Post on 23-Mar-2016
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Março de 2011 | ano 03 | no 04
MUNDO CaNa“Governo está comprometido com fortalecimento do setor sucroalcooleiro” diz o ministro Wagner Rossi
Produtividade em alta no Paraná
Cana convive com grãos e pecuária em MS
Futuro da cana passa pela transgenia
E X C L U S I V O
Cooperativa N
ova Produtiv
a,
profis
sionaliz
ada
e modern
a
MUNDO CaNa
pág. 10pág. 8
pág. 12pág. 14
pág. 18 pág. 22
pág. 26
pág. 5
EntrEvistaMinistro Wagner Rossi“Somos competentes
para cultivar cana”pág. 4
EditorialAntonio Carlos CostaDiretor de Marketing da Arysta LifeScience
UsinaUsina ETH Bioenergia (MS)
Compromisso e totalresponsabilidade aos valores
UsinaUsina São Fernando (MS)Alta produtividade comrespeito ao meio ambiente
UsinaUsina Santa Terezinha (PR)Planejamento profissionale resultados elevados
FornECEdorEsMurilo Morelli, Francisco Laurentiis Filho, Joaquim da Silva Carneiro, Marcelo Junqueira e Walter Luiz de Souza
PEsQUisaTadeu Andrade
Transgenia cada vez mais perto
ANO 03 - NÚMERO 04
MARÇO DE 2011
MUNDO CaNa
A revista Mundo Cana é o veículo decomunicação oficial da Arysta LifeScience
para o mercado sucroalcooleiro.
Coordenação GeralAntonio Carlos Costa
Adriana TaguchiGustavo Gonella
ProduçãoTexto Assessoria de Comunicações
Jornalista responsávelAltair Albuquerque (MTb 17.291)
redaçãoNadia Andrade
Marcio Mingardo
FotosTexto Assessoria de Comunicações
Arquivo Arysta
Projeto Gráfico e DesignRonaldo Albuquerque
Tiragem2.000 exemplres
Arysta LifeScience do BrasilRua Jundiaí, 50 – 4º andar
São Paulo/SP – Brasil CEP.: 04001-904
Telefone: 55 11 3054-5000 Fax: 55 11 3057-0525
www.arystalifescience.com.brmundocana@arysta.com.br
ConsUltorJamil Constantin
Quanto as plantas daninhasprejudicam a produtividade?
3pág. 28
ProJEtos EM CanaPrograma Aplique BemInformação para o produtor rural
pág. 24
ManEJoMarcos KuvaPlanejamento domanejo químico
UsinaUsina Nova Produtiva (PR)
Modelo único, masgestão profissionalizada
pág. 30
artiGoChryz Serciloto
Estímulo ao potencial genético das plantas
5
12
8
A população mundial está muito perto dos 7 bilhões de pessoas. Em
20 anos, serão 8 bilhões e lá pelo ano 2050 a estimativa é chegar a 9
bilhões de habitantes. Os estudos mais conservadores apontam para
a necessidade de dobrar a atual oferta de alimentos para atender à
demanda desse contingente em franco crescimento.
Nações populosas, como China, Índia e Brasil, mudam de patamar
econômico. Atualmente, são emergentes. Mas a economia chinesa já
é uma das maiores do planeta. E novos tigres asiáticos apontam, como
Coreia do Sul e Tailândia. Quanto ao Brasil, crescemos mais de 6% no ano
passado e devemos repetir a dose em 2011.
O resumo é que o celeiro do mundo, como costumamos chamar o nosso
país, será mais e mais colocado à prova. Produzimos atualmente cerca de
150 milhões de toneladas de grãos, mas seremos desafiados a ampliar a
oferta de alimentos em percentuais jamais experimentados.
Estamos preparados para responder com produtividade e mais
alimentos? O segmento sucroalcooleiro está.
Nesta edição da revista Mundo Cana, brindamos os nossos leitores com
uma entrevista muito especial com o ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Wagner Rossi.
Objetivo e claro, o sr. ministro mostra-se absolutamente seguro
em relação ao futuro do etanol e do açúcar brasileiros. Para ele, as
adversidades momentâneas, incluindo restrição externa e preocupação
sobre a Amazônia, nada mais são do que fruto da ignorância de quem não
está atento aos fatos e às ações legais tomadas pelo Executivo.
Muito bom ter essa mensagem do sr. ministro, autoridade máxima do
agronegócio nacional. Além de tudo, nos mostra que os anseios da iniciativa
privada têm respaldo federal. Falamos as mesmas coisas e buscamos os
mesmos objetivos. E isso é excelente para o nosso setor e o país.
Abraço e boa leitura!Edit
oria
lRecado para o mundo
4
antonio Carlos Costa, Diretor de Marketing da Arysta LifeScience
MUNDO CaNa
>
Entrevista Ministro Wagner Rossi
5
MUNDO CaNa>
>
O ministro Wagner Rossi conhece
muito bem a realidade da cana-de-
açúcar no País. Afinal, ele –
que assumiu o comando da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimen-
to no final do governo Lula e foi
mantido no posto pela presidente
Dilma Rousseff – é da região de
Ribeirão Preto (SP), o coração da
atividade no Brasil. Somente essa
característica seria suficiente para
lhe dar voz sobre o atual momento
da cana e os desafios que a cultura
tem pela frente. Mas o ministro é
um especialista e aborda o tema
com profundo conhecimento nesta
entrevista exclusiva para a revista
Mundo Cana.
Como o Senhor avalia o avanço
da cana-de-açúcar nas últimas
décadas? O aumento do plantio de
cana-de-açúcar nas últimas dé-
cadas se deu muito em função da
utilização do etanol como combus-
tível limpo. Isso, sem sombra de
dúvidas, proporcionou significativo
desenvolvimento econômico e
social nas regiões onde esse cresci-
mento ocorreu. Nosso esforço é no
sentido de continuar a proporcionar
boas condições para que a ativida-
‘Temos competência e as condições ambientais ajudam’Produtividade, desafios externos, sustentabilidade. O ministro Wagner Rossi aborda todos os aspectos mais importantes do negócio de açúcar e etanol em uma entrevista exclusiva.
AN
TôN
IO A
RA
ÚJO
/ M
APA
“Nosso papel é proporcionar condições para a atividade progredir”
de se desenvolva com a adequada
sustentabilidade econômica, social
e ambiental, de modo que outras
regiões do Brasil possam alcançar
o mesmo nível de desenvolvimento
econômico e o Índice de Desen-
volvimento Humano (IDH) que as
tradicionais regiões produtoras de
cana-de-açúcar já desfrutam.
Por que a cultura evolui tanto em
termos de produção e produtivi-
dade? As excelentes qualificações
de nosso empresariado (produto-
res, indústrias, tradings etc) e de
nossos pesquisadores, associadas
às nossas favoráveis condições
ambientais para a cultura da cana,
geraram essa evolução tão benéfica
à sociedade brasileira. É evidente
que essa evolução se deve também
ao indiscutível apoio governamen-
tal, embora diferenciado ao longo
do tempo e dos diversos governos.
6
MUNDO CaNa
Que horizonte é possível imaginar a
médio prazo para a cana no Brasil?
As perspectivas para o setor são mui-
to promissoras. A cana-de-açúcar,
além do açúcar e do etanol, produz
também biomassa para energia
elétrica, ainda pouco aproveitada
no Brasil, e álcool para a indústria
química – inclusive plásticos. Novas
descobertas a partir da biotecnolo-
gia têm sido divulgadas a cada dia,
como diesel de cana e óleos utiliza-
dos para muitos outros fins. Mas, o
mais importante são as perspectivas
do etanol como combustível limpo,
para uso tanto aqui quanto no ex-
terior. Todo esse potencial, para ser
aproveitado, exigirá elevado volume
de investimentos. Temos a missão
de criar as condições para que esses
investimentos se concretizem,
diminuindo a insegurança jurídica e
econômica do setor.
E em termos mundiais? O Brasil
conseguirá derrubar as barreiras
protecionistas em relação ao
etanol? Alguns países já têm mos-
trado maior abertura para o nosso
etanol e acredito que as barreiras
serão gradativamente superadas. O
governo brasileiro tem se esforçado
para a difusão das tecnologias que
dispomos para incentivar outros
países a produzir etanol, ajudando
a criar um mercado internacional
sólido para o produto. O uso de
combustível limpo é interesse de
todos e acredito que os investido-
res, muitos deles de países que hoje
limitam a expansão de nosso mer-
cado, serão nossos parceiros nessa
em todos eles. Fizemos o zonea-
mento da expansão do plantio de
cana no Brasil e acordamos com a
indústria o protocolo social para o
setor. A sustentabilidade do setor
tem sido construída a cada dia e é
necessário persistir nesse esforço.
Como o governo vê as iniciativas
visando conscientizar quanto
à importância da mecanização
bem como de outros aspectos da
atividade visando a educação do
produtor e a proteção ao meio
ambiente? O governo vê como es-
sencial a convergência de iniciativas
que busquem a sustentabilidade
do setor tanto em termos sociais
quanto ambientais, assim como
o equilíbrio entre a produção de
biocombustíveis e de alimentos. A
mecanização da colheita da cana é
uma tendência irreversível e uma
obrigação legal que o próprio setor
aceitou como indispensável. Hoje, o
governo apoia iniciativas produtivas
em todas as culturas que associam
aumento de produção e preserva-
ção do meio ambiente.
Como o governo analisa o proces-
so de concentração no setor, com
a chegada de grupos multinacio-
nais? Os investimentos internacio-
nais e o processo de concentração
pelo qual o setor passou ajudaram
muito a vencer com mais agilidade
a crise de 2008. Hoje, muitas em-
presas que encontraram fortes di-
ficuldades financeiras há dois anos
já recuperaram sua capacidade de
investimento. Não são recursos es-
evolução. Mas, para isso, temos
necessariamente de aumentar a
produção, o que exige investimen-
tos significativos. Esse é o principal
ponto a ser equacionado hoje.
O prazo para fim das queima-
das e a mecanização da colheita
são suficientes para dar à cana a
chancela de produto sustentável?
A colheita da cana crua, ou seja,
sem queima, de forma mecanizada,
é um fator muito importante na
prova da sustentabilidade do setor.
Não apenas devido à questão
ambiental, mas também devido à
questão social. A colheita de cana
queimada é um trabalho muito duro,
extenuante, e sua eliminação em
muito ajudará a melhorar a imagem
do setor, principalmente se acom-
panhada da requalificação desses
trabalhadores para o mercado de
trabalho que se abre com o desen-
volvimento econômico proporcio-
nado pela atividade. Outros fatores
importantes devem ser observados,
tanto do ponto de vista ambiental
quanto do social, e o governo e a
iniciativa privada estão trabalhando
a Mecanização
da cana é uMa
tendência irreversível
e uMa obrigação
legal
“ “
7
MUNDO CaNa
peculativos, mas recursos aplicados
na produção, que geram empre-
go e desenvolvimento em nosso
país. Além disso, os investimentos
internacionais nos trazem aliados
na abertura de mercados mundo
afora, aliados que também serão
nossos parceiros na demonstração
da sustentabilidade do setor.
Haverá espaço para pequenos e
médios produtores e usinas a mé-
dio prazo? Realmente, há dificulda-
des nesse aspecto, pois a economia
de escala passa a ser fundamental
na busca de custos mais competiti-
vos. Mas as empresas bem organiza-
das, eficientes e que se mantêm em
linha com as novas tecnologias terão
também o seu espaço. Do mesmo
modo, a garantia de continuidade
dos produtores médios e pequenos
é fator importante de estabilidade
social no setor. As cooperativas de
produtores têm papel relevante na
organização desses produtores.
Como o senhor avalia as críticas
de organizações internacionais
ao crescimento da cana no Brasil?
Críticas são naturais, uma vez que
muitos vêem no Brasil um competi-
dor quase imbatível. O importante
é que tenhamos sempre respostas
consistentes e que nossas ações
demonstrem a sustentabilidade do
setor. Hoje o Brasil é visto como
o mais importante país agrícola
do mundo. Nossos excedentes
exportáveis de alimentos, agroe-
nergia e fibras são indispensáveis.
Sou muito otimista. Acredito que,
gradativamente, os demais países
e algumas organizações internacio-
nais hoje críticas reverterão suas
opiniões. Para isso, temos de con-
tinuar trabalhando com seriedade,
melhorando a produtividade, au-
mentando a produção sem desma-
tamento desnecessário, cumprindo
integralmente nossos objetivos de
sustentabilidade. Agora, claro, crí-
ticas absurdas, que mostram total
desconhecimento de como funciona
nosso sistema produtivo – como as
alegações de destruição da Floresta
Amazônica e a utilização de formas
inadequadas de relações trabalhis-
tas – são apenas isso: ignorância.
As áreas de pastagens disponí-
veis atendem às necessidades do
crescimento da cana? O trabalho
de zoneamento da expansão da la-
voura de cana no Brasil demonstra
claramente que sim. Temos aproxi-
madamente 70 milhões de hec-
tares de pastagens que poderiam
ser utilizadas para a expansão da
cana, área muito superior à nossa
necessidade de crescimento. É bom
lembrar que a cana ocupa apenas
cerca de 1% do território nacional, e
no Brasil sobram essas áreas já an-
tropizadas que podem ser utilizadas
por esta e outras culturas.
Há algum motivo para preocupa-
ção - especialmente internacional
- de entrada da cana no bioma
Amazônia? Essa questão já está re-
solvida no Brasil. A cana está há quase
dois mil quilômetros da Amazônia.
Temos terras suficientes para cres-
cer perto de nossos principais mer-
cados e da necessária infraestrutura,
longe da Amazônia. O zoneamento
da cana-de-açúcar definiu que a
expansão da cultura não ocorrerá no
bioma amazônico. Novamente, só
os que não têm informação podem
ter essa preocupação.
Há algum projeto em desenvol-
vimento considerando a logística
para estimular a exportação de
açúcar e etanol? Os investimentos
em dutos para transporte de álcool
começam a se concretizar, mas o
aumento das exportações de etanol
passa, necessariamente, pelo au-
mento da produção. As exportações
de açúcar têm crescido bastante
e as empresas têm se organizado
para melhorar a logística, inves-
tindo em parcerias para aprimorar
as condições de transporte, de
armazenagem e de embarque nos
portos. Temos muito o que fazer
para melhor aproveitar nossa efici-
ência produtiva. Mas, mesmo nas
condições vigentes, vamos acumu-
lando recordes de produção e de
exportação a cada ano.
sou otiMista,
Mas teMos que
continuar
trabalhando
coM seriedade
“ “
MUNDO CaNa
Acana não é o principal negócio do
Mato Grosso do Sul. À frente da
atividade estão os cereais (soja e
milho) e a pecuária, marcas indiscutíveis do
agronegócio do estado. Porém, essa realida-
de contribui para as usinas se empenharem
ainda mais para conquistar o seu espaço.
É o caso da Usina São Fernando, em Doura-
dos, unidade dos grupos Bertin e Bumlai. O
projeto é novo – entrará na terceira safra,
em 2011 – e foi concebido segundo o tripé
estrutura, pessoas e sustentabilidade.
“O resultado é uma indústria moderna,
com equipamentos de última geração,
8
Luiz Fernando: liberdade para planejamento da unidade
usina são fernando foca trabalho na
busca da Maior produtividade e no tripé
estrutura, pessoas e sustentabilidade
>
Crescimento acelerado com responsabilidade
funcionários em treinamento constante e
respeito ao meio ambiente”, informa o di-
retor agrícola Luiz Fernando Siqueira. “Ti-
vemos a liberdade de incorporar novidades
técnicas ao projeto, o que se traduz numa
unidade de alta produtividade. Porém, sem
perder de vista os custos”.
Os planos de crescimento já estão traçados
e seguem em ritmo acelerado. O objetivo
é chegar a 7 milhões/t/ano. Já neste ano, a
usina pretende alcançar 3,6 milhões/t, após
produzir 2,6 milhões/t na safra anterior.
Para isso, a área atual de 54 mil/ha (90%
próprios ou de parcerias) deve crescer.TExTO
palestras. Com isso, conseguimos a cons-
cientização de todos, o que multiplica os
resultados”, explica o diretor agrícola.
Os desafios normais de um novo projeto
estão sendo vencidos pelo compromisso de
crescer com retorno econômico. Luiz Fer-
nando destaca um fator importante para o
rápido avanço da produção: o clima.
“As características do solo e a distribuição
das chuvas combinam perfeitamente com
a cultura da cana no Mato Grosso do Sul e,
particularmente, na nossa região. Por tudo
isso, não tenho dúvidas do crescimento
do nosso negócio e da atividade como um
todo no estado. Para chegar lá, fazemos a
nossa lição de casa em todos os campos. Os
resultados estão aí para comprovar que a
estratégia está no caminho certo”, ressalta
Luiz Fernando.
Na última safra, foram produzidos 120 mil/t
de açúcar, 142 milhões litros de etanol e
cogerados 48 mil kw de energia a partir do
bagaço. “Aproveitamos todas as potencia-
lidades da unidade para gerar os melhores
resultados”, diz Luiz Fernando.
O respeito ao meio ambiente é um aspecto
visível em todas as áreas de unidade. Além
disso, trata-se de um valor incorporado aos
2.700 funcionários. “Implementamos uma
série de programas de monitoramento li-
gados à gestão ambiental, inclusive gestão
da água, irrigação de linhaça e recuperação
das áreas de pastagens. Além disso, a co-
lheita é 100% mecanizada e os colaborado-
res são bombardeados com informações e
TExTO
9
MUNDO CaNa
Área atual é de 54 mil/ha, mas deve crescer
o respeito ao
Meio aMbiente é visível
eM todas as áreas
da unidade e está
incorporado eM todos
os funcionários
da eMpresa
““
As excelentes condições de culti-
vo da cana levaram a ETH Bioe-
nergia, braço das Organizações
Odebrecht, ao Mato Grosso do Sul. Atual-
mente, são duas unidades: Eldorado (Rio
Brilhante) e Santa Luzia (Nova Alvorada do
Sul). As estruturas de gestão são inde-
pendentes, mas o pensamento é
uniforme e elas atuam em sin-
tonia para fortalecer a presen-
ça da empresa no estado.
“Temos o DNA da responsa-
bilidade empresarial”, ressal-
ta o gerente agrícola
da unidade Eldorado, Marcelo Abrantes.
“Somos desafiados a encarar o negócio
como donos. Esse comprometimento é
renovado em todas as nossas atividades”.
Nesse sentido, os valores saúde, seguran-
ça e meio ambiente são inegociáveis. As
pessoas são valorizadas e a comunicação
é um valor indiscutível, representando a
transferência de conhecimento entre os
colaboradores. A segurança das pessoas,
dos processos e das próprias instalações é
levada ao extremo e visível na postura e
ações de todos na unidade. O mesmo vale
para a produção sustentável, encarada
como motriz do negócio.
Com essa visão muito clara, a unidade El-
dorado, da ETH, avança. Na última safra
foram cultivados 32 mil/ha, sendo 63%
de áreas próprias. A produção atingiu
2,4 milhões/t/cana.
“Nosso planejamento aponta para o avan-
ço até cerca de 75 mil/ha em um raio de 30
km da indústria”, informa Marcelo. Interes-
sante observar que o crescimento ocorre
no sentido da unidade Santa Luzia, o que
incorpora ganhos de eficiência e logística
ao empreendimento como um todo.
“As condições de solo e clima da região
MUNDO CaNa
Valores indiscutíveis e eficiência nos processos
eth bioenergia teM o dna da responsabi-
lidade eMpresarial eM Ms. colaborado-
res encaraM o negócio coMo donos
10
Marcelo Abrantes: meta é chegar a 75 mil/ha
>
TExTO
são excelentes. É nosso desafio melhorar
a nossa performance safra após safra”, diz
o gerente agrícola, ressaltando que um dos
desafios é melhorar o ATR (açúcar total
recuperável), especialmente no início e no
final da safra. A produtividade atual no 1º
corte atinge 125/t/ha. “Trabalhamos para
impulsionar ainda mais o ATR médio”.
Ao contrário de outros estados produto-
res, a mecanização é praticamente total
no Mato Grosso do Sul. No caso da ETH
também. “A topografia é um componen-
te importante e favorece a mecanização e
outros processos, como o plantio georrefe-
renciado”, explica Marcelo.
Outra característica importante, que aju-
da a dinamizar os investimentos em cana
na região, diz respeito à pouca competição
com os grãos para a ocupação de áreas. “O
potencial da cana é imenso. Além de exce-
lentes condições geográficas e climáticas,
há espaço para crescer. E é o que estamos
fazendo”, conclui o gerente.
desafio constante de
Melhorar o atr. eis uM
dos dogMas da eMpresa
que aproveita o potencial
da região, coM boas
condições geográficas e
cliMática, para crescer
“
“
TExTO
11
MUNDO CaNa
usina santa terezinha e o seu Modelo de
alta produtividade no pr, região onde o
cliMa é Mais uM desafio à cultura da cana
12
Oclima é sempre essencial quan-
do o assunto é a produção agrí-
cola, interferindo diretamente
no desempenho das diferentes culturas e
atividades. Em algumas regiões, porém,
existem alguns componentes ainda mais
desafiadores, exigindo dos produtores di-
ferentes estratégias visando alcançar a
produtividade rentável.
A produção de cana-de-açúcar no Esta-
do do Paraná se configura em um desses
casos, sofrendo interferência da tempe-
ratura média e da precipitação
anual, dois importantes fatores
que afetam a produtividade da
cultura (ATR/ha - açúcar total
recuperável por hectare).
Marcelino Seiji Takaoka, geren-
te agrícola da Usina de Açúcar
Santa Terezinha (Usaçucar), que
possui oito unidades no Noroes-
te do Paraná, já conhece essa
particularidade do clima pa-
ranaense de longa data,
mais precisamente des-
de que chegou a Maringá quando veio cur-
sar engenharia agronômica na universida-
de estadual da cidade, há 25 anos.
Ele explica que as temperaturas médias da
região produtora de cana-de-açúcar no Pa-
raná são ligeiramente menores que nos de-
mais estados, com média anuais abaixo de
23ºC e inverno mais rigoroso com ocorrên-
cia de geadas de forma cíclica, quando os
termômetros atingem marcas próximas de
zero e, às vezes, até abaixo, fazendo com
que as temperaturas médias no período de
outono-inverno fiquem aquém de 19ºC.
Em contrapartida, as chuvas são mais
abundantes variando de 1.600 a 2.000 mm
anuais. “Aqui temos como característica o
inverno chuvoso, tendo nos meses de ju-
nho, julho e agosto médias de 80 a 100 mm,
bem diferente de outros estados produto-
res, onde nesse período ocorrem longas es-
tiagens”, analisa Marcelino.
Mas, se por um lado a região possui chuva
no inverno, o que disponibiliza água para a
planta, mantendo seu crescimento vegeta-
tivo, por outro as temperaturas muito bai-
xas fazem com que a planta praticamente
paralise o seu crescimento. “Isso inibe e
MUNDO CaNa
Desafios vencidos, produção em alta
Marcelino Takaoka: planejamento detalhado para atingir resultados
TExTO
>
quados ao período climático e até a meca-
nização da colheita, que hoje chega a 60%
na unidade, faz parte da estratégia para
manter a rentabilidade do negócio.
Outro aspecto que merece destaque é a lo-
gística da empresa, focada para a exporta-
ção. A Santa Terezinha é a maior acionista
da PASA (Paraná Operações Portuárias),
o primeiro terminal especializado no em-
barque de açúcar a granel da região sul
do Brasil, e também é acionista da Cen-
tral Paranaense de
Álcool (CPA), am-
bas em Paranaguá.
Além disso, possui
terminal de açúcar
e álcool próprio em
Maringá, que recebe
a produção de todas
as unidades do gru-
po e presta serviços
a terceiros.
Com unidades em Terra Rica, Rondon, Pa-
ranacity, Ivaté, Maringá, São Tomé, Tapeja-
ra, Cidade Gaúcha e outras três em projeto,
a Usina de Açúcar Santa Terezinha expor-
ta 100% do açúcar produzido. Para 2011,
a previsão é produzir 17 milhões/t/cana,
gerando 1,5 milhão/t/açúcar. A capacida-
de instalada de produção do Grupo é de
20 milhões/t/cana, volume que deverá ser
alcançado já em 2012.
dificulta a brotação da cana colhida meca-
nicamente crua, sendo essencial para a lon-
gevidade do canavial o desaleiramento da
palha na linha da cana”, explica o gerente.
Para driblar o problema climático e chegar
em 2010 com produção de 16,5 milhões
de toneladas de cana – que geraram 1,4
milhão/t de açúcar –, em cerca de 240 mil/ha
de cana plantados, a Usina Santa Terezinha
utiliza estratégias que envolvem detalha-
do planejamento, com duas programações
para a safra, conside-
rando especialmen-
te o período mais
chuvoso com o solo
mais úmido. “Nesse
cenário, o aprovei-
tamento do tempo
na safra pode cair de
90% para 78%. Além
disso, o solo úmido
traz mais impurezas
no momento da colheita, aumenta o tempo
médio da queima e interfere na qualidade
do produto final, uma vez que, depois de
cortada, a cana deteriora mais rapidamen-
te. Sem falar no desgaste do maquinário e
da compactação do solo que diminui a lon-
gevidade e reduz em até dois cortes o ciclo
do canavial”, completa Marcelino.
Por isso, o planejamento da colheita é fun-
damental para manter a competitividade
da unidade produtora, ora flexibilizando
para áreas mais arenosas ora para áreas de
reforma e assim por diante.
Nesse cenário, a Santa Terezinha investe
em diferentes variedades de cana por meio
de convênio com as empresas de melhora-
mento genético e prioriza a utilização de
variedades mais adaptadas à região e mais
resistentes ao frio e às geadas. Também
utiliza tratores e implementos mais ade-
13
TExTO
MUNDO CaNa
usina busca
variedades Mais adapta-
das à região e resistentes
ao cliMa frio . essa é uMa
das estratégias já previs-
tas no planejaMento
da atividade
“
“
usina nova produtiva, uMa cooperativa
profissionalizada eM franco cresciMen-
to no noroeste do paraná
14
OBrasil possui mais de 400 usinas
em pleno funcionamento, cada
uma com suas particularidades.
Mas a Usina Nova Produtiva, no Paraná,
tem uma característica própria. Trata-se
de uma usina cooperativa, criada há 11
anos a partir dos negócios da Cooperativa
Coocafé, que iniciou suas atividades com
café e, em 1982, passou a investir em ca-
na-de-açúcar. Em 1999, um grupo de coo-
perados da Coocafé fundou a Cooperativa
Nova Produtiva, hoje com seis unidades di-
vididas entre as atividades de grãos, usina
e autoposto.
Localizada no Noroeste do Estado do Pa-
raná, a Nova Produtiva possui cerca de 3
mil cooperados abrangendo os municípios
de Astorga (onde fica a sede), Iguaraçu,
Ângulo, Flórida, Munhoz de Mello, Santa
Fé, Lobato, Guaraci, Colorado, Itaguajé,
Nossa Senhora das Graças, Santo Inácio e
Santa Inês.
O gerente agrícola da Nova Produtiva, Pau-
lo Henrique Chaves de Souza, explica que a
usina trabalha com cerca de 200 coopera-
dos como parceiros agrícolas e não como
fornecedores, conforme ocorre em outras
MUNDO CaNa
Uma nova forma de gestão que dá certo
Paulo Henrique: crescimento de cerca de 10% em 2011
TExTO
A cooperativa mantém o foco no forneci-
mento de açúcar e álcool para o mercado
interno, com pequena parte da produção
para o mercado externo, especialmente
a Ásia. A recicla-
gem é periódica,
com a realização de
encontros com os
cooperados, visan-
do a troca de infor-
mações. Na última
assembléia geral,
por exemplo, foram
apresentadas as da-
das gerais da colhei-
ta do ano e discuti-
das as perspectivas
para o mercado em
2011. “Trouxemos
um especialista da
Central Paranaense
de Álcool (CPA) que destacou aos coope-
rados os bons preços em 2010 bem como a
perspectiva de sua manutenção em 2011.
Isso é muito importante para o mercado,
uma vez que a safra de 2011 será menor”,
acrescenta Paulo Henrique.
usinas que também atuam como coopera-
tivas de cana. Esse é um dos diferenciais
da empresa, que pratica a gestão profissio-
nal. “São os técnicos da cooperativa que
tocam as atividades
desde o preparo do
solo até a colheita
da cana”, acrescenta
Paulo Henrique.
É com esse perfil
que a Nova Produti-
va aposta em cresci-
mento significativo
nos próximos anos.
“Em 2011, devemos
aumentar a pro-
dução em cerca de
10%, passando de 12
mil/ha (1 milhão/t de
cana e 85 milhões de
litros de álcool) para
13,2 mil/ha. Nesse ritmo, alcançaremos a
meta para 2015: chegar a 18 mil/ha planta-
dos”, afirma o gerente.
A administração moderna proporciona
à usina conquistar seguidas reduções de
custos, especialmente com o aumento da
mecanização da colheita e a otimização do
uso dos tratores e caminhões. “Como no ci-
clo de produção da cana-de-açúcar o maior
custo está no corte, carregamento e trans-
porte da cana, conseguimos bons resulta-
dos com redução de despesas ao melhorar
seguidamente esses processos e utilizar
as tecnologias disponíveis. Por exemplo,
só com a implementação da colheita me-
canizada, hoje em torno de 60% de todo
o processo, registramos cerca de 30% de
redução nos custos”, avalia o gerente. “Ao
corrigir a organização da frota de tratores
usados na aplicação de herbicidas também
alcançamos redução de cerca de 60%”.
MUNDO CaNa
15
TExTO
adMinistração
Moderna da usina
proporciona seguidas
reduções de custos,
especialMente coM o
auMento da Mecanização
da colheita e a otiMização
do uso de tratores
e caMinhões
“
“
nistração das lavouras, acrescenta
que há dois anos firmou parceria
para cultivar outros 260 ha de re-
novação de cana da Usina São Mar-
tinho, de Pradópolis (SP), também
com lavouras de soja em sistema de
rotação de cultura.
Segundo Morelli, este novo mode-
lo de gestão mais profissional da
lavoura tem se revelado muito in-
teressante economicamente. Do
cultivo de grãos, o empresário con-
segue introduzir novas fontes de
receita ao faturamento total da em-
presa, revertidos automaticamente
em novos investimentos em tecno-
logias e maquinário para a atividade
principal do grupo, a cana.
A busca por parcerias também con-
tribui para resolver antigos proble-
mas do setor canavieiro na região: a
falta de mão-de-obra especializada
e a sazonalidade do trabalho. Em
meio a esse novo modelo de negó-
Rotação de cultura aliada à nova gestão pode trazer bons resultados
MUNDO CaNa
16
“Estimulamos a criação de um novo modelo, em que é possível produzir etanol e alimentos nas mesmas áreas, com ge-ração de emprego e ren-da. Uma iniciativa social, econômica e ambiental-mente correta. Assim, cooperativa, produtores e indústria formam alianças vencedoras”. Essa é a defi-nição da Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Copla-na) e as histórias de cinco agricultores contadas nas próximas páginas confir-mam que o seu modelo é realmente vencedor.
O advogado Arnaldo Geraldes Mo-
relli possui mais que o talento para
a advocacia – profissão que herdou
do pai e fez questão de ensinar aos
filhos. Ele tem uma grande sensibili-
dade para identificar bons negócios.
A maior prova disso está no plantio de
cana-de-açúcar, iniciado há 30 anos
e atualmente administrado ao lado
dos quatro filhos, na região de Ri-
beirão Preto (SP). A produção anual
supera 150 mil/t/cana entregues
para moagem nas usinas São Carlos
e São Martinho, em Guariba (SP).
Os 2 mil/ha de área própria admi-
nistrados pelo condomínio AGM
(Arnaldo Geraldes Morelli e Outros)
estão divididos entre as terras de
cultivo da cana (1.600 ha) e as áre-
as de renovação anual do canavial,
que somam outros 400 ha, neste
ano cultivadas com lavouras de
soja. Murilo Morelli, filho do pro-
prietário e responsável pela admi-
TExTO
Rotação de cultura aliada à nova gestão pode trazer bons resultados
MUNDO CaNa
17
Francisco Laurentiis : tempo dividido entre a Coplana e o seu negócio
cio que começa a tomar importân-
cia entre os produtores paulistas, o
período de safra, que antes come-
çava em maio e terminava em no-
vembro, agora não se encerra mais,
pelo menos dentro das fazendas.
Murilo explica
que, entre o plan-
tio da cana, os
tratos culturais
das lavouras anu-
ais e a preparação
da próxima safra
para novo plantio
da cana, a equipe
da fazenda Santo
Antônio, com-
posta por 70 fun-
cionários fixos,
mantém-se ocupada durante dez
meses no ano. “Se considerarmos as
férias e a manutenção dos equipa-
mentos, o pessoal da fazenda tem
trabalho o ano todo”, afirma.
Feliz com o ganho extra do cresci-
mento na produção resultante do
aumento da área plantada, o pro-
prietário já fala em ampliar o número
de parcerias para algo em torno de
1,5 mil/ha de área. Murilo relembra
os momentos de crise nos anos 90,
quando foi praticamente obrigado a
investir em maquinários novos, mes-
mo sem dinheiro, situação que hoje é
motivo de comemoração e alivio, já
que ele atribui a esse fato a razão de
o projeto estar tão bem estruturado
tecnologicamente e com boa produ-
tividade – entre 95 e 100/t/cana/ha.
Para dar suporte operacional ao pro-
cesso de expansão do projeto, os
investimentos na compra de maqui-
nários, seleção de novas cultivares de
cana e capacitação da equipe não pa-
ram nas fazendas da família Morelli.
Cerca de 90% da colheita já são me-
canizados. Tratores, pulverizadores
e colhedeiras operadas por sistemas
de GPS são indispensáveis. “Aqui, as
máquinas operam em três turnos de
trabalho, 24 horas
por dia”, destaca
Murilo, que cha-
ma atenção para
o fato de a colhei-
ta da safra 2010,
recém-concluída,
ter sido a terceira
realizada apenas
com o auxilio de
máquinas e sem
uso de fogo.
O uso da tecno-
logia, que proporciona avanços para
os canavieiros da região de Guariba
(SP), resulta em grande parte das
parcerias que surgem entre usinas de
açúcar e álcool e bases do setor ca-
navieiro. A família Morelli é parceira
da Coplana (Cooperativa dos Planta-
dores de Cana da Zona de Guariba).
Amauri Asselli Frizzas, supervisor de
desenvolvimento técnico comercial
da Coplana, destaca que a mecaniza-
ção nas lavouras de cana traz inegá-
veis ganhos. “No caso do Condomí-
nio AGM, esses ganhos se traduzem
na produtividade elevada mesmo
após sete ou oito anos de cortes su-
cessivos”, observa. Nesse sentido, o
controle de pragas é muito impor-
tante. “O cuidado fitossanitário deve
ser realizado de maneira sistemati-
zada, a fim de considerar todos os
potenciais agentes com condição de
reduzir a produtividade das lavou-
ras”, ressalta Murilo Morelli.
PARCERIA qUE dá CERTOA Cooperativa dos Plantadores de
Cana da Zona de Guariba (Coplana)
foi criada há 50 anos para promover
o desenvolvimento técnico da agri-
cultura na região que compreende
TExTO
ROTAÇãO
DE CULTURA É
PONTO DE APOIO
À RENTABILIDADE
DO NEGóCIO ,POIS
PERMITE NOvAS
FONTES DE RECEITA
PARA A CANA
“
“
MUNDO CaNa
18
as cidades de Araraquara, Ribeirão
Preto, Catanduva e Colina, no in-
terior de São Paulo. Atualmente, a
cooperativa atende 1.500 produto-
res espalhados por 63 municípios.
A área de lavoura sobre a cobertura
dos agrônomos da Coplana atinge
200 mil hectares e o atendimento é
dividido em cinco filiais nas cidades
de Dumont, Pradópolis, Jaboticabal,
Taquaritinga e Guariba, onde fica a
sede administrativa da cooperativa,
e postos fixos montados em três ou-
tros municípios do interior paulista.
O departamento técnico é chefiado
pelo engenhei-
ro agrônomo
Amauri Asselli
Frizzas e conta
com 14 agrôno-
mos que se divi-
dem entre assis-
tência técnica e
experimentação.
Francisco Antô-
nio Laurentiis Fi-
lho é o presidente
da Coplana des-
de 2007, após vários anos atuando
como membro do Conselho de Ad-
ministração. Nascido em Guarulhos,
região metropolitana de São Paulo,
ele cursou engenharia civil pela USP,
campus de São Carlos (SP), e desde
muito cedo mantém laços estreitos
com a agricultura.
Proprietário do condomínio que
tem o seu nome, Laurentiis está na
cana-de-açúcar desde que resol-
veu investir na agricultura, isso em
meados de 1970. Inicialmente, o pro-
jeto abrigava cerca de 120 hectares
de terras, à época arrendadas para
usinas na região de Guariba (SP).
Hoje, a área para plantio supera
1.000 alqueires que produzem 260
mil toneladas de cana/ano, entre-
gues às usinas São Martinho (Pra-
dópolis), Santa Cruz (Américo Bra-
siliense) e Cosan (unidade Bonfim,
com sede em Guariba).
A tecnologia empregada tem sido
fundamental para o desempenho
da lavoura de cana, permitindo ao
produtor investir no seu negócio. A
parte técnica do projeto está a car-
go dos agrônomos da Coplana, que
respondem pelas etapas do plane-
jamento até a
operacionaliza-
ção dos tratos
culturais, plantio
e colheita.
O agricultor par-
ticipa ativamen-
te da avaliação
da relação custo
x beneficio da
nova tecnologia.
“Minha formação
não me permite
decidir sobre questões técnicas liga-
das à lavoura e, para isso, conto com
o trabalho extremamente profissio-
nal dos agrônomos da Coplana. Mas
me envolvo na análise econômica”,
declara o dirigente da Coplana.
O condomínio ainda esta se adap-
tando à chegada da mecanização
nas lavouras e segue à risca os dis-
positivos legais quanto ao emprego
das máquinas na lavoura. Lauren-
tiis acredita que antes de 2014, pra-
zo dado pelo governo federal para
a extinção da mão-de-obra braçal e
o uso das queimadas na cana, toda
a lavoura já será mecanizada. Atu-
almente, o percentual é de 60% da
colheita mecanizados; o plantio é
feito manualmente.
TECNOLOGIAS ESTIMULAM PROdUTIVIdAdEPara conhecer melhor a história
do agricultor Joaquim da Silva Car-
neiro e de sua família na cana-de-
açúcar na região de Dumond (SP), é
preciso voltar um pouco ao passado
para conhecer mais sobre a trajetó-
ria desse imigrante português, que
chegou ao Brasil no início do século
passado, em busca de trabalho nas
fazendas de café no interior de São
Paulo e Minas Gerais.
Aos 82 anos de idade e já aposenta-
do, ele relembra com certo saudosis-
mo dos muitos anos de trabalho duro
na roça até reunir recursos suficien-
tes para comprar o primeiro lote de
terras, em sociedade com os irmãos,
e começar uma pequena plantação
de café. Uma das várias crises tor-
nou praticamente impossível manter
em pé os cafezais e levou a família
a buscar novos rumos na produção
agrícola. Primeiro, foi o algodão,
depois o cultivo da cana, em 1978.
Segundo Manoel da Silva Carneiro,
filho de Joaquim e responsável pela
administração das lavouras, decisão
tomada o projeto de cana não parou
mais de crescer. Hoje, já são mais de
2,5 mil/ha de áreas próprias e arren-
dadas cultivadas. Nos últimos anos a
produção média atinge 188 mil/t/cana
para moagem/ano, com canaviais
entre o primeiro e o décimo corte.
DECISãO SOBRE
AvANÇOS TÉCNICOS
PARA O MELHOR
DESEMPENHO DA
CANA É FEITA EM
PARCERIA COM OS
ESPECIALISTAS
““
19
MUNDO CaNa
A produção entregue para moagem
na Usina São Martinho, de Guariba
(SP), registrou na última safra con-
centração média de açúcar total
recuperável (ATR) de 139,5 kg por
tonelada. A razão
atribuída para o
alto rendimento
das lavouras, que
apresenta produ-
tividade média
de 96 t/ha colhi-
do, está no mo-
delo de gestão
empregado. “O
aumento da pro-
dução resulta do investimento cons-
tante em tecnologias que permitem
reduzir os custos, elevar a renda e
ainda melhorar o poder aquisitivo
para obtenção de novos insumos e
equipamentos. E tudo isso vem do
planejamento realizado”, observa.
A meta do projeto é chegar a 300
mil/t/cana para moagem/ano até
2020, utilizando para isso os concei-
tos de gestão da agricultura de pre-
cisão. O objetivo
ousado envolve
ainda a sustenta-
bilidade da pro-
dução canaviei-
ra, “que cada vez
mais encontra
respaldo na me-
canização para
se manter com
o máximo de efi-
ciência e o menor impacto ao meio
ambiente”, diz.
Atualmente, os canaviais da Fazen-
da Resfriado contam com forte es-
trutura de mecanização para cultivo
da cana, além da parceria mantida
Joaquim Carneiro e as novas gerações:investimento constante em tecnologia
TExTO
com a Usina São Martinho (SP) para
a terceirização da colheita, feita
praticamente sem a necessidade de
fogo e uso de mão-de-obra braçal.
Essa estrutura atende também
outros 1000 hectares, entre terras
próprias e arrendadas, cultivadas
com lavouras de amendoim, em
sistema de rotação de cultura para
renovação da cana. A frota própria
da fazenda inclui ainda cinco co-
lheitadeiras de amendoim com ca-
pacidade para 1.000 sacas/60kg/dia
e uma com capacidade para 2.000
sacas/60kg/dia.
TRAdIçãO E TECNOLOGIA MOVEM A PROdUçãOImportante desbravador da cafei-
cultura nas regiões de Ribeirão Pre-
to (SP) e da Alta Mogiana (SP), Luis
Antônio Junqueira, patrono da cida-
de que ajudou a construir e que por
isso ostenta orgulhosa seu nome,
tem sua história reconhecida na re-
gião, importante pólo de produção
agrícola do interior paulista e que,
mesmo após várias gerações, se
mantém viva na memória familiar.
A casa sede da Fazenda Luis Antô-
nio, onde essa história começou
a ser contada no início do século
passado, ainda guarda parcela im-
portante dessa trajetória retrata-
da em dezenas de fotos que ocu-
pam lugar nobre nos corredores,
passagem quase obrigatória para
visitantes. Marcelo Paoliello Jun-
queira, bisneto do fundador, é o
atual administrador do projeto
ÁREA TOTAL
JÁ SUPERA 2,5 MIL
HECTARES. ATÉ 2020,
META É CHEGAR A 300
MIL/T/CANA/ANO
“ “
D. Célia e Marcelo Junqueira: a família à frente do empreendimento
MUNDO CaNa
20
agropecuário da família, ao lado
da mãe, Célia Paoliello Junqueira.
A propriedade de 550 hectares, que
durante muito tempo abrigou la-
vouras de algodão, soja, arroz e até
pecuária leiteira, nas últimas quatro
décadas se dedica com afinco ao
cultivo da cana-de-açúcar. Marcelo
conta que durante quase 20 anos a
área ficou sob responsabilidade da
Usina São Martinho, de Pradópolis
(SP). Em 2004, a fazenda voltou a ser
administrada pela família Junqueira.
Atualmente, como fornecedor ex-
clusivo da destilaria Moreno, lo-
calizada a exatos 7 km da sede da
fazenda, o agricultor trabalha suas
lavouras de cana de maneira bas-
tante profissionalizada e, para isso,
conta com a parceria técnica da
Coplana. A área de cana apresen-
ta produtividade superior à mé-
dia da região, atingindo 100 t/ha.
Marcelo Junqueira entende que a
proximidade da usina é fundamen-
tal para manter o lucro dos fornece-
dores de cana. Segundo ele, a cultu-
ra chegou às fazendas da família na
década de 1960 e
o motivo maior
era exatamente a
distância entre as
lavouras da épo-
ca e as principais
usinas da região.
A mecanização
aos poucos co-
meça a ser incor-
porada aos tratos
culturais das la-
vouras, como o uso de maquinário
próprio no plantio e na aplicação
dos insumos. A colheita ainda é ter-
ceirizada a partir de parceria com a
usina, que responde pela poda e o
transporte da cana para moagem.
A produção sustentável é outra pre-
ocupação da família Junqueira. “O
crescimento sustentável da cana de-
pende de investimentos em novas
variedades adaptadas aos diferen-
tes tipos de so-
los, mecanização
dos processos e
capacitação da
mão-de-obra”,
ressalta o agri-
cultor. Ele tam-
bém considera
f u n d a m e n t a i s
a melhoria do
nível de escola-
ridade e a for-
mação técnica dos empregados.
Na parte ambiental o produtor de-
fende a preservação dos ecossiste-
mas, controle biológico de pragas
e manejo de plantas invasoras por
meio do uso racional de herbicidas.
TExTO
PREOCUPAÇãO
INDISCUTÍvEL COM
A PRODUÇãO
SUSTENTÁvEL NA
PROPRIEDADE
“
“
tir a cobertura permanente do solo.
“Isso evita a perda de nutrientes
causada pela compactação e ero-
são”, diz, com a mesma cordialida-
de de sempre.
Entusiasta do avanço da tecnologia
na produção agrícola, Walter atri-
bui importante parte do sucesso
às parcerias com
usinas da região
e ao apoio da Co-
plana (Coopera-
tiva dos Planta-
dores de Cana da
Zona de Guari-
ba), que oferece
orientação técni-
ca. O agrônomo
Marcos Antônio
Minari é o responsável técnico pelo
projeto. “O acompanhamento da
Coplana é um dos responsáveis di-
retos pelo avanço técnico da cana e
demais culturas consorciadas”, des-
taca Walter, ressaltando que a par-
ceria ocorre desde o início do em-
preendimento, há duas décadas.
21
MUNDO CaNa
CONSORCIAçãO qUE dá RESULTAdOS
Bem humorado e solícito, com a
tranquilidade de quem dedicou a
maior parte da vida ao cultivo da
terra, Walter Aparecido Luiz de Sou-
za é um empresário que sabe tornar
agradável o ambiente de trabalho,
mesmo em uma região de calor
intenso, como Ribeirão Preto, no
interior de São Paulo.
Da área de 1,5 mil/ha de terra
administrada por eles em Jabotica-
bal (SP), metade é arrendada em
sistema de parceria com usinas da
região e recebe agora plantios de
amendoim em sistema de rotação
de cultura para renovação das áre-
as de cana-de-açúcar. A outra parte
(750 ha) é composta por terras pró-
prias da família, onde também está
a sede do projeto iniciado em 1990.
“Desde o início, uma marca da Fa-
zenda Santa Cândida é o investi-
mento no plantio intensivo da cana
e o uso de tecnologias de ponta em
maquinários e insumos”, destaca o
agricultor, que enxerga como prio-
ridade a produtividade para arcar
com os custos da lavoura e ainda
garantir lucro.
Para atingir esses objetivos, o cami-
nho escolhido pelos irmãos Souza é
a diversificação da cana com cultu-
ras anuais, estratégia que tem pro-
porcionado bons resultados econô-
micos ao negócio. “A cana possui
ciclo produtivo de seis meses em
média e o amendoim perto de 125
dias (quatro meses). Isso torna per-
feito o consórcio entre as culturas”,
explica o agricultor, que vai além.
“Quando chega o momento de re-
tornar com o plantio da cana, ge-
ralmente no início do ano seguinte,
o amendoim já está todo colhido,
deixando como herança o resíduo
da adubação e a matéria orgânica
que serve como excelente cobertu-
ra para o solo”.
A consorciação
das lavouras de
cana com amen-
doim ocorre na
proporção de
20% por ano e
ocupa basica-
mente áreas de
reforma. Com
isso, o produtor
mantém elevada a produtividade
dos canaviais: entre 90 e 100/t/ha.
A vida produtiva atinge entre seis e
sete anos, em média. Para Walter,
a cana consorciada com culturas
anuais promove a renovação das
áreas de plantio com calagem e
adubação corretiva, além de garan-
Walter de Souza cresce comdiversidade de culturas
CONSORCIAÇãO
AJUDA A
RENOvAÇãO
DAS ÁREAS
DE CULTIvO
“ “TExTO
A importância do manejo correto
consultor jaMil constantin aponta ca-
Minhos para controlar plantas dani-
nhas na cultura da cana
MUNDO CaNa
22
Jamil Constantin: Pressões ambientais contribuem para queda de produtividade
>
e que envolve todos os possíveis reflexos da
planta daninha na colheita”.
“Os efeitos negativos observados no cresci-
mento, desenvolvimento e produtividade de
uma cultura, devido à presença de plantas
espontâneas, não devem ser atribuídos ex-
clusivamente à competição imposta por es-
sas últimas mas, sim, à resultante de várias
pressões ambientais que podem ser diretas,
como competição, alelopatia e interferência
na colheita; ou indiretas – hospedando pragas,
doenças nematóides e outros, ligados à sua
presença no ambiente agrícola (Pitelli, 1985).
Se não é fácil identificar exatamente que tipo
de interferência ocasionará determinada perda
na produção, é mais simples descobrir quando
a planta daninha começa a incomodar a cultura.
Jamil Constantin explica que há dois períodos
a ser considerados para avaliar o problema
das plantas daninhas. O primeiro deles é co-
nhecido por PAI (Período Anterior de Interfe-
rência), que equivale ao tempo em que a cul-
tura consegue conviver com o mato sem que
ele interfira em seu desenvolvimento.
“Ou seja, nasceu a cana, nasceu o mato. En-
tão, é preciso saber quanto tempo o produtor
tem para entrar com herbicida antes que a
planta daninha comece a provocar queda na
Apresença das plantas daninhas na
cultura da cana-de-açúcar e sua
consequente contribuição para a
queda da produtividade é tema antigo nas
discussões agrícolas. E medir o que exata-
mente provoca a redução da produtividade
da cultura por conta dessa invasora não é ta-
refa fácil. É o que explica Jamil Constantin,
professor doutor da Universidade Estadual
de Maringá (UEM) e pesquisador do Conse-
lho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPQ). “Por
esse motivo, ao invés de
falar em mato compe-
tição, o ideal é utili-
zar a expressão ‘mato
interferência’, mais
abrangente
produtividade. É nesse período que muitos
cometem erros, pois retardam a aplicação do
herbicida pensando em economizar uma apli-
cação. O efeito do herbicida pode ser compro-
metido caso o momento da aplicação ocorra
no período em que já se manifestou a interfe-
rência do mato”, explica o Dr. Constantin.
De acordo com estudo apresentado por ele
(Meirelles 2009, Batatais-SP), considerando
a plantação de cana soca úmida a partir da
brotação, já a partir do nono dia se inicia a
queda na produtividade por interferência do
mato, equivalente a 2% de perda. Em um
universo de 126,8/t/ha a perda é de 2,54/t/ha.
“Considerando que, em geral, se espera de
20 a 30 dias para aplicação do herbicida,
acreditando-se assim garantir o residual
do produto até o fechamento da lavoura –
principalmente na cana planta –, por esse
estudo se pode ver o quanto os produtores
vêm sofrendo perdas sem saber. O pior é
que eles não enxergam essa queda, uma vez
que não têm lotes-
testemunha. Aliás,
essa situação faz com
que repitam o erro na
safra seguinte e con-
tinuem retardando
a aplicação, enquan-
to o ideal é fazer a
aplicação em pré-
emergência ou em pós-emergência, o mais
cedo possível, para se evitar perdas por uma
interferência precoce.”, avalia.
Outra questão a ser avaliada é quando se faz
a aplicação dos herbicidas, para o controle
das plantas daninhas, com a cana já emer-
gida. Isso está relacionado à seletividade do
produto, ou seja, a capacidade de determina-
dos herbicidas de eliminar plantas daninhas,
sem reduzir sua produtividade. O especialista
explica que o herbicida precisa ter boa seleti-
vidade para que a cana feche no limpo. Por-
tanto, é preciso considerar quanto tempo a
cana demora para fechar e, assim, verificar o
residual do agroquímico que deverá acompa-
nhar até o fechamento da cultura, especial-
mente no período seco.
“Essa questão da fitotoxicidade na cultura e
as perdas causadas por ela têm sido temas
de trabalhos da UEM, os quais indicam, es-
pecialmente, que quanto maior a cana-de-
açúcar, no momento da aplicação do herbi-
cida, maior o prejuízo causado em termos de
perda de produtivi-
dade demonstrando,
mais uma vez, que o
ato de se retardar as
aplicações causam
prejuízos maiores do
que se possa imagi-
nar. Por exemplo, se
considerarmos pro-
dução de uma área de 240 mil/ha, dos quais
30% possuem o problema, e perdas médias
de 8/t//ha, estamos falando de 576 mil/t de
cana-de-açúcar perdidas”.
As perdas ocasionadas pela seletividade do
herbicida somam-se às perdas por mato in-
terferência, trazendo significativo prejuízo na
colheita. A melhor alternativa, portanto, está
na aplicação do herbicida em pré-emergên-
cia, seja para evitar a queda na produtivida-
de pela interferência da planta daninha, seja
para prevenir a fitotoxicidade na cultura.
23
DIvULGAÇãO
herbicida precisa ter
boa seletividade para a
cana fechar no liMpo
“ “
MUNDO CaNa
Demora na aplicação de herbicidas pode gerar prejuízo de mais de 5%
Mais uma fronteirana energia renovável
A descoberta de novas variedades
de cana, mais precoces e produti-
vas, e o advento da mecanização,
incorporando novos tratos culturais às la-
vouras, são novos agentes de indiscutível
benefício à atividade.
Porém, essa mudança de perfil
da cana abre espaço para a
ocorrência de alguns pro-
blemas fitossanitários,
os quais exigem esforço
maior dos técnicos para
manter a produtividade e
a consequente viabilidade
econômica da lavoura.
Em relação ao uso de herbicidas químicos,
para manter o controle das populações de
plantas invasoras, a preocupação é quanto
à manutenção da eficácia dos agroquími-
cos de ação seletiva. Esse tema é tão rele-
vante que se tornou foco de estudo de pes-
quisadores, como o engenheiro agrônomo
e consultor técnico, Marcos Kuva, sócio da
empresa Herbae, de Jaboticabal (SP).
Segundo Kuva, o fato de a cana ter se tor-
nado uma cultura quase que perene no
interior de São Paulo criou uma série de
novos desafios ao trato fitossanitário das
lavouras. Como o ideal é que o herbicida
seja aplicado entre o terceiro e o quarto
mês pós-plantio ou corte da cana, o perío-
do maior de manejo expõe a planta aos
efeitos das variações de temperatura e
umidade no momento da aplicação, o que
pode comprometer o resultado do traba-
lho. “É como se fossem várias culturas em
uma só”, salienta o especialista.
Outra preocupação é com a incidência maior
de plantas invasoras em áreas de formação
de cana. Estudos conduzidos pela equipe da
Herbae em áreas recém-formadas e outras
mais antigas apresentam diferença consi-
MUNDO CaNa
desafio dos técnicos para controlar
probleMas fitossanitários exige esfor-
ço é cada vez Maior
24
Kuva: cana “perene” criou uma série de novos desafios
TExTO
>
diferentes espécies de invasoras.
Usinas com maior capacidade de produ-
ção já utilizam a análise de invasoras com
auxílio de uma técnica chamada “matolo-
gia”, por meio da qual os técnicos deixam
crescer capim em áreas selecionadas como
testemunha para conhecer as espécies de
ocorrência endêmi-
ca na propriedade.
Assim, é possível
monitorar o poten-
cial de infestação
para o ano seguinte,
o grau de incidência
e a severidade da es-
pécie, constituindo
um banco de dados
de grande importân-
cia para o manejo da
plantação.
Nesses casos, re-
comenda-se definir
área mínima de 50 hectares. Escolhe-se um
talhão e, nele, definem-se três células (tes-
temunhas) com largura equivalente ao diâ-
metro da barra do pulverizador (2 metros).
O período de permanência é entre 80 e 160
dias e Marcos Kuva sugere retornar periodi-
camente para fazer a leitura da área.
derável em relação ao tipo de ocupação e
ao grau de competição. Em áreas onde a
cana está há mais tempo, a predominância
é de espécies de uso corrente na pecuária,
como capins brachiária, colonião e colchão,
entre outras. Já nas áreas de formação re-
cente, existe equilíbrio dessas gramíneas
com outras espécies
vegetais de folha lar-
ga, caso da corda de
viola, melão de São
Caetano e mamona,
ultrapassando em
termos de importân-
cia as gramíneas tra-
dicionais.
Os testes da Herbae
sobre severidade
com capim brachiá-
ria em área de cana-
de-açúcar demons-
traram perdas de
produtividade de até 80%. No caso de ca-
pim colonião, os resultados mostram per-
das entre 30% e 40% e em áreas de ocupa-
ção mista de brachiária x capim colonião, a
redução foi maior que 50%. Estudo inédito
feito com capim corda de viola para avaliar
a competição na cana levantou perdas de
30% a 35%.
Outra questão a ser considerada no momen-
to de planejar o manejo químico da lavoura
é a fase de desenvolvimento da cultura. Na
cana, estão disponíveis herbicidas para uso
na pré ou pós-emergência. Assim, antes de
iniciar qualquer trato na lavoura é impor-
tante que o técnico conheça o histórico de
infestação da área. A dica do especialista
é fazer levantamento detalhado do solo, a
fim conhecer a atividade cultivada anterior-
mente. A experiência demonstra que em
cada talhão analisado o produtor encontra
perdas por
incidência de plantas
invasoras exigeM
atenção redobrada
dos técnicos. usinas já
usaM análise
de invasoras coM a
técnica “Matologia”
“
“
MUNDO CaNa
TExTO
25
Marcos Kuva e equipe Herbae
Cana transgênica cada vez mais perto
pesquisas avançaM eM duas frentes: os
já conhecidos genes coMerciais e o re-
conheciMento do dna da cana
Osucesso conquistado pelos orga-
nismos transgênicos, responsá-
veis por grande salto de produti-
vidade nas lavouras de soja, milho e algodão
ao longo das últimas décadas, já há algum
tempo é objeto do interesse de especialistas
brasileiros ligados ao setor canavieiro.
Há aproximadamente uma década e meia,
o Centro de Tecnologia Canaviei-
ra (CTC), de Piracica-
ba (SP), desenvolve
pesquisas com a fina-
lidade de lançar no
mercado a primei-
ra variedade de
cana transgênica
genuinamente na-
cional. As pesqui-
sas encontram-se
em estágio
MUNDO CaNa
avançado para obter variedades que sejam
ao mesmo tempo produtivas, resistentes
ao ataque de pragas e tolerantes à ação
dos principais herbicidas comerciais.
Segundo Tadeu Andrade, diretor de pes-
quisa do CTC, o desenvolvimento da pes-
quisa voltada à transgenia em cana-de-
açúcar ocorre em duas frentes principais.
A primeira delas se desenvolve a partir
dos já conhecidos ‘genes comerciais’, en-
contrados com facilidade no mercado e
introduzidos na cultura da cana para im-
primir características não expressas origi-
nalmente em seu DNA.
Outra frente de estudo está ligada ao re-
conhecimento do próprio DNA da cana,
visando a obtenção de futuros genes para
fins de comercialização. Por meio de uma
técnica chamada ‘superexpressão’, os pes-
quisadores do CTC trabalham para identi-
ficar nas sequências gênicas do DNA da
planta aqueles genes com potencial para
características funcionais, como concen-
tração de sacarose (açúcar) e/ou tolerân-
cia a seca, entre outras.
Para Andrade, a grande vantagem da trans-
genia, em comparação com o método con-
vencional usado no melhoramento genético
>
Tadeu Andrade:transgenia é questão de tempo
26 TExTO
de espécies vegetais, está no ganho de tem-
po trazido pela informação contida no DNA
da planta. A partir do mapeamento com-
pleto do genoma da cana, a pesquisa agora
está focada no reconhecimento de caracte-
rísticas ainda desconhecidas do mercado.
“A primeira geração de genes tinha capaci-
dade de resistir ao ataque de insetos e era
tolerante aos herbicidas. A segunda gera-
ção, que ainda está em testes, apresenta
variedades com tolerância à seca e capaci-
dade de produção maior de açúcar (saca-
rose). A terceira geração, que chegará ao
mercado nos próximos cinco ou dez anos,
terá a capacidade também de resistir ao
ataque de besouros e algumas pragas de
solo”, explica o especialista do CTC.
Entretanto, o futuro da transgenia em ca-
na-de-açúcar no Brasil dependerá em gran-
de medida da aceitação do mercado. O Bra-
sil está entre os países mais adiantados do
mundo em termos
de pesquisa voltada
ao desenvolvimento
da cana transgênica.
No entanto, o volu-
me de investimentos
ainda é modesto se
comparado a outras
lavouras. Para Tadeu
Andrade, o mundo
precisa deixar de en-
xergar a cana como
uma cultura de im-
portância marginal. “Aí sim ela atrairá o in-
teresse do investidor”, diz. Hoje, entre os
grandes ‘players’ do mercado global ape-
nas Brasil, Austrália, África do Sul e alguns
países de menor importância econômica
têm a cana como produto agrícola impor-
tante em suas economias. “Essa situação
precisa mudar”, diz Andrade.
No que depender da pesquisa, o futuro da
cana transgênica no Brasil está garantido.
A sinalização para isso está na forma como
os especialistas pre-
tendem viabilizar
comercialmente a
cultura. “A mesma
pesquisa que se es-
merou para selecio-
nar variedades com
maior aptidão para
produzir açúcar ago-
ra busca cana com
maior quantidade
de fibras para pro-
dução de biomas-
sa”, ressalta o especialista.
A transgenia também possibilitará o de-
senvolvimento de variedades de cana com
maior concentração de fibras de celulose,
servindo de matéria-prima para a fabrica-
ção de uma infinidade de produtos. Dessa
forma, a cana do futuro deve promover ou-
tra grande revolução na indústria.
terceira geração
de genes terá
capacidade para
resistir a ataques
de besouros e
pragas de solo
“
“
27
MUNDO CaNa
DIvULGAÇãO
AA constatação de que a correta
utilização de defensivos agrícolas
promove a proteção ambiental e
humana e contribui para a redução do custo
de produção para o agricultor levou a Arysta
LifeScience a criar o Programa Aplique Bem,
em parceria com o Instituto Agronômico de
Campinas (IAC). Em apenas três anos de
existência, esse projeto de educação de pro-
dutores rurais já visitou mais de 500 proprie-
dades em 60 municípios e treinou mais de
11 mil produtores de 14 estados brasileiros.
A iniciativa, que começou com produtores
de HF no interior paulista, passou a envol-
ver também o cultivo de cana-de-açúcar,
e já realizou mais de 160 visitas orientan-
do e treinando os agricultores das princi-
pais regiões produtoras de cana, atuan-
do diretamente com as usinas e também
28
com os fornecedores, sejam pequenos,
médios e grandes. Por meio do laborató-
rio móvel Tech Móvel, durante os treina-
mentos, usinas e fornecedores têm acesso
a diversas informações, como utilização
correta de defensivos agrícolas, equipa-
mentos de proteção individual (EPIs) e re-
gulagem de equipamentos de pulverização.
Hamilton Ramos, diretor científico do IAC,
entidade referência mundial em pesquisa
e conhecimento na área de tecnologia de
aplicação, explica que já é possível relatar
a diversidade de problemas de aplicação de
defensivos agrícolas na cana-de-açúcar, que
variam de acordo com a região do país.
“A tecnologia de aplicação utilizada nas re-
giões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em nada
tem a ver com a utilizada na região Nordes-
te, por exemplo. O nível de instrução do
Mão de obra capacitada é fundaMental
para o gerenciaMento adequado dos equi-
paMentos e tecnologias Modernas atuais
DIvULGAÇãO
Educação e responsabilidade
MUNDO CaNa
trabalhador, as condições de trabalho e os
equipamentos são totalmente diferentes.
Enquanto no Centro-Sul predominam pul-
verizadores de barras, predominantemen-
te com alto grau de tecnologia agregado e
número relativamente baixo de pessoas por
equipe de aplicação, no Nordeste são utili-
zados os pulverizadores costais com grande
número de pessoas por equipe. Além disso,
enquanto no NE as reaplicações em mesma
área são comuns, nas demais regiões esse
cenário é raro”, avalia o diretor do IAC.
Marcel Sarmento de Souza, instrutor do
Aplique Bem, acrescenta que um dos prin-
cipais problemas apresentados no campo
é a idade elevada tanto de tempo quanto
de uso dos equipamentos de pulverização.
“Geralmente, a manutenção empregada
é inadequada ou até insuficiente, contri-
buindo para o seu mau estado. Com a ava-
liação das máquinas nestes três anos de
estrada se fossemos considerar a presença
dos principais componentes para o uso dos
pulverizadores agrícolas, apenas 14 % dos
equipamentos estariam em condições ade-
quadas de uso”, explica.
O instrutor explica que, na era da agricultura
de precisão, os pulverizadores possuem con-
troladores eletrônicos de pressão e fluxo,
sistema de GPS, barra de luzes para direcio-
namento e várias tecnologias para gerencia-
mento de dados de aplicação. Porém, a falta
de mão-de-obra capacitada para operar es-
ses equipamentos é uma realidade.
“Com o Aplique Bem estamos destacando
aos produtores que a alta tecnologia den-
tro da propriedade não pode ser apenas no
equipamento, mas também deve envolver
o operador que conduzirá o mesmo. Seu
treinamento e capacitação são fundamen-
tais para que ele possa enxergar as variáveis
que o sistema pode lhe proporcionar”.
O Aplique Bem se enquadra perfeitamente
às necessidades do produtor e às soluções
desses principais problemas apresentados,
uma vez que trabalha com o tripé equipa-
mentos – pessoas – processo de aplicação.
“O equipamento precisa funcionar de for-
ma adequada, as pessoas precisam estar
capacitadas e o processo de aplicação cor-
reta dos defensivos, que inclui as condições
climáticas, deve ser respeitado”, afirma a
Coordenadora de Stewardship e Registro
da Arysta LifeScience, Líria Hosoe.
a solução está no
equipaMento que preci-
sa funcionar de forMa
adequada, nas pessoas
que precisaM estar capa-
citadas e no processo de
aplicação correto que
deve ser respeitado
“
“TExTO
MUNDO CaNa
29
Com o aumento crescente da popu-
lação aliado ao aquecimento eco-
nômico brasileiro e mundial, várias
implicações surgirão no contexto
socioeconômico mundial. Uma de-
las, e não menos importante, é o
aumento da demanda energética.
Estima-se que haverá aumento de
40% e de 90% na demanda ener-
gética mundial e nacional, respec-
tivamente. Frente á escassez das
fontes não-renováveis e da pressão
socioambiental sobre o maior uso
de energias renováveis, a cana-de-
açúcar ganha destaque importante
nesse cenário.
Mais produção sem aumentar a área
30
MUNDO CaNa
Consequentemente, haverá neces-
sidade do incremento na quantida-
de de biomassa produzida. Porém,
com a diminuição das áreas agrí-
colas potenciais, devido também
à maior demanda mundial por ali-
mentos e por se pensar em um ma-
nejo ecologicamente sustentável,
evitando a inclusão de áreas vir-
gens ou de vegetação nativa, tor-
na-se mais necessário que o setor
canavieiro busque incrementos na
produtividade por área.
Diante desse contexto, visando ele-
vação da produtividade e pensando
em manejo agrícola mais sustentá-
vel, novas tecnologias estão sendo
implantadas no setor agrícola. Uma
delas é o uso de substâncias que
estimulam o potencial genético das
culturas, fazendo com que a plan-
ta utilize de forma mais eficiente
a energia luminosa, convertendo a
mesma de forma mais eficiente em
carboidratos. Outro ponto impor-
tante diz respeito ao melhor apro-
veitando de nutrientes, mediante
o incremento do sistema radicular,
e à melhoria da utilização dos mes-
mos pelas plantas, no qual haveria
dupla contribuição, otimizando al-
guns nutrientes que também não
são auto-renováveis.
Mediante estas necessidades agrí-
colas, econômicas e ambientais, a
Arysta LifeScience está desenvol-
vendo o conceito “Pronutiva” com
uma linha ampla de produtos que
visam tanto a parte de proteção de
plantas como a nutrição e a fisiolo-
gia de plantas e que proporcionam
incrementos na produtividade da
cana-de-açúcar.
Um dos principais produtos dessa
linha é o Biozyme, que tem a fun-
ção de estimular o potencial gené-
tico produtivo das culturas, o que
pode conferir retorno maior entre 5
a 10 vezes o valor do investimento.
Dentre alguns de seus efeitos, des-
taca-se o incremento de brotações,
desenvolvimento inicial, enraiza-
mento, germinação de gemas, per-
filhamento e consequente aumento
na produtividade. Outro produto de
grande potencial é o K-tionic, que
tem como objetivo principal aumen-
tar a quantidade de cargas negati-
vas próximas à zona do crescimento
radicular e, com isso, favorecer a
absorção de macro e micronutrien-
tes catiônicos, diminuir a perda de
nitrogênio e a adsorção de fósforo,
além de contribuir para o aumento
na população de micro-organismos
benéficos no solo.
Artigo por Chryz Serciloto *
*Chryz Melinski Serciloto - Especialista em Desenvolvimento de Produtos e Mercados da Arysta LifeScience, Doutor em Fisiologia e Bioquímica de Plantas
>
novas substâncias estiMulaM potencial
genético das culturas