Revista Circuito

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A primeira edição da Revista Circuito, recebeu algumas atualizações para uma leitura mais confortável. Tudo para a melhor satisfação dos nossos leitores.

Transcript of Revista Circuito

ACERVO DA LAJEA VIDA VALORIZADA EM PEQUENOS OBJETOS

BARRACÃO DAS ARTESPARQUE SÃO BARTOLOMEU

TEATRO DE PLATAFORMAILÊ AIYÊ

10

0612

ACERVO DALAJE

BARRACÃO DASARTES

PARQUE SÃOBARTOLOMEU

08 - CENTRO CULTURAL DE PLATAFORMA14 - ILÊ AIYÊ

MAIS...

foto: Gênesis Freitas

foto: Gênesis Freitas

foto: Barracão das Artes

Fora do circuito comum a cidade pulsa muita cultura, natu-reza e história. Em cada canto de Salvador existem histórias que devem ser contadas, mas que por interesses são ignora-das pelas mídias de massa, existindo assim apenas para o se-leto grupo de pessoas que convivem com aquele ambiente.

Quantos soteropolitanos desconhecem os encantos e objetos raros do Acervo da Laje, localizado no bairro de São João do Cabrito? Quantos baianos desconhe-cem as histórias das arvores, cachoeiras e plantas do Parque São Bartolomeu, localizado no coração do su-búrbio ferroviário de Salvador? Quantos projetos que verdadeiramente mudam a vida de uma comunidade existem, porém, são desconhecidos do grande público?

A existência da Revista Circuito se dá pela necessida-de desses locais, dessas histórias e desses projetos se-rem vistos e expor que vivemos em uma Salvador que não se limita apenas artisticamente e ecologicamente a Barra, Ondina, Campo Grande, Graça e Pelourinho.

A CIRCUITO CHEGOU

MAIS...

GÊNESIS FREITASeditor-chefe

ESTRADA DE CAMPINAS - SÃO CAETANO - SALVADOR - BAHIA - BRASIL email: circuito@circuito.com.brJUNHO/2014

EDITOR-CHEFEGÊNESIS FREITAS

FOTOGRAFIAGÊNESIS FREITAS PALOMA MOTA

CHEFE DE REPORTAGEMFILIPE OLIVEIRA

ILUSTRAÇÃOGÊNESIS FREITAS

REPORTERSFILIPE OLIVEIRAPALOMA MOTA

REVISÃOGÊNESIS FREITAS

Desse grande projeto, nasceram grandes mon-tagens, como: Mitologia do Kaos – Juízo Final (2008); Uma temporada no paraíso (2012); e a mais recente e uma das mais encantadoras: Po-esia de Eros (2015), que retrata o Mito de Eros, Deus do amor, em que as personagens são anjos e mitos que se metamorfoseiam em ações/sen-sações a partir de situações intensas em que o Amor é a mola propulsora. Na adaptação do di-retor Fábio Viana a antiguidade e o contemporâ-neo se fundem, transformando o espetáculo em uma dança que dialoga com as culturas afro, in-dígena brasileira e grega. Esta é a 5ª montagem do Bando de Teatro Sem Nome que tem como in-tuito desenvolver uma interação com o público.

GRANDES CLASSICOS

Arte para todos os públicos, arte para quem não conhece.

A arte é de fato algo incrível, chega as vezes de forma não tão esperada, mas faz discípu-los de todos os lugares e idades, induz o ser humano a pensamentos que um dia achou não ser capaz, e faz da ideologia, algo es-sencial para a formação de um cidadão. O Barracão das Artes é exemplo eficiente disso, com atividades iniciadas em 2012, sob o comando do Diretor Teatral e Arte Educador, Fábio Vianna, o projeto faz a di-ferença por onde passa. Mas o nome do projeto, se dá exatamente por causa do es-paço onde acontecem a maior parte dos en-saios, que é o Cento Cultural Barracão das Artes, situado no Forte do Barbalho (bairro de Salvador). Foi preciso investir bastante no espaço, já que precisava dos instrumen-tos e materiais necessários para o trabalho. O foco do projeto é levar aos jovens soteropo-litanos, a arte do teatro, algo que ainda man-tém uma certa distância da população, e o tra-balho é assíduo por parte dos responsáveis. Dentro do Barracão, funciona o coração do projeto, que é o grupo “Bando de Teatro Sem Nome”, que surgiu em 2006 por acaso, quando o diretor estudava a obra de Jorge Mautner, “A Mitologia do Kaos”, criada pelo autor em 1956, como intuito de exaltar a cultura brasileira e torná-la a maior do sé-culo XXI. A formação artística do bando é o principal objetivo do grupo, e está sempre aberto para a entrada de novos integrantes.

Várias oficinas são realizadas no Barracão, tendo como principal montagem o teatro, mas além disso, outras demonstrações ar-tísticas são expressadas e aprendidas lá. Na dança, alguns estilos como: dança mo-derna; dança afro e balé. Oficinas de can-to e música também são encontradas, e ainda há espaço para artes circenses, e os estudos e análises da literatura e da po-esia. A análise de textos poéticos é algo constante no espaço, ainda mais por ser a mola propulsora do trabalho da equipe.

Quando iniciado o projeto, muitas das apresentações tiveram entrada franca para o público, e vários jovens que as-sistiam apenas como espectadores, hoje fazem parte do grupo como artistas.

O Barracão já passou por vários bair-ros de Salvador, tais como: Saraman-daia; Pau da Lima; e bairros do Subúrbio que foram Alto da Terezinha e Periperi. Com o belo trabalho da equipe, muitos jovens tiveram suas vidas transforma-das, e hoje têm melhores expectativas para o futuro, e passam isso para outros.

Para Fernando Konday, atual integrante do grupo e morador de periferia, a pro-cura por parte da população para certas oficinas é bastante satisfatória. Segun-do ele, as maiores procuras são para as oficinas de percussão e música, chegan-do a atingir 45 alunos de percussão em atividade, e a faltar material para tantos futuros percussionistas. O projeto em si, consegue reunir pessoas de diferentes bairros, e curiosamente diferentes classes sociais, desfazendo assim um dos piores problemas da sociedade: o preconceito.

Para Fábio Vianna, trabalhar o lado huma-no dos integrantes antes de definir o papel de cada um, é de extrema importância. Segundo ele, primeiro se define o ser hu-mano, o cidadão, e depois o ser artístico.

Mais uma das faces da grande Salvador não muito conhecidas, mas que precisam de maior visibilidade. A cultura, a arte e a educação estão aí, e clamam por liber-dade, por corações que sentem que pre-cisam delas. Vá hoje mesmo a um teatro!

Mais informações sobre o projeto Bar-racão das Artes entre em contato pelo email: barracaobtsn@gmail.com

por Filipe Oliveira / foto Barracão das Artes

CONHEÇA O BARRACÃO DAS ARTES

Depois de quase 20 anos com as por-tas fechadas, o Cine-Teatro de Platafor-ma, foi reformado e reaberto, depois que a comunidade em manifestos e abaixo-assinados, protestou pela rea-bertura do local. É por conta de sua re-abertura, que anualmente o Fórum de Cultura e o gestor residente do teatro, realizam o “Caldeirão Cultural”, um festival celebrando a vitória do povo que quis trazer a cultura de volta a Plataforma. Além do Festival, diversos eventos também são parte permanen-te e anual da programação do Centro.

A intenção do teatro é chamar o povo para participar de suas realizações, seja na platéia ou em cima dos palcos, para isto é realizado o evento Plata-forma de Talentos, onde jovens artis-tas tem a chance de se apresentarem. Com a mesma intenção, foi criado o in-timista evento Lá no Fundo do Quintal, onde apresentações são realizadas no fundo do teatro, dando mais liberdade para o público interagir com o artista.

O Centro Cultural de Plataforma é gerido pelo governo estadual e con-ta com a coordenação de Márcio Ba-celar, com o Fórum de Arte e Cultura do Subúrbio. Treze grupos culturais são residentes no teatro, são respon-sáveis por maior parte dos eventos realizados no local. O grupo mais antigo é o Herdeiros de Angola, es-pecializado em dança afro e teatro.

Apesar dos apelos da comunidade, o Centro ainda é pouco frequentado pelos moradores do bairro. “A comu-nidade e o Centro tem uma relação meio complicada as vezes. Acontece de pessoas de fora virem mais ao cen-tro, do que quem está por perto e que nunca entrou lá”, desabafa Fabrício Cumming, produtor cultural e parti-cipante do Fórum de Arte e Cultura.

CINE-TEATRO LEVA ARTE, MÚSICA E DANÇA PARA A COMUNIDADE por: Gênesis Freitas e Paloma Mota / foto: Paloma Mota

CENTRO CULTURAL DE PLATAFORMA

Um lugar simples, apertado, aconchegante e encantador no São João do Cabrito, Subúr-bio Ferroviário de Salvador, assim pode-se descrever o que é Acervo Da Laje. Sem títu-los ou enfeites, simplesmente “a memória do suburbano”, como o pesquisador e fundador do espaço, José Eduardo gosta de chamá-lo.

A história do Acervo começa, quando José Eduardo desenvolvia o trabalho acadêmi-co na faculdade que cursava, juntamen-te com o fotografo Marco Illuminati, mas só em 2011 que a ideia foi realmente coloca-da em prática e que as obras começaram a chegar, a primeira delas foi uma máscara de Iemanjá , criada por Otávio Bahia, um artis-ta de Fazenda Coutos, que faleceu em 2010.

A partir daí as obras começaram a multipli-car e o pequeno espaço separado na casa de José, foi ficando pequeno e precisava de mais. A partir disso, ele decidiu que a laje da sua casa se transformaria de fato no Acervo, aquele lugar que antes era das festas da famí-lia, hoje estaria repleto de memórias de todo o povo suburbano. Espaço este que já está pequeno novamente e que agora será am-pliado para uma outra casa no mesmo bairro.

Sem ajuda financeira do governo, com seu próprio esforço, José se diz orgulhoso pelo trabalho que tem feito, sua vontade está sen-do cumprida, o que ele sempre quis mos-trar (antes mesmo da ideia do projeto) era o subúrbio por trás do que a mídia mostra, por trás das guerras e tráficos que é visto.

Há tanta coisa escondida aqui, é isso que deve ser mostrado. José esta certo! O inte-ressante da história do espaço, é que o que começou com uma “viagem” do pesquisa-dor, hoje é um centro para a comunidade.Por grande parte dos objetos serem encon-trados, inclusive no lixo, amigos começaram a perceber que poderiam também fazer isso acontecer. “Acho graça, por que hoje em dia quando olho algo bonito, eu pego e pen-so que o Zé gostaria daquilo e que o povo merece ver o que seu povo fornece.” Conta Ana Vaneska, amiga e Produtora Cultural.

A Bienal da Bahia foi um grande e impor-tante passo na história do Acervo, após 100 dias aberto e reportagens de gran-des emissoras televisivas, não só turistas conheceram e se encantaram. O mais in-teressantes, é que moradores do próprio Subúrbio Ferroviário não conheciam o es-paço, ironicamente, não conheciam o es-paço que conta um pedaço da sua história.

No acervo da laje objetos que vemos no cotidiano e deixamos passar, não imagi-namos o quanto de poesia aquilo pode trazer. Lembranças, histórias e preciosida-des de um povo, este é o Acervo da Laje. Este é o bem do carismático José Eduar-do, esta é uma parte do Subúrbio em que é preciso gritar para o mundo enxergar.

Quadros, objetos antigos, carros de ma-deira, fitas do Senhor do Bonfim, escul-turas em madeira, moedas e cédulas an-tigas, instrumentos musicais, imagens de santos e de orixás, cd’s e discos, uma bi-blioteca particular, placas de ônibus, brin-quedos da infância são objetos que ve-mos no cotidiano e que deixamos passar.

O ACERVO TEM:

por Paloma Mota / foto Gênesis Freitas

ACERVO DA LAJE

Ao fundo uma fonte da natureza que hoje escorre águas poluídas, e que passam por tratamento. Mais próximo, essa bela planta, para tra-zer a certeza de um renascimento.

NATUREZA E POLUIÇÃO

O Parque São Bartolomeu há algumas décadas, era bastante visitado por pessoas de diversas regiões da cidade, e até mesmo por turistas, mas por um lon-go tempo, manteve-se num to-tal abandono, tornando-se um ponto para confrontos entre tra-ficantes, e espaço onde carros eram queimados, e corpos eram abandonados depois dos crimes. Mesmo com esses grandes pro-blemas, a grande área de mata ainda continuou a receber os candomblecistas, que o visitam para fazer os seus rituais e cul-tuarem os orixás. Muitos mora-dores de Pirajá, ou de bairros da suburbana, sempre usaram o parque como trilha ou atalho.

Mas a história do Parque São Bartolomeu não ficou marcada pelos fatos trágicos, e hoje se mostra um novo espaço, graças a um projeto decente do Gover-no da Bahia em parceria com a CONDER (Companhia de Desen-volvimento Urbano do Estado da Bahia). O projeto de revitalização da reserva, começou a ser con-cebido a partir de 2007. A parte urbanística começou a ser pen-sada em 2009, e a execução do projeto durou de 2010 a 2014. No dia 4 de Outubro 2014, foi realizada a inauguração do novo parque, trazendo como parti-cipante, a ilustríssima cantora baiana, Margareth Menezes.

Cerca de 25% do orçamento da obra, foi investido em ações sociais para conscientização da comunidade do entorno. Ainda segundo Tanisia Vieira, coorde-nadora do projeto, serão cons-truídas duas delegacias para aumentar o nível de segurança para os moradores da região. Ainda num espaço criado em uma das entradas da reserva, são oferecidos acesso gratuito à internet, e oficinas de capoeira; dança e teatro, para a popula-ção das comunidades próximas.

REVITALIZADO O PARQUE VOLTA A SER UMA BOA OPÇÃO DE LAZER EM SALVADOR

por Filipe Oliveira / foto Gênesis Freitas

Talvez você em algum momen-to sem nem puxar o assunto, ou-viu da boca de alguém a frase “Parque São Bartolomeu”, e por curiosidade perguntou o que po-deria ser, ou apenas deixou pas-sar despercebido. Acontece que, esse é o nome de uma extensa área natural presente entre o su-búrbio e a periferia de Salvador.

Batizado em 1969, pode se di-zer que o parque é um dos mais belos espaços naturais que se pode encontrar em Salvador. E a carga histórica do lugar, é muito interessante, mesmo sen-do pouco conhecidas pela pró-pria população soteropolitana.

Segundo histórias contadas por antigos moradores, e até por ensinamentos dados em algu-mas escolas, o parque já foi es-paço para cenário de batalhas da época da independência da Bahia, entre General Labatut e possíveis invasores do bairro de Pirajá, que é acima da reserva. Conta-se que o general levava o seu cavalo até as cachoeiras, para que o animal pudesse ma-tar a sede depois de tanto sufoco.

Outra história interessante, con-ta a fuga do Quilombo dos Uru-bus, que tentaram se esconder dos senhores atrás de enormes pedras próximas a uma das ca-choeiras. E tais pedras trazem marcas, que foram feitas por tiros de canhões, durante as perseguições aos escravos. Os “Urubus” enquanto refugia-dos, passavam maior parte do tempo, escondidos embaixo do pé de jambo fazendo artesa-nato, e além disso chegaram a construir estradas e escadarias para alcançarem terrenos mais altos e ainda desconhecidos. Outra lenda bastante lembrada por conhecedores do parque, é a das pedras que crescem. Segun-do a lenda, as pedras de Oxuma-rê e Xangô crescem e mudam de forma com o passar do tempo.

Sede do parque São Bartolomeu é dotado de salas e auditório.

PARQUE SÃO BARTOLOMEU

Candomblec is tas são frequentadores assíduos do espaço.

Escultura de Bel Bor-ba simboliza os ori-xás do candomblé.

O seu movimento rítmico musical, inventado na década de 1970, foi responsável por uma revolução no carnaval baiano. A partir desse mo-vimento, a musicalidade do carnaval da Bahia ganha força com os ritmos oriundos da tradição africana favo-recendo o reconhecimento de uma identidade peculiar baiana, marcada-mente negra. O espetáculo rítmico-musical e plástico que o bloco exibe no carnaval emociona baianos e turis-tas e arranca aplausos da população.

A entidade conta com 3 mil asso-ciados e o Ilê Aiyê hoje é consi-derado um patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de re-africanização do carnaval da Bahia.

Primeiro bloco afro no Brasil, o Ilê Aiyê é um grupo cultural de luta pela valorização e inclusão da po-pulação afrodescendente, inspiran-do a criação de muitos outros gru-pos culturais no Brasil e no mundo.

O objetivo da entidade é preservar, valorizar e expandir a cultura afrobra-sileira. Para isso, desde que foi funda-do, vem homenageando os países, na-ções e culturas africanos e as revoltas negras brasileiras que contribuíram fortemente para o processo de fortale-cimento da identidade étnica e da au-toestima do negro brasileiro, tornando populares os temas da história africana vinculando-os com a história do negro no Brasil, construindo um mesmo pas-sado, uma linha histórica da negritude.

MAIS BELO DOS BELOSILÊ AIYÊ É O BLOCO AFRO MAIS ANTIGO DO BRASIL

por Gênesis Freitas / foto ASCOMBA