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Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL COM PASTA DE MADEIRA NA QUINTA DE
SÁ.
GUERRA, Rui Moreira de Sá e
Ano: 1989 | Número: 99
Como citar este documento:
GUERRA, Rui Moreira de Sá e, A prioridade do fabrico de papel com
pasta de madeira
na Quinta de Sá. Revista de Guimarães, 99 Jan.-Dez. 1989, p.
174-199.
por RUI MOREIRA DE SÁ E GUERRA
A proposição enunciada como título do presente trabalho ê vaga por
compreender divergentes opiniões, mas logo dá ansa de acolher a
tese, fir- mada desde pelo menos 1804, da atribuição a Francisco
Joaquim Moreira de Sã do invento do papel feito com material
lenhoso.
Os subscritores desta opinião foram podados de «patrioteiros
nunalva- rescos›› e «filarmónicos do Hino da Restauração», por Raul
Proença e Antó - n o Anselmo no, aliás, excelente estudo «Breve
notícia sobre a indústria de papel» (1), onde negam aquela
paternidade para a adjudicarem ao inglês Matias Koop.
Nem sequer estes dois estudiosos concederam a patente da invenção a
Tomás Bishop, o técnico inglês contratado por Moreira de Sã, que ê
a posi- ção defendida por Sousa Viterbo.
Equacionadas as três posições vamos ao princípio para a
intelegibili- dade do atrás adorado, e chegar a uma
conclusão.
Rastreemos o material dócil usado pelo homem como suporte da es-
crita, no transcurso dos tempos, até o assomar do Íséculo XIX, data
da apon- tada invenção, ocorrida na margem esquerda do Rio Vizela,
ao sítio da Cascalheira. .
Na Antiguidade usava-se o papiro, entretecido em complexa manufat-
tura cujo relato nos foi legado por Plínio (2).
Cortavam-se as fibras interiores do caule dos papiros e
sobrepunham-se em duas camadas entrecruzadas e hurnedecidas. Elas
viriam a unir-se de- pois de prensadas e secas ao sol, devido ã
própria mucilagem da planta.
(1) ln Anal das Bzb/zbtems eArqui1/os vol. II, pág. 194 e
seguintes. (2) Cfr. Godinho dc Lima.em Verbo - Enczh/opêdzà
Luso-Braszlezia de Cultura
vol. 14, coluna 1238.
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÃ 175
A fragilidade do papiro levou a inventiva humana a socorrer-se da
pele de certos animais como material de suporte da escrita.
O pergaminho - - assim chamado por estar na tradição haver sido um
rei do Pérgamo, no século II antes de Cristo, o introdutor do seu
uso na escrita para remediar a falta de papiro - tinha como matéria
prima peles de carneiro ou de cabra, o velino era manufacturado das
peles de vitelo (daí a designação de velino), ou de cavalo.
As peles eram preparadas com lúmen, curtidas, desengorduradas e de-
pois raspadas para alisarem.
O material era resistente garantia perdurabilidade, aocontrãrio do
frágil papiro, mas para a fixação da tinta era mister insistir com
o cãlamo.
A carestia do pergaminho vai ser contrariada pelo recurso ã sua
reutili- zação através da lavagem e posterior raspagem com pedra
pomes até o des- vanecimento das 3 primitivas letras. As peles
desta forma preparadas denominam-se palirnpsestos. .
Durou mil anos esta pratica (do século V ao XV), constituindo grave
atentado ao património histórico e cultural.
Num dos métodos da preparação do palimpsesto, por vezes as letras
permaneciam no couro apesar de não se verem, o que permitiu a
recupera- ção de muitos códices, como o «DE RE PUBLICA›› de Cícero,
a correspon- dência do imperador Marco Aurélio com o seu mestre
Frontonius e outras preciosidades .
Mas, no ano de 105 depois de Cristo, os Chineses começaram a
fabricar papel. Servia de matéria prima as abras do linho e de
cânhamo que, mace- radas em água de cal, eram reduzidas a pasta sob
o rolamento das mós.
Mas só depois da batalha de Samarcanda, no ano de 751, em que os
Chineses foram derrotados pelos Árabes, o papel ê conhecido no
ocidente . Por volta de 1150 fundou-se perto de Valença, em Xativa
ou _Jatiba, uma fábrica de papel, de que Edrisi, o famoso geógrafo
árabe do século XII, nos dá conta nas memórias da sua viagem ã
Península Ibérica.
No século XIII já se fabrica papel do trapo moído e macerado nas
mes- mas condições que o linho e o cânhamo.
Em Portugal, a indústria desse papel foi introduzida em 29-4-1411,
data do alvará em que D. João I concedeu licença ao seu escrivão da
puridade, Gonçalo Lourenço de Gomide, que foi o bisavô paterno de
D. Afonso de Albuquerque (3), para instalar um moinho de papel em
Leiria «em dou
(3) Cfr. Ansckno Braamcamp Freire in Brasões da Sala de Sintra, II,
pág. 198.
176 REVISTA DE GVIMARÃES
.
* * *
Dealba outra época na história do papel. Pela primeira vez irá ser
pro- duzido da matéria lenhosa, no termo das Caldas de Vizela. Tal
se deve a Francisco Joaquim Moreira de Sã.
O encantador Rio Vizela serpenteia manso entre sinceirais
luxuriantes , em dolente rumorinho, numa serenidade inspiradora de
almas sensíveis como a de Silva Porto que reproduziu numa belíssima
tela os moinhos da Cas- calheira (5), a do próprio Moreira de Sã e
a da sua neta Ana Amália Sã e Melo, autora dos «MURMÚRIOS DO
VIZELA››, obra poética de viçoso delicadeza de sentimentos:
«Murmurar quero a saudade Que no Peito se arreigou,
À
E a biSa, que me escuta, Meus cantos aprenderá, E o nO de/zaando
Estas vozes /etc/ara, E 720 nzurmurar saudoso Meus cantos
nzurrnurarã» -
(4) Citado pelo Dr. Américo Cortês Pinto na sua .obra Da Famosa
Arte da Inzpfí- nzzSsão, no estudo HzStóna rnarar/dbosa do papel
que publicou na revista Ocidente. vol. >Q<üx',tJunho de 1946,
n.° 98, pág. 96.
(5) Quadro existente na Casa Museu da Fundaçãojosê Relvas (Casa dos
Patudos), em Alpiarça. Mas ele pintou outro quadro sobre Vizela que
se encontra no mesmo Museu. Tam- bém, no Museu Soares dos Reis, no
Porto, existe O quadro pintado por Silva Porto «Ponte Velha,
Vizela» (cfr. DzCzOnãnO de Pzhtores e Escultores Portugueses, vol.
V, 2.9 edição~ pão. 200, de Fernando de Pamplona).
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 177
Franciscojoaquim Moreira de Sã foi o primeiro que, na sua estirpe,
usou a união do apelido paterno (Moreira) com o materno (Sã) para
identifica- ção familiar, transmissível às seguentes
gerações.
I Nascera em 14-4-1748, na Casa de Sã, sita na freguesia de Santa
Eulá-
lia de Barrosas, agora pertencente ao concelho de Lousada, e era
ilho do capitão-mor Francisco Moreira Carneiro, fidalgo da Casa
Real, familiar do Santo Ofício e professo na Ordem de Cristo, e de
sua mulher D. Eduarda Catarina Borges do Couto e Sã, senhora da
Casa de Sã.
Ele contraiu dois matrimõnios. Casou, em primeiras núpcias, a
26-11-1766, na idade de 17 anos, com D. Josefa Antónia Sotomaior
Osó- rio de Menezes e Vasconcelos, senhora da quinta. do Outeiro e
da capela vinculada *de Nossa Senhora dos Remédios, nos Arcos de
Valdevez. Ela pro- cedia da antiquíssima família Araújo e Azevedo
e, portanto, era parente, posto que afastada, do Conde da Barca
António de Araújo de Azevedo. Ambos descendem de Paio Rodrigues de
Araújo, o Cavaleiro, guarda-mor de D . João I e do Infante D.
Henrique, embaixador a Castela e que acom- panhou a Ceuta D.
Duarte, com 200 homens equipados ã sua custa (6).
Tem interesse focar este parentesco da D. Josefa Antónia com o
grande diplomata e ministro de D. João VI, pois daí, na minha
conjectura, advirá a relacionação e a interferência - esta certa -
- nos planos do industrial de Sã, como veremos. .
Depois, já com 53 anos, Francisco Joaquim Moreira de Sã casou em
se- gundas núpcias, em 1-6-1801, com D. Ana Peregrina Pereira Pinto
de Car- valho Velho, da Casa da Capela, em Sernande, descendente de
Martim Pi- tes de Carvalho, o célebre cavaleiro de Basto, que
floresceu nostempo de el-rei D. Sancho II, o Capelo, tronco de
bracejante árvore (7).
Dotado de espírito engenhoso e empreendedor, Moreira de Sã, desde
pelo menos 1797, estudava novos processos na fabricação do papel,
ten- tando produzi-lo com matéria vegetal, sem recurso ao trapo.
Sabe-se que nesse ano começara a tratar da realização da fábrica no
sítio da Cascalheira. Para a referida construção e para a aquisição
das terras de amanho dos ve- getais atinentes a obter matéria
prima, alienou onze quintas, em distância
Quinta de Sã e Torre (6) Nobzlzkífio de Felgueiras Gaia, tít.
Araújo § 381 N. 29 - - de Cardoso.
(7) Cfr. Cara:/al/yo: de Basto .. - de Basto, do Dr. Eugénio Andrea
da Cunha e Freitas, já com 6 tornos publicados.
A Desøendênczk de MartzM Pires Cana/a/bo, Cavaleiro
fá
178 REVISTA DE GVIMARÃES
duma légua da Casa de Sã, treze moradas de casas em Guimarães e dez
mil medidas cobradas na mo parte em Margaride e em Montelongo
Está documentada esta fase de actividade preliminar do fidalgo
vize~ lense. _
Em 15-1-1798, ele e a primeira mulher vendem ajo sê António Tei.
xeira, homem de negócio da vila de Guimarães, ea sua mulher Teresa
Ã1- vares de Abreu Cardoso o direito enfitêutico dos Casais do
Bôco, na fre- guesia de Tagilde, de que recebem de dois
subenfiteutas 69 medidas de
(S).
Casa de Sã, em Santa Eulália de Barrosãs.
pão e vinho, 50 arreteis de marrão e 50 reis em dinheiro, pelo
preço de 505 mil reis, mas só recebendo eles vendedores 155 mil~
reis.Os restantes 350 mil reis são retidos pelos compradores «em
satisfação da deminuiçã0 e prejuízo das rnoajens que eles
vendedores lhe cauzão nas suas zenhas
e (8) Ver OJ Mesterer de Guimarães, 5.° vol., de A. L. de Carvalho,
Álvaro Braga» não Álvaro Velho (Autor Plausível do Roteiro da Vagem
de Vasco da Gama), Braga 1848- de Pereira Caldas, também citado por
Amadeu de Freitas em «Um Inverno portuguëfi ¬
publicado no DzãnO de Notícúzs de 30-3-1929 . \ \
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 179
rio que hão
Por esse facto, os herdeiros dos originarias outorgantes, de
Maria Bebiana de Carvalho e Oliveira, viúva de Miguel António
Mo-
Reverendo José de Abreu Cardoso Teixeira, cónego prebendado
e moinhos pertencentes ã sua Quinta de Lagoas na margem do Rio
Vizella com o levantamento do Rio assim da ultima levada dos ditos
moinhos e zenha, e com a mudança e nova passaje da goa do mesmo de
fazer a bem da fabrica do papel que a d ã o principiando a
cOnstruhir mais abaixo, em razão de terem eles compradores justo em
consentirem no mesmo levantamento e mudança da .goa». Era senhorio
directo dos dois prazos dos Casais do Bôco o abade de
Tagilde.
Por seu turno, estes segundos outorgantes, os aludidosjosê Antero
Tei- xeira e mulher constituíam (eles dizem vendiam) a favor de
Francisco Joa- quim Moreira de Sã e mulher a servidão de aqueduto
pelos campos e eiras pertencentes ã Quinta de Lagoas para se fazer
o tal canal de condução de água, que teria 12 palmos de ãlveo.
Moreira de Sã construiria pontilhões sobre o canal para passagem de
pé e carro segundos outorgantes.
Interessante ê notar que também se edificaria um ‹‹arco» sobre o
Rio, mas constituiria uma servidão particular, de passagem para O
reparo e lim- peza do canal, e guiar as águas. Lê-se na escritura:
«...não se entenderá que o Arco que oca sobre o Rio hã haja
servidão publica, bem pelo contra- rio haverá da margem esquerda do
Rio haja porta que feixe a sua pas- sajem. . .›› (9). »
No entanto, a fábrica não chegou a ser construída totalmente e
parece não arrancou na laboração, tornando-se pois desnecessário
constituir a ser- vidão de aqueduto através da Quinta de Lagoas e,
por outro lado, não houve prejuizos nas azenha e moinhos da
referida propriedade pelo desvio da água.
' uma parte Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomaior, na qualidade
de procurador de D . feita de Sá, por si e como representante dos
filhos menores, e da outra parte O da Colegiada da Senhora de
Oliveira, em Guimarães, por si e como repre-
"OS já aludidos
de 6-1-1838 (10), pelo qual Os herdeiros dos compradores das
apontadas
Sfintante da cabeça de casal por falecimento dos pais, donos da
Quinta de Lagoas, celebraram contrato titulado pela escritura
<Õpia nos foi facultada pelo (9) Escritura lavrada nas notas do
tabelião de Guimarães, Nicolau Pereira, cuja foto-
nosso Parente c má,°> Nas notas do tabelião de Guimarães,
Nicolau Teixeira de Abreu, cuja fotocópia m nos foi facultada pelo
genealogista e prestimoso Parente aludido na anterior nota.
Amigo Fernando Moreira de Sã Monteiro.
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medidas restituiram a quantia de 350 mil reis aos herdeiros de
Francisco Moreira de Sã. Mas como este havia comprado aos donos da
Quinta de La- goas muitas madeiras para a construção da fábrica de
papel, ajustou-se 0 preço dessas compra em cento e oito mil reis,
e.por isso aquela devolução foi transigida em 242 mil reis. .
.
Também, em 9-8-1800, Francisco). Moreira de Sãs a mulher vende. ram
a Franciscojosê da Costa, de Margaride, em Felgueiras, quinze
alqueires de milhão, meio almude de vinho, três galinhas e 40 reis
em dinheiro, que anualmente lhe pagavam do prazo dos Campos da Casa
Nova, na Corre- doura, da aludida freguesia de Margaride. A venda
foi efectuada pelo preço de cento e trinta e seis mil e oitocentos
reis. .
Para não haver dúvidas, os vendedores instruem esta escritura (11)
com procuração do ilho António Zeferino Moreira de Sã na qual este
expres- sou: «Ao tempo em que meu Pay o Senhor Francisco Joaquim
Moreira de Sã he obrigado a celebrar varias escrituras de compras
vendas e promutas de bens de r i s a firn de por em execução os
seus bens combinados projec- tos t e m e espalhado a vaga e faça
noticia dele me ter feito Doação de seus bens e como a ser verdade
lhe seria isto indecorozo não declarar esta cir- cunstancia as
pessoas que com e le tem de celebrar semilhantes contratos para
sucego destas e para desmentir hua semilhante callunnia eu concedo
ao dito meu Pay todos os poderes em direito necessarios com livre e
geral administração para assignar em meu nome as ditas escritura.
Quinta de Sã oito de Junho de mil setecentos e noventa e
oito».
Na opinião de Inocêncio Francisco da.Silva a construção da fábrica
da- taria de 1804, ou mesmo de 1803, porque teria sido «rnodelada
por um plano que ao seu proprietário, e instituidor, fora insinuado
por Aviso do prín- cipe regente, expedido em 1802 pela secretaria
da fazenda» (12).
Concretamente, o aludido diploma ê de 13-12- 1802. E com efeito,
Mo- reira de Sã, no primeiro dos dois sonetos que compôs e enviara
ao príncipe
' a Í 'q{
Í
Q
(11) Lavrada nas notas do notário de Felgueiras, António .José da
Costa Guimarães. Arquivo Distrital do Porto, livro 473, ás. 58 a
60, que também nos foi indicada por Fer- nando M. dc Sã
Monteiro.
(12) ln Díczbnãnb Bzä/zbgrãfico Português, tomo V, N.° 4643, também
citado POI
Pereira Caldas em «Vindicação da Propriedade do Fabrico de Papel
cornmassa de madfiífa- como descoberta portuguesa] intentada nas
Caldas de Vizela no princípio deste $écu10>›
Braga 1867, pão. 13.
i
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regente D. João e ã* princesa D. Carlota Joaquina, impressos no
primeiro papel manufacturado, revoca esse apoio régio (lã):
‹‹Príuczúe augusto! Tu o zMpu/so deste! A química e o.r deíejbs
trabalharam; Não debalde, Jenbor/ que o auto ë este»
4
A escritura da constituição da sociedade para explorar esse
empreendi- mento data de 28-4-1804 e nela diz Moreira de Sã: «tendo
determinado estabelecer hum Fabrica de papel, tinha construído a
Casa e Canal para o Laboratório dela›› (14). Mais adiante,
convencionou-se que ele entra pa- ra Sociedade <‹com a ca2a que
tem edíficada para a mesma Fabrica e Labo- ratorio das Maquina, a
qual tem trezentos palmos de comprido, e oitenta e dou palmos de
Largo alem dos respectivos corpos salientes, e com as duas cazas
para a cola, e escolha de materiais, cujas anda construindo, que
tudo por prompto, e acabado a sua custa, bem como edificará ã sua
mesma custa as cazas que forem necessarias para armazens do
papel...››, e en- quanto não as edificar <‹cede interinamente
das dez cazas que naquele mesmo citro tem para uzo da Lavoura, e
igualmente oca obrigado a acabar a sua custa o canal diversorio que
conduz as agoas do Rio Vizella para as Rodas da Fabrica...››.
* * *
Mas quando teria sido produzido pela primeira vez o papel deste
tipo ? E quem foi o inventor? E dado certo que, antes de 1804, fora
produzido o primeiro papel de
(H) brio de PaPá..››, pág. 17.
(14) A escritura foi lavrada nas notas do tabelião do Porto,
Vitorino Alço de Macedo e Sousa, colocação no Arq. D. do Porto:
PO-1-N.° 529, da 4.1 série, flag. 13 verso a 18.
Cfr. Pereira Caldas na sua já aludida obra «Vbzdícação da
Propnkdade do Fa-
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casca de madeira, portanto antes da fábrica iniciar a sua
actividade, de har- monia com as declarações de Bishop acabadas de
transcrever. Efectiva- mente, o Dr. José Raimundo de Passos de
Proben Barbosa, oriundo da Casa e Quinta de Carneiros, nos
subúrbios de Guimarães, despachado, por decreto de 25-4-1804, juiz
de fora da vila de Caxoeira, no Brasil, publicou um opúsculo cujo
título extenso ã moda do tempo, assoalha O conteúdo;
«Estabelecendo-se uma grande fábrica de papel feito de vegetais (a
primei- ra deste género que se conhece) na Quinta de Sã junto ao
Rio Vizela, pelo senhor Francisco Joaquim Moreira de Sã, fidalgo da
casa de Sua Magesta- de, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, e
senhor da dita Quinta; cele- bra o dito interessante invento O
senhor José Raimundo de Passos de Pto- ben, juiz de fora da vila da
Caxoeira, na seguinte Ode, dada ã luz por um amigo de ambos e da
pâtría›>. . . Não contendo a data da impressão opinou Inocêncio
Francisco da Silva que dataria de 1804 .
Essa composição poética vem instruida de notas explicativas. Na
antis- trofe III alude-se a Moreira de Sã e ao seu invento:
«Mas o carão .rapz'em"e arcano: abre; Nem /be ë dado Pisar
trzlbadas vias! Agreste: Produções da natureza Darão matêrza ã
Pluma./››
Quer dizer, em 1804, data apontada da publicação da Ode, expressa-
mente há a referência ã nova forma de produção de papel - ele não
pro- duz papel pela fórmula e processos antigos, não pisa trilhadas
vias, mas abre arcanos porque inova o fabrico com pasta de
madeira.
Proben celebra o invento de Moreira de Sã como sendo realizado em
1802. E essa data a mais certa. E não estando ainda o complexo
fabril mon- tado e a funcionar (nem ainda em Abril de 1804 estava)
entendo que as experiências e a fabricação do primeiro papel
tiveram lugar em precárias instalações na Quinta de Sã.
É a ilação a extrair daquelas escrituras com os donos da Quinta de
La- goas: em 1798 ele adquire servidões de aqueduto para passagem
de água com destino ã Fabrica de Papel. Em 1838 os herdeiros
daqueles donos da Quinta de Lagoas dizem que não foram precisas
tais servidões por não se
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 185
ter «levado a efeito a construção da dita Fãbricã››, o que não ê
exacto, pois ã frente dizem que se construiu. e até recebem, nesse
acto, o pagamento do preço da madeira fornecida para o
efeito.
O que se pretendeu significar é que ela nunca entrou em laõoragão,
mas o papel de amostra, O dos sonetos, ao menos tinha sido
produzido.
Mas, pertinaz, vou perguntando: o invento seria de Moreira de Sã?
Ye- jamos. Sabe-se ter ele contratado o inglês Tomás Bishop para
dirigir a parte técnica da fábrica; que foi António de Araújo de
Azevedo, o futuro conde da Barca, que constribuíu <<com a sua
dedicação em Londres para resolver o hábil inglês Bishop a vir ser
em Vizela director da referida fábrica» (15).
A célebre e indispensável Ode de Proben refere-se na antístrofe III
(versos 5.° e 6.°) ao então príncipe regente e ao ministro de
estado António de Araújo, natural de Ponte de Lima, curiosamente
nascido na também cha- mada Casa de Sã.
Com efeito, depois de o varão sapiente (topo poético referente a
Mo- reira de Sã) ‹‹descobrir›› a nova matéria prima de fabrico,
canta Proben:
«Astro/be zäzfluz, Propíczb, Que luzes vibra em tomo ao ]o1/e
ÍII/0./»
O astro propiciador, comenta os dizeres métricos, ê António de
Araújo de Azevedo que concorreu em Londres com a sua influência e
actividade para resolver o hábil inglês Bishop, a ser director da
fábrica, e o ove luso ê o Príncipe regente D. João que recebeu as
radiações daquele astro e as despachou favoravelmente.
Alguns tratadistas - - e deles avulta o qualificado estudioso deste
tema Américo Cortês Pinto (16) - defendendo a invenção de Moreira
de Sã, argumentam que o técnico inglês surge em Portugal na outorga
da citada escritura do pacto social, em Abril de 1804, que,
portanto, antes da sua vinda já Moreira de Sã fabricava o papel
desde pelo menos 1802. O silo- gisMo tropeça com realidade
histórica diferente e vou rastrear as visitas de António de Araújo
de Azevedo a Inglaterra* para o surpreender no fla- gfânte das
diligências junto de Bishop.
(15) Cfr. Pereira Caldas in ‹‹Wndzbação...» pág. 13 e 14. (16) Na
revista Oczdente, local já citado em nota 4, pão. 100.
184 REVISTA DE GVIMARÃES
(17)
. Ora, ele fora nomeado Enviado Extraordinário e Ministro
Plenipoten. ciário de Portugal na Haia, em 1787. Partiu de Lisboa
só ernjunho de 17891 passando por Bristol, Oxford e Londres donde
seguiu rumo a Paris nos pri- meiros meses de 1790 . Ê inaceitável
esta data ao nosso intento, pois só em 1797, portanto quase sete
anos decorridos daquela viagem, Moreira de Sã expõe e requer ao
Governo sobre os seus trabalhos nesta matéria
Depois, quando António de Araújo cessou aquelas funções, em resul-
tado de incidentes políticos que ocasionaram a sua prisão na torre
do Tem- plo ordenada pelo Directório francês, saí de Haia em
DezeMbro de 1798 , por Berlim, passou pela Holanda e Inglaterra e
regressou a Lisboa nos começos de 1801. .
Antolha-se-me que, nessa conjuntura, era ainda cedo para Moreira de
Sã contratar o técnico, mas admissível. .
Finalmente, em Abril de 1802, António de Araújo de Azevedo é
nomeado ministro de Portugal na Rússia. Ele estaria, desde Dezembro
de 1801, em Londres, e aí recebeu as credenciais em 5 de Março de'
1802 já em Junho estancava na Haia a preparar a partida para S.
Petersburgo .
Parece azedo O ano de 1802 para as diligências do futuro Conde da
Barca em Londres, em prol da indústria nascente nas margens do
Vizela. Coonesta- -se com as ilações de Raul Brandão e António
Anselmo quando afirmam inferir-se da Ode de Proben ser no próprio
ano de 1802 que Bishop veio de Inglaterra para as Caldas de
Vizela.
Ele estaria no conhecimento da tentativa de Matias Koop, em 1801,
de fabricar papel com nova matéria prima. Todavia, no abalizado
conceito de Américo Cortês Pinto, Koop apenas requerera em
Inglaterra, uma li- cença dizendo que se podia fabricar papel «com
palha, detritos de nhamo e linho, enfim, com diversas espécies de
madeira e cascas». Salienta que Koop apenas pedira licença. Mais
nada. `
e
* * *
Voltando ao apuramento da data da chegada de Tomás Bishop a Sã, vou
contradizer os defensores do ano de 1804, quando dele se tem as pn-
rneiras notícias pela sua outorga no pacto social. .
No livro dos assentos paroquiais de Santa Eulália de Barrosas
existe a
(17) Pereira Caldas, l o . citado, pág 47.
câ-
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 185
prova de que Bishop assistia na Quinta de Sã pelo menos desde
meados de 1803. Efectivamente, Luísa Francisca, filha dele e da
esposa Tamzen Bis- hop, neta paterna de Guilherme Bishop e de Ana
Bishop, e neta ma- terna de John Hantford e de Jane Hantford, todos
naturais do Reino da Inglaterra, nasceu na Quinta de Sã, em
25-7-1803 e foi baptizada no dia
de Agosto. Paraninfaram Francisco Joaquim Moreira de Sã e mulher D.
Ana Peregrina que tocaram na neófita por procuração do Conde de
Cava- leiros D. Rodrigo de Menezes e da filha deste, D. Isabel. Ou
seja, foram padrinhos o aludido titular e a ilha, mandatando, para
o efeito, os senho- res de Sã, eis o que quis expressar na sua o
bom do vigãriojoaquim Álvares Coelho de Avê Maria.
Extrai-se do expedido que, em meados de 1803, Bishop e a respectiva
clã viviam em Sã e mantinham trato social relevante, ã conta dos
padri- nhos escolhidos para a filha. Tudo faz presumir que ele já
aí estaria desde algum tempo. Vai-se reportar a vinda do técnico
para 1802. Os elementos factuais ora carreados colmam o mesmo
objectivo para o ano de 1802.: che- gada de Bishop a Sã; primeira
fabricação do papel de material lenhoso.
Compreende-se, desta forma, o asserto de F. J. Moreira de Sã na
escri- tura de sociedade. Afirma ter determinado construir a
fábrica e proposto sociedade a jo sé Pereira Ferraz, Manuel Luís da
Costa, José Ventura For- tuna, José Pereira Ferraz Araújo Ribeiro e
Flórido Rodrigues Pereira Ferraz pelos lucros que dela se podiam
tirar «não só pela sua boa citação e abun- dancia de Agoas como
pella utelidade que podia rezultar pella nova desco- berta que o
habil Thomas Beshop tinha feito de algumas plantas e outras
aterias para fabricação de todas as qualidades de papel, e sobre o
que se tem feito varias experiencias››.
Por seu turno Bishop, naquele contrato, confessa: <‹...com
efeito tem descoberto varias plantas e outras aterias para se
fabricar toda a quali- dade de papel sem dependencia de trapos, de
que tem mostrado por expe- riencia o poderse fabricar na maior
perfeição e de todas as qualidades››.
São impressionantes estas afirmações dos directamente envolvidos no
processo. Levaram o Dr. Artur de Magalhães Basto a dar razão a
Sousa Vi- terbo ao concluir não ser portuguesa a invenção
(18).
Américo Cortês Pinto não atribui decisiva importância aquelas
afirma- ções vertidas na escritura. Observa que o técnico inglês
propunha o uso de
2
AV (18) «Falam Ve/bos Manuscritos» em ‹‹O Primeiro de Janeiro» dc
29-6-1945, do Dr.
de Magalhães Basto.
186 REVISTA DE GVIMARÃES
vários vegetais mas não referia especificadamente â Pasta de
madeira, que ele se comprometeu a declarar <‹sem rezerva;
alguma» -a. todos os sócios tudo o que tem descoberto C que
descobfir. Com esta última expressão Bishop não estaria seguro de
ter o assunto resolvido. E culmina Américo Cortês Pinto: ‹‹O certo
é que, não havendo qualquer referência à pasta de madeira É natural
admitir que, se o. experimentou, as suas experiencial não
conseguiram realizar o objectivo, tal como acontecera ao
compatriota Koop, e que fosse a insistência e o* entusiasmo de
Moreira de Sã que tivessem levado a bom êxito as experiências que
anteriormente haviam falhado›› (19).
Pareceria um paradoxo esta conclusão. Dir-se-ã: a acolher o
raciocínio acabado de transcrever haveria que reportar a invenção
do papel de pasta de madeira para depois da escritura social e da
publicação da Ode, que ambas são de 1804. Manifesta incongruência,
inaceitável de todo - a Ode em canto laudatório a Moreira de Sã
pelo seu gande invento... que ainda se não tinha verificado!
Os acontecimentos têm que ser vistos a outra luz e só nessa o Dr.
Ame- rico Cortês Pinto terá razão: por longos anos Moreira de Sã
vinha en- saiando a fabricação de papel com outra matéria prima.
Após a vinda de Bishop ambos reuniram o cabedal de experiências
acumuladase os resulta- dos até então conseguidos por cada qual.
Mercê desta conjugação de esfor- ços Bishop pôde realizar a ‹‹nova
descoberta de algumas plantas e outras matérias para a fabricação
de todas 25 qualidades de papel››, revela fidalgo empresário na
escritura do pacto social, para logo acrescentar: sobre o que se
tem feito varias experiências››.
Conseguido o processo e fórmula da produção, ainda se apresentava
um produto rudimentar, a exigir continuação das experiências para o
seu aper- feiçoamento. Assim se compreende que àquela imputação
subjectiva a Bis- hop da «nova descoberta››, Moreira de Sá
acrescentasse de imediato <‹e so-
bre o que se tem feito várias experiências››, o mesmo ê que dizer,
sobre o que nós temos feito várias experiências, ele como técnico
ao meu serviço e eu como empresário, dirigente e conhecedor da
poda.
Certo que Bishop, lã mais para a frente daquele contrato, refere
ter des- coberto várias plantas e outras matérias para se fabricar
toda a qualidade de papel sem dependência de trapos «de que tem
mostrado por experiên-
O
«C
(19) Revista Ocidente citada, pág. 99 e 100.
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÃ 187
ia poder-se fabricar na maior perfeição. . .››. Estas experiências
foram prati- cadas no exercício do seu cargo de técnico da empresa
até então só de Mo- reira de Sã.
Pereira Caldas, em outra e também interessante publicação, NOTÍCIA
ARQUEOLÓGICA DAS CALDAS DE VIZELA, editada em 1853, escre= ver que
no sítio da Cascalheira nos começos do século se começou «a erigir
uma fábrica sumptuosa de papel de todos os lotes (só feito de
produções agrestes que no geral se haviam como inúteis) e do qual
só apenas se che- garam a tirar amostras, que o seu laborioso
instituidor, o irado cavalheiro Franciscojoaquim Moreira de Sã,
então dirigira ao príncipe regente e à prin- cesa sua consorte, com
dois curiosos sonetos seus›>.
* * *
Vem a ponto formular as seguintes conclusões, extraídas do
arrazoado precedente: ..
a Moreira de Sã desde, pelo menos 1797, experimentava novas fór-
mulas de produção de papel, com o abandono do trapo como
ateria prima, b) há notícias que, naquele ano, começara o
empreendimento da
fábrica, com a prévia alienação de vultosos bens; c) ele afoitou-se
por essa senda, comprometendo o património avoen-
gueiro, ao realizar experiências com bons resultados eperspecti-
var certo o êxito, a ponto de adquirir terras para cultivar árvores
donde extrairia a matéria prima,
graças ã mediação de António de Araújo de Azevedo contratou em
Londres, por 1802, o técnico Bishop para dirigir a parte técnica da
empresa, Bishop logrou produzir amostras desse papel, afirma no
pacto social Moreira de Sã, e o próprio Bishop nisso convém,
produção essa verificada antes mesmo da fábrica iniciar a
laboração, porque na escritura de 1804, da constituição da
sociedade, ele obrigava- -se a revelar sem reservas todos os
materiais utilizados e operações
6)
1-
â)
.
a atribuição, na Ode de Proben, do invento a MOreira de Sã não
contradiz as conclusões anteriores, porque foi devido ãs suas dili-
gências, empenhamentos, construção de edifícios, e às experiên-
cias por ele próprio desenvolvidas durante muitos anos, â ulterior
contratação do técnico inglês e ã reunião dos conhecimentos de
ambos- que se logrou O êxito, aliás, aquela fabricação do papel
vegetal ainda pressupunha prosseguimento das investigações e
experiências por isso, oexten- síssimo Alvará Régio concedendo
licença para o estabelecimento da fábrica, datado de 24-1-1805,
refere que o privilégio conce- dido por 25 anos não era só «para as
manipulações que lhe são conhecidas, mas também para aquelas que se
fossem achando, apet- feiçoando e aplicando a diversos usos, visto
estar muito em princi- pio uma descoberta de tanta importância e
que só pode desenvolver- -se pela prática mais meditada››
(20).
O
* * *
.-
(20) Arq. Nac. da Torre do Tombo flag. 132 verso.
Chancelaria de D. Maná I, próprio, Livro 74.
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÃ 189
«Enquanto o Monstro vela, os Lusítanos Dormem
,
acaso? acaso descansados No regaço da Paz, ao ócio entregues! Que é
isto, bravos Lusos! porventura Julgais tudo acabado? quando apenas
Mal os ombros meteis à grande empresa!
4
Às armas, Lusítanos, correi prontos, Daí aos Manes d'Herois
heróicos feitos.»
OS
No dizer de Pereira Caldas, a inveja que nada poupa, alcunhando de
jacobino feroz o patriota Franciscojoaquim Moreira de Sã,
arrasou-lhe até
alicerces a sua fábrica dilecta, em ocasião dos desenfreies
plebeus. O brigadeiro Carlos Azeredo, na sua excelente obra AS
POPULAÇÕES
A NORTE DO DOURO E OS FRANCESES EM 1808 e 1809, relata nume- rosos
casos de perseguição dos suspeitos de ‹‹afrancesados›› e, ao
referir ocor- rências semelhantes na cidade do Porto, comenta
a
<‹. . .uma das páginas lamentáveis da Guerra Peninsular,
perseguição que denunciava-se por
propósito :
em breve se iria estender a todo o País, prendia-se ou simples
suspeita, por vingança pessoal, por apetite de bens alheios, e
condenavam-se sem julgamento nem defesa, desgraçados que muitas ve-
zes nada tinham a ver com os franceses» (21).
Era verdade que Moreira de Sã tinha tomado o terceiro grau da Maço-
naria por 1790, .mas abjurara perante o Santo Ofício onde s
apresentou voluntariamente em 1792 (22).
A afirmativa do atrasamento da fábrica até os alicerces não faz
ponto com a óbito de Rodrigo António Moreira de Sã, ilho do
empresário vizelense,
Maria Marfida Moreira de Sã, casada
reclamação apresentada em 1841 no processo de inventário por
pela qual a ilha do inventariado, D. Hã Casa da Sapateira, em
Torrados, Felgueiras, requeria a relação da «Grande Casa da Fábrica
de Papel, herdade da Quinta da Cascalheira em que a dita Fábrica se
acha situada...››. . -
Américo Cortês Pinto pergunta no seu estudo: E o técnico Bishop
?
Obra citada, pág. 35. Torre do Tombo, processo do próprio no Santo
Ofício, n.° 8595 .
190 REVISTA DE GVIMARÃES
Para logo responder + . não se ouve falar mais dele, nem a
indústria nasce! E só em 1867 se generaliza o fabrico de papel
de×madeira.
rã.
* * *
Vou dar conta dele e de Moreira de Sã. Tomás Bishop fugiu para a
América do Norte. Na carta apor ele subs-
crita de Filadêlfia , em 18-10-1816, e endereçada ao Condeda Barca,
en- tão primeiro ministro, cumulando a pasta da Marinha e DoMínios
Ultra- marinos, estando a Corte no Rio de Janeiro, diz no essencial
(a missiva está redigida em inglês): o Conde de Galveias (fora
ministro dos Estrangeiros e da Guerra, falecido em 1814)
expressara-lhe o desejo que ele Bishop em- barcasse para o Brasil,
mas a morte deste titular pusera termo ã correspon- dência.
Acrescenta: a causa de não haver embarcado para o Brasil foi a de
ter perdido os bens em Portugal na invasão francesa e na América a
guerra e as suas consequências reduziram-lhe ainda as
circunstâncias de vida. De forma que se encontrava com numerosa
família, de cinco filhos, e obri- gado a permanecer naquele país
por falta de recursos para a viagem. Era, porém, seu interesse
obter dinheiro e embarcar com a família rumo ao Bra- sil. Eabre o
jogo do seu propósito: «Eu desejo na chegada aí alguma colo- cação
permanente que me habilite a sustentar a família com decência››.
Pe- de para o efeito, a protecção do destinatário Conde da
Barca.
Não lhe rastreei outra peugada. E o que fez 0 fidalgo de Sã, homem
empreendedor, de dinamismo sin-
gular, desde O colapso da sua efémera indústria até Fevereiro de
1852 quando, com 84 anos, foi tumulado em sepultura própria
naCapela de invocação de Santa Ana, da Quinta de Sã? °
A resposta a esta interrogação encontra-se, bem como a carta do
Bishop atrás aludida, no espólio do Conde da Barca. Espólio esse
que andou aos baldões no Rio de Janeiro onde o titular faleceu em
1817, e daí veio para Portugal, permaneceu durante mais deU .século
na posse da família, depo.is em poder do Dr. Manuel de Oliveira e,
pelo decesso deste clínico foi adquirido para a Biblioteca Pública
de Braga (23).
(23) Cfr. ‹‹Correspondênczkz Irzêáta entre o Conde da Barca e ]o.fê
Egídzb Â/1/ar€J de Almada, secretãrzb partztu/arde E/-Rei D. .]oro
VI››, pág. 6, pelo coronel josé Bgpnstfi Barreiros.
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 191
Moreira de Sã não esmoreceu do afã produtivo. No Brasil planeou
outros empreendimentos, nomeadamente a fabricação do papel que,
pela primeira vez, como vimos, fora manufacturado na Fábrica Real
de Papel e de Tinturaria de Sã, como a designou o Alvará de 1805 já
citado, eu Real Fábrica de Papel e Tinturaria denominada de Sã,
como vem mencionada no Suplemento de A GAZETA DE LISBOA, ao
noticiar a expedição da- quele diploma régio (24).
As oito cartas por ele escritas no Brasil para António de Araújo de
Aze- vedo compreendem 0 período que medeia de 14-8-1815 a
20-6-1815. Am- bos viviam no Brasil e após o decesso, em 1814, do
Conde de Galveias, 0 Príncipe Regente chamou, novamente, António de
Araújo ã governação, confiando-lhe agora o cargo de Primeiro
Ministro e o Ministério da Mari- nha e Domínios Ultramarinos
(25).
I - Na carta de 14-8-1815, remete o mapa do Morro da Cachaça -
reporta-se a um projecto de mineração e diz ao futuro Conde
da<Barca
que, no próximo correio, segue extensa carta <‹em que Ihefalarei
duma via- gem dos meus negócios e das minas da Cachaça››. .
.-
II - Volvido um mês, em 30-9-1813, escreve de Vila Rica:<‹Hoje
são os Antros do Sr. Palma, honrem foi hum dia ocupadissimo com a
grande festa que João José Maria deu na sua chacra em obzequio do
dia de hoje; e eu fiz hum composição dramatíca, que agradou muito
talvez pela lin- dissima musica, que um Professor daqui lhe fez
para ser cantada››.
Acabara de receber de Bazílio Teixeira a carta e mais papéis,
informa, e nem tempo tem de ler, mas como sabe pertencerem ao
negócio da Ca- chaça não demora em lhe remeter.
Estas cartas, que abenamente aludem ao negócio da mineração do
Morro da Cachaça, fazem-me super que António de Araújo nele estaria
também Interessado, de sociedade com Moreira de Sã. Ocorre recordar
que António de Araújo, desde a chegada ao Brasil e até 1814, esteve
afastado da gover-
No seu número VII, de 15-2-1805.
B «Emwzb de Bzbgmfa do Conde da Barca››«, pág. 52, do coronel José
Baptista aüeíros.
(24) (25)
192 REVISTA DE GVIMARÃES
nação por intrigas políticas dos seus inimigos pessoais, da família
Sousa Cou. tinha. Entretanto, dedicou-se a múltiplas actividades
culturais e cmpresa- riais. Ademais, Moreira de Sã estava na
ciência dos empreendimentos da- quele desde há muitos anos. Com
efeito, antes das invasões francesas, era O futuro Conde da Barca
ministro dos estrangeiros e da guerra quando se propôs estabelecer
uma manufactura de fiação e tecelagem na quinta da Prova, no termo
dos Arcos de Valdevez. O fidalgo vizelense, por carta de 22-1-1806,
orientava-o, prestava-lhe o seu parecer e concurso e até
diligenciava conseguir sócios para o empreendimentos .
sua
III - Moreira de Sá, na terceira carta, esta datada de 30-10-1813,
diz- -se informado que António de Araújo vai solicitar ao Conde de
Aguiar (este dirigia na conjuntura as Secretarias de Estado do
Reino e Fazenda e era ministro assistente ao Despacho) que expeça
um Aviso ao Sr. Palma para proteger ‹‹a premeditada Manufactura de
Papel›› e por esse patrocínio valioso não tem dúvidas do despacho
favorável e com brevidade.
Confidencia que após a saída do Rio tem cobrado alguns créditos
(ele chama dívidas) e leva para Santo António era a fazenda onde
vivia
- algumas patacos «mas quero montar em ponto pequeno a Fábrica como
avisei a V. Ex.9››. a
IV - Decorridos escassos meses, em 29-3-1814, desabafa com Antó-
nio de Araújo, a dado passo: «Quanto mais conheço a minha fazenda
de Santo António mais conheço que o desmazelo dos seus Possuidores,
servi muito para ma deixarem no estado de tirar dela muitas
utilidades e as ex- periencias que tenho relativas a Papel tem dado
bons resultados, mas as- sim de que tudo possa prosperar são
necessários desembolsos com que e poderia, se os meus devedores
pagassem o que me devem, huns porem es- tão falidos, outros he
necessario dar-lhe esperas para que vão pagando: Resta -me o meio
de associaçoens, meio de que eu dezejo escapar: Resta-me ai da
outro meio de que eu lanço mão, e he que a Fazenda Real me
compff
as agoas e lavras que tenho no Morro de Gaspar Soares, no que lucra
muito a bem da Fabrica de Ferro, pelas despe2as que poupa com esta
aquizição>>- Pede, no anal, a interferência do destinatário
junto de quem de direito
Pelo teor desta carta, Prima flzcie poder-se-ia cair na tentação de
coá cluit não ter Bishop cumprido ao que se obrigara no pacto
social: «il declfl
I I
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 193
rezerva alguma a todos os socos todos os materiais, e
operações
Moreira de Sã, ainda em 1814, dez anos decorridos, não domi-
material lenhoso demandou longo ter experimental. Vimos que
ele
sócios capitalistas, que então ingressavarn
diante analisadas, ele já noticia o e outras plantas que não
precisam de branqueação e acrescenta:
..as que precizão branquear-se ficão para Papel pintado., embrulho,
pol- vilho, etc.››. Hemos de convir que ele era um consumado
técnico naquele ramo da indústria.
Far sem químicas que tem descoberto e que descobrir para a
manufactura do papel. . .››. narra o fabrico de papel e estava nas
experiências, aliás com bons'resulta- d05, informava.
Seria, no entanto, uma interpretação errada. A produção do papel
com 0 andava nesse afã desde 1797, pressentira encontrar-se no
limbo da fabrica- ção; contratara o técnico inglês, uniram
esforços. Foi apresentada para amos- tra na Real junta do Comércio,
Agricultura, Fábricas e Navegação do Rei- IlO e seus Domínios
<‹bons ensaios›› do «novo papeI››.
Portanto, quando Bishop declara obrigar-se, sem reservas, a
declarar as suas experiências, visava os na empresa, pois que com
Moreira de Sã ele trabalhava desde há anos.
O conteúdo da carta tem de ser interpretado ã luz da realidade
brasi- leira onde ele vivia. Moreira de Sã experimentava no Brasil
outra matéria provida de flora diferente da metropolitana. Por
isso, nas subsequentes cartas ao embiras
fabrico de excelente papel de
V - Na epístola de 10- 10-1814, lamenta que «metido entre matos»
não tenha possibilidades de saber amiudamente da saúde do
destinatário.
Bem precária era ela, alterada profundamente por depauperamento
ner- voso. «Lenta nervosa›› foi a classificação da doença que
vitimará o ministro três anos depois. .
Mais acrescenta na carta que não logrou vender ã Câmara as lavras.
Pensa ttansaccionã-las através de uma lotaria. Carece, no entanto,
de licença e, para esse fim, remete-lhe inclusa a petição. .
Confidencia-lhe as suas próximas perspectivas. Aquela transacção
Permitir-lhe-ã associar-se a outra pessoa para estabelecer a
fábrica na Fa- zenda de Santo António. Logo de seguida venderá a
fábrica e a Fazenda
O mesmo sócio ‹‹a em de hir ver os patrios lares, e remediar
desordens que Nascem da minha auzencía, e gosar da felicidade da
Europa assim como Participei das suas amarguras, entrando muito em
conta poder dar haja boa
ao se.u Poeta, que cada ve2 promete mais››.
194 REVISTA DE GVIMARÃES
VI -- Na carta sem data, mas constitui a sequência da anterior, in-
forma ter recebido a ordem para apresentar o plano do jogo da
lotaria com que se propõe alienar as lavras do Morro de Gaspar
Soares, o que já cum. priu e dele envia cópia inclusa. ..
Muda de assunto, opinando que seria bom Sua Alteza isentá-lo do
pagamento da sisa em atenção ã manufactura que se propõe
estabelecer.
.
A cópia do plano da lotaria efectivamente acompanhou a carta. Lê-se
nele ter por objectivo proporcionar-lhe os meios de estabelecer uma
manu- factura de papel. A proposta consiste: «Dar em hum Premio as
mesmas Lavras do Morro promiscuamente chamado de Antonio Soares ou
de Gas- par Soares sitas na comarca de Vila do Principe, que são
ricas, tem boas cazas em que pode viver qualquer Familia muito
decente, tem roças, e bas- tantes agoas para minerar, as quaes em
pagamento de haja divida entrarão no meu Dominio...››.
VII - Em 20-6-1815, acusa a recepção da carta do ministro António
de Araújo a noticiar-lhe a licença concedida para a.lotaria,.o que
agradece. Escreve depois: . . |
«Para me entreter em algumas horas de melancolia, empreendi fazer
hum Poema, e já fazia tenção remeter a V. a Ex. a o esboço, que
agora rc- meto suplicando a V. a Ex. ", que nas horas do café
pagasse pela sensaboria de o ler, porque tendo a aprovação de V. a
Ex. a trataria de lhe.dar haja mão de beniz para que fosse ao
Prelo, sem vergonha das Musas Portuguesas, as desagradaveis
noticias que agora não transtornarão o meu Plano, mas tenho muita
esperança que a nova viagem de Bonaparte a Paris, venha a dar
assumpto para o quarto C2IltO›>.
VIII -- Finalmente, aprecia-se a última carta de Moreira de Sã a
Antó- nio de Araújo de Azevedo. Está incompleta, daí também
ignorar-sc 3
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 195
I I I I
data. E tão importante ela ê! Dilucida que tem uma fábrica em ponto
pequeno que faz papel. Pensa vendê-la pois todas as esperanças
estão no serviço da mineração que trás entre mãos. A Fazenda, onde
sedia a fábrica de papel, ê considerável mas não logrou interessado
que a pagasse com dinheiro ã vista. Lembrou-se de requerer licença
para a trespassar em lota- ria. Pede, ao intento, as boas e
urgentes diligências do Conde da Barca. Por esta referência ao seu
protector vê-se que a epístola foi escrita poste- riormente a
17-12-1815, data em que o destinatário foi agraciado com aquele
título.
A jeito de Post scriptum Francisco j. Moreira de Sá,
transversalmente na última folha da carta, informa: «O tal Poema
que tratou da Queda de Bonaparte e que V . a Ex. a me diz que la
achara não era mais que hum esboço, necessitava de muita lima que
ja tem, mas estou com pouco favor de o dar o Prelo; talvez tenha
passado a moda de falar em semelhante Homeml»
Alentou O ânimo, entusiasmado pela queda de Napoleão e o poema foi
editado com cinco cantos. Ele, na carta antecedente, como se viu,
pre- vira compor o quarto canto caso a fuga da ilha de Elba e o
regresso a Paris do imperador justificassem o acrescento. E na
verdade, aquela aventura durou cem dias, rematada na batalha de
Waterloo.
Ele cultuava os dons do espírito e sabia poetar (26). No Tribunal
do Santo Ofício, quando seapresentou para abjurar da Maçonaria;
foi-lhe per- guntado como era possível que sendo ‹‹um homem de
literatura e conheci- mentos» ignorasse a proibição papal daquela
Sociedade. Moreira de Sã res- pondeu <‹que tem feito profissão
de estudar ramos inteiramente diferentes daqueles que lhe podiam
dar socorro para vir no conhecimento das Leis Eucaristicas, visto
que politica e belas letras fazem o artigo da sua maior aplicação»
(27).
Ainda em Sã dedicou-se ã cultura do bicho da seda. O exemplo vinha
da corte pois a princesa D. Carlota Joaquina criava grande
quantidade de bicho da sede dentro do seu próprio quarto, no
Palácio de Queluz (28).
Francisco Joaquim Moreira de Sã viveu em época sacudida por
violen-
(26) Cfr. «Uma Sessão Aeadêmzba em Guimarães em 1776», separata do
vol. LXW da Revista de Guimarães, pelo coronel José Baptista
Barreiros.
(27) Processo do Santo Ofício citado em nota 22 . (28) Cfr.
Suplemento da Gazeta de Lisboa, de 7-6-1805.
196 REVISTA DE GVIMARÃES
tas convulsões sociais e políticas. Vítima das contradições do seu
tempo opor esse facto rnalquistado da sorte, até na viagem de
regresso do Brasil os piratas roubaram-lhe o aforro embarcado,
segundo " corre na tradição familiar. . .
O aço da vontade e as prendas do engenho compensavam nele os suces-
sivos escarmentos.
Esta ê a homenagem prestada ã sua larga visão de empreender, ã sua
constância, sensibilidade, elevada cultura e amor da pátria e da
família,
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escrita em Vila Rica a 20-10-1814, ao futuro Conde da Barca.
A PRIORIDADE DO FABRICO DE PAPEL NA QUINTA DE SÁ 199
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Carta escrita por Thomas Bishop, em Gcrmantown, proximo de
Filadélfia, a 18-10-1816, ao Conde da Barca.
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