Post on 24-May-2015
Maio - Junho | Nº14 | janeaustenpt.blogs.sapo.pt
A Hartfield Portuguesa p.36
Emma, a Heroína que Não Vai a
Lado Nenhum p. 19
Jane Austen Rejeitada? p. 47
Ao Serão com Jane
Austen p.5 O Estatuto Especial de Emma
Woodhouse p. 21
Rev
ista
Jan
e A
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en P
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EmmaEmma Os Lugares de Os Lugares de
Conteúdo Original © Jane Austen Portugal
Capa: Squerryes Court, Kent, England, UK
(Hartfield – Emma 2009)
Ilustrações: Adaptações para cinema da obra Emma (1996 – 2009), imagens
retiradas da net com os devidos créditos
Agosto de 2012
EDITORIAL
Mote a Miss Austen (4) | Ao Serão com Miss
Austen (5) |Encontros Improváveis (9) | Car-
tas de Uma Janette (10)| Box Hill nos Dias
de Hoje (11) | Box Hill em Perspetiva (13) |
Emma, a Heroína que não vai a lado nenhum
(19) | O Estatuto Especial de Emma Woo-
dhouse (21) | A Protagonista Mais Enraizada
de Jane Austen (23) | Hartfield (25) | A Aba-
dia de Donwell (26) | Os Cenários de Don-
well - 1996 BBC (30) | Squerryes Court (34)
| A Hartfield Portuguesa (36)| As Meninas
de Beverlly Hills (39) | Notícias e Curiosida-
des (41) | Passatempo Aniversário Jane Aus-
ten (44) | Sugestões Austenianas (45) | À
Discussão (47) |
Revista Jane Austen Portugal | SUMÁRIO | 3
Diz o povo que em Maio comem-se as cerejas ao borra-
lho. Mas a verdade é que em Maio os dias já são gran-
des e muitas vezes as temperaturas são amenas, o sufi-
ciente, para uns belos passeios ao ar livre.
Porque não viajar então até aos Lugares de Emma? Esta
não é certamente a obra com mais viagens, esse mérito
pertence a Orgulho e Preconceito, mas os lugares são
belos e o exercício, como diria Mr. Knightley irá com cer-
teza fazer-nos bem.
Vamos começar por Box Hill, um belo espaço verde, onde
podemos fazer umas longas caminhadas. Há alguns
dias Box Hill era visto em todo o mundo já que era lá que
decorria uma prova de ciclismo, no âmbito dos Jogos
Olímpicos. A Clara escreveu sobre este espaço que é nos
dias de hoje tão popular como era nos tempos de Jane
Austen; a Clara analisa ainda aquilo que acontece duran-
te o piquenique em Box Hill, servindo-se do texto de Jane
Austen e do livro de Amanda Grange, Mr. Knightley’s
Diary.
Depois de termos percorrido Box Hill, é tempo de irmos
até à Abadia de Donwell, onde Mr. Knightley espera por
nós para um belo repasto. Após o almoço vamos apa-
nhar morangos, afortunadamente, Mrs Elton não faz par-
te da lista de convidados. Para descobrirem mais sobre o
que é dito sobre a casa de Mr. Knightley ou sobre os
vários locais que foram usados nas filmagens da adapta-
ção de 1996, leiam os textos da Clara.
O nosso tour fica completo com uma visita a Squerryes
Court, o local que na última adaptação representou e
muito bem o papel da casa da nossa heroína, Hartfield;
mais uma vez o texto pertence à Clara que escreveu ain-
da sobre uma possível Hartfield portuguesa.
Para nós é tempo de voltarmos ao presente e descobrir-
mos, através da Marina, as pessoas ilustres que viveram
na verdadeira Hartfield e os seus locais com interesse
histórico e cultural.
Estamos cansados, mas satisfeitos com esta viagem aos
Lugares de Emma, agora resta-nos descansar. Sentamo-
nos numa cadeira confortável, bebemos uma chávena
de chá e comemos alguns scones. Para nos distrair,
lemos os textos da Luan, da Júlia e um meu sobre o fac-
to de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes sobre
ÍNDICE
o facto de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes
sobre um mesmo tema.
A nossa revista fica completa com as nossas rubricas
habituais. A Joana, no Mote a Miss Austen, analisa quais
seriam os escritores actuais que Jane Austen gostaria de
ler. Será que ela iria gostar de ler E Tudo o Vento Levou
ou E o vento levou, título pelo qual a obra é conhecida no
Brasil? Esta é uma das Sugestões Austenianas, apresen-
tadas pela Luan. Como ela tão bem escreve o livro de
Margareth Mitchell é longo, mas vale muito a pena e de
certeza que Jane Austen iria gostar, digo eu, não tenho é
a certeza é se ela iria gostar de Scarlett O´Hara, a prota-
gonista…
Da parte das nossas leitoras, temos a participação da
Karla Lucas, que nos apresenta uma página do diário de
Marianne.
Este mês entrevistamos, Deborah Simionato, uma gran-
de fã de Jane Austen, que já viveu em Londres e visitou
Bath, esse lugar que tantas vezes visitamos nos livros de
Jane Austen.
Com tantas viagens estamos cansados, mas já estamos
a preparar o próximo mês, desta vez na companhia de
Fanny Price, uma heroína que tem lutado para conquis-
tar os leitores.
Vera Santos
MOTE
4 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal
Se convidasse Jane Austen a ler
um autor actual
Várias vezes me questiono qual seria a opinião
de Jane Austen acerca dos livros/autores actuais.
Vou tentar decidir que autor recomendaria a Miss
Austen.
Talvez deva começar pela autora mais famosa
dos últimos tempos: Stephenie Meyer. Para quem
não conhece (haverá alguém?), trata-se da auto-
ra da saga «Crepúsculo». Não é apenas pela
fama dos seus livros que a refiro mas também
porque diz-se que esta senhora quer ser a nova
Jane Austen. Se tal ambição for verdadeira, não
posso dizer que ela esteja num «bom» caminho.
Concordo com a análise da própria autora acerca
da semelhança dos seus livros com o «Monte dos
Vendavais». Não me parece que Jane Austen
fosse fã.
Já por diversas vezes reparei que há tendência a
comparar Austen com Nicholas Sparks. O conhe-
cido escritor tem realmente a componente român-
tica muito forte nas suas histórias, mas de forma
geral, não enfatiza a componente social (tão
importante na obra de Austen). Em extremo
oposto encontra-se Ken Follett cujas obras têm
uma componente histórico-social muito forte, mas
talvez não sejam suficientemente românticas.
Em última análise, tenho que apontar duas auto-
ras que, acho, agradariam a Jane Austen: Cece-
lia Ahern e Colleen McCullough. São duas escri-
toras capazes, que eu considero terem inspiração
austeniana. Collen tem, aliás, uma obra que pre-
tende ser uma continuação de «Orgulho e Pre-
conceito». Em suma, acredito que livros como
«Where Rainbows End» ou «The Thorn Birds»
satisfariam a nossa querida escritora.
De qualquer forma este é um texto de opinião e
se a alguma das leitoras ocorrer outros nomes
apropriados, seria interessante que comentassem
no blogue pois pode gerar-se uma discussão
engraçada.
A MISS AU
STE
N
: Joana La Cueva
Conheci a Deborah via facebook, algures entre
2010/11, através de outros amigos virtuais que
partilham o mesmo gosto por Jane Austen. Ela
fascinou-me pela sua frescura, pela sua alegria,
pela sua boa disposição e especialmente pela sua
devoção às obras de Jane Austen e às adaptações
que se fizeram baseadas nas mesmas. Nessa
altura, a Deborah encontrava-se a residir em
Londres, beneficiando do seu ano celibatário e a
aperfeiçoar o seu inglês.
Deborah Mondadori Simionato tem 24 anos, é de
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Brasil, e formou-
se em Psicologia na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Define-se como sendo “viciada em
livros e filmes e amante de todas as coisas british e
Austen”. Acrescenta ainda que vive “tentando virar
uma heroína digna de um livro de Jane Austen”.
Sobre a temporada que passou em terras de Sua
Majestade, a Deborah define-a como sendo a
melhor fase da sua vida. Diz que sempre desejou
conhecer Londres e, apesar de ter ido sozinha, a
solidão nunca foi problema dado que a internet lhe
permitiu estar em contacto com família e amigos, e
permitiu simultaneamente a partilha online de todas
as experiências maravilhosas que ela vivenciou.
Além disso, fez algumas amizades com outros
alunos da escola de inglês, tendo tido oportunidade
de conhecer gente do mundo inteiro com quem
ainda hoje mantém contacto. Posso dizer que
acompanhei virtualmente essa sua jornada com
bastante interesse e entusiasmo.
“Eu amei viajar sozinha, a sensação de liberdade é
sensacional, é muito bom poder ir e vir sem ter que dar
satisfação a ninguém e visitar os lugares que são do
meu interesse, mas podem não interessar outras
pessoas. Aprendi muito sobre mim mesma também,
meus pontos fortes e minhas fraquezas. Foi uma
experiência enriquecedora”.
Deborah afirma que, apesar de viajar sozinha, em
momento algum sentiu que a sua segurança
estivesse ameaçada. Estava em Londres quando
aconteceram os riots em Agosto do ano passado e
mesmo assim, sentiu-se segura, já que o número de
polícias nas ruas triplicou. Andava sozinha no bus,
no metro, no comboio, e sempre sem problemas.
Ironicamente comenta que isso é algo impossível no
seu próprio país.
Questionada sobre a forma como esta viagem se
proporcionou e tornou possível, Deborah conta que
planeou e poupou dinheiro para esta viagem
durante dez anos. Mas foi só quando ganhou um
pequeno prémio na Lotaria Nacional que se
encontrou em condições reais de viajar. “Não fiquei
milionária, mas ganhei um valor suficiente para
bancar minha estadia e as viagens que fiz pelo UK”.
Foi o dinheiro mais bem gasto na sua ainda jovem
vida.
“Eu fiquei em Londres por 9 meses, dois dos quais
eu morei em um alojamento da escola de inglês
(Hampstead School of English). Durante os demais
meses, eu aluguei um flat na área de Bayswater,
perto de Notting Hill”.
Durante os primeiros meses, estudou inglês,
assistia às aulas e passeou por Londres. E
entretanto, ia fazendo uma lista de lugares que
desejava conhecer (a maioria deles relacionado
AO SERÃO AUSTEN
CO
M M
ISS
: Sandra Freitas
(Deborah em Londres)
Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 5
6 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal
com Jane Austen, as suas obras e as adaptações).
Assim que as aulas acabaram, ficou mais dois
meses para poder visitar todos os lugares que
queria. “Minha lista ainda existe e infelizmente não
consegui visitar todos os lugares que queria...”
Encontrar-se perto dos lugares percorridos por Jane
Austen e/ou pelas personagens dos seus livros foi
algo muito emocionante para Deborah. “Eu sentia
como se estivesse passeando dentro dos meus
livros preferidos e que a qualquer momento iria me
deparar com mulheres de vestidos longos e homens
de breeches”.
Os locais que mais gostou de visitar foram Bath “por
ser uma cidade linda onde a Jane viveu e por ser
pano de fundo para Persuasion e Northanger
Abbey, além de preservar aquele clima antigo e
contar com o maravilhoso Jane Austen Centre” e
Chawton “sem dúvida, um dos locais mais
emocionantes para um fã de Jane Austen conhecer;
foi lá que ela revisou todos os livros que hoje nós
tanto amamos e foi onde ela viveu seus dias mais
felizes”.
Decepções? Nenhuma. Afirma veementemente que
“Não consigo pensar em nenhum lugar que tenha
me decepcionado, acho que ainda estou encantada
demais para fazer críticas; ou talvez os lugares
sejam mesmo maravilhosos e não há nada de ruim
para dizer a respeito deles, não sei”.
Questionada sobre se repetiria a experiência,
Deborah foi peremptória: “Sim, sim, sim! Mil vezes
sim!... Vivi experiências incríveis na Inglaterra...
Minha estadia foi a melhor experiência até ao
momento...Foi um período de auto-
descoberta que vou para sempre
recordar com carinho.”
Jane Austen foi o que despoletou
esta paixão em Deborah por tudo o
que é britânico. Obsessão talvez seja
a palavra mais adequada, de acordo
com a sua própria opinião. Daí que,
fazendo jus ao motivo da minha
entrevista, transcrevo aqui as
respostas dela às questões
colocadas.
Lembras-te do momento ou da
situação que te fez amar as obras de
Jane Austen? Que idade tinhas? Fala
um pouco sobre isso.
Não lembro exatamente como
começou a minha obsessão por todas
as coisas Jane Austen, mas lembro
de ter lido “O Diário de Bridget Jones”
quando tinha uns 16 anos e ter
ficado curiosa com o personagem
que inspirou Mark Darcy. A partir daí,
comecei a ler as obras da Jane e me
apaixonei por seus escritos e pelas
adaptações para a televisão e cinema.
Qual foi o primeiro livro de Jane Austen que leste? E
o último? Qual gostaste mais e qual gostaste menos
e porquê?
O primeiro que li foi “Pride & Prejudice” (P&P) e o
último “Northanger Abbey”(NA). Coincidentemente,
(Chawton)
(A mesa onde Jane Austen escrevia em Chawton)
meu preferido é P&P e o que menos gosto é NA.
Amo P&P por sempre me fazer feliz quando eu leio
(se bem que isso acontece com todos os livros da
Jane), por ter uma história de amor tão linda e com
personagens tão incríveis; afinal, que menina não
quer ser Elizabeth Bennet e encontrar o Mr. Darcy?
Acho que é a história que eu melhor conheço e que
mais amo. Quanto a NA, eu também adoro e acho
muito engraçada, não tenho coisas ruins para dizer
a respeito, só que prefiro as outras mesmo.
Qual a tua adaptação (filme ou série) preferida das
obras de Jane Austen? Porquê?
Minha adaptação preferida é a minissérie da BBC
“Pride & Prejudice” (1995). Já vi e revi muitas vezes
e nunca me canso. É a mais fiel ao livro, com
grandes atores (não me refiro só ao maravilhoso
Colin Firth, mas Jennifer Ehle é minha Elizabeth
preferida também). Ultimamente ando assistindo o
filme com o Matthew Macfadyen e a Keira Knightley
(Pride & Prejudice, 2005) com grande frequência.
Apesar de não ser o mais fiel à história original,
acho o filme mais romântico e com uma fotografia
lindíssima. Outro que está no meu top é
“Emma” (BBC, 2009), que sempre me arranca
sorrisos e inclusive algumas risadas.
Que mudou Jane Austen na tua vida?
Jane Austen fez meu amor por romances
desabrochar. As histórias dela são repletas de uma
crítica social cómica que eu amo. No entanto, é o
romance o que mais me encanta. Eu quero um
amor digno de algo que a Jane escreveria; não o
relacionamento perfeito, mas um relacionamento
em que ambos estejam dispostos a se
tentar mais a ser pessoas melhores e
merecedoras do amor do outro. Penso
que aprendi com as heroínas da Jane a
ser uma mulher mais forte e
independente, a rir de mim mesma, a
encarar as coisas com mais leveza.
Posso ficar por horas aqui falando o
que aprendi com cada personagem,
com cada livro, com as coisas que a
Jane disse em suas cartas... Vou me
limitar a dizer que, por causa de Jane
Austen, sou uma pessoa melhor. Afinal,
a gente sabe que todo mundo que é fã
de Jane Austen deve ser uma ótima pessoa!
Qual a tua opinião sobre os livros baseados nas
obras de Jane Austen? E as fanfictions?
Eu sou absolutamente viciada neles! Tenho uma
coleção em casa e estou sempre buscando mais.
Adoro quando os escritores nos levam de volta aos
tempos da Jane, quando a JAFF (Jane Austen Fan
Fiction) é bem pesquisada e explora outros
aspectos dos nossos amados personagens e outras
possibilidades – ou sequências – para as nossas
histórias preferidas. Sou muito aberta em relação a
essas coisas (desde que mantenham Darcy e
Elizabeth juntos no final, eu leio de tudo!), gosto até
mesmo de ler as versões modernas para as
histórias.
Dizem que todas procurámos um Darcy. Concordas
com esta opinião? Procuraremos mesmo esse
homem que dizem ideal?
Acho que isso é verdade sim (pelo menos eu estou
procurando o meu Darcy...), mas também acho que
o Darcy não é um homem ideal ou perfeito. Ele tem
muitos defeitos, entre eles ser arrogante e
orgulhoso, mas o que o redime aos olhos de
Elizabeth (e aos nossos) é o fato de que ele escuta o
que ela tem a dizer e tenta ser um homem melhor
para ela, mesmo que ela não case com ele. E mais,
ele está disposto a desafiar todas as regras da
sociedade na qual ele vive por amor. Quem não
quer um homem corajoso desses? Então, sim, nós
procuramos um Darcy – ou um Wentworth,
Knightley, Brandon... -, um homem que nos escute e
seja nosso parceiro, alguém que nos respeite e seja
(The Royal Crescent em Bath)
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honrado. O dinheiro e a beleza que o Darcy tem são,
obviamente, bem-vindos, mas não essenciais.
Pessoalmente com quem te identificas mais:
Elizabeth Bennet, Emma Woodhouse, Anne Elliot,
Catherine Morland, Elinor Dashwood, Marianne
Dashwood ou Fanny Price? Fala um pouco sobre
cada uma delas.
Acho que eu consigo me ver no lugar de cada uma
delas – e essa é uma das belezas das personagens
criadas pelo gênio que era Jane Austen. É fácil ler a
história como se fossemos nós que a estivessemos
vivendo. Como a Lizzy Bennet, eu sou uma leitora
voraz, adoro uma boa discussão e sei rir das
inconsistências dos outros e das minhas; como a
Emma, já me vi várias vezes no papel de cuidadora
dos meus pais, uma responsabilidade por vezes tão
grande que esquecemos de nós mesmos; como a
Anne, eu às vezes pareço quieta e, à primeira vista,
séria; como a Catherine, eu leio muitos romances, o
que me faz sonhar alto de mais; como a Elinor, eu
costumo guardar meus sentimentos e sempre
parecer forte quando tudo ao meu redor está
desmoronando, mesmo sabendo que por dentro eu
estou extremamente feliz ou devastada; como a
Marianne, eu sou muito sensível; como a Fanny, eu
sou tímida e por vezes acho que não mereço as
coisas boas que acontecem comigo. De todas elas,
acho que sou mais como a Elinor, querendo sentir
um amor avassalador como a Marianne, ser “witty”
como a Elizabeth, calma como a Anne e charmosa
como a Emma.
Como imaginas a tua relação com Jane Austen
daqui a 20 anos?
Tenho certeza de que ainda estarei lendo Jane
Austen daqui a 20 anos. Talvez eu esteja mais
dedicada a reler apenas os originais e não tanto
JAFF. Não tenho como saber a certo, mas acredito
que a Jane ainda vai ser uma parte muito
importante da minha vida.
Gostarias de acrescentar alguma coisa?
Obrigada por ler e querer saber um pouco sobre
esse minha obsessão e sobre minha viagem à
Inglaterra – dois assuntos sobre os quais eu amo
falar. Espero não ter sido muito chata!
Não foste nada chata, Deborah! Obrigada por teres
partilhado as tuas experiências e o teu amor por
Jane Austen connosco!
Nota: Fotos gentilmente cedidas pela entrevistada.
(The Cobb em Lyme Regis, Dorset) (The Cobb em Lyme Regis, Dorset)
(Memorial a Jane Austen na Catedral de Winchester)
A quem encontrar o presente manuscrito...
Advirto que há nele o registro solene de uma
passagem, uma travessia, que gostaria que e se
prolongasse em sua existência, caro leitor:
Transformada! Deveras, passei por uma
completa transformação. E não convém detalhar
experiências vãs de outrora, do tempo em que
meu espírito alegre, minha beleza e juventude
foram mitigadas. Reduzi-me à lágrimas em um
rosto com aspecto pálido e doentio, sem
expressão alguma. Andava a esmo. Mas agora
tudo me soa muito diferente, como se o vento frio
invadisse meu ser imprimindo a tensão de um
mistério que em momentos passados reduziu-me
à cólera... a um sofrer sofrível que sufocava meu
sentir ― pleno ― de parecer existir uma vez só a
ponto de me fazer sentir e ser nada para outro
que apenas simulava um ser e um sentir que, de
fato, nunca existiram.
Antes, a névoa em meus olhos negava-me o
acesso a uma verdade fundamental: de modo
que hoje, eu, Marianne Dashwood, posso sentir a
brisa e distrair-me à janela de nosso chalé com
os olhos da esperança; pois, além do horizonte
das expectativas alimentadas pelas “heroínas de
papel”, há o limite do céu e da terra de
Devonshire que tornam o secreto manifesto por
um acaso que a vida me permitiu desvendar, na
medida em que experimentei sucessivas
perdas... no amor de um pai e no amor de um
Amor que jamais soubera o que significa amar,
Willoughby de Allenham.
É verdade que em breve serei a senhora
Brandon, mas, guardo como derradeira
lembrança, a ser com você compartilhada, a
certeza de que sobreviver... quase sempre,
poupa-nos das “menores” e mais devastadoras
privações que podem dissolver, na rigidez do
nexo, toda inocência e magia da arte de sorrir
com calor! Meu pensamento agora vagueará
somente pelo prazer das lembranças do que
ainda não é, na medida em que o tumulto interior
causado pelo que foi, não me apanha o sono.
Saiba que guardo com cuidado dentro de mim
meu mais caro presente: tempo e memória na
ponta de uma estrela. Minha memória? Foi um
retrato em preto e branco, um desbotamento da
aquarela do que vivi. Experimentei... Um dia...
Alguém... Conheci... e Descobri nos enleios de
uma segunda oportunidade para enxergar que
não bastam apenas palavras, mas o que é dito
deve acompanhar o que fazem ou deixam de
fazer por nossa causa... Aprendi que é possível
tecer fios de sonhos possíveis que não se
desgastam a cada alinhavo, no absurdo de um
sonho presente! O segredo? Nosso segredo é
extático. Sonho a ser vivido uma só vez na alma
infante! E é na cadência do tempo que saboreio a
doçura das palavras e gestos de quem realmente
tem o dom de permanecer e fazer durar.
Finalmente alcançou-me o toque das almas do
Homem que não ousa dizer seu nome, meu
amado, Brandon!
Marianne
ENCONTROS IMPROVÁVEIS
: Karla Alessandra Nobre Lucas
Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 9
10 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal
Olá eterna Jane Austen,
Pergunto o porquê dos simples acontecimentos
tornarem-se dúvidas constantes em minha men-
te... O porquê de me transformarem em um que-
bra cabeça, onde diversas peças estão faltando e
as que sobraram não se encaixam. Meu nome é
Izabella Rendeiro e estou à procura de resolu-
ções, como todas as "Janeites", a busca por res-
postas não para. O que você, Jane, buscou todos
esses anos? Misturar-se nos seus contares para
ir ao encontro do seu mundo particular? E seus
amores, seus mais profundos desejos? Eles
basearam-se nos romances que escrevera? Tal-
vez essas respostas jamais venham, sei que elas
estão na cabeça de cada fã do mundo inteiro,
estão ocultadas em cada mínima interpretação
que de diversas formas, estão espalhadas onde
nós devemos buscá-las.
Talvez o que eu esteja procurando em você,
esteja em mim mesma... Os meus sentimentos
sejam similares aos seus quando jovem, as
minhas emoções talvez, propositalmente, sejam
por você provocadas quando escrevera cada vír-
gula de seus contares... Não sei ao certo como
explicar, mas sinto como se o mundo parasse,
para você e seus personagens passarem,
enquanto eu os sigo de uma maneira automática
e ao mesmo tempo impulsiva.
Jane Austen por que não está aqui para respon-
der a essas perguntas? Eu me manifesto para o
mundo sobre a Jane que você fora um dia, na
verdade que você é! Pois você está viva em cada
minúsculo ser que se interessa pelos seus
romances, que percebo ser seus na vida real, se
não forem seus, eram os seus desejos, seus
pedidos para cada estrela cadente que passava,
onde você e seu coração compartilhavam confi-
dências que eu jamais saberei... Um desejo ocul-
to que espero que tenha sido realizado.
Você, Jane, é um mistério que gostaria de des-
vendar, aprofundando-me em seu Eu, pois você é
o que escreve, os seus livros são você e essa
fantasia que criou despertou valores que nem eu
mesma havia conhecido, um amor jovem e incon-
dicional, uma réplica dos contos de fadas, onde
toda menina sonhadora gostaria de ter, você era
uma delas... E eu tenho absoluta certeza de que
essa menina utopista jamais morreu! Ela está
aqui, em cada letra de cada traço feito em seus
livros! Você, Austen, fez parte da minha história!
Beijos
Izabella Rendeiro, umas de suas maiores admira-
doras.
CARTAS JANETTE D
E U
MA
: Izabella Rendeiro
Es te local, referido no romance Emma, assume um papel importante no desenro-
lar da história, não só por representar um dos poucos momentos em que Emma sai do ambien-te familiar de Hartfield, mas também porque deste passeio resultam mudanças importantes no com-portamento e atitude de Miss Woodhouse.
“They had a very fine day for Box Hill …
Nothing was wanting but to be happy when
they got there. Seven miles were travelled
in expectation of enjoyment, and every
body had a burst of admiration on first arri-
ving”
De acordo com o artigo “Emma: Picnicking on
Box Hill” do blogue Jane Austen’s World, “os
piqueniques tornaram-se muito populares na vira-
gem do século XIX, quando a sensibilidade
romântica influenciava a tendência de comer ao
ar livre como forma de comungar com a nature-
romântica influenciava a tendência de comer ao
ar livre como forma de comungar com a nature-
za”. Desta forma, sabemos que Jane Austen
também seguia as tendências! Neste mesmo arti-
go, percebemos a dificuldade que havia em pre-
parar tais saídas ao ar livre e toda a logística que
isso implicava - na versão de 1996 com Kate
Beckinsale tudo isso é muito bem demonstrado.
Assim como os piqueniques eram uma tendência
na Época da Regência, também o era o local,
Box Hill.
Box Hill, existe na realidade em Surrey, Reino
Unido, aproximadamente a 30km de distância de
Londres. Assim, será de supor que Jane Austen o
tenha igualmente visitado. A colina tem este
nome em virtude de um antigo bosque situado
num declive muito íngreme do lado oeste com
vista para o Rio Mole.
: Clara Ferreira
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BOX HILL NOS DIAS
DE
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Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 11
12 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
As primeiras casas da pequena aldeia de Box Hill
datam de 1800, embora grande parte da aldeia
tenha sido construída na metade do século XX.
Isto significa que a popularidade de Box Hill terá
surgido, mais ou menos, na época em que Jane
Austen viveu.
Existem duas pinturas que retratam a vista de
Box Hill, uma de George Lambert que data de
1733 e se encontra no Tate e outra de William
Turner que data de 1796 e que se encontra atual-
mente no Museu Albert and Victoria em Londres,
[podemos ver a pintura de G. Lambert, no título
deste artigo] o que acentua mais a ideia de que
as qualidades paisagísticas de Box Hill se torna-
ram mais conhecidas no preciso período de vida
de Jane Austen.
Hoje em dia Box Hill integra uma Área Especial
de Conservação, o que equivale certamente às
nossas Áreas protegidas, implicando igualmente
inúmeras restrições quanto a construções e des-
truição do meio ambiente.
Tem livre acesso ao público que pode optar por
fazer um percurso pedestre de cerca de 1 km
para Sul chamado “Pilgrims Ways” (Caminho do
Peregrino); visitar o miradouro (Salomons Memo-
rial) onde terá uma ampla paisagem, permitindo
inclusivé que se veja a cidade mais próxima, Dor-
king; visitar o Forte, que só foi construído em
1890, portanto, ainda não exisitia à data em que
foi escrita “Emma”; Broadwoods Folly, uma
pequena torre circular construída em 1820; A Zig
Zag Road, que data de 1869, um caminho muito
íngreme com cerca de 2.5 km que já foi por mui-
tos comparado aos Alpes Franceses; e ainda um
pequeno percurso de pedras sobre o rio no fundo
da colina junto ao Rio Mole.
Box Hill mantém a sua popularidade e, quem
sabe, se Jane Austen, através de Emma, não
teve grande influência nisso!
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Bo x Hill é o palco da maior discussão
entre Emma e Mr. Knightley. É nesse
cenário que Emma é veemente repreendida pela
forma crua e insensível como trata Miss Bates. É
desta grande zanga entre os dois que virá, mais
tarde, surgir em Emma o sentimento singular que
sente por Knightley e que, afinal de contas, ultra-
passa as fronteiras da amizade.
Dada a importância do local para o desenrolar da
história e do romance entre a nossa heroína e o
nosso herói, resolvi confrontar as duas perspecti-
vas da ação. Assim, recorrendo ao romance
“Emma” de Jane Austen e ao romance-sequela “
Mr. Knightley’s Diary” de Amanda Grange, vou
Grange, vou percorrer pelos olhos de um e de
outro, o que aconteceu no piquenique de Box Hill.
“I was up at daybreak, and oversaw the start of
the clover-cutting before getting ready to go to
Box Hill. The day was fine, and we had a good
journey. Whether we were tired from yesterday’s
enjoyments or languid because of the heat I do
not know, but there was a lack of spirit in the
party.” – “Mr. Knightley’s Diary”, Amanda
Grange (AG).
“They had a very fine day for Box Hill; and all the
other outward circumstances of arrangement,
accommodation, and punctuality, were in favour
of a pleasant party. (…) Nothing was wanting but
to be happy when they got there. Seven miles
were travelled in expectation of enjoyment, and
: Clara Ferreira
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14 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
every body had a burst of admiration on first arri-
ving; but in the general amount of the day there
was deficiency. There was a languor, a want of
spirits, a want of union, which could not be got
over. They separated too much into parties.” –
“Emma”, Jane Austen (JA).
Amanda Grange mantém o estilo de Jane Austen, referindo a agradável viagem até Box Hill mas alguma falta de “espírito” por parte dos seus parti-cipantes em virtude do dia anterior passado em Donwell Abbey. “We strolled about until it was time for our picnic. Then, indeed, there was more liveliness in the party, (...) for Churchill made Emma the object of his attentions. (..) Whatever it was, he did not behave like a gentleman. Emma did not seem to notice anything amiss, and flirted with him in the most painful way; painful to me, as I am in love with her more every day. (…) Her flirting grew worse. It was beyond anything I had seen, and I dreaded where Frank Churchill‟s influence would take her.” – AG
“At first it was downright dulness to Emma. She
had never seen Frank Churchill so silent and stu-
stupid. (…) When they all sat down it was better;
to her taste a great deal better, for Frank Churchill
grew talkative and gay, making her his first object.
(...) and Emma, glad to be enlivened, not sorry to
be flattered, was gay and easy too, and gave him
all the friendly encouragement, the admission to
be gallant, (...) but which now, in her own estima-
tion, meant nothing. (...) Not that Emma was gay
and thoughtless from any real felicity; it was
rather because she felt less happy than she had
expected. She laughed because she was disap-
pointed; and though she liked him for his atten-
tions, and thought them all, whether in friendship,
admiration, or playfulness, extremely judicious,
they were not winning back her heart. She still
intended him for her friend.” - JA
Aqui sim, começamos a notar uma diferença de
perspetivas. Enquanto Knightley censura o com-
portamento de Emma e F. Churchill, tanto por
achar pouco próprio tanto flirt, e porque estando
agora consciente da sua paixão por Emma, não
pode evitar sentir ciúmes.
Todavia, Jane Austen mostra-nos os pensamen-
tos de Emma, e estes não podiam ser mais dife-
rentes. Emma não está minimamente apaixonada
por Frank Churchill, apenas vê nele um amigo.
Permite-lhe tais atenções por estar aborrecida ou
como Jane Austen nos diz, por não se sentir tão
feliz como esperava, e daquela forma sempre se
vai distraindo.
"Our companions are excessively stupid. What
shall wedo to rouse them? Any nonsense will ser-
ve. They shall talk. Ladies and gentlemen, I am
ordered by Miss Woodhouse (who, wherever she
is, presides) to say, that she desires to know what
you are all thinking of?" - JA
“Emma smiled at this mixture of flattery and silli-
ness, instead of looking disgusted, as she should
have done” - AG
“Some laughed, and answered good-humouredly.
Miss Bates said a great deal; Mrs. Elton swelled
at the idea of Miss Woodhouse's presiding; Mr.
RECORRENDO AO
ROMANCE “EMMA”
DE JANE AUSTEN E
AO ROMANCE-
SEQUELA “MR.
KNIGHTLEY’S
DIARY” DE AMAN-
DA GRANGE, VOU
PERCORRER PELOS
OLHOS DE UM E DE
OUTRO O QUE
ACONTECEU EM
BOX HILL
Knightley's answer was the most distinct. "Is Miss
Woodhouse sure that she would like to hear what
we are all thinking of?" - JA
“I looked at her intently, knowing she would not like my thoughts.” - AG
"Oh! no, no"—cried Emma, laughing as care-
lessly as she could— "Upon no account in the
world. It is the very last thing I would stand the
brunt of just now. Let me hear any thing rather
than what you are all thinking of. I will not say qui-
te all. There are one or two,perhaps, (glancing at
Mr. Weston and Harriet,) whose thoughts I might
not be afraid of knowing." - JA
“Well might she say so. They never find fault with anything she does, but to have such uncritical friends is not good for anyone.” - AG Acho interessantíssima a forma como Knightley consegue avaliar toda a situação sem se deixar influenciar em demasia pelos seus próprios senti-mentos... ele mantém total sensatez.Obviamente que a sua parcialidade para com Emma fazem com que se sinta triste pelas suas atitudes pre-sentes, todavia, as falhas que lhe aponta são ver-dadeiras sem qualquer sinal de desfaçatez por esta não o encarar como potencial partido. "It is a sort of thing," cried Mrs. Elton emphatically, "which I should not have thought myself privileged to inquire into. Though, perhaps, as the Chaperon of the party— I never was in any circle— exploring parties—young ladies—married women—" Her mutterings were chiefly to her husband; (…)” - JA
“Mrs Elton, not at all pleased with the
turn the conversation had taken,
though her anger was mostly caused
by the fact that she was not the cen-
tre of attention. There was whispe-
ring from Frank Churchill, and Emma
showed no disgust at his behaviour,
as she would have done had anyone
else whispered in company.” - AG
had anyone else whispered in company.” - AG
" I am ordered by Miss Woodhouse to say, (...)
she only demands from each of you either one
thing very clever, be it prose or verse, original or
repeated—or two things moderately clever— or
three things very dull indeed, and she engages to
laugh heartily at them all.
- Oh! very well," exclaimed Miss Bates, "then I
need not be uneasy. `Three things very dull
indeed.' That will just do for me, you know. I shall
be sure to say three dull things as soon as ever I
open my mouth, shan't I? (looking round with the
most good-humoured
dependence on every body's assent)—Do not you
all think I shall?" - JA
“I was just about to say, „Not at all,‟ and I saw Mrs
Weston about to do the same, when Emma said”
- AG
"Ah! ma'am, but there may be a difficulty. Pardon
me—but you will be limited as to number—only
three at once." - JA
“I could not believe it. Instead of reassuring Miss
Bates that her contributions to the conversation
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were always valued, she insulted her in front of all
her friends; worse still, in front of her niece. I felt
sick with it. She would never have said such a
thing before meeting Frank Churchill!” – AG
Ñão sei se estes eram os pensamentos que Jane Austen teria atribuído a Knightley, mas penso que não devem estar muito longe dos verdadeiros. Sem dúvida que a influência de F. Churchill foram uma importante contribuição para uma certa insensibilidade no comportamento de Emma, pois junto dele era alvo de todas as maiores atenções, convencendo-se, ainda que de forma inconscien-te, que era, de facto, perfeita. E isso levou-a a colocar-se numa posição sobranceira e altiva, sem ter em conta os outros. Emma foi inconve-niente, grosseiramente inconveniente e Knightley não poderia ter reagido de outra forma. “Miss Bates did not realize what Emma had said, and I was about to divert her attention by offering her another slice of pie when I saw her face chan-ge and knew I was too late.” - AG
“but, when it burst on her, it could not anger,
though a slight blush shewed that it could pain
her.” - JA
“I was mortified, yet Emma continued to smile and
Weston went on with the conversation as though
nothing was wrong.” - AG
"I doubt its being very clever myself," said Mr.
Weston. "It is too much a matter of fact, but here
it is.—What two letters of the alphabet are there,
that express perfection?" - JA
“Weston! Who should have shown her what he thought of such conduct by a frown. He then made things worse by offering a conundrum, and one which could not have been more badly cho-sen.” - AG “- M. and A.—Em-ma.—Do you understand?" Understanding and gratification came together. It might be a very indifferent piece of wit, but Emma found a great deal to laugh at and enjoy in it.— JA
“Emma understood, and was gratified, whilst I was annoyed. Emma, perfect? Emma, who had
insulted her oldest friend? Emma, who had flirted shamelessly in front of all her friends? Emma basked in the praise, though it was ill-deserved, whilst her flatterer, Frank Churchill, lau-ghed and enjoyed it. “ - AG
“It did not seem to touch the rest of the party
equally; some looked very stupid about it, and Mr.
Knightley gravely said” - JA
“This explains the sort of clever thing that is wan-ted,‟ I said without humour, „but perfection should not have come quite so soon.‟ It made no difference. Emma was pleased, and so was her court. Mrs Elton, it is true, was not pleased, though if she could have changed her name to Emma, she would have thought it the best conundrum in the world. “ - AG
"Oh! for myself, I protest I must be excused," said
Mrs. Elton; (…) Miss Woodhouse must excuse
me. I am not one of those who have witty things
at every body's service” - JA
“I declared my intention of taking a walk as well, and gave her one arm, whilst offering Miss Bates the other.” - AG
“They walked off, followed in half a minute by Mr.
Knightley. Mr. Weston, his son, Emma, and Har-
riet, only remained; and the young man's spirits
now rose to a pitch almost unpleasant. Even
Emma grew tired at last of flattery and merriment,
and wished herself rather walking quietly about
with any of the others, or sitting almost alone, and
quite unattended to, in tranquil observation of the
beautiful views beneath her.” - JA
“And for the rest of the walk, I had to listen to her apologizing for her tongue, when it should have been Emma who was apologizing for hers. I did what I could to soothe her, and she grew easier. “ - AG Eu até compreendo a frase de Emma... Afinal, passei muito tempo do livro a desejar que ela se calasse! Todavia, acho que Emma extravazou muito da sua putativa importância ao expressar tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que
tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que não nos deixaríamos de rir, mas o facto de o ter dito da boca para fora é altamente repreensível. Mr. Knihtley espanta-se com a atitude de Emma, primeiro, por expressar semelhante pensamento, segundo, por não perceber que o que acabou de dizer foi em tudo ofensivo. Não posso deixar de afirmar que considero a linha de pensamento de Knightley seguida por Amanda Grange muito convincente. Depois de Weston fazer a sua charada com o nome de Emma e perfeição, a resposta dada por Knightley ainda mencionada por Jane Austen, é muito bem explorada por Amanda Grange que nos mostra o sentimento incrédulo e zangado com que Mr. Knightley reage a toda aquela situação perante a indiferença de Emma que mantém uma postura irrefletida e imprópria. Não deixa de ser igualmente interessante, o facto de Amanda Grange nos dar a conhecer o que foi dito no passeio com Knightley, Miss Bates e Jane Fairfax, que nos mostra quão humilde e magoada Miss Bates estava.
“While waiting for the carriage, she found Mr.
Knightley by her side.” - JA
“My anger had not cooled when I stood next to Emma as we waited for the carriage to take us home again. I told myself I must not reprimand her or criticize her, but I could not help myself. I could not see her being dragged down, when a word from me might stop it. “ - AG
“He looked around, as if to see that no one were
near, and then said, "Emma, I must once more
speak to you as I have been used to do” - JA
“I said, in some agitation. Even then, I tried to
hold back, but I could not” - AG
“I cannot see you acting wrong, without a remons-
trance. How could you be so unfeeling to Miss
Bates? (...) Emma, I had not thought it possible."
Emma recollected, blushed, was sorry, but tried to
laugh it off.
"Nay, how could I help saying what I did?—
Nobody could have helped it. It was not so very
bad. I dare say she did not understand me."
"I assure you she did. She felt your full meaning.
She has talked of it since. I wish you could have
heard her honouring your forbearance, (...) and,
were she prosperous, I could allow much for the
occasional prevalence of the ridiculous over the
good. Were she a woman of fortune, I would lea-
ve every harmless absurdity to take its chance, I
would not quarrel with you for any liberties of
manner. Were she your equal in situation (...) Her
situation should secure your compassion. It was
badly done, indeed!” - JA
“She was not interested. She looked away, impa-tient with me for speaking to her thus. But I had started, and I could not have done until I had fini-shed.” - AG
“to have you now, in thoughtless spirits, and the
pride of the moment, laugh at her, humble her—
and before her niece, too(...) This is not pleasant
to you, Emma (...) I will tell you truths while I can;
satisfied with proving myself your friend by very
faithful counsel, and trusting that you will some
time or other do me greater justice than you can
do now." - JA
Gostei bastante desta controvérsia entre as pers-
petivas de um e outro. Emma só se apercebe das
implicações do que disse quando Knihtley a
repreende. É curioso assistir ao duelo de senti-
mentos de Knihgtley que até ao último momento
tenta não criticá-la por entender que já não ocupa
esse lugar, agora que Emma pretende iniciar a
sua vida ao lado de outro homem. Todavia fá-lo,
e fá-lo por amor.
A reação inicial de Emma às suas palavras é ain-
da muito imatura, como Austen nos mostra, ela
ainda tenta rir com a situação.
“While they talked, they were advancing towards
the carriage; it was ready; and, before she could
speak again, he had handed her in.” - JA
“I handed her into the carriage. She did not even bid me goodbye. She was sullen. Who could bla-me her? But it could not be helped. I had said what I had to say, and I returned to the Abbey in low spirits. “ - AG
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“He had misinterpreted the feelings which had
kept her face averted, and her tongue motionless.
They were combined only of anger against her-
self, mortification, and deep concern. She had not
been able to speak; and, on entering the carriage,
sunk back for a moment overcome—then reproa-
ching herself for having taken no leave, making
no acknowledgment, parting in apparent sullen-
ness, she looked out with voice and hand eager
to shew a difference; but it was just too late. He
had turned away, and (...) She continued to look
back, but in vain; (...) She was vexed beyond
what could have been expressed— almost
beyond what she could conceal. Never had she
felt so agitated, mortified, grieved, at any circums-
tance in her life. “ - JA
“(I) began to restore my sense of calm. (...) If Emma had been with me, I would have known complete happiness. But she was not, and as I came inside I had to acknowledge that such a thing would never come to pass. (...) But I cannot forget about Emma. Where is she now? Is she at Hartfield, thinking of Frank Churchill and his easy flattery? She must be.“ - AG
“The wretchedness of a
scheme to Box Hill was
in Emma's thoughts all
the evening. How it might
be considered by the rest
of the party, she could
not tell. They, (...) might
be looking back on it with
pleasure; but in her view
it was a morning more
completely misspent,
more totally bare of ratio-
nal satisfaction at the
time, and more to be
abhorred in recollection,
than any she had ever
passed.” - JA
Gosto especialmente da
forma como Knightley interpreta erradamente a
aparente apatia de Emma perante o que lhe diz e
os sentimentos dela para com Churchill—e nisto,
ele não podia estar mais enganado!
Emma só muito tarde se apercebe do que fez,
mas não tarde de mais, como sabemos, Emma
esforça-se por expiar as suas culpas nos capítu-
los seguintes e consegue-o e por isso entendo
que esta cena na história representa um ponto de
viragem em Emma porque ela cresce muito
depois desta reprimenda.
NÃO POSSO DEIXAR
DE AFIRMAR QUE
CONSIDERO A LINHA
DE PENSAMENTO DE
KNIGHTLEY SEGUIDA
POR AMANDA GRAN-
GE MUITO CONVIN-
CENTE
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EMMA A HEROÍNA QUE NÃO VAI A LADO NENHUM
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To das as heroínas de Jane Austen, num momento do livro passam uma tempora-
da fora de casa. As irmãs Dashwood visitam Lon-dres na companhia da Mrs. Jennings e na volta para casa passam algumas semanas na proprie-dade dos Palmers, onde devido à doença de Marianne ficam mais tempo do que inicialmente previsto. Elizabeth visita os recém-casados Col-lins e mais tarde os tios proporcionam-lhe umas férias no Derbyshire, a sua irmã Jane passa algum tempo em Londres e Lydia vai para Brigh-ton com os Forsters. Catherine acompanha os Allen a Bath e Anne Elliot antes de se mudar defi-nitivamente para esta cidade passa algum tempo com a sua irmã Mary. Até mesmo a heroína mais pobre dos livros de Jane, Fanny Price, visita a
: Vera Santos Jane, Fanny Price, visita a sua família com quem
fica durante alguns meses.
Emma é a única que nunca vai a lado nenhum, sim há o passeio a Box Hill, mas é somente um passeio que dura algumas horas e permite o regresso a casa no mesmo dia. Emma nunca vai passar algumas semanas com a irmã a Londres
ou visitar qualquer outro lugar como Bath.
Sobre o ponto de vista narrativo Emma é um romance fechado todos os personagens que conhecemos no inicio estão lá no fim, não existe uma alteração significativa, o livro funciona como um circulo fechado. Noutras obras vão nos sendo apresentadas novas personagens, em Emma isso não acontece. Harriet Smith é introduzida no círculo de Emma, mas ela já vivia há algum tem-po em Highbury e o mesmo é válido para Jane Fairfax e Frank Churchill, embora ausentes
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20 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
durante uma parte da obra estão presentes pelas várias menções que lhes são feitas. A única per-sonagem realmente nova que conhecemos, a a Mrs. Elton, mas a sua presença é irrelevante excepto para irritar Emma e o leitor com toda a
sua maneira de ser.
O curioso desta constatação é que Emma é de todas as heroínas a que mais teria possibilidades de viajar já que era a mais rica. Os motivos para a ausência de alguma viagem são facilmente explicados pelo pai que acha que ir ao jardim já pode causar uma constipação que o vai matar. Emma não pode e também não quer deixar o pai
e por isso permanece em casa.
No entanto uma melhor explicação pode estar algures na sua correspondência de Jane Austen onde afirmou que o seu trabalho incidia sobre três ou quatro famílias da sociedade rural. Talvez por isso em Emma levou tal afirmou a sério e criou um leque pequeno de personagens e um espaço confinado que nunca é alterado ao longo do livro, mesmo quando Emma encontra o amor ela encontra-o em alguém que conheceu toda a
sua vida.
No fundo é como Jane Austen tivesse decidido brincar com um cenário fixo e nele movimentar
um conjunto de personagens.
Será Emma enquanto personagem limitada por esta falta de conhecimento do outros espaços que não Highbury? Pessoalmente acho que não e Emma seria a mesma pessoa ainda que tivesse feito a volta ao mundo. Na obra de Jane não observamos mudanças significativas nos perso-nagens pela lugares que visitam. Por exemplo, Elizabeth Bennet descobre durante a sua estadia no Kent que Darcy está apaixonado por ela, que Wickham é um patife e a forma como Jane e Bin-gley foram separados. Mas a sua maneira de ser continua a mesma. Penso que Jane não via nas mudanças de ares uma forma de mudar o perso-nagem ou até de corrompê-lo. Em algumas obras de outros autores observamos isso, um exemplo típico é o jovem mais inocente que ao vir para a cidade, após uma vida no campo é corrompido
pela vida citadina.
Julgo que Jane Austen acreditava na mudança de opiniões quando a pessoa é exposta à verda-
verdade, como acontece com Elizabeth Bennet mas nunca a de mudança/ reforma da personali-
dade do qual Henry Crawford é um bom exemplo.
Todos estes factos e análises levam-me a pensar que Emma seria exactamente igual quer tivesse passado temporadas em Londres ou noutro sítio qualquer, embora a aí talvez tendo à sua disposi-ção mais divertimentos e ocupações ela não estaria tão preocupada em arranjar casamentos ou talvez fosse mais aliciante para ela fazer isso uma vez que existiam mais homens e
mulheres livres!!
SOBRE O PONTO
DE VISTA NARRA-
TIVO EMMA É UM
ROMANCE
FECHADO TODOS
OS PERSONA-
GENS QUE
CONHECEMOS
NO INICIO ESTÃO
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Co meço por comentar o artigo anterior, aqui apresentado pela Vera, com o qual
concordo inteiramente, pois Emma é mesmo a
heroína que nunca vai a lugar nenhum!
Nos últimos dias, voltei a reler a obra “Emma” em busca de pistas ou ideias que me pudessem elu-cidar sobre a ausência de interesse da jovem Emma pelas saídas prolongadas ou mesmo da razão pela qual ela parece estar sempre tão feliz no seu próprio ambiente. Parece estranho que uma jovem que tem uma irmã a viver em Londres não a visite nem manifeste interesse em o fazer. Ao longo da obra encontramos uma Emma expectante com as visitas e as estadias em Hart-field da família de Londres, da irmã, do cunhado, ou mesmo apenas dos dois sobrinhos mais velhos, Emma que aguarda ansiosamente a che-gada de Mr. Knightkley regressado de uns dias
: Júlia Marcos Ferreira dias passados em Londres em casa dos mesmos familiares comuns (na praça de Brunswick) e das notícias sobre todos, especialmente das crianças, e ainda a Emma que envia a amiga Harriet Smith durante semanas para a casa de sua irmã em
Londres para a fazer esquecer a última paixão!
Não podemos esquecer que no final do século XVIII, início do XIX, as viagens eram morosas, lentas e incómodas, mesmo para quem tinha a sorte de possuir carruagem. Talvez Emma não se sentisse muito bem em viagens mais prolongadas e não o quisesse de todo reconhecer. No entanto, encontramos na obra uma personagem, Frank Churchill, que viaja muito e que vai a Londres para voltar no mesmo dia, vinte e cinco quilóme-tros para cada lado, o que nesse tempo seria sig-nificativo. As deambulações de Frank Churchill não parecem interessar Emma por aí além, pois esta associa-as muitas vezes a uma certa levian-
dade e inconstância por parte do rapaz.
O ESTATUTO ESPECIAL DE EMMA EM
HARTFIELD
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No capítulo XII encontra-se uma ligeira referência a uma certa vontade de viajar (embora não con-cretizada) por parte de Emma, quando se fala no mar e na estadia da irmã, do cunhado e dos sobrinhos à beira-mar, e onde Mr. Woodhouse contesta o benefício dessas estadias para a saú-de, Emma confessa: “Peço-lhes que não falem do mar! Fazem-me inveja e tristeza, eu, que nunca o vi!” As razões pelas quais Emma nunca viu o mar podem ser diversas mas também inexplicáveis: a proteção e a dependência do pai, alguma imobili-dade da sua parte para manifestar esses desejos, afinal podia sempre ter-se juntado à irmã e ao cunhado para passar a temporada no mar junto
deles.
Na obra perpassa a ideia que Emma se sente perfeitamente bem no seu ambiente natural e que esse ambiente é Hartfield. A sua ligação ao pai, o carinho e a paciência com que o trata, mesmo quando as doenças imaginárias de Mr. Woodhou-se o parecem tornar demasiado hipocondríaco e impossível de aturar, para Emma, tudo isso é
aceite com um sorriso calmo e benevolente.
A ideia geral que Emma me transmite é que a sua ligação a Hartfield está associada ao seu estatuto especial de que goza ali e apenas ali naquele lugar. Se Emma fosse para outro lugar qualquer, perderia aquele estatuto de princesi-nha, de pessoa especial e respeitada, e seria mais uma jovem entre tantas outras. Essa é a impressão que tenho em geral, através da leitura da obra: Emma move-se muito bem naquela loca-lidade onde é acarinhada e tratada de forma mui-to especial por todas as pessoas. A irritante Mrs. Elton (que é de facto irritante para todos nós) é-o particularmente para Emma, porque desafia o seu lugar, porque se coloca em primeiro lugar e ignora o estatuto de Emma (até mesmo no fim da obra, quando se sabe do casamento entre ela e Mr. Knightley, Mrs. Elton continua a afirmar que foi Emma quem caçou um bom partido, recusan-do-lhe mais uma vez o estatuto especial de que a
jovem goza desde sempre).
Todo o percurso de Emma, as suas aproxima-ções a Harriet Smith, vão no intuito de a valorizar com a sua influência e de a levar a procurar melhor partido do que o apaixonado Mr. Martin, embora no fim Emma reconsidere e fique mais consciente e mais humana, mesmo assim, sem-pre no seu pedestal. A inimizade incompreensível
mais consciente e mais humana, mesmo assim, sempre no seu pedestal. A inimizade incom-preensível de Emma para com Jane Fairfax deve-se possivelmente a esse brilho que a primeira quer ter sempre e a segunda também manifesta, talvez em maior grau, pois como a própria Emma reconhece, Jane suplanta-a na música e na sua
aprimorada execução.
Em suma, é sempre enriquecedor reler Emma! As estratificações sociais rígidas e os preconcei-tos nas sociedades rurais inglesas do início do século XIX são aqui bem apresentadas em todas
estas personagens.
Não é pelo facto de achar que Emma é muito mimada e se julga muito especial durante grande parte do romance, que gosto menos dela! Emma é de facto uma figura encantadora e representa muito bem a sociedade rural que personifica, identificando-se tanto com Hartfield, o que a torna especial e única como ela própria gostaria de se
reconhecer.
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Eu fiquei surpresa com uma constatação
que fiz recentemente e que foi suscitada
pelo tema de maio e junho do blog, a saber, "Os
lugares em Emma". Tal constatação é que Emma
é a única protagonista de Jane Austen que não
dorme uma noite fora de casa! Realmente, ela
não viaja para conhecer novos lugares, ou para
acompanhar a moda da sociedade de ir para um
único lugar (tal como Bath), ou para visitar
parentes, ou para estudar. Eu fiquei com pena
dela! Poxa! Tão jovem e rica, por que não
aproveitar mais a vida e viajar?
Pois bem, eu creio que este fato de Emma nunca
ter viajado foi proposital e planejado por Jane
Austen para ressaltar o amor e dedicação de
Emma a seu pai e para mostrar que apesar de
: Luan Fernandes ela ser descrita como muito elegante, refinada,
inteligente e sociável e de ela exaltar tais
qualidades em si mesma, ela não passa de uma
simples moça do campo! Me parece que Jane
Austen, sabiamente, quis destacar as
incoerências do caráter de Emma: sua
imaturidade e arrogância contrapostas a sua
bondade e dedicação familiar.
Ao lermos “Emma”, há vários diálogos entre ela e
seu pai, nos quais o tema “viagem” é tido como
proibido ou é questionado e massacrado pelos
argumentos de Mr. Woodhouse. Emma é
sensível a esta resistência paterna em permitir
que ela saia de perto dele, visto que ela nunca
visitou a irmã em Londres ou sempre se mostrou
temerosa em se ausentar mesmo que por um
período do dia.
A PROTAGONISTA MAIS ENRAIZADA DE JANE AUSTEN
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24 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
Ao comparar Emma com as outras “heroínas” de
Jane Austen me surpreende o fato de que todas
as outras viajaram, se ausentaram meses longe
de casa e em tais viagens acontecimentos
importantes das histórias ocorreram. Porém,
todos os acontecimentos marcantes de “Emma”
ocorreram no mesmo lugar ou em seus
arredores. É interessante pensar que esta
condição não torna a história maçante ou com
menos emoção, pelo contrário, ressalta a
habilidade de Jane Austen em prender a nossa
atenção e nos envolver em suas tramas sagazes.
Realmente, Emma é a protagonista mais
enraizada de Jane Austen! Ela evoluiu enquanto
pessoa, mesmo sem sair do lugar! É em sua
casa, no seu lar, que Emma descobre o amor, se
frustra, aprende a ser mais humilde e amadurece.
EU CREIO QUE ESTE
FATO DE EMMA NUNCA
TER VIAJADO FOI
PROPOSITAL E
PLANEJADO POR JANE
AUSTEN PARA
RESSALTAR O AMOR E
DEDICAÇÃO DE EMMA
A SEU PAI E PARA
MOSTRAR QUE
APESAR DE ELA SER
DESCRITA COMO
MUITO ELEGANTE
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E como o tema é: Os lugares em Emma, resolvi fazer uma pesquisa e encontrei a seguinte infor-
mação para Hartfield:
Hartfield é uma freguesia em East Sussex , Ingla-
terra . Assentamentos na freguesia incluem a vila de Hartfield, Colemans Hatch, Hammerwood e Holtye, no extremo norte da Floresta de Ash-
down .
Hartfield é a vila principal da freguesia. A igreja é dedicada à Virgem Maria. Há três casas públicas: Anchor Inn; Gallipot Inn e Haywagon Inn. A rua da aldeia é estreita, impedindo o estacionamento, embora a âncora e a Pousada Haywagon tenham parques de estacionamento
privado para clientes.
Cotchford Farm, em Hartfield foi a casa de AA Mil-ne (1882-1956), autor dos livros Winnie the Pooh. Mais tarde, foi possuído por Brian Jones guitarris-ta e fundador da The Rolling Stones , que foi
encontrado morto na piscina em 1969.
Há uma loja na vila dedicada a todas as coisas
relacionadas com o Ursinho Pooh das histórias.
: Marina Nunes Acredita-se que Henry VIII habitou Castelo Bole-broke, localizado a uma curta distância da aldeia, que utilizava na época de caça aos javalis e vea-dos, na floresta Ashdown. Também se acredita
que cortejou Anne Boleyn deste castelo.
Hartfield tinha uma estação ferroviária que foi fechada em 1967. A maioria dos ex-trackbed ago-ra faz parte do Caminho Florestal e da Rota do Ciclo Nacional e é muito utilizada por caminhan-
tes e ciclistas.
O edificio da estação em si é agora utilizada como uma pré-escola. Existe um serviço de transporte publico (autocarro/camioneta) que liga a aldeia com Crawley, Grinstead Oriente e Tunbridge
Wells. Há uma série de empresas na aldeia."
Então? será que Emma ía gostar de viver na Hart-
field de hoje?
HARTFIELD
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26 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
Es te podia ser o título de uma aventura
com a nossa intrépida Miss Morland,
mas não, nem creio que haja qualquer história
fantasmagórica para contar acerca de Donwell
Abbey... Mas quiçá, não esteja aqui um bom
: Clara Ferreira mote para uma das nossas próximas ficções aqui
no Jane Austen Portugal!
Donwell Abbey é a distinta propriedade de Mr.
George Knightley em “Emma”. Vou esforçar-me
por fazer uma visita guiada a esta casa que terá
sido o lar de Mrs. e Mr. Knightley depois da morte
de Mr. Woodhouse.
A ABADIA DONWELL
DE
A primeira referência a Donwell Abbey é feita no
Capítulo III, Vol. I (aviso que a tradução é feita
por mim do original):
Felizmente para ele [Mr. Woodhouse],
Highbury incluia Randalls na mesma
paróquia e Donwell Abbey na paróquia
adjacente, propriedade de Mr. Knightley.
Mas tal referência pouco ou nada acrescenta ao
que aqui já foi dito. É pelos pensamentos interes-
seiros de Mr. Elton, que magicava um possível
relacionamento com Emma, que conhecemos um
pouco mais sobre as suas vantagens patrimo-
niais, digamos assim, no Capítulo XVI, Vol. I:
A área de propriedade de Hartfield era
irrelevante, pois mais não era do que um
pequeno entalhe na propriedade de Don-
well Abbey, à qual a restante Highbury
pertencia.
Deste trecho ficamos a perceber que em termos
de vastidão de propriedade, Donwell Abbey não
tinha rival em Highbury. Tal significa que Mr.
Knightley era um grande proprietário na altura,
tanto ou mais que Mr. Darcy em Orgulho e Pre-
conceito. E é prova disso o trecho que coloco em
seguida, retirado do Capítulo XII, Vol.I, a propósi-
to da altura em que John Knightley vem de visita
a Hughbury e Jane Austen nos congratula com a
amizade entre irmãos:
Enquanto rendeiro (...) tinha de lhe contar
[a J. Knightley] acerca do que cada par-
cela de terra iria produzir no próximo
ano, e dar-lhe toda a informação possível
que seria do interesse do irmão, cujo lar
em Donwell tinham partilhado durante
muitos anos e pelo qual tinham ambos
fortes ligações. O plano para uma drena-
gem, a mudança de uma vedação, a que-
da de uma árvore e o destino de cada
acre de trigo, de nabos ou milho.
Sendo vizinho de Hartfield, sabemos que visitava
várias vezes Mr. e Miss Woodhouse, quase sem-
pre a pé. Isso sempre me fez achar que eram
propriedades muito próximas. Mas Jane Austen
desvenda o mistério logo no Capítulo I do Vol. I:
Ele [Mr. Knightley] vivia a cerca de 1,5
km de Highbury.
Não é uma grande distância, é certo, mas indica
que Mr. Knightley não tinha medo de uma boa
caminhada! O que me faz acreditar que o Mr.
Knightley idealizado por Jane Austen era, com os
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Knightley não tinha medo de uma boa caminha-
da! O que me faz acreditar que o Mr. Knightley
idealizado por Jane Austen era, com os seus
quase quarenta anos (já pareço Marianne Dash-
wood a falar!) um homem de exercício.
Não deixa de ser excepcional que Mr. Knightley,
com todas as vantagens que possuía, uma vez
que era um grande proprietário, culto, de alta
posição e, interessante a todos os níveis, não
fosse ainda casado e a propriedade estivesse
destinada ao sobrinho, Henry (de acordo com as
palavras de Emma). É então de supor que Don-
well Abbey embora, não sendo assombrada, fos-
se uma casa vazia, tendo por único ocupante um
homem solteiro. E nesse sentido escreve também
Jane Austen, depois de uma pequena quezília
com Emma a respeito do jogo de palavras que
implicava Emma, Jane Fairfax e Frank Churchill:
Pouco depois saiu rapidamente e foi para casa, para a frieza e solidão de Donwell Abbey.
Mas é no Capítulo VII do Vol. III que ficamos a
conhecer Donwell Abbey pois Jane Austen pro-
porciona-nos um delicioso rol de descrições
sobre esta casa:
Enquanto olhava para o tamanho e estilo
respeitável da casa, era adequado,
próprio, com condições características,
pouco elevada e abrigada. Os seus jar-
dins amplos estendiam-se ao longo do
prado, regados por um ribeiro do qual a
Abadia, com todo o abandono que o tem-
po produz, mal tinha um vislumbre. [A
Abadia] Tinha muita abundância de árvo-
res em fileiras e avenidas, que nem a
moda nem as extravagências haviam
destruído. A casa era maior que Hartfield
e totalmente diferente, cobria um enorme
pedaço de terreno, cheia de corredores e
recantos irregulares, tinha várias divi-
sões maioritariamente confortáveis e
uma ou duas salas bonitas. No fundo, era
tudo o que deveria ser, e parecia aquilo
que era – e Emma sentiu um crescente
respeito por ela, enquanto residência de
uma família de verdadeira distinção. (...)
Depois de passearem durante algum
tempo nos jardins (...) seguiram (...) para
a deliciosa sombra de uma larga avenida
de limeiras, que se estendia para além do
jardim, a igual distância do rio (...), não
levava a nada. A nada mais do que a uma
paisagem que se podia apreciar debaixo
de uma construção de pedra com altos
pilares, cuja intenção parecia (...) dar a
sensação de chegar a uma casa que nun-
ca esteve lá. (...) Era em sim
um agradável passeio, e a vis-
ta com que terminava era
extremamente bonita. A consi-
derável encosta, quase ao fun-
do do terreno onde a Abadia
estava, adquiria gradualmente
uma forma de vaso (...) e, a
cerca de meia milha de distân-
cia estava uma rampa de con-
siderável declive e grandeza,
bem revestida com árvores e
ao fundo desta rampa, favora-
velmente localizada e abriga-
da, erguia-se Abbey Mill Farm
(...). Era uma deliciosa paisa-
gem – Don
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deliciosa para o olhar e para
o pensamento. Verdura ingle-
sa, cultura inglesa, conforto
inglês, visto debaixo de um
sol radioso sem se tornar
opressivo. (...)
Julgo que ninguém ficará indiferente
a tal descrição. Penso que fiquei
igualmente arrebatada com Donwell
Abbey tal como com Pemberley.
Aliás, através deste artigo, começo a
encontrar diversas semelhanças
entre Darcy e Knightley, se bem que
o último tem um sentido de humor
bem mais cativante, ou talvez seja
só eu, pois sou suspeita, uma vez que tenho
Knightley em maior preferência que Darcy.
Assim, Dowell, uma extensa propriedade, com
uma enorme casa, ocupada por um solitário indi-
viduo seria, muito embora bela e imponente, uma
casa com demasiadas divisões vazias, muito ao
estilo de Northanger Abbey, se bem que esta últi-
ma tinha sido alvo de algumas modernizações e
estivesse mobilada “à la mode”!
O que sobressai da descrição feita por Jane Aus-
ten são, acima de tudo, os seus jardins—pois o
interior da casa devia ser bastante soturno e
desinteressante. Mas os jardins, esses, são cati-
vantes e inspiradores, propícios a todo o género
de passatempo .
A descrição feita da larga avenida rodeada de
árvores as quais não tinham sido destruídas por
nenhum ímpeto de moda ou extravagância,
fazem-me recordar do famoso passeio à casa de
Mr. Rushworth, em Mansfield Park, onde sabe-
mos que um dos projetos será arrancar todas as
árvores que circundam a avenida pois essa era
então a moda do tempo. E se bem me recordo,
Fanny Price fica muito surpreendida pois não
entende como é que uma casa pode ficar mais
bonita depois de destituída de tão frondosas
árvores. Enfim, sabemos então que Mr. Knightley
era um homem de bom gosto e sem qualquer
pretensão de “estar na moda”.
Algo que também sabemos é que a Abadia de Donwell é famosa pelas suas macieiras e moran-gueiros, um pouco, se bem se lembram, à seme-lhança da propriedade do Coronel Brandon, famosa pelos seus pessegueiros! Sabemos isto através de Miss Bates que caracte-riza as maçãs de Donwell :
As maçãs são das melhores para assar (…) vieram de Donwell .
Quanto aos morangueiros, percebe-se claramen-te através do passeio feito a Donwell onde um dos passatempos foi precisamente o de apanhar morangos.
Donwell era famosa pelos seus moran-gueiros.
Não sei quanto a vocês, mas eu cá não me importava nada de viver num sítio como Donwell Abbey, embora tivesse obrigatorimente de acres-centar mais elementos à família para preencher mais espaço e é isso que espero que Emma e Knightley tenham feito!
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Tr ago-vos hoje a história dos locais de fil-
magem de Donwell Abbey na adaptação
para o ecrã de Emma, em 1996 com Kate
Beckinsale.
As cenas filmadas em Donwell tiveram como cenário, três locais diferentes: Salão de Donwell Abbey (Great Hall), foi filmada em Broughton Castle, Banbury, Oxfordshire, England, UK. Os Exteriores de Donwell Abbey, em Sudeley Cas-tle, Sudeley, Gloucestershire, England, UK. E Donwell Abbey, foi filmada em Stanway House,
Stow-on-the-Wold, Gloucestershire, England, UK.
É destes três locais que me vou ocupar, falando-vos da história destas casas que não são nenhu-
mas estreantes no que respeita a castings!
: Clara Ferreira mas estreantes no que respeita a castings!
É muito curioso, ao fazer a pesquisa para este artigo, dei de caras com casas particulares, porque é disso que se trata - todas estas man-sões são atualmente habitadas ainda por descen-dentes dos proprietários originais. Não obstante, todas elas estão abertas ao público para visitas, um pouco à semelhança da visita de Lizzie com os tios a Pemberley. Atualmente esse tipo de tur-ismo mantém-se em Inglaterra, sendo deveras interessante. Em Portugal julgo não haver sequer essa tradição, embora tenhamos igualmente casas e propriedades de tal esplendor - esse tipo de casas já não é, maioritariamente, habitado, menos ainda por descendentes da família que a criou ou lhe deu história. Temos de ter em conta que Inglaterra mantém uma Monarquia e todos os títulos que daí advêm, permitindo que, ainda que “falidos”, os Barões, Condes e Sirs, mantenham as propriedades de família… embora hoje em dia
recorram a uma espécie de casa-museu, tirando
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OS CENÁRIOS
DONWELL D
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receitas da sua própria história. Imagino que só habitem uma parte da casa que não estará, certa-
mente, aberta ao público.
Cá em Portugal, este tipo de casas estará atual-mente ou abandonadas, fechadas à espera de partilhas de heranças, a servir de hotéis de charme—há um turismo crescente de hotéis-solares muito interessante - ou pura e simples-
mente como casas-museu.
Broughton Castle
O Castelo de Broughton é uma casa senhorial do período medieval localizada na aldeia de Brough-ton que está a cerca de 3 km do sudoeste de Banbury em Oxfordshire, Inglaterra. Foi construí-da em 1300 d.C. mas só em 1550 adquiriu os tra-
ços estilísticos da Era Tudor.
Está localizado numa espécie de “ilha” pois está rodeado por cerca de 3 acres com um fosso para
proteger a Fortaleza.
No século 17, este local teve um papel importante pois foi a “sede secreta” para os oponentes do rei
Carlos que pretendia governar sem o Parlamento.
Pertence à família Fiennes desde 1451, com quem se mantém até hoje e na qual reside um
dos descendentes.
No filme “Emma” de 1996 da BBC, o Castelo de Broughton serviu como cenário para o interior de Donwell Abbey. Mas não se julgue que esta foi a sua estreia! Já serviu de cenário para filmes como a mais recente adaptação de “Jane Eyre” (2011), “A Paixão de Shakespeare” (1998), “Padrinho... Mas Pou-co” (2008), “The Scarlet Pimpernel” (1982), “The Virgin Queen” (2005),
entre outros.
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Broughton Castle está aberto ao público, podendo este usufruir de uma visita à Entrada, aos jardins e parque, à Igreja St. Mary’s, ao Salão, à Galeria, ao “Quarto do Rei”, ao “Quarto da Rainha Anne”, Sala do Conselho [dos opositores], Sala de Jan-tar, Sala de Carvalho, Capela e à Grande Sala de
Estar.
Todas as informações disponíveis em: broughton-
castle.com
Como já disse, o “Great Hall” de Emma 1996 da BBC foi filmado nesta propriedade. O Salão man-tém a traça medieval original que remonta a 1300. No filme, vemos o interior do Salão de Broughton Castle durante a cena final dos festejos do casa-
mento de Mr. Knightley e Emma.
Sudeley Castle
O Castelo de Sudeley está localizado perto de Winchcombe em Gloucestershire, Inglaterra. A estrutura atual foi construída no século 15 pelo Barão Sudeley com a fortuna que tinha criado durante a Guerra dos Cem Anos e acredita-se que foi feita a partir de uma ruína de um castelo que data do século 12. Na sua capela podemos encontrar o túmulo de uma das mulheres do rei Henrique VIII, Catherine Parr (a sexta e última mulher) que esteve perdido durante alguns anos
por causa da Guerra Civil.
Há, em relação a ela, uma história curiosa – Catherine Parr, depois da morte do rei, contraiu novo casamento com o Barão de Sudeley de quem teve uma filha. Veio, contudo, a falecer aos 35 anos poucos dias depois de dar à luz a peque-na Mary. Segundo alguns, o Castelo está assom-brado por ela, que vagueia pelos corredores e jar-dins do Castelo. Por curiosidade, a filha, que depois da morte da mãe foi abandonada pelo pai, foi criada por uma amiga da mãe, chamada Catherine Willoughby (quem sabe... uma ascen-dente de John Willoughby!). Este ano, celebra-se o 500º aniversário do nascimento de Catherine Parr e muitos são os projetos a decorrer no Cas-
telo.
O castelo de Sudeley é dos poucos em Inglaterra que se mantêm como residência e por isso, embora com visitas ao público estas são feitas em
datas específicas resguardando algumas divisões da casa. Podemos encontrar mais informações
em www.sudeleycastle.co.uk
Serviu de cenário a outras adaptações conheci-das, uma delas muito recente, tess of D’Urbervil-
les de 2008.
Em Emma 1996 da BBC, este castelo de Sudeley serviu como cenário para o exterior de Donwell e podemos vê-lo durante a cena da visita a Donwell
Abbey com a apanha de morangos!
Stanway House
Stanway é um exemplar perfeito de uma casa senhorial da época de Jaime I. Graças à sua loca-lização, no cimo de uma encosta, Stanway tem
sido protegida das mudanças do século 20.
Stanway House é notável pela sua delicada e pacífica atmosfera, gerada pela sua “idade”, pois a sua construção terminou na década anterior à Guerra Civil, pela sua estrutura de pedra, pela sua arquitetura, pela sua mobília e pela sua locali-zação. O seu interior dá a impressão de se estar
a viver dentro de um museu.
Foi cenário em “A Feira das Vaidades” (2004), The Buccaneer (1995), entre outros. Em Emma 1996 da BBC podemos encontrá-la como cenário, creio eu, na cena da visita a Donwell para apa-nhar morangos, nas cenas interiores em que Emma está com o pai, mas não tenho a certeza,
nem encontrei informação.
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34 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
Squerryes Court é o cenário de Hartfield na adap-
tação “Emma” da BBC de 2009 com Romola
Garai no papel da nossa heroína.
Squerryes em Westerham no Kent em Inglaterra,
é uma casa senhorial do séc. 17, sendo a resi-
dência da família Warde desde 1731.
A Casa e o Jardim estarão abertos ao público de
Abril até Setembro de 2012.
No local de construção da casa atual esteve, por
mais de 800 anos uma casa de matriz medieval
que foi demolida em 1681, propriedade da família
Squerie.
A casa atual, construída por Sir Nicholas Crispe,
foi vendida em 1700 a Edward Villiers e só em
1731 passa para a família Warde, que a mantém
: Clara Ferreira na atualidade.
Squerryes Court segue a traça do estilo Georgia-
no.
As salas usadas e mobiladas ao longo de 200
anos pela família Warde são do maior interesse.
Aí podemos encontrar uma coleção de pinturas
do séc. 17 das escolas Italianas, Alemãs e Ingle-
sas.
Os jardins de Squerryes Court cobrem cerca de 4
hectares incluindo um pombal e um lago.
As filmagens de “Emma” - BBC 2009, exteriores e
interiores decorreram nesta casa.
As divisões utilizadas nas gravações incluíram o
“Quarto Chinês” (talvez daí a piada inicial na
adaptação a propósito de Mr. Knightley ir ensinar
chinês a Emma!?), um dos quartos dos emprega-
dos, a entrada, e a “Sala Verde”, que foi pintada
de azul turquesa paras as filmagens, e os jardins.
SQUERRYES COURT
Em 2009, Squerryes Court alber-
gou uma exibição acerca de Jane
Austen, a sua associação com
Kent, fotografias das filmagens da
mais recente adaptação de
“Emma” e do guarda-roupa.
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AS DIVISÕES UTILI-
ZADAS NAS GRAVA-
ÇÕES INCLUÍRAM O
“QUARTO CHI-
NÊS” (TALVEZ DAÍ A
PIADA INICIAL NA
ADAPTAÇÃO A PRO-
PÓSITO DE MR.
KNIGHTLEY IR ENSI-
NAR CHINÊS A
EMMA!?)
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 35
36 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
E se Jane Austen tivesse sido portuguesa? E se a
ação do romance “Ema” se tivesse passado numa
das muitas vilas ou aldeias portuguesas?
Pois bem, se Jane tivesse sido Joana, Hartifield
uma mansão em Portugal e algum realizador
desejasse adaptar “Ema” para o ecrã, o local ideal
para servir de cenário para a residência de Ema e
Henrique, o pai, seria, em meu entender, o Palá-
cio de Estoi, hoje recuperado enquanto Pousada
de Portugal.
A escolha não foi aleatória, foi até bastante sau-
dosista. Um irmão meu morou nesta aldeia algar-
via chamada Estoi… não me perguntem ao certo
como se lê… há quem lhe chame “Estói” e há
quem lhe chame “Estôi” - passei lá o Verão de
2004 inteirinho e nunca cheguei a conclusão
nenhuma!
Nesse verão que lá passei o então Palácio de
: Clara Ferreira Estoi estava vetado ao abandono (vejam as ima-
gens da página seguinte). Passei lá algumas tar-
des a “invadir” propriedade alheia, é um facto, e a
trazer limões de um limoeiro que não me perten-
cia (convenhamos, tinha 13 anos e um forte espír-
tio aventureiro!), mas nunca ninguém se importou,
nem ninguém se parecia importar com a beleza
daquele edifício repleto
de ervas e trepadeiras
por tudo quanto era
sítio.
Na altura ainda não era
fã de Jane Austen e
nunca me passou pela
cabeça que pudesse
um dia associar Estoi a
Emma Woodhouse,
mas hoje, nada me
parece mais certo! E é
com extrema facilidade
que coloco Emma nes-
te cenário.
Não consegui encontrar
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HARTFIELD PORTUGUESA
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nenhuma referência, mas tenho ideia que a
recuperação do Palácio começou a ser feita
um ano ou dois depois de eu lá ter passado
as minhas Vérias Grandes e ficou concluída
em 2008.
Atualmente, o Palácio de Estoi é um hotel de
luxo que integra as Pousadas de Portugal.
O Palácio de Estoi, localizado a cerca de
10km de Faro, data do séc. XIX e é um
exemplar do estilo rococó em Portugal. Tam-
bém conhecido como Palácio do Carvalhal.
O Palácio foi mandado construir por Fernan-
do Carvalhal de Vasconcelos, um fidalgo da
Corte, em 1840, “altura em que já existiam neste
local os jardins e uma pequena residência, con-
junto que pertencia ao bispo de Faro”, todavia,
não concluiu a obra em virtude da sua morte. O
Palácio foi depois vendido a José Francisco da
Silva, farmacêutico de profissão, que concluiu as
obras, ficando o Palácio totalmente pronto em
1909 - pelos esforços demonstrados na recupera-
ção do Palácio, José Francisco da Silva foi intitu-
lado Visconde de Estoi pelo Rei D. Carlos I. O tra-
balho foi dirigido pelo arquiteto Domingos da Silva
Meira. Em 1987 o Palácio foi comprado pela
Câmara Municipal de Faro e em 1977 tinha sido
classificado como Imóvel de interesse público.
“O interior do palácio é extremamente detalhado e
está elaborado à base de estuque e pastel. No
jardim é possível ver as palmeiras e as laranjei-
ras, que se enquadram perfeitamente com o
ambiente rococó do palácio.
No terraço inferior é possível ver um pavilhão com
azulejos azuis e brancos, denominado a Casa da
Cascata, e no seu interior está uma cópia das
Três Graças, de Canova” (historiadeportugal.info).
“O corpo do seu principal salão é avançado em relação ao resto do edifício e apresenta decora-
ção inspirada no estilo Luís XV.
O palácio compreende vinte e três salas e cinco
Antes e Depois das obras de recuperação
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38 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
anexos: torre sineira, torre de acesso às cobertu-
ras, depósito de água e duas casas de fresco.
O palácio é antecedido por três patamares ou socalcos ajardinados, preenchidos com diversos alojamentos: dois Pavilhões de Chá (com frescos no tecto), a Casa do Presépio e a Casa da Casca-ta. Esta axialidade é acentuada pelo arruamento principal, o qual se desenvolve a partir de uma
portada monumental.
As divisões interiores do palácio apresentam for-
mas quadradas e rectangulares, estando interliga-
das por corredores estreitos e compridos, embora
a maior parte dos aposentos comuniquem entre
si. As salas são decoradas ao estilo Luís XV,
Renascença e Barroco, salientando-se a orna-
mentação interior das seguintes salas de aparato:
Capela, Salão Nobre, Sala de Visitas, Sala de
Jantar, Saleta, Vestíbulo ou entrada pelo Jardim
do Carrascal, dois Pavilhões de Chá, Casa do
Presépio e Casa da Cascata. Parte do mobiliário
e algumas pinturas de cavalete ou murais são ita-
lianos.” (e-cultura.sapo.pt)
Aos obras de recuperação concluídas em 2008
foram da responsabilidade do Arquitecto Gonçalo
Byrne. Em 2009, o Palácio de Estoi - Pousada de
Portugal abriu as portas ao público.
Digam lá se Emma Woodhouse não encaixava
neste Palácio que nem uma luva!
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DE BEVERLLY HILLS
Ao longo dos tempos, a televisão e o cine-ma têm nos brindado com as mais diver-
sas adaptações das obras de Jane Austen. Menos frequentes tem sido as adaptações que colocam os personagens do universo austeniano no nosso tempo. Dada a actualidade da obra de Jane Austen, estas adaptações são mais ou menos bem sucedidas na adaptação e cabe ao espectador gostar delas ou não, consoante as liberdades que são tomadas. As Meninas de Beverly Hills, Clueless no original, adapta Emma, colocando-a em Beverly Hills. Ten-do em conta que o filme é de 1995, esta opção não é de estranhar, na altura o local era bastante conhecido por causa da série de Beverly Hills. Comecei a ver o filme sem muitas expectativas, creio que já o tinha visto na altura em que passou na televisão pela primeira vez, mas já pouco ou
: Vera Santos nada me lembrava. Surpreendi-me esperava um argumento mais infantil e infantil e para adolescentes e que tives-sem tornado a Emma, numa rapariga mais mima-da do que ela é e bastante fútil. Nada disso acon-teceu, certo que a Emma ou melhor a Cher é mimada, fútil q.b, mas não é irritante e o argu-mento está longe de ser idiota como nos últimos tempo parece ser o adágio nos filmes mais recen-tes para adolescentes, mas isso não surpreende já que o filme é de 1995 e nessa altura ainda havia um esforço neste campo. O filme consegue seguir, dentro dos possíveis, o livro de Jane Austen e é a na personagem da Tai, a Harriet Smith desta versão que o argumento mais se aproxima do original. Neste tipo de filmes é melhor o espectador ser surpreendido e por isso nada direi, apenas acres-cento que vale bem os cinco euros que custa actualmente na Fnac. Para terminar apenas chamo a vossa atenção
AS MENINAS DE BEVERLLY HILLS
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40 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal
para a foto, onde quase todos os personagens estão a falar ao telemóvel naquela altura quem tinha um telemovel era rico, hoje a riqueza distin-gue-se pelo tipo de coisas que o dito telemovel consegue fazer. Pessoalmente achei um porme-nor delicioso e que só a passagem do tempo con-segue captar.
SURPREENDI-ME
ESPERAVA UM ARGU-
MENTO MAIS INFAN-
TIL E INFANTIL E
PARA ADOLESCENTES
E QUE TIVESSEM
TORNADO A EMMA,
NUMA RAPARIGA
MAIS MIMADA DO
QUE ELA É E BASTAN-
TE FÚTIL. NADA DIS-
SO ACONTECEU
VAMOS EDITAR CLÁSSI-
COS!
Qu al é a importância deste projecto? Poderia apontar muitas coisas mas a mais impor-
tante é a divulgação de livros. Se acham isto estra-nho, eu digo-vos que há umas semanas li num blo-gue alguém a dizer só tinha conhecido " O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë porque o livro é mencionado na saga Twilight como o favorito dos protagonistas. Eu achava que o livro era suficiente-mente conhecido para que toda a gente soubesse
da sua existência, afinal enganei-me.
Não é difícil entender o porquê. A edição explodiu nos últimos anos, aqui em Portugal e os livros começaram a ter um período de vida mais curto nas livrarias. Logo estes livros que já foram editados há muitos anos e já não se encontram nas livrarias começam a ficar ainda mais esquecidos. A divulga-ção que se podia fazer através de séries e filmes de época também não acontece. Quando foi a última série que passou na nossa televisão que adaptava um clássico? Se a memória não me falha foi Emma nos inícios de 2010. Depois disso muito pouco ou nada deu de adaptações de clássicos da literatura e quase nada veio para cinema e o que veio apareceu e desapareceu à velocidade da luz como o caso de
Jane Eyre, o ano passado.
Por isso, o mérito disto que estamos a fazer se não chegar a surtir o efeito desejado, terá pelo menos o efeito de fazer alguém conhecer um livro que até aí não conhecia e só por isso terá valido a pena. Eu
própria já conheci alguns que não conhecia.
Já sabem contamos com todos os leitores para
votarem e divulgarem esta iniciativa!
- VERA SANTOS
A IMPORTÂNCIA DAS
TRADUÇÕES
Co m a excepção de José de Alencar todos os autores sugeridos para a votação são
de origem anglo-saxónica. E todos os livros que sugerimos podem ser adquiridos a custo zero na internet, já são livros sem direitos de autor e por isso mesmo estão em bases de dados como o Gutemberg Project. à distância de um click pode-
podemos ter e consequentemente ler estes livros. Para aqueles que já têm um Kindle ou semelhante
podem usá-lo para ler.
Tudo isto seria perfeito se não fossem por dois moti-vos, o primeiro é que nem todos dominam o inglês para lerem, há quem entenda muito bem e há quem se desenrasque caso necessário. Para aqueles que dominam e querem ler podem fazê-lo, mas o inglês e todas as línguas do mundo, atrevo-me a dizer, não são estáticas e vão mudando. O inglês que Dic-kens e Gaskell falavam será certamente diferente daquele que falou a Lucy Maud Montegomery
que era canadiana.
Já li North and South de Elizabeth Gaskell e não foi exactamente fácil, porque embora domine o idioma em questão, não vivi no seculo XIX e não vivi em Manchester. Há todo um vocabulário da zona e pró-prio das classes sociais operárias que me escapa. Li um livro que tinha um glossário, mas é chato estar sempre a consultá-lo e ver que afinal hoo sig-
nifica o tão usado She???
O tradutor deve ter das profissões mais ingratas do mundo, por um lado, o seu nome quase nunca é destacado e por outro vê muitas vezes o seu traba-lho discutido e atacado. Mas são a estes homens e mulheres que devemos a leitura de livros que não dominamos o idioma. Uma forma de honrá-los é ler
a versão da nossa própria língua. - VERA SANTOS
NOVA ADAPTAÇÃO PARA
CINEMA—ANNA KARENI-
NA
Fi nalmente o momento pelo qual temos esperado desde que surgiu a noticia que
Joe Wright ia estar por detrás da camera de mais uma adaptação de uma grande clássico, falo de Anna Karennina. Com certeza lembram-se que o filme contará com Keira Knightley, Mathhew
Macfdeyn, Jude Law, entre outros.
Sem mais conversa aqui ficam o poster e o trai-ler, ambos do blogue de cinema: Split Screen - VERA SANTOS
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CRANFORD TEM EDIÇÃO
PORTUGUESA
De scobri há dias que o livro de Elizabeth Gaskell tem edição portuguesa, com o
estranho título A Cidade Sem História. Esta infor-mação foi dada por uma leitora do nosso blogue
num post e podem ver aqui: Cranford
Pelas imagens eu diria que o estado de conver-sação é muito bom, apesar do livro ter sido edita-do em 1943, o que faz dele um livro já na terceira idade, uma altura em que devia descansar na prateleira, sendo aberto ocasionalmente para recordar a quem o leu todas as suas virtudes e a
magia da escrita da Senhora Gaskell.
Não me interpretem mal, eu adoro livros antigos, mas não tenho dinheiro nem espaço para me dedicar a coleccioná-los, daí a minha ideia de vê-daquilo que ela escreveu foi a afirmação que no Brasil, ele era mais amado e estudado do que
aqui. Um mal comum a outros escritores.
los sossegados nas prateleiras ou mesmo na internet nos sites dos alfarrabistas. Para mim os livros antigos e em segunda mão tem uma magia própria e se isto fosse um blogue de livros, um dia
faria um post sobre o assunto.
Mas voltando ao que interessa, a informação dada pela nossa leitora, mais uma vez vem confir-
mar que é urgente editar os clássicos que
os livros se estão a perder para dar lugar a outros que ninguém vai falar. Na edição deste mês da revista Ler, Inês Pedrosa falava de Camilo Caste-lo Branco como o homem que levaria para uma ilha deserta, preferindo-o a Eça de Queiroz... Pre-ferências não se discutem, mas o que mais retive daquilo que ela escreveu foi a afirmação que no Brasil, ele era mais amado e estudado do que
aqui. Um mal comum a outros escritores.
Por isso se estes escritores não forem editados ou reeditados daqui por uns anos, acabaram
esquecidos... - VERA SANTOS
O MISTÉRIO DE CHARLES
DICKENS
Re cebo com alguma frequência, newslet-ters de livrarias online. Uma dessas últi-
mas trazia a noticia da publicação do livro o Mis-tério de Charles Dickens, título que roubei para este post, já que para mim é um mistério a publi-
cação deste livro.
Quando li a sinopse, que podem ler aqui fiquei a pensar que já tinha visto isto em qualquer lado e verificando a minha wishlist de uma outra livraria, vi que de facto já tinha visto algo bastante pareci-do, o livro inacabado de Charles Dickens, cuja sinopse, podem ler aqui. Lendo fiquei com a ligei-ra sensação que tinha lido a sinopse do Código
de Vinci, mas versão para Charles Dickens...
Não sei se os livros em questão são bons, nem me cabe a mim fazer tal apreciação baseada apenas em sinopses. Faz-me um bocado de comichão este género de livros, primeiro porque os acho um pouco especulativos em relação à vida dos escritores em questão e depois ofere-cem muitas vezes visões distorcidas do visado,
neste caso Charles Dickens.
Faz-me confusão que se publiquem tais livros por
cá, pois o escritor não está devidamente publica-do, não como ele certamente merece. Se quise-rem ler o famoso conto de natal, a única dúvida será qual a edição a escolher, à parte disso não há quase nada. Quem quer ler o Dickens não tem
sorte quase nenhuma. Por isso, caros editores,
Dickens não tem sorte quase nenhuma. Por isso, caros editores, se algum eventualmente lê este blogue em vez de se lançarem a publicar livros mirabolantes sobre escritores de renome, façam o favor de publicar a sua obra e aí sim publiquem estes livros que os leitores que gostam deste tipo de livros agradece. Até porque o sucesso de livros deste tipo depende, muitas vezes do conhecimento que se tem da obra do escritor, jul-go que fazem referencias à sua obra e onde podem as pessoas ler tais livros se não estão edi-
tados?!
Um exemplo simples e prático, o livro de Emily Brontë, O Monte dos Vendavais, tornou-se mais conhecido entre os jovens depois de ser citado na Saga Twilight como o preferido dos protago-
nistas... - VERA SANTOS
NORAH EPHRON
Fo i na passada terça-feira que o mundo do cinema ficou mais pobre com a morte de
Nora Ephron, argumentista e realizadora. Nora Ephron era conhecida pelas suas comédias românticas, apesar do género ter ficado completa-mente esgotado nos anos 90, as que pertencem a esta argumentista continuaram a destacar-se pela
positiva.
Já aqui dissemos muitas vezes, mas nunca é demais repetir que o género comédia romântica vem de Jane Austen, juntamente com o trabalho feito por Shakespeare. Nora Ephron aparece em alguns documentários sobre Orgulho e Preconcei-
to. - VERA SANTOS
E CHARLOTTE? QUE FOI
FEITO DELA?
Na s minhas vagueações pelo site da ama-zon (um dos meus 'passeios' favoritos)
deparei-me com um livro que me despertou a atenção: "Charlotte" de Karen Aminadra, uma obra que pretende ser uma continuação de Orgu-lho e Preconceito, mas visando o destino de Charlotte Lucas/Collins. Neste livro, no entanto, podemos ver descrito como foi a vida de Charlotte em Rosings depois do seu casamento com Mr Collins. A história con-ta como ela se tornou numa mulher amarga e como detesta a sua vida. Um dia, depois de ter feito compras num local não aprovado por Lady Catherine De Bourgh, vê-se subitamente ostraci-zada por ela e é então que se descobre livre para apreciar a vida e outras pessoas. Faz então novas amizades, incluindo nestas o Coronel Fitz-william que parece que lhe vai trazer alguns dis-sabores, e ainda com uma Miss Thomas que tem direito, nesta obra, à sua própria história com um tal de Mr Simmons. Este casal tem a sua dose de queixas relativamente a Lady Catherine pelo que
a empatia deles com Charlotte é partilhada. Tem-
se ainda a oportunidade de ver Elizabeth e Darcy, casados penso eu, de visita a Rosings, o que dei-xa lady Catherine furiosa. Parece uma história que promete, realmente. E estou a considerar seriamente comprar a versão kindle na amazon. Mas um medo imenso domina-me!... Será que acabo a achar Mr Collins digno de admiração? Será que ele vai passar a substituir Mr Darcy nos meus sonhos como o protótipo do
homem ideal?!... - VERA SANTOS
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44 | PASSATEMPO | Revista Jane Austen Portugal Ja
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Me u primeiro contato com a obra de Jane Austen foi através do livro Razão e
Sentimento - As irmãs Dashwood, era esse o títu-lo, eu lembro bem. Eu o li quando tinha uns treze anos, mais ou menos no ano de 1976. Esse livro foi indicado como leitura complementar para minha turma na época em que cursava o ginásio. Faríamos uma prova de redação. Era um livro paradidático e tinha uma tradução bem simples
para o Português.
Desse livro só ficou a lembrança, pois naquela época era costume emprestar aos colegas de escola que não tinham condições financeiras de adquirir um exemplar dos livros de leitura pedidos pelos professores. Até hoje nunca mais o vi, esta-ria este livro com um de meus irmãos ou compa-nheiros de turma? Poderia ter sido doado a algu-ma biblioteca? Não sei, o que sei é que as minhas impressões do livro são como a nobreza dos sen-timentos de Elinor, a ingenuidade de Marianne (iludida por um grande amor) ambas inseridas no
retrato fiel da sociedade inglesa georgiana.
: Jane Lúcia Ferreira Paiva
georgiana.
Destaco essas impressões como traços que mais me marcaram na narrativa deste romance. Eu lia aquelas páginas que iam sendo rapidamente devoradas por mim, elas eram tão atraentes! Demorei poucos dias para terminar a leitura do livro. Cada momentinho depois da aula era perfei-to para que eu me debruçasse na janela para ler
mais um pouquinho...
Ter lido este livro na minha adolescência foi um fator determinante para aprimorar meu gosto pela
Literatura, com certeza.
Todos os anos eu o leio de novo e procuro estar sempre lendo outros livros de Jane Austen, conhecendo um pouquinho mais sobre sua obra. Hoje em dia tenho também a felicidade de divul-gar para outras pessoas o precioso universo de nossa autora predileta através de um recente gru-po que criei chamado: Grupo Jane Austen & Escritores Ferr e poder participar deste espaço
virtual Jane Austen em Português.
JANE PARTICIPOU NO
PASSATEMPO
“ANIVERSÁRIO DE
JANE AUSTEN” QUE
DECORREU AQUAN-
DO DO ANIVERSÁRIO
DA AUTORA EM
DEZEMBRO DE 2011.
JANE FICOU EM 4 º
LUGAR
IMPRESSÕES
JANE AUSTEN
DE
Livro:
“ E o vento levou...” de Margareth Mitchell
Ler é uma das minhas atividades
preferidas, desde pequena eu me divirto muito
lendo livros. Eu devo confessar que o momento
que eu mais gosto do meu dia é à noite quando
vou dormir e posso relaxar lendo um livro até o
sono vir.
Ao pensar numa sugestão de livro ao estilo
de Jane Austen, eu não pude resistir e sugiro “E
o vento levou...”. Realmente, é uma obra antiga e
referenciada pelo mundo todo, que quase todos
conhecem e devem ter lido, ou pelo menos,
sabem a história. Eu justifico a minha escolha:
uma das qualidades mais ressaltadas em Jane
Austen é a crítica embutida em suas histórias
sobre a sociedade britânica no século XIX; sobre
os comportamentos e valores mais frequentes e
prezados por esta sociedade. Jane Austen os
critica com humor e bom senso e propõe
questionamentos que favorecem reflexões acerca
desta cultura. Em “E o vento levou...”, eu entendo
que há o mesmo objetivo embutido, ou seja,
criticar e propor questionamentos sobre uma
sociedade e seu modo de viver.
A referida obra retrata com maestria a
decadência da riqueza, soberania e valores da
sociedade rural e escravocrata da região Sul dos
Estados Unidos da América. Tal sociedade se
envolve em uma guerra (Guerra Civil Americana -
1861 a 1865 ) para preservar seus valores e
estilo de vida e acaba sendo massacrada e
obrigada a rever seus conceitos e suposições
acerca de como ganhar dinheiro e sobreviver
com dignidade em um contexto muito diverso do
qual estava acostumada. É uma revolução de
princípios íntimos e coletivos, em que muitos dos
personagens não conseguem se adaptar ou se
adaptam bem até demais. Ademais, há a história
de amor entre Scarlett O'Hara e Rhett Butler que
é a linha condutora que permite a autora
descrever esta sociedade. O livro é longo, mas
vale a pena persistir até o final!
Filme:
“Bons Costumes” de 2008
Eu gostei muito deste filme, pois a história dá
margem para muitas reflexões sobre a sociedade
e os valores da era pós-guerra. Como Jane
SUGESTÕES AUSTENIANAS
: Luan Fernandes
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Austen é uma crítica da sociedade de sua época,
eu creio que ela iria se divertir com este filme,
assim como os seus seguidores poderão se
deliciar com o conflito de interesses e valores que
marcam esta trama. Filmado em 2008, sob a
direção de Stephan Elliott, a história relata os
conflitos e contrastes entre a americana Larita
(Jessica Biel) e sua sogra inglesa (Kristin Scott
Thomas). Larita é viúva, corredora
automobilística e avançadinha para sua época.
Ela se casa com John Whittaker (Ben Barnes) e
vai, pela primeira vez, conhecer a tradicional
família dele, situada em uma pomposa
propriedade no interior da Inglaterra. Ao conhecer
a família de seu novo marido, ela gera
sentimentos de desconfiança, inveja e
competividade em sua sogra, a megera em
pessoa que, sempre que possível, não perde a
oportunidade de sujar a imagem de Larita. O pai
(papel de Colin Firth - o nosso eterno Mr. Darcy),
omisso nas opiniões e nos sentimentos, não se
incomoda com a presença da nova nora. Nesta
nova conjuntura familiar, nós somos convidados a
acompanhar as trapalhadas e acertos de Larita e
os conflitos familiares despertados por sua
presença. Podem preparar pipoca, pois é
diversão na certa!
Música:
“Falso Brilhante” de Elis Regina, 1976.
Este ano, aqui no Brasil, há várias homenagens
sendo prestadas a Elis Regina, pois no dia 19 de
janeiro completou-se 30 anos de sua morte. Eu
sou fascinada pela voz desta mulher e pela forma
intensa e autêntica que ela interpreta suas
músicas. Para declarar a minha saudade e
encantamento por sua voz, a minha sugestão
austeniana de música é ela, a pimentinha, Elis
Regina. Em sua discografia, um disco que eu
destaco e recomendo é “Falso Brilhante”, um
ícone de sua carreira. Este disco, agora CD, traz
as belíssimas canções, dentre elas as irresistíveis
e clássicas: Como nossos pais, Fascinação,
Tatuagem, Velha Roupa Colorida.
Recomendadíssimo!
: Leonor
David Lassman, director do Festival de Jane Austen em Bath, publicou um artigo entitulado "Rejecting Jane" na revista Jane Austen's Regency World, no qual descrevia um aconte-cimento insólito: testando a capacidade analí-tica de algumas editoras, aproveitou os capítu-los iniciais de obras de Austen - como Orgu-lho e Preconceito, A Abadia de Northanger e Persuasão - e enviou-as a publicadoras e agentes literários famigerados no mercado, assinando sob o pseudónimo de Alison Lay-dee (paralelismo com a assinatura de Austen, "A Lady"), modificando apenas algumas par-tes do texto, locais e nomes das personagens. A surpresa surgiu quando, inesperadamente, apenas uma das editoras reconheceu os excertos enviados como pertencendo a Jane Austen, sendo que todas as outras - incluindo a Penguin Books e a Bloomsbury - rejeitaram os capítulos dos livros, mesmo quando a famosa frase "It is a truth universally acknow-ledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife" tinha sido deixada deliberadamente. Estamos condenados a um futuro onde as edi-toras não reconhecem os grandes clássicos?
Cátia: Bem, é mesmo de espantar!
Leonor: É, fiquei boquiaberta!
Sandra: Penso é que quem está à frente des-
sas editoras, ou quem lê esses supostos candi-
datos a livros, não tem a cultura literária sufi-
ciente para exercer essa função.
Leonor: A avaliar pelos livros que
enchem actualmente as prateleiras dos
supermercados, não me surpreende que,
ou talvez não tenham cultura literária, ou
talvez a tenham mas vêm-se coagidos
por motivos económicos e de retorno de
investimento a publicar obras que ren-
dem mais.
Se assim for, há alguma coisa que tem
de ser feita.
Vera: Resta saber se os "livros" foram real-
mente lidos, é que há muitas editoras que
rejeitam os originais sem serem lidos.
Se foram lidos, isso signfica que os editores
percebem tanto de livros como eu de fute-
bol :)
Eu já li há uns anitos que no nosso país mui-
tos alunos que iam para os cursos de letras
não gostavam de ler, isso possivelmente não
será muito diferente nos outros páises e já
todos sabem que onde muitos desses alunos
arranjam emprego é nas editoras.
Leonor: Ingenuamente, quero acreditar
que pelo menos as editoras que nos
habituaram a obras de qualidade tenham
a responsabilidade e a sensatez de, pelo
menos, ler o primeiro capítulo: ainda por
cima um dos transcritos citava uma das
frases mais célebres de Austen!
Relativamente aos alunos de Letras,
pessoalmente sou uma que integra esse
universo e, mesmo não me incluindo nos
cursos que estão em contacto constante
À DISCUSSÃO JANE AUSTEN REJEITADA?
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com obras e a sua análise, posso dizer
que, apesar de ser verdade que muitos
não nutrem essa apetência, há muitos
outros que colmatam essa falta. A pro-
blemática que me coloco é saber se, no
seio das editoras empregam pessoas
especializadas nessa área ou pessoas
provenientes de outros cursos, como
ocorre frequentemente noutros domínios.
De qualquer maneira, há que rever o que
se passa!
Vera: Bem, eu concordo contigo, no
entanto muita gente trabalha em
areas diferentes da sua formação
porque não arranja emprego na sua
area.
Depois há também as paixões pes-
soais e há quem nunca tenha tirado
um curso de letras e entenda bastan-
te de livros e pode perfeitamente
integrar os quadro de uma editora.
O que eu gostava era de ver a expe-
riencia repetida aqui em Portugal,
com esse peso pesado que é o Eça,
se eu tivesse dinheiro de sobra a ver
se não fazia isso ou fosse jornalista :-
) Desconfio que o resultado não seria
muito diferente.
Leonor: Actualmente, a orientação
que transmitem é que cada vez
mais se torna necessária a flexibili-
dade.
No entanto, esta tem de ser obtida
com equilíbrio e formação e penso
que é isso que ainda falta consoli-
dar.
Como te entendo! Se pudesse, a
ver se não inundava as livrarias e
os supermercados com o nosso
amigo de monóculo?:)
Próxima Edição Colaboradoras
Clara Ferreira
Izabella Rendeiro
Jane Lúcia Ferreira Paiva
Joana La Cueva
Júlia Marcos Ferreira
Karla Alessandra Nobre Lucas
Leonor
Luan Fernandes
Marina Nunes
Sandra Freitas
Vera Santos
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Revista Jane Austen Portugal, basta enviar um email
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de Agosto de 2012 – mais informações:
http://wix.com/janeaustenpt/janeaustenportugal
O tema da próxima edição é:
Fanny: A Heroína Mal
Amada
Créditos Todas as imagens que constam desta edição de
Março-Abril da Revista Jane Austen Portugal,
pertencem às adaptações para cinema e televisão
de Emma, a quem são devidos os respetivos cré-
ditos.
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: ALGUNS TÓPICOS
* O Porquê de ser, para a maioria das fãs, a personagem
menos favorita
* Similitudes com outras personagens de Jane Austen
* O caráter de Fanny Price
* A sua relação com a Família
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31 Agosto
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