Post on 26-Oct-2015
Para entender a categoria de indivíduo em Louis Dumont, segundo a sua observação
será necessário notar que um individualismo moderno está presente nos primeiros
cristãos e no mundo que os cerca. Não é portanto um tipo de individualismo que nos
seja familiar. Estas duas formas de individualismo, o moderno e o nosso estariam
separados por uma transformação. A religião seria o fermento para uma generalização
da fórmula, e posteriormente em sua evolução. A origem desse individualismo moderno
segundo sua avaliação é duplo: “uma origem ou aceitação de uma certa espécie e uma
lenta transformação, numa outra espécie”. Ele se propõe a caracterizar esta origem e
analisar algumas das primeiras etapas dessa transformação.
Para iniciar ele designa duas coisas para indivíduo, um objeto fora do corpo e um valor.
Para uma compreensão de indivíduo ele faz uma relação com a índia que serve como
base para tal trabalho. Nesta cultura indiana temos a concepção de o “homem-fora-do-
mundo”, que segundo Dumont está inegavelmente presente no cristianismo e em torno
dele no começo da nossa era. Dentro desta concepção o homem nascido no ensinamento
do Cristo é um indivíduo-em-relação-com-Deus, quer dizer um indivíduo
essencialmente fora-do-mundo. Em consonância com as atividades helenistas o
pensamento de homem foi deixar em primeiro lugar o mundo social. Então como
entender a origem desse individualismo filosófico? Para ele a evidência está na ruina da
polis grega, no entanto não explica o surgimento do indivíduo enquanto valor. É fato
que as práticas dos mestres helenísticos alimentaram este individualismo. Note sua
observação: em Platão e Aristóteles, o homem é essencialmente social, enquanto nos
helenistas como ideal superior postularam o sábio desprendido da vida social.
O teórico que dá luz as trabalhos de Dumont é Ernest Troeltsch. Em Cristo e Paulo o
ensinamento é que o cristão é um indivíduo-em-ralação-com-Deus, isto é, em relação a
Deus um individualismo absoluto e universalismo absoluto. Aqui Troeltsch aponta, o
valor do indivíduo é ao mesmo tempo, o descrédito, a desvalorização do mundo tal
como existe, ele postula portanto um dualismo ou tensão que para o homem moderno
esta tensão entre verdade e realidade tornou-se difícil de aceitar. Um conceito que parte
dessa linha é o de “mudar o mundo”, este conceito cristão só foi possível graças a
distinção entre a vida prometida e a que de fato é a dele segundo as suas próprias
palavras. Existe um similaridade entre aquilo que ele chama de loucura do Cristo e o
bom senso do Buda que é uma desvalorização do mundo. Estas são as duas religiões
universais, missionárias, pois propiciam consolo aos homens.
Algo que pode ser observado é que diferentemente das religiões indianas o cristianismo
atinge desde o início “a fraternidade do amor em Cristo e por Cristo, e a igualdade de
todos que daí resulta uma, igualdade que insiste Troeltsch em sublinhar, existe
puramente na presença de Deus”. em termos sociológicos assinala-se uma fórmula
possível do cristianismo: a emancipação do indivíduo, por uma transcendência pessoal,
a união de indivíduos fora do mundo, isto é uma comunidade que caminha na terra mas
tem seu coração no céu. Citando Caspary, ele fala dos paris paulinos: este mundo e
além, corpo e alma, estado e igreja e Antigo e Novo Testamento, é neste pondo que ele
aborda esta questão como oposições que estão hierarquizadas. Aqui a ordem mundana é
relativizada, na medida em que se subordina os valores absolutos, neste caso o
individualismo-fora-do-mundo subordina o holismo – visão global – normal da vida
social. No futuro no mundo, o indivíduo-fora-do-mundo se converterá no moderno
indivíduo-no-mundo. Uma observação; “em relação a outros movimentos milenaristas
que se desenvolveram em condições parecidas com as da Palestina dos tempos dos
primeiros cristãos, a principal diferença para manutenção deste último está
precisamente no clima extra mundano do período. Sob este ângulo o primeiro
cristianismo está caracterizado pela combinação de elemento milenarista e de um
elemento extra mundano, com domínio deste último”. Em suma, os primeiros cristãos
estavam mais perto do renunciante indiano do que nós.
Os ensinamentos de Jesus sobre salvação, dirige-se a pessoas individualmente, riqueza
como impedimento e pobreza como adjutório. “No nível social, a regra secular da
igreja é bem conhecida”, é a regra de uso e não de propriedade. O que o autor sugere é
que a igualdade estava enraizada no próprio coração da pessoa, mesmo assim era uma
qualidade extramundana. Qualquer esforço para a perfeição estava dirigido para o
intervir ao individuo-fora-do-mundo.
Uma questão importante abordada pelo autor se dá com o dilema da igreja ante a
institucionalização do cristianismo. Um ponto que se percebe como delineador é a
relação do papado com Estado, que demonstra as mudanças ideológicas, ele aponta que
neste caso se introduz uma mudança na relação entre o divino e o terreno, nas suas
palavras: “o divino agora pretende reinar sobre o mundo por intermédio da igreja, e a
igreja torna-se mundana num sentido em que não o era até então”. Para Dumont esta
foi o que ele chama de uma opção histórica dos papas. Ora com estas mudanças que ele
chama de hierárquicas este indivíduo cristão estará mais intensamente implicado no
mundo. Com uma igreja mais mundana, o domínio político passa a participar de forma
mais direta dos valores universalistas. Portanto o indivíduo enquanto valor tinha seu
nascimento como alguém situado no exterior da organização social.
Um dos aspectos importantes do trabalho de Dumont é a relação que ele faz entre as
sociedades tradicionais e as sociedades modernas, buscando no sistema das castas
indianas uma explicação para nossa própria sociedade. Alguns elementos são apontados
para se explicar a evolução de uma sociedade holística isto é, englobada, e uma
sociedade individualizada ou igualitária. Na sociedade holística ele cunha o termo
hierarquia que na Republica de Platão “trata-se, antes de tudo de ordem global, e
ajustiça em proporcionar as funções sociais com relação ao conjunto”. A hierarquia
assume na mente do moderno uma conotação não tão aceitável, para ele portanto, a
hierarquia deve ser vista como um princípio de gradação dos elementos de um conjunto
em relação ao conjunto, essa gradação será portanto de natureza religiosa.
Finalmente, concluímos com a seguinte definição do estudo de Louis Dumont, para ele
é importante esta comparação entre o sistema hierárquico das castas indianas, não vista
evidentemente como um problema, mas, como uma forma ordenada e holística em
contra posição ao sistema individualista, igualitário que promove as liberdades
individuais. Para ele no que entendo, este estudo de cunho ideológico propõe uma
sociedade não individualizada, que de fato é um problema para a mente do sociólogo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CIÊNCIAS SOCIAIS – BACHARELADODEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
RESENHA CRÍTICA: INDIVIDUALISMO E HOMOHIERECTOS – LOUIS DUMONT
Docente: Juliana Melo
Discentes: Renildo Diniz Lopes Júnior
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SETEMBRO – 2013NATAL – RN