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Resumos
RESUMOS
Barroso, Paulo (IP Viseu), O discurso da mediao: hermenutica, retrica e potica
em Paul Ricoeur.
Conforme sugere o ttulo desta minha proposta, pretendo relacionar estas trs disciplinas (a
hermenutica, a retrica e a potica) e contribuir para a compreenso das recprocas implicaes
em torno de um mesmo elemento ou fundo comum: o discurso. Justifica-se esta tripla relao
porque o discurso beneficia quer das trs disciplinas quer das respectivas relaes. Considerando
que os estudos sobre o discurso possuem uma importncia prtica e uma pertinncia intemporal,
porque os prprios discursos readquirem permanentemente novas roupagens e estratgias, cinjo-
me, para o efeito, perspectiva da hermenutica lingustica de Paul Ricoeur, porque este autor
apresentou uma abordagem integradora do discurso como produtor e transmissor de sentido.
Segundo Ricoeur, a hermenutica a arte de interpretar textos em contextos distintos (os do autor
e os do seu pblico) para descobrir novas dimenses da realidade; a retrica a arte de
argumentar para convencer de que uma certa opinio prefervel a outra(s); e a potica a arte de
construir intrigas (fices) para ampliar o imaginrio individual e colectivo. Estas trs disciplinas
so duplamente especficas e complementares, mas continuaro a s-lo, incidindo no re-descrever,
no argumentar e no configurar. Efectivamente, o discurso intencionado e estratgico produz
sentidos eficazes que resultam do trabalho diferenciado sobre a palavra (ou signo enquanto forma
lexical da palavra e unidade primeira ou mnima de significao) ou, para Ricoeur, sobre a
proposio (enquanto unidade complexa que coordena e vincula um sujeito e um predicado) que
cada uma destas disciplinas permite realizar. Conforme adiantou Ricoeur numa conferncia
intitulada Rhtorique, potique, hermneutique, proferida em 1970 no Institut des Hautes
Etudes de Belgique, a linguagem trabalhada desta forma e por estas trs disciplinas permite
concretizar a sua essencial funo, pois quequun dit quelque chose quelquun sur quelque
chose. Se dividirmos esta declarao, encontramos as trs partes essenciais de qualquer acto de
comunicao: 1) qualquer pessoa que diz, o enunciador que desencadeia um acto de fala; 2)
qualquer coisa sobre qualquer coisa, a relao entre o sentido produzido e o respectivo referente;
3) a algum, o destinatrio ou interlocutor, a quem endereada a palavra pelo enunciador, que
transforma o enunciado numa mensagem comunicada. Surge ento a questo da mediao, que
est presente quer nas relaes entre estas trs partes essenciais quer nas relaes entre as
mencionadas trs disciplinas do discurso: a hermenutica, a retrica e a potica. Estas vrias
relaes tornam o discurso objecto da mediao com fins performativos, para o qual contribui o
carcter interpretativo e compreensivo da hermenutica, o carcter argumentativo e persuasivo da
retrica e o carcter esttico e configurador da potica.
Cordeiro, Adriano Milho (ES Torres Novas), Bor rador de huma ar te potica
de D. Antnio de Atade.
A partir dos finais do sculo XV e, sobretudo aps a redescoberta e a difuso da Potica de
Aristteles no primeiro quartel do sculo XVI, at cerca de meados da centria de XVII, os
trabalhos e investigaes sobre teoria literria usufruram de uma das fases mais radiantes e
frutferas na histria da cultura ocidental. A obra manuscrita em vernculo, intitulada
Borrador de huma arte potica que se intentava escrever da autoria de D. Antnio de
Atade, 5. conde da Castanheira e 1. conde de Castro Daire, faz parte desse importante
acervo ainda Quinhentista. A observao e divulgao da teoria potica de Atade de
enorme interesse, porquanto e apesar de se tratar de um texto manuscrito, cujo jaez se
aproxima do comentrio, o seu estudo e publicao so extremamente importantes para a
percepo da nossa Histria Literria da poca clssica, para alm de ser uma smula
notvel sobre a teoria Potica do seu tempo, porquanto trata dos clssicos, antigos e
modernos, de todos os tempos e das obras de alguns autores lusos do sculo XVI em
particular. O seu carcter crtico-literrio permite-nos afirmar que foi uma das primeiras
obras do gnero a ser composta no contexto ibrico de forma to completa. Pena que um
Borrador de huma arte potica que se intentava escrever no tivesse passado disso mesmo,
ainda que se trate de um texto manuscrito excepcional pelo valor que ele prprio contm,
como desde j se pode inferir.
Costa, Alexandre Barboza (USP, So Paulo), Pero de Magalhes Gndavo e o
gnero histrico.
A prtica da poesia e da prosa, na sociedade quinhentista e seiscentista portuguesa, regulava
o bom uso, que era fundado e modelizado nas autoridades retricas, bem como a veiculao
e recepo dos textos nos sales, universidades, academias e mosteiros. Regrada pelo bom
uso da letra reinol, tratava-se, portanto, de uma prtica socialmente decorosa. Basicamente
trs princpios norteavam a composio de um cronista: gravidade, honestidade e autoridade,
sobretudo quando a composio ou compilao de vrios textos para fundar um novo texto
se debruasse sobre figuras rgias. No caso de Pero de Magalhes Gndavo, autor da
Histria da Provncia de Santa Cruz, notamos, em seus aspectos retricos, dois traos bem
marcados. Se por um lado edifica com uma descrio bem vvida a fauna, a flora, por outro,
rebaixa/desvaloriza/vitupera o habitante local, o ndio. Desta forma julgamos que pode o
texto ser categorizado no mbito do gnero demonstrativo na vertente de louvor e vituprio.
A Histria da Provncia de Scta Cruz sai da oficina tipogrfica de Antnio Gonalves, em
Lisboa, com uma tiragem de aproximadamente 38 livros. Esse texto aps sua primeira
edio 1576 foi descoberto muito tempo depois 1836 por Henri Ternaux Compans
que o traduziu e o publicou no segundo volume da coleo Voyages, Relations et Mmories
originaux pour servir l'histoire de la dcouverte de l'Amrique em 1837. Os quase trezentos anos
de esquecimento da obra de Gndavo talvez possam ser explicados pela poltica de segredo que
ainda cercava as possesses territoriais americanas da coroa portuguesa. Enquanto na Europa se
multiplicavam as edies dos livros de Hans Staden e de Jean de Lry sobre o Brasil, em Portugal o
livro de Gndavo, alm de no ter sido reeditado, pode ter sido retirado de circulao por conter
informaes que a coroa portuguesa no pretendesse divulgar.
H quatro verses do texto "Histria da Provincia de Scta Cruz....". A primeira redao dedicada
rainha D. Catarina levava o ttulo Tratado da Provncia de Santa Cruz e pretende ser um sumrio,
sobre a nova terra. O Tratado da Terra do Brasil dedicado ao cardeal infante D. Henrique. Este
trabalho passa por um melhor acabamento e renomeiase Histria da Provncia de Scta Cruz que
vulgarmente chamamos de Brasil, agora, com um terceto em sua Dedicatria do poeta que h pouco
havia publicado Os Lusadas. Gndavo, com Garcia de Orta, foi um dos nicos do perodo a incluir
poemas de Cames nas pginas preliminares de um livro e tambm a reconhecer o seu valor ao
inclulo na lista dos grandes autores de sua poca, como nos conta em Dilogo em defesa da
Lngua Portuguesa.
Histria da Provncia de Scta Cruz ofertada a D. Lionis Pereira, filho natural do conde Feira,
principal heri da defesa de Malaca contra o duro cerco imposto pelo sulto do Achm. Conhecem
se duas redaes diferentes do referido texto. A primeira est registrada em um manuscrito da
Biblioteca do Mosteiro do Escorial e traz duas ilustraes em cores: o monstro marinho e um mapa
do Brasil. O manuscrito chegou Espanha junto com um lote de impressos e manuscritos
provenientes de Portugal, em 1573, trazidos pelo florentino Giovanni Bautista Gesio, misto de
emissrio e espio de Felipe II em Lisboa, com a misso de adquirir, secretamente, as obras mais
significativas para as negociaes dos disputados limites entre as terras espanholas e portuguesas no
Novo Mundo. A verso contida no manuscrito escorialense passou ainda por algumas modificaes,
ganhou um captulo sobre o modo de vidas dos colonos e finalmente foi levada oficina de Antnio
Gonalves em 1576.
Deserto, Jorge (U. Porto), A voz do poeta em Tegnis de M gara.
Tegnis de Mgara um dos poucos poetas do perodo arcaico grego cuja obra nos chegou atravs
de transmisso manuscrita (o outro Pndaro). Mais versos no so sinnimo, no entanto, de maior
esclarecimento e so mltiplas as dvidas acerca da autenticidade de grande parte deste corpus. H,
ainda assim, alguns elementos fundamentais que merecem discusso: a polis numa situao incerta,
o valor da philia, uma aristocracia que v o seu ascendente ser anulado pelo poder dos bens e, acima
de tudo, um poeta com forte conscincia do valor da sua poesia, mesmo quando, volta, nada
parece certo.
Falco, Pedro Braga (UCP Lisboa), O clmax enquanto ferramenta de anlise
literria: do entendimento retrico do termo sua acepo moderna
O conceito de clmax tem sido bastante usado na teorizao literria moderna, descrevendo
aquele ponto culminante a que uma determinada obra chega, seja um discurso, um poema, uma
tragdia ou um romance. Tambm no mbito dos estudos musicais o termo amplamente usado
para descrever a forma como um compositor logra um momento particularmente expressivo no
contexto de uma obra, e as ferramentas tcnicas de que dispe para o criar. Poucos, porm, referem
o passado retrico e tcnico do termo, enquanto figura de estilo que consiste na repetio
continuada, no incio de um membro, da palavra que est no final do anterior. Mas qual a relao
entre esta figura de estilo e o seu sentido etimolgico em grego (klimax, escada)? Como se
chegou do entendimento tcnico da figura a um sentido mais alargado do conceito? Porque se
comeou a aplicar o termo ao ltimo degrau de um determinado movimento dinmico? Um estudo
da complexa evoluo da palavra ao longo dos tempos, desde a antiguidade, passando pela
teorizao retrica do Norte da Europa, e at ao seu sentido moderno, ajudarnos a propor uma
teorizao mais precisa do conceito, que muitas vezes usado de forma imprecisa ou demasiado
vaga. A comunicao centrar-se no gnero potico, partindo de um corpus de autores clssicos e
modernos, esquematizando e ilustrando em que medida o conceito estudado na sua abrangncia
retrica pode ser um utilssimo instrumento na anlise da construo e composio de um poema.
Fialho, Maria do Cu (U. Coimbra), Retrica e crise em Eurpides, Ifignia em
ulide
Ifignia em ulide inscreve-se no questionamento euripidiano sobre a justeza da guerra, num tempo
de decadncia e fractura da Hlade, fruto da longa guerra civil que destruiu cidades, destruiu
valores e exps todas as repercusses da aco funesta dos demagogos, do perigo que representa a
multido exposta manipulao pela sede de riqueza, facilmente obtida na guerra. Os inocentes so
as vtimas. O Panelenismo um mito. Eurpides utiliza vrias modalidades de discursos de
persuaso sem eficcia persuasiva, mas que desmascaram personagens, sejam os elocutores ou os
receptores desses dicursos para dar mais vida a essa tenso de fim de sculo.
Figueira, Rita (CEC - U. Lisboa), Vasos Gregos: Retrica e Poesis.
No mundo clssico no existe uma reflexo explcita sobre comunicao, porm a retrica a
primeira expresso deste conceito actual. Esta arte o acto de comunicao (Burke, 1968: 547) da
polis, como cidade (astu), territrio dominado (chora) e comunidade de cidados (koinonia).
Comunicar ainda fazer-se entender e persuadir (Wenzel, 1990:13), tornando algo comum a todos
os que participam no acto comunicacional, que no se esgota com a execuo da mensagem.
Efectivamente, em primeiro lugar necessrio conhecer o receptor e estruturar uma mensagem que
o influencie e, em segundo lugar importa alicerar o discurso em elementos comuns, objectivando
uma intencionalidade (inuentio) planeada (dispositio), com smbolos que visam a persuaso
(elocutio). A anlise da iconografia, em particular na cermica, refora esta compreenso. Os
vasos gregos foram feitos para serem utilizados e observados com ateno de ambos os lados
(Rasmussen; Spivy, 1991: 233) sendo, neste sentido, um canal de comunicao. A sua exportao
propicia a circulao, mesmo nas fronteiras mais longnquas, propagando a mensagem
rapidamente e de forma abrangente. Estes artefactos so realizados para uma clientela pr-
determinada e para uma funo previamente definida. Quando os ceramistas moldam e pintam
vasos destinados s mais diversas ocasies, pblicas e privadas, do quotidiano, moldam tambm o
espao discursivo da polis, apelando reao dos seus espectadores. No estando subordinada ao
controlo consciente, a imagem infiltra-se involuntariamente na mente, influenciando o
pensamento e as atitudes (Giuliani, 2013:ix). Esta comunicao analisa alguns exemplares do sc.
VI a. C., com uma dupla finalidade: (a) identificar alguns aspectos da teorizao retrica em vasos
gregos e (b) mostrar que estes artefactos so um canal porttil de comunicao e debate, em que
os temas apresentados correspondem a uma poesis.
Frias, Joana Matos (U. Porto), M etfora e maravilha ou O estranho caso de uma
Potica fundada numa Retrica: Algumas observaes sobre o Barroco.
Tentativa de sistematizao dos processos tericos e empricos de estabelecimento de um regime
figurativo na potica e na poesia barrocas da Europa, com base numa anlise retrica dos
discursos produzidos em torno de pontas e agudezas, conceitos e metforas, engenho e
contradio, a fim de demonstrar a pertinncia da proposta de Michel Foucault em As Palavras e
as Coisas, de acordo com a qual o epistema barroco ter dado incio decisivo ao processo
literrio de separao entre as palavras e as coisas que desencadeou, em ltima instncia, a
constituio da Modernidade.
Garca Jurado, Francisco (U. Complutense), Del antiguo rgimen a la sociedad
liberal: la potica y la retrica en el primer manual oficial de literatura espaola
(1844).
En un trabajo previo (La Gua del perfecto latino (1848) de Luis de Mata i Araujo, o la derrota
del Humanismo en Espaa, Cuadernos de filologa clsica. Estudios latinos 33/1, 2013, pp. 127-
160), hemos estudiado cmo la muerte del humanista Luis de Mata i Araujo en 1848, catedrtico
de la disciplina llamada Perfeccin del latn en la Universidad Central de Madrid, supuso algo
ms que una muerte fsica, pues marc tambin el final de la enseanza preceptiva del estilo culto
de la latinidad. A esta enseanza iba aparejada la lista de los autores latinos ms selectos, segn
un modelo que responda perfectamente a los ideales clasicistas del siglo XVIII.
Estamos en un contexto donde todava, durante buena parte del siglo XIX, lo clsico queda
dentro del dominio de la potica y la retrica, mientras que lo romntico se adecua mejor a las
historias nacionales de la literatura. La Literatura latina es considerada de manera natural una
literatura clsica por excelencia. Sin embargo, esta identificacin entre lo latino y lo clsico
comienza a resquebrajarse a medida que aparece el nuevo discurso romntico de las literaturas
nacionales junto a la tambin novedosa visin de la Historia de la Literatura latina como
biografa del pueblo romano (Friedrich August Wolf). Paradjicamente, tambin era posible
ofrecer una visin romntica de la Literatura de Roma (cf. F. Garca Jurado, Los manuales
romnticos de literatura latina en lengua espaola [1833-1868], Revista de Estudios Latinos 11,
2011, pp. 207-235).
Gil de Zrate, como responsable de la Instruccin Pblica en la Espaa de mediados del siglo
XIX, muestra un decidido inters en que la Perfeccin del latn se convierta en una nueva
asignatura, la Literatura latina, al considerar que sta era una materia ms apta para los nuevos
tiempos del liberalismo romntico. Sin embargo, el paso de lo normativo a lo histrico se
traduce, a la hora de la verdad, en ensear Literatura latina sin latn, como va a hacer el suplente
de Mata i Araujo durante su enfermedad, ngel Mara Terradillos, autor del primer manual de
Literatura latina en Espaa (primera edicin en 1846 y segunda en 1848).
El propsito de esta ponencia es analizar cmo Alfredo Adolfo Cams, sucesor de Mata i Araujo
en la ctedra de la Central, ya no va a ser profesor de Perfeccin del latn, sino de Literatura
latina. Sin embargo, Cams intenta encontrar una solucin de compromiso entre los antiguos
tiempos (el estudio de los autores latinos desde los presupuestos de la Potica y la Retrica) y los
modernos (el estudio histrico de la Literatura latina). Para ello, acude a las principales
compilaciones de la Literatura latina hechas en el siglo XVIII y compone un detallado programa
de curso redactado, precisamente, en latn (su Synopsis lectionum de 1848). Asimismo, otras dos
obras publicadas poco antes, los Preceptistas latinos (1846) y su Curso elemental de Retrica y
Potica (1847) se enmarcan dentro de este compromiso conciliador entre dos mundos.
[Este trabajo se inscribe en el proyecto de investigacin FFI2013-41976, Historiografa de la
literatura grecolatina en Espaa 3: el Legado Alfredo Adolfo Cams en la Biblioteca Histrica
Marqus de Valdecilla (2015-2017), financiado por el Ministerio de Economa y
Competitividad.]
Henriques, Lus Miguel Ferreira (IP Portalegre), A arenga militar na pica e na
poesia novilatina do sculo XVI.
Em pleno sculo XVI, poca em se fazem sentir, em Portugal, os influxos tanto do Humanismo
Renascentista, como dos sucessos da epopeia ultramarina, escritores de distintas formaes, num
clima de exaltao e de emulao, multiplicam a produo de obras histrico-literrias de
distintos gneros que vo desde a historiografia pica, at poesia novilatina, sobre a gesta
nacional. Tal como sucedera na Antiguidade, estas obras de temtica histrica deixam de ser
entendidas apenas como um meio de preservao do passado, para serem percebidas como uma
composio literria e erudita, em que a retrica e os diferentes procedimentos de imitao e de
intertextualidade desempenham um papel cimeiro. Neste contexto em que a retrica tocou a obra
de cariz histrico, no surpreende que que as obras de Quinhentos integrem e adaptem, sem
parcimnia, um tipo de discurso que contava j com uma larga tradio histrico-retrica a
arenga militar cujas origens remontam Grcia Antiga, particularmente em autores como
Homero e Tucdides, verdadeiros precursores na arte de introduzir discursos nas suas obras
histricas. Por um processo natural de imitao, a arenga militar converteu-se numa componente
essencial no s da historiografia, mas tambm da pica greco-latinas sequentes, sucedendo o
mesmo com a historiografia, com a pica, bem como com a poesia novilatina portuguesas de
Quinhentos. Cumprindo diferentes funes na economia das obras em que esto inseridas, as
arengas so igualmente um poderoso meio de caracterizao do ethos dos heris portugueses,
cuja atuao remete para o comportamento valoroso de generais como Alexandre ou Csar.
Nesta comunicao, propomo-nos fazer uma anlise transversal dos topoi retricos mais
representativos e da sua integrao na tradio histrico-retrica presentes nas 30 arengas
militares que foram identificadas na pica quinhentista, em autores como Cataldo Sculo, Andr
de Resende, Jernimo Corte Real, Lus Henriques e Lus de Cames, bem como os exempla
presentes na poesia novilatina de Diogo Pires e de Pedro Sanches. Procuraremos demonstrar que
a arenga militar desempenha diferentes funes nas respetivas obras, motivo pelo qual o
discurso mais caracterstico da historiografia e da pica de Quinhentos.
Malato, Maria Lusa (U. Porto), O Que o Sublime?, de Correia Garo.
A conferncia O que o Sublime?, apresentada por Correia Garo na Academia dos Ocultos em
1755 (e por ns transcrita em 1987 e analisada em 2007), um dos primeiros textos da nossa
retrica setecentista a refletir longamente sobre o conceito de sublime quando aplicado ao drama.
Tendo por base o estudo e a traduo feita por Boileau, ainda no sculo XVII, o texto de C.
Garo apresenta todavia algumas novidades, nomeadamente a associao do "estilo sublime" ao
"gnero do melodrama", ou as remisses a um teatro que tem a mtica Antiguidade por modelo e
tenta por isso chegar a um teatro radical, que corporize a unio entre a Musica e a Literatura.
Manso, Henrique (U. Beira Inter ior ), Imitao e originalidade na cantiga de amor
galego-portuguesa: a matriz provenal e os cdigos poticos peninsulares.
Na cantiga de amor Quereu em maneira de proenal (B520b, V123), D. Dinis manifesta
explicitamente o recurso imitatio, ao afirmar a apropriao dos cdigos poticos da finamors.
No entanto, numa outra cantiga, de escrnio literrio, Proenaes soem mui bem trobar (B524b,
V127), atravs do recurso ironia, j patente no primeiro verso, o Rei-Poeta estabelece uma
barreira aparentemente inultrapassvel entre os vates galego-portugueses e os provenais, pela
explorao, na cantiga de amor e na cans, de dois topoi inconciliveis: o amorcoita e o amor
joi, respetivamente. Ora, a tradio lrica galego-portuguesa tem em D. Dinis o seu mximo
representante e a voz de todos os outros poetas, ao ponto de se anunciar o catastrfico
desaparecimento dos trovadores e jograis aquando da morte do monarca portugus, em 1325, como
testemunha o pranto Os namorados que trobam damor (V708). Assim, a conciliao daquelas
duas posies aparentemente antagnicas, a saber, a imitao fiel do modelo provenal e a sua
completa rejeio, na construo da cantiga de amor galego-portuguesa, ser o cerne desta
comunicao. Restringiremos o nosso corpus s cantigas de dois trovadores peninsulares, D. Dinis,
naturalmente, e Pero Garcia Burgals, que confrontaremos com a potica de alguns dos nomes
maiores da poesia provenal, como Guilherme de Aquitnia, Jaufre Raudel ou Bernard de
Ventadour. Verificaremos a influncia da matriz provenal tanto em aspetos versificatrios (a
exemplo da rima aguda), como temticos (caso da apropriao do topos do amour de loin, de
Raudel, entre outros). Refletiremos ainda sobre os cdigos poticos especficos da lrica galego-
portuguesa que afastam, e no raras vezes opem, o cantar de amor em relao ao paradigma
transpirinaico, como resultado de fatores diversos: a codificao de processos versificatrios
prprios da lrica galego-portuguesa na fragmentria Arte de trovar; a inexistncia em solo
peninsular de uma realidade poltica e social que validasse a correspondncia dos binmios suserano
-vassalo e dama-trovador, como acontecia no sul de Frana; ou ainda a influncia da cantiga de
amigo na codificao da cantiga de amor.
Martins, Ana Isabel Correia (CECH Coimbra), Uma Viagem ndia de Gonalo M.
Tavares: uma anti-epopeia retrica ou uma epopeia anti-retrica?
Gonalo M. Tavares confessa que se diverte a trabalhar o texto de forma a torn-lo cada vez mais
pequeno e potente, ganhando fora medida que perde palavras: gosto que as frases sejam exactas
e ambguas, ao mesmo tempo, o que um pouco paradoxal mas assim, julgo que fica mais espao
para o leitor. Uma vez que a arte a reduo de tudo sua essncia, esta sensibilidade esttica e
retrica outorga poesia as suas virtutes elocutionis perspicuitas, ornatus, puritas, maiestas e abre
espao hermenutica e interpretao. NUma Viagem ndia deparamo-nos com a hibridizao
de gnero literrio, diluindo-se as tnues fronteiras entre romance potico, (anti)-epopeia, ensaio
literrio em poesia. No entanto, a subverso no se apresenta apenas ao nvel da estrutura formal
visto que esta obra no uma epopeia clssica que engrandece ou amplifica feitos histricos, nem
uma aventura de superao e de conquista de um heri. Acima de tudo, Uma V iagem ndia o
confronto do Homem com as suas falibilidades, distante das utopias e das ambies. Ao longo de
dez cantos acompanhamos a demanda do protagonista, num percurso que no feito apenas na
horizontal e de forma circular Lisboa, Londres, Paris, Praga, ndia, Lisboa - mas feito
principalmente na verticalem queda. Uma personagem sem qualidades e que se entedia com a
prpria queda. O romance ensina a cair e ao mesmo tempo em que se inspira nos clssicos
tambm assombrado pelo traumtico sc. XX, como se fosse uma caixa de ressonncia que
reverbera pessimismo, tdio e melancolia. O nosso (anti)heri Bloom tal como o Ulisses de
James Joyce viu a sua vida destruturada por um duplo homicdio, um que cometeu e outro que
sofreu, e decide por isso viajar procura de sabedoria atravs do esquecimento, uma fuga com
carcter pedaggico. A figura do Ulisses de Homero opera aqui como um hipertexto na anti-
heroicizao de uma personagem, no s pelo carcter odioso dos processos de que se serviu
mas tambm pelos fins que perseguiu. Esta irreligio que distancia o heri clssico do divino
intensifica-se neste heri contemporneo de Gonalo M. Tavares. Mas Ulisses era tambm um
heri profundamente racional e quando cega e ludibria a fora bruta do Ciclope pe termo era
dos gigantes e d incio era do Homem vido, curioso por (se) conhecer (n)o mundo, tantas
vezes seguindo os trilhos da imperfeio, do declnio e da morte, sinais da fragilidade dos heris
mas tambm da sua humanidade. Em pleno sculo XXI, as produes poticas germinam neste
humus dos topoi clssicos - viagem e regresso - e nesta dialctica de memria e esquecimento.
Sabemos hoje o que j pressentiam os heris da Antiguidade: no viajamos para nenhum paraso
e todas as viagens so sempre um regresso ao passado de onde nunca samos. Estas aventuras de
Bloom conduzem-nos, assim, pelos labirintos intertextuais da epopeia clssica, desconstruindo-
os e narrando o humanismo de um heri que falha, vinga e sofre com todas as suas
vulnerabilidades. Este heri contemporneo demiurgo e interfere na sua prpria mudana
porque at o imutvel se no mudar ser empurrado (Canto VIII, 31). Bloom traou uma
viagem para o outro lado do mundo para fugir dele mesmo mas acabou por ser conduzido para o
outro lado de si prprio. Ter aprendido mais em movimento ou quando parou? De facto, esta
obra coloca uma questo desafiante aos estudos retricos e de teorizao literria: se em pleno
sculo XXI as poticas respeitam as virtutes elocutionis e as suas funes retricas clssicas -
docere, delectare, movere servindo-se delas para desmontarem e derrogarem os gneros
literrios, ser que se convertem irremediavelmente em anti-retricas ou so simplesmente
retricas modernas e de vanguarda?
Martins, Cndido Oliveira (UCP Braga), O poeta Diogo Bernardes e a retrica do
queixume.
Poeta ulico da segunda metade do sc. XVI, Diogo Bernardes legou-nos uma poesia lrica,
buclica e religiosa, tocada pelas tintas da melancolia maneirista. Tendo participado
historicamente na campanha africana de Alccer Quibir, expressou depois em registo potico
algumas das dificuldades por que passou. Sobretudo nas Cartas de O Lima (1596), o poeta
relembra os servios prestados Ptria; lamenta repetidas vezes a precariedade em que se
encontra; dirige reiterados pedidos a vrios mecenas; traa o elogio dos seus interlocutores; e,
dentro da mesma estratgia retrico-argumentativa, justifica o papel do poeta e da palavra
potica.
Meerhoff, Kees (U. Amsterdam), Rhetoric, poetics and poetry in the Renaissance
En nous fondant sur lexamen de la Collatio laureationis prononce par Ptrarque lors de son
couronnement Rome (1341), nous nous proposons de considrer la place part rserve la
posie au sein des arts cultivs lpoque de la Renaissance. Quel est le rapport entre posie et
discours oratoire, et comment sarticule ce rapport sur le plan thorique ? Le rle du numerus
(rhythmos/arithmos) dans cette conjoncture thorique sera mis en relief, dans les thories grco-
latines du discours orn et bientt dans les crits vernaculaires le concernant.
La recherche moderne a mis en vidence le rle fondamental jou par le commentaire dans
larticulation des arts de rhtorique et de potique. Nous en examinerons quelques chantillons
propres illustrer les voies diverses quelle peut emprunter. Un commentaire de lptre aux
Pisons servira ainsi dexemple montrer la prdominance du mtadiscours rhtorique sur les
arts potiques.
Ces considrations nous amneront poser la question, anodine premire vue, sur la possibilit
mme dexaminer les arts potiques de la Renaissance, quil sagisse darts de seconde
rhtorique ou dautres formes du discours thorique, sans tenir compte du mtadiscours
rhtorique contemporain. La viabilit dune telle procdure semble demble compromise par les
tentatives dintgration de la potique dans la rhtorique, telles quelles sont ralises par
exemple dans la rhtorique et le commentaire ramistes , o le rle crucial jou par le concept
de numerus se trouve confirm.
La prgnance du modle cicronien dans la thorie et la pratique du discours orn, vidente par
limportance accorde au concept de numerus, se vrifie dans la rhtorique et lart potique des
jsuites, mme si lapport de laristotlisme ny est nullement ngligeable. Cela tant donn,
comment convient-il dinterprter lart potique rcemment redcouvert et publi Paris en
2012, rdig en franais par un rudit voluant dans les cercles dvots de la ville de Douai, situe
aux confins du royaume de France en terre dEmpire?
Miranda, Margarida (U. Coimbra), Quatro oraes metrificadas de M iguel
Venegas (1561).
Em 1561 Coimbra recebeu a visita do Legado Pontifcio de Pio IV, Prspero de Santa Cruz, a
quem os jesutas do Colgio das Artes prepararam uma homenagem que honrava
simultaneamente o Cardeal e as letras. Dela ficou memria no apenas nas cartas que relatam os
actos pblicos do Colgio, mas tambm nos diferentes Ms que recolheram a produo literria,
em lngua latina, preparada para aquela ocasio por Miguel Venegas. No entanto, o que os Ms de
Lisboa e de Nova Iorque apresentam como Dilogo dramtico alegrico (In aduentu
reuerendissimi episcopi Risamensi gratulatio), o Ms de vora conservou como quatro oraes
metrificadas, proferidas na mesma ocasio. As diferenas so notrias, mas o essencial do
contedo permanece: a alegoria da Gramtica (em anapestos), da Retrica (em hexmetros), da
Dialctica (em versos sficos) e da Filosofia (em asclepiadeus) desfilam sucessivamente diante do
homenageado, oferecendo-lhe um ramo simblico e afirmando a sua fidelidade igreja de Roma e
do Legado Pontifcio, a fim de combaterem a heresia que dividia a Europa. As diferentes verses
conservadas dos versos de Venegas demonstram bem a irrelevncia, para o mestre de retrica, da
distino entre potica e retrica. Para o autor, o teatro ou dilogo dramtico igualmente
discurso (oratio), sem deixar de ser poesia e nem romper com o virtuosismo mtrico do poeta.
Uma e outra eram segundo a Ratio Studiorum (XVI.1) diferentes faculdades que concorriam
para a eloquentia perfecta.
Morais, Carlos (U. Aveiro), Ritmo potico e pathos retrico na tragdia grega.
Nesta comunicao, pretendemos evidenciar a importncia do ritmo potico na expresso de
emoes em textos selecionados (rheseis, agones, mondias, dilogos lrico-recitativos e kommoi)
de tragdias de Sfocles (Filoctetes e dipo em Colono) e de Eurpides (Troianas).
Nobre, Ricardo (CEC Lisboa), Proteger a Liberdade, defender a Revoluo
Liberal: a poesia de interveno de Almeida Garrett
As primeiras composies lricas de Almeida Garrett assumem um carcter poltico, fruto do
contexto histrico em que foram produzidas. Reunidas posteriormente em Lrica de Joo Mnimo
(1829), mas com traos evidentes em muitos lugares da sua obra (nos discursos polticos de peas
como Cato, por exemplo), elas comprovam o empenho continuado na defesa da liberdade
resultante da Revoluo Liberal, em 1820. Com efeito, a formao de Almeida Garrett e a anlise
atenta da sua obra revelam como a retrica e os efeitos impressivos do discurso sustentam a
expresso potica dessas composies, nas quais so convocados exemplos histricos (em
especial provenientes da Repblica Romana), verdadeiros testemunhos de que o autor aprendeu a
lio da Retrica clssica.
Por conseguinte, esta comunicao estuda os processos retricos na poesia de Almeida Garrett
contempornea da Revoluo Liberal: sem ignorar que o seu autor foi sempre um defensor da
liberdade poltica, cultural e artstica, revelar-se- como uma arte potica se associa arte retrica
para defender um nobre ideal de liberdade, de que Garrett foi sempre um protector.
Nol, Marie-Pierre (U. Montpellier ), Rhtorique ou potique? L art des discours
chez Gorgias et Isocrate
Depuis lantiquit, le nom dIsocrate et celui de son matre Gorgias de Lontinoi sont troitement
associs la naissance de la rhtorique et son dveloppement aux Ve et IVe sicles av. J.-C.
Athnes. Toutefois, une analyse des textes conservs et des tmoignages montre que la conception
de lart des discours (tekhn logn) des deux hommes est trs diffrente : si lun (Gorgias) propose
un art des discours publics quil nomme rhtorique , lautre (Isocrate) se refuse utiliser le
terme et prsente son activit comme un poitikon pragma, une activit cratrice. Dans cette
communication, nous nous efforcerons danalyser loriginalit de ces deux conceptions de la
parole; mais aussi de comprendre comment elles ont pu tre confondues, partir dAristote, dans
une nouvelle dfinition de la rhtorique qui nie leur dimension originellement potique.
Paixo, Ana (U. Par is), A msica mtrica e a potica musical: influncias da potica
nos tratados de msica portugueses
Desde o tratado de Tractado de Cto Llano de Mateus de Aranda em 1533 at ao final do sculo
XIX, os tratadistas musicais portugueses procuraram incluir aspetos da potica nas respetivas obras
tericas. Entre outros aspetos, identificaram sequncias rtmicas resultantes da utilizao do metro,
procedimento que Antnio Fernandes designava, em 1626, de msica mtrica. Vrios outros
tratadistas musicais evidenciaram a preocupao em adequar a msica ao texto, incitando os
compositores a uma potica musical, isto , ao conhecimento dos ps poticos e adaptao da
partitura aos respetivos metros. o que preconiza, por exemplo, Eugnio de Almeida no seu
Tratado de Melodia de 1868 com exemplos de ps poticos transcritos para pauta. Alguns
tratadistas sugerem ainda analogias muito diretas entre o poeta e o msico, tal como Jernimo
Cardoso que, no Dictionarium Latino Lusitanicum de 1570, define Musicus, i da seguinte forma:
Ho musico, ou poeta. Evidenciar-se-o tambm pontos de contacto entre potica e msica,
atravs de paralelismos, comparaes, referncias ou apropriao, abordando ainda o conceito de
msica potica.
Pinheiro, Joaquim (U. Madeira), O uso do smile no poema A tomada de Tria de
Trifiodoro.
Propomo-nos analisar o uso do smile no poema pico de Trifiodoro ( ). A partir da
identificao dos smiles no poema, procuraremos (i) classific-los por temticas, (ii) estabelecer
uma relao com o contexto narrativo e com a prpria estrutura do poema e (iii) comparar o seu
efeito retrico com aquele que o smile produz nos Poemas Homricos. Para enquadrar a dinmica
do smile no poema, ser necessrio recorrer aos princpios tericos de alguns tratados ou manuais
da retrica clssica.
Ramos, Manuel (U. Por to), Artes poticas medievais: De nuptiis Rhetoricae
et Poeticae.
O modelo de arte potica adoptado na poca medieval no foi o modelo aristotlico por a sua
Potica no ser conhecida; tambm no foi o modelo horaciano, apesar de a sua "Arte Potica" ser
conhecida e glosada desde o sc. IX, por ser pouco influente; foi antes o modelo retrico, ou
melhor, a extenso da Retrica e da Gramtica, entendida esta no sentido de literatura e no de
lingustica, como hoje. Na verdade, na hora de encontrar um modelo, os teorizadores da ars
poetria ou ars versificandi dos sc. XII e XIII recorreram Retrica (e a contedos gramaticais),
fazendo uma unio ou casamento de Retrica e de Potica. Desse conbio, resultou uma gerao de
cinco artes principais, compostas em poesia e de forte pendor escolar (teriam sido feitas para
instruir os estudantes de retrica na composio em verso), tendo a perdida e influente Summa de
Bernardo Silvestre desenvolvido o tema de forma mais extensa. Com esta comunicao, propomo-
nos abordar as artes retrico-poticas medievais em especial na forma como elas entendem as
caractersticas do literrio, isto , o que, segundo elas, faz de um texto um texto literrio. Veremos
tambm o que possuem de original e a divulgao em Portugal.
Rita, Annabela (CLEPUL - U. Lisboa), Mensagem (1934): emoo & argumentao
Num ano em que se celebra a publicao dos 100 anos da revista Orpheu, pretende-se, com esta
comunicao, observar de que modo a estratgia persuasiva que informa a obra Mensagem (1934),
de Fernando Pessoa, se inscreve nas circunstncias culturais e no dilogo esttico e se exprime na
dispositivo textual e em cada um dos textos que a compem. Concomitantemente, atentar-se- aos
sinais de modelizao iniciadora dos processos de escrita e de leitura.
Silva, Maria Lusa Portocarrero (U. Coimbra), A metfora viva como ncleo
fundamental da mimesis potica em P. Ricoeur.
Filsofo e no linguista, o filsofo P. Ricoeur no seu esforo para pensar filosoficamente a
interao humana, mediante a sua linguagem, serve-se do ncleo fundamental da Potica
aristotlica (mimesis-muthos catarsis), em ordem a mostrar como s palavra potica (narrativa de
fico e narrativa histrica) diz o tempo vivido e a ao. Ela f-lo por meio de um muthos
construtor de uma metfora viva que nada sem o efeito retrico que por sua vez exerce sobre o
intrprete e as mltiplas interpretaes. A mimese I, II E III da obra Tempo e narrativa constri a
verdadeira metfora viva que nos leva a ver como e a ultrapassar o primado da funo referencial
puramente descritiva.
Tavares, Pedro (U. Por to), Um esquecido elogio setecentista do Portugus, como
lngua universal
Pedro Henequim, admirador de Vieira, entrou na febre do ouro e das conspiraes vividas no Brasil
no tempo de D. Joo V, e produziu um dos mais enfticos elogios possveis lngua portuguesa
como lngua imperial. Ratificou-o perante a Mesa do Santo Ofcio de Lisboa, pelo que o seu
discurso ainda se tornou mais grave, solene mas ignorado. A revisitao dos termos desse elogio,
indissocivel das circunstncias biogrficas deste autor, permite-nos perceber algumas das razes
profundas do ufanismo colonial luso, ligado a uma escatologia triunfal em que o portugus viria a
expressar a prpria comunho e unidade do gnero humano.
Urbano, Carlota Miranda (U. Coimbra), In laudem poeticae: o discurso latino do
P. Francisco de Mendoa em louvor da poesia.
O Jesuta Francisco de Mendoa, mestre de Retrica e clebre orador, foi uma figura de relevo no
panorama cultural portugus na passagem do sc. XVI para o sc. XVII. Publicada na maior parte
depois da sua morte, a obra do P. Mendoa foi editada repetidas vezes em diferentes cidades da
Europa, mas a sua influncia estendeu-se a todo o espao de influncia portuguesa. A obra por
que mais se tornou conhecido foi uma recolha de textos latinos levada a cabo pelo seu discpulo, o
P. Francisco Machado: o Viridarium Sacrae ac Profanae eruditionis (Lyon, 1632), uma espcie de
enciclopdia que reuniu discursos, poemas, progymnasmata, questes, pequenos tratados do
mestre e que teve uma grande projeco, tendo sido reeditada at ao sc. XVIII. Este mestre de
retrica e pregador que o Padre Antnio Vieira, no o tendo conhecido pessoalmente, designa
como seu mestre na arte de pregar, comps um breve tratado de Retrica que ocupa o Livro VII,
Flores Rethoricae, do Viridarium. No Livro VI do Viridarium, captulo que o editor da obra
intitulou Flores Eloquentiae, entre os discursos que o compem encontra-se um em louvor da
poesia (Oratio XVIII In laudem Poeticae). Nesta comunicao a autora prope-se estudar e
comentar precisamente este discurso latino, no contexto da teoria e prtica retricas coevas.