Post on 15-Mar-2016
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O espetáculo da superação nos palcos baianos
Artes VisuaisQuadrinhos baianos: de
profissionais premiados à
falta de investimento
PatrimônioSabores regionais
invadem as mesas no
período mais festejado
do ano
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FRANCO REVISÃO PIPA COMUNICAÇÃO EDIÇÃO DE TEXTOS PIPA COMUNICAÇÃO FOTOS ERICK OLIVEIRA E MARCELO SANTANA PROJETO GRÁFICO
RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO DIAGRAMAÇÃO RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO ILUSTRAÇÕES RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO
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*A PlanoB não se responsabiliza pelos conteúdos dos artigos assinados e as opiniões e conceitos emitidos não refletem necessariamente a opinião da revista.
ED
ITO
RIA
LMuitos dos agentes artísticos classificados como alternativos
têm sempre uma queixa em comum, a falta de visibilidade.
Mas será que essa visibilidade midiática e social se restringe
somente ao campo das artes? A pergunta fixou no lugar mais
profundo da mente e estimulou não apenas uma resposta,
mas uma verdade real e cotidiana. Nessa edição sobrevoamos
um espaço maior que o campo cultural e chegamos a um uni-
verso amplo, divertido e com centenas de estórias de supera-
ção e força de vontade.
Descobrimos que talvez seja sempre necessário fazer um
pouco mais e que nossas atitudes determinam sim os rumos
das nossas caminhadas por este planeta. E encontramos per-
sonagens que demonstram o poder transformador da arte
enquanto elemento de socialização – que permite-nos olhar
e sermos olhados pelos outros para além do simples conceito
de sociedade.
A cultura pode dar oportunidade. No entanto, acima de tudo,
é necessário que se permita ao seu semelhante agarrar essa
chance. E a dimensão que esse simples gesto pode tomar,
pode desencadear uma revolução sem precedentes na histó-
ria humana, bem como despertar o fôlego de esperança para
que aquele que se percebe excluído do
contexto social possa superar os con-
dicionamentos impostos pelos outros.
Logo, compreender o processo de for-
mação da nossa sensibilidade enquanto
indivíduos – trata-se da sensibilidade
no sentido amplo da palavra – contribui
diretamente para que possamos aceitar
o diferente, como membro da nossa pró-
pria realidade.
Por fim, vale levantar alguns questiona-
mentos. Qual o seu conceito de inclu-
são? Porque é tão difícil entender esse
conceito de maneira coletiva? Será que
somos condicionados ou nos deixamos
influenciar para a não aceitação do que
nos parece diferente? A resposta para
cada uma dessas perguntas, no fim das
contas, vai parecer mais fácil do que re-
almente é.
Boa leitura!
ERRATA_Na edição numero 01 da revista Plano B as matérias foram produzidas por mais de um repórter. A seguir, informamos os nomes dos jornalistas que
tiveram participação efetiva na construção do conteúdo: Fabio Franco, Maiara Bonfim, Mariana Miranda, Meiryelle Souza, Ricardo Neiva e Tarsilla Alvarindo.
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EXPEDIENTEEDIÇÃO JUNHO 2012
TIRAGEM 5.000 EXEMPLARES
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CAPADeficientes físicos surpreendem o universo da
dança baiana
ARTES VISUAISHQ baianas: o contraste entre profissionais
premiados e a falta de investimento
PATRIMÔNIOTradição junina tem ponto forte nos sabores da
culinária típica
OPINIÃOMarlúcia Mendes
discute o processo de
formação do público
para produtos culturais
ENTREVISTASamuka revela os
segredos que o
transformaram no
mago das fotografias
MÚSICAFestivais oferecem
boa estrutura e
abrem portas para
artistas locais
CIDADANIAOficinas culturais
promovem integração
entre idosas do AMMA
planoB indicaConfira nossas
sugestões sobre o que
rola pela Bahia
MODACustomização: exclusividade e estilo
que começam nos pés
MUSEUA trajetória do povo
sertanejo exposta na
Princesinha do Sertão
PROFISSÃOPuro talento e
criatividade nas
hábeis mãos dos
maquiadores
TURISMOMonte Santo preserva
incontáveis estórias em
meio às montanhas do
Norte da Bahia
OPINIÃOAline Marianne explica
como a cultura pode
facilitar a inclusão
social
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ARTES VISUAIS Quadrinhos
TEXTO FABIO FRANCO
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Quadrinhos ARTES VISUAIS
Quem, quando criança, nunca ficou ho-
ras e horas se deliciando com as aven-
turas, os poderes e os desfechos daque-
las narrativas quadro a quadro, repletas
de imagens e diálogos em balões? Pois
é, as histórias em quadrinhos fazem
parte do imaginário de jovens e adultos
desde o século XIX e ao longo do tempo
sofreram modificações de conteúdo dei-
xando de ser uma linguagem exclusiva
do universo infanto-juvenil para des-
pertar o interesse em um número cada
vez maior de leitores.
Nas duas últimas décadas, a produ-
ção de quadrinhos nacionais deu um
salto impressionante, principalmente
por conta do advento da internet e suas
inúmeras possibilidades de divulgação,
permitindo a autores consagrados e
anônimos chegar a um público maior e
diversificado. A turma que apresentava
seus trabalhos para um grupo restrito
conseguiu, enfim, atravessar incólume
por um mar de dificuldades. “Para di-
vulgar minhas criações, recorri às redes
sociais. Hoje movimento blogs e perfis
que já contam com mais de 50 mil se-
Apesar da qualidade
dos trabalhos,
muitos ilustradores
reclamam da falta
de investimento.
guidores, mas quero chegar a 100 mil”, revela William Leão,
criador da série Magarefe.
“Na Bahia existem ótimos profissionais, premiados nacio-
nalmente e que mantêm uma produção reconhecida, como é
o meu caso, de Cedraz (Turma do Xaxado), Luis Augusto (Fala
Menino) e, mais recentemente o pessoal das revistas Lucas
da Feira e São Jorge da Mata Escura, que ganhou prestígio
e projeção na mídia especializada e em outros centros como
São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro”, pontua o cartunista Flá-
vio Luiz, criador das HQs “Aú, o capoeirista” e “O Cabra”.
Entretanto, inversamente ao número cada vez maior de
super-heróis e personagens, o mercado brasileiro não cres-
ceu o suficiente para difundir toda a produção de HQs. Além
disso, publicações estrangeiras ainda povoam maçicamente
as prateleiras das livrarias e bancas do país. “Existe uma ideia
geral de que a produção nacional não presta, ainda mais em
se tratando de quadrinhos nordestinos. Enquanto isso, as
HQs americanas e japonesas lotam as livrarias. Ao mesmo
tempo, mais e mais leitores estrangeiros vêm buscar o que
é nosso. Só como exemplo, a Turma do Xaxado já chegou ao
Canadá, França, Itália...”, revela Antonio Cedraz, cartunista
baiano com mais de 40 anos de profissão e vencedor por seis
vezes do HQMIX, maior premiação do gênero no país.
Apesar de todo o reconhecimento, os investimentos aqui
ainda são escassos. “O artista independente ainda tem que
arcar com todos os custos para publicar sua revista e, mui-
tas das vezes, acaba engavetando ótimos projetos”, desabafa
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ARTES VISUAIS Quadrinhos
Franklin Mendes, nome da nova gera-
ção que recentemente recebeu “men-
ção honrosa” no Salão Internacional de
Desenho para Imprensa 2012.
William acredita que a falta de inte-
resse do público local também interfere
na produção dos cartunistas baianos.
“O público daqui é muito fraco. O pes-
soal desconhece a maior parte dos nos-
sos cartunistas. Outra coisa é o lance
do ‘politicamente correto’ que hoje está
em toda parte. Essa limitação também
prejudica, porque acabamos todos en-
gessados e perdemos algo crucial em
nosso trabalho, a criatividade”, conta.
Flávio Luiz vai mais longe, em se tra-
tando do mercado baiano: “Acho que o
consumo da produção baiana tem sido
mantido pelos aficionados e admirado-
res de quadrinhos que sempre existi-
ram, mas que é uma parcela pequena
do público potencialmente consumidor.
Também temos o desrespeito com o pro-
fissional por parte de quem contrata,
que é algo a ser lamentado. Aquela es-
tória de ‘isso não é trabalho’, ‘coisa de
criança’, ‘enquanto uns trabalham você
só faz desenhar’, entre outras, são pos-
turas que teimam em existir no merca-
do contratante baiano”.
E entre tantas questões, a turma pre-
miada e a nova geração concordam em
uma em especial: a falta de editoras e
distribuidoras de quadrinhos na Bahia.
Franklin pontua que é necessário criar
grandes eventos que contribuam efeti-
vamente para projetar o trabalho dos au-
tores locais. Cedraz e William apontam a
falta de editoras especializadas como en-
trave. E Flávio Luiz complementa: “Não
existe uma grande editora, nem distribui-
dora interessada nesse tipo de material
por aqui. Além disso, Salvador, e acho que
toda a Bahia, sofre com o que chamamos
de setorização, que é a distribuição de re-
vistas em quadrinhos com até três meses
de defasagem em relação ao lançamento
no Sul/Sudeste do país. É como se só che-
gassem as ‘sobras’ das publicações”.
NO BRASIL E NO MUNDOA popularização das HQs não é um processo tão recente. Ofi-
cialmente, a primeira história em quadrinhos do mundo (com
balões nos diálogos) foi The Yellow Kid (1896), do desenhis-
ta americano Richard Felton Outcault. No Brasil, a primeira
aparição da linguagem quadrinística foi no ano de 1855, com
"O Namoro", criação do litógrafo francês Sebastian Auguste
Sisso. Posteriormente, o italiano Ângelo Agostino criou "As
Os diversos
prêmios em
eventos nacionais
comprovam
o talento dos
quadrinistas
baianos.
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Quadrinhos ARTES VISUAIS
Aventuras de Nhô Quim", que mostrava as peripécias de um
caipira no Rio de Janeiro. No entanto, o marco mais importan-
te na história dos quadrinhos brasileiros foi o lançamento da
revista Tico-Tico, em 1905, que tinha como herói o persona-
gem Chiquinho, inspirado em personagens americanos.
Mas se engana quem acha que o papel das HQs é unica-
mente entreter. Alguns exemplos ilustram bem a abrangência
e o grande poder comunicacional desse meio. O personagem
Zé Carioca foi criado durante a Segunda Guerra Mundial com
o objetivo de difundir o ideal e o estilo de vida norte-ameri-
cano entre os brasileiros. Outro que merece destaque quanto
à difusão de um conceito é o personagem Lucas, da HQ Fala
Menino, do baiano Luiz Gustavo. Pela primeira vez, um defi-
ciente físico (mudo) é retratado como personagem principal
em quadrinhos no Brasil, causando grande impacto sócio-edu-
cacional ao discutir temas como deficiência e discriminação.
“No meu caso, optei por retratar um personagem com os
traços típicos do nordestino, a exemplo do chapéu de couro
no Xaxado, que é algo que remete a Luiz Gonzaga, grande de-
fensor de nossa cultura. E no fim das contas, o Xaxado é muito
parecido comigo. Nasci e fui criado no interior e acabei incor-
porando essas características nele”, conta Cedraz, que faz
questão de avisar que a turma vai virar desenho animado: o
projeto já está em fase de execução e deve ser veiculado pela
TV Brasil em intervalos de um minuto de duração.
Recentemente, as HQs também caíram nas graças do pú-
blico adulto, especialmente com a difusão das graphic novels,
com temas mais complexos e um toque literário. Outra opção
é o chamado Jornalismo em Quadrinhos, difundindo em todo
mundo pelo maltês Joe Sacco. No Brasil, ambas as lingua-
gens ganharam fãs e adeptos. Franklin inclusive participou
da primeira reportagem em quadrinhos do Brasil, realizada
em Salvador, intitulada “Vanguarda: Histórias do movimento
Estudantil na Bahia”. “Foi uma experiência bastante enrique-
cedora. É uma receita mágica, juntar a linguagem objetiva
do jornalismo com a poesia visual dos quadrinhos, transfor-
mando um acontecimento real, às vezes duro e frio, em algo
novo e belo”.
Flavio Luiz conseguiu mesclar as duas nuances em um
único trabalho: O Messias, de autoria do jornalista baiano
Gonçalo Jr. “Foi uma honra ter sido convidado para desenhar
o roteiro de Gonçalo. A receptividade foi a melhor possível, na
época que foi lançado, concorrendo inclusive a melhor álbum
nacional no HQMIX”, finaliza.
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MÚSICA Festivais
com mérito e sem jabá
É ínfimo o espaço oferecido para os músicos do chamado “cenário inde-pendente”, que produzem música de qualidade. Contudo, quando eles con-seguem alcançar o público, costumam surpreender e conquistar. Pensando nisso, são lançados os festivais de mú-sica, uma tendência mundial, para mostrar a diversidade e ajudar a dar visibilidade a esses artistas locais.
FESTIVAIS DE MÚSICA:
TEXTO MAIARA BONFIM FOTOS MARCELO SANTANA
LEO DE AZEVEDO
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Festivais MÚSICA
Quem não conhece um artista que atua sem nenhuma visibi-
lidade, que tem o maior talento e qualidade musical, mas não
“emplaca” por falta de investimento? Diversos músicos baianos,
que estão na estrada há muitos anos, caminham durante lon-
gos períodos no anonimato. Isso não quer dizer que eles não
têm admiradores ou que não consigam atrair o público. Eles
apenas não fazem parte da agenda midiática em geral. Os veí-
culos de grande audiência ocupam suas pautas com modismos.
Seguindo uma lógica, até cruel, entende-se que é impossível ser
reconhecido sem aparecer nos meios de comunicação, sem pro-
paganda, sem compor a escalação dos grandes eventos.
Aí a situação vai ficando mais difícil. O sucesso e o público
vão parecendo cada vez mais distantes. Alguns programas com
características menos comerciais e mais alternativas, vez em
quando, convidam uma ou outra banda da terrinha, um ou ou-
tro cantor local para uma entrevista. O certo mesmo é um bre-
ve aviso só pra compor a chamada ‘agenda cultural’, que fun-
ciona como serviço, para ajudar a programar o fim de semana.
Apesar de serem considerados “independentes”, por não
estarem ligados a uma gravadora, para todos aqueles que vi-
vem ou desejam viver de música é importante vender discos,
fazer shows, mostrar seu som. Na terra do axé, ano após ano
é possível acompanhar o sucesso meteórico que alguma ban-
da jamais vista é capaz de alcançar às vésperas do carnaval.
A maioria não consegue sustentar a carreira e com a mesma
velocidade desaparece do cenário.
Se por um lado parece que a cena
musical baiana já tem donos e donas,
por outro lado, novos palcos vão sur-
gindo na capital e no interior para
mostrar a variedade de caras e rit-
mos. Para o produtor Marcus Ferreira,
sócio-diretor da Putzgrillo! Cultura,
a participação em festivais de música
soa como a melhor forma de uma ban-
da circular, mesmo com os baixos ca-
chês oferecidos.
“Os artistas que participam de fes-
tivais tem a facilidade de encontrar
toda uma estrutura (que atenda a sua
necessidade) já montada: sonorização,
iluminação, palco, divulgação, cachê e
público. Quando o artista não tem pro-
jeção suficiente para cobrar altos ca-
chês, a melhor opção são os festivais,
principalmente em uma cidade na qual
não é conhecido. Assim, acaba havendo
interação com o público de artistas lo-
cais ou até mesmo da principal atração
do evento”, explica Marcus, que atua há
oito anos na área de eventos.
Com os festivais,
os artistas
independentes têm a
chance de aparecer
para o grande
público.
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MÚSICA Festivais
MERITOCRACIAO esforço, a dedicação e a produção de qualidade são requisi-
tos para Marcus Ferreira. Para ele, o mérito deve empoderar
os artistas. “Na minha empresa, temos um lema quando o as-
sunto é contratação de atrações: ‘meritocracia’. Não adian-
ta ser amigo de fulano e muito menos nosso, se não estiver
produzindo CD, realizando shows e projetos, gravando ou
lançando clipe, fomentando o mercado de alguma maneira,
certamente não terá espaço em nossos palcos”, sentencia. As-
sim, uma das preocupações na hora da escolha é a busca por
aqueles que fazem um trabalho diferenciado.
A Putzgrillo! está organizando o Recôncavo Jazz Festival
que acontecerá no mês de agosto, em Cachoeira. “A principal
diferença entre os festivais na capital e interior está na facili-
dade estrutural, seja ela física ou técnica. A capital já possui,
naturalmente, uma série de opções de bares, casas de shows,
além de prestadores de serviços que facilitam muito a execu-
ção de um grande evento. Por outro lado, no interior, todas as
bandas querem participar, pois sabem que são raras as opor-
tunidades”, explica.
NA PROGRAMAÇÃO,SEM JABÁHá dez anos acontece um dos mais tra-
dicionais eventos do ramo na Bahia: o
Festival de Música Educadora FM. “O
Festival foi criado com o objetivo de ga-
rantir um espaço para a produção mu-
sical baiana de qualidade, ensejando ao
participante a oportunidade rara de via-
bilizar a veiculação de sua gravação na
programação, sem pagamento de jabá
— como costuma acontecer na grande
maioria das emissoras de rádio”, alfine-
ta o coordenador Tom Tavares.
O elevado número de inscritos
aponta a proporção do Festival. Cerca
de 700 gravações têm sido recebidas
pela Rádio Educadora a cada edição e
de acordo com Tom Tavares, o ponto alto
é a oportunidade que o artista tem de
expor a sua obra: primeiro, através da
programação da Educadora; depois, em
sendo um dos 14 finalistas, tendo a sua
gravação incluída no CD do festival.
Mas, quando questionado sobre
qual seria o maior chamariz desse tipo
de evento, Tom não foge da raia: “Seria
falso dizer que os prêmios em dinheiro
(62 mil reais ao todo) não atraem. Afi-
nal, o artista é gente. E gente precisa
comer”. E, por fim, acrescenta: “Vale
lembrar que os prêmios têm sido fre-
quentemente utilizados pelos agracia-
dos nos festivais para a realização dos
seus projetos musicais”.
Premiações em
dinheiro e CD ainda
são os principais
atrativos dos
festivais.
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Festivais MÚSICA
Localmente, um incentivo original São inúmeros os tipos de festivais, alguns
reúnem artistas brasileiros, outros até ar-
tistas internacionais. Ano após ano surgem
novos e empolgantes eventos para dar es-
paço para essa turma. O Festival de Música
Instrumental já passou da sua 17ª edição, o
Festival Phoenix Jazz da Praia do Forte reú-
ne artistas de várias partes do mundo e no
Festival de Música da Bahia músicos de todo
o Brasil vão para Vitória da Conquista levar
a diversidade musical. Outro bom exemplo
foi o Origem da Terra, realizado em 2010,
que além dos shows de nomes como Enio e
a Maloca, Baiana System e Juliana Ribeiro,
abriu espaço para a participação dos artis-
tas num CD promocional.
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CIDADANIA
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CIDADANIA
Apenas mulheres são abrigadas no AMMA – lar de ido-sas, no centro da capital baiana – e cada uma possui seu espaço, como se fossem diversas casas dentro de uma maior, com todo o cuidado e o acolhimento neces-sários para a tranquilidade durante os últimos, porém não menos intensos, anos de vida.
O Abrigo Mariana Magalhães (AMMA) é um asilo curioso.
Apenas mulheres são recebidas na casa, doada pela senhora
Mariana (que dá nome à instituição), que sonhou para suas
irmãs uma velhice tranquila. No AMMA, cada idosa vive em
sua unidade. Ali, elas montam o seu espaço individual, de
acordo com suas preferências. Auditório, capela, áreas para
a convivência e refeitório são alguns espaços oferecidos para
o uso comum.
Cheguei ao AMMA em um dia festivo. Aconteceria ali
uma feijoada beneficente para angariar fundos para a refor-
ma da área de lazer do abrigo. Fui carinhosamente recebida
por senhorinhas enfeitadas e todas visivelmente muito pre-
ocupadas com a organização da festa e com a recepção dos
convidados. A faixa etária varia de 60 a 98 anos. Era visível a
expectativa pela chegada das visitas.
Envolvida no clima de alegria, dona Alice Miranda, 96
anos, me ofereceu um lugar no sofá, ao lado dela e de um
pequeno aparelho de som que tocava o melhor de Gonzagão.
Enquanto respondia minhas perguntas, ia se balançando sem
perder o ânimo. O AMMA é prioritariamente um lugar desti-
nado à longa permanência. “Eu vivo aqui há 23 anos”, conta
dona Alice. Ela pretende fazer como a grande maioria, que só
deixa o abrigo quando falece.
AMMAREÚNE ACOLHIMENTO, FRATERNIDADE, CULTURA E VIDA SOCIAL
TEXTO MAIARA BONFIM FOTOS MARCELO SANTANA
CIDADANIA
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CIDADANIA
Quem pensa que a vida das idosas
se resume ao convívio dentro do abrigo
está enganado. Elas vão para museus,
teatros, participam de romarias e até re-
alizam viagens. Dona Alice relembra as
festas na Casa D’Itália, sempre regadas
a muita música e dança. Hoje, ela já não
tem força física para participar dos pas-
seios, contudo guarda aqueles festejos,
que participou, em um lugar especial
na memória.
No AMMA, o contato com a cultura
ajuda a manter e até despertar sensa-
ções, desejos, melhorando o ânimo das
assistidas. Nesse sentido, são realizadas
diversas ofi cinas recreativas e culturais
que visam, entre tantos objetivos, traba-
lhar a integração, convivência e a me-
mória – não é à toa que, das 70 vagas
disponíveis na casa, 68 estão ocupadas.
Dona Alice não perde a oportunidade de falar dessas atividades: “Aqui tem muita
coisa para a gente fazer – tem palestras, ofi cinas de arte, dominó e muita diversão”.
E o leque de ações culturais realizadas na instituição é grande. Tem aulas de
dança, artesanato e música, realização colaborativa de jornal, além de atividades
para estimular a memória e a capacidade motora, como alongamento, ginástica,
palestras e exibição de vídeos. As idosas também não deixam de lembrar, orgulho-
sas, das apresentações da Orquestra Sinfônica da Bahia, em concertos ao vivo nas
instalações do abrigo. Bach, Vivaldi e Mozart foram alguns dos visitantes que che-
garam através dos violinos, baixos e violoncelos para levar música e muita emoção.
Tantos momentos e tantas Histórias de vida também chegaram aos ouvidos do ci-
neasta Rafael Jardim, que por duas ocasiões se utilizou das memórias e das narrati-
vas de algumas das residentes do AMMA como base para suas criações. Após breve
São realizadas diversas ofi cinas recrea-tivas e culturais que visam, entre tantos objetivos, trabalhar a integração, convi-vência e a memória
No AMMA, as
idosas participam de
atividades culturais
e sociais durante
todo o ano.
19
CIDADANIA
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A instituição só
acolhe pessoas que
chegam ao local por
vontade própria.
visita ao local, Rafael Jardim produziu dois curtas: em “Muitos
Anos de Vida”, o enfoque é nas trajetórias de quatro senhoras
do abrigo, que rememoraram os melhores momentos de suas
juventudes; na fi cção “Breve Passeio”, o enredo gira em torno
de uma personagem que se vê abandonada pelo único fi lho às
vésperas do nascimento de sua primeira neta.
LIVRE ESCOLHA OU ABANDONOO AMMA funciona de acordo com as indicações expressas no
estatuto do idoso no que diz respeito à convivência fora do
seio familiar. “Para viver no abrigo, elas não podem estar sen-
do obrigadas pela família”, explica a ministra Lygia Margari-
da de Argollo, responsável jurídica e social da instituição. Para
evitar inconvenientes desse tipo, são realizadas entrevistas
com assistente social, antes da entrada, para sondar se real-
mente é do desejo da idosa viver no local. “Se nós percebemos
que é uma imposição dos familiares, não recebemos. Nosso
objetivo é acolher as pessoas que não podem mais viver em
seus lares, que não tem mais família ou que foram abandona-
das”, pontua Lygia. No curso dos 17 anos em que acompanha o
AMMA, a ministra conta que existem algumas moradoras que
jamais receberam a visita de sequer um parente.
O abrigo possui toda a documentação legal, contudo, isso
não lhes garante nenhuma parceria. As idosas que vivem no
AMMA são associadas e pagam taxas diferenciadas, de acor-
do com o tipo de acomodação que utilizam (há algumas com
banheiros privados, outras com banheiros coletivos; peque-
nos apartamentos e ainda a opção da enfermaria para aque-
las que carecem de assistência durante todo o dia).
Uma estratégia para adquirir recursos foi abrir o Brechó
Benefi cente do AMMA, que possui uma lojinha logo na en-
trada da casa. Lá, são vendidos sapatos, roupas, bijuterias e
bolsas. Doações compõem outra parcela para a manutenção
do espaço, além dos eventos realizados com intuito de anga-
riar fundos. “Realizamos todas as festas do calendário civil e
religioso”, explica a ministra
PARA COLABORAR
A vice-ministra Maria Duque explica que toda aju-
da é bem-vinda. Não é apenas fi nanceiramente que
se pode ajudar o asilo. “Estamos abertos para pro-
postas de voluntários. Cada um ajuda como pode”.
Para isso, basta fazer uma visita ao AMMA, ou en-
trar em contato.
Ladeira dos Barris nº 4A| Salvador - Ba
CEP 40070-310 | Telefone: (71) 3329-4161
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MODA
Não se sabe ao certo como a ideia surgiu, mas, principalmen-
te no mundo da alta costura, a customização faz parte do dia-
-a-dia de costureiros e estilistas. O hábito é comum também
entre os jovens das grandes cidades, que buscam uma iden-
tidade própria e se favorecem de diversos elementos para
criá-la. Essa mania de modificar as peças do vestuário não é
nova, mas quando se tratam de calçados, especialmente tê-
nis, a tendência é relativamente recente.
De canetas esferográficas coloridas a tintas para tecidos,
o que vale mesmo é a criatividade na hora de dar forma ao
desenho que estampará o calçado. Há os que usam gliter, re-
síduos de materiais recicláveis, metais. Também tem a turma
que recorta, cola, rabisca. A intenção final é sempre a mesma: modificar o original para torná-lo exclusivo.
E como era de se esperar, em se tratando das gerações Z
e Y – nascidos nas décadas de 1980 e 1990 e no início do sé-
culo XXI, a internet é a porta de entrada
para esse tipo de mercado, que se carac-
teriza basicamente pela informalidade
e pelo trabalho artesanal, realizado em
sua grande maioria por artistas plásti-
cos e profissionais da área de Design.
“Essa ideia de customizar remota ao
tempo do colégio, quando pegávamos
os cadernos para fazer colagens, de-
senhos, etc.”, conta o publicitário e fo-
tógrafo Nelson de Castro, 33 anos, que
customiza tênis desde 2009.
“Sempre busco criar algo relaciona-
do à arte, que seja fora do contexto da
realidade do computador ou das mídias
digitais. E numa dessas buscas, resolvi
criar algo diferente para presentear mi-
nha namorada no Dia dos Namorados.
Vi um tênis na rua todo colorido e come-
cei a pesquisar. Comprei o material e fiz
na cara e na coragem”, relembra Nelson.
Ele, como tantos outros, começou
customizando seus próprios tênis, mas
logo se viu criando para amigos e clien-
Nova febre entre os jovens que buscam es-tilos próprios, a customização de calçados, em especial o tênis, dita moda e demonstra o conceito criativo da nova geração, que se apropria de cores e materiais do mais diver-sos para dar cara às suas criações.
TEXTO
FOTOS
FABIO FRANCO
NELSON DE CASTRO
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tes. “A partir desse primeiro tênis, os amigos e pessoas co-
nhecidas começaram a pedir novas criações. Depois coloquei
algumas imagens na internet e o leque de pedidos cresceu
demais. E o processo de criação não é algo simples. Dá mui-
to trabalho. Fico pelo menos cinco dias trabalhando no tênis,
mas é algo que me dá prazer”.
FAÇA VOCÊ MESMOHoje já é possível adquirir calçados preparados para a custo-
mização, ou seja, crus, sem nenhum tingimento ou detalhe.
Há também grifes e empresas calçadistas de olho nesse filão
– algumas começaram a desenvolver peças cheias de estilo
e atitude. Mas o grande lance é criar seus próprios projetos.
“Gosto desse método de customização, porque o cliente acaba
se envolvendo diretamente no processo criativo, já que suge-
re temas, desenhos, cores e formas que serão impressos no
calçado”, comenta o publicitário.
Nelson conta que essa febre é algo muito vivo na turma mais
jovem, que busca exclusividade da hora de compor um estilo.
“Posso te dizer com segurança que existe um bom mercado para
quem quer customizar. A galera mais nova quer algo somente
seu, que não seja produzido em larga escala. Quer algo que não
tenha outro igual. E isso é bacana, porque até uma falha duran-
te a criação dará uma característica nova ao resultado final”.
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MUSEU
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MUSEU
Casa do Sertão reúne rico acervo de peças, livros, jornais e material fonográfico com conteúdos históricos, dando um indi-cativo de como a herança popular influencia diretamente na formação de uma sociedade culturalmente organizada.
A HISTÓRIA DO
EM FEIRA DE SANTANA
ENDEREÇO Rodovia
Transnordestina, s/n
Campus UEFS – Novo
Horizonte.
Feira de Santana
ATENDIMENTO AO
PÚBLICO das 08h
às 11h30 e das 14h às
17h30
ENTRADA GRATUITA
SERTANEJOPOVO
A formação da sociedade baiana está diretamente interligada aos usos e costumes
do homem sertanejo, personagem habituado ao suplício da seca, aos espinhos dos
cactos e a aridez das terras nordestinas. Sempre acompanhado de uma montaria
(cavalo ou mula), com seu tradicional chapéu de couro, o sertanejo acabou incorpo-
rado a um universo que ultrapassa os limites do sertão, com ramificações na gastro-
nomia, na cultura, na linguagem, na religião...
Com o propósito de resgatar e preservar essas tradições sertanejas, o professor
e escritor Raimundo Gonçalves Gama recomendou a construção de um espaço cul-
tural no município de Feira de Santana, que abrigasse artefatos e a memória do
povo feirense. Em 1978, após a execução do projeto por parte do Lions Clube, foi
inaugurado o Museu Casa do Sertão.
Hoje, administrado pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o mu-
seu guarda um acervo riquíssimo, composto por objetos em couro, madeira, argila e
palha; brinquedos; livros e documentos históricos; além de um arquivo fonográfico. De
acordo com a museóloga Joseane Macedo, que trabalha no local, atualmente a Casa
do Sertão abriga aproximadamente 28 mil peças e traz exemplos de produção volun-
tária, individual ou coletiva realizadas, principalmente, na região de Feira de Santana.
“O acervo é composto por objetos que evidenciam o cotidiano do interior baia-
no, expressos nos candeeiros e fifós, nos instrumentos que simbolizam o dia a dia
do trabalho, nos móveis e utensílios domésticos, nos brinquedos populares que nos
contam histórias do mundo infantil, entre tantas outras peças que singularizam o
universo sertanejo”, revela a museóloga, que destaca também a utilização do local
para a realização de exposições temporárias ou itinerantes.
TEXTO FABIO FRANCO FOTOS MARCELO SANTANA
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MUSEU
JORNAIS E ÁUDIOSGrande diferencial da Casa do Sertão, seu acervo fonográfico
é composto por materiais de áudio como fitas cassete, discos
musicais, gravações de cantos, entre outros, que conferem
uma representatividade ainda maior ao papel da cultura ser-
taneja na constituição da sociedade baiana. “Esse conjunto
visa resgatar informações sobre a memória histórica, cultural,
econômica e geográfica da microrregião de Feira de Santana
e, sobretudo, valorizando o papel desempenhado pelo homem
sertanejo na formação social do Estado da Bahia. Cada peça,
mais do que objetos estanques, pode e deve ser estudada
como elemento de uma produção histórica e cultural”.
O acervo do museu
conta com quase 30
mil peças, incluindo
jornais digitalizados.
« Esse conjunto visa resgatar informações sobre a memória his-tórica, cultural, econômica e geográfica da microrregião de Fei-ra de Santana e, sobretudo, valorizando o papel desempenhado pelo homem sertanejo na formação social do Estado da Bahia »
JOSEANE MACEDO, MUSEÓLOGA RESPONSÁVEL PELA CASA DO SERTÃO
Desde 2010, o museu também disponibiliza o acesso a
manuscritos e jornais antigos de Feira de Santana, que foram
catalogados e digitalizados. O visitante pode "folhear" digital-
mente periódicos datados dos séculos XIX e XX, como “O Mu-
nicípio” (1892-1894) e “Gazeta do Povo” (1891-1893). “O acervo
é composto por livros, manuscritos, periódicos, documentos,
literatura de cordel, somando mais de 2.000 títulos, alguns
raros. Também foram doados uma coleção de ‘O Pasquim’,
das décadas de 1970 a 1990, e diários feirenses que circula-
ram entre 1960 e 1970, a exemplo do Tribuna Popular, Folha
da Feira e Jornal da Feira”, pontua Joseane Macedo.
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MUSEU
ILUSTRE DESCONHECIDOApesar de toda a qualidade material do acervo, muitos dos
visitantes reclamam da pouca – quase inexistente – divulga-
ção do museu, que passa despercebido pelos moradores de
Feira. A jornalista Calila das Mercês, 23 anos, que viveu gran-
de parte da vida na cidade é categórica ao apontar esse des-
cuido. “Infelizmente falta divulgação do local. Poucas pessoas
conhecem ou já tiveram a oportunidade de visitar a Casa do
Sertão, que, por sinal, tem uma ótima proposta de preserva-
ção da cultura feirense”.
A jovem, que costuma visitar exposições e atividades cultu-
rais, conta que ‘descobriu’ o museu por conta própria. “Adoro
cultura. Sempre saio com amigos para eventos desse tipo, bus-
cando novas percepções, novos conhecimentos. Mas nem todos
os jovens têm esse hábito. Por isso, acredito que os responsáveis
pelo local, a Secretaria de Cultura e órgãos correspondentes
precisam chamar a atenção desse público, em especial, para
que se possa criar o costume de visitação do museu”, aponta.
MUSEU
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PROFISSÃO
A profissão de maquiador é pouco lembrada, mas na prática o trabalho é o diferencial para quem atua nas TV e nos palcos. A maquiagem tem o “poder” de transformar e criar novas caracte-rísticas, sendo elemento fundamental na vida de profissionais.
Cantora, ator, jornalista. O que esses três personagens têm em comum? Pensou?
Então vamos lá... nos três casos, figura pelos bastidores de suas carreiras um profis-
sional que é pouco visto, pouco lembrado, mas que faz uma diferença e tanto nas
vidas de todos: o maquiador
“Por mais que um apresentador/repórter saiba se maquiar, o profissional da ma-
quiagem sempre sabe o que é melhor, quais os tons mais adequados e o que pode
e deve ser valorizado”, diz a jornalista e apresentadora Camila Marinho. Seu “anjo
da guarda” é a maquiadora Rose Brito, que diariamente está ao seu lado e cuida
de cada detalhe antes de Camila sentar na bancada para transmitir as notícias ao
público ou até mesmo de ir às ruas para fazer reportagens.
“Camila é uma pessoa amorosa, parceira e amiga! Super tranquila e escuta minhas
idéias e opiniões. Às vezes resolvo ousar um pouco e ela sempre topa”, conta Rose, que
completa: “ela só não gosta mesmo de ba-
tom e tons fortes”. Rose é maquiadora há
oito anos, mas a curiosidade pela área é
mais antiga. “Desde pequena eu sempre
prestava atenção nas produções das no-
velas, filmes e em casa me maquiava e me
via nesse mundo da fantasia”, explica.
Ela fez o primeiro curso ainda na ado-
lescência e logo depois se profissionali-
zou. “O maquiador bem preparado agre-
ga valor ao produto. Para mim é sinônimo
de valorização mesmo. Digo isso porque
a gente faz com que a pessoa rejuvenes-
ça ou envelheça, emagreça ou engorde.
Se for feito com conhecimento técnico, a
maquiagem é uma arte”.
“Em qualquer look a maquiagem tem
um papel crucial. Inclusive vemos nos
MAGICOS´DA VIDA REAL
TEXTO PIETRO RAÑA FOTOS MARCELO SANTANA
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desfiles de moda, as experiências mais loucas, que acabam
chamando mais a atenção que as próprias roupas. Para o
artista que está no palco, na TV e em eventos de todo tipo, a
meta é ficar sempre deslumbrante e aí mora o desafio”, afirma
a cantora Carla Visi, que confessa: “apesar de toda minha li-
nha zen, adoro uma boa maquiagem!”. Carla é cuidada, desde
2008, por Afonso Henrique – apresentado a cantora por ou-
tro grande maquiador baiano, Zezinho Santos – que além de
maquiagem, cuida do cabelo da cantora. “As produções mais
recentes têm o seu toque de mestre e sinceramente, me vejo
maravilhosa”, finaliza.
Embora seja uma profissão de bastidor, com importância
mais do que ressaltada, infelizmente o maquiador muitas
vezes é relegado a planos inferiores. “A profissão ainda não
é tão valorizada quanto deveria ser! O caminho vem sendo
trilhado, mas ainda há muito que percorrer. Os maquiadores
vêm se especializando cada vez mais, mas ainda precisam do
reconhecimento, especialmente pelas pequenas empresas,
que muitas vezes não contratam o profissional por conside-
rar um luxo”, diz Camila.
O ponto de vista é confirmado pelo ator Danilo Martins.
“Apenas grandes produções têm maquiadores profissionais.
Nos espetáculos e companhias menores é o próprio ator que
faz sua maquiagem, por uma questão financeira. Ou o ma-
quiador faz a primeira fase da temporada e depois os atores
é que continuam”, conta.
Para Rose, o maquiador é desvalorizado quando se ana-
lisa individualmente a profissão. “Num salão, as pessoas ter-
minam fazendo a maquiagem como resultado de um pacote
com o cabelo. Mas na maior parte das vezes, vemos mulheres
que vão a salões para fazer penteados e voltam para casa
para se maquiarem antes de festas”, conta. E todos são unâ-
nimes quanto a importância desse profissional: “Não resta a
menor dúvida de que o maquiador é um artista! Ele esconde
as ‘imperfeições’, transforma... Basta um pincel e o orgulho
do que se faz!”, conclui Camila.
A História da MaquiagemO INÍCIO
A maquiagem começou a mais de 30 mil anos atrás.
Contudo, o uso desses elementos para fins estéticos
só começaria cerca de 4000 A.C., no Egito. Escava-
ções apontam que os faraós pintavam os olhos para
evitar que as pessoas os olhassem diretamente. Era
simbologia de respeito. Mas havia quem se maquia-
va por vaidade, como Cleópatra, que usava pó khol
nas pálpebras e se banhava em leite de cabra. Tem-
pos depois, na Roma Antiga, as mulheres passaram
a usar máscaras de farinha, miolo de pão e leite,
durante a noite, sobre o rosto, para melhorar a pele.
No Japão, do século IX ao XII, a valorização da pele
branca era regra geral. As mulheres aplicavam um pó
feito de farinha de arroz, chamado oshiroi. Depois pas-
saram a usar uma pasta feita do extrato de açafrão,
para colorir as maçãs do rosto. Em 157 A.C., o médico
grego Galeno, criou o primeiro creme facial do mun-
do, o Unguentum Refrigerans, resultante da mistura
da cera de abelha, óleo de oliva e bórax (composto
derivado do Boro). Com o passar dos anos, o óleo de
amêndoas substituiu o de oliva, tornando o creme
mais cremoso, cuja fórmula básica ainda é utilizada
atualmente em emulsões de água em óleo.
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CAPA DançaCAPA Dança
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Dança CAPA
Reconhecida como uma das artes ditas de primeira grandeza, a dança talvez seja aquela que represente, na sua totalidade, toda a perfeição e graciosidade do ser humano. Os movimentos rápidos e sincronizados parecem impossíveis para uma pessoa comum, quem dirá para alguém que tenha limitação de movimentos. Para provar que talento e força de vontade podem superar qualquer obstáculo, pessoas com deficiência física se transformam em dançarinos profissionais e expandem sua arte por todo o país.
TEXTO FABIO FRANCO
Marcelo Santana
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CAPA Dança
Cada passo, movimento, olhar, revela um estado de leveza e
simplicidade, que ofusca, pelo menos por alguns instantes,
as horas e horas de ensaio e o sacrifício do dançarino para
representar bem o seu papel no palco. Considerada uma das
três principais artes cênicas da antiguidade, além do teatro e
da música clássica, a dança, infelizmente, ainda se restringe
a um público pequeno, às vezes erudito, mas o desejo de am-
pliar o acesso à sua arte é algo cada vez mais vivo nas compa-
nhias de dança locais.
Nos últimos anos essa representação artística também se
transformou em ferramenta das mais substanciais para a in-
clusão social e, porque não dizer, para a melhoria da vida de
pessoas com deficiência. De terapeutas a neurocirurgiões, é
unânime a opinião de que a dança seja mais que um método
que proporcione ao corpo benefícios extraordinários. A dan-
ça é, antes de tudo, um instrumento de transposição de bar-
reiras e afirmação de conquistas perante a sociedade.
“A Dança, de fato, traz inúmeros benefícios, desde a me-
lhoria da autoestima, estímulo à criatividade, contato com o
outro, reconhecimento das possibilidades e eficiências, cons-
ciência corporal, quebra de padrões corporais, entre outros”,
opina Edu O, coreógrafo, diretor artístico e intérprete-criador
do ‘Grupo X de Improvisação em Dança’ e dançarino da ‘Can-
doco Dance Company’ (Londres). No
alto dos seus 35 anos, Edu é um perso-
nagem singular. A deficiência em nada
atrapalhou o seu desenvolvimento no
meio artístico, pelo contrário, foi a for-
ça propulsora para que sua arte tives-
se reconhecimento.
“Me interessa a dança como expressão artística, onde dia-
logo com o mundo, me coloco, externo minhas inquietações
e pensamentos. Sou artista da Dança Contemporânea”. Sua
desenvoltura resultou num projeto pioneiro na Bahia. Desde
2010, Edu reúne profissionais da dança (com ou sem deficiên-
cia) no encontro “O que é isso? de Dança”, para analisar e am-
pliar as discussões sobre questões ligadas à acessibilidade e
profissionalização do artista com deficiência.
Ninfa Cunha também é entusiasta dessa representação
artística. Hoje com 43 anos, a dançarina e produtora, que é
cadeirante, conta que ingressou no universo da dança por
indicação médica, mas acabou se descobrindo uma apai-
xonada pelo fazer artístico. “Costumo dizer que a dança é
como um bichinho que te morde e invade teu corpo. Quan-
do comecei pensava apenas em trabalhar meu corpo e
acabei descobrindo novas sensações. Não tinha a intenção
de me tornar dançarina”. E revela: “Meu início nos tabla-
dos não foi fácil. Pelo contrário, foi extremamente difícil.
Imagina eu, naquele palco imenso, sozinha, de frente para
aquele público? Tremi. Mas minha amiga e incentivadora,
Marcia Abreu, me chamou e disse ‘você pode’. Encarei o
desafio e digo que foi uma das melhores sensações que
tive na vida”.
« A Dança, de fato, traz inúmeros bene-fícios, desde a melhoria da autoestima, estímulo à criatividade, contato com ooutro, reconhecimento das possibilidades e eficiências, consciência corporal,entre outros »
EDU O
Ga
bri
el G
uer
ra
CAPA Dança
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Dança CAPA
SEM LIMITAÇÕESPara a pesquisadora Carolina Teixeira, que iniciou na dança
em 1995, como substituição a fisioterapia na reabilitação de
um AVC, não existem limites para o deficiente. “A deficiência é,
antes de tudo, uma experiência estética, é um modus de pen-
sar, insuflar por meio das impossibilidades, ela estimula a apro-
priação. Aquele que tem uma deficiência tem uma ‘impotência’
a ser explorada, degustada, confrontada e, acima de tudo, uma
experiência assumida, desvinculada do fetiche especulativo-
-espetacular que a sociedade ao longo dos tempos cristalizou”.
Confrontando o conhecimento próprio e as experiências
de vários outros indivíduos, Carolina se debruçou sobre o uni-
verso das pessoas que atuam, trabalham e se divertem com a
« A deficiência é, antes de tudo, uma experiência esté-tica, é um modus de pensar (...) Aquele que tem uma defi-ciência tem uma ‘impotência’ a ser explorada, degustada, confrontada e, acima de tudo,uma experiência assumida »
CAROLINA TEIXEIRA
LIVRO DEFICIÊNCIA EM CENA
Livraria LDM | (71) 2101 - 8000
R$ 35,00
dança, apesar das possíveis limitações, num livro que acaba
de ser lançado, intitulado “Deficiência em Cena”. “A arte pode
oferecer uma infinitude de possibilidades, mas não tem uma
função específica. A arte é dialética e em constante devir, não
deve ser pensada enquanto uma fonte de resultados, mis-
sões, redenções. Neste sentido, cabe ao artista (com ou sem
deficiência), apropriar-se de suas impossibilidades ou não.
Isso dependerá de seus projetos estéticos e de não querer ser
visto sob a ótica da especialidade, superação heróica de limi-
tes ou do desejo social de uma salvadora promessa de cura
para o mundo”, revela.
O que talvez seja o grande obstáculo para os profissio-
nais da dança com deficiência seja a falta de planejamen-
Marcelo Santana
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34
CAPA Dança
to e investimento em ações de inclusão e promoção desse
tipo de atividade social e artística. “Somente a dança ou a
arte não é capaz de fazer uma real inserção social da pes-
soa com deficiência. Para isso é necessário um conjunto de
coisas que começam no acesso à boa educação, passando
pela acessibilidade arquitetônica e cultural, real participa-
ção no mercado de trabalho e não as migalhas dadas pelas
empresas. Um verdadeiro reconhecimento das capacidades
e eficiências da pessoa, enfim, muitos pontos para serem le-
vantados”, comenta Edu O.
Ninfa concorda e toma como exemplo dois projetos cria-
dos por ela – Casulo de Artes Inclusivas e Perspectivas em
Movimento, nos quais teve a oportunidade de lidar direta-
mente com agentes que deveriam estar preparados para atu-
ar ao lado de pessoas com deficiência. “Me espanta a falta de
conhecimento e a ausência de experiência em lidar conosco.
No Casulo, ouvi uma professora dizer que a educação inclu-
siva oferecida pelo Estado é de faz de conta. Por isso, eu luto
pelo ideal de acessibilidade plena, não somente para nós, que
temos deficiência, mas para todos os indivíduos. Porque al-
guns acreditam que acessibilidade é você colocar uma barra
de apoio ou uma rampa. Não se trata disso. Trata-se de capa-
citação, de conhecimento no trato diário, de políticas públicas
de ação afirmativa”.
Basílio Boarin Neto
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« a dificuldade de acessibilida-de, no sentido pleno, é apenas questão atitudinal. Quando você muda sua atitude, acaba se ajudando além do que pode imaginar e faz a diferença »
NINFA CUNHA
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Dança CAPA
Carolina Teixeira, que elege os editais como uma das poucas
possibilidades de fomento de grupos artísticos na Bahia e no
Brasil, reflete. “A falta de investimentos e, acima de tudo, de pro-
fissionais que discutam o tema sem a ótica analítica de quem
está fora da experiência da deficiência, também compromete,
em grande parte, as discussões necessárias para a promoção
de um pensar menos assistencialista acerca do trabalho do ar-
tista, de sua obra e de sua circulação no mercado nacional e
internacional”. E com um humor cativante Ninfa finaliza. “Para
mim, a dificuldade de acessibilidade, no sentido pleno, é ape-
nas questão atitudinal. Quando você muda sua atitude, acaba
se ajudando além do que pode imaginar e faz a diferença”.
Os benefícios para quem pratica a dança são
inúmeros, em virtude dos movimentos potencia-
lizarem as capacidades e habilidades corporais
do praticante. Por exemplo, para quem tem defi-
ciência nos membros inferiores, a dança propor-
ciona uma melhora significativa da musculatu-
ra, da resistência física, da circulação sanguínea
e da função cardiorrespiratória. A dança tam-
bém favorece os deficientes auditivos e visuais,
otimizando a percepção de espaço, influencian-
do positivamente na sensação de equilíbrio e
integração dos sentidos.
Nota do editor: O grupo X de Improvisação
em Dança é pioneiro no Brasil em audiodes-
crição de cenas de Dança para cegos, além
de realizar tradução para a Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS), nos espetáculos que têm
textos, para contemplar o público com defici-
ência auditiva.
BENEFÍCIOS DA DANÇA
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OPINIÃO
Cultura: elemento de Inclusão Social!Aline Marianne Magalhães FariasComunicóloga, especialista em administração
e planejamento de projetos sociais e gestora
da Mana Agência de Inovação, Cultura e
Desenvolvimento.
comunicacaoedesenvolvimento@gmail.com
Arquivo pessoal
Pessoas contam estórias. São histórias. Tesouros inestimáveis
de uma experiência que os livros não ensinam. Aliás, pesso-
as são como livros: precisam ser lidas, visitadas, preservadas.
Mas, o que são os livros, sem as mãos e os corações inquietos
que bebem de suas páginas? Que anseiam pelo desfecho da
trama? O que dizer então das pessoas, se no seu processo
de feitura, no seu caminho de se fazer gente, não encontra a
oportunidade de ver as cortinas se abrirem para um mundo
novo, de ver a si mesmo nos picadeiros, nas cordas-bambas
que não seja a costumeira do labor cotidiano? E a cultura,
é um bem popular? Ora, meu Senhor, a festa das cores, dos
ritmos, das formas e texturas exibe uma faixa indicativa em
formato subliminar, mas ao mesmo tempo, incisivo que diz
em som velado e grito seco que a cultura ainda não está para
todos – apesar de ser o povo e dele nascer.
É no mínimo curioso que o Brasil lidere posições em núme-
ro de usuários na rede mundial de computadores e a Bahia
ainda não conheça “o que a Bahia tem”. Mas é no mínimo so-
litário que comunidades e populações inteiras nunca tenham
assistido a uma produção nacional, ido ao teatro ou tivesse
acesso a qualquer manifestação artístico-cultural. Ao visitar
esta realidade, não é difícil conectar a tímida acessibilidade
à cultura com os índices de marginalidade, escolaridade e as
taxas de desenvolvimento de um povo, já que a cultura é con-
dição inalienável do ser e se vista como um valor, um recurso
que deve ser reconhecido, valorizado, mobilizado e articulado
de forma complementar com outros conhecimentos, pode se
transformar em instrumento multiplicador do nosso poten-
cial de crescimento e resolução de nossos problemas sociais.
Salve a Bahia de Todos os Santos, pois nesse estado-nação
temos a graça de exibir um povo, com suas formas e manifes-
tações tão variadas que, por si, já constituem patrimônio. Este
povo merece ver e ser visto e a cultura é um espelho de gran-
de clarividência no processo de inclusão social e garantia
de direitos, pois com ela é possível qualificar as expressões
e práticas da arte e do saber popular, transformando-as em
promoção do bem estar social.
Fazer com que o homem se conheça, reconheça e esta-
beleça vínculos consigo é o que a cultura, este legítimo ins-
trumento de inclusão proporciona. Proporcioná-la ao povo
é torná-lo livre! Ao recorrer ao significado da palavra livre,
uma das referências encontradas define como aquilo que
não apresenta obstáculos, caminho livre. Oxalá, ou seja, to-
mara! Faço votos que a cultura ande por caminhos livres,
sem obstáculos! Que adentre cada vez mais não só o cam-
po estético, mas também se cerque de medidas necessárias
de valoração, profissionalização e seriedade que necessita.
Que artistas, entidades, organizações possam se valer desse
meio de erradicação da miséria como forma de reduzir as
desigualdades sociais e uma das piores espécies de pobreza: a pobreza do conhecimento!
Utilizemos, pois, os veículos que permitem este acesso: editais, incentivos, políticas públicas, patrocínios, parcerias
público-privadas. Permitamos que todo o artista vá onde o
povo está, mas, de igual forma, que todo povo também possa
ir ao encontro desse artista: encantar-se com ele, identificar-
se com ele e nele vislumbrar a perspectiva de um mundo
múltiplo e generosamente possível.
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PATRIMÔNIO
Especialmente no Nordeste baiano, as festas do mês de junho são celebradas com forró, fogueiras, quadrilhas, fogos de artifício e, é claro, muita comida. Com o pas-sar dos anos, as referências prioritariamente europeias foram ganhando outros ele-mentos, novos ingredientes, cores e sabores graças à mis-tura dos costumes de bran-cos, índios e negros.
TEXTO MAIARA BONFIM
PATRIMÔNIO
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PATRIMÔNIO
Se o Carnaval não tem nada a ver com culinária e no Natal, para rechear a mesa, é
preciso importar ingredientes e até frutas que vão compor a ceia, o São João é com-
pletamente diferente. Nas festas de junho, a mesa é farta e composta por pratos
típicos à base de ingredientes bem regionais. Laranja, milho e amendoim disputam
a atenção mesmo nas menores expressões da festa.
Nas cidadezinhas do interior da Bahia, as comemorações acontecem, pratica-
mente, durante o mês inteiro. Por influência portuguesa, desde os idos da coloniza-
ção do Brasil, três conhecidos santos católicos são celebrados em junho. O 13º dia
é do casamenteiro Santo Antônio. Dia 29 é destinado ao manda-chuva, aquele que
decide quem entra ou não pela porta do céu, São Pedro. Mas o mais famoso é mes-
mo o primo do menino Jesus, São João, que nasceu no dia 24. Vítimas constantes
da seca, os nordestinos aproveitam esse período para agradecer pelas chuvas que
ajudam a fertilizar a terra.
Festejos não faltam. Mas e a comida, de onde vem? A explicação para a mi-
lharada reinar soberana na mesa está no calendário agrário. Junho é o mês em
que se colhe o milho que foi plantado lá no dia de São José, em 19 de março.
Cozido ou assado na brasa, ele não carece de muita intimidade com a cozinha e
já conquista paladares.
O milho é um produto natural do continente americano, muito apreciado, prin-
cipalmente pelos povos indígenas. Contudo, não era
muito valorizado pelos índios que povo-
avam o Brasil. Aqui, eles tinham a
mandioca (ou aipim ou maca-
xeira) como base das suas
refeições. Os europeus
também não incluíam o milho em sua
dieta, pois o consideravam de segunda
categoria. Sendo assim, era oferecido
para os animais e estava farto nas sen-
zalas. Justamente ali é que foram cria-
dos diversos pratos, juntando à maioria
deles o leite de coco.
Ainda hoje, quem tem mais traque-
jo na cozinha prepara bolos, canjicas,
pamonhas, mingaus, lelês, curaus e
broas, especialidades que são verda-
deiros manjares para os amantes desse
cereal. Para quem não tem habilidade
ou busca profissionalização, na capital
baiana, muitas escolas de culinária e
até grandes empresas distribuidoras de
alimentos oferecem cursos para ensinar
o preparo das iguarias juninas não ape-
nas feitas à base de milho, mas incluin-
do também o amendoim, o aipim e a
carimã. “Com esses quatro ingredientes
você faz praticamente todas as receitas
para a sua festa junina”, ressalta a culi-
narista Regina Gantois, que trabalha
nessa área há quase 40 anos.
PATRIMÔNIO
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PATRIMÔNIO
OPORTUNIDADEAlguns buffet da cidade também oferecem em seus catálogos
kits juninos para entregas domiciliares e eventos corporati-
vos. “Os orçamentos começam a ser realizados antes mesmo
do carnaval”, conta a doceira Jaciara Delmar, que é respon-
sável por uma empresa que oferece esse tipo de serviço. A
demanda começa a aumentar a partir dos meses de abril,
quando são feitos diversos agendamentos para festas.
Jaciara aprendeu com sua mãe a cozinhar todo o cardápio
de comidas regionais. “Tudo isso já fazia parte dos festejos ju-
ninos e do dia a dia da minha família”, conta, relembrando
como eram as refeições no café-da-manhã, almoço... Tudo era
feito em casa, de uma forma bem artesanal. Essa é a fórmula
para o sucesso do seu buffet atualmente.
Ela enumera quais são as comidas mais pedidas que não
podem faltar em qualquer cardápio junino: “Bolos de aipim,
carimã (que em alguns lugares chamam de puba), milho e
tapioca, canjica, mungunzá, amendoim cozido e os licores”.
Ela ainda conta que, ao longo do tempo, foram acrescentando
outras iguarias: “pé-de-moleque, paçocas doces e salgadas,
bombom de genipapo, pipoca, maçã do amor, doce de leite e
doce de abóbora em compota”.
Hoje, os festejos de São João costumam ser um verdadei-
ro chamariz que contribui para a propagação da imagem
do Brasil no exterior, bem como movimentam o turismo e a
economia nos pequenos municípios nordestinos. Na capital,
especialmente as feiras são responsáveis por trazer os pro-
dutos vindos do interior para compor as mesas das famílias
soteropolitanas. Nos shoppings, escolas e até nas igrejas são
montadas barraquinhas e realizadas festas comemorativas,
sempre repletas de comidas típicas do período junino.
Curau? Mingau? Lelê?(Por Regina Gantois)
Curau é o que chamamos de canjica, ou melhor, é a nossa
canjica no sul do Brasil. Mingau de milho é feito com milho
verde ou fubá de milho, acrescido de leite, leite de coco e
açúcar, que devem ser levados ao fogo para dar o ponto.
E o melhor é consumi-lo ainda quentinho. E por fim, o lelê
é um prato feito com milho pilado, coco e açúcar: é quase
um mingau que na proporção que vai esfriando, vai endu-
recendo e fica em ponto de corte.
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As diversas facetas da cidade de
MonteSantoMunicípio baiano se destaca pelo turismo religioso, rica arquitetura do período colonial e situações insólitas, a exemplo da descoberta em suas terras do maior meteorito do Brasil. E além de tudo isso, a cidade, que recebeu personagens históricos como Lampião e Antonio Conselheiro, também serviu de locação para o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do cineasta Glauber Rocha.
TEXTO FABIO FRANCO FOTOS ACERVO MONTESANTO.NET
TURISMO
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TURISMO
Incrustada na região Nordeste da Bahia, a cidade de Monte
Santo guarda segredos incontáveis, capazes de encantar até
o visitante mais informado. Entre as edificações do período
colonial, se esconde uma rica história com personagens e
acontecimentos no mínimo inusitados, que influenciaram di-
retamente a construção da cultura brasileira. A começar pela
sua fundação: os mais antigos contam que a cidade começou
a sua caminhada por volta de 1755, quando o frei Apolônio de
Todd, ao passar pela região onde hoje se encontra o municí-
pio, percebeu a semelhança das terras com o Monte Gólgota,
localizado em Jerusalém.
Anos depois, o lugar passou por mudanças, sofreu alte-
rações na nomenclatura, mas finalmente em 25 de julho de
1929, por conta da Lei Estadual nº 2.192, foi elevado à condi-
ção de cidade, oficialmente com o nome de Monte Santo. Dois
séculos depois de sua criação, Monte Santo ainda preserva
boa parte do seu conjunto arquitetônico, que abriga casarões
construídos entre os séculos XVII e XVIII. O município tam-
bém é um expoente do chamado turismo religioso, caracte-
rística que remota a grande peregrinação de romeiros, tão
antiga quanto o surgimento da localidade.
“Queremos mostrar ao mundo o devido valor histórico e
cultural que a cidade tem e também promover o turismo re-
ligioso, que é sinônimo de gerações. Com isso, realizamos um
trabalho com comprometimento e amor que nos torna ainda
mais ricos culturalmente”, conta o repórter Anderson Silva
que, ao lado de amigos, criou um site (www.montesanto.net),
contando causos e fatos marcantes sobre o lugar.
PERSONALIDADESA cidade de Monte Santo também ganhou fama através dos
séculos graças às constantes visitas de personagens dos mais
folclóricos da história brasileira. O primeiro deles e talvez o
mais intrigante, foi Antônio Conselheiro, que criou em 1893
a comunidade de Canudos, num local em que anteriormente
havia apenas uma fazenda. De acordo com documentos da
época, Monte Santo era o centro das atividades do exército
brasileiro que lutou e derrotou os seguidores de Conselheiro.
Outra aparição que deu o que falar foi a de Lampião.
Mas antes mesmo de se tornar o “Rei do Cangaço”, Virgu-
lino Ferreira já havia dado as caras pelo município baiano
— na época o jovem sertanejo comercializava peles de ani-
mais em um mercado local. Anos depois, o já famoso can-
gaceiro sempre passava por Monte Santo para reabastecer
seu bando.
Mas não foi somente na área política que a localidade se
tornou conhecida. A cidade também serviu de expoente, em
solo baiano, na divulgação da cultura regional por diversas
ocasiões. Em uma delas, recebeu de braços abertos o cineasta
Glauber Rocha, que a utilizou como locação e set de filmagens
para o longa-metragem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, consi-
derado um marco do movimento denominado ‘Cinema Novo’.
Anos depois foi a vez de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, le-
var a sua sanfona e seus trejeitos típicos do povo nordestino
para o município. Conta a estória popular que Gonzagão foi
contratado para comandar os festejos juninos e acabou se
tornando amigo do então prefeito Ariston Andrade. E como
forma de retribuir o carinho do novo amigo, Luiz Gonzaga
ofertou a sua sanfona, que hoje se encontra em exposição no
Museu do Sertão. “Monte Santo se desenvolveu baseada na
história de grandes personagens, mas também vale lembrar
que outras personalidades locais divulgam e muito a nossa ci-
dade, a exemplo do cantor e compositor Gereba e do escritor
Padre Enoque”, conta Anderson.
Legenda legenda
legenda legenda
legenda legenda
legenda legenda .
43
TURISMO
METEORITO E ARTE RUPESTRENão bastasse tudo isso, Monte Santo também recebeu visitas
intergalácticas. Mas não se tratam de extraterrestres ou na-
ves espaciais. No ano de 1784, foi encontrado, às margens do
Rio Bendegó, aquele que seria classificado como o maior me-
teorito já localizado em terras brasileiras. A rocha, que pesa
mais de cinco toneladas, está exposta no Museu Nacional, no
Rio de Janeiro. Mas o visitante ainda pode visualizar a impo-
nente relíquia espacial por meio de uma réplica em exposi-
ção no museu da cidade.
Outro atrativo dos mais procurados são os sítios arqueoló-
gicos da região. Pelo menos cinco fazendas — Maria de Lima,
Pedra Branca, Riacho da Onça, Caixão e Santa Rita — abri-
gam inscrições rupestres em suas terras. Além disso, também
existe um povoado chamado Pedra Vermelha, onde foram
encontrados fósseis de animais do período pré-colombiano.
“Existem várias opções de lazer para quem visita a cidade
como o Museu do Sertão, onde está inserida grande parte da
história local e da Guerra de Canudos; o Centro de Lazer e
Cultura Amélia Andrade, onde o visitante poderá relaxar e
comer algumas comidas típicas da região; o Santuário San-
ta Cruz, que apresenta uma grande riqueza não só religiosa,
mas também cultural e natural. Também podemos citar as be-
las praças Monsenhor Berenguer e Professor Salgado, além
das trilhas da Serra da Santa Cruz, que apresentam fontes
naturais como a conhecida ‘Simão’ e uma diversidade de fau-
na e flora”, finaliza Anderson.
A cidade costuma
receber milhares
de turistas para
visitar o Santuário
Santa Cruz.
44
ENTREVISTA Samuka
“Se você se refere ao mercado de Salvador, bas-ta ter um computador com Photoshop e pronto. Qualidade ainda não é o primordial para se trabalhar aqui”. A afirmação é de Samuka Ma-rinho, que se batizou de ‘Tratador de Imagem’ e há sete anos criou seu próprio estúdio. Em um panorama sobre o mercado baiano de pós-pro-dução de imagens, Samuka critica, aconselha e desmistifica. Idealista, defende que “é preciso conhecer o real para só depois fazer o fantás-tico ou o fantasioso. Assim você começa todo o trabalho com técnica e termina com arte”. E conta: “Já tive que entregar oito imagens em menos de duas horas. E claro que deu proble-ma. Não ficou tão bom como poderia”.
ARTE
MÃOS ENTRE A TÉCNICA E A
TEXTO FABIO FRANCO IMAGENS ACERVO DESCONSTRUTORA
45
Samuka ENTREVISTA
Quais são as qualidades essenciais para quem deseja tra-
balhar nessa área? É correto denominar esse profissional
como “pós-produtor”?
Eu trabalho com pós-produção fotográfica, mas me intitulo
“tratador de imagem“. Trabalho exclusivamente para publici-
dade. Para trabalhar nessa área, se você se refere ao mercado
de Salvador, basta ter um computador com Photoshop e pron-
to. Qualidade ainda não é o primordial para se trabalhar aqui.
A pinça ainda seleciona pelo preço. Mas para ser um bom
profissional é preciso muito mais do que ter um bom equipa-
mento. Como tudo na vida, para se colocar entre os melhores é
preciso viver o ofício, se privar de tempo, pesquisar e fazer por
gostar. Se não for assim, você nem vai ser chamado.
Como surgiu a vontade de fazer esse trabalho? Tem um
simbolismo artístico?
Na verdade não foi muito planejado viver exclusivamente
disso. Em 2004, voltando de um período de trabalho como
assistente e diretor de arte em São Paulo, comecei a oferecer
esse serviço de cortesia nas agências. Ainda que “de grátis”,
eram poucos os que aceitavam imagens com céu esverdeado,
pele amarelada ou algo dessaturado em suas imagens. A ga-
lera sabia que existia uma diferença gritante entre os traba-
lhos de fora e os daqui, mas não sabia ainda o que era e não
abria a mente para o que estava aparecendo.
Com o tempo e depois de muito encher o saco, consegui
pegar algumas imagens e trabalhar em cima delas, deixando
um resultado diferente, que conseguia ir muito além. Com a
demanda, tive que abrir uma empresa, a Desconstrutora, já
que finalmente o mercado estava aceitando e pagando pelo
novo serviço. Hoje, o estúdio completou sete anos e nesse pe-
ríodo eu pude presenciar quando os fotógrafos começaram
a trabalhar atrás das lentes da câmera e em frente às telas
de computador.
Ainda é possível desvincular a manipulação de imagens
do mundo publicitário?
Atualmente, sem manipulação, uma foto publicitária não
está completa. É possível existir tratamento de imagem sem
fotografia? Não. Mas, sem o tratamento, tem foto que não
existe. Hoje, fotógrafo e artista gráfico devem (ou poderiam)
trabalhar sempre juntos.
Talento e muitas
horas de trabalho
são imprescindíveis
para o pós produtor
de imagens.
46
ENTREVISTA Samuka
O trabalho de pós-produção de fotos se resume ao trata-
mento e manipulação de imagens ou existe algo mais?
Normalmente uma única pessoa da conta do recado ou
há casos onde é necessário auxilio extra para trabalhar
em apenas uma foto?
O que dá margem para o meu trabalho são as produções
complicadas, verbas limitadas e uma falta de tempo cada
vez maior entre o criador e a peça criada. Eu já trabalhei em
agência e posso te dizer isso por experiência própria. Um
efeito digital depende muito do efeito físico que foi incluso
ou que faltou lá na hora da fotografia. Por isso, eu sempre
acompanho a produção das fotos nas quais irei fazer o trata-
mento para poder programar alguns facilitadores. Essa seria
a primeira etapa do serviço.
Depois que as fotos são selecionadas, começo o tratamen-
to no computador. Começo recortado as imagens, mesmo
quando essas não precisam necessariamente de outro fundo.
No recorte, a parte do cabelo é a mais delicada. Em seguida
faço a limpeza da foto. Tiro rugas, multiplico, diminuo, tiro ou
acrescento elementos. Por último eu faço a parte mais artís-
tica que é dar os efeitos visuais e realces. O que realmente
fará diferença na imagem. Existem trabalhos que consigo fa-
zer sozinho. Para outras, divido as partes mais técnicas, mas
sempre dou o toque final.
Qual foi o tempo máximo que você já dedicou a um traba-
lho? E qual foi o seu maior desafio?
Na verdade minha briga é contra o tempo mínimo. As coisas
são muito rápidas hoje em dia. Já tive que entregar oito imagens
em menos de duas horas. E claro que deu problema. Não ficou
tão bom como poderia. O meu maior desafio sempre foi o último
trabalho que fiz. Apesar de fazer isso quase que diariamente,
ainda fico muito ansioso e muito realizado com o resultado.
Qual a real interferência da tecnologia no seu trabalho?
Como era antes do boom tecnológico e da chegada de pro-
gramas para tratamento de fotografias?
O Photoshop é o software mais profissional que existe. Ele
virou substantivo para coisas modificadas. Todos já sabem o
que é, como usar e está aí para todo mundo. Justamente por
isso, por ser uma ferramenta fácil, barata e que todos podem
ter, fica parecendo que é fácil fazer um tratamento de ima-
gem. Mas ter um carro não torna qualquer pessoa um piloto
ou ter uma câmera fotográfica não torna qualquer um fotó-
grafo.
O computador mais caro, a maior tela, o processador mais
rápido e mais avançado sempre serão apenas ferramentas.
Antes do Photoshop tudo era feito através de processos quí-
micos, durante a revelação. Esse era o tempo em que não bas-
tava ser técnico ou somente artista. O profissional tinha que
ser os dois para poder dar um bom resultado.
Com a popularização desse tipo de programa, você diria
que houve uma banalização da “estética pela estética”?
Achar que a fotografia representa a realidade passou a
ser um pensamento poético. Ao menos na publicidade. To-
dos os clientes esperam seus produtos com mulheres lindas,
homens bonitos, estátua sem sujeira de pombo e objetos si-
« Como tudo na vida, para se colocar entre os melhores é preciso viver o ofício, se privar de tempo, pesquisar e fazer por gostar. »
SAMUKA
47
Samuka ENTREVISTA
É de suma
importância para o
pós-produtor ter um
olhar artístico ao
tratar as fotografias.
48
ENTREVISTA Samuka
métricos. É real a necessidade de um tratamento de imagem
na maioria das peças publicitárias. Por mais que a foto crua
esteja impecável, está se criando hoje uma dependência da
manipulação digital. Tanto que, devido a alguns exageros, já
tem país criando leis para controlar o excesso.
Existe até a possibilidade de regulamentar peças de pu-
blicidade com uma tarja similar a dos anúncios de cigarro: “Esta fotografia foi retocada para modificar a aparência física
de uma pessoa”. Outros pensam em classificar uma fotogra-
fia manipulada como ‘ilustração’. Isso tudo para evitar que
o consumidor não seja enganado, achando que aquele con-
dicionador deixa seu cabelo igual ao da modelo ou que seu
carro realmente vira um robô.
Como está o mercado de trabalho para a área? Existem
boas oportunidades?
Está crescente para quem vende e para quem compra.
Ninguém é mais refém de ninguém. Existem inúmeros forne-
cedores e inúmeros clientes, cada um com seu perfil. Com a
internet é possível trabalhar de qualquer lugar, para qual-
quer outro. Me orgulho em dizer que, no mercado que eu tra-
balho, fui um dos pioneiros e ofereci qualidade, conseguindo
valorizar o serviço.
Qual o conselho que você daria a alguém que quer atuar
na manipulação de imagens?
Desista, já está cheio demais (risos). Caso contrário, estu-
de, dedique-se, inspire-se. É preciso observar o cotidiano. É
preciso conhecer o real para só depois fazer o fantástico ou o
fantasioso. Assim você começa todo o trabalho com técnica e
termina com arte. E quando for pensar em cobrar pelo traba-
lho, venda valor e não somente preço.
49
planoB indica
EXPOSIÇÃO
Olhar Cotidianode Justino Marinho
POESIA
Poesia cantada no projeto Symbiose
MÚSICA
Novo CD do Cascadura de graça na internet
Com a proposta de unir poesia, teatro
e música, o projeto Symbiose apresen-
ta seu primeiro CD, que traz 10 faixas: nove composições próprias e uma do
mestre Villa-Lobos. O trabalho, idealiza-
do por Rodrigo Chianca (violão, Viola,
Guitarra) e Pedrinho Faria (Voz e Tex-
tos), miscigena a essência da música
(instrumental e cantada), com textos
de autores consagrados e a entoação
de mantras.
Livraria Cultura
R$ 14,90
Já está disponível para download o novo disco da banda Cascadura. O material
pode ser baixado gratuitamente através da página www.facebook.com/cascadura.
rock ou do site www.bandacascadura.com, por meio de login (aleluia) e senha (ALE-
07M5WX4K). O ponto alto do CD é a participação de grandes nomes da música nacio-
nal como Orkestra Rumpilezz, Móveis Coloniais de Acaju, Pitty e Jajá Cardoso (Viven-
do do Ócio). Há também composições em parceria com Nando Reis, Ronei Jorge e Beto
Bruno, sendo que os dois últimos cantaram junto com o vocalista Fábio.
www.facebook.com/cascadura.rock
www.bandacascadura.com/aleluia
Download gratuito
SHOW
Música erudita noPalácio da Aclamação
O grupo Arena Companhia das Artes se
apresenta no projeto ‘Música no Palá-
cio’, realizado no Palácio da Aclamação,
no Campo Grande. A iniciativa busca
popularizar o acesso à música erudita
com concertos gratuitos. Formado pelos
cantores Antônia Bahia, Carlos Eduardo,
Eduardo Ferreira, Francisco Meira, Ra-
mon Sena, Verônica Santos e Vanda Ote-
ro, o conjunto apresentará os concertos
“Ave Maria” e “Cantando o Brasil”.
Palácio da Aclamação
27 de julho, às 18h
Entrada gratuita
Foto divulgação Foto divulgação: Governo da Bahia Foto divulgação
Foto divulgação
A exposição “O Olhar Cotidiano”, com
obras de Justino Marinho, pretende colo-
car, de forma plástica, as imagens que po-
voam o dia-a-dia do artista. São 30 obras
em acrílico sobre tela, guache e pigmento
sobre papel cartão. Justino Marinho tam-
bém destaca-se no cenário cultural como
produtor, crítico de arte e curador. Em
1998, recebeu o prêmio COPENE de Cultu-
ra e Arte pelos seus 30 anos de pintura.
CAIXA Cultural Salvador
Até 08 de julho, de terça-feira a do-
mingo, das 9h às 18h
Entrada Franca
50
OPINIÃO
Quem produz e consome cultura?Marlúcia Mendes da RochaProfª adjunta do curso de Comunicação Social
(Rádio e TV) da UESC, Drª em Comunicação e
Semiótica e coordenadora da Rádio e TVUESC.
malu.mm@gmail.comArquivo pessoal
Os artistas brasileiros, de maneira geral, se ressentem da di-
ficuldade que é divulgar suas obras. No entanto, o problema
não está só na divulgação, mas, também na própria produção.
Vivemos um momento de incentivo à produção cultural, tanto
nos grandes centros, como na periferia, enfim, onde houver
pessoas capacitadas para concorrer aos vários editais das Se-
cretarias de Cultura, nos órgãos de fomento à pesquisa e insti-
tuições em geral. No entanto, o que se vê é uma enorme dificul-
dade no cumprimento dos quesitos exigidos pelos editais. Há
um excesso de burocracia no preenchimento dos formulários
que acaba por torná-los um “bicho de sete cabeças”. É preci-
so empreender esforços para que qualquer produtor cultural
possa participar democraticamente dos editais de cultura.
O contexto cultural brasileiro apresenta grande aptidão
para conectar séries culturais que em lógica cartesiana são
excludentes. Tal contexto apresenta uma visão contrária do
culturalismo dos EUA e do multiculturalismo das várias comu-
nidades que se conflitam na Europa, tentando viver separadas
com o intento de firmar sua proteção étnico-cultural. No Brasil,
as séries e os objetos da cultura vivem se reinventando e esta-
belecendo novas conexões passando por processos de elabo-
ração, reflexão, interpretação e transmissão de valores num
permanente embricamento de interação cultural. Vários textos
reverberam e dialogam em tramas narrativas que vão da ficção
à realidade ficcionada e vice-versa. A exemplo, o estreito diálo-
go que a televisão mantém com os outros gêneros artísticos.
Neste processo, a que chamamos de mestiçagem cultural, não
há uma hierarquia entre as diferenças, não se busca uma relação
de poder. Não existe uma cultura mais importante e outra menos
importante. Os elementos entram em acordo, ampliando a capa-
cidade de comunicação no convívio das diferenças. São novos mo-
dos de perceber o mundo. Todas as informações se reorganizam
e as características dos elementos são aproveitadas e transforma-
das. Este processo é dinâmico, invenção criativa dos seres huma-
nos e da participação dos indivíduos na aprendizagem social.
Hoje, portanto, a pergunta que é preciso responder é: o
que é globalização, para nós, latino-americanos e brasileiros?
Trata-se de um fenômeno de mera assimilação de ideologias
e produtos culturais dos grandes centros ou é algo mais com-
plexo que isso, que atinge de maneira equivalente tanto os
países marginais quanto os países centrais, e onde é possível
que os países centrais também acabem importando produ-
tos culturais dos países marginais? São muitas as questões
que precisam ser respondidas. Precisamos entender defini-
tivamente que produzir manifestações artístico-culturais de
valor implica em ter uma educação de qualidade. Os nossos
jovens intelectuais na maioria das vezes não sabem sequer
cumprir, a contento, as etapas exigidas pelos editais de cultu-
ra. Logo não é só uma questão de divulgação, mas, também,
de produção cultural.
As pessoas transitam por diversos códigos e registros cul-
turais. A depender das circunstâncias em que se encontram,
por exemplo, em nome do que a mídia estiver legitimando
como moda, pessoas com alto nível de renda e escolaridade
acabam por consumir práticas culturais que consideram pou-
co legítimas culturalmente.
Há espaço para tudo, até porque democracia cultural im-
plica na existência de públicos distintos e se ancora nos no-
vos estudos que visam ultrapassar as questões relacionadas
à classe social, faixa etária, centro-periferia como sendo os
únicos quesitos para determinar um maior ou menor consu-
mo das práticas culturais. É fundamental que se invista na
formação de público e para que isso aconteça não basta dizer
que ir a concertos, óperas, saraus, museus e exposições de
arte de artistas consagrados seja suficiente, mais do que nun-
ca é preciso investir em educação e priorizar a ampliação do
repertório cultural de nossa gente, possibilitando-lhes tomar
conhecimento das inúmeras linguagens e códigos culturais.
¹ Conceito criado pela antropologia cultural norte-americana que afir-
ma a existência de características específicas de cada grupo étnico
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