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MAYARA BARBOSA SILVA
Reportagem multimídia: a produção musical
independente do Circuito Fora do Eixo
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV
Viçosa – Minas Gerais
2011
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MAYARA BARBOSA SILVA
Reportagem multimídia: a produção musical
independente do Circuito Fora do Eixo
Projeto Experimental apresentado ao Curso de
Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade
Federal de Viçosa, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.
Orientador: Dr. Carlos Frederico de Brito d’Andréa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV
Viçosa – Minas Gerais
2011
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Agradecimento
Ao longo desses quatro anos de graduação vivi momentos inesquecíveis e de grande
aprendizado que ficaram marcados para sempre na minha memória.
Primeiramente, a Deus por todas as oportunidades, benções e pessoas que colocaram na
minha vida e que fizeram com que ela se tornasse maravilhosa. Sou muito grata.
Nada do que eu passei seria possível sem a presença da minha mãe, minha irmã e minha tia.
As três mulheres da minha vida, que me dão inspiração para ser melhor a cada dia. Especialmente
minha mãe, a mulher mais forte e lutadora que conheci em toda minha vida, que não deixou que me
faltasse amor, mesmo de longe e que me deu todo o suporte necessário nessa caminhada. Eu te amo.
Ao meu pai, que onde quer que esteja, deixou plantado em mim os melhores sentimentos e
ensinamento, se tornando um exemplo mesmo passando tão poucos anos perto de mim. Saudades.
Agradeço aos amigos que acompanharam de perto todos esses anos: Monizy, Kívia,
Jordana, Nayara, Murilo, Maria Clara e as amigas de república. Obrigada pelas conversar, besteiras,
colos e broncas. Pessoas que marcaram minha vida. Ao amigo Davi, que mesmo longe se mostrou
presente e que se tornou um irmão e um exemplo de homem.
Quero agradecer a turma de Comunicação Social 2008 que me proporcionou, como um
todo, momentos engraçados e me deram gargalhadas infinitas e incontroláveis. Todos eles passaram
por todos os sofrimentos e alegrias de serem calouros e se sentirem um pouco perdidos no mundo, e
de formar e sofrer com a incerteza do que acontecerá depois da universidade. Desejo sucesso a
todos.
Agradeço ao professor Carlos d´Andréa que me orientou e ajudou tornar meu projeto real.
Dando os puxões de orelhas sempre certos e a mão amiga quando necessário.
Gostaria de agradecer ao André Pacheco, amigo que tornou esse projeto mais bonito e que
foi indispensável para que ele se tornasse melhor, apesar de todas as faltas com prazos.
Ao Coletivo Fórceps que possibilitou a realização das entrevistas no “Escambo - Festival de
experiências culturais". Dando não apenas a possibilidade de realizar esse projeto como me mostrar
o que é o Circuito Fora do Eixo. Essa rede incrível, que promove coisas lindas em todo o país e que
tem pessoas maravilhosas que só querem fazer o bem. Agradeço a todo o circuito por ter me
acolhido da melhor forma possível. Vi no trabalho que vocês realizam o que vinha procurando a
vida toda. Um trabalho inspirador, despretensioso e que me tornou mais completa e feliz. Obrigada
por tudo.
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Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly.
All your life, you were only waiting the moment to arise.
[Paul McCartney]
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Resumo
O presente projeto experimental trata do produção musical desenvolvida pelo Circuito Fora
do Eixo, uma rede de coletivos culturais espalhados pelo Brasil. Através de uma
reportagem multimídia, o projeto procura mostrar e investigar de que modo se dá a
integração dos agentes culturais do Fora do Eixo e seus coletivos com as bandas
independentes e os mecanismos desenvolvidos por eles para que haja a promoção e
circulação dessas bandas, e consequentemente, para a formação de um novo público. Como
resultado, foi proposto o desenvolvido do website Música Fora do Eixo
(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo), utilizando de ferramentas multimídias - textos,
vídeos, áudios e fotos - coletados no Escambo - Festival de experiências Culturais, em
Sabará-MG, para contar como esse processo de produção desenvolvido pelo Fora do Eixo
ocorre.
Palavra-chave: Música Independente, Circuito Fora do Eixo, Reportagem Multimídia
Abstract
The following experimental project deals with the musical production developed by
Circuito Fora do Eixo, a network of cultural communities throughout Brazil, in association
with individual musical bands. This project seeks to demonstrate and analyze the method
used that enables the integration of Fora do Eixo’s cultural factors and its collective work
with musical bands, and the mechanisms developed by Fora do Eixo in order to promote
and publicize these bands, which consequently leads to the formation of a new audience. As
a result, the development of the website Música Fora do Eixo
(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo), was proposed. This website will be using multimedia
tools, such as texts, videos, audios and pictures, collected in Escambo - Festival of cultural
experiences, in Sabará- MG, to inform and report how this production process, developed
by Fora Do Eixo, occurs.
Key word: Independent Music, Fora do Eixo Circuit, Multimedia Reporting.
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Lista de Figuras
Figura 1: Reprodução do uso de ilustrações...........................................................25
Figura 2: Reprodução da Home do site ..................................................................27
Figura 3: Reprodução da divisão de páginas dentro dos posts ...............................29
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................8
2. DISCUSSÃO TEÓRICA................................................................................................10
2.1 - Música independente ..........................................................................................10
2.1.1 - O Circuito Fora do Eixo..............................................................................13
2.2 Reportagem Multimídia ........................................................................................17
3. RELATÓRIO TÉCNICO...............................................................................................21
3.1 Gravação ................................................................................................................21
3.1.1 Entrevistas.....................................................................................................22
3.2 Edição do material..................................................................................................23
3.3.1 Textos.............................................................................................................23
3.3.2 Vídeos e áudios ............................................................................................24
3.3.3 Outros recursos .............................................................................................25
3.3 Construção do site ......................................................................................................26
3.3.1 Hospedagem .................................................................................................26
3.3.2 Estrutura do site............................................................................................27
3.3.3 Publicação.....................................................................................................29
4. CONCLUSÃO.................................................................................................................31
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................33
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1. Introdução
A produção cultural foi diretamente afetada pelo avanço das novas tecnologias. E
dentro desse cenário, as manifestações culturais tiveram modificações mais visíveis em
seus processos produtivos e, por consequência, em seu consumo. A música foi a mais
visivelmente atingida dentro desse processo.
A cadeia produtiva da música passa, desde a composição das canções, gravações,
divulgação, chegando até os shows, quando o produto já está na mão do consumidor. Todo
esse processo vem se transformando e passou a ser muito mais digital que material. A
indústria fonográfica, responsável pelo funcionamento dessa cadeia produtiva da música,
entrou em colapso com a possibilidade de se baixar músicas de maneira gratuita e rápida
pela internet. Os efeitos disso foram crescendo, junto com a facilidade de acesso ao
computador e a sua popularização. Assim as pessoas passaram a não comprar mais CD’s,
que durante esse processo já estavam com preços altíssimos. Elas agora enchem seus HD’s
com milhares de mp3 (um tipo arquivo comprimido de áudio, sem perda de qualidade).
Esse cenário é propício para aqueles que produzem seu trabalho de maneira
independente. Graças a toda a essa facilidade desse novo cenário, a divulgação de seus
trabalhos se dá de uma forma muito mais eficaz e consegue atingir milhares de pessoas e de
maneira até global.
Pensando nas possibilidades e potencial do cenário independente nacional, o
“Circuito Fora do Eixo” desenvolveu e adaptou tecnologias para fazer com que essas
bandas continuassem com suas características, sem precisar se encaixar ao modelo de
mercado, e circulassem com seu trabalho pelo país todo.
Além da questão cultural, um dos objetivos é também
transformar o meio político e econômico em que a difusão
cultural se encontra no Brasil. Através do estímulo a bandas
independentes, o Fora do Eixo favorece a circulação musical
em todas as localidades em que existem coletivos integrados,
e junto a isso incentiva trocas de tecnologias com o objetivo
de oferecer alternativas ao público que depende de grandes
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empresas que detém a propriedade de canais de produção e
circulação das artes e as vendem a um preço que a maioria
dos brasileiros não pode pagar. (MADUREIRA et al, 2011:1)
Como uma nova forma de produção cultural, o “Circuito Fora do Eixo” vem se
destacando como uma das maneiras mais expressivas de promoção da cultura independente.
Essa forma diferente e inovadora de trabalho foi o estímulo para uma aproximação
ao circuito e assim poder viabilizar uma maior pesquisa e a produção desse trabalho
experimental. Tornando possível um conhecimento maior das tecnologias e novas formas
de produção que o circuito vem propondo e a ideia de que um trabalho coletivo pode ser
muito mais estimulante e chama mais a atenção de bandas
A reportagem multimídia Música Fora do Eixo vem como uma forma de
aprofundamento do que vem a ser esse trabalho conjunto e colaborativo do “Circuito Fora
do Eixo” e das bandas independentes brasileiras. Com o objetivo principal de difusão, em
um meio de fácil acesso que é a internet, dessas ferramentas desenvolvidas pela rede.
Analisando, ponto a ponto, os mecanismos utilizados e adaptados para facilitar a construção
de novos cenários para tais bandas.
Conceituaremos no capítulo 2 a música independente, diferenciando e
problematizando as diferenças entre underground e mainstream, artistas independentes e os
de grandes gravadoras. Falaremos ainda sobre o “Circuito Fora do Eixo” , conceituando e
explicando essa rede cultural. Discutiremos também questões sobre reportagem multimídia,
entendendo melhor essa linguagem jornalística.
No capítulo 3 tratamos dos relatos técnicos de como foi toda a produção da
reportagem multimídia, desde a criação do template, hospedagem, entrevistas e edição de
conteúdo, explicando passo a passo todo o seu processo de criação. No capítulo 4, fazemos
uma avaliação do processo de elaboração da reportagem multimídia e do contato com o
trabalho do “Fora do Eixo”.
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2. Discussão Teórica
2.1 Música independente
Com todos os avanços tecnológicos, a facilidade de acesso a diferentes tipos de
músicas fizeram com que artistas independentes e de grandes gravadoras passassem a
dividir espaço e público de forma um pouco mais igual. A grande responsável por isso,
sem dúvida, é a internet, que possibilitou um compartilhamento de conteúdo sem
fronteiras. Nesse contexto, independentes e artistas “pop” dividem o mesmo palco, com
estratégias diferentes e ao mesmo tempo muito parecidas.
Quando nos remetemos a essa “disputa” entre independentes e as grandes
gravadoras, devemos pensar sua diferenciação através da sua produção. Assim como Filho
e Janotte (2006), usamos os termos que se popularizaram: mainstream e underground.
Artistas do mainstream podem ser definidos como aqueles que escolheram a
“confecção do produto reconhecidamente eficiente, dialogando com elementos de obras
consagradas e com sucesso relativamente garantido.” (p.8). Esses artistas conseguem
dialogar com ampla facilidade com as mídias de massa, conseguindo maior visibilidade.
Graças a grande equipe por trás de cada artista através das grandes gravadoras. Assim, sua
produção alcança um número imensamente maior de pessoas, além da divulgação intensa
nas redes sociais.
O mainstream apresenta um modo comercial de produção cultural em todos os
âmbitos e, como afirma Costa (2003, p.2), “é legitimada pela demanda desses produtos”.
Com uma cultura voltada para uma população massificada, onde artistas e estilos passam
por um processo de agendamento e são inseridas nas vidas dessas pessoas, as grandes
gravadoras (ou majors) possuem um terreno propício para cultivar o consumo do que elas
acreditam ser rentável. Para Costa (2003), os valores estéticos e de conteúdo passam a estar
em segundo plano: “esses produtos passaram por uma hierarquização quanto à qualidade,
no sentido de privilegiar uma quantificação dos procedimentos da indústria cultural, não há
uma preocupação exata com seu conteúdo, mas com o registro estatístico dos
consumidores” (p.2).
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Já os artistas do underground apresentam uma forma muito “caseira” e ideológica
de produção.
Os produtos “subterrâneos” possuem uma organização de
produção e circulação particulares e se firmam, quase
invariavelmente, a partir da negação do seu “outro” (o
mainstream). Trata-se de um posicionamento valorativo
oposicional no qual o positivo corresponde a uma partilha
segmentada, que se contrapõe ao amplo consumo. (FILHO e
JANOTTE, 2006, p. 9)
Assim, como também afirma o autor, o underground tende a uma autenticidade
maior em suas obras exatamente porque não existe um controle direcionando ao que é
produzido. A divulgação desses artistas é caracterizada pela segmentação, através de
fanzines, marketing das pequenas gravadoras e internet, atingindo muitas vezes apenas um
público alvo.
Podemos ainda conceituar os independentes, como aqueles que fazem todos os
processos de produção sozinhos ou com ajuda de pessoas próximas, que trabalham com
agenciamentos de shows, produção e gravação de músicas. Ainda é possível classificar
como bandas independentes aqueles que pertencem pequenos selos e gravadoras. Além
disso, podem ser diferenciados pela forma de distribuição do seu trabalho, sendo chamados
também de indies.
O termo indies refere-se às empresas de atuação
predominantemente local, vinculadas normalmente a
segmentos musicais específicos, que costumam atuar na
formação de novos artistas e na prospecção de novos nichos
de mercado. Porém, considerando a pulverização dos meios
de produção musical que as tecnologias digitais passaram a
proporcionar já a partir do final dos anos 80, entendo que
hoje o termo se refere indistintamente tanto a pequenas
gravadoras quanto a artistas que desenvolvem
autonomamente a produção de seus discos (VICENTE, 2006:
3)
O autor diferencia dentro desse conceito as bandas por suas formas ideológicas e de
produção: a) bandas independentes porque não foram ainda aceitas pela Indústria
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Fonográfica; b) bandas que ideologicamente preferem permanecer no underground a serem
subordinados; c) bandas que trabalham em cooperativas para que o processo de produção
seja facilitado, sendo uma forma de tentar entrar em cenário maior. Podendo existir ainda
uma quarta forma de produção de seus trabalhos, como afirma Monteiro (2008, p.3), que
são viabilizadas com a ajuda de programas culturais ligadas ao governo através da Lei de
Incentivo a Cultura.
Com a internet como grande aliada, os músicos independentes conseguem alcançar
de forma mais eficaz o público segmentado que procura e gosta desse tipo de produção. Tal
ponto nos remete a Teoria da Cauda Longa, de Chris Anderson. Em seu livro, A Cauda
Longa: Do mercado de massa para o mercado de nicho, Anderson (2006) defende que a
internet disponibiliza tudo para todos. Dentro desses mercados de nicho vemos bandas
regionais que atuam de forma direta apenas em seus estados e onde possuem público. A
internet possibilitou que esses públicos continuassem segmentados, mas que se
expandissem para outras regiões, graças as ausência de fronteira possibilitada pela internet.
Pessoas em rede se conectam e se relacionam com outras pessoas possuem os mesmos
interesses e dessa forma trocam arquivos e informações através de blog e redes sociais,
possibilitando a circulação de conteúdo cultural. Nesse sentido, essas bandas podem atingir
localidades além das suas fronteiras geográficas.
O novo mercado de nichos não está substituindo o tradicional
mercado de hits; apenas, pela primeira vez, os dois estão
dividindo o mesmo palco [...] Agora, numa nova era de redes
de computadores em rede, na qual tudo é digital, a economia
da distribuição está mudando de forma radical, à medida que
a Internet absorve quase tudo, transmutando-se em loja,
teatro e difusora, por uma fração mínima do custo tradicional
(ANDERSON, 2006, p. 06)
A internet possibilitou a criação de uma cultura digital e global, onde não é
necessária a vivência na vida offline para que seja legitimada e perpetuada uma
determinada cultura. Esse processo de cultura globalizada que possibilita a divulgação das
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bandas e faz com que elas atinjam um número de pessoas que não precisam ser
necessariamente da mesma área geográfica e cultural.
Todo esse avanço tecnológico possibilitou a distribuição gratuita de conteúdos
como filmes, séries e música. Nesse contexto de difusão de conteúdo sem nenhum controle
vemos uma Indústria Cultural em crise. A Indústria Fonográfica, sem dúvida, foi a mais
afetada. Tanto que os CD’s estão a caminho da extinção. Enquanto isso as gravadoras e
artistas “pop” se mobilizam para se reorganizar no novo cenário de consumo, procurando
formas criativas e muita publicidade para manter o sucesso do seu casting, se apropriando
principalmente dos recursos online. Do outro lado, artistas independentes se articulam para
a promoção de sua música, utilizando dos mesmos recursos da internet, mas em proporções
bem menores.
O mercado da música independente conseguiu, através do desenvolvimento de
aparelhos de reprodução e estúdios caseiros cada vez mais avançados e acessíveis, realizar
produções com um menor custo e com mais facilidade. A internet foi fundamental para o
fortalecimento e a troca de informações deste mercado, que tem uma produção muito maior
do que a indústria fonográfica convencional (OLIVEIRA, 2006). Nesse contexto, as bandas
independentes ampliam seu espaço no meio musical, já que podem se inserir de forma um
pouco mais igual no mercado.
2.1.1 - Circuito Fora do Eixo
O “Fora do Eixo” é uma rede de coletivos culturais, que são unidades menores e
regionais, espalhados por todo o país e que agem colaborativamente para a produção
cultural no país. Estão presente em todas as capitais brasileiras, cidades do interior e em
países da América Latina, como Argentina, Costa Rica, Honduras, Bolívia, Guatemala,
Nicaragua e Chile, somando ao todo cerca de 100 coletivos.
A rede de coletivos propõe uma nova forma de sociedade e de diálogo com a
política. São jovens que deixaram de lado a posição de reclamação acomodada e estagnadas
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e foram à luta. A chamada “Geração Pós-Rancor” vem mostrar e fazendo grandes
transformações na sociedade, e dando outras perspectivas para aqueles que se mostram
pouco otimistas em relação à juventude de hoje. São jovens que se mobilizaram pela
cultura livre do país e que se propõem a torná-lo melhor.
O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza
sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos
da organização dos movimentos de esquerda e de ações de
marketing típicas dos liberais. É, como disse, o teórico da
contracultura Cláudio Prado, a construção da geração pós-
rancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha
radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que
tem que ser feito. (Revista TRIP, ed. 199, maio de 2011)
Os coletivos culturais são um grupo de pessoas que trabalham de forma
colaborativa, dividindo tarefas e funções como as frentes temáticas. Cada frente é
responsável por uma produção artística, como o teatro, as artes visuais e a música. Ainda
existem membros que ficam responsáveis por todo o planejamento e gestão do coletivo,
administrando um pouco de cada ação. Alguns dos coletivos existentes possuem sede, onde
seus membros moram e dividem todo o dinheiro, roupas e comida. Isso pode ser visto como
uma forma de viver a fundo a coletividade, tornando o coletivo mais conectado e afinado
em suas ações.
Através dos coletivos, o circuito reúne bandas independentes de vários pontos do
país que não são absorvidas pelo mercado, capacitando e dando meios para que essa banda
desenvolva seu trabalho, possa ter suas músicas gravadas e possa circular com seus shows.
Utiliza-se da Lei de Incentivo à Cultura, do poder público e privado para viabilizar muitos
dos projetos que possibilitam o ingresso das novas bandas e artistas de vários segmentos no
cenário cultural, tornando-se uma nova opção de produção cultural.
A rede desenvolve suas próprias tecnologias e modos de ação para que a promoção
desses artistas e de eventos seja otimizada. Para isso, tais coletivos estão em contato
constante, trocando experiência e promovendo intercâmbios entre seus agentes para que a
rede como um todo se torne coesa. O circuito promove congressos nacionais e regionais
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que reúnem esses coletivos, e deles articulam novos projetos a serem desenvolvidos e
fazem capacitação de agentes para trabalharem com essa prática cultural. No II Congresso
Fora do Eixo, foi escrita uma Carta Princípio que define exatamente o modo de trabalho do
circuito.
O Circuito Fora do Eixo é uma rede colaborativa e
descentralizada de trabalho constituída por coletivos de
cultura espalhados pelo Brasil, pautados nos princípios da
economia solidária, do associativismo e do cooperativismo,
da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais, do respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades
culturais, do empoderamento dos sujeitos e alcance da
autonomia quanto às formas de gestão e participação em
processos sócio-culturais, do estímulo à autoralidade, à
criatividade, à inovação e à renovação, da democratização
quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento de
tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da
sustentabilidade pautada no uso de tecnologias sociais.
(CARTA PRINCÍPIOS, 2010)
O circuito se afirma como uma opção de produção musical que foge da priorização
do que é comercialmente rentável e propõe relação de igualdade entre bandas e coletivo.
As ferramentas desenvolvidas a fim de dar consecução a
cada um dos pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo
devem ser desenvolvidas de forma integrada, orgânica,
transversal, interdependente e interpenetrante, de modo a
constituir o chamado Sistema Fora do Eixo de Música e
Cultura Independente, que tende a suplantar a lógica do
modelo ainda predominante da indústria fonográfica (as
majors e seu modus operandi contratual) pela lógica do
“mercado médio” cultural, pautado pelos princípios da
economia solidária aplicados às cadeias produtivas da
economia da cultura, em especial, da música independente.
(CARTA PRINCÍPIOS, 2010)
A relação dos coletivos com suas bandas parceiras vai além do que possa ser
fechado em contratos. Essa relação, primeiramente, não é contratual, a banda é livre em
suas escolhas de carreira. O contato com o coletivo sempre começa com uma conversa
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sobre como funciona o “Circuito Fora do Eixo” e um entendimento da dinâmica de trabalho
da rede. É mostrado para a banda que para que ela possa crescer é necessário um
investimento inicialmente local e a partir daí começar a circulação para a criação de cenas
em outras regiões. Essa circulação é otimizada graças a conectividade dos coletivos, que
fazem com que as bandas circulem nas cidades onde existem pontos do Fora do Eixo. Essa
circulação é ainda mais eficaz quando porque não se marca apenas um show em
determinada cidade, são negociados também show em outras cidades ao longo do percurso.
Todo esse trabalho é realizado pela Agência do Fora do Eixo, um grupo de agentes que são
responsáveis apenas por essa circulação e esses intermediários das bandas e outros
coletivos.
Dentre as várias atividades que o “Circuito Fora do Eixo” realiza, os festivais de
música independentes são bastante marcantes, promovendo mais de 100 festivais em todo o
país. Pensando na formação de divulgação de uma banda, os festivais podem ser uma forma
de colocar frente a frente banda e seu público alvo. Os shows são termômetros de quanto a
música tocou e mobilizou as pessoas que os assistem, pois o publico dá respostas imediatas.
A organização em rede permite a articulação dos festivais,
dos produtores musicais e dos músicos, e representaria o
gérmen da formação de um mercado intermediário para a
música no país. Mas, além disso, toda uma série de produtos
ligados à música (instrumentos, aparelhagem de som, etc.),
aos estilos (roupas, discos, tatuagem, maquiagem,
assessórios, etc.), bem como o pessoal de apoio dos festivais
(montagem de palco, equipe de som, iluminação, etc) e
vendedores de diversos produtos são incluídos nesta cadeia
produtiva a partir da relação com os princípios da economia
solidária. (BENEVIDES, SD, p.8)
Dos festivais saem as impressões de certo número de pessoas que recebendo de
forma positiva a músicas e a banda em si, passam a comentá-las no bom e velho boca a
boca. E de forma mais eficaz, essa pessoas espalham nas redes sociais suas opiniões, links e
vídeos sobre tal banda.
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E foi aliando tecnologia e produção cultural, que o “Circuito Fora do Eixo”
consegue ser um dos grandes meios de fomento e difusão cultural no Brasil na atualidade.
Seus agentes estudam as melhores maneiras de conseguir atingir o público. Fazendo
músicos e artistas de vários segmentos circularem pelo país e formarem um novo quadro
cultural nacional. Mais do que apenas música vemos o Circuito como o potencializador da
cultura independente em geral. Dando a possibilidade a artistas locais, de qualquer tipo de
arte, ter em maior visibilidade em seu trabalho.
2.2 Reportagem Multimídia
O jornalismo, assim como outras centenas de áreas, adaptou-se a linguagem da
internet. Aos poucos vimos o webjornalismo incorporar cada vez mais recursos que
facilitam a leitura e a tornam mais interessante e dinâmica. Um exemplo disso é a
reportagem multimídia.
A reportagem multimídia se destaca pelo carácter de aprofundamento noticioso de
determinado tema, pautas frias, utilizando-se de recursos multimidiáticos, tais como
imagens, áudio, vídeo e texto. Tal estilo jornalístico se apresenta como afirma Raquel Ritter
Longhi (2010), como um pacote completo de informação. Isso porque apresenta
informações completas sobre determinado assunto. Não se prendendo apenas a um ponto e
sim investigando, de forma mais completa, todo o tema. Para que esse aprofundamento seja
maior, destacamos duas características desse estilo jornalístico: a hipertextualidade e a
multimidialidade. Porém “nem todas as reportagens agregam todos os elementos ao mesmo
tempo. Cada uma apresenta a informação de acordo com a necessidade. O importante é
perceber que em várias reportagens são encontrados diferentes elementos do
webjornalismo”. (PALÁCIOS E RIBAS, 2007:45)
A hipertextualidade dá ao texto uma não linearidade, sendo ele ligado a diversos
outros textos relacionados, e permitindo aos leitores “passear” pela leitura e criando seu
próprio caminho e final de leitura.
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Essa possibilidade, potencializada pelas ferramentas da
internet, dá ao leitor a condição de reatividade, uma vez que
é ele quem “faz” o texto final, indo de nó em nó de acordo
com sua experiência de vida e seus interesses específicos. O
fim, para o leitor, é quando ele encerra a leitura. O início
(para o leitor, pelo menos) é por onde ele começou a leitura,
independentemente se for ou não por onde o autor começou a
escrever o texto. (BALDESSAR et al, 2009 : 3)
A hipertextualidade não se limita a ligação apenas de texto a texto, comumente
relacionada a ferramenta do hiperlink. Ela pode ser vista também com ligações a imagens,
vídeos e outros recursos mídiaticos, sendo assim conhecida como hipermidialidade.
A multimidialidade é a interação entre mídias distintas. Em uma reportagem
multimídia, ela aparece com um recurso de justaposição onde há duas mídias diferentes em
um mesmo ambiente, mas sua relação não fica clara. Ou pode aparecer como integração,
onde há uma unidade comunicativa entre as mídias usadas, esses meios se complementam e
possuem uma coesão. (SALAVERRIA, 2005 apud LONGHI, 2010)
Tal elemento webjornalistico, também visto como convergência midiatíca, traz um
elemento diferenciado ao texto e sua recepção. “Texto, áudio, vídeo, fotografias,
animações, simulações podem fazer parte da narrativa webjornalística de maneira
complementar, constituindo uma estrutura plural que explora os diferentes sentidos da
percepção humana.” (PALÁCIOS E RIBAS, 2007:44) Dessa forma podemos usar com
mais liberdade esses recursos audiovisuais, dando ao leitor formas diferenciadas de receber
informação.
Dessa forma, vemos a experimentação que pode ser feita nas edições dos materiais
audiovisuais. Por se trazer de uma reportagem jornalística, a reportagem multimídia não
precisa necessariamente se prender as estruturas tradicionais. Exatamente por esse estilo ir
além de uma rápida notícia diária. Assim, os vídeos não precisam apresentar a estrutura de
uma reportagem de televisão e assim por diante. Essa liberdade nos remeta a ideia de
documentário, trazendo uma forma diferente de ver os fatos.
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O documentário nasce da liberdade de estilo e a regra básica
para sua criação é a capacidade humana dos profissionais
envolvidos. O documentário não exige conceitos técnicos
senão aqueles referentes às técnicas de produção específicas
(cinema, televisão, Internet); não exige imagens meramente
ilustrativas e sua montagem não obedece a um padrão
determinado e exclusivo. A produção de um documentário
responde às características de estilo do autor e sua existência
está intimamente ligada às formas individuais de criatividade
intrínseca que estabelecem o elo com a “realidade” a ser
reproduzida. (GREGOLIN, SACRINI e TOMBA, 2002: 6)
A reportagem multimídia permite a utilização dessa linguagem, dando subjetividade
à forma de se apresentar e de perceber a reportagem. Um bom exemplo é a reportagem “O
Terminal - Histórias de rodoviária”, dividida em vários vídeos, a reportagem apresenta
depoimentos livres e com poucos cortes de pessoas que passam pelo terminal rodoviário de
São Paulo1.
Utilizando-se dessas características, a reportagem multimídia apresenta também
uma estrutura diferenciada das reportagens e notícias em outros meios de comunicação. A
pirâmide invertida, estrutura tradicional no texto jornalístico, deixa ser o único modelo na
linguagem da internet. Uma das propostas de construção da reportagem multimídia, por
exemplo, é o modelo chamado por Canavilhas (2006) de “pirâmide deitada”. Ao invés de
privilegiar a informação mais importante colocando-a em primeiro plano e deixando
informações menos relevantes ao final, como faz a pirâmide invertida, a pirâmide deitada
procura dar as informações principais no lead, seguida de uma explicação do assunto e
complementos que passam a ser o nível de exploração, onde o receptor passa a ter
informações adicionais externos. “Usar a técnica da pirâmide invertida na web é cercear o
webjornalismo de uma das suas potencialidades mais interessantes: a adopção de uma
arquitetura noticiosa aberta e de livre navegação” (CANAVILHAS 2006). A partir daí o
leitor faz o seu texto, e como já dissemos anteriormente, termina a leitura onde deseja “o
espaço é tendencialmente infinito.” (CANAVILHAS, 2006).
1 Esta reportagem multimídia é um projeto do Master em Jornalismo Digital Multimídia de 2009 e
pode ser acessada pela URL http://www.masteremjornalismo.org.br/o-terminal/
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A estrutura da reportagem multimídia também possibilita uma leitura diferenciada
da mesma. Ela possibilita ao leitor uma leitura linear de acordo com sua navegação, e como
afirma Canavilhas, elas possuem eixos fixos que proporcionam esse caminho direto.
Quando não existem eixos a leitura passa a ser multilinear. Seriam um conjunto de textos
que estão em um mesmo contexto, mas que não precisam um do outro para serem
entendidos.
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3. Relatório Técnico
A elaboração da reportagem multimídia Música Fora do Eixo
(www.com.ufv.br/musicaforadoeixo) foi desenvolvida com o objetivo de investigar as
ferramentas e meio de divulgação criados e utilizados pelo “Circuito Fora do Eixo” com as
bandas independentes vinculadas à rede.
Para colher material para a produção da reportagem foi preciso ir ao “Escambo -
Festival de experiências culturais”, realizado em Sabará (MG) nos dias 18 a 24 de julho,
onde aconteceriam não só shows, mas o Congresso do Fora do Eixo Minas, umas das
regionais do Circuito, encontro este, onde estiveram agentes culturais de todo o estado e
país. Foram realizadas entrevistas de vídeo, áudio e registros fotográficos com agentes do
circuito e com banda parceira, além de momentos do festival, que relatassem e explicassem
essa relação das bandas independentes com o “Fora do Eixo”, e também os mecanismos
utilizados para difusão do trabalho dos músicos.
A coleta de material contou com a ajuda da aluna do oitavo período de
Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, Jordana Diógenes
Belo, que ajudou com filmagens e fotografias.
3.1 Gravação
A viabilidade das gravações no “Festival Escambo” foi conseguida a partir do
contato com João Rafael, responsável pela comunicação do Coletivo Fórceps, que
organizou o evento. Dentro da dinâmica do Fora do Eixo, ficamos na hospedagem solidária
- com hospedagem e alimentação gratuitas - na Escola Municipal Padre Sebastião Tirino,
junto com todos os agentes do “Fora do Eixo”, participando de todas as atividades do
congresso.
A captação de entrevistas e imagens aconteceu durante toda a semana de
programação do festival com a câmera filmadora Sony HVR-Z7N e uma câmera
fotográfica profissional Canon D90, cedidos pelo Laboratório de Comunicação Social da
22
UFV. A captação de imagens e entrevistas aconteceu durante os shows no Teatro Municipal
de Sabará, Praça Melo Viana, Escola Municipal Padre Sebastião Tirino, Biblioteca
Municipal e na casa de show Porto Farol.
Em todas as entrevistas era explicada a intenção do projeto e a recepção era sempre
boa. Dentro do “Circuito Fora do Eixo” esse tipo de pesquisa é muito valorizado, pois ajuda
em uma sistematização teórica do trabalho da rede, além de difundir seus ideais e trabalho.
3.1.1 Entrevistas
As entrevistas foram todas realizadas com a intenção de explicar e ilustrar de
maneira clara como é realizado o trabalho do “Circuito Fora do Eixo” na cultura nacional,
sendo mais aprofundado na questão musical. Por isso foram entrevistados agentes culturais
do Circuito e bandas que participavam do “Escambo - Festival de experiências culturais”,
realizado em Sabará - MG. Das diversas entrevistas feitas durante o festival, apenas sete
foram selecionadas para entraram no projeto, devido os problemas técnicos que algumas
fitas apresentaram e também pela linha de conteúdo que foi decido seguir.
a) Pablo Capilé: gestor do “Circuito Fora do Eixo” e um dos fundadores dessa rede
de coletivos. Fez parte do Espaço Cubo, um dos primeiros coletivos, localizado em Cuiabá
- MT. Hoje ele faz parte do corpo de moradores da Casa Fora do Eixo São Paulo, ponto
nacional do circuito. Em seu depoimento, o gestor fala do surgimento da rede e o que ela
defende e pretende e como é o trabalho desenvolvido em todo o país.
b) Felipe Altenfelder: agente cultural do “Fora do Eixo” e é responsável pela
agência de bandas do circuito. Seu vídeo ilustra exatamente a ação do “Fora do Eixo” junto
às bandas, explicando a circulação das bandas pelo país, como se dá a relação com os
produtores e como acontece o esquema de remuneração.
c) Talles Lopes: presidente da Associação Brasileira dos Festivais de Música
Independente. Em seu depoimento, abordou a evolução dos festivais e a importância deles
como forma de aproximação das bandas com o público e com outros coletivos, dando como
23
exemplo o Circuito Mineiro de Festivais Independentes, doze festivais que acontece no
estado de Minas Gerais no segundo semestre do ano e que já está em sua segunda edição.
d) Bianca Lima: agente cultural e responsável pela Distro Fora do Eixo. Sua
entrevista foi dividida em várias partes. Em cada uma delas, a agente abordou um tema,
como o selo online, Compacto.rec, a Banquinha FdE e a Distro FdE. Todas as falas tiveram
um cunho explicativo e ilustrativo de como funciona cada mecanismo.
e) Tiago Salgado: agente do Coletivo Fórceps e integrante da Banda 4Instrumental,
fala sobre a relação de sua banda com o coletivo Fórceps.
f) Leonardo Santiago: agente do Coletivo Fórceps, Leonardo falou sobre a temática
da relação banda/coletivo, mostrando como acontece a aproximação das bandas com o
circuito e como isso pode ser benéfico para elas.
g) Dibigode: banda belorizontina é uma das bandas independentes parceiras do “Fora
do Eixo”. Com uma produção instrumental, a banda fala sobre ser independente e fazem o
relato de como acontecem suas produções.
h) Emicida: o rapper paulistano fala sobre como o “Fora do Eixo” vem sendo uma
grande alternativa para artistas independentes.
3.2. Edição do material
Como vimos anteriormente, uma reportagem multimídia utiliza-se de elementos
como vídeos, áudios, texto e fotos para ir mais fundo no tema proposto. Nesse contexto,
essas ferramentas multimídias foram usadas, de forma a se complementarem e
proporcionarem ao leitor uma percepção diferenciada do conteúdo proposto.
3.2.1 Textos
A utilização da ferramenta de texto nesse projeto vem como um apoio conceitual e
de complementação das informações ao leitor. A partir do momento em que a edição dos
24
vídeos, áudios em si não trazem todo o conteúdo explicativo necessário para que haja um
entendimento completo do que é o “Circuito Fora do Eixo” e todos os seus mecanismos.
Foram elaborados textos para cada página da reportagem, dos quais foram usadas a
ferramenta de hiperlink para possibilitar ao leitor uma leitura mais avançada.
3.2.2 Vídeos e áudios
Utilizando a linguagem multimídia integração entre as mídias, o uso dos vídeos e
áudios se tornou uma forma de ilustrar de maneira mais clara e facilitada do conteúdo ao
receptor, dando voz aos protagonistas da matéria, nesse caso agentes do “Circuito Fora do
Eixo” e bandas independentes. Dessa forma, o conteúdo apresentado e dando a ele mais
credibilidade e veracidade.
A edição dos vídeos foi realizada de forma a poder ilustrar sem nenhum ruído, ou
interferência do editor, seu sentido. Utilizando o programa Edius de edição de vídeo, versão
5.5. Com o intuito de mostrar a ação dos entrevistados de maneira direta e mais natural
possível. Por isso foram mescladas cenas de entrevista, onde as pessoas estavam em um
enquadramento fechado, e cenas de ações durante o “Escambo - Festival de experiências
culturais”. Em alguns depoimentos, foram utilizados apenas uma música de background,
para que não houvesse apenas silêncios ao fundo das falas. Todos os vídeos foram
hospedados no site de vídeos gratuito YouTube 2.
Os áudios foram editados de forma mais simples, no programa Audacity 1.3 Beta.
Foram utilizados apenas cortes secos. E por não conter imagens, foi considerada a melhor
opção deixar os depoimentos sem background, para não tirar o foco do conteúdo falado. As
entrevistas não passam de 3 minutos em média, para que não se tornem cansativas para o
leitor da reportagem.
2 www.youtube.com
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Todos os áudios foram hospedados no Sound Cloud ³, site gratuito destinada esse
tipo de arquivo3.
3.2.3 Outros recursos
Com o intuito de melhor ilustrar alguns temas, foram desenvolvidas ilustrações que
pudessem dar suporte ao texto e aos vídeos.
Figura 1 – Reprodução do uso de ilustrações Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/foradoeixo
3 www.soundcloud.com
26
O Google Maps foi um recurso utilizado para situar geograficamente a ocupação do
“Circuito Fora do Eixo” no país. Foram marcados todos os coletivos que compõem a rede.
Além das marcações, foram colocados os links dos sites e blogs de cada coletivo e a logo
de cada um, possibilitando posteriormente o reconhecimento do coletivo e o conhecimento
do trabalho produzido por cada um.
3.3 Construção do site
A construção do site foi feita com a ajuda do amigo e ex-aluno do Curso de
Comunicação Social da UFV, André Pacheco. André se dispôs no começo do trabalho a
confeccionar um template exclusivo para o trabalho. Com isso, foi preparado um briefing –
orientação sobre o que se pretende com o produto, expressão muito usada na publicidade -
no qual foram detalhadas as ferramentas e necessidades que a reportagem multimídia
precisaria ter. A plataforma escolhida para desenvolver a reportagem foi o Wordpress, por
ser hoje mais fácil em seu manuseio e por possuir melhores ferramentas na composição de
um site.
Ao longo dos meses, a construção dos vídeos, áudios e fotos foram feitos
separadamente, sem a perspectiva de como o template ficaria. Infelizmente, a data de
entrega estipulada para a entrega do mesmo não foi comprida e foi adiada de acordo com as
demandas pessoais e profissionais de André, sendo finalmente entregue três semanas depois
do combinado. Todo esse processo foi tornando difícil a construção e finalização da
reportagem. Mas conseguimos contornar os problemas a tempo.
3.3.1 Hospedagem
A escolha da hospedagem da reportagem multimídia foi feita graças ao
direcionamento do professor Carlos d’Andréa em hospedá-lo em subdomínio do site do
Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa. Pensando que a
27
reportagem não teria continuidade após a sua apresentação como Trabalho de Conclusão de
Curso, não foi visto a necessidade de ter um domínio próprio.
Nesse sentido, foi escolhido o nome Música Fora do Eixo para compor o endereço
do site, já que sintetizam os dois pontos principais da reportagem (música + Fora do Eixo).
Assim, o endereço permaneceu como www.com.ufv.br/musicaforadoeixo.
3.3.2 Estrutura do Site
O site apresenta uma página inicial de rolagem horizontal que dá acesso às páginas
onde a reportagem multimídia está contida. Cada página apresenta uma foto/imagem
principal, que aparece tanto na Home com na sua página individual de cada conteúdo. Elas
estão ligadas aos temas propostos em suas respectivas páginas. No rodapé da home existe
uma aba chamada “Sobre o Projeto” que se expande e apresenta um resumo do contém o
site, assim como informações sobre os seus objetivos.
Figura 2 – Reprodução da home do site
Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo
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Nesta página, o conteúdo se apresenta de forma vertical. Cada post contém um
subtítulo, que se apresenta como uma chamada, dando uma prévia do que cada página vem
tratando. Todas as postagens apresentam a opção de compartilhamento nas redes sociais
Facebook e Twitter, possibilitando a divulgação da reportagem.
Para torná-lo mais funcional, ao lado de cada postagem foi colocada a listas de
todos os posts contidos na reportagem, podendo assim, facilitar o acesso a cada postagem
sem que seja necessária a volta a página inicial.
29
Figura 3 – Reprodução da divisão de páginas dentro dos posts
Fonte: www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/apresentacao
3.3.3 Publicação
A reportagem multimídia foi dividida em oito páginas, sendo que cada uma aborda
uma das ferramentas usadas pela Frente Musical do “Fora do Eixo” com as bandas e
produtores musicais. As páginas foram:
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Apresentação (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/apresentacao/) – Contém os
objetivos da reportagem multimídia e apresentando onde foi buscada as informações e entrevistas.
Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/fora-do-eixo/) – Apresenta e
conceitua o “Circuito Fora do Eixo” e suas frentes temáticas.
Frente Musical (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/frente-musical/) – Foca na
frente musical do “Fora do Eixo” apresentando melhor a frente, para que mas páginas seguintes o
leitor entenda suas ferramentas.
Agência Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/agencia-fde/) –
Conceitua e exemplifica como funciona a agência de bandas promovida pela rede.
Festivais (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/festivais/) – Apresenta a importância
dos festivais para a divulgação das bandas e a formação de público.
Distro Fora do Eixo (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/distro-fde/) – Apresenta a
distribuidora de cd´s e matérias das bandas parceiras. Esse material é distribuído para todo o país.
Divulgação online (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/divulgacao-online/) –
Mostra as ferramentas desenvolvidas para a divulgação na internet.
Futuro do circuito (http://www.com.ufv.br/musicaforadoeixo/futuro/) - Reflexão sofre o
futuro dessa nova forma de produção musical brasileira.
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4. Considerações finais
Imaginem um liquidificador em que se possa colocar as
ramificações da esquerda, com estratégias e lógicas de mercado das
agências de publicidade, misturando rock, rap, artes visuais, teatro,
um bando de sonhadores e outro de pragmáticos, o artista, o
produtor, o empresário e o público. Tudo junto e misturado. O
caldo dessa batida é uma nova tecnologia de participação e
engajamento que funciona de forma exemplar para a circulação e
produção musical, mas que acima de tudo é um grande projeto de
formação política. (Revista TRIP, ed. 199, maio de 2011)
O “Circuito Fora do Eixo” vem se mostrando uma forma de produção cultura forte e
muito bem articulada. Não se prendendo apenas na produção cultural, mas também na
formação de uma nova forma de sociedade. Jovens que vêm sendo exemplo de força de
vontade e trabalho incansável para transformar o país e a sua cultura.
Com início na música, essa rede de coletivos culturais pode fazer com que bandas
de todo o Brasil pudessem circular e criar novos públicos e novas relações com produtores
locais. Sem dúvida, vem se mostrando a forma mais facilitada para artistas independentes
de se promoverem, porque eles não só saem em turnês e fazem show, seus coletivos fazem
todo o processo de formação com os músicos para que eles tenham noção de todo o
processo que estão participando. A produção do seu trabalho é livre e consciente, o que se
acredita ser o ideal.
Todo o processo de produção da reportagem “Música Fora do Eixo” proporcionou
uma série de descobertas e conhecimentos que ficam muito além do recorte feito para o
projeto. Durante os meses de produção da reportagem multimídia foi possível um maior
contato com o “Circuito Fora do Eixo” vivenciando e trabalhando em três festivais de
música e artes integradas realizados por coletivos de Minas Gerais. Sem dúvida foi um
aprendizado sentido na pele do que é essa rede e o trabalho desses jovens que a compõe.
Momentos que fizeram diferença para a construção desse trabalho e para a vida. O que
acabou se apresentando como uma dificuldade, pois a imparcialidade ao escrever e editar
áudios e vídeos é importante e houve uma grande preocupação em não parecer
extremamente partidária.
32
É importante perceber que o “Fora do Eixo” é uma rede enorme e que abrange a
cultura de forma incisiva e aprofundada. Dialogando com o país todo e com suas principais
lideranças para fazer as coisas acontecerem. O contato com esse trabalho é enriquecedor,
cativante e só vem ganhando reconhecimento em vários setores da sociedade.
A produção de uma reportagem multimídia pareceu ser a melhor opção descrever o
trabalho da rede. Conectada cem por cento a internet, a utilização de links e referência a
arquivos online disponíveis do “Fora do Eixo”, foram indispensáveis. O processo é
trabalhoso e detalhado, mas o aprendizado, sem dúvida, vale muito a pena, pois o formato
possibilita uma maior liberdade tanto em produção quando em sua leitura. O leitor tem livre
escolha de seguir sua pesquisa sobre o assunto em outros sites, graças à utilização da
hipertextualidade. Uma dificuldade, no entanto, está ligada às questões técnicas,
principalmente na elaboração da estrutura do site, o que nos fez depender do apoio
voluntário de colegas externos a este trabalho.
O “Fora do Eixo” é um tema de muitas vertentes. Seu estudo é ilimitado, pois a cada
momento o circuito se ressignifica e se transforma. A contribuição desse projeto foi
entender e ilustrar como funciona seu trabalho na música, mas ciente que o conjunto de
tudo que o “Fora do Eixo” significa é algo bem maior e profundo, que perpassa as relações
interpessoais, sociais e políticas e que valem muito apenas ser conhecidas e estudadas em
sua totalidade.
33
5. Referências Bibliográficas
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