. Em relação
ao filho, João Roberto da Fonseca, atingiu um
plano pouco lisonjeiro nesta arte dos toiros.
VICENTE ROBERTO
Nasceu na vila de Salvaterra de Magos,
em 1836. Foram seus pais, António Roberto da
Fonseca e D. Maria Gertrudes da Fonseca.
Seu pai, foi também um toureiro distinto.
66
Vicente Roberto, chegou a aprender o ofício
de alfaiate; manifestando, porém decidida
vocação para o toureio, principiou a aplicar-
se à arte tauromáquica, toureando em
Almada com 13 anos de idade.
O Conde de Vimioso, que assistia à corrida ao ver a
maneira como Vicente Roberto acabava de
evidenciar a sua aptidão para
as lides taurinas, depois da
corrida desceu à arena,
abraçou-o, incentivando-o ao
estudo, e ofereceu-lhe um
trajo de “luces” de
bandarilheiro. Fato de azul e
oiro, que seria o primeiro, que
vestiu de uma brilhante
carreira.
Quando aprendia o ofício de alfaiate, em Vila
Franca de Xira, fez parte da filarmónica da
terra, no intuito de aproveitar o denominado
“BOI PARA A MUSICA”, o que se costumava
tocar nas corridas no Ribatejo.
Aos 18 anos, começou a apresentar-se como
toureiro de profissão, juntamente com
seu pai e seu irmão João Roberto, que era
67
igualmente um excelente executante, entre
outros artistas.
Em 1858, estreou-se na praça de toiros do
Campo de Sant`Ana, e estão bem vivas na
memória de todos as ovações que ali
alcançou. A sua reputação firmou-se cada
vez mais, e em 1861, entrou para o quadro de
artistas contratados pelo empresário
Domingos Alegria. Os críticos da época, não
se fartavam de o elogiar, sempre que
actuava, os jornais chegavam a fazer
segunda edição, só para venda em Lisboa.
O seu primeiro benefício realizou-se em
1862, apresentando-se nele também seu
irmão, Roberto da Fonseca, que sendo
convidado a tomar parte se recusara, dizia:
não ter grande habilidade, grande era a sua
grande modéstia. A insistência foi muita,
actuou e brilhou na arena de tal sorte que
depois veio a tornar-se dos mais notáveis
mestres do toureio nacional. É impossível
dar nota de todos os triunfos, ovações e
68
festas artísticas de Vicente Roberto; o público
correia sempre pressuroso a saudá-lo
freneticamente e os bilhetes atingiam um
preço elevadíssimo, com praças sempre
cheias. Toureou em todas as praças de
Portugal, e pela primeira vez, em 1865, na de
Badajoz, correndo touros desembolados e
com sorte inovadoras, como a “Cadeira”,
alcançando um legítimo sucesso. Em 1892, foi
convidado pela nova sociedade “Empresa
Tauromáquica Lisbonense”, para actuar com
seu irmão Roberto da Fonseca, no dia 18 de
Agosto, na corrida à portuguesa, na
inauguração da praça de touros do Campo
Pequeno, em Lisboa. Na Figueira da Foz,
toureou a 10 de Setembro de 1888, numa
sorte de cadeira, ficou gravemente ferido e
teve de recorrer a uma enfermaria da
misericórdia local. Debatendo-se entre a vida
simpatia e dedicação, tanto do digno
provedor e a morte, recebeu inúmeras
provas de simpatia e dedicação, tanto do
69
digno provedor comendador Afonso Ernesto
de Barros, que havia pouco tempo tinha sido
agraciado com o titulo de visconde da
Marinha Grande, como de Frederico
Nogueira de Carvalho, Fernando de Mello,
José Jardim, que pertenciam ao pessoal
médico e enfermagem do hospital.
Apenas se restabeleceu do lamentável
desastre, contemplou aquela instituição, com
um importante donativo, e no seu testamento
deixou-lhe mais um legado. Com tal colhida,
a sua saúde agravou-se, ficou débil cada vez
mais, e a medicina usando todos os recursos
declarou-se impotente, e após um doloroso e
prolongado martírio, faleceu às 11 horas da
manhã, do dia 1de Junho de 1896, rodeado
de toda a família que durante tanto tempo
disputou à morte aquela preciosa existência.
Pessoa dedicada ao bem e ao útil, e que
mais uma vez deu eloquentes provas de
grande amizade e solidariedade que havia
entre os irmãos Roberto. Deixou no seu
70
sobrinho, o nosso prezadíssimo amigo e
distinto bandarilheiro, João Roberto, um
digno representante dessa raça de artistas(1),
************ **************
(1) - Foi testamenteiro do tio; Roberto Jacob da Fonseca e continuou com a casa agrícola, deixando depois a seus filhos,
que passaram a usar o ferro Irmãos Roberto
*********** ************
PRIMEIRO ANO APÓS A SUA MORTE
O jornal semanário “ PRETO E BRANCO”
publicado em 1867, faz o elogio fúnebre a
Vicente Roberto, quando da passagem
do primeiro aniversário após a sua morte.
“Vimos hoje, com a alma alanceada por uma
profunda saudade, registar o primeiro aniversário
do falecimento dessa simpática individualidade
que se chamou Vicente, prestando a devida
homenagem a esse incomparável amigo que soube
conquistar um nome imorredoiro no toureiro
português, onde é contado entre os seus grandes
mestres, nobilitar-se por actos de filantropia em
que reflectiu a bondade da sua alma.
Na mais grato para nós do que evocar esse vulto
saudoso, que sempre nos distinguiu com uma
imerecida simpatia; o que sentimos é não
podermos dizer com profundos traços de verdade
o que Vicente Roberto valeu como homem e como
71
artista; mas a palidez da nossa linguagem será
animada pela afectuosa lembrança que das
brilhantes qualidades deste ilustre morto, todos
conservam arreigadas na alma. Graças à extrema
lhaneza e afabilidade do seu trato, à honradez
imaculada do seu carácter e ao seu coração
sempre aberto às emoções do bem, Vicente
Roberto viu criar-se e desenvolver-se em volta de
si uma enorme simpatia e consideração, o que
sem dúvida devia contribuir para suavizar a vida,
límpida como o cristal, mas torturada pela doença
que se agravara enormemente nos últimos anos.
Amigo delicado, galgava por cima das maiores
dificuldades e sacrifícios para servir os seus
amigos, fazendo um perfeito contraste com a
sociedade actual, tão degenerada; filantropo
benemérito, via na felicidade dos outros a sua
própria felicidade; era assim que despendia uma
grande parte da sua fortuna, adquirida já nos
trabalhos da arena, já na agricultura e criação de
gado bravo, em proteger hospitais, montepios e
outras casas de beneficência, socorria muita
pobreza ignorada, enxugando muitas lágrimas,
fazendo renascer a esperança no peito dos
desgraçados. Como bandarilheiro, Vicente
Roberto, ocupou desde muito novo um dos
primeiros lugares entre os mais ilustres artistas
tauromáquicos de Portugal.
Ágil, audacioso e infatigável, a sua vida de
toureiro foi uma série ininterrupta de calorosos
triunfos; só seu irmão Roberto Jacob da Fonseca,
o podia igualar no trabalho de bandarilhas, nos
72
recortes à cabeça do toiro sem o auxílio da capa e
em outras sortes que executava com graça e arte
inexcedíveis e que faziam bramir de entusiasmo
os aficionados. A sua fama de lidador exímio
estendeu-se até à própria Espanha, chegando a
tourear em Badajoz, com seu irmão Roberto da
Fonseca, touros desembolado. Ali, as espanholas
que se deliciavam com essas lutas titânicas entre o
homem e o animal, e que aplaudem com frenesim
o pouco edificante espectáculo do toiro que
ajoelha agonizante aos pés do matador, as
espanholas, delirantes de entusiasmo ao ver o
grande artista endoidecer, subjugar e dominar o
toiro com voltas e mais voltas garbosas da sua
capa vermelha, prorromperem na mais veemente
manifestação, cobrindo o distintíssimo artista com
uma nuvem de flores e palmas. Dessas ovações
delirantes que lhe embriagaram a alma,
conservava Vicente Roberto as mais saudosas
recordações. E nos últimos anos de sua vida
como não lhe seria doloroso ver-se impossibilitado
para o toureio que tanto amava por causa da
cruciante doença que dia a dia lhe vinha minando
a existência! De vez em quando, a pedido dos
amigos, lá descia à arena para colocar um
magistral par de ferros em que se revelava sempre
o primoroso e distinto artista de outros tempos.
Nessas ocasiões que bem raras eram, divisava-
se-lhe na fisionomia, cheia de bondade, uma
passageira alegria, e Vicente Roberto saia sempre
da praça coberto das mais ruidosas ovações de
apreço e simpatia. O nosso semanário, não
73
comporta longas biografias, razão porque nos
limitamos a condensar uns traços biográficos que
resumem em síntese luminosa, o alto valor desse
homem que a par dum grande artista foi um
honrado e infatigável trabalhador, chegando a
adquirir uma opulenta fortuna, e um coração de
oiro que espalhou tantos benefícios pelos
pobrezinhos da sua terra natal, e por diversos
estabelecimentos de caridade do nosso país; uns e
outros ainda pranteiam a perda irreparável que
sofreram e delas sobram as bênçãos e flores, o
mármore frio do seu túmulo. Hoje, dia do
primeiro aniversário da sua morte, depomos sobre
o túmulo do nosso querido amigo um “BUQUET”
de sinceras saudades, ate porque recordamos o
povo da sua terra, desfilando reverente e
comovido perante o féretro e espargindo mil
bênções sobre aquele que foi um dos seus filhos
mais dilectos e um dos seus mais devotados
protectores. Assim, Vicente Roberto, que durante
a vida se viu rodeado dos maiores afectos e
admirações, depois de morto teve todas as
honrarias a que tinha direito, sendo conduzido à
sua última morada por entre alas compactas dos
amigos. Vicente Roberto, evidenciando mais uma
vez os seus sentimentos piedosos, deixou em
testamento vários legados às Misericórdias; de
Salvaterra de Magos, Figueira da Foz, Coruche,
Santarém e ao Montepio de Salvaterra. O grande
artista reviverá na memória da família
amantíssima, no coração da qual deixou um
imenso vácuo, e na lembrança dos que tiveram a
74
felicidade de privar com ele, e conhecer as
qualidades do seu belíssimo carácter.
(Coimbra, 1 de Junho de 1897 – António Júlio
(Vale de Sousa)
ROBERTO JACOB DA FONSECA
“ Um amigo aficionado de Salvaterra, pede-
me duas linhas sobre o ex-bandarilheiro, que
foi Roberto Jacob da Fonseca.
Artista de um valor tão extraordinário, que é
das tarefas mais difíceis falar dessa glória da
tauromachia portugueza, que foi a maior
figura do toureio antigo, e a nossa maior
relíquia, que hoje possuímos, vivendo na sua
linda Salvaterra, de tão
grandes e históricas
tradições taurinas.
Inaugura-se hoje ali, a sua
nova praça de touros, que a aficion do
Ribatejo, aguardava com impaciência, e a
ela vae assistir, dirigindo a sua primeira corrida
75
de touros o bom velhinho, Roberto da
Fonseca, que foi um toureiro tão
extraordinário, que a sua grande fama não só
foi conhecida em Portugal, chegando até às
praças de Hespanha, onde tanto se exige dos
seus artistas, e ali Roberto da Fonseca, fez a
mais brilhante das figuras, honrando a arte
portugueza, de lidar rezes bravas. Recorda-
me ainda com saudade, a tarde que o vi
pela primeira vez, em uma festa artística, dos
Irmãos Robertos, na extinta praça do Campo
de Sant`Ana, onde o querido bandarilheiro,
tantas tardes de glória teve em companhia
do seu irmão Vicente, outro grande artista já
falecido, e do seu sobrinho o nosso amigo
João Roberto da Fonseca, actualmente
retirado das lides taurinas, mas ainda um
verdadeiro aficionado, e um dos mais
reputados ganaderos portuguezes. Roberto
da Fonseca, que ainda hoje não teve quem o
egualasse, reuniu à sua esbelta figura,
grandes conhecimentos, grande hagilidade,
76
de que era possuidor, tornando-se o primeiro
bandarilheiro portuguez, saindo das sortes
com elegância e frescura, pisando sempre os
verdadeiros terrenos, e assim cravava no
morilho dos touros excelentes pares de
bandarilhas, que os velhos aficionados ainda
hoje recordam com grande saudade.
Com a moleta, foi dos artistas portuguezes o
primeiro, que se dedicou a este toureio do
vizinho reino, para o que tinha muita
habilidade, tendo tardes em que estava
primoroso. Ainda inaugurou a praça do
Campo Pequeno a 18 de Agosto de 1892, em
companhia dos seus colegas; ALFREDO
TINOCO, MINUTO, FERNANDO OLIVEIRA, VICENTE
ROBERTO, JOSÉ PEIXINHO, JOÃO CALABAÇA e RIO
SANCHO, todos eles já falecidos. Dos onze
artistas, que há 28 anos inauguraram a nova
praça de Lisboa, apenas existem ROBERTO
JACOB DA FONSECA, JOÃO ROBERTO, RAFAEL
PEIXINHO e PESCADEIRO, este ausente em
Hespanha, e hoje retirado do toureio.
77
Depois da inauguração do Campo
Pequeno, em poucas corrido Roberto da
Fonseca tomou parte, despediu-se ao público
aficionado, na festa artística que seu
sobrinho, João Roberto ali realizou, estando
magistral.
Dedicou-se depois à sua lavoura em
Salvaterra, encontrando-se ainda hoje à
frente da sua casa agrícola, o que foi um dos
melhores ornamentos das touradas em
Portugal. Um grupo de amigos de Coruche,
pediu-lhe a sua presença na praça da terra e,
em 18 de Agosto de 1899, toureou pela última
vez. Já muito velhinho, apareceu em 17 de
Novembro de 1921, a presidir a corrida
organizada pela Associação dos Toureiros
Portugueses, no campo pequeno, amparado
por José Bento Araújo, desceu à arena e aí
recebeu do público que esgotava a praça, a
maior ovação da sua vida, pois a aficion não
o havia esquecido.
78
Hoje, dia 1 de Agosto de 1920, vae
inaugurar como director da corrida, a nova
praça, onde estará presente o distinto e
apreciado cavaleiro tauromáquico JOSE
CASIMIRO, outra glória da nova geração, e
estamos certos que a sua primeira sorte, será
oferecida ao respeitável toureiro, que com a
sua presença, ali se vão iniciar de novo as
corridas de touros em Salvaterra.”
**********
79
O SEU TESTAMENTO
Roberto Jacob da Fonseca, que na sua
juventude foi bandarilheiro, tal como seu irmão
Vicente, granjeou fama e fortuna, nas arenas de
Portugal e Espanha. No seu último testamento,
deixou expresso toda a sua vontade, várias vezes
modificada, antes de falecer. Este último desejo,
foi fechado no dia 24 Agosto de 1920, tendo o
seu falecimento ocorrido no dia 8 de Maio de
1923, com 79 anos de idade.
. Uma certidão foi passada, por António
Emiliano Garrido da Silva, há época secretário
da administração do concelho de Salvaterra de
Magos, a pedido do seu testamenteiro, o
sobrinho João Roberto da Fonseca.
“Eu, Roberto Jacob da Fonseca, solteiro, de
setenta e nove anos de edade, natural da
80
freguesia da vila e concelho de Salvaterra de
Magos, onde resido, filho legitimo de António
Roberto da Fonseca e de Maria Gertrudes
Roberto, já falecidos, faço o meu testamento
pela forma seguinte:
Seguinte: - Em primeiro lugar declaro que de
mulher ser livre, com quem podia casar: houve
um filho que é Roberto da Fonseca Júnior,
casado, natural e morador em Salvaterra de
Magos e a quem pelo presente testamento eu
reconheço e perfilho, para que ele tenha e gose
todos os direitos, que a lei concede aos filhos
perfilhados. – Pelas forças da metade livre aliás,
da metade, cuja livre desposição a lei me
permite, deixo:
- A Dona Vitalina Pasehoa (da Fonseca),
solteira, de Salvaterra de Magos, o seu uso
fructo, de todas as minhas terras, para que o
gose enquanto viva for, ficando a propriedade
das mesmas terras a seus filhos, se, casando, e do
matrimónio os vier a ter; e os não tendo, ficará
do, aliás, ficará por sua morte a propriedade
81
dita a meu sobrinho João Roberto da Fonseca;
no caso de este ser falecido, ficará tal
propriedade a seus filhos, dele meu sobrinho. Ao
dicto meu sobrinho João Roberto da Fonseca
deixo em plena propriedade todos os meus
celeiros, abegoarias e palheiros, incluindo o
terreno das cavalariças, que está por vedar, bem
como a chamada casa da capela e da machina.
Com o ónus de ser meu primeiro testamenteiro.
Como especial demoustração da minha amizade,
deixou-lhe todos os meus brindes e objectos
artísticos, que passarão para a sua posse nas
trez victrines
que estão encerrados com os que pertenceram a
meu irmão Vicente Roberto, e a meu sobrinho já
82
pertencem, segundo disposição testamentaria do
dito meu irmão. Se á data da minha morte meu
sobrinho fôr falecido ficarão estes legados a seus
filhos. – A cada um dos filhos de meu sobrinho
João Roberto da Fonseca, deixo a minha
corrente e relógio de ouro.
– Aos filhos de Roberto Anica, deixo duzentos
escudos. – A Vicente Anica deixo cento e
cincoenta escudos. – Deixo mais: - cento e
cincoenta escudos a cada um dos seguintes:
António Anica- A João Carvalho Anica duzentos
e cincoenta escudos, aos filhos do falecido
Doutor Gregorio Fernandes, um conto de reis
para todos, e á Excelentíssima Senhora Dona
Sofia Rodrigues Fernandes trezentos escudos,
pedindo desculpa a todos da singela lembrança,
que lhes deixo, signal apenas da muito
veneração em que tenho a memoria do Doutor
Gregorio Fernandes; a cada um dos meus
afilhados: Dona Amélia Garcia de Carvalho,
Vicente Roberto Garcia de Carvalho, e Roberto
Isaac da Nazareth, cento e cincoenta escudos; -
83
A Vitalina Isaac, duzentos escudos; ao meu
amigo Joaquim Paulino Duarte, ou caso seja
falecido, a sua esposa, duzentos escudos, ao meu
afilhado Armando Santos ficará pertencendo o
meu anel de brilhantes, que está em uma
caixinha de metal dentro da montra. A Manuel
Aleixo de Carvalho, se á data do meu
falecimento estiver ao serviço da Sociedade
Roberto & Roberto, cento e cincoenta escudos; -
aos meus velhos creados Manoel Bernardino,
Francisco Feijão, Miguel Galricho, Roberto Gil
e Francisco Morcego, se á data do meu
falecimento estiverem ao serviço da Sociedade
Roberto & Roberto, cem escudos a cada um; se
alguns deles tiver falecido no dito serviço,
revertará a importância do seu legado para seus
legítimos herdeiros; - A cada creado que na
minha casa, ou na sociedade Roberto &
Roberto, tiver mais de cinco anos de serviço,
cincoenta escudos; - ao abegão Lino da Silva
duzentos escudos, se estiver de Roberto &
Roberto, e, caso tenha falecido nesse serviço, fica
84
a mesma importância cabendo a seus filhos; aos
meus servidores Manoel Ribeiro e Joaquim
Almeida, se ainda o forem á data da minha
morte, cem escudos a cada; a Justa Pereira
Lérias, duzentos escudos, e a sua filha mais
velha cincoenta escudos, a Maria das Dores
Carcereira, cem escudos; a Urbina Conceição e
Rosa Pirralha, se estiverem ao meu serviço, cem
escudos a cada uma; deixo ainda ao Hospital da
Santa casa da Misericórdia de Salvaterra de
Magos, mil e quinhentos escudos; ao Hospital da
Santa Casa da Misericórdia de Coruche, mil
escudos, ao Hospital de Jesus Christo da Santa
casa da Misericórdia de Santarém, Santarém,
quinhentos escudos, ao Hospital da Misericórdia
da Figueira da Foz quinhentos escudos; Quero
85
que aos pobres de Salvaterra sejam distribuídos
cento e cincoenta escudos em esmolas; e que por
alma de meus paes e irmãos, se apliquem trinta
missas, e por minha alma vinte, todas de esmola
não inferior a um escudo; Se á data da morte
existir Instituição que destribua habitualmente
sopa aos pobres de Salvaterra, quero lhe sejam
entregues duzentos escudos. Se por enfelecidade
dos que precisam, tal instituição não existir, será
esta quantia devidida por quinze jornaes, sendo
nove de Lisboa, á escolha do meu testamenteiro,
e seis do Porto á escolha do meu amigo velho
amigo Júlio Gama, Redactor das Gasetas das
Aldeias, a esses jornaes espero dever a fineza da
distribuição pelos seus pobres, das quantias que
lhes forem entregues, deixando eu aqui á
Imprensa do meu paiz o meu agradecimento,
pelo carinho, com que sempre se referiu á minha
família, apreciando-nos como artistas.
As contribuições a pagar pelo usofructo das
propriedades que fica a Dona Vitalina Paschoa
da Fonseca, e a devida pelos legados em dinheiro
86
a particulares, ficam a cargo da minha
testamentaria. Todos os legados em dinheiro
serão pagos em moeda corrente no paiz e
cumpridos dentro do ano posterior á minha
morte. Quero que por sua morte sejam
depositados no meu jazigo a já referida Dona
Vitalina Paschoa da Fonseca e meu sobrinho
João Roberto da Fonseca, sua mulher e filhos, a
não ser que, por sua vontade ou de seus
herdeiros hajam de o ser em outro local. Nomeio
meus testamenteiros: em primeiro lugar meu
sobrinho João Roberto da Fonseca, e em
segundo lugar o meu amigo Joaquim Ferreira
Pedroza, a quem peço aceite este encargo e a
lembrança de trezentos escudos. Quero que dos
benefícios deste testamento seja excluído quem,
sob qualquer protesto, ou com qualquer intuito
que não seja o de fazer cumprir extremamente
as suas, suas cláusulas. Tomar a iniciativa de
sobre ele levantar, aliás levantar letigio ou
pleito. E, no caso por mim não esperado, que tal
se dê, se considedará como não excripto tudo o
87
que a esse referi. Quero que o meu funeral,
modesto, mas decente seja ordenado pelo meu
testamenteiro. E assim tenho feito o meu
testamento, que quero revogue qualquer outro
que em data anterior, tenha feito. E declaro que
o mandei escrever, e que depois de o ter bem
lido e conferido e achado em tudo, conforme
com a minha última vontade, rubriquei as folhas
e assigno no final, conscientemente e livre de
qualquer coacção ou imposição. Em tempo
declaro que os legados a Urbina Conceição e
Rosa Piralho serão de duzentos escudos, e não
de cem, como por lapso se escreveu. E tendo
novamente lido todo o meu testamento, achei em
tudo conforme com a minha ultima vontade e
conscientemente e livremente o vou assignar
depois de ter rubricado as folhas, tendo tudo
sido encripto a meu rogo. Salvaterra de Magos,
vinte e quatro de agosto de mil novecentos e
vinte. ainda em tempo uma declaração: a meu
sobrinho João Roberto da Fonseca, e na sua
falta a seus filhos, deixo como atrás digo todos os
88
objectos artísticos e brindes, com as vitrines em
que estão guardados, tanto os meus, como os que
foram de meu irmão Vicente, quer sobre este
haja ou não disposição testamentária em favor
do dito meu sobrinho; porem quero que,
comquanto se faça arrolamento e avaliação
desses objectos em qualquer tempo, para efeitos
convenientes, nunca a sua entrega possa ser
exigida sem que passe um ano sobre a minha
morte. Uma vez mais li todo o meu testamento, e
parecendo-me nele deixar bem expresso o meu
pensamento o declaro a expressão da minha
última vontade, pelo que muito livre e
espontaneamente o vou assignar, depois de
rubricar as folhas. Salvaterra de Magos, vinte e
quatro de Agosto de mil novecentos e vinte aliás
Salvaterra de Magos, vinte e quatro de Agosto
de mil novecentos e vinte (assignado) Roberto
Jacob da Fonseca” - Saibam quantos virem este
auto de aprovação de testamento cerrado, que
aos vinte e quatro dias do mez de agosto do ano
de mil novecentos e vinte, nesta vila de
89
Salvaterra de Magos e escriptório da Firma
Comercial Roberto & Roberto, na rua
denominada do almirante candido dos reis,
onde vim eu Notário Francisco César Gonçalves.
O chamado do testador; aqui estava
pessoalmente presente Roberto Jacob da
Fonseca, solteiro, proprietário, de maior edade;
Sui guris, anarador nesta mesma vila de
Salvaterra, e as trez testemunhas edoneas,
adeante nomeadas e no fim assignadas; e tanto
eu notario como as ditas testemunhas
conhecemos aquele testador Roberto Jacob da
Fonseca pelo próprio e nos certificamos de que
ele está em seu perfeito juízo e de livre de toda e
qualquer coação. E por ele testador Roberto
Jacob da Fonseca me foi apresentado neste acto,
em presença das mesmas testemunhas, este
testamento e disposição, declarando como ela é a
sua ultima vontade, o qual testamento, que eu vi,
sem o ler está escripto por pessoa diversa do
testador, está rubricado e assignado pelo mesmo
testador, contem cinco laudas e mais trez linhas
90
de outra lauda e não tem borrão algum,
entrelinhas, emenda, ou nota marginal. E por
verdade lavrei este auto, que principiei em logo
em seguida á assignatura do testamento e o
continuei sem interrupção, sendo testemunhas a
tudo presentes desde o principio até ao fim.
Carlos de Novaes Barreiros, Chefe da Secretaria
da Câmara Municipal deste concelho – Manoel
da Silva Robeiro, Chefe da Repartição de
Finanças deste mesmo concelho – e José de
Vasconcelos, Thesoureiro da Fazenda Publica
deste concelho. Todos trez casados, de maior
edade, cidadãos portuguezes, hábeis para
testemunhas, residentes nesta vila de Salvaterra
de Magos, os quaes todos assignam, com os seus
nomes a dita primeira testemunha Carlos de
Novaes Barreiros, o qual efectivamente o leu
neste acto, em voz alta pelo testador em lugar
deste e vão agora todos assignar, como fica dito.
E eu referido Notário Francisco César
Gonçalves o escrevi e assigno em raso depois de
egualmente lida em voz alta esta declaração por
91
mim Notário e pela dita primeira testemunha
para esse fim indicado pelo testador. Declaro
que li este auto de aprovação do meu
testamenteiro e o reconheci conforme a minha
vontade – (ass) Roberto Jacob da Fonseca.
(assignados sobre duas estampilhas fiscaes no
valor total de um escudo e cincoenta centavos,
e devidamente inutilizadas) Roberto Jacob da
Fonseca - Carda Silva Ribeiro – José de
Vasconcelos – O Notário Francisco César
Gonçalves. Emolumentos seis escudos e
cincoenta centavos. Tem mais coladas duas
estampilhas de contribuição industrial no valor
total de oitenta e dois centavos e uma estampilha
fiscal de um centavo e meio todas devidamente
inutilisadas e assignadas pelo Notário Francisco
César Gonçalves . (Na capa do testamento)
Testamento de Roberto Jacob da Fonseca,
aprovado nesta vila de Salvaterra de Magos aos
vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e
vinte perante mim Notário (ass) Francisco César
Gonçalves. E nada mais constava do dito
92
testamento cerrado que bem e fielmente para
aqui fiz copiar em mão e poder do apresentante
a quem o entreguei do que dou fé. Foi lavrado
nesta Administração o respectivo auto de
abertura apresentação e publicação deste
mesmo testamento, como consta do livro
numero dois de autos de abertura ou publicação
de testamentos cerrados de folhas um a folhas
dois sob numero um. Administração do
Concelho de Salvaterra de Magos, oito de Maio
de mil novecentos e vinte e trez. António
Emiliano Garrido da Silva. E por ser verdade fiz
passar a presente cópia de certidão que assigno e
vae autenticada com o selo branco desta
secretaria”
****************
************
93
JOÃO ROBERTO DA
FONSECA
Nasceu em Salvaterra de Magos,
no dia 19 de Março de 1860,
sendo neto, de António Roberto
da Fonseca, foi-lhe dado o nome
do pai. Por ter ficado órfão muito cedo, foram seus
tios; Vicente e Roberto, que o protegeram e foram
seus mestres na vida artística. Toureou pela primeira
vez em Alcácer do Sal, a pedido do avô de João
Núncio. A partir daí os convites não mais pararam.
Toureou depois em Vila Franca de Xira, Santarém e
Coruche. Em 1878, apresentou-se no Campo
Sant`Ana, num espectáculo taurino, em benefício de
uma creche. Um ano depois, esteve na Barquinha,
alternou com seus tios e Marcel Botas, os toiros eram
do dr. Máximo da Silva Falcão. Esteve brilhante a
tourear, nas sortes de saída do curro e junto às
trincheiras. Os cartazes de algumas praças de
Portugal anunciavam-no em destaque e, em 1982,
actuou em Lisboa, com João Costa, afamado
94
bandarilheiro. João Roberto, nesta corrida esteve de
tal sorte que deu um brilharete a bandarilhar.
Com a doença de seu tio Vicente, começou a ser mais
solicitado em Lisboa, fazendo um contrato de seis
épocas. Demolida a praça de Sant`Ana, João Roberto
passou a ser visto, na arena do Campo Pequeno.
Pelos êxitos alcançados, a sua presença era muito
solicitada em vários pontos do país, pois deliciava os
espectadores no capear na sorte de “cadeira”, e na
sorte de bandarilhar. Em Portalegre, no ano de 1895,
fez a sua despedida das arenas.. Um tempo depois,
ainda pisou o recinto da praça da sua terra -
Salvaterra de Magos, num festival de beneficência.
Com a morte de João Roberto, terminou a mais
notável geração de toureiros, da mesma família, em
Portugal.
Foram seus filhos: Vicente Roberto da Fonseca,
nasceu em 2 de Dezembro de 1891, Dr. Roberto
Ferreira da Fonseca e João Roberto Fonseca
95
96
VIII
BANDARILHEIROS
Nota Prévia
Muitos nomes dos salvatorianos ilustres que
pelo seu destemido valor, actuaram em
praças do país, quer como cavaleiros, quer
como bandarilheiros, não tiveram grande
espaço nas crónicas taurinas, dos jornais da
época. Da nobre família Costa Freire, sabe-se
Joaquim Pedro da Costa Freire, foi um grande
equitador, com fama em todo o Ribatejo
toureiro. Outros dos seus membros, ainda no
séc. XIX, foram amadores tauromáquicos,
97
disso atesta as recordações de ramalhetes de
flores, bem guardados no palacete da
família.
ROGÉRIO AMARO
Rogério Amaro, nasceu em Salvaterra de
Magos, em 1923, conseguiu a alternativa de
bandarilheiro.
Durante muitos anos foi peão de brega, dos
cavaleiros; Simão da Veiga Júnior e João
Branco Núncio e, dos matadores de toiros;
Manuel dos Santos e Diamantino Viseu, entres
outros. Terminou a sua longa carreira ligada
aos toiros, como director de corridas.
JOAQUIM DA CONCEIÇÃO
Em 10 de Maio de
1953, numa corrida
realizada, em
Salvaterra de Magos,
sua terra natal, fez
prova de alternativa
de Aspirante a Bandarilheiro. Na comissão de
98
apreciação esteve presente o matador de
toiros Diamantino Viseu.
FRANCISCO DA SILVA FAZ-CORDAS
“El-Palhota”, nasceu em Salvaterra de
Magos, foi viver para Vila Franca de Xira,
onde esperava encontrar, espaço para a sua
aficion, pois os toiros eram a sua paixão.
Entrou no mundo da tauromaquia, como
Bandarilheiro. A sorte não
lhe sorriu, para sobreviver,
com um pouco de
habilidade, lá foi vivendo,
fazendo os seus pequenos
trabalhos artísticos, em ferro e arame, com
motivos taurinos.
ANTÓNIO CADÓRIO
Nasceu em 27 de Dezembro de 1921, ainda
jovem, na aprendizagem da arte de
sapateiro, ficou a ser conhecido pelo
“Mestiço” . Foi aprendiz do mestre daquela
99
arte, João Ferreira, conhecido por João
Coxinho, por ter uma perna amputada.
Como as muitas tertúlias que existiam dos
52 sapateiros existentes na vila de Salvaterra
de Magos, a do mestre João Coxinho, torcia
pelo matador de toiros; Diamantino Viseu.
Cadório, grande aficionado, sempre viveu
para a tauromaquia, queria ser bandarilheiro.
Desejando ter lugar e brilhar nas arenas,
sonhando abalou até Vila Franca de Xira.
Ali, viveu toda a sua vida com a profissão
de sapateiro. Dos seus sonhos, mais não fez
que ensinar a arte de tourear, numa escola
que montou. De lá saíram toureiros de fama,
como José Júlio e José Falcão, pois queria
que eles brilhassem mais nas arenas, que os
seus conterrâneos; Irmãos Vicente e Roberto
da Fonseca.
Já entrado na idade, António Cadório,
regressou à sua Salvaterra. Comigo falou
algumas vezes das suas frustrações e, até da
maneira como era ignorado pelas gentes da
100
sua geração, pois dos novos já o esperava. Ia
fazendo os seus “biscates” de sapateiro.
Viajava muitas vezes na carreira, pois ia
levar/buscar calçado, aos seus antigos
fregueses (Vila Franca, Alhandra e arredores).
Era na estação das carreiras, que me
falava da bela arte de tourear a pé, como
que tentando convencer-me: “há muitos
anos que não se toureia com sortes de
“gaiola” e de “navalha”, como ouvia dizer na
nossa terra, quando era miúdo, que aqueles
brilharam e tiveram glória, fama e proveito.
”António Cadório, faleceu no dia 20 de
Outubro de 1979. Um dia a sua prima
Conceição, que lhe dera albergue, deu-me o
seu BI, para aproveitar a fotografia, afim de
ilustrar um artigo que mais tarde publiquei no
já extinto jornal Vale do Tejo. Maurício do
Vale, tendo por Cadório, grande respeito e
afeição, escreveu no jornal “Vida
Ribatejana”, um artigo que aqui registamos.
101
ANTÓNIO CADÓRIO,
MUITO COLHIDO PELA VIDA,
MORREU NOS CORNOS DA DOENÇA!
“Estou arrumado”, dizia-me há tempos no Campo
Pequeno, quando à hora do sorteio por ali
apareceu, conforme combinara com Mário Coelho.
António Cadório, toda uma face abalada, era a
imagem da amargura pelo que o destino lhe
guardara. O bilhete que o toureiro lhe ofereceu,
apertou-o ele, Cadório com a força de quem se
agarra a algo querido pela última vez. E quase o foi!...
Morreu António Cadório! Morreu um Ribatejano!
Morreu um coração aficionado! Morreu um simples-
grande Homem dos Toiros!!!
Um Homem do Ribatejo!
Desde o sonho que teve em ser toureiro ao não consegui-lo, a
vida pregou-lhe várias colhidas. A incompreensão dos homens
condena muitos Homens!...Mas essa condenação é uma medalha
com outra face – a da nobreza de carácter e sentimento que,
tarde ou cedo (e, quase sempre, mais tarde…), lhes é
102
reconhecida e devidamente cantada! Muitos foram os toureiros
que passaram pelas suas mãos, pelos seus olhos! Uns lograram
voar para o êxito (José Falcão, Vítor Mendes, Palhota, Boleiro e
outros); uns conseguiram sair da penumbra, mas não puderam ir
além: outros, nem uma coisa nem outra. Com uma vida repartida
por Vila Franca de Xira, Alhandra e Salvaterra de Magos, António
Cadório nunca soube fechar as portas para quem quer que
fosse! Moços pobres, sem “padrinhos”, batiam-lhe à porta, e ele
aí estava com as suas ganas e o seu saber.
Uma vida que valia a pena historiar e que, só por si, seria um
romance, um drama. Vivendo pobremente, arranjava sempre
aquele tempo e aquele mínimo de cifrões para andar com os seus
“maletillas”, de tenta em tenta, daqui para ali.
103
A “Palha Blanco” viu-o muitas vezes encostado à trincheira a
ver seus pupilos treinar. E pedia aos toureiros que
aconselhassem os seus rapazes, dizendo a estes que ouvissem
aqueles. Tinha bom sentido toureiro, pelo que também opinava
quando observava treinos de “maestro”, como acontecia, às
vezes, com Mário Coelho.
Este, aliás confessou sensibilizado que era de Cadório a
primeira muleta com que citou um bezerro (numa ferra, já lá vai
um bom par de anos!), bem como o escutava quando trocavam
impressões sobre toureio. Morreu António Cadório!
Muito colhido pela vida, morreu nos cornos da doença! Morreu
um dos poucos poetas do toureio! Sonhador que era diante dos
seus “maletillas”, sonhando neles os êxitos que em si não
viveram, António Cadório merece o respeito de todos nós, da
Festa! Porque viveu, sonhando! Porque amou a Festa, sonhando!
Porque, talvez morresse nos cornos da doença, sonhando que um
toiro o matara na mais imponente Monumental ou… na sua linda
“Palha Blanco” Sepultado, no cemitério de Salvaterra de Magos,
sua terra-natal, o “Mestiço” como era conhecido, tem na sua
pedra tumular, umas poucas palavras; “uma lembrança dos
104
aficionados de Vila Franca de Xira”. Os aficionados da sua terra,
continuaram a tê-lo no esquecimento
************
*******
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105
IX
CAVALEIROS TAUROMÁQUICOS
FERNANDES TRAVESSA
(Rogério Manuel Silva Fernandes Travessa),tal
como seu irmão Cláudio José, entrou como
cavaleiro
tauromáquico,
depois de actuar
em praças de
Portugal, Espanha
e, nos EUA (Califórnia). Fez a sua prova de
cavaleiro praticante, em Santarém, conforme
noticiou o Jornal o Ribatejo, na sua edição de
15 de Março de 1990. Recebeu a alternativa,
na monumental de Cascais, no dia 24 de
106
Julho de 1994, apadrinhado por José Manuel
Cortes. Daqui em diante, foram poucas as
corridas em que esteve presente. Com seu
irmão, associou-se na exploração de uma
escola de ensino de cavalos e cavaleiros.
CLAUDIO JOSÉ
(Cláudio José Silva
Fernandes Travessa). Tal
como seu irmão Rogério,
desde muito novo teve o
sonho ser cavaleiro
tauromáquico e chegar à
alternativa!
Depois de actuar, em Espanha, durante
alguns anos como Rojenedor, foi até aos EUA,
onde toureou na Califórnia. Em Salvaterra, no
dia 30 de Agosto de 1998, aos 23 anos de
idade, obteve a alternativa, sendo seu
padrinho Joaquim Bastinhas. Nos anos
seguinte, ainda esteve presente nos cartazes
de corridas em Portugal e Espanha. Um
Acidente, levou-o a ficar ausente dos
107
redondéis. Com seu irmão Rogério montou,
uma escola de ensinamento de cavalos e
cavaleiros.
ANA BATISTA
(Ana Cristina Marramaque Batista), natural
de Salvaterra de Magos, nasceu no dia 16 de
Junho de 1978.
Ana Batista, desde muito nova quis ser
cavaleira tauromáquica.
A sua apresentação pública, vestindo de
fato curto, foi na praça de toiros da sua terra-
natal, em 1988, onde lhe foi destinado um
novilho, toureando com o Praticante Cláudio
José.
A sua alternativa,
ocorreu dois anos depois,
na praça de toiros de
Coruche, em 8 de Julho
de 2000, sendo seu
padrinho; Joaquim
Bastinhas. A sua carreira
tem sido de grandes êxitos, tem estado
presente em todas as arenas de Portugal,
como figura do toureio a cavalo, também é
muito apreciada em Espanha, onde se
desloca todas as temporadas taurinas.
108
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***********************
OUTROS CAVALEIROS AMADORES
Depois da praça de toiros de Salvaterra, ser
inaugurada, em 1920, alguns amadores, pelo
gosto de tourear a cavalo, não deixaram de
ser solicitados a actuar em arena, pois tinham
angariado alguma experiência. Passaram a
constar em cartazes de festivais taurinos em
várias localidades do Ribatejo,
MÁRIO MARQUES
Mário Monteiro Marques, nascido a 17 de
Maio de 1925, desde muito novo mostrou
aptidões para a arte equestre, era um artista
na forma de ensinar os animais.
Um acidente de viação, ocorrido em 25 de
Março de 1858, tirou-lhe a vida e com ele foi
o seu grande sonho.
109
MONICA MONTEIRO
Ainda menina, já
manifestava o gosto de
andar a cavalo, pouco
depois mostrava grande
tendência para a aficion, o
toureio equestre era a sua
paixão. O Jornal o Ribatejo, na sua edição de
18 de Outubro de 1990, dava a noticia que
ela actuava, com Cláudio Travessa, entre
outros amadores, num espectáculo em
Santarém. A sua apresentação pública, em
Salvaterra de Magos, sua terra-natal, foi em
1992. Os empresários depressa viram nela
uma cavaleira tauromáquica com arte, que
podia empolgar o público aficionado, nas
praças de toiros portuguesas. Treinava
afincadamente, esperando a sua
oportunidade, foi convidada num programa
especial da Rádio Ribatejo, coordenado pelo
crítico, Paulo Beja, esteve ao lado de Ana
110
Batista e Sónia Matias. Em 1993, na Nazaré,
num festival taurino, em dia de carnaval,
Mónica caiu do cavalo e, foi internada de
urgência em Leiria, tinha fractura de crâneo.
O estado de coma durou alguns dias, já
estava internada no hospital de Santa Maria.
Recuperada, na época seguinte, foi a Lagos
tourear fazendo a prova de cavaleira
praticante, apareceu vestida com uma
casaca de cor bordeaux filada a oiro. O
sonho de ser cavaleira tauromáquica, era
uma meta, treinava diariamente. Um dia
quando regressava a casa pela estrada, o
movimento de carros era imenso, um pesado,
apitou por detrás, o animal teve medo, a
Mónica caiu, ficou paraplégica. Não ficou
esquecida, em 1997, o grande aficionado
salvaterrense; Manuel Fernandes Travessa, em
conjunto com um grupo de amigos, onde a
família Telles esteve presente, foi
homenageado em Salvaterra de Magos
111
X
CRITICOS TAUROMÁQUICOS
(ROBERTO FERNANDES)
Num dia de Agosto de 1959, com a tarde a
despedir-se do calor, a brisa já se sentia,
convidando os clientes do Café Ribatejano, a
aproveitarem as sombras
daquelas árvores em
frente, iguais a tantas
outras tílias em todo o
jardim do Largo dos
Combatentes. Na esplanada, debaixo de
uma dessas sombras, sentado numa cadeira
de ferro, um homem já entrado na idade,
112
refrescava-se com uma água fresca,
daquelas engarrafadas. Andava eu, por ali
pois esperava a chegada da carreira das
17,00 horas, que tinha paragem em frente ao
edifício da escola. O homem, viu-me vestido
a preceito, fardado com boné (era a farda
de empregado da camionagem), dirigiu-me
a palavra: Então moço, esperas alguma
coisa! Lá respondi ao que estava e, porque
estava, enfim a conversa foi ao ponto de
saber de quem eu era filho.
Enfim, todos aqueles pormenores de quem
tem alguma curiosidade. Lá respondi, chamo-
me: José Rodrigues Gameiro !!
Convidou-me para me sentar, e beber uma
água, fazer-lhe companhia. De chofre, disse-
me; eu conheço o teu pai, é o “Zé Pataco”
(1), é jardineiro na câmara, somo velhos
amigos de juventude. Quando cá venho,
conversamos muito sobre a nossa terra.
113
Também ouvi falar e conhecia grande parte
da tua família, o teu bisavô, o teu avô e os
irmãos dele, foram grandes campinos.
******** *********
(1) – A alcunha de Pataco, vinha de meu bisavô que a deixou a
alguns descendentes.
****** ******
Naqueles meus 14 anos de idade, fiquei
algo confuso. Agora o curioso era eu! Então
o senhor é de cá de Salvaterra! Sou, venho
cá passar uma semana de férias todos os
anos. Um ano de ausência, as saudades é
muitas da família, da minha terra e dos
amigos. Olha, já perguntei ao meu amigo Zé
Pataco, que me confirmasse quem era aquele
José Gameiro, que escreve no jornal “Aurora
do Ribatejo”, jornal que leio todas as
semanas. Afinal és tu!...
Estava eu, pronto para continuar a
conversa, mas com a chegada da carreira, lá
me despedi, com um aperto de mão.
114
O homem, ainda me disse, volto cá para o
ano e, temos muito que conversar. À noite,
em casa, lá fiz a conversa sobre tal encontro,
meu pai informou-me: É o Roberto da
Ferradora, é neto do Roberto que foi toureiro.
Olha, ele é muito apaixonado por toiros, julgo
que faz criticas das corridas, não tenha a
certeza?!...
Um ano se tinha passado !
Um dia estava eu, na Central das Carreiras,
na rua Heróis de Chaves, a preparar os
volumes das encomendas, para seguirem
para Marinhais e Glória do Ribatejo, quando
do lado do Jardim do Lopes, vinha um
homem vestido a preceito, com chapéu
preto na cabeça, acercou-se de mim,
cumprimentou-me e num instante: “Já não se
lembra de mim!...” Apresentou-se, recordou o
nosso encontro, no ano anterior. Olhe, trago-
lhe aqui um livro que lhe quero oferecer, são
os “Anais de Salvaterra de Magos”. O ano
115
passado, ainda soube pelo seu pai e, por
outras pessoas amigas, que tem gosto em
saber coisas da nossa terra!
De imediato, abriu o livro e nele fez uma
pequena dedicatória. Nessa noite e nas
seguintes, o livro foi todo lido página por
página e agora faz parte do meu espólio.
Um tal RUI DE SALVATERRA, que em 1935, fazia
crónicas tauromáquicas, era da família
“Ferreira Estudante”
Assinatura de Roberto Fernandes, extraída do livro “Anais de
Salvaterra de Magos” com a sua dedicatória
**********************
****************
116
XI
MOÇOS DE FORCADO
Nota Prévia
O rei D. José, determinou em 1762, que no
seu reinado não haveria mais corridas reais,
em Salvaterra foi a última. Mais tarde, em
1836, a rainha D. Maria II, assinou o decreto
que seríamos proibidos os toiros de morte, em
praças de Portugal. O palácio real de
Salvaterra, há muito tinha desaparecido após
alguns incêndios e, da derrocada provinda
do sismo, de 1858. O espaço onde tinha
ocorrido, a morte do Conde dos Arcos, estava
agora rodeado de construções, era
conhecido pelo Canto da Ferrugenta (1).
117
*******
(1) - Joaquina Mendes, José Caleiro, Rosa Mendonça e
Francisco Costa(pessoas que viveram em dois séculos) –
Foram por mim entrevistados em 1989, para um trabalho
“Em busca do Teatro Real da Ópera de Salvaterra de
Magos”.
Os toiros passaram a ser pegados. Os
monteiros da choça, foram convertidos em
moços de forcados. O povo fornecia os seus
elementos, aqueles mais destemidos, estavam
sempre na primeira fila. Quando da
inauguração da praça de toiros de Salvaterra
de Magos, em 1 de Agosto de 1920, o grupo
de forcados, foi chefiado pelo capataz;
Manuel Burrico, de Vila Franca de Xira.
Bastava haver um festival tauromáquico em
Salvaterra de Magos, ou em vilas dos
arredores, logo se formava um grupo de
forcados, como foi o caso de um que foi
actuar a Leiria, em 1966, num festival a favor
do União de Leiria, entre outros figurou
António Santos Paulo, conhecido por António
Béu.
***********
118
1942 - Grupo de Forcados de Salvaterra numa corrida após o
ciclone
Manuel Fróis Marques
(Manuel Lazão); morreu,
em 1948, num acidente,
num circo, na Feira de
Setembro de Benavente,
quando agradecia ao
público depois de ter
pegado um bezerro, uma
119
marrada, pelas costas, fracturou-lhe a coluna
grupo de
forcados
profissional de
Manuel Faia,
Manuel dos Reis
(Manuel
Ferrador),
primeiro lado direito
1956 - Grupo de Forcados de Salvaterra
120
1969 – Um Grupo de Forcados de Salvaterra
ANTÓNIO LAPA
Nasceu em Salvaterra de Magos, desde
jovem manifestou o gosto pela pega dos
toiros. Seu pai, também já tinha pegado toiros
nas arenas. Um dia veio ter às minhas mãos
uma página do já desaparecido jornal “O
Diabo”, era do dia 22 de Outubro de 1985 e,
tinha um artigo assinado por Miguel
Alvarenga, que pela sua importância e
significado aqui o transcrevemos:
O ADEUS A ANTÓNIO LAPA
“ Dizem-me que te
fostes embora, António
Lapa.
Que entregaste a
jaqueta ao Francisco
Costa e te despediste
das arenas em Alcácer.
Não pude lá estar.
121
Mas não quis deixar passar o momento de
aqui te prestar a minha homenagem.
Ao teu valor, António Lapa. Ao forcado
completo que tu foste. A mais que isso,
António: à amizade que se fez forte no
México e se foi prolongando por estes tempos
fora. Lembro-me desse mês inesquecível .
Dessa camaradagem sem fim que fui
encontrar entre vocês todos, nesse México
que não esquecemos mais. Comigo, com
todos os outros. O Hilário, o Costa, o Silvino, o
Fazé, o António Santos. Todos. Agora; dizem-
me que te foste embora. Que disseste adeus
a uma carreira que abraçaras de alma e
coração, durante o qual nunca, mas nunca,
esqueceste tudo o que devias ao mestre
Nuno Salvação Barreto. Dizia-lo com respeito.
Com admiração. Com a firmeza e a justiça
que caracterizam os homens de bom
carácter. Como tu, António Lapa. Recordar-
te, daqui te enviar o maior dos abraços que
houver na terra, é a minha homenagem na
122
hora da tua partida. Simples, António Lapa.
Mas sentida. Adeus António Lapa! “
JOSE CARLOS HIPOLITO
Conhecia-o das brincadeiras das épocas
carnavalescas e, da fama que espalhava
enquanto moço de forcado Um dia pedi-lhe uma
entrevista para eu publicar no jornal “Aurora do
Ribatejo”. Os dados que me concedeu, foram
publicados assim:
JOSÉ CARLOS HIPÓLITO
(O Timpanas)
- FIGURA TIPICA DA NOSSA TERRA –
Homem pequeno, com 53 anos de idade,
dotado de uma traquinice que o faz estar
constantemente sempre bem disposto.
Pelo Carnaval, desde há muitos anos, é o grande
animador das festas do nosso burgo, sendo tal a
imaginação e o talento nas figuras
por si encarnadas , que deixam sempre saudades.
No entanto o seu semelhante pode contar com
ele nas horas difíceis, estando sempre atento e
vigilante no seu posto de bombeiro voluntário, pois
dá o seu contributo à Associação de Bombeiros
desta vila. Mas o seu grande “martírio”, onde as
123
saudades o vão corroendo, é a festa brava.
Quando fala de tauromaquia todo o seu pequeno
corpo se modifica, as contracções notam-se na
sua face, os seus nervos de aço com que ainda há
poucos anos empolgava multidões nas Praças de
Toiros, ficam fluidos – É um homem vencido, cheio
de saudades!... Na esperança que nos
identificasse uma fotografia de foi publicada, em
1957, na edição especial do Jornal – Vila
Ribatejana. Logo que poisou os olhos no retrato
mostrou-se nervoso, a sua calma desapareceu e
nos seus olhos algo bulia, o que não evitou que
mesmo disfarçadamente tentasse limpar uma
lágrima rebelde que já o incomodava. E
enquanto me ia informando dos nomes dos
componentes do Grupo, Disse-nos;
“Olhe, foi neste grupo que
peguei toiros pela primeira
vez e, foi em Coruche, já lá
vão cerca de 30 anos”. Uma
das suas salas está repleta de
quadros, onde se podem
apreciar várias sequências de
pegas de caras, por si efectuadas em centenas
124
de actuações nas Praças de Toiros, tanto no País
como no Estrangeiro. Hoje, exercendo a profissão
de metalúrgico, foi na sua vida do campo que
começou os seus primeiros contactos com os
toiros. Naquele tempo, ainda havia a grade –
uma forma de trabalhar a terra – onde os bois,
alguns bravos, depois de “bruxados”, tornavam-se
dóceis. Voltando à tauromaquia, vai-nos dizendo:
“ Tenho muita estima pelo Sebastião Nabiço e,
também pelo Manuel Faia. Olhe! já me ia
esquecendo do Albino Fróis Marques e do seu
irmão, o Manuel Lazão. A eles devo muito do que
sei da difícil arte de pegar toiros”.
“ No entanto não me posso esquecer do Manuel
dos Reis, o Manuel Ferrador, pois com ele tive
tardes inesquecíveis. Bom companheiro!...
Ao ver-mos uma foto, num daqueles imensos
quadros pregados na parede, onde José C.
Hipólito esteve na cabeça de um possante toiro
(510 Kgs), diz-nos que esta pega foi na Nazaré.
Apontando para umas outras, informa-nos “Aqui
foi no Campo Pequeno, a critica da época, por
esta pega me chamou o Pegador de Toiros mais
pequeno de Portugal – O Pigmeu com braços de
125
aço. Esta aqui, foi em Salvaterra com um “bicho”
dos Robertos, também com cerca de 600 Kgs. Foi
tão grande o delírio do público que um
espectador, nas barreiras me levantou em peso,
tal era o seu entusiasmo.
A um canto, num pequeno móvel, está a sua
jaqueta, o barrete, calção e os sapatos. Mostra-
nos um álbum com características orientais e, diz-
nos: “ Aqui guardo imensas recordações de
algumas celebridades do nosso mundo
tauromáquico”, e mostra-nos actuações com o
mestre João Branco Núncio, mestre David Ribeiro
Telles, Manuel dos Santos, Diamantino Viseu,
Ricardo Chibanga, José Rosa Rodrigues e outros.
“Olhe, aqui nesta foto, foi quando o Manuel dos
Santos fez a sua festa de despedida, no Campo
Pequeno. Neste grupo (o de Adelino de Carvalho)
estou eu e o Manuel Ferrador. Esta fotografia, tem
uma dedicatória do Manuel dos santos, a mim”
“Numa digressão que fiz à China, onde o
Manuel dos Santos, nos levou – éramos três
forcados – pois ele organizou várias corridas em
Hong-Kong, a praça foi construída em canas de
126
Bambu e, comportava cerce de 8 mil
espectadores. O Chibanga também foi.
“Olhe, em cerca de 5 meses que lá estivemos,
peguei 36 toiros e, numa das corridas actuei com
uma costela partida, como pode ver por esta
fotografia”. “ No entanto por causa dos toiros,
estive duas vezes em Roma, uma no México e
outra na Venezuela”.
Enquanto decorria a nossa conversa e nos
mostrava centenas e centenas de fotografias, vai-
nos dizendo que, no entanto depois destes anos
todos a pegar toiros e de muita “porrada” ter
levado, não pode esquecer tardes memoráveis
que, viveu !
Um pequeno desgosto o acompanha e, diz-
nos “Ainda não fiz a minha festa de despedida !”
“À cerca de 5 anos, tentei organizar uma corrida.
A então Comissão da nossa Praça, depois de
concordar, vai criando dificuldades, e eu, já tinha
a oferta de toiros, cavaleiros e forcados e, se fosse
necessário, alguns toureiros também se me
ofereceram. Tive de desistir, pois a Comissão por
ter começado a arrepiar caminho, dificultou,
dizendo que não poderia emprestar a Praça.
127
Olhe, que eu oferecia a receita para o Hospital.
Não chego a compreender como me puderam
fazer aquilo. E num tom magoado diz-nos, actuei
em tantos festivais graciosamente para a
Misericórdia. No entanto não perdi ainda a
esperança de fazer a minha festa de despedida e
na minha terra, vou começar os meus contactos
novamente e espero que a actual Comissão da
Praça de Toiros me ajude, emprestando-me a
praça, pois em contrapartida, a receita será para
o Hospital”. E assim deixamos o José Carlos Hipólito
– O Timpanas de Salvaterra – entregue às suas
recordações e tristezas. O Pigmeu, com braços de
aço, com alguém um dia lhe chamou. Que a sua
ambição se realize, é o nosso grande desejo.
Muitos outros nomes
envergaram a jaqueta,
enveredando por outros grupos,
como: João Ramalho, que
pertrnceu durante anos aos
Amadores de Santarém, Tózé
Martinho, que vivendo em
Salvaterra, e tendo laços de família com João
Ramalho, ainda jovemvestiu a jaqueta, e António
128
Rogério Amaro, desde criança viveu em casa o
ambiente taurino, através de seu pai – Rogério
Amaro, pegou toiros vestindo várias jaquetas, mas
envergando a do grupo Salvação Barreto, deu-
lhe mais notoriedade.
EMBOLADORES /FARPEADORES
José Caçador/ ou José Venscelau, já no
início do século XX, esmerava-se na feitura, de
farpas/ ou bandarilhas, embolando também
os toiros em dias de corria. As embolas,
construídas à base de couro e que servem
para cobrir os cornos dos toiros, pois as pegas,
aconselham o seu uso. Este trabalho
artesanal, transmitiu a seu filho António
Aleluia, com quem trabalhou durante muitas
dezenas de anos a difícil maneira de
ornamentar os
ferros (farpas),
que são
acessórios nos
espectáculos
129
taurinos. Tal artesanato, foi continuado na
família, por João Aleluia (João Venscelau),
neto e filho daqueles, sendo as farpas, muito
procuradas especialmente por emigrantes,
para decoração das suas tertúlias.
****************
*****************
AS TERTULIAS TAUROMÁQUICAS
No primeiro quartel do séc. XX, era nas
barbearias e oficinas de sapateiros que as
gentes do povo se juntava para discutir, as
alegrias e tristezas do que se passava nas
arenas do mundo taurino. Ali,existiam tertúlias,
cujo confronto verbal era intenso defendendo
arraigadamente os seus ídolos. No Clube do
Lavradores, cujos sócios eram a gente fina da
terra, mais recatados, não deixavam também
130
de fazer ouvir os seus comentários, em
relação aos artistas taurinos da época, O
espírito aguerrido das gentes de Salvaterra,
nunca perdeu este sentido de manter viva a
sua ligação ao mundo taurino, e por vezes já
na segunda metade do séc. XX, lá arranjava
um “cantinho” onde se convivia e falava de
toiros. Nascendo amiúdas vezes, grupos de
forcados, que tinham uma duração efémera.
Já no séc. XXI, novamente um grupo destes
amigos da Festa Brava, se juntou e fundou o
Clube Taurino Salvaterrense. Legalizado com
estatutos, entre outras actividades culturais, o
seu lema é a “divulgação e o apoio de tudo
o que respeito ao espectáculo tauromáquico
e, em particular, às actividades taurinas que
ocorram em Salvaterra de Magos”
UMA ESCOLA DE TOUREIO
Os aficionados de Salvaterra, tinham em
mente a criação de uma Escola de Toureiro,
para isso tinham em Francisco Palhota, antigo
131
praticante, que vestiu o traje de luces, o seu
monitor. Por volta do ano 2000, foi-lhes feita a
promessa, por João Nunes, numa campanha
eleitoral, para a Junta de Freguesia de
Salvaterra, que os seus anseios seriam uma
realidade, se fosse eleito, pois tinha a
intenção de apoiar aquela lacuna, já que
havia uma praça de toiros na terra, que
precisava de mais actividade. O tempo
passou, fartos de esperar, um dia
“assobiaram”, João Nunes, já presidente da
Junta de Freguesia, pois segundo os
aficionados não cumpriu o seu compromisso,
conforme se pode ler numa reportagem que
saiu no jornal JVT Nº 392, pág. 11, de 31 de
Julho de 2003.
*************
*********
132
XII
CAMPINOS
Nota Prévia
Moço Nogeiro, Roupeiro Novo, Roupeiro
Velho, Contra-Moiral, Moiral e Campino-Mor,
era a hierarquia do homem que guardava
toiros no Ribatejo, vinda de séculos passados,
ainda conhecida por volta de 1930.
O Campino, era uma figura de grande
respeito entre os seus pares e, muito
estimados pelos patrões. No trabalhar os
cabrestos para a recolha dos toiros em praça.
Na condução do gado nas pastagens e, a
caminho das localidades onde os curros de
toiros iam ser corridos, o povo respeitava-os
por “grandes varas”.
No dobrar do séc. XX, os terrenos de
pastagem encurtaram. As ganadarias,
passaram por uma lenta mudança, notava-se
133
mais naquelas alicerçadas em hábitos que
vinham de séculos anteriores. O Feitor,
Campino e Moiral, as três grandes figuras da
Lezíria ribatejana, estavam em
desaparecimento.
UMA FAMILIA DE CAMPINOS
António da Silva Cantante, avô paterno do
autor, tinha uma irmandade de cinco irmãos,
quatro rapazes e uma rapariga; João, José,
Luiz, Manuel e Maria Joana. Uns tinham no
apelido; Silva e outros, Galricho.
A alcunha de “Pataco”, veio de meu
bisavô, Miguel Galricho, por ter recebido a
oferta de mais um pataco, para trabalhar na
Casa do Barão de Salvaterra.
A notícia do pagamento de mais dois
vinténs, correu em toda a Lezíria, o que
reconhecia no meio da campinagem, o seu
valor de grande vara. A inveja foi tal, que não
o livrou da alcunha de “Pataco” que deixou à
descendência.
Um meu avoengo, foi um respeitável
Campino-Mor, nas vacadas do rei D. Miguel,
que pastavam em terras de Salvaterra e
Pancas. O antigo bandarilheiro Roberto
Jacob da Fonseca, mais tarde lavrador e
ganadeiro, contemplou o meu bisavô no seu
Testamento, entre muitos trabalhadores da
sua casa agrícola.
134
ALGUMAS HISTÓRIAS
Andava eu, pelos 14 anos de idade já
escrevia para o jornal “Aurora do Ribatejo”.
Do meu avô paterno, António Cantante
(Pataco), ouvi relatos da sua antiga vida de
campino. Dessas recordações, guardei alguns
apontamentos. Agora para este trabalho, lá
fui “rebuscar” aquelas informações.
Como campino viveu a sua maior parte da
vida, no campo junto das manadas de toiros.
Os anos tinham passado, a idade e as
forças, já não o deixavam “dar conta do
recado”, como ele um dia me disse: “Os toiros
bravos que conhecia como a palma das suas
mãos, já não lhe obedeciam, aos gritos é toiro
lindo!...
“Já não era aquela “vara” de outros
tempo!...”
Entrado na idade, deixou a campinagem e
foi guardar uma éguada afilhada, com 50
cabeças, da casa agrícola Menezes & Irmão,
Ldª. No mês de S. Tiago, de 1944, deixou de
todo aquela actividade. mas os seus dois
irmãos, o João e o José, continuaram na
ganadaria Irmãos Roberto. “Estava farto de
tanta canseira, tantos foram os frios dos
invernos, e os calores de muitos verões, anos a
fio, em que esteve sentado na sela, com a
manta aos ombros - a manta lombeira, quer
135
cai-se geada, quer chovesse, guardando
tantas cabeças de gado, que lhe perdeu o
conto”
A “velhice” tinha chegado.
Deixou na vila, a casa onde vivia, na rua d`
água e, recolheu-se, com minha avó Emília e,
meus tios; Manuel e Luís, numa pequena
barraca de caniço, que construiu, nos
terrenos do Rego, que alugou ao Dr. José de
Menezes, seu antigo patrão. Ali vivia, do
sustento de algumas vacas leiteiras, com a
venda de leite, a tirar da vaca, pois criava
vitelos. Nos valados, perto dos poços onde as
mulheres lavavam roupa (1), eram o local
onde apascentava o gado, a erva fresca
abundava.
Um dia sentado num pequeno banco, com
fundo de “sumaúma” por ele entrançada,
como bem sabiam fazer os campinos, além
de esteiras e, fechar garrafões de vidro com
cordel - disse-me: “Quando fores grande
nunca queiras ser campino, aquilo é um
trabalho dos Diabos; ama-se mais os animais
do que a família. Teu pai, não quis ser
campino, também não quis aprender a
endireitar a “Espinhela” (2) e fez bem!
******* *********
(1) – Pequenos tanques de cerca de um metro de fundo, onde a água era constante, as mulheres esgotavam-no, na lavagem da roupa. No fundo tinham pedra para assento
136
dos pés, em cima no terreno, uma laje para a lavagem da
roupa. Estendiam a roupa branca pela erva, para corar.
********* ***********
************ ************
(2) – Endireitar a Espinhela; era endireitar a coluna vertebral, que ele aprendeu com os campinos mais antigos – Os bezerros ficavam com as costas tortas porque o parto,
algumas vezes acontecida com as vacas em pé e, os bezerros nestas condições tinham dificuldade em começar a andar. Depois da mãe, comer a placenta e limpar o
animal com a língua, os campinos tapavam o pequeno animal e puxavam-no com uma corda (para evitar as marradas da vaca). O mais dextro, punha a cabeça do
vitelo entre as pernas e, com as mãos fazia massagens ao longo das suas costas. Minutos depois o pequeno animal já andava para
junto da mãe. Cheguei a ver avô fazer isto a alguns homens que o procuravam com dores nas costas.
************** *************
Dizia-me; “comecei aos 10 anos a guardar
os bois da tralhoada, depois passei para as
manadas de toiros bravos. Ao entrar nos 25
anos de idade, um dia cheguei a campino-
mor, numa casa agrícola da vila, de
Salvaterra de Magos. Ainda, trabalhei com
meu pai e, os meus irmãos João e o José, nos
Roberto & Roberto. Aqueles irmãos toureiros
que, ganharam uma fortuna a tourearem em
Espanha. As suas lembranças, eram sempre
uma “lengalenga” do seu tempo de
campinagem. Aquela dos toiros que iam ser
corridos em Santarém!
Saíram da Herdade dos Coelhos,
atravessaram a vila, ao cair da tarde de
sexta-feira, foram toda a noite pela estrada
do meio, pelos campos de Muge e Benfica,
137
saíram para lá de Almeirim, quando o sol
dava os primeiros sinais de vida, estavam a
atravessar a ponte do Tejo. Um mar de gente,
estava na ponte, viam-se os barretes, os
chapéus, coletes e casacos, voavam no ar, a
querer tirarem os toiros que a gente mantinha
entre os cabrestos. Aquela malandragem,
não nos dava descanso e, éramos para aí uns
30 campinos. O curro, tinha de estar em
Santarém, na tarde de sábado para a corrida
de domingo à tarde.
Eram dias de grande trabalheira, mas
também a gente se vingava, era cá cada
varada naqueles costados. Também me
contou, uma outra de um curro de toiros, que
tinha de ser corrido em Vila Franca, e como
era costume, saiam dos Coelhos, ao inicio da
1936 – Quatro irmãos campinos
138
tarde, para aproveitar a maré do Tejo, e
atravessar para Valada, através dos
mouchões, ia-mos pelos campos da
Azambuja, e a chegada a Vila Franca, a
meio da tarde de sábado, para serem
corridos no domingo.
“A trabalheira começava logo aqui, depois
do Maçapez, ia-mos por Trás-Monturos, a
rapaziada não deixava os toiros descansados,
alguém tinha passado o segredo, queriam
tirar os bois do meio dos cabrestos, ao passar
a ponte da vala.
A gente percebia daquilo, já estávamos
habituados e, a vara trabalhava logo nos
“costados” deles. Depois em Valada e na
Azambuja, era de ver gente a escorrer
sangue, aqueles diabos não deixavam os
animais sossegados e, davam-nos muito
trabalho, para manter o gado no meio dos
cabrestos.
Varada neles!.. Era a ordem do campino-
mor. Lino Garoto. Os nossos cavalos, os toiros
e cabrestos, babavam-se por todo o lado.
Meu avô, gostava de beber o seu copito e,
quando ficava um pouco “enxergado” como
ele dizia, lá se lembrava de tocar um vira do
campo ou o fandango, numa pequena
gaita-de-beiços, já muito velhinha e
desafinada.
139
Com a música do fandango, ficava
empolgado de tal maneira, que não resistia a
tentar fazer o jogo de pernas.
Era de ver e ouvir…!
Nunca se esquecia dos campinos, seus
camaradas de outros tempos. Hó, que
grande gente. Grandes varas.
Os seus dois irmãos; João da Silva Galricho,
José da Silva Galricho, o seu primo João
Vitorino, o Lino da Silva, alcunhado por Lino
Garoto, o Joaquim Quartilho, o Francisco
Almeida, e o Fernando Nobre.
Muitos outros que vieram mais tarde como:
Manuel Luís, José Duarte Cantador,
conhecido por “José da Moira” e, o Manuel
Bernardo, estes últimos dois acabaram a vida
de campinos. no lavrador José Lino.
O TRAJE DO CAMPINO MUDOU!
No dobrar do século
XX, os campinos, aquela
gente que lidava com o
gado bravo em plena
Lezíria ribatejana, ainda
mostrava a pele curtida
por mil sóis. Os mais
novos, já usavam o boné
na cabeça, colete e
140
calça de ganga ou cotim, em dias de
trabalho e, lá se via, muito poucos, com a
cara ornamentada com uma pequena e
larga patilha na cara, um pouco abaixo da
orelha. As grandes suíças que por vezes
“beijavam” os bigodes, com duas pontas
bem finas e enroladas, foram caindo em
desuso por volta dos anos 30, época da
última geração de antigos campinos, muitos
deles conhecidos e respeitados por grandes
“Varas”.
O Campino, homem de têmpera rija,
hábitos muito antigos, ainda tinha e tem
vaidade em mostrar o seu vestuário.
A jaqueta brincheta, barrete preto e cinta
da mesma cor, era vestuário em tempo de
trabalho. Em dias de festa, era substituído por
um outro mais sobranceiro e luzidio, como:
Barrete verde, com cercadura vermelha.
Colete vermelho, ou azul, atado com cordões
na frente enfeitados com botões metálicos,
mostrando nas costas, desenhos genuínos,
feitos muitas vezes por familiares.
O ferro da casa agrícola (de que era
trabalhador) é usado, no peito (lado
esquerdo), em ferragem latão/cobre, em
forma de brasão ou emblema.
A cinta vermelha, de lã com franjas, tem a
função de apertar o corpo do campino. A
camisa branca justa de colarinho redondo,
141
pode ter efeitos desenhados, de uma fina
linha.
O calção, de fazenda rapada azul-escuro,
ou preto, enfeitado com botões metálicos do
lado de fora da perna. A meia branca é
usada por cima do joelho, arrendada, feita à
mão. Os sapatos de salto de prateleira,
usados com fivelas e espora.
OS RANCHOS FOLCLÓRICOS
E A CONSERVAÇÃO DOS USOS E COSTUMES
Quando do aparecimento do rancho da
Casa do Povo de Salvaterra de Magos, em
1980, sendo o garante da preservação e
divulgação desta forma de vestir do nosso
povo, usa nas suas actuações, o vestuário de
campino e camponesa em dia de festa.
Para a
confecção
das roupas,
recorreu-se
a uma das
últimas
costureira,
que ainda
sabia confeccionar este tipo de roupa, na
vila, a artesã, Elvira Santana.
Do vestuário do início do século XX e, muito
usado ainda em 1920, a saia da mulher tinha
142
uma roda (4 panos), franzida na cintura por
um cós. A saia de castor, de cor vermelha,
era usada por debaixo, na segunda posição.
Nos anos seguintes já no início da década
de 50 passou a usar-se nos dias festivos a saia
de castor (hoje,
conhecido como
feltro de 15) e, foi
reduzido para três
panos, como foi
mostrado pelo
Rancho dos
Trabalhadores do
Núncio Costa.
No rodado da saia, mais tarde, já em 1960,
era usual ver-se o tecido de nome “riscado”,
na confecção das blusas (camisas), das
mulheres e camisas dos homens, entrava a
“populine”. sendo o garante da preservação
e divulgação desta forma de vestir do nosso
povo, usa nas suas actuações, o vestuário de
campino e camponesa em dia de festa.
Agora por tudo quanto é recinto de feira,
exposições e corridas de toiros, o campino
deixou o copo de vinho, adaptou-se ao seu
tempo, bebendo cerveja e outras bebidas
finas.
******************** ***************
143
144
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*************
********
145
Uma Folha de Férias de uma semana de trabalho na
construção da Praça de Touros
146
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Inauguração da Paça de Touros - 1920
147
Reportagem / Entrevista de - José António Teodoro Amaro (Tamaro) *José
Gameiro “Jornal Aurora do Ribatejo” edição 1972
*************
*******
148
149
XIII
UMA VIAGEM DE VILA FRANCA DE XIRA,
ATÉ SALVATERRA
Foi um dia para não esquecer pelos seus
participantes. Realizava-se a segunda corrida
da inauguração da praça de toiros de
Salvaterra de Magos. Uma comitiva de Vila
Franca de Xira, foi convidada. Cerca de 50
rapazes, que vieram a Salvaterra.
O grupo visitante, à chegada no cais da
vala real de Salvaterra, deram o nome Vila
Clube Taurino ao agrupamento. Os simpáticos
rapazes alugaram duas grandes fragatas, que
navegaram através do rio Tejo e, da vala real
da vila.
150
Numa fragata, foi organizada uma casa de
jantar, com um grande toldo e, ali nada
faltava; mesas cadeiras; casa de banho ao
fundo; relógio de parede – tudo decorado
com muito gosto. Um guarda-vento, servia de
guichet para a entrada das comidas, pois
durante o desfile dos visitantes – Largo dos
Combatentes viagem de ida foi servido o
almoço e lanche. As refeições eram feitas
numa cozinha e entravam para a casa de
jantar, pelo dito guichet.
A despensa era um encanto..!
Estava guarnecida, de cestos de verga
com galinhas e coelhos, além de um carneiro
vivo, também para matar e comer a bordo. O
peixe para se conservar fresco, estava metido
151
em canastras, forradas a erva de espadanas.
A fruta era em grande quantidade. Algumas
caixas de cerveja estavam juntas a barris de
vinho (branco e preto). Para refrescar estes
líquidos também se preveniram de caixas
com gelo. Uma cozinheira e duas ajudantes,
confeccionaram seis pratos em cada
refeição. Tendo a cozinha começado a
laborar pelas 5 da manhã. A primeira
refeição, foi servida pelas 10,00 horas e
chegou até às 13,00 horas. A outra um pouco
mais frugal, começou pelas 15,00 horas e,
havia quem estivesse acabar pelas 17,00
horas, quando o cais da vala de Salvaterra
estava à vista e, uma multidão acenava e
gritava, sons ainda não percebíveis, pelos
152
visitantes. A outra fragata, foi destinada a
camarata, com uma cama para cada
passageiro, pois estava destinado passar a
noite na vila vizinha. Havia lavatório, espaço
de WC e guarda fato. Chegados a Salvaterra
e, com as embarcações já atracadas, delas
saiu o som da estudantina, sob a direcção de
Sabino Gomes, tocando a pandeireta, com
alegria e salero o dr. Genso. Iniciaram a
caminhada pela rua da Capela da
Misericórdia, rodeados de muita gente,
passaram pela Igreja Matriz e do jardim do
edifício municipal. A multidão acompanhante
fez crescer o cortejo, até à praça de toiros.
Um tempo depois, com a praça esgotada e
em delírio, decorreu a corrida. A noite já
chegava, foram levantados muitos brindes
pelos nossos amigos de Vila Franca, não
esquecendo o jornal “A Manhã”, a quem
todos os visitados dedicaram uma estima.
Endoidecido de alegria, perguntava Sabino
Gomes, com muita graça: - Gostaram do
153
nosso lugre de recreio?!... A noite foi passada
em diversas casas agrícolas, cujas famílias se
empenharam em bem receber. Pela meia
manhã de terça-feira, com a maré a
convidar o regresso, Carlos Gonçalves,
lavrador de Vila Franca e presidente do grupo
e o “maitre d`hotel”, de quem todos
recebiam ordens, com grande prazer,
elogiando até os seus apetitosos menús.
Despediu-se das entidades e do povo de
Salvaterra, com comovidos abraços, dizendo:
Até nisto foi à portuguesa antiga, a festa de
Salvaterra de Magos.”
* B. Duarte *
Os periódicos da época, deram destaque
ao acontecimento, especialmente o jornal “A
Época” que ilustrou as suas páginas, com
fotografias, dos barcos a navegarem na vala
real de Salvaterra e, o grupo de visitantes no
cais e em frente ao edifício da escola, no
Largo dos Combatentes, a caminho da praça
de toiros.”
154
XIV
TOIROS EM DIA DE FEIRA,
NO DOBRAR DO SÉC. XX
No dobrar do século XX, o espectáculo
taurino, tinha na sua raiz emoções que
vinham de tempos imemoriais. Leis e mais leis,
vieram condicioná-lo, a última foi com o
Decreto-Lei 306/91 de 7 de Agosto,
completado com o Decreto Regulamentar Nº
62/91 de 29 de Novembro, que queria
harmonizar o espectáculo taurino aos tempos
que corriam. Um novo “espartilho”, para a
festa taurina, pois tudo mudou e nada
passaria a ser como dantes!
155
O povo vinha deixando de ver aquele
aparato, de uma corrida de toiros, fora da
praça, mas os aficionados, ainda viviam
aquela festa com todo aquele encanto,
dentro da praça de toiros. Em 1950, a feira
franca de Salvaterra, ocorria como todos os
anos em Maio e, nesse dia, realizava-se uma
das muitas corridas que tinham lugar
anualmente na praça de toiros da vila. No
mês de Setembro, realizava-se a feira da
vizinha vila de Benavente e, uma semana
depois, a de Salvaterra. A feira de Maio, já
em plena Primavera, contava sempre com
uma corrida de toiros. Havia já algum tempo,
o cartaz estava na rua onde anunciava que
vinham actuar os mestres cavaleiros; João
Branco Núncio e Simão da Veiga. Os
espadas, eram os matadores de toiros;
Diamantino Viseu e Manuel dos Santos.
Abrilhantava a corrida a banda de música
dos bombeiros da vila. Os toiros eram da
ganadaria Irmãos Roberto e, os forcados,
156
eram do grupo de Manuel Faia, onde
pegavam O Timpanas e Manuel Ferrador,
homens queridos da terra. As “claques de
aficionados” que aqui existiam, tinham agora
mais uma vez oportunidade de ver actuar os
seus ídolos, pois ao longo do ano, dividiam-se
em acérrimas discussões. Um grupo; apoiava
João Núncio, um outro Simão da Veiga.
Quanto aos matadores de toiros; era de ouvir
qual o grupo, que sobrepunha o seu toureiro,
em relação aos outros. As discussões tinham
lugar, nas oficinas dos mestres sapateiros, nas
oficinas dos barbeiros e, continuava na sede
do Clube Desportivo local, pois aí à noite nos
jogos das cartas, lá vinha à baila a aficion.
Naquele domingo de Maio, os aficionados
visitantes que enchiam por completo as
“tascas” da feira e, as tabernas na procura
dos bons “petiscos” da terra, na hora da
entrada param a corrida perdiam-se entre a
multidão. O muro da Horta do Sopas, estava
157
repleto de curiosos vendo os cavaleiros
“passeando” os cavalos.. Nas janelas da
praça, os espectadores, empoleirados no
gradeamento, tinham os olhos postos no mar
de gente que enchia a avenida, na
esperança de verem chegar os toureiros.
De repente, gritam, lá vêm eles !....
Eram os matadores, entre o seu stafe,
vinham à “paisana”, com os trajes de luces
por baixo. Avenida abaixo, vinham da Pensão
do Café Ribatejano, onde estavam alojados.
De imediato foram rodeados por aquele
multidão de aficionados, até entrarem na
praça. A corrida, estava esgotada de
espectadores e, durou cerca de três horas.
No final o matador, Manuel dos Santos, que
foi o triunfador, saiu pela porta grande,
levado em ombros, entre o delírio da
multidão, que percorreu a avenida, a rua
Marquês de Pombal, a rua Heróis de Chaves
158
e, por fim chegou à Pensão. De imediato,
numa das janelas, agradeceu os aplausos
daqueles aficionados que delirantemente lhe
batiam palmas.
*************
159
XV
A ORIGEM DO TOIRO DE LIDE – UMA OPINIÃO
Da pena de António Relvado, colaborador
que foi do extinto Jornal Vale do Tejo, JVT,
transcrevemos com a devida vénia, o seu
artigo.
“O toiro de lide constitui a maior inovação
Espanhola na criação de animais. Antes que
os Ingleses começassem a formar importantes
raças Vacuns e Porcinas, durante os séculos
XVII e XVIII, inclusive antes de 1791, criou-se o
LIVRO GENEALOGICO DO CAVALO, de puro
sangue Inglês, ia-se seleccionar em Espanha o
toiro de lide, pois os primeiros ganadeiros
espanhóis controlavam e anotavam a sua
genealogia, comportamento e características
nos primeiros livros de ganadarias.
160
Das civilizações do passado chegou-nos
alguns enigmas difíceis de decifrar. Em torno
do toiro existem pinturas rupestres e
representando o toiro desde o V ao III milénio
antes de Cristo. Segundo numerosos
arqueólogos, estas figuras foram realizadas
com a finalidade de indicar a existência de
caça abundante.
A fauna predominante ma Península
Ibérica, durante o Paleolítico era composta
por cavalos, toiros, veados, javalis e outras
espécies de menor porte. O toiro selvagem
da Pré-História tinha como finalidade
alimentar o homem, caçá-lo, e usá-lo como
elemento de trabalho. O uro ou toiro
selvagem, estava domesticado no oriente
desde épocas mais remotas. Assim, chegou à
Europa Central e Nórdica formaram-se muitas
raças alpinas e centro europeias actuais.
As sucessivas variações climatéricas
determinaram as trocas de flora e fauna,
eliminando numerosas espécies.
161
Na Península Ibérica o clima nunca foi
demasiado rigoroso não alterando a flora e a
fauna originando migrações de gado vacum
da Europa Central e Norte de África, pois a
Península estava unida ao Norte de África.
A ERA DO TAURO
A era do Tauro corresponde aos anos 4513
a 2353 antes de Cristo, caracteriza-se pelas
diversas civilizações históricas por culto a
divindades taurinas. Em todas as culturas
Mediterrâneas e no mundo Celta a crença
mágica das virtudes genéticas do toiro e a
sua transmissão ao homem fizeram dele figura
sacra e objecto de culto e de numerosos ritos
religiosos e celebrações festivas. Assim, na
Mitologia Grega aparece em forma de
Minitauro. No Egipto, o Boi Ápis e o deus da
fecundação e da abundância, os Hebreus
adoravam o bezerro de ouro, na Babilónia
são os toiros alados e ainda temos o Celta
Tamos e o toiro Irlandês Cualungé. O mundo
162
romano adoptou o culto de origem Persa
Mitra, o jovem deus que sacrifica o toiro
primordial para fazer surgir o mundo. Há 2000
anos Júlio César descrevia o Uro que habitava
na selva Hercínia na Alemanha, junto ao rio
Danúbio de carácter indómito, enorme
bravura e ligeireza assim como o divertimento
que constitua a sua caça pelos jovens. Era
um animal enorme e perigosíssimo que
povoava os bosques da Europa Central e
Nórdica. Os Alemães chamavam-lhe
Auerochs ou toiro selvagem. Foi Júlio César
que introduziu o vocábulo uros na língua
latina. O uro foi extinto na Europa na Idade
Média, é o antepassado selvagem de todas
as raças bovinas existentes.O toiro de lide
163
actual é de todos os descendentes directos o
que melhor conserva as suas características.
O TOIRO NA HISPÃNIA
O toiro bravo descendente do uro ou toiro
selvagem da idade média, que abundava
em toda a Europa, trazido pelos Celtas.
Situou-se no Norte de Espanha e Portugal,
tendo-se juntado com o gado procedente do
Norte de África durante o período glaciar.
Como na cultura Greco-Romana, o toiro
está muito ligado às raízes culturais
Hispânicas. É o animal mais emblemático, ao
ponto de simbolizar a festa popular, e a sua
figura traduz todas as artes, desde as pinturas
rupestres aos toscos verracos ibéricos, as
tendências modernas da cultura Espanhola e
Portuguesa, representado em desenhos,
gravados, pinturas, esculturas e por
pressuposto na nossa literatura. O toiro
164
representa um papel fundamental na
economia da península ibérica, pois modifica
a paisagem devido à necessidade das
grandes vacadas, e propicia à criação de
feiras de gado que tanta importância tem
para o desenvolvimento dos povos e cidades.
O toiro de lide teve como, origem e solar
em Espanha, e desde aqui se estendeu e
exportou a Portugal, a França e numerosos
países do Continente Americano,
principalmente durante o no séc. XX. Graças
à concorrência de interesses de uma cultura
popular com profunda raiz taurina, as práticas
equestres dos nobres e cavaleiros da Idade
Média. A destreza para o jogo com toiros do
pessoal encarregado do seu manejo nas
herdades e nos matadouros, assim como a
inteligente arte de criar e seleccionar dos
ganaderos, criou-se um belo animal, uma das
maiores jóias da zootécnica mundial.”
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INDICE:
CAPITULOS
Pág. 4 Preambulo
Pág. 6 * I Última Corrida de Toiros em Salvaterra
Pág. 24 * II Conde dos Arcos – Sua Origem e Morte
Pág. 29 * III A Construção da Praça de Touros de
Salvaterra de Magos
Pág. 36 * IV Toiros de Morte em Salvaterra
Pág 44.* V Criadores de Toiros de Salvaterra
Pág. 55 * VI Criadores de Cavalos em Salvaterra
Pág. 62 * VII A Dinastia Roberto
Pág. 96 * VIII Bandarilheiros
Pág. 105 * IX Cavaleiros Tauromáquicos
Pág. 111 * X Críticos Tauromáquicos
Pág 116 * XI Moços de Forcados
Pág.132 * XII Campinos
Pág 149 * XIII *Uma Viagem de Vila Franca, até
Salvaterra
Pág.154 * XIV Toiros em dia feira, no dobrar do
séc. XX
Pág.159* XV A Origem do Toiro de Lide – Uma Opinião
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- Revista” Branco e Negro” ………………….. 1897
- Jornal “A Elite” ……………. 1 de Agosto de 1920
- Jornal “A Manhã” ……… 6 de Agosto de 1920
- Revista ”Touros e Toureiros” ………………. 1932
- Revista “A HORA” …………………………… 1939
- Jornal “Aurora do Ribatejo” ………………… 1970
* Reportagem dos 50 anos da inauguração
da Praça de Toiros~ Jornal “Aurora do Ribatejo”
- Livro Contos e Lendas - Última Corrida de Touros em
Salvaterra * Rebello da Silva – edição “Colecção
Civilização”
- Livro “A Misericórdia de Salvaterra” – Dr. José
Asseiceira Cardador * Edição: 1968
* Livro “Associação Portuguesa de Criadores de Toiros
de Lide – Edições: 1986 e 1990
* A Origem do Toiro de Lide *Jornal Vale do Tejo, 1999
* Jornal Vale do Tejo (António Cadorio) Ano 1999 *
Artigo de José Gameiro
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Pág. 7 – Escritor Rebello da Silva – Foto a/d
Pág. 9 v/s – Morte Conde dos Arcos (Aguarela Roque Gameiro)
Pág. 11 – Quadro em Azulejo – Morte do Conde dos
Arcos * Foto do Autor
Pág. 23 – Pintura, embalagem da caixa de bolos “Marialvas” Produto fabricado por
Francisco Henriques da Fonseca – Vendido
p/ Rest. Ribatejano 1950 Pág. 24 - Pintura de Martin Maqueda
Pág. 25 – Certidão de Óbito Conde dos Arcos
Pág. 32 - Noticia da Morte de Toiros em Salvaterra, com bilhete de entrada na corrida
Pág. 48 – Jogo de Cabrestos, da Casa Agrícola José
Lino, na Avenida da vila, pelas “Festas dos
Toiros e do Fandango” – 1966, onde se vê o Lavrador, José Lino que acompanha o
desenrolar do trabalho dos campinos José
Duarte (José da Moira) e Manuel Bernardo * Foto Autor- 1988
Pág. 51 – António Roberto da Fonseca * a/d
Pág. 53 – Vicente Roberto * a/d
Pág. 62 – Roberto da Fonseca * a/d Pág. 69 – Jarras de Porcelana, com Baquetes de Flores,
Troféus conquistados pelos toureiros Irmãos
Roberto * Foto do Autor Pág.71 – Um dos três Armários de Troféus dos
Bandarilheiros – Irmãos Roberto (s) – Autor
Pág 78 – João Roberto da Fonseca (Lavrador) – a/d Pág 80 - Irmãos; Vicente Roberto da Fonseca, Roberto
Ferreira da Fonseca (Dr.) e João Roberto da
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Fonseca ª a/d
Pág 80 v/s – Quadros da Vida Agricola “Irmãos Roberto
Pág 82 - Joaquim da Conceição, Bandarilheiro ª a/d
Pág 83 – António Cadório “Mestiço” * a/d Pág. 87 – António Cadório e seus alunos; José Julio
e José Falcão * Foto Jornal Vida Ribatejana
Pág. 89 - Rogério Travessa, Cavaleiro Tauromáquico, no dia da sua alternativa, em Cascais ª a/d
Pág. 90 - Cláudio José, no dia da sua alternativa, em
Salvaterra de Magos * a/d Pág. 91 – Ana Batista, Cavaleira Tauromáquica,
no dia da sua alternativa, em Coruche * a/d
Pág. 93 - Mónica Monteiro, Aprendiz de Cavaleira
Tauromáquica * a/d Pág. 95 - Roberto Fernandes (D. Paco),
Critico Tauromáquico – a/d
Pág 99 – Assinatura Roberto Fernandes - 1960 Pág. 102/103 – Grupos de Forcados de Salvaterra
Pág. 104 - António Lapa, Pegador de Toiros * a/d
Pág. 107– José Carlos Hipólito, Pegador de Toiros - Grupo Adelino Carvalho, Lisboa
Pág. 118 – Campinos (Irmãos Galricho/
Pataco) a/d
Pág. 120 – Campino Moderno, com Traje de Trabalho Pág. 122 – Meia feita em lã, p/ uso do Campino em
Dia de festa - confecção artesanal e Campino
em Dia de Festa Feira de Santarém (Campino* “A Tradição já não é o que era”?) *mgomes,blogspot.com/…/campino doribatejohtml
Pág. 124 – Rancho Folclórico da Casa do Povo de
Salvaterra de Magos, e mostra de vestuário
(Campino e Camponeza) Pág. 125 – José Luiz das Neves – Membro da Comissão
que construiu a Praça de Toiros em
Salvaterra de Magos Pág. 136 - Entrada de Toiros para a Corrida Inaugural
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da Praça de Toiros de Salvaterra * a/d
Pág. 139 - Página de Salvaterra, no Jornal “Aurora do
Ribatejo –Benavente, a reportagem dos 50
anos da inauguração – 1970 da Praça de Toiros de Salvaterra * José Amaro
e José Gameiro
Pág. 142 – Manuel Burrico, Forcado que chefiou o grupo na inauguração da Praça de Toiros de
Salvaterra de Magos
Pág.159 – Grupo de Visitantes, no Cais da Vala Pág.160 – Desfile dos Visitantes no Largo dos Combatentes Pág.170 – Novo Toiro de Lide Pág.124 - Campino* “A Tradição já não é o que era”? *mgomes,blogspot.com/…/campino doribatejohtml *************
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