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Revista do Comando-Geral do Ar Nº 05 - Junho 2002
As Asas Rotativas das Forças Armadas Brasileiras
Entendendo o Papel do Poder Aéreo na Guerra Moderna
Planejamento de uma Missão de Ataque
Guerra Eletrônica na EEAR
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Spectrum
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ÍndiceExpediente
Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar José Carlos Pereira
Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Ari Robinson TomaziniMaj.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesMaj.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães
ColaboraçãoCentro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)
Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos - SPe-mail: info@tachion.com.brwww.tachion.com.br
ImpressãoEditora Gráfica IpirangaSIG - Quadra 08 - Lote 2095tel: (61) 344-2266 - fax: (61) 344-1077CEP 70610-400 - Brasília-DF
Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.
spectrum@comgar.aer.mil.br (Internet)
Editorial ..................................................................... 4
As Asas Rotativas das Forças
Armadas Brasileiras .................................................... 8
Entendendo o Papel do Poder Aéreo
na Guerra Moderna.................................................. 16
Utilização de Data Envelopment Analysis
na otimização da utilização de horas de vôo
nos Esquadrões da FAB ........................................... 20
Planejamento de uma Missão de Ataque .................. 22
A Saga do Míssil Sidewinder .................................... 25
Aeronaves não tripuladas:
A Quebra de um Paradigma ..................................... 28
Guerra Eletrônica na EEAR ....................................... 32
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Brig.-do-Ar GILBERTO ANTONIO SABOYA BURNIERChefe do CCCOA
Editorial
Estamos iniciando na Força Aérea Brasi-
leira uma nova fase de existência! To-
dos os indicadores apontam para um
crescimento tecnológico e operacional dos
mais significativos.
Nos últimos cinco anos, em razão do
acerto das decisões tomadas, o nosso seg-
mento operacional tem crescido cada vez
mais e vem exper imentando
implementações que objetivam sua exce-
lência. Algumas dessas decisões já se fa-
zem sentir na atual juventude de nossa ofi-
cialidade, através da implantação do Cur-
so de Especialização Operacional – CEO,
curso este que capacita os nossos jovens
pilotos em cada uma das especificidades
das Aviações da Força Aérea. O resultado
esperado será a criação de uma nova gera-
ção de Equipagens de Combate composta
por homens profissionais e motivados, que
empreguem seus vetores na amplitude de
suas possibilidades em todos os espectros
operacionais do Comando-Geral do Ar,
seja na Patrulha, na Caça, no Transporte
Aeroterrestre, no Reconhecimento, na Bus-
ca e Salvamento e na aviação de Asas
Rotativas.
A Infantaria da Aeronáutica ganhou um
novo alento e um novo ânimo com a cria-
ção da Primeira Companhia Antiaérea de
Autodefesa, marco pioneiro que preenche
uma antiga lacuna na área de defesa
aeroespacial.
O fechamento dos contratos de finan-
ciamento para a compra dos novos AT-29,
a revitalização dos eficientes F-5 e a im-
plantação, em futuro próximo, dos nossos
R-99, marcarão, a partir de 2004, um perí-
odo de novas conquistas para a FAB. Se-
guramente estaremos ingressando em uma
nova era que fará jus ao potencial de nos-
sos militares e de nossas Unidades Aéreas
Operacionais.
A realidade palpável do
SIVAM e a concentração de
esforços bélicos na região
Amazônica apontam para
uma direção, a muito esque-
cida desde os tempos de
pioneir ismo do CAN, de
interação e, principalmente,
segurança e defesa daquela
região. A presença da Força
Aérea nas operações lá
desencadeadas, seja no po-
liciamento do espaço aéreo,
no apoio à Força Terrestre e
nas ações governamentais,
demonstra a importância que a Força Aé-
rea dedica àquela região e reafirma a nos-
sa posição soberana sobre todos os rincões
de nossa vasta nação.
O resgate das antigas ambições da Avi-
ação de Patrulha, retratado no esforço em-
preendido para a aquisição e a moderni-
zação das aeronaves P-3, vem corroborar
o verdadeiro significado da aplicação do
Poder Aéreo em todas as suas áreas de atu-
ação, além de confirmar o antigo refrão de
que “os velhos tinham razão!”
Como aviadores, manteremos a tradi-
ção de incansáveis papos-rádios, todavia,
a nova geração encontrará uma outra for-
ma de comunicação, mediante a implan-
tação do moderno Sistema de Enlaces Di-
gitais da Aeronáutica – SISCENDA. O “data
link” será uma realidade. Inicialmente, será
implantado no modo “ponto-a-ponto”, en-
tre os R-99 e os Órgãos de Controle de
Operações Aéreas Militares – OCOAM. Em
curto prazo, através de redes constituídas
com todos os meios operacionais de em-
prego do Poder Aéreo, sejam no ar ou se-
jam em terra.
Os enlaces operacionais de todas as
formas, avião-avião, avião-navio, avião-
Brigadeiro do ArGilberto Antonio Saboya Burnier
Chefe do Centro de Comando eControle de Operações Aéreas
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terra e avião-armamento ganharão uma
nova dimensão, dispensando grande parte
das comunicações rádios, de forma a per-
mitir a transmissão de ordens e a garantir
o melhor conhecimento da realidade
si tuacional às equipagens. Em suma,
agilizando o processo de comando e con-
trole, propiciando a capacidade ideal para
a Força Aérea enfrentar uma moderna ba-
talha aérea.
Finalmente, até por força de meu car-
go atual, não posso deixar de citar o esfor-
ço que vem sendo empreendido na área
do COMGAR para a implantação de um sis-
tema eficaz de “Comando e Controle”. É
fato, e todos sabemos disso, que atualmen-
te já dispomos de algumas áreas de exce-
lência em C2, ent re tanto res ta-nos
implementar métodos, processos, meios e
recursos humanos capacitados em signifi-
cativa maioria de nossa estrutura.
Sabemos que a guerra moderna, parti-
cularmente a guerra aérea, é vencida por
quem mais rápida e acertadamente conse-
gue fechar o c ic lo das decisões
operacionais. E isso só será possível para
aqueles que dispuserem de um eficiente
sistema de C2.
O COMGAR, recentemente, criou e
ativou em sua estrutura o Centro de Co-
mando e Controle de Operações Aéreas -
CCCOA, o qual eu tenho a honra de chefi-
ar, com a finalidade de preencher esta la-
cuna em nossa Força Aérea. Dentre as di-
versas atribuições deste Centro destaca-se
a de se interligar, diretamente e no mais
alto nível, com o Centro de Operações do
Comando Supremo – COCS do Ministério
da Defesa, com o Centro de Controle do
Teatro de Operações Marítimo – CCTOM
da Marinha do Brasil e com o Centro de
Controle da Força Terrestre - CCFTER do
Exército Brasileiro, substituindo, nesta fun-
ção o Centro de Coordenação da Aeronáu-
tica – CECOAER do EMAER.
Estamos cônscios de que teremos mui-
to trabalho pela frente. Sabemos que en-
contraremos inúmeros desafios em nossa
trilha. Contudo, ladeado por soldados do
ar profissionais, capazes e íntegros, posso
afirmar que esta batalha, mais uma vez,
será vencida.
À LA CHASSE!!!
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As Asas Rotativas das Forças Armadas BrasileirasJorge Silva Escobar - Cel.
Chefe da Seção de Estudos e Avaliações da 5ª Subchefia do EMAER
Aaceitação da necessidade de um Po-
der Aéreo independente dos poderes
Terrestre e Marítimo foi um processo
de constantes conquistas. As Forças Terrestres
e as Forças Navais atribuíram aos seus com-
ponentes aéreos, e o fazem até hoje, tarefas
relacionadas estritamente às suas necessidades
operacionais, em prol do cumprimento das
suas missões. Embora se utilizem do espaço
aéreo com aviões, helicópteros, foguetes e
mísseis, seus objetivos perseguem, de um
modo geral, o aumento do alcance do poder
de fogo, o reconhecimento de áreas maiores e
mais distantes e a mobilidade das suas forças.
O amplo potencial de aplicações da nova
arma aérea e a necessidade do seu desenvol-
vimento ficaram confinados, no início, à mol-
dura de “elemento de apoio ao combate” ter-
restre e marítimo, o que implicava concorrer
com outros segmentos de apoio das Forças de
Superfície por doutrina, estratégias, orçamen-
to e logística adequados às necessidades da
batalha em uma dimensão distinta da terra e
do mar.
A Força Aérea independente surgiu então
para atuar num espectro de missões que não
fazia parte das atividades dos meios aéreos das
Forças de Superfície. O controle do espaço
aéreo desde o tempo de paz e os ataques aére-
os a pontos sensíveis do poder nacional inimi-
go provaram, desde a 2ª Guerra Mundial, que
o Poder Aéreo influenciava fortemente a deci-
são de um conflito, ao ponto de ser hoje um
dos principais elementos do Poder Militar para
dissuasão, pronta-resposta e retaliação.
A criação da Força Aérea Brasileira, as-
sim como de outras, deu-se neste mesmo am-
biente de afirmação da necessidade de um
Poder Aéreo autônomo.
À semelhança de outras Forças Aéreas, a
FAB foi criada a partir de pessoal e de material
oriundo do Exército e da Marinha, os quais,
sem mais possuirem componentes aéreos, pas-
saram a ter suas necessidades aerotáticas apoi-
adas pela nova Força Armada.
Assim permanece até
hoje, com a Aviação de Patru-
lha apoiando a Marinha e a
Aviação de Transporte apoian-
do as operações aeroterrestres
do Exército.
Entretanto, novos concei-
tos doutrinários, novos mode-
los estratégicos e cenários
prospectivos desenvolvidos
pelo Exército e pela Marinha
exigiram que adquirissem e
desenvolvessem capacidades
aerotáticas específicas, muito
peculiares ao modo de com-
bate de cada Força.
A Marinha, desde 1954,
manteve seus helicópteros
embarcados. O Exército, no
final da década de 80, passou
a operar também seus próprios helicópteros.
A tese que se pretende desenvolver é que
cada Força deve ter suas aeronaves de asas
rotativas, pois somente assim terão o comple-
to comando e controle sobre suas atividades,
o que implica gerenciar recursos financeiros,
operacionais e logísticos necessários ao seu
funcionamento e estabelecer critérios e priori-
dades para o seu emprego.
A criação da Força Aérea independente
foi útil e indispensável para o desenvolvimen-
to de tecnologia, doutrina e estratégias sobre
o domínio do ambiente de combate denomi-
nado espaço aéreo. Ela não foi uma solução
para necessidades aerotáticas específicas,
como o apoio de helicópteros, embora as For-
ças de Superfície tenham colhido dividendos
da luta pela conquista do espaço aéreo.
Outro ponto que delimita bem a atuação
dos helicópteros de cada Força é que os ambi-
entes terrestre e marítimo continuam sendo
O Coronel Jorge SilvaEscobar é piloto operacional nasaviações de Asas Rotativas, Liga-ção e Observação e Busca e Sal-vamento; concluiu o CFOAv em1978 e exerce atualmente a fun-ção de Chefe da Seção de Estudose Avaliações da 5ª Subchefia doEMAER. Possui cursos de condu-ção de Apoio Aéreo (Força AéreaArgentina), Planejamento deTransporte Aéreo (IAC), AnáliseProspectiva (ECEMAR) e MBA emGestão Estratégica (FGV). O Co-ronel Escobar possui mais de 1500horas voadas em helicópteros.
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arenas de atuação exclusiva das respectivas
Forças de Superfície, ainda que, para isto, pre-
cisem utilizar porções do espaço aéreo
sobrejacente a estas áreas, com seus próprios
meios aéreos.
Os próprios enunciados das missões das
aviações de cada Força acentuam o seu cará-
ter de contribuição para o emprego dos pode-
res Terrestre e Naval.
A missão da Aviação do Exército é pro-
porcionar o aumento das capacidades de ma-
nobra, de comando,
de coordenação e
controle, bem como
realizar atividades
logísticas comple-
mentares às opera-
ções daquela Força.
A missão da
Aviação da Marinha
é assegurar o apoio
aéreo adequado às
Operações Navais,
a fim de contribuir para a condição de pleno
emprego do Poder Naval onde e quando for
necessário.
Os pilotos do Exército e da Marinha são,
primeiramente, Oficiais especialistas das res-
pectivas Forças. Sua formação técnico-dou-
trinária incutiu-lhes a visão que sua Força tem
do ambiente de combate, para, depois de for-
mados, adquirirem a capacidade de empre-
gar meios aéreos naquele mesmo contexto de
atuação.
Os pilotos da FAB são formados já com a
percepção tridimensional de combate da arma
aérea e o entendimento de que não há fron-
teiras, linhas de contato ou áreas de atuação
de frações de forças demarcadas no espaço
aéreo que cobre os teatros de operações ter-
restres e marítimos.
Os pilotos de helicóptero das Forças de
Superfície realizam o seu “vôo solo”, em mé-
dia, após 40 horas de treinamento de vôo. Os
pilotos de helicóptero da FAB atingem esta
etapa de formação, em média, com 15 ou 20
horas de vôo. A razão da diferença é simples:
os pilotos de helicóptero da FAB já eram, an-
teriormente, pilotos de aviões. A
operacionalidade do piloto da FAB em heli-
cópteros é uma especialização comparável à
Cavalaria, no Exército, ou à Armada, na Ma-
rinha.
Pode-se inferir, então, os custos e os in-
vestimentos necessá-
rios para que uma For-
ça dedique a
operacionalidade de
algumas de suas uni-
dades para o apoio de
atividades de outra
Força.
Seria até mesmo
um contra-senso de
conceitos como em-
prego coordenado,
cooperação e operações combinadas.
Para que essas estratégias atinjam sua ca-
pacidade máxima é preciso que cada com-
ponente (ou Força) também esteja no seu ní-
vel máximo de operacionalidade. E isso é con-
seguido na busca constante de excelência nas
respectivas áreas de atuação.
Deste modo, as peculiaridades dos ambi-
entes de combate, as missões tradicionalmen-
te atribuídas e a formação dos aviadores de
cada Força constituem, ao nosso ver, limites
claros e consistentes para que cada Força Ar-
mada brasileira empregue seus próprios heli-
cópteros, de acordo com as necessidades das
suas missões, com suas orientações doutriná-
rias e estratégicas e com suas capacidades
logísticas, sem perder de vista, contudo, que o
objetivo de cada Força deve ser uma parcela
da soma dos objetivos do país.
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Existe um hiato entre o inventor que sabe o que eles [sic] poderiaminventar se fossem capazes de saber o que seria desejado e ossoldados que sabem, ou devem saber, o que querem e o pediriamse fossem capazes de saber quanto a ciência pode fazer por eles.Em verdade, este abismo ainda não foi preenchido.
Winston S. Churchill
*Artigo reproduzido da revista Aerospace Power Journal, ediçãoem português do 3º trimestre de 2001.
Desde o começo da Segunda Guerra
Mundial, a Força Aérea viu a intro-
dução do avião a jato, do radar, das
bombas atômicas, dos mísseis balísticos, dos
computadores, dos lasers, das armas guiadas
com precisão, dos satélites, dos sensores (no-
turnos) infravermelhos (IR), dos veículos aére-
os não tripulados, da tecnologia stealth –– a
relação das contribuições científicas e técni-
cas feitas aos sistemas de armas é longa e sua
participação no êxito do combate na guerra é
nada menos que notável.
Ciência e tecnologia: vantagem para o combatente.Entretanto, por mais rápido que as novas
armas tenham sido introduzidas na Força Aé-
rea operacional, os avanços na ciência e na
tecnologia excederam de muito até esse rit-
mo, crescendo a uma taxa exponencial. Os
registros de milênios indicam que o conheci-
mento mundial dobrou, desde os anos de 1950,
em comparação com o período que vai do
começo dos tempos até a década de 1950, e o
ritmo está se acelerando. Este crescer do co-
nhecimento derramou-se so-
bre o combatente na guerra. O
guerreiro de hoje está usando,
para lutar, sistemas de armas
mais tecnologicamente sofisti-
cados do que no passado, e
isto resultou em um número
menor de guerreiros necessá-
rios ao combate no campo de
batalha.
A figura 1 mostra o de-
créscimo espetacular na
densidade de número (ou
guerreiros por km2) tornado
possível pela exploração da
ciência e da teconologia
(C&T) adiantadas. Introduzir
C&T no campo de batalha
capacitou menos guerreiros
a produzirem mais dano,
com mais precisão, do que
no passado. Por exemplo, o
alcance da lança foi ampli-
ado pelo arco e flecha. Este
alcance e poder destrutivo
foi ampliado pela bala o
que, por sua vez, foi ampli-
ado pela granada de ca-
nhão; e isto foi ainda ampli-
ado pelas aeronaves e pelos
mísseis balísticos.
No seu texto a respeito da Iniciativa
de Defesa Estratégica, para o National War
College, o Cel Simon P. Worden alongou-
se na exploração de C&T definindo a efi-
cácia militar como medida básica do po-
der militar de uma arma.1 A eficácia mili-
tar é uma medida quantitativa do alcance
de uma arma, de sua precisão e letalidade
(ou poder destrutivo) expressos em um úni-
co número.
A Necessidade de Guerreiros Técnicos*J. Douglas Beason - Coronel
Força Aérea dos Estados Unidos da América
O Coronel J. Douglas Beason (Aca-demia da Força Aérea dos EUA;Mestrado, National DefenseUniversity; Mestrado, Doutorado,University of New Mexico) é co-mandante, Phillips Research Site,e vice-diretor, Diretoria de EnergiaDirigida, Laboratório de Pesquisada Força Aérea, Base AéreaKirtland, Novo México. Exerceu,entre outras, as funções de analis-ta graduado de política no Escritó-rio de Ciências da Casa Branca;chefe, Destacamento do LawrenceLivermore National Laboratory,Agência de Armas Especiais deDefesa; diretor de pesquisa do cor-po docente e professor-adjunto defísica na Academia da Força Aéreados EUA; e vice-diretor de ArmasAvançadas e Sobrevivência,Phillips Laboratory. Tendo recebi-do o National Defense UniversityPresident’s Strategic Vision Award,já publicou 12 livros e mais de 80trabalhos científicos, técnicos ecomerciais. Graduado com distin-ção e estagiário de pesquisa da In-dustrial College of the Armed For-ces, o Cel Beason também cursouo Air War College e a Escola deComando e Estado-Maior da USAF.
Figura 1. Densidade de pessoal no campo de batalha (por km2) (de Kenneth L.Adelman e Norman R. Augustine, The Defense Revolution: Intelligent Downsizing ofAmerica’s Military [San Francisco, California: Institute for Contemporary StudiesPress, 1990], 53)
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A figura 2 mostra o crescimento espe-
tacular da eficácia militar ao longo dos
anos, devido a C&T. Aqui, o eixo do y é
graduado em expoentes de potência de 10,
de maneira que o valor máximo de “25”
não é um simples fator cinco vezes maior
do que “20”, mas 105 ou 100 mil vezesmaior.
Por exemplo , pe la aná l i se de
Worden, os atuais mísseis balísticos inter-
continentais com ogiva nuclear (ICBM)
são 104, ou 10 mil vezes mais eficazes do
que era a artilharia em 1930. Embora a
tática e a estratégia militares tenham de-
sempenhado um papel em melhorar a
letalidade dessas armas, o crescimento
surpreendente na eficácia militar é devi-
do principalmente a uma razão, e apenas
uma razão: o adiantamento feito em C&T
e sua extensão ao guerreiro.
A ciência e a tecnologia no campo de batalhaÉ crescente a C&T presente no cam-
po de batalha. O campo de batalha de
amanhã consistirá em circuitos globais
rastreando alvos; sensores sofisticados;
combatentes conectados à informação;
plataformas stealth aéreas, terrestres e ma-
rítimas (tanto tripuladas quanto não tripu-
ladas); e sistemas de armas de alta preci-
são convencionais (não nucleares) e de
longo alcance, todos conectados com
computadores digitais.2
A figura 2 mostra que tem havido um
crescimento exponencial na eficácia mi-
litar devido a avanços em C&T, e esta ten-
dência continuará. Isto significa que, no
futuro, a Força Aérea experimentará não
apenas crescimentos de alguns poucos
pontos percentuais, ou mesmo, a dupli-
cação da eficácia militar, mas incremen-
tos de muitos milhares de vezes, todos de-
vidos à exploração de C&T.
Isto implica que a superioridade ar-
rasadora das forças armadas dos Estados
Unidos é diretamente devida aos investi-
mentos em pesquisa em C&T de defesa
feitos 20 ou 30 anos atrás.3 Este fato bem
estabelecido corporifica-se em produtos
como o caça stealth F-117, o bombardei-
ro s tea l th B-2 ; o S i s tema de
Posicionamento Global (GPS); mísseis de
cruzeiro; lasers, microeletrônica; atribui-
ção de missões de ob tenção,
processamento, exploração e transmissão
de informação; e pequenas plataformas es-
paciais, para mencionar alguns.4 As deci-
sões de investimento em C&T tomadas
décadas atrás nos levaram aonde estamos
hoje: os guerreiros na “ponta ofensiva da
clava” são mais agudos, mais rápidos,
menos visíveis, de maior alcance, mais
exatos, mais móveis e mais mortais do que
em qualquer época anterior –– enquanto
produzem menos danos colaterais.
Portanto, a lição é que os adiantamen-
tos de hoje em C&T produzirão uma nova
geração de sistemas de armas para o guer-
reiro. Entretanto, avanços em C&T de defe-
sa não acontecem da noite para o dia, nem
acontecem no vácuo. Nas palavras de um
antigo pesquisador dos prestigiosos Bell
Figura 2. crescimento da “eficácia militar” (escala logarítmica) devido a C&T (deSimon P. Worden, SDI and the Alternatives [Washington, D. C.: National DefenseUniversity Press, 1991],15)
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Laboratories, “trabalho de qualidade exige
apoio sustentado. Você não pode apenas
abrir a torneira e ter Prêmios Nobel da noi-
te para o dia”.5 Como em qualquer outro
empreendimento bem sucedido, C&T exige
suor e persistência, bem como criatividade.
Em outras palavras, C&T de defesa precisa
ser nutrida, cuidada e sustentada, senão
morrerá.
Ciência e tecnologia na base industrial de defesa,em mutação
No passado, uma infra-estrutura cons-
tituída de laboratórios, indústrias e estabe-
lecimentos de ensino de defesa gerou a C&T
que seria explorada para produzir os prin-
cipais sistemas de armas que viriam a se-
guir. O final da guerra fria obrigou a nação
a afastar-se de manter uma única base in-
dustrial de defesa, e confiar no mercado
comercial para conseguir uma fração signi-
ficativa da C&T necessária às armas de ama-
nhã.
Porém, o mercado comercial também
sofreu mudanças. A maior parte da pesqui-
sa industrial cansativa e de maior alcance
diminuiu espetacularmente. Agora as em-
presas se concentram em exigências de cur-
to prazo, como problemas de manufatura e
de atender ao mercado a tempo, e afasta-
ram-se de produzir adiantamentos de C&T
que, uma vez, já foram a base dos projetos
de longo alcance.6 Embora algumas indús-
trias continuem a desenvolver tecnologias
para ampliar e manter sua participação no
mercado, haverá, em geral, menos risco a
correr e menos inovação. Embora algumas
tecnologias de importância capacitadora
para as forças armadas sejam desenvolvi-
das, haverá menos integração de
tecnologias para finalidade de defesa.
Sem a necessária infra-estrutura ou o
estímulo do lucro, o mercado comercial não
tem motivação para realizar pesquisa em al-
gumas áreas singulares às forças militares –
– como o refinamento das miras de bomba
ou a limpeza de superfícies stealth. Além
disso, a indústria de defesa reduziu signifi-
cativamente seus investimentos em pesqui-
sa e desenvolvimento (P&D) à medida que
as aquisições militares foram reduzidas es-
petacularmente, com grandes decréscimos
da P&D interna das indústrias (IR&D). Pon-
do de parte as oportunidades de estabele-
cer interesses conjuntos em tais áreas de uso
duplo, como as tecnologias espaciais, a in-
dústria está se afastando da pesquisa de lon-
go prazo.
Embora os laboratórios de defesa este-
jam em posição de assumir esse papel, eles
também estão sofrendo significativamente
da dificuldade de atrair talentos de primei-
ra linha, já que também estão sendo dimi-
nuídos. Este problema não é só do Depar-
tamento de Defesa (DOD); os laboratórios
de segurança nacional do Departamento de
Energia têm o mesmo problema.7 A despei-
to disto, os laboratórios do DOD têm uma
função vital para fornecer a ponte de tran-
sição crítica de C&T, de modo que a arma
correta, com os aprimoramentos corretos,
chegue aos guerreiros.
A necessidade de guerreiros tecnicamentecompetentes
A natureza sofisticada de C&T exige a
atenção de especialistas. Do mesmo modo
que requer muitos anos de experiência tor-
nar-se um piloto da Força Aérea, explorar a
C&T apropriada para o guerreiro exige anos
de estudo e experiência de pesquisa.
Certamente, é necessário um quadro es-
pecializado de técnicos civis para apoiar a
base de C&T de defesa. Eles forneceriam
continuidade de longo prazo e fariam com
que a ansiedade de futuro fosse temperada
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pela realidade e pelas lições do passado.
Alguns chegam a argumentar que, porque a
missão das forças armadas é combater em
guerras e vencê-las, esse quadro de pessoal
científico deveria ser constituído apenas de
civis –– deixando a guerra aos guerreiros e
permitindo que este quadro civil produzis-
se novas armas. Há muito de verdade no
argumento de que os militares devem se
concentrar em sua competência central de
combater.
Entretanto, os guerreiros não podem ser
isolados do processo de obter a arma cor-
reta no campo. Os guerreiros têm de estar
envolvidos neste processo e precisam ter a
formação prévia correta para fazê-lo. Esses
guerreiros precisam ser oficiais técnicos,
competentes em C&T e capazes de compre-
ender e influenciar todas as fases do pro-
cesso de aquisição –– do cientista que exe-
cuta a pesquisa básica ao executivo da in-
dústria que constrói o sistema de armamento
–– para obter para os guerreiros o que eles
precisam. Ao contrário de civis (inclusive
militares da reserva), os guerreiros técnicos
fornecem um contexto imediato eoperacional para concentrar C&T de modo
a ter um máximo de utilidade.
Oficiais técnicos foram expostos a uma
quantidade de experiência militar muito
maior do que seus correspondentes civis.
Isto torna o oficial alguém que está “por
dentro” no que se refere à confiança e às
necessidades do combatente –– um verda-
deiro “guerreiro técnico”. Isto é especial-
mente importante quando existe uma tran-
sição de C&T, já que a C&T é
inextricavelmente ligada a seu produto fi-
nal –– as armas de guerra. Além disso, sis-
temas de armas sofisticados exigem que não
haja descontinuidades ao longo das fases
de pesquisa e de implementação, do início
até o uso. De outro modo, este problema
de “interface” de C&T em transição pode
produzir algo que é bem intencionado mas
que, operacionalmente, deixa de ser entre-
gue ao campo.
Portanto, o melhor meio de garantir que
uma transição dotada de credibilidade exis-
ta é ter um guerreiro responsável pela arma,
do nascimento até a morte. Isto exige um
quadro pequeno, mas dedicado, de guerrei-
ros tecnicamente instruídos –– que estão
mais próximos ao combatente e, todavia,
têm uma captação impecável das sutilezas
técnicas, junto com o senso comum robus-
to e sensato –– para manter a continuidade.
Mas ele não pode fazer isso sozinho. Estes
guerreiros técnicos precisam interagir estrei-
tamente a longo prazo com especialistas
civis em C&T, bem como com a indústria, o
meio acadêmico e outros recursos nacio-
nais.
Razões para ter guerreiros tecnicamentecompetentes
As seguintes razões para desenvolver
um quadro de guerreiros tecnicamente com-
petentes foram compiladas de uma grande
variedade de fontes –– de cientistas na ban-
cada a vice-presidentes de grandes empre-
sas, e de combatentes a altos funcionários
do governo. É importante que essas razões
sejam sublinhadas, por causa das dinâmi-
cas responsabilidades que fazem parte do
trabalho dos que tomam decisão na Força
Aérea, de modo que os chefes possam co-
nhecer bem os argumentos subjacentes ao
assunto a ser decidido.
1. A Força Aérea precisa de guerreiros
técnicos que sejam compradores inteligen-
tes.
Por estarem fardados, os técnicos com
o uniforme da Aeronáutica são tratados de
maneira diferente de seus equivalentes ci-
vis. A experiência operacional dos oficiais,
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Spectrum
ou mesmo a aparência dessa experiência,
lhes dá um selo de autenticidade junto à
indústria, ao meio acadêmico e outras agên-
cias governamentais. Um oficial sabe o que
os guerreiros precisam em primeira mão. E
esse conhecimento não pode simplesmen-
te ser transmitido de forma tão convincente
por meio de um civil porque é a presençada farda e a proximidade à experiênciaoperacional que faz diferença.
Mas não basta envergar a farda. O ofi-
cial técnico precisa ter adequadas creden-
ciais acadêmicas e experiência de pesquisa
para que mereça a confiança da comunida-
de de C&T. Do mesmo modo que o brevê
de pi loto t reinado dá um selo de
credibilidade aos oficiais aviadores, um
grau de doutor é a “carteira do sindicato”
que pode abrir portas fora da Força Aérea.8
Já foi demonstrado que os homens de azul
com formação técnica podem ser aceitos e
podem mover-se em ambos os mundos, ser-
vindo como compradores inteligentes, a fim
de obterem para os combatentes o que eles
precisam quando eles precisam. Além dis-
so, oficiais com grau de doutor resolvem
problemas de maneira diferente do que o
fazem os combatentes. Eles fornecem a ca-
pacidade de conceituar, generalizar e sin-
tetizar, dando ao combatente acesso a uma
amplitude maior de informação.
2. A Força Aérea precisa de guerreiros
técnicos para ter uma visão estratégica.
O combatente precisa reagir a amea-
ças de curto prazo que podem requerer so-
luções técnicas rápidas. Guerreiros técni-
cos com conhecimento operacional podem
ajudar, seja por causa de seu conhecimen-
to direto, seja por terem acesso à tecnologia
apropriada. Além disso, há problemas de
maior alcance que exigem mais tempo e
mais pensamento do que simplesmente re-
agir como se reage a um impacto. O final
da guerra fria restringiu severamente o or-
çamento para “conseguir qualquer coisa a
qualquer custo, e consegui-lo para ontem”.
Esses problemas exigem estratégias de lon-
go prazo que estão além do rápido tempo
de reação que se requer do combatente. São
categorias de ameaças persuasivas e desa-
fios emergentes. Dois exemplos são a defe-
sa nacional antimísseis e o controle do es-
paço.
Reagir a esses problemas estratégicos
altamente técnicos exige um quadro de
guerreiros com formação científica que sim-
plesmente não pode ser obtido por meio de
cursos de treinamento de curta duração.
Esses oficiais podem fazer o acoplamento
entre as necessidades de curto prazo do
guerreiro e as estratégias de curto prazo,
para fazer face a futuras ameaças e neces-
sidades. Além de ter um ponto de vista
operacional, esses guerreiros técnicos po-
dem compreender as realidades, as capaci-
dades e as limitações do que C&T tem para
oferecer.
3. A Força Aérea precisa de guerreiros
técnicos para servirem como intermediári-
os honestos.
Os guerreiros precisam ter acesso às ha-
bilidades de um facilitador técnico e de um
tradutor que se possa mover facilmente en-
tre dois mundos –– o do guerreiro e o da
comunidade de C&T –– e que possa erguer-
se acima dos interesses paroquiais.
Observe simplesmente o número de
companhias em busca de contratos para de-
fesa. É difícil para o guerreiro tomar uma
decisão técnica adequada depois de ouvir
apresentações conflitantes que parecem
igualmente promissoras ou vazias. Contu-
do, ter um de seus próprios membros como
um intermediário honesto, permite que os
guerreiros façam aquilo que eles foram trei-
nados a fazer: vençam a guerra.
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Spectrum
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4. A Força Aérea precisa de guerreiros
técnicos para manter honesta a comunida-
de de C&T.
A comunidade de C&T sabe que o guer-
reiro técnico é seu semelhante e não um
estranho, alguém que não vai ser enganado
nem conduzido. Assim, o guerreiro técnico
pode desmascarar um blefe e “levantar a
bandeira da conversa fiada”, se a comuni-
dade de C&T não estiver sendo franca.
Em sentido oposto, os guerreiros técni-
cos podem servir como advogados da co-
munidade de C&T, se houver um problema
técnico que mereça uma atenção imediata
e alta prioridade –– como por exemplo, o
desenvolvimento surpreendentemente alto
da arma de perfuração “destruidora de
bunker”, durante a Guerra do Golfo. Dar
melhores armas aos guerreiros com a facili-
tação dos guerreiros técnicos ajudará a ga-
nhar guerras.
5. Os combatentes precisam dos guer-
reiros técnicos para que estes sejam exten-
sões deles próprios.
Guerreiros tecnicamente competentes
são necessários para promover a integração
através das descontinuidades dos estágios
de desenvolvimento de armas, da concep-
ção à mão do matador. Precisam sentir-se
igualmente em casa, da bancada científica
ao escritório do executivo industrial que
está produzindo o novo sistema de armas.
É fundamental para essa exigência a acei-
tação da pessoa como um igual tecnicamen-
te sensato e suscetível de reconhecimento.
Tendo um guerreiro neste papel, o com-
batente trabalha com um colega de confian-
ça, alguém que tenha acesso ao clima rápi-
do e perigoso da zona de guerra, bem como
ao esotérico laboratório de pesquisa. A ques-
tão principal é que os guerreiros técnicos têm
em mente o melhor interesse dos guerreiros,
porque eles próprios são guerreiros.
Preparar guerreiros técnicosDo mesmo modo que a Força Aérea não
hesitaria em dar a um oficial
aviador o encargo de fazer
voar uma ala, dar a um médi-
co militar o encargo dos cui-
dados médicos ou tornar um
auditor militar responsável por
resolver questões legais, garan-
tir que o melhor de C&T seja
explorado para a segurança na-
cional exige nada menos do que um profissio-
nal científico-militar supervisionando as preo-
cupações de C&T. Nesta época de crescimen-
to exponencial do conhecimento científico,
não ter um quadro de oficiais competentes ci-
entificamente responsáveis por C&T de defesa
é o mesmo tipo de coisa que levar a efeito uma
batalha sem combatentes. É simplesmente
impensável.
Os guerreiros técnicos podem efetuar as
transições das descobertas de pesquisa básica
para uma idéia criativa de operação, para uma
arma que satisfaça as exigências da guerra.
Acompanhar a arma que está nascendo atra-
vés das “costuras” pelos sofisticados estágios
do processo de desenvovimento garante a con-
tinuidade. Guerreiros tecnicamente competen-
tes são necessários para reconhecer a utilida-
de (ou inutilidade, conforme ilustrado pela
débacle do A-12 da Marinha) futura de uma
descoberta e fazer a transição da idéia para
que se torne uma arma militarmente útil.
Mais importante, os guerreiros técnicos
podem manter as armas concentradas em sua
finalidade última de apoiar o combatente. Po-
dem garantir que não se tornem
sobrecarregadas com exigências adicionais,
que são geralmente colocadas nas armas por
uma burocracia bem intencionada. E podem
fazer isso seguindo a arma ao longo de seu
ciclo de vida, da bancada científica até às mãos
do combatente, fornecendo uma transição sem
Os guerreiros técnicospodem efetuar as transiçõesdas descobertas de pesquisabásica para uma idéia criati-va de operação, para umaarma que satisfaça as exigên-cias da guerra.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○14
Spectrum
descontinuidades.
Entretando, como observado antes,
conseguir um quadro de oficiais técnicos
de alta qualidade não acontece da noite
para o dia. Como qualquer grupo de pes-
soas motivadas, guerreiros técnicos devem
ver incentivos na carreira, se o que se de-
seja é reter as pessoas de mais alto cali-
bre. De outro modo, os melhores e mais
brilhantes procurarão maior mobilidade
em outra parte.
Para este fim, o Scientific Advisory
Board da Força Aérea (SAB) recomendou
recentemente ao secretário da Força Aé-
rea e ao chefe do estado-maior que “pre-
cisamos ter um caminho para que oficiais
mais técnicos e científicos alcancem as
posições mais altas em nossa Força Aé-
rea”.9 Assim, “a Força Aérea deve consi-
derar a gerência de carreira de oficiais ori-
entados tecnicamente com o mesmo vi-
gor com que considera os oficiais aviado-
res”.10
Em linguagem clara, isto significa dar
aos oficiais técnicos um caminho claro e
indubitável de promoção. As designações
de ciência e tecnologia devem ser vistas
como aperfeiçoadoras da carreira e devem
existir oportunidades de chefia em todos
os níveis . Por exemplo, o Air Force
Research Laboratory (AFRL) oferece uma
excelente oportunidade para formar guer-
reiros técnicos superiores. Fazendo ligei-
ras modificações em sua estrutura já bem-
sucedida, o AFRL poderia ser um modelo
para C&T de defesa.
Para ilustrar este ponto, a maior par-
te das grandes unidades da Força Aérea
adotaram a tradicional estrutura de alas.
Existem alas de teste, e até o escritório do
comandante de cadetes da Academia da
Força Aérea dos Estados Unidos tornou-
se uma ala. Com uma certa licença e re-
conhecendo a semelhança do AFRL com
uma força aérea numerada, tanto pela pre-
sença de um oficial-general no comando
quanto pelo tamanho, seria fácil estabe-
lecer “alas de pesquisa”, localizadas nos
principais locais de pesquisa que já exis-
tem. Isto forneceria uma real oportunida-
de, em nível de ala, para o espectro de
oficiais técnicos, do comando de esqua-
drão ao comando de ala, e ao financia-
mento e à logística de C&T. Em adição,
colocar a estrutura de C&T em linha com
a Força Aérea operacional, forneceria
ampla oportunidade de chefia para formar
guerreiros técnicos.
ConclusõesC&T é fundamental para o combaten-
te. O melhor modo de explorar C&T é ter
guerreiros técnicos –– oficiais militares
competentes que tenham credibilidade
tanto junto aos combatentes quanto à co-munidade de C&T. O único modo de ga-
rantir guerreiros técnicos da mais alta qua-
lidade na Força Aérea é adotar o compro-
misso de promover um pequeno quadro
de oficiais para preencher este papel.
Se a Força Aérea quiser manter-se na
vanguarda de C&T, precisa ter oficiais que
possam “falar a linguagem”, que possam
servir completamente como interface en-
tre o guerreiro e a indústria, e que tenham
tanto visão técnica quanto experiência.
Esses oficiais precisam ser formados e pre-
cisam ter uma mentalidade técnica, não
sendo apenas oficiais que foram expostos
à C&T; porque, então, simplesmente se
obteriam oficiais com graus superiores e
um conhecimento casual de C&T –– não
verdadeiros guerreiros técnicos. Por exem-
plo, a Marinha assumiu o compromisso de
criar e promover seus oficiais técnicos por
meio de um programa rigoroso e bem de-
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Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
finido para “EDs” (oficiais em funções de
engenharia), que têm um amplo espectro
de tarefas, desde funções embarcadas até
funções de oficial-general.
Finalmente, deve estar disponível umcaminho claro para a ascensão de ofici-
ais técnicos. Um conjunto de guerreiros
técnicos é necessário no corpo de ofici-
ais, com meios para escolher ou identifi-
car os melhores e colocá-los em funções
de chefia de elevada hierarquia. Alas de
pesquisa, sob o guarda-chuva do Air For-
ce Research Laboratory, forneceriam uma
estrutura ideal. Nesses dias de programas
de alta tecnologia com prioridade nacio-
nal e altamente visíveis –– lasers basea-
dos no espaço, de fesa nac iona l
antimísseis, lasers aerotransportados e ar-
mas de energia dirigida, para citar alguns
–– os guerreiros técnicos são necessários
para a Força Aérea, agora mais do que
nunca.
Finalmente, para parafrasear um re-
cente estudo do SAB da Força Aérea, no
mundo de hoje, incerto, rapidamente cam-
biante, o guerreiro técnico precisa forne-
cer à Força Aérea capacidades para levar
a efeito qualquer missão, enfrentar qual-
quer contingência, dominar qualquer
campo de batalha e vencer qualquer guer-
ra. Apenas assim estará sendo alcançada
a meta derradeira da C&T de defesa: ga-
nhar a guerra.Notas
1. Simon P. Worden, SDI and the Alternatives
(Washington, D.C.: National Defense
University Press, 1991), 13–15.
2. Kenneth L. Adelman e Norman R. Augus-
tine, The Defense Revolution: Strategy for
the Brave New World (San Francisco:
Institute for Contemporary Studies Press,
1990), 53.
3. Genevieve J. Knezo, Defense Basic
Research Priorities: Funding and Policy
Issues (Washington, D.C.: Congressional
Research Institute, 90-506 SPR, 24 Octo-
ber 1990), 12.
4. Institute for Defense Analysis, “Report of
the Task Force for Improved Coordination
of Science and Technology Programs,”
Washington, D.C., August 1988, 8.
5. Dr. Cammy Abernathy, professsor de
ciência física na Universidade da Flórida,
citado por Robert F. Service in
“Relaunching Bell Labs,” Science 272 (3
May 1996): 639.
6. “Basic Research White Paper,” R & D
Magazine, October 1997, 9; on-line,
Internet, May 1998, disponîvel em http://
www.rdmag.com.
7. J. Douglas Beason, DOD Science and
Technology Strategy for the Post-Cold War
(Washington, D.C.: National Defense
University Press, 1997), 76-77.
8. A história mais característica do que pode
ir mal é a do dinâmico capitão mandado
fazer uma exposição para a indústria.
Após uma apresentação que impressionou
bem o pessoal da indústria, o capitão foi
convidado a examinar algum
equipamento em laboratório. Os
funcionários da indústria ficaram
desapontados quando o capitão não
chegou sequer a reconhecer o próprio
equipamento a respeito do qual acabara
de falar. Foi assim que descobriram que o
capitão tinha memorizado uma
“exposição enlatada” e não tinha
entendido uma única idéia fora de sua
apresentação.
9. New World Vistas: Air and Space Power
for the 21st Century, summary volume
(Washington, D.C.: USAF Scientific
Advisory Board, 1995), 62. Ibid., 69.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○16
Spectrum
O Major Paulo Cesar de Car-valho Faria é Engenheiro Eletrô-nico da turma de 1977 (Aspirantede 1981) do Instituto Militar deEngenharia, Mestre em Engenha-ria de Sistemas (IME) e especialis-ta em C3I pela George MasonUniversity (Virgínia – EUA). Atu-almente exerce a função de Che-fe da Seção de Sistemas do Cen-tro de Comando e Controle deOperações Aéreas (CCCOA) doComando-Geral do Ar(COMGAR). Possui, entre outros,os cursos de Extensão em Enge-nharia de Armamento Aéreo noInstituto Tecnológico da Aeronáu-tica (ITA), Básico de Guerra Ele-trônica (IPV) e Planejamento deGuerra Eletrônica (COMGAR).
Oinimigo - um Estado, uma organi-
zação criminal ou um indivíduo -
normalmente age baseado em al-
guma forma de relação custo-benefício; do
ponto de vista do Poder Aéreo, cabe determi-
nar qual o preço que induzirá o lado oposto a
aceitar as nossas condições.
Sob esse aspecto, as operações milita-
res devem ser conduzidas para que os ob-
jetivos estabelecidos (conquista territorial,
deter a ofensiva inimiga, resposta a uma
ação grave contra a segurança ou sobera-
nia nacional, imposição de uma religião,
dominação étnica, por exemplo) possam ser
alcançados com uma probabilidade razoá-
vel de êxito e a um custo aceitável.Para tanto, precisamos conhecer como
o nosso inimigo está organizado; felizmen-
te, a maioria dos sistemas atualmente em
operação1 se estrutura basicamente nos
mesmos moldes, apenas os detalhes variam.
Isso é muito importante para os planejadores
das ações militares, pois permite que con-
ceitos gerais sejam desenvolvidos, qualquer
que seja o inimigo a ser enfrentado.
O mais importante desses conceitos,
Centro de Gravidade2 , está intimamente li-
gado a um conhecimento razoável do nos-
so inimigo, pois uma vez que sabemos como
ele se organiza como sistema, podemos con-
ceber formas factíveis de impor-lhe custos
intoleráveis, deixando-o sem alternativas às
nossas exigências: há, portanto, um interes-
se primordial na identificação dos alvos a
serem atacados.Uma visão sistêmica do inimigo com-
porta em si vantagens que não podem ser
usufruídas se o encararmos como uma mera
coleção de navios, carros de combate e ae-
ronaves. O sistema maior (o todo), na ver-
dade, é composto de vários outros
subsistemas (liderança, orgânico essencial,
infra-estrutura, população, militar) que se
relacionam entre si, sendo o subsistema mi-
litar apenas a “blindagem” dos demais e não
a sua essência. Certamente, não devemos
fazer da destruição do “es-
cudo” do nosso inimigo o
objetivo principal desse jogo
de guerra, sendo o nosso Po-
derio Militar um meio para
alcançarmos esse f im:
convencê-lo a aceitar a nos-
sa posição.
A guerra não se resume,
portanto, ao choque puro e
simples de forças militares;
é, sobretudo, uma questão
de se obter do oponente,
pelas formas mais variadas,
algo que ele não está incli-
nado a ceder, impedindo-o
de optar por uma ação alter-
nativa inaceitável a nossos
interesses. Estamos falando
de sermos capazes de impor
ao adversário algo cujo cus-
to seja tão elevado que não
lhe reste opção diferente da submissão à
nossa vontade.
Em geral, devemos tornar esse custo –
político, econômico e militar – muito supe-
rior ao preço que ele aceita pagar. Uma ou-
tra possibilidade menos sutil, seria causar-
lhe a paralisia estratégica3 e operacional.
O entendimento do modo como o ini-
migo se organiza facilita a determinação dos
seus Centros de Gravidade que se transfor-
marão nos objet ivos a serem
desestabilizados, desequilibrando-o, na ten-
tativa de causar a sua paralisia tanto
operacional quanto estratégica – uma espé-
cie de estímulo com respostas completa-
mente desproporcionais à excitação do sis-
tema, como ocorre na ressonância. Aliás, a
guerra é tipicamente não linear , ou seja, as
Entendendo o Papel do Poder Aéreo na Guerra ModernaPaulo Cesar de Carvalho Faria – Maj.-Eng.
COMGAR
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Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mínimas variações nas condições iniciais
têm conseqüências totalmente desproporci-
onais.
Ataques s imultâneos a objet ivos
cruciais, os Centros de Gravidade, do Esta-
do e das Forças Inimigas, representam a pa-
ralisia e a derrota rápida do adversário. O
Poder Aéreo é, necessariamente, o instru-
mento ideal para a esses tipos de ataques,
que passaremos a denominar de “Guerra
Paralela”, podendo tirar vantagem, muito
mais que as Forças de Superfície, do apro-
veitamento simultâ-
neo dos Princípios
da Massa e da Ma-
nobra.
A Guerra Para-
lela coloca muitas
partes do sistema
do inimigo sob ata-
ques simultâneos,
tornando pratica-
mente impossível
para o sistema ata-
cado defender-se ou reparar-se. Cada ata-
que, isoladamente, seria incapaz de produ-
zir o efeito desejado, porém, sendo eles
direcionados simultaneamente a diversos
subsistemas importantes do inimigo, o seu
efeito combinado será devastador: num
mesmo momento, funções sistêmicas impor-
tantes deixarão de operar - as comunica-
ções cessam de funcionar, o fornecimento
de energia elétrica fica interrompido, os
Centros de Defesa Aérea param de contro-
lar Unidades subordinadas e elementos-cha-
ve do Sistema de C2 inimigo são destruídos,
colocando-o num dilema causado pelo caos
reinante.
Tirando proveito das não-linearidades da
guerra, a vitória vem não somente pela supre-
macia no conflito direto entre forças militares,
mas pelo ataque aos Centros de Gravidade do
inimigo que, dependendo da situação, se iden-
tificam com os seus líderes, com o seu exérci-
to, com a sua capital ou com os seus aliados.
Nos tempos modernos, a complexidade da
guerra cresceu assustadoramente e, também,
os efeitos da sua característica predominante-
mente não-linear.
A ênfase no uso de tecnologia de ponta,
como aeronaves e mísseis com assinaturas ele-
tromagnética e térmica imperceptíveis, bem
como munição precisamente guiada confere
ao Poder Aéreo as vantagens inerentes à Sur-
presa e à Iniciativa
da Ofensiva, permi-
tindo alcançar, si-
multaneamente e
com perdas míni-
mas, objetivos estra-
tégicos e táticos.
Um ataque si-
multâneo e rápido
ao inimigo, cuidado-
samente preparado,
pode detê-lo pela
paralisia das suas Forças, provocando a sua
derrota num curto período de tempo, pois o
priva da sua capacidade operacional, reduzin-
do substancialmente o seu potencial ofensivo.
Novamente, pelas suas características, o Po-
der Aéreo encontra-se em situação privilegia-
da no cumprimento dessa missão.
Contudo, a menos que a ofensiva inicial
na Guerra Paralela suprima a capacidade do
inimigo de empregar armas de destruição em
massa ou armamento convencional avançado,
é aconselhável que a Guerra Aérea Paralela,
do tipo “blitzkrieg”, seja seguida da retração e
da dispersão das Forças Terrestres e Navais
Combinadas, negando-se, assim, ao inimigo
alvos mais convidativos a possíveis contra-ata-
ques, especialmente aqueles que fizerem uso
de armas de destruição em massa.
Para obter mais informação sobre a for-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18
Spectrum
ma como o inimigo se organiza, devemos
decompor seus sistemas em subsistemas,
detalhando a nossa compreensão do
seu modo de funcionamento até o nível de
conhecimento considerado ideal. Isso nos
permite identificar o que verdadeiramente
desconhecemos e a concentrar a nossa
pesquisa sobre informação nos dados re-
levantes.
Os amantes do raciocínio estruturado
reconhecem que estamos falando de um
processo de diferenciação, ao invés do tra-
dicional processo de integração. A diferen-
ciação tem se demonstrado extremamente
útil no trato dos complexos sistemas atual-
mente em uso em todos os campos do co-
nhecimento humano.
É interessante notar que no cotidiano
as coisas acontecem exatamente no senti-
do contrário: aprendemos a encarar o mun-
do de modo essencialmente tático, come-
çando o nosso aprendizado pelos níveis
mais baixos e, então, construindo o nosso
caminho para o topo. Há, conseqüente-
mente, uma forte e natural tendência a ra-
ciocinarmos taticamente quando nos de-
paramos com os diversos cenários ao lon-
go da nossa carreira.
Os aspectos negativos desse vício de
raciocínio se manifestam quando temos
que pensar, geralmente nos mais altos pos-
tos da hierarquia militar, em vencer guer-
ras e não no confronto puro e simples de
forças. Nesse caso, se quisermos ser bem
sucedidos, devemos abordar o problema
sob o ponto de v is ta es t ra tégico e
operacional - uma decomposição “top-
down” da situação em análise, o que re-
presenta um desprendimento, ao menos
momentaneamente, do enfoque tático que
tende sempre, por razões já explicadas, a
predominar.
Nesse modo de travar a guerra, está
implícito que é preciso educar o inimigo a
perceber os efeitos das nossas ações, numa
espécie de Operações Ps icológicas,
disponibilizando informações sobre a ex-
tensão das perdas que podemos impor, e
sobre os efeitos que essas perdas podem
causar em curto e em longo prazo.
Os fundamentos para o emprego do
Poder Aéreo, no contexto atual, podem ser
resumidos da seguinte forma:
• Entender o ambiente político e
tecnológico;
• Identificar os objetivos políticos;
• Determinar qual a melhor maneira de
induzir o inimigo a ceder à nossa
vontade (imposição de custo
proibitivo, paralisia estratégica /
operacional ou destruição);
• Usar a abordagem sistêmica para obter
informação sobre o inimigo que
permita a identificação dos seus
Centros de Gravidade;
• Atacar os alvos certos em paralelo, tão
rápido quanto possível.
A análise dos recentes conflitos (Guer-
ra do Golfo Pérsico, por exemplo) revela
que o Poder Aéreo mostrou-se realmente
decisivo para a obtenção dos resultados
pretendidos; ainda, do aprofundamento
dessa análise, as constatações abaixo
listadas contribuem bastante para o enten-
dimento da verdadeira revolução que vem
acontecendo na prática da guerra:
• A importância dos ataques estratégicos,
considerando a fragilidade dos Estados
nesse nível da guerra;
• As conseqüências fatais da perda da
Superioridade Aérea Estratégica e
Operacional;
• Os efeitos esmagadores da “Guerra
Paralela”;
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
• A fragilidade das Forças de Superfície no
nível Operacional da guerra;
• A redefinição dos conceitos de Massa e
Surpresa em função da tecnologia “stealth”
e da precisão do armamento moderno;
• A viabilidade da “ocupação aérea”;
• A dominância do Poder Aéreo (melhor
relação custo benefício, maior mobilidade
e rapidez, com menor risco de perdas
humanas e materiais);
• A importância da informação nos níveis
Estratégicos e Operacionais e Técnicos da
guerra.
Conclusão
É incontestável que um novo mundo
vem sendo construído ao nosso redor e que
verdadeiras revoluções estão acontecendo
na política, nos negócios e na guerra. De-
vemos aprender a lidar com essas profun-
das transformações, se quisermos sobrevi-
ver; ignorá-las não é uma boa prática. Ob-
viamente, é da natureza humana permane-
cer, por força da inércia ou reação às mu-
danças, agindo como se o mundo fosse o
mesmo, mesmo que esse procedimento seja
perigoso – o mundo exterior fez obsoletas
as “velhas” formas de empreender a guer-
ra. Aceitar as mudanças manifestas nos úl-
timos conflitos dos tempos modernos não é
fácil, mas de modo algum impossível, se re-
solvermos usar o atributo que é único da
nossa espécie – pensar!
Bibliografia
[1] WARDEN III, John A. “The air Cam-
paign”. Washington: Pergamon-Brasseys,
1989.
[2} Leonhard, Robert R. “The Principles of
War for the Information Age”. Novato,
California: Presidio Press 2000
[3] Ribeiro, Narcelio R., “O Poder Aéreo nas
Operações Psicológicas”. Revista Spec-
trum, , março de 2001.
Notas
1 Sistemas organizados com base nos
organismos vivos são similares, pois
executam sempre as mesmas funções:
uma liderança que coordena os
diversos componentes, funções
essenciais de conversão de energia,
uma infra-estrutura que permite a
conexão entre os subsistemas, uma
população que o faz funcionar e
subsistemas de defesa que o protegem
contra ataques.
2 O eixo de todo o poder e movimento,
no qual tudo se apoia. Esse é o ponto
de concentração do nosso esforço
desestabilizador – características
estratégicas, localidades e capacidades
de onde o oponente extrai a sua
liberdade de ação, força física e
vontade de lutar pelos seus objetivos.
3 A idéia de causar no inimigo a
“paralisia” é bastante simples.
Encarando-o como um sistema, temos
que identificar aquelas partes a serem
afetadas, para impedir que o sistema
sob ataque seja capaz de executar as
funções que desejamos neutralizar. Em
geral, devemos começar pela
supressão da capacidade da liderança
inimiga de obter, processar e usar
informação essencial às suas ações;
assim procedendo, teremos causado a
paralisia do sistema inimigo no seu
nível estratégico.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20
Spectrum
Desde a Revolução Industrial o mun-
do sofreu profundas modificações
no tamanho e na complexidade das
organizações. Um dos principais reflexos des-
sa mudança pôde ser observado no crescimen-
to da divisão do trabalho, acarretando uma
maior segmentação das responsabilidades.
Dessa forma, ficou muito mais complexa a
alocação de recursos para atividades que vi-
sam o crescimento da organização como um
todo, sendo esse tipo de problema um dos fo-
cos de estudo da Pesquisa Operacional (PO).
Dentro desse contexto, o Comando da
Aeronáutica (COMAER) tem procurado formas
de controlar recursos e pessoal de maneira a
alcançar a máxima operacionalidade da For-
ça. Denominado Sistema de Gerenciamento
de Padrões Operacionais, o SISGPO é um pro-
jeto coordenado e patrocinado pelo Estado-
Maior da Aeronáutica (EMAER), que visa do-
tar o Comando da Aeronáutica de um instru-
mento analítico para o gerenciamento da ati-
vidade aérea no âmbito da Força Aérea Brasi-
leira. Uma das fases do projeto, que vem sen-
do desenvolvida através do Instituto de Estu-
dos Avançados (IEAv), é a medição e compa-
ração da eficiência relativa dos Esquadrões de
vôo. Dessa forma, torna-se necessária a utili-
zação de métodos e ferramentas estatísticas
capazes de auxiliar no cálculo e análise des-
sas eficiências.
Um método não-paramétrico clássico,
desenvolvido para medir a eficiência relativa
de diferentes entidades de um gênero comum
é a Análise Envoltória de Dados (em inglês,
Data Envelopment Analysis- DEA) [1]. Além
de ser uma ferramenta relativamente recente e
de prestígio crescente em termos de aplicações
práticas, DEA mostra-se bastante robusto no
estabelecimento de novas metas (benchmarks)para entidades consideradas aquém da fron-
teira de eficiência, através de uma análise pré-
via dos inputs e outputs utilizados.
As diferentes entidades
analisadas, ditas Decision
Making Units (DMU’s), são
comparadas em função do
conceito de eficiência de
Farrel [2] que compreende um
quociente entre as somas pon-
deradas dos outputs y e dos
inputs x de cada DMU, onde
u é o vetor de pesos ou
ponderador de y e v é o
ponderador de x. Nos casos
de múltiplos inputs – múltiplos
outputs, temos que uma me-
dida de eficiência relativa é
dada por [2]:
(1)
Desta forma, a medida de
eficiência depende de um con-
junto de pesos a serem atribu-
ídos a cada input e a cada
output. As letras u e v da fór-
mula de eficiência são variá-
veis, sendo que a cada entida-
de avaliada (DMU) serão atri-
buídos pesos diferentes. Os
pesos são escolhidos pelo DEA
de maneira a maximizar a efi-
ciência de cada DMU.
Diversos testes e simula-
ções estão sendo feitos para
adequar essa metodologia em
algumas das fases do Projeto
SISGPO, sendo que esse artigo tem como ob-
jetivo fazer uma simulação de como seria a
análise da eficiência relativa de um dos Esqua-
drões de Vôo da Força Aérea Brasileira usan-
do-se DEA. O Esquadrão escolhido para esse
primeiro estudo foi o Grupo de Defesa Aérea
(GDA) e, a partir desse estudo, tem-se por meta
suprir o projeto SISGPO de indicadores que
O Capitão José VirgílioGuedes de Avellar Piloto de Pa-trulha, concluiu o CFOAv em1990 e atualmente está cursandoo último ano de Engenharia Me-cânica-Aeronáutica no ITA.
O Aspirante a Oficial Enge-nheiro Alexandre Olympio DowerPolezzi , atualmente está cursan-do o último ano de EngenhariaMecânica-Aeronáutica no ITA.Menção honrosa na OlimpíadaBrasileira de Matemática.
Ambos vêm desenvolvendotrabalhos na área de PesquisaOperacional e Data EnvelopmentAnalysis para o Comando da Ae-ronáutica através da parceria ITA-IEAv, apresentando artigos no IVSimpósio de PesquisaOperacional da Marinha (SPOLM-2001) e no IFORS 2002(International FederationOperations Research Society -Congresso Internacional de Pes-quisa Operacional) que será rea-lizado na Escócia.
Utilização de Data Envelopment Analysis na otimização da utilização de horas de vôonos Esquadrões da FAB.
José Virgílio Guedes de Avellar – Cap.-Av.Alexandre Olympio Dower Polezzi – Asp.-Of.-Eng. ITA
21
Spectrum
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Tecnologias a serviço da superioridade de informação
André Luiz Pierre Mattei, Maj.-Av. - CTAFábio Durante Pereira Alves, Maj.-Av. - COMGAR
possibilitem uma melhor avaliação de como
está sendo gerenciada a atividade aérea como
um todo.
DEA na avaliação do GDA
Um estudo inicial de aplicação de
DEA foi feito no Grupo de Defesa Aérea
(GDA) com a finalidade de se determinar
a eficiência de emprego ar-ar. A partir de
dados hipotéticos, balizados pelo Oficial
de Doutrina do Esquadrão, foi compara-
da a eficiência atingida pelo mesmo num
determinado ano com a alcançada em
anos anteriores. A eficiência foi calcula-
da através do percentual de acerto dos
pilotos obtido nas diversas modalidades
(outputs) em relação ao número de mis-
sões realizadas (inputs). Assim, foi mais
eficiente o piloto que conseguiu acertar
mais a partir do menor número de mis-
sões de treinamento. O valor da eficiên-
cia do Esquadrão em um determinado ano
é dado pela média dos valores da eficiên-
cia dos pilotos naquele ano.
Modelo implementado:
Entradas (inputs):
Número de missões de treinamento
realizadas por cada piloto.
Missão 11F: treinamento de combate
aéreo;
Missão 44F: treinamento de
interceptação;
Missão 39F: escolta;
Missão 56F: patrulha aérea de
combate; e
Missão 60F: varredura
As três últimas missões foram agrupa-
das em uma só, já que são realizadas si-
multaneamente.
Saídas (outputs):
Porcentagens de acerto em treinamen-
to de missões 11F e em missões 44F.
Resultados obtidos:
Os resultados do modelo estão colo-
cados no gráfico a seguir. O número de
horas de vôo se manteve praticamente
constante em todos os anos, variando-se
apenas a distribuição das horas por tipo
de missão e por piloto. Esse fator é muito
relevante, pois graças a ele foi possível a
comparação dos Esquadrões a partir dos
mesmos orçamentos anuais.
No gráfico acima, a linha verde re-
presenta a média e a linha azul, o desvio-
padrão dos valores das eficiências dos pi-
lotos. As três barras de cada ano repre-
sentam a quantidade de cada tipo de mis-
são executadas em média pelo piloto. As-
sim seria possível, a partir do gráfico, con-
cluir que a melhor maneira de distribuir
as horas de vôo é a do ano 2, já que apre-
senta o maior valor médio.
Outro ponto a ser analisado é o que
diz respeito ao desvio-padrão, por exem-
plo na comparação do ano 3 com o ano
4. Apesar de os dois anos terem alcança-
do valores muito próximos de eficiência,
o ano 4 obteve valor muito menor de des-
vio-padrão, mostrando que nesse ano o Es-
quadrão esteve muito mais homogêneo do
que o no ano 3.
Gráfico 1 : Gráfico da eficiência média doEsquadrão em comparação com o tipo detreinamento em cada ano.
Continua na página 34
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22
Spectrum
Planejamento de uma Missão de Ataque
Maj.-Av. Davi Castro
Entre os muitos fatores que devem ser le-
vados em consideração no planejamen-
to de um ataque existe a avaliação do
número de aeronaves necessárias para cum-
primento da missão. A resposta se baseará
numa análise do alvo e no grau de precisão
possível de se atingir com as aeronaves, arma-
mentos e pilotos disponíveis. Sobre esses últi-
mos, o que se tem são os dados de treinamen-
tos em estande, realizados nas diversas moda-
lidades de emprego. Mas como usar esses da-
dos?
Neste artigo pretendemos aplicar alguns
conceitos de Probabilidade e Estatística na so-
lução de um problema de nosso dia-a-dia
operacional. O exemplo e os dados são com-
pletamente fictícios, elaborados tão somente a
título de ilustração. Entretanto, o modelo apli-
cado, por ser genérico, pode ser ajustado para
qualquer unidade aérea que pretenda estimar o
número de aeronaves necessárias para cumpri-
mento de uma missão de ataque ao solo.
A situaçãoSuponhamos que a seguinte situação te-
nha sido apresentada ao A-3 da FAE III: “Um
determinado alvo circular, para ser considera-
do destruído, deve ser atingido por pelo me-
nos uma bomba a uma distância máxima de
15 ft do seu centro. Você deve enviar o menor
número possível de aeronaves para atacá-lo
de maneira que cada uma faça apenas uma
passagem contra o alvo (reposicionamento
proibitivo devido à presença de artilharia anti-
aérea) e que a missão seja cumprida com 90%
de chance de êxito”.
Propositadamente, nosso exemplo não des-
ce ao detalhe da análise de dano, vamos assu-
mir simplesmente que as informações sobre o
alvo estão disponíveis. Outras duas considera-
ções foram feitas para facilitar a abordagem: o
alvo é circular e cada aeronave deve lançar ape-
nas uma bomba. Veremos mais tarde porque.
Os dados disponíveisVamos supor ainda que para resolver o
problema o oficial de operações tem em mãos
os resultados de uma missão de qualificação
em lançamento de bombas para dez pilotos
de dois esquadrões diferentes, “A” e “B”. So-
mente um dos Esquadrões deverá ser escalado
para o ataque.
Tabela 1: Resultados para uma missão de lançamento debombas dos esquadrões “A” e “B”Piloto nº Esquadrão “A” Esquadrão “B” 01 35 ft às 6 horas 25 ft às 4 horas 02 50 / 1 35 / 7 03 45 / 10 20 / 5 04 bingo 30 / 3 05 20 / 2 5 / 12 06 60 / 10 35 / 11 07 45 / 4 10 / 1 08 55 / 7 20 / 11 09 bingo 10 / 6 10 40 / 4 20 / 10
Figura 1: Apresentação pictorial dos valores da tabela 1.Em azul os lançamentos do esquadrão “A”
e em vermelho os lançamentos do Esquadrão “B”.
Para melhor visualização, a “roleta” com
os acertos dos dois esquadrões está apresenta-
da na figura 1. Os dados disponíveis parecem
bons, não se observam tendências ou qualquer
outra anomalia que possa nos fazer desistir de
usá-los. Fazendo a projeção dos vinte resulta-
dos nos eixos x (horizontal) e y (vertical), che-
gamos nos valores da tabela 2 a seguir:
23
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Tabela 2: Resultados da tabela 1 projetados nos eixoscartesianos. A origem é o centro do alvo.
Piloto Esquadrão “A” Esquadrão “B”x y x y
1 0 -35 22 -122 25 43 -17 -303 -39 22 10 -174 0 0 30 05 17 10 0 56 -52 30 -17 307 39 -22 5 98 -27 -48 -10 179 0 0 0 -1010 35 -20 -17 10
média -0,2 -1,9 0,4 0,1σ 30,9 29,3 16,7 17,9
Observe que o Esquadrão “A”, apesar de
possuir um maior número de bombas exatamen-
te no centro do alvo (bingo), tem também um
maior número de bombas lançadas longe, re-
sultando em uma dispersão (σ, desvio padrão)
maior que para o outro Esquadrão. As médias
não estão “zeradas” mas podem ser despreza-
das pois representam erros muito pequenos. Se
houvesse uma tendência muito forte de resulta-
do fora do centro do alvo, deveriam ser
pesquisados prováveis problemas na
harmonização, nos parâmetros de lançamento,
nos ajustes de computadores e/ou visores etc.
Uma vez que o alvo é circular e temos re-
sultados compatíveis, devemos estabelecer des-
vios padrões iguais para os eixos x e y. Serão
usados os seguintes valores: σA = 30 e σB = 17 ft.
Até aqui o que fizemos foi criar um mo-
delo probabilístico para descrever a capacida-
de de cada Esquadrão em acertar um alvo cir-
cular. A partir desse ponto assumimos que qual-
quer combinação de pilotos do Esquadrão “A”
apresenta o mesmo desempenho baseado em
σA e, da mesma forma, para o Esquadrão B com
σB. Estabelecemos, portanto, uma medida ob-
jetiva da capacitação operacional de cada Es-
quadrão, passível de ser melhorada conforme
sejam realizadas mais missões de estande, o
que permitiria um acompanhamento contínuo
da qualidade do treinamento
dos pilotos.
SoluçãoPara resolver o problema
proposto, temos que, primei-
ramente, calcular a probabili-
dade de cada esquadrão acer-
tar o alvo. Isso é feito usando-
se uma fórmula bastante sim-
ples para o caso de alvo circu-
lar [1]:
onde
Phit = probabilidade de acerto
R = raio do alvo (15 ft no caso
em questão)
σ = desvio padrão
Esta fórmula deriva da distribuição
binormal (produto de duas distribuições nor-
mais independentes), cujos detalhes fogem ao
objetivo do artigo. Fazendo o cálculo para cada
Esquadrão chegamos aos seguintes valores:
Esquadrão “A” Esquadrão “B”
Phit
0,1175 (11,75 %) 0,3225 (32,25 %)
Levando-se em consideração que cada
aeronave fará apenas um lançamento, pode-
mos usar as probabilidades calculadas de for-
ma independente. Em outras palavras, cada
lançamento pode ser tratado como um evento
isolado, descorrelacionado dos demais. Isso é
importante também porque independência é
uma condição implícita na fórmula que usa-
mos logo acima.
Bem, desejamos ter 90% de certeza que
pelo menos uma bomba atingirá o alvo. Ou
seja, qualquer que seja “n”, o número de bom-
bas lançadas, uma delas obrigatoriamente de-
verá cair sobre o alvo, as outras podem até
O Major Davi Rogério da Sil-va Castro é piloto de Ataque, con-cluiu o CFOAv em 1987 eatualmente é mestrando em Aná-lise Operacional na NavalPostgraduate School, EUA. É En-genheiro Eletrônico pelo InstitutoTecnológico de Aeronáutica (ITA)e possui o Curso Básico de Guer-ra Eletrônica.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○24
Spectrum
mesmo errar. Para entender o que está em jogo,
vamos fazer os cálculos das probabilidades
para “n” igual a 2, quando então surgem qua-
tro situações:
a) as duas bombas acertam o alvo. Como
os eventos são independentes, multiplicamos
as probabilidades de sucesso:
b) a primeira acerta e a segunda erra o
alvo. A probabilidade de errar é o complemen-
to da probabilidade de acertar:
c) a primeira bomba erra e a segunda
acerta, mesmo resultado da letra b:
d) as duas bombas erram o alvo:
Observe que apenas a situação (d) não
nos serve e que todas as quatro probabilida-
des somadas nos fornecem 100%. Verifique
também que no caso geral, a probabilidade
de errar o alvo em todos os “n” lançamentos é
Dessa forma, podemos descrever o resul-
tado de “pelo menos um acerto” como sendo
“todas as possibilidades, menos a que repre-
senta nenhum acerto”. Como temos que alcan-
çar 90% de êxito na missão, chegamos à fór-
mula final (lembre que 90% = 0,9):
Para determinar “n” basta aplicar
logaritmos em ambos os termos da expressão
acima:
Finalmente temos:
Esquadrão “A” Esquadrão “B”nº mínimo de aeronavesnecessárias 19 6probabilidade de êxito 90,7 % 90,3 %
ConclusãoO Esquadrão “B” é o mais indicado para
cumprimento da missão. O Esquadrão “A”
sequer teria condições de atender a solicita-
ção proposta, pois cada piloto teria que fa-
zer dois lançamentos. Verificamos que mais
importante que possuir poucos expoentes, é
fazer com que todos os pilotos tenham bons
resultados.
Como foi explicado no início do arti-
go, os dados são fictícios, gerados para cau-
sar um certo impacto na conclusão. Obser-
ve que a diferença no desvio padrão é apro-
ximadamente 50%, mas o número de aero-
naves resultante para o Esquadrão “A” é mais
que três vezes maior que para o Esquadrão
“B”. Chegar a essa conclusão sem fazer os
cálculos é impossível.
Podemos concluir que é possível fazer
o planejamento de uma missão baseado em
resultados de treinamento: quanto mais da-
dos, melhores as medidas de eficiência e me-
lhores as estimativas. Podem-se estabelecer
medidas de eficiência não só para o esqua-
drão mas também para cada piloto, em cada
modalidade de emprego, o que vai aprimo-
rar mais ainda o planejamento.
Referências
[1] PRZEMIENIECKI, J. S.; “Mathematical
Methods in Defense Analyses”, 3rd Edition,
AIAA Education Series, 2000.
[2] ANDRADE, Eduardo Leopoldino;
“Introdução à Pesquisa Operacional”, 2a.
Edição, Livros Técnicos e Científicos
Editora SA, 1998.
25
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Omíssil sidewinder é, de longe, o
mais famoso míssil ar-ar de curto
alcance. Em 1999 foi lançado um
livro que conta sua verdadeira e fiel história:
“Sidewinder – Creative Development at China
Lake”. O autor, professor Ron Westrum, co-
lheu informações durante 12 anos e contou
com o apoio de membros da própria equipe
que projetou o míssil para descrever os suces-
sos e os insucessos do projeto. Para nós brasi-
leiros, que não aceitamos o insucesso de um
único míssil que erra o alvo, a leitura desse
livro revela enormes surpresas, pois mostra de
maneira clara, por meio de estatísticas e da
apresentação de fatos, que a certificação de
um míssil dessa classe e sua integração nas
aeronaves não significa uma probabilidade de
sucesso de 100%, nem mesmo de 70%. Muito
pelo contrário, com menos de 15% de suces-
so o sidewinder já foi utilizado na guerra do
Vietnam, mostrando que a melhor arma é aque-
la que já existe no seu arsenal e a próxima arma
virá do aprimoramento da qua-
lidade da primeira, na melhoria
contínua do projeto; contando
com a realimentação indispen-
sável do operador, que repre-
senta o cliente final do produ-
to. O desenvolvimento do
sidewinder começou com o
AIM-9A, em 1947. O AIM-9B,
implantado nas aeronaves da
marinha americana em 1956, foi
o mais fabricado (95.000 apenas
nos Estados Unidos) e o AIM-9X,
que incorpora os avanços
tecnológicos atuais, deverá ser fa-
bricado a partir de 2002. A figu-
ra abaixo ilustra as transforma-
ções que sofreram as estruturas
da seção de controle e guiagem
do sidewinder. As demais par-
tes da estrutura sofreram pou-
cas modificações externas.
A Saga do Míssil Sidewinder
Paulo Roberto de SouzaGerente do Programa MAA-1
O Maj. R/R Paulo Roberto deSouza é engenheiro eletrônico for-mado pelo ITA em 1979, Mestre emEngenharia Eletrônica pela NavalPostGraduate School da Marinhados Estados Unidos (1986) e pos-sui o Curso de Extensão Universi-tária em Engenharia de Armamen-to Aéreo (ITA-1980). Trabalhou noCTA, como engenheiro do projetodo míssil MAA-1 (“Piranha”) de1981 a 1984 e como Gerente doProjeto MAA-1 de 1987 a 1998. FoiChefe da Divisão de Sistemas Béli-cos do CTA de 1992 a 1998. Pas-sou a trabalhar na empresa Mectronem ago/98, onde é o Gerente doPrograma MAA-1 (Implantação doMíssil MAA-1 na FAB).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○26
Spectrum
O desenvolvimento do primeiro
sidewinder é uma demonstração de talento e
perseverança de uma equipe de engenheiros
e técnicos do Naval Weapons Center, em Chi-
na Lake. Há muita similaridade entre as difi-
culdades encontradas em China Lake e aque-
las que ocorreram no CTA durante o desen-
volvimento do míssil MAA-1. A primeira de-
las: os dois começaram sem dinheiro e com
enorme desconfiança. O MAA-1, em 21 anos
de desenvolvimento só teve verba específica
durante 10 anos. O sidewinder, no início, de-
pendia de verbas de outros projetos.
Alguns trechos do livro merecem um des-
taque especial, pois narram fatos que nos ani-
mam a enfrentar os enormes desafios
tecnológicos inerentes ao desenvolvimento e a
fabricação de mísseis (os números das páginas
são mencionados para facilitar a verificação):
1.Os mísseis anteriores ao sidewinder er-
ravam 90% dos lançamentos (pág. 31) e os
foguetes ar-ar eram uma opção. Em uma oca-
sião, dois F-89 lançaram 208 foguetes contra
um alvo aéreo desgovernado que rumava para
Los Angeles. Nenhum acertou o alvo que não
atingiu L.A. por falta de combustível. Os fo-
guetes iniciaram uma série de incêndios e acer-
taram um carro (pág. 30). China Lake desen-
volvia os sistemas de controle de tiro para os
foguetes.
2.Durante um teste o míssil abandonou o
lançador e iniciou manobras imprevistas obri-
gando o piloto Wally Schirra (futuro astronau-
ta) a agir rápido para evitar ser atingido (pág.
105).
3.Em 1953, o programa quase foi inter-
rompido após 12 falhas seguidas (pág. 114).
4.O primeiro tiro com sucesso do
sidewinder foi em 11 set 1953 (pág. 115).
5.Após o primeiro tiro com sucesso se-
guiram-se 6 insucessos (pág. 116).
6.Durante uma das fases de testes, lança-
ram 100 mísseis em 3 meses. Em 3 anos, um
único piloto lançou 92 mísseis (pág. 122).
7.Em 1955 a Philco começou a produzir os
mísseis e as primeiras unidades falharam nos en-
saios em vôo (pág. 123). O sidewinder entrou em
serviço em 1956 (pág. 121 e 130). Em 1956, 200
mísseis foram lançados para avaliação (pág. 131).
8.Após uma falha espetacular do míssil na
presença do alto escalão da Marinha, um dos
engenheiros da equipe, famoso por suas fra-
ses, disse: “a probabilidade de sucesso é in-
versamente proporcional ao posto das autori-
dades presentes” (pág. 158).
9.O míssil perdia alvos estacionários em
altas altitudes porque sua navegação proporci-
onal foi projetada para alvos móveis (pág. 160).
10. A probabilidade de sucesso em con-
dições ideais era de 70% (pág. 173).
11. Mais de 95.000 AIM-9B´s foram fabri-
cados por empresas americanas (pág. 173).
12. Um B-52 amigo foi acidentalmente
abatido pelo sidewinder devido a falha no
lançador (pág. 174).
13. O AIM-9B teve 9 versões até a chega-
da do AIM-9C (pág. 174). O atual sidewinder,
AIM-9M, também teve 9 versões (pág. 204).
14. Problemas na confiabilidade dos pro-
tótipos do AIM-9D: um único míssil foi aos
testes finais 30 vezes e falhou em todos (pág.
177).
15. Produção na Philco: apenas 23% dos
mísseis entregues ao cliente funcionavam (pág.
179).
16. Produção na General Electric: um dos
mísseis entregues à Marinha não possuía o
detetor infravermelho e outro continha flocos
de tabaco na parte interna do dome (pág. 180).
17. Em 1967, produção de AIM-9D na
Raytheon: 300 mísseis por mês e apenas 100
aprovavam nos testes (pág. 181).
18. Os mísseis sidewinders AIM-9E e AIM-
9J eram ineficientes (pág. 213). Obs.: estão
previstos no computador de tiro míssil do F-5
da FAB, juntamente com o AIM-9B.
27
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
19. Na guerra do Vietnam: de 1965 a 1968,
foram lançados 187 sidewinders AIM-9B e AIM-
9D obtendo 16% de sucesso e de 1971 a 1972
foram lançados 267 AIM-9D e AIM-9G com
19% de sucesso. Os mísseis AIM-7, Sparrow,
tiveram um desempenho ainda pior (pág. 215).
20. Na guerra das Malvinas a Marinha e a
Força Aérea inglesa lançaram 26 mísseis
sidewinder AIM-9L, abatendo 18 aeronaves
argentinas, 69% de sucesso (pág. 218).
O míssil AIM-9X, inicialmente previsto
para ser implantado em 2002, pretende devol-
ver a hegemonia no campo de mísseis ar-ar de
curto alcance aos Estados Unidos da América.
A última notícia é que o início da produção de
10.000 unidades, para a Navy e USAF, vai atra-
sar em pelo menos 1 ano devido a problemas
inesperados que surgiram no atuador. Esta
hegemonia pertence aos russos desde 1985,
quando lançaram o míssil R-73 (AA-11 é a
denominação da NATO), com várias inova-
ções: ângulo de visão de 60o, escravização ao
capacete do piloto, controle simultâneo por
desvio de jato do motor-foguete e aerodinâmi-
co (canards), controle ativo de rolamento com
ailerons nas superfícies traseiras, medição de
ângulo de ataque, etc. O detetor infravermelho
ainda é de uma única célula de antimoneto de
índio. A foto abaixo ilustra o R-73.
O sidewinder AIM-9X terá autodiretor
com imageador infravermelho numa matriz de
128x128 sensores, o que possibilitará a rejei-
ção de flares. Entre várias outras inovações o
míssil terá ângulo de visão de 90o,
escravização ao capacete do piloto e uma gran-
de manobrabilidade. A foto abaixo ilustra o
AIM-9X.
Míssil Sidewinder AIM-9X
Os especialistas em mísseis de todo o
mundo, brasileiros incluídos, dedicam uma ad-
miração muito grande aos inventores do
sidewinder. Quanto mais se conhece sobre
mísseis, principalmente sobre as dificuldades,
mais se reconhece o trabalho dos precursores.
O nosso míssil da mesma classe, o MAA-1 (“Pi-
ranha”), também é fruto da tenacidade de en-
genheiros e autoridades da Força Aérea, que
acreditaram num projeto difícil, numa área em
que a tecnologia é mantida em segredo total.
Pelos resultados obtidos até o momento nos
testes do MAA-1, quando comparados com
aqueles obtidos ao longo da história do
sidewinder (incluindo o AIM-9L), podemos
concluir que a versão atual já é uma realidade
e vislumbrar um futuro de sucessos para as
versões que se seguirão. O nosso MAA-1X não
está muito longe, basta acreditar na capacida-
de dos brasileiros.
Míssil R-73: no detalhe, o controle por desvio de jato
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28
Spectrum
Aeronaves não tripuladas: A Quebra de um Paradigma
Arthur Alexandre Gentil Toneli, 1o Ten.-Av.GITE
O Tenente Arthur Alexandre
Gentil Toneli é piloto de caça,
concluiu o CFOAv em 1996 e
exerce atualmente a função de
Chefe da Subseção de Cursos
do Grupo de Instrução Tática e
Especializada (GITE). Possui o
Curso de Planejamento do Em-
prego de Armamento Aéreo do
COMGAR.
No início do século passado, a guer-
ra terrestre havia chegado a um
impasse para o soldado. O advento
da metralhadora fez do ato de se abandonar
uma trincheira um suicídio. Para quebrar esse
paradigma, surgiu o avião tripulado, que reto-
mou a manobrabilidade para o campo de ba-
talha.
Hoje, um século após, o piloto está
envolvido num paradigma semelhante. A
guerra eletrônica cresce de tal maneira
que os mais modernos aviões da atuali-
dade não garantem o sucesso da missão,
visto que suas ameaças evoluem na mes-
ma proporção. Isso significa que retornar
de um território fortemente defendido é
tão incerto quanto se levantar de uma trin-
cheira e sobreviver. Para desequilibrar
essa balança em prol dos pilotos, os avi-
ões são construídos com inúmeros siste-
mas de proteção que oneram por demais
as aeronaves. Surge, então, o dilema: con-
tinuar investindo exclusivamente na cor-
rida tecnológica, arcando com altos cus-
tos e incerta eficácia, ou adotar um novo
conceito de Poder Aéreo, investindo em
outros equipamentos de maior eficácia,
mais baratos e seguros. A segunda opção
diz respei to ao emprego de UAVs –
Unmanned Aerial Vehicles (veículos aé-
reos não tripulados) – em substituição às
aeronaves convencionais, uma alternati-
va que ganha cada vez mais adeptos nas
modernas forças aéreas. Entretanto, para
que se possa discorrer a respeito das van-
tagens dos sistemas não tripulados, é pre-
ciso compreender em que consiste esses
veículos.
Os UAVs não são apenas aeromodelos
de controle remoto. Diferem também dos
RPVs – Remotely Piloted Vehicles (veícu-
los pilotados remotamente) - que se res-
tringem a grandes aeromodelos ou aero-
naves convencionais adaptadas ao vôo re-
moto para servirem de alvos e plataformas
de reconhecimento.
Por outro lado, os
UAVs são veículos
aéreos de projeto in-
dependente, contro-
lados por computa-
dor, podendo se r
p r é - p r o g r a m a d o s
para voarem uma
ro ta espec í f ica e
interagirem a qual-
quer momento com
o piloto que se en-
contra fora da aero-
nave . Cumprem
missões de reconhe-
cimento levando a
bordo sensores
e l e t r o - ó t i c o s ,
infravermelhos e radares de abertura sin-
tética. A partir de 2010, também cumpri-
rão missões de ataque ao solo, com a de-
nominação de UAVs de Combate ou
UCAVs – Unmanned Combat Air Vehicles, materializados pelo projeto X-45 da
Boeing (figura 1).
Os UCAVs terão papel desde o primei-
ro dia de guerra, quando comporão um
pacote de ataque executando missões de
supressão de defesa. Em seguida as aero-
naves tripuladas realizarão as missões de
a taque convenc iona i s , enquanto os
UCAVs proverão contínua vigilância do
campo de batalha com capacidade de
reengajamento imediato para manter anu-
ladas as defesas inimigas [4].
Para tanto, o sucesso de seu empre-
go repousa num confiável sistema de data
link, capaz de resistir aos diversos tipos
de interferência. O operador pilota a ae-
29
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ronave a partir de uma estação de contro-
le no solo ou no ar, comunicando-se dire-
tamente na linha de visada, ou indireta-
mente, através de retransmissão por ou-
tras aeronaves ou satélites.
Es sa concepção
causa grande impacto
numa cu l tu ra
construída sobre a tra-
d ição de p i lo tos de
combate, e conseqüen-
temente sua aceitação
sofre inicialmente algu-
ma resistência. Entre-
tanto, suas vantagens
no campo operacional, econômico e po-
lítico eliminam os focos de rejeição.
Logo de início, a remoção do piloto
simplifica o projeto, aumentando o de-
sempenho. As aeronaves modernas são
grandes, pesadas e complexas devido aos
sistemas de interface humana, como a
aviônica da nacele, o assento ejetável e
outros sistemas de suporte à vida. Elimi-
nando-se essas necessidades, o UAV pode
ser menor em cerca de 50%, mais leve em
até 33% e mais aerodinâmico. Devido ao
pequeno tamanho, o UAV oferece natural
capacidade stealth e, por não necessitar
de nacele, sua assinatura radar é atenua-
da ainda mais [4].
Além disso, a performance do avião
não mais seria restrita às limitações fisio-
lógicas, como a tolerância à carga G e a
fadiga de uma missão prolongada, mas
apenas, pela força de sua estrutura e au-
tonomia de vôo.
Um fato ilustrativo foi a realização do
primeiro vôo entre os Estados Unidos e a
Austrália, realizado em abril de 2001, pelo
Global Hawk, um UAV de alta altitude que
entrará em serviço em 2003. Essa aerona-
ve percorreu 12000Km em 22 horas, sem
escala, uma proeza difícil de ser realiza-
da por uma aeronave tripulada de apenas
44ft de comprimento.
Além do grande alcance, a autonomia
também permite que o UAV fique sobre-
voando o campo de batalha por longo pe-
ríodo de tempo, o que favorece as mis-
sões de reconhecimento, como pode ser
observado na Bósnia.
Antes do emprego do Predator, um
UAV americano de média altitude (figura
2), o tempo entre o usuário fazer seu pe-
dido de informação e a coleta ser realiza-
da era de 72 horas. Com o veiculação de
imagens quase em tempo real, o ciclo foi
reduzido para 48 horas. Mas sua autono-
mia de 40 horas também permitia que,
durante uma missão, o Predator fosse
reengajado em outras tarefas, trazendo o
ciclo de coleta para uma questão de se-
gundos. A rapidez na veiculação das ima-
gens permitia que os produtos fossem ana-
lisados e os alvos restantes abortados ou
acrescentados enquanto a missão ainda
estivesse voando [5].
Todas essas vantagens operacionais
somam-se à simplicidade logística. Um
sistema Predator completo, por exemplo,
constitui-se de quatro aeronaves, um ter-
minal de comunicação e disseminação de
imagens e uma estação de controle no
solo. Ocupa 5 C-130 e pode operar den-
tro de 6 horas após a chegada no sítio [2].
Aeronaves de projetos mais modernos,
como o UCAV X-45, poderão ser estoca-
das por até 10 anos, após voltar de sua
missão, e estar prontas para operar em
uma hora [3].
Em época de pequeno orçamento, as
forças aéreas precisam encontrar novos
meios de reduzir suas necessidades de
grande número de aviões. A solução ado-
tada recentemente tem sido a de aumen-
Boeing X-45
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30
Spectrum
tar a sobrevivência das aeronaves tripula-
das, através do uso de tratamento stealth
e moderna aviônica. Entretanto, estes as-
pectos não são baratos. A média de preço
de uma aeronave de combate na próxima
década está projetada para ser de US$
47,2 milhões contra US$ 34,3 milhões na
década passada. Em contrapartida, o pre-
ço de um veículo não tripulado tende a
diminuir com o natural barateamento dos
processos de miniaturização [1].
Além disso, como esses veículos são
controlados por operadores sentados em
frente a computadores, não há necessida-
de de os pilotos treinarem constantemen-
te para mante rem suas hab i l idades
psicomotoras. Eles podem sentar frente
aos mesmos computadores e utilizar simu-
ladores. Dessa forma, além de se econo-
mizar com o treinamento dos pilotos, os
UCAVs voarão esporadicamente, reduzin-
do o custo de manutenção em até 80%
[6].
Entretanto, a principal vantagem da
utilização de aeronaves não tripuladas é
o ato de salvar a vida dos pilotos em mis-
sões de alto risco. Mais do que uma sim-
ples questão humanitária, evitar que os
pilotos sejam feitos prisioneiros é impe-
dir a chantagem inimiga e os efeitos da
propaganda negativa.
Duran te a
Operação Tem-
pestade no Deser-
to, foram derru-
badas 38 aerona-
ves da Coalizão.
Porém, apenas 7
missões de Com-
ba te -Sar fo ram
acionadas, das quais somente 3 tiveram
êxito [7]. Enquanto os pilotos conviviam
com esse baixo índice, seus compatriotas
assistiam às confissões dos prisioneiros
pela televisão.
Recentemente, quando o piloto de F-
16, Cap. Scott O’Grady foi derrubado em
território inimigo na Bósnia, em 1995, os
Estados Unidos viveram momentos de ten-
são até que uma perigosa missão de bus-
ca e salvamento trouxe-o de volta. Dois
meses depois, um UAV Predator foi der-
rubado na mesma área, ao invés de outro
piloto.
AERONAVE A-1 * Predator ** X-45 ***
CLASSIFICAÇÃO Aeronave tripulada UAV UCAV
FUNÇÃO Rec/ Ataque Reconhecimento Rec/ Ataque
COMPRIMENTO 44 ft 27 ft 27 ft
PESO MAX 27500 lb 2250 lb 11000 lb
CARGA 8350 lb 450 lb 3000 lb
ALCANCE 500/ 1000 Nm 500 Nm 500/ 1000 Nm
CUSTO US$ 10 milhões US$ 3,3 milhões US$ 10 milhões
* dados obtidos em <http://www.fighter-planes.com>. Acesso em: 31 maio 2001.** dados obtidos em “Will fighter pilots take a back seat?”. Defense News, Springfield, p. 18, March 12, 2001.*** dados obtidos em [3] e <http://www.abs.net/~maddock/LO/UCAVs/boeingUCAV.htm>. Acesso em: 31 maio 2001.
Predator
31
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Todas essas vantagens podem pare-
cer muito futuristas por nossa Força Aé-
rea, mas ficam claras quando a aeronave
A-1 é comparada com o Predator e com o
X-45 (ver tabela).
Se uma missão de reconhecimento tá-
tico, realizada por uma aeronave A-1, fos-
se comparada com a mesma missão exe-
cutada por um Predator, os resultados se-
riam diferentes. Operacionalmente, o A-
1 não cumpriria a missão se viesse a ser
abatido após sobrevoar seu alvo, ao con-
trário do UAV que possui capacidade para
transmitir informações em tempo real.
Economicamente, o prejuízo pela perda
seria três vezes maior do que seria com o
Predator. E, politicamente, seria preciso
acionar uma arriscada missão de Comba-
te-SAR para não sofrer os efeitos já comen-
tados.
Por outro lado, se a missão fosse uma
supressão de defesas, executada por um
A-1 ao invés de um X-45, o resultado se-
ria parecido com a análise anterior. O A-
1, por não possuir o tratamento stealth do
X-45, teria maior probabilidade de ser
abatido antes do lançamento de seu ar-
mamento, comprometendo o sucesso da
missão. Nesse caso, o prejuízo pela per-
da de um A-1 ou X-45 seria o mesmo, mas
as conseqüências decorrentes da perda do
piloto seriam relevantes.
Após um século de desenvolvimento
da guerra aérea, a tecnologia trouxe o
equi l íb r io en t re a taque e de fesa ,
entrincheirando os pilotos na incerteza do
sucesso da missão. Para reverter esse qua-
dro, existem duas saídas. A primeira é con-
tinuar investindo nas aeronaves tripuladas,
seguindo o ciclo vicioso da guerra eletrô-
n ica . E a segunda é romper esse
paradigma, buscando, nas aeronaves não
tripuladas, a melhor relação custo/ bene-
fício para se modernizar uma força aérea.
Referências
[1] FINNEGAN, P.; HITCHENS, T.
“UCAVs gain military currency”.
Defense News, Springfield, p. 26,
March 6, 2000.
[2] HEWISH, M. ”Building a bird’s eye
view of the battlefield”. Jane’s Interna-
tional Defense Review, Alexandria, v.
n. 30, p. 55, February 1997.
[3] JEFFERSON, O. “Boeing unveils
UCAV”. Air Force Print News, San
Antonio, September 28, 2000.
Disponível em: <http://www.fas.org/
man/dod-101/sys/ac/docs/man-ac-
ucav-000928.htm>. Acesso em: 31
maio 2001.
[4] PIKE, J. “X-45 Unmanned Combat Air
Vehicle (UCAV)”. Federation of Ameri-
can Scientists, Washington, April 25,
2000. Disponível em: <http://
www.fas.org/man/dod-101/sys/ac/
ucav.htm>. Acesso em: 13 maio 2001.
[5] LOK, J. J. “Sky-high surveillance
realigns the battlefield”. Jane’s Interna-
tional Defense Review, Alexandria, v.
n. 30, p. 58, September 1997.
[6] “TAKING the pilot out of the cock-
pit”. USNews, Palm Coast, September
18, 2000. Disponível em: <http://
www.usnews.com/usnews/issue/
000918/tank.b.htm>. Acesso em: 6
maio 2001.
[7] UNITED STATES OF AMERICA. “Joint
Tactics, Techniques, and Procedures
for Combat Search and Rescue”. Joint
Pub 3-50.21, Washington, p. I-3,
March 23, 1998.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32
Spectrum
AGuerra Eletrônica desponta no sécu-
lo XXI como a grande arma que as
nações podem utilizar para a sua pro-
teção. A soberania de cada uma dependerá de
como elas atuarão no cenário mundial,
gerenciando e executando ações dentro de um
contexto que exigirá um emprego efetivo do
seu poderio. Nesse aspecto, a segurança des-
ponta como um fator de primordial importân-
cia, devendo ser garantida em todos os níveis,
incluindo a própria formação do pessoal en-
volvido.
Pertencemos a uma nação de apenas 500
anos, mas já devemos ser capazes de elaborar
meios de resguardar a soberania nacional, pois os
conflitos testam nossa capacidade de suportar as
injustiças que interferem em nossa convivência
pacífica. Somos, no entanto, um conjunto harmô-
nico de Estados e Municípios pautado na sobera-
nia, na cidadania e na dignidade da pessoa hu-
mana, o que bem descreve a sociedade em um
Estado Democrático de Direito1 . Porém, para que
ela seja construída sobre alicerces sólidos e fortes,
há a necessidade de nos colocarmos em posição
de constante vigília sobre os objetivos definidos
para o bem comum (a manutenção da lei, dos
poderes constitucionais, da ordem democrática e
dos princípios inerentes à natureza humana2 ). Eis
onde se insere a atuação importantíssima das For-
ças Armadas, mantendo os valores da Nação, sob
a autoridade do Presidente da República.
Em sua nobre missão, as Forças Armadas, em
especial a Força Aérea Brasileira, necessitam se
organizar para a consecução dos objetivos cons-
titucionais, mantendo o esperado, correto, efici-
ente e permanente preparo operacional3 exigido
para o emprego em cenários4 com tendência a
desestabilizar, de algum modo, a ordem e a sobe-
rania, defendendo-as a todo custo. Entretanto, o
que deve ser feito não pode esperar a ocorrência
de um conflito para justificar o preparo da Força
para o pronto emprego, devendo ser implantadas
imediatamente, sob amplo planejamento, medi-
das que viabilizem a sua atuação.
De outro lado, a globalização, ao mesmo
tempo em que trouxe conse-
qüências práticas para a vida
diária de todos, trouxe tam-
bém uma revisão em vários
conceitos dos diversos cam-
pos de ação da tecnologia e
do desenvolvimento científi-
co, entre os quais certamen-
te se encontram os próprios
recursos usados nos domíni-
os de cada nação para a so-
lução de seus problemas.
Aqui, como instrumento po-
deroso da atuação da Força,
vemos a Guerra Eletrônica,
via indispensável hodierna
ao planejamento dos
parâmetros necessários à mo-
vimentação dos recursos bé-
licos e ao preparo para o efe-
tivo emprego em ações que requeiram uma res-
posta eficiente. A Guerra Eletrônica reúne concei-
tos tecnológicos de alto nível, incentivando ainda
mais a pesquisa e representando nitidamente a
aplicação do conhecimento humano em ambi-
entes hostis, buscando sempre a excelência nos
resultados almejados. Nela visualizamos a apli-
cação de sistemas militares que têm funções es-
pecíficas no teatro de operações, empregando tá-
ticas de operação indispensáveis ao aumento da
capacidade de combate, onde reside a maior pos-
sibilidade da Força de se adiantar nos objetivos
definidos em nossa Constituição.
Os meios e recursos utilizados na Guerra
Eletrônica têm em comum o fato de serem ele-
mentos importantíssimos na condução das ativi-
dades definidas em criterioso estudo, pois a ação
precisa ter um tratamento especial face à sua apli-
cação no teatro de operações. As comunicações,
a vigilância do espaço aéreo, o acompanhamen-
to de prováveis situações ofensivas e a identifica-
Antonio Carlos de Oliveira Filho – 2S BCO
Cursos: CFS (EEAR): 1989,
C103 Operador de Telecomuni-
cações Aerotáticas (1º/1ºGCC):
1992, Curso Básico de Guerra
Eletrônica (GITE): 1998, Curso
Básico de Redes de Comunica-
ção de Dados (IPV): 2000.
Atualmente, exerce a função
de Instrutor da Subseção de Ensi-
no de Comunicações da EEAR.
Guerra Eletrônica na EEAR
33
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ção, por exemplo, são fatores que merecem aten-
ção no trato das informações e dos procedimen-
tos pertinentes, em razão da segurança nacional
envolvida. Não há como promover tal atenção
sem considerar a segurança de todo e qualquer
ponto de tratamento das ações, sendo esse um
dos aspectos mais importantes a ser considerado
no sistema. A alimentação, o armazenamento, o
emprego de tecnologias e de procedimentos que
garantam o sigilo e a integridade5 das investidas
realizadas e planejadas, possibilitando o adequa-
do controle dos dados úteis às ações de Guerra
Eletrônica, são cruciais na implementação e na
manutenção da segurança em todos os níveis uti-
lizados.
Desse modo, devemos entender segurança
como simplesmente a ação objetiva “de negar
nossos segredos a outrem”6 , impedindo que o
inimigo use informações a nosso respeito contra
nós mesmos no desenrolar da guerra. Por isso,
devemos reconhecer que, atualmente, “tudo o que
uma nação faz interessa, de alguma forma, a ou-
tros”7 , tornando importante disseminar a menta-
lidade de segurança entre os executantes de algu-
ma função no cenário eletromagnético, pois é no
desrespeito aos princípios em que se fundamen-
tam as suas ações que uma missão poderá fracas-
sar. Trata-se de ter consciência das conseqüências
de atos aparentemente despretensiosos, mas que
servem de apoio a contra-ataques.
Nesse quadro, cremos no preparo das pes-
soas envolvidas, em todo e qualquer nível de
atuação, para enfrentar as situações hostis em
condições de atender as diretrizes para a
efetivação dos empreendimentos, tendo em vis-
ta principalmente o aspecto segurança. Nesse
ínterim, visando adequar o contexto da Força
Aérea Brasileira ao panorama militar apresenta-
do por várias nações do mundo todo, o Coman-
do da Aeronáutica implantou o Sistema de Guerra
Eletrônica da Aeronáutica, propondo um mode-
lo de sistema dentro dos padrões solicitados pe-
las ações da GE. O sistema permite o planeja-
mento, o gerenciamento e a execução das ativi-
dades de Guerra Eletrônica no âmbito da Aero-
náutica, no intuito de imprimir maior poder de
combate às organizações operacionais. Além
disso, o sistema visa ao desenvolvimento dos
meios humanos necessários ao desempenho de
funções que exijam um padrão de eficiência
condizente com a operacionalidade requerida
em ambientes hostis.
Atendendo à necessidade, o Departamen-
to de Ensino da Aeronáutica, em coordenação
com a Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo
e com o Comando-Geral do Ar, adotando os prin-
cípios de condução das atividades de Guerra Ele-
trônica8 , implantou a disciplina de Guerra Ele-
trônica no currículo da Especialidade Comuni-
cações da EEAR. A disciplina busca promover o
desenvolvimento da mentalidade dos Alunos ain-
da em sua fase de formação militar9 , constituin-
do forte aliada ao estabelecer a conduta essenci-
al no trato da Guerra Eletrônica em seus mais
diversos aspectos. A idéia básica é apresentar os
conceitos principais e suas aplicações, facilitan-
do a inserção do elemento certo nas atividades e
incentivando seu trabalho, diante da importân-
cia do tema.
Pioneira nessa instrução desde 1994, com
o PMAP, a Especialidade de Comunicações cer-
tamente alavancará a efetiva implantação da ins-
trução de Guerra Eletrônica na Escola de Especi-
alistas de Aeronáutica, estendendo os conceitos
a um número mais significativo de militares e
fomentando um contato mais aprofundado com
tais atividades. Sua finalidade precípua será a de
ampliar os horizontes de conhecimento dos es-
pecialistas, em especial, nesse momento, dos
especialistas em Comunicações, preparando-os
para um desempenho funcional adequado às
necessidades do Comando, tendo em vista a to-
mada de consciência das atitudes convenientes
que um operador ou um analista deve assumir
quando utilizando de alguma forma o espectro
eletromagnético.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34
Spectrum
Enfim, cremos que, para uma boa pers-
pectiva das ações da Guerra Eletrônica e dos
sistemas correlatos, a formação de pessoal en-
volvido deverá, como está sendo feita, iniciar
ainda no período escolar, aplicando principal-
mente os conceitos de segurança, pois nela se
estruturam princípios utilizados na manutenção
dos elos do sistema e na promoção dos requisi-
tos indispensáveis ao emprego dos recursos
bélicos, com o objetivo fundamental de defen-
der a soberania nacional.
Notas1 Art. 1º, inc. I, II e III, Constituição Federal.
2 cf Art. 142, caput, Constituição Federal.
3 cf Art. 7º, inc. I, Lei Complementar 69/91.
4 NSMA 500-1 Sistema de Guerra Eletrônica
da Aeronáutica.
5 DMA 500-2 Estratégias de Guerra
Eletrônica da Aeronáutica.
6 FMA 205-2 Mentalidade de Segurança.
7 Idem, Ibidem.8 DMA 500-1 Diretrizes de Guerra
Eletrônica da Aeronáutica.
9 Objetivo proposto pela DMA 500-2,
visando alcançar todos os níveis
educacionais de formação de pessoal
especializado para a condução das
atividades de GE.
ConclusãoA Força Aérea Brasileira tem cada vez mais
se preocupado com o gerenciamento de sua
operacionalidade. Sob este enfoque, surge a
grande importância do projeto SISGPO e de
ferramentas capazes de auxiliar o processo
decisório em todos os níveis no âmbito da ati-
vidade aérea no COMAER, sendo o DEA uma
delas. A partir da análise DEA nos Esquadrões
espera-se que seja possível determinar fatores
como: grau de eficiência de emprego de cada
piloto e do Esquadrão, melhor forma de trei-
namento a partir de um número fixo de horas
de vôo, treinamentos específicos para cada
piloto e avaliação do grau de homogeneização
do Esquadrão.
Referências bibliográficas [1] Charnes A.; Cooper W.W. & Rhodes E.
(1978).Measuring the efficiency of deci-
sion making units, European Journal of
Operational Research, 2, 429-444.
[2] Farrel M.J. & Fieldhouse M. (1962).
Estimating efficient production functions
under increasing returns to scale Journal
of the Royal Statistical Society, Series A,
252-267.
[3] Milioni, A. Z. & Mano, F. (2000). Análise
Envoltória de Dados: Um estudo de caso
na Indústria Automobilística.
Apresentado no XXXII SBPO – Simpósio
Brasileiro de Pesquisa Operacional,
Viçosa, MG, 18 a 20 de Outubro de
2000.
Continuação da página 21
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Spectrum
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ARevista Spectrum tem como finalida-
de contribuir para a divulgação de tra-
balhos voltados exclusivamente para
o preparo e emprego da Força. Pretende-se in-
centivar a apresentação de temas que venham
a despertar debates, motivar o início de estu-
dos que possam ser aproveitados, hoje ou no
futuro, com o objetivo de conferir o devido
realce ao aguerrido espírito operacional da
Força Aérea Brasileira.
Não se estabelece preferência de aborda-
gens: diferentes perspectivas teóricas e
metodológicas no tratamento de temas são
aceitáveis, desde que consistentes e significa-
tivas para o desenvolvimento da área
operacional.
O público alvo é constituído dos profissi-
onais civis e militares das três Forças Armadas
e do Ministério da Defesa, Institutos de Pes-
quisa, Universidades e de outras Organizações
Públicas e Privadas interessadas nos assuntos
operacionais da Força Aérea.
Forma de apresentação dos artigosOs textos devem ser encaminhados de
acordo com os seguintes critérios e carac-
terísticas técnicas:
1) Formatação: papel A4 (29,7x21cm);
margens: superior = 2,5cm, inferior=
2,5cm, esquerda= 2,5cm e direita= 2cm;
editor de texto: Word for Windows 6.0 ou
posterior, utilizando caracteres Arial, tama-
nho 12pt e espaçamento 1,5 linhas. O ar-
tigo não deverá exceder 5 páginas, inclu-
indo quadros, tabelas, gráficos, ilustrações,
notas e referências bibliográficas. Deve-se
observar a ortografia oficial e conter, na
primeira lauda do original, o título do tra-
balho e o(s) nome(s) completo(s) do(s)
autor(es).
2) Apresentar em uma página separa-
da: título do trabalho, nome(s) completo(s)
do(s) autor(es) acompanhado(s) de breve
Revista “SPECTRUM”Objetivos e Diretrizes para Publicação
curriculum vitae em que se mencione
titulação acadêmica, experiência profissi-
onal e/ou acadêmica, instituição(ões) de
vinculação, cargo ou função, endereços,
e-mail, telefones e fax. Se mais de um au-
tor, ordenar de acordo com a contribuição
de cada um ao trabalho.
3) Enviar resumo do texto, entre dez e
quinze linhas, em que constem objetivo,
método, resultado e conclusões, bem como
de três a cinco palavras-chaves.
4) As referências bibliográficas com-
pletas do(s) autor(es) citados deverão ser
apresentadas em ordem alfabética no final
do texto, de acordo com as normas da
ABNT (NBR 6023) . As re ferências a
autor(es) devem ser citadas no corpo do
texto com indicação numérica na lista de
bibliografia.
5) Notas referentes ao corpo do texto
devem ser indicadas com um número
sequencial, imediatamente depois da fra-
se a que diz respeito. As notas deverão vir
no rodapé do texto.
6) O artigo deverá ser enviado em
disquete de 3,5”, acompanhado de duas
vias impressas e foto(s) do(s) autor(es) - bus-
to, frontal, sem data.
Enviar artigos para:Revista “Spectrum”
Centro de Guerra Eletrônica do COMGAR
Esplanada dos Ministérios,
Bloco “M” - anexo - 2º andar
CEP 70045-900 - Brasília-DF
Tel.: (61) 313-2528
Fax.: (61) 224-1840
e-mail: spectrum@comgar.aer.mil.br (Internet)
Cronograma para a próxima edição:até 30 xxx 2002: recebimento de artigos
xxx 2002: revisão e editoração eletrônica
xxx 2002: impressão e distribuição