Post on 21-Jul-2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ECONOMIA
CONJUNTURA E MERCADOS CONSULTORIA JR (CMCJR)
Relatório de Economia Regional
“Dinâmica produtiva do café e do leite da Zona da Mata e Campo das
Vertentes”
Equipe
Coordenador Geral
Fernando Salgueiro Perobelli
Coordenadores Técnicos
Vinícius de Almeida Vale
Verônica Lazarini Cardoso
Assistentes de Pesquisa
Felipe Lanziotti
Túlio Mesquita Belgo
Juiz de Fora
2015
Conjuntura e Mercados Consultoria Jr (CMC Jr.) é um projeto de extensão desenvolvido na
Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por professores e
alunos de graduação e pós-graduação stricto sensu, voltado a análises macroeconômicas,
regionais, setoriais e de ativos específicos.
Missão:
Levar a Economia ao dia-a-dia das pessoas e ajudá-las na tomada de decisões
econômico-financeiras.
Áreas de Atuação:
Análises microeconômicas;
Análises regionais;
Acompanhamento de setores econômicos; e
Análises fundamentalistas.
Telefones: (32) 2102-3552
(32) 84874645
E-mail: cmcjr.ufjf@gmail.com
Blog: http://cmcjrufjf.blogspot.com.br
i
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS ................................................................................ ii
LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. iii
SUMÁRIO EXECUTIVO ......................................................................................................... iv
1. Café e Leite da Zona da Mata e Campo das Vertentes: uma breve contextualização ......... 7
2. Base de dados ...................................................................................................................... 8
3. Análise da estrutura produtiva do Café e do Leite na Zona da Mata e Campo das
Vertentes .............................................................................................................................. 9
3.1. Café da Zona da Mata e Campo das Vertentes ............................................................................ 9
3.2. Leite da Zona da Mata e Campo das Vertentes ......................................................................... 15
4. Considerações Finais ......................................................................................................... 21
Referências ............................................................................................................................... 22
ii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS
Gráfico 1 – Participação (%) de Minas Gerais na produção brasileira de café (2000 a 2012)... 9
Gráfico 2 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção brasileira
de café (2000 a 2012) ............................................................................................ 10
Gráfico 3 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção mineira de
café (2000 a 2012) ................................................................................................. 10
Gráfico 4 – Participação (%) de Minas Gerais na Produção brasileira de leite (2000 a 2012) 16
Gráfico 5 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção mineira de
leite (2000 a 2012) ................................................................................................. 16
Figura 1 – Rendimento médio da produção cafeeira de Minas Gerais (2012) ......................... 12
Figura 2 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2000) ....................................................................................................................... 13
Figura 3 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2006) ....................................................................................................................... 13
Figura 4 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2012) ....................................................................................................................... 14
Figura 5 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2000) ....................................................................................................................... 18
Figura 6 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2006) ....................................................................................................................... 18
Figura 7 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das Vertentes
(2012) ....................................................................................................................... 19
Tabela 1 – Dados de colheita e produção de café (2000, 2005 e 2012) ................................... 11
Tabela 2 – Dados de ordenha e produção de leite (2000, 2006, 2012) .................................... 17
iii
LISTA DE SIGLAS
AIC – Associação Internacional do Café
EMATER-MG – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
FAEMG– Federação da Agricultura de Minas Gerais
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMA– Instituto Mineiro de Agropecuária
SCAA – Associação Americana de Cafés Especiais
SEBRAE MINAS – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas
Gerais
SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática
UFSJ – Universidade Federal de São João Del Rei
VBP – Valor Bruto da Produção
iv
SUMÁRIO EXECUTIVO
1) O conjunto da Zona da Mata e Campo das Vertentes aparece em quarto lugar na
produção de café e em terceiro na produção de leite entre as mesorregiões mineiras.
2) No ano de 2012, o VBP de café na Zona da Mata foi de mais de R$ 1,5 bilhão e no
Campo das Vertentes se aproximou de R$240 milhões. O VBP do leite na Zona da Mata
foi de R$ 612 milhões, em 2012, enquanto que no Campo das Vertentes foi de R$ 300
milhões.
3) Em 2012, Minas Gerais foi responsável por 53% da produção nacional, uma evolução
considerável quando comparado com 2000, quando foi responsável por 43% da
produção de café brasileiro.Com relação à participação da Zona da Mata e Campo das
Vertentes no total nacional, as duas regiões respondiam por 7% do café brasileiro no
ano 2000, 9% em 2006, e, por fim, 10% em 2012.No ano 2000 as duas regiões, em
conjunto, responderam por aproximadamente 16% da produção estadual (Minas Gerais)
e em 2012 por 17%. Entretanto, o período foi marcado por grandes oscilações, com
grandes diferenças nas participações de um ano para outro.
4) Uma queda da produção estadual (Minas Gerias) de aproximadamente 3,44% é vista
entre 2000 e 2012. E de forma similar, uma queda de 12,94% entre 2000 e 2006 é vista
na produção da Zona da Mata. Entretanto, em termos de saldo final, de 2000 a 2012,
nota-se um acréscimo de aproximadamente 12,88%. Em termos de área colhida, é
possível observar que as três divisões geográficas, Brasil, Minas Gerais e as
mesorregiões, tiveram um aumento de área colhida para os anos em questão.
v
5) Por um lado, Brasil, Minas Gerais e Campo das Vertentes perderam produtividade
(Kg/Hc) no período, e, por outro lado, Zona da Mata teve um pequeno incremento. Os
municípios com maior rendimento médio concentram-se na faixa que compreende o
Cerrado Mineiro (onde partes das mesorregiões Nordeste e Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba se encontram) e a porção sul do estado. A média dos rendimentos vem
diminuindo na Zona da Mata e Campo das Vertentes, inclusive, o número de munícipios
com rendimento abaixo de 400 Kg/Hc vem aumentando nas regiões analisadas.
6) Diante do quadro negativo, principalmente com relação a produtividade é importante
reforçar a credibilidade e a confiança na qualidade do café da região. Uma forma
interessante de fazer isso é pela concessão de certificados de produção. Atualmente, há
duas certificações que abrangem a Zona da Mata: o “Certifica Minas Café” e o “Marca
Região das Matas de Minas”, ambas sediadas em Manhuaçu.
7) Minas Gerais foi responsável por 29,7% da produção nacional de leite no ano de 2000.
Após uma trajetória de queda até 2011, a produção teve um pequeno crescimento no
ano seguinte, sendo o estado responsável por 27,6% da produção leiteira do país em
2012.
8) No ano 2000, a Zona da Mata e Campo das Vertentes respondiam por aproximadamente
13,6% da produção estadual, entretanto, após grandes oscilações nos últimos anos, tal
produção foi de aproximadamente 12,2% em 2012.Entre 2000 e 2012 a produção
nacional aumentou 63,42%, e a estadual (Minas Gerais) 51,84%. Por outro lado, a Zona
da Mata e Campo das Vertentes tiveram um crescimento um pouco menos expressivo
no mesmo período: 32,12% e 38,84%, respectivamente. Em termos de rebanho e
produtividade, as três divisões geográficas tiveram aumento nos treze anos analisados
(2000 a 2012).
vi
9) O Campo das Vertentes se mostra uma região de destaque na produção leiteira em Minas
Gerais, concentrando municípios com altas médias de rendimento no ano 2000.
Entretanto, com o passar dos anos, esses bons resultados se espalharam também pela
Zona da Mata.
10) Como quase sempre, a libertação da “crise” de produtividade do leite passa pelo
treinamento e por incentivos corretos aos pequenos produtores dessas duas
microrregiões.
7
Relatório de Economia Regional
“Dinâmica produtiva do café e do leite da Zona da Mata e Campo das Vertentes”
1. Café e Leite da Zona da Mata e Campo das Vertentes: uma breve
contextualização
É inegável a importância do café e do leite para a economia mineira, estado líder na
produção de ambos. O reflexo dessa importância da produção cafeeira e leiteira fica evidente
quando se faz uma análise da estrutura produtiva dos municípios de Minas Gerais, sendo
possível observar que alguns municípios têm suas economias quase que completamente
apoiadas nesses dois gêneros agropecuários.
Em termos de produção cafeeira, as mesorregiões de Minas Gerais com maiores valores
de produção são: Noroeste; Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; Sul e Sudoeste Mineiro; Zona
da Mata e Campo das Vertentes, nesta ordem. E em termos de produção leiteira, as
mesorregiões com maiores valores de produção são: Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; Sul e
Sudoeste Mineiro; Zona da Mata e Campo das Vertentes, nesta ordem. Ou seja, o conjunto da
Zona da Mata e Campo das Vertentes aparece em quarto lugar na produção de café e em terceiro
na produção de leite.
No ano de 2012, para se ter uma ideia, o valor bruto da produção (VBP) de café na Zona
da Mata foi de mais de R$ 1,5 bilhão e no Campo das Vertentes se aproximou de R$ 240
milhões. A importância desse produto para os pequenos municípios das duas regiões fica
evidente quando se constata que os pequenos produtores, aqueles cujas propriedades alcançam
no máximo cinquenta hectares1, representam aproximadamente 88% dos produtores de café da
Zona da Mata e cerca de 82% dos produtores do Campo das Vertentes.
No mesmo ano, 2012, o VBP do leite na Zona da Mata foi de R$ 612 milhões, enquanto
que no Campo das Vertentes foi de R$ 300 milhões. Cabe ressaltar que a Zona da Mata possui
142 municípios, enquanto que o Campo das Vertentes possui apenas 36, o que explica de certa
forma a diferença nos valores supracitados.
A importância da produção cafeeira e leiteira é evidente para a economia mineira como
um todo. Entretanto, o presente relatório de pesquisa tem como foco principal duas
1Classificação dos produtores segundo a Lei Federal n° 11.428 de 22 de dezembro de 2006.
8
mesorregiões especificas de Minas Gerais: Zona da Mata e Campo das Vertentes. O objetivo
principal consiste em analisar a estrutura produtiva do café e do leite através do rendimento
médio desses produtos na Zona da Mata e Campo das Vertentes nos anos recentes, 2000 a 2012.
Além disso, o relatório tem como objetivo secundário apresentar uma síntese e
importante discussão acerca das alternativas de fomentar a produtividade desses gêneros e
elevar definitivamente a participação das regiões na produção total do estado de Minas Gerais,
e por conseguinte, no total nacional.
Para tanto, o relatório de pesquisa está dividido além dessa breve
introdução/contextualização da seguinte forma: a segunda seção descreve de forma sucinta a
base de dados, a terceira apresenta os resultados analíticos para a economia do café e do leite,
e por fim, a quarta seção traz as considerações finais.
2. Base de dados
A base de dados utilizada neste estudo é construída a partir de informações do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais especificamente do Censo Agropecuário
disponível pelo Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA).
As variáveis escolhidas para fazer a análise da produção cafeeira são: área destinada a
colheita; área colhida; quantidade produzida; valor da produção; e rendimento médio. E as
variáveis escolhidas para se fazer a análise da produção leiteira são: número de vacas
ordenhadas; quantidade produzida; valor da produção; e produção média por vaca ordenhada
(calculada a partir dos dados obtidos). Cabe ressaltar que tais variáveis foram extraídas para o
estado de Minas Gerais e para os municípios pertencentes as mesorregiões da Zona da Mata e
Campo das Vertentes, e para o seguinte período: 2000 a 2012.
9
3. Análise da estrutura produtiva do Café e do Leite na Zona da Mata e Campo das
Vertentes
3.1.Café da Zona da Mata e Campo das Vertentes
Os Gráfico 1 a Gráfico 3 mostram a participação relativa de Minas Gerais na produção
brasileira de café, da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção brasileira, e da
produção da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção mineira, respectivamente.
A partir do Gráfico 1 é possível observar, por exemplo, que em 2012, último ano da
análise, Minas Gerais foi responsável por 53% da produção nacional, uma evolução
considerável quando comparado com o ano inicial da análise,2000, quando foi responsável por
43% do café brasileiro.
Gráfico 1–Participação (%) de Minas Gerais na produção brasileira de café (2000 a
2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Com relação à participação da Zona da Mata e Campo das Vertentes no total nacional,
Gráfico 2, é possível observar que as duas regiões respondiam por 7% do café brasileiro no ano
2000, 9% em 2006, e, por fim, 10% em 2012. Ou seja, dado que se trata da produção brasileira
como um todo, é possível afirmar que tais mesorregiões se destacam no que tange a participação
na produção nacional de café. Além disso, é possível observar que com o passar dos anos a
importância relativa vem aumentando, apesar da queda observada em 2012 em comparação
com 2011.
40%
42%
44%
46%
48%
50%
52%
54%
MG/BR Linear (MG/BR)
10
Gráfico 2 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção
brasileira de café (2000 a 2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Por fim, o Gráfico 3 traz a participação da Zona da Mata e Campo das Vertentes no total
da produção mineira para o período de 2000 a 2012.No ano 2000 as duas regiões, em conjunto,
responderam por aproximadamente 16% da produção estadual e em 2012 por 17%. Entretanto,
cabe ressaltar que o período foi marcado por grandes oscilações, com grandes diferenças nas
participações de um ano para outro.
Gráfico 3 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção
mineira de café (2000 a 2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
5%
6%
7%
8%
9%
10%
11%
12%
ZM+CV/BR Linear (ZM+CV/BR)
15%
16%
17%
18%
19%
20%
21%
22%
23%
24%
Zm+CV/MG Linear (Zm+CV/MG)
11
Para fins de comparação em termos de colheita e produção, a Tabela 1 traz dados de
área colhida e produção em toneladas de café para três anos específicos, 2000, 2006 e 2012.
Além disso, a tabela traz informações para o Brasil como um todo, para o estado de Minas
Gerais e para as duas mesorregiões na qual o presente trabalho tem como foco, Zona da Mata
e Campo das Vertentes. A escolha de tais anos se dá pela maior abundância informacional.
Tabela 1 – Dados de colheita e produção de café (2000, 2005 e 2012)
Ano 2000 2006 2012
Região Produção
(toneladas)
Área
colhida Kg/Hc
Produção
(toneladas)
Área
colhida Kg/Hc
Produção
(toneladas)
Área
colhida Kg/Hc
Brasil 3.807.124 2.267.968 1.678 2.573.368 2.312.1
54 1.112 3.037.534
2.120.08
0 1.433
Minas Gerais 1.651.261 993.118 1.663 1.325.238 1.074.4
70 1.233 1.596.341
1.032.20
7 1.547
Zona da Mata 230.203 187.503 1.228 203.831 200.53
3 1.016 259.853 205.669 1.263
Campo das
Vertentes 39.635 23.955 1.655 39.585 27.459 1.442 37.925 26.507 1.431
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
É possível perceber uma queda da produção estadual (Minas Gerias) de
aproximadamente 3,44% entre 2000 e 2012. E de forma similar, uma queda de 12,94% entre
2000 e 2006 é vista na produção da Zona da Mata. Entretanto, em termos de saldo final, de
2000 a 2012, nota-se um acréscimo de aproximadamente 12,88%.
Entre 2000 e 2006, o Campo das Vertentes teve um decréscimo, mesmo que ínfimo, em
termos de produção. E de forma mais expressiva, uma diminuição de aproximadamente 4,31%
para o período como um todo, 2000 a 2012.
Em termos de área colhida, é possível observar que as três divisões geográficas, Brasil,
Minas Gerais e as mesorregiões, tiveram um aumento de área colhida para os anos em questão.
Dado as informações para produção e área colhida, é possível observar a produtividade2
das respectivas unidades espaciais. Por um lado, Brasil, Minas Gerais e Campo das Vertentes
perderam produtividade (Kg/Hc) no período, e, por outro lado, Zona da Mata teve um pequeno
incremento.
Além dessa análise em termos de produto, área colhida e produtividade, com o objetivo
de analisar espacialmente a produção cafeeira, a Figura 1 traz um mapa do rendimento médio
2 Entende-se por produtividade aqui quantidade produzida (kg) por área colhida (hectare).
12
do valor da produção (valor da produção por área colhida) para os municípios de Minas Gerais
no ano de 2012.Além disso, as Figuras 2 e 4 apresentam a concentração do rendimento da
produção do café em cada um dos municípios da Zona da Mata e do Campo das Vertentes para
os anos de 2000, 2006 e 2012, respectivamente.
A partir da Figura 1, como aludido na seção introdutória, evidencia que os municípios
com maior rendimento médio concentram-se na faixa que compreende o Cerrado Mineiro (onde
partes das mesorregiões Nordeste e Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba se encontram) e a
porção sul do estado.
Em termos de resultados para a Zona da Mata e Campo das Vertentes, Figuras 2 e 4, é
possível observar que a média dos rendimentos vem diminuindo nessas duas regiões, inclusive,
o número de munícipios com rendimento abaixo de 400 Kg/Hc vem aumentando nas regiões
analisadas.
Figura 1 – Rendimento médio da produção cafeeira de Minas Gerais (2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
13
Figura 2 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2000)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Figura 3 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2006)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
14
Figura 4 – Rendimento médio da produção cafeeira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Diante do quadro negativo, principalmente com relação a produtividade, a pergunta é:
o que fazer para reverter a situação? É importante reforçar a credibilidade e a confiança na
qualidade do café da região.
Uma forma interessante de fazer isso é pela concessão de certificados de produção.
Atualmente, há duas certificações que abrangem a Zona da Mata: o “Certifica Minas Café” e o
“Marca Região das Matas de Minas”, ambas sediadas em Manhuaçu.
O programa “Certifica Minas Café” é uma iniciativa do Governo de Minas Gerais
executada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(EMATER-MG) e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Para que seja certificada, a
propriedade deve cumprir 95 itens de produção. Atualmente, 214 municípios mineiros e 1.643
propriedades participam do programa (EMATER-MG, 2014a). O certificado “Marca Região
das Matas de Minas” foi criado em 2010 por meio de uma parceria entre o Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE MINAS) e a Federação
da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG). Um dos critérios para que o café receba a
certificação é possuir uma pontuação maior que 80 na tabela da Associação Americana de Cafés
15
Especiais (SCAA), da Associação Internacional do Café (AIC). Em 2013, 16% do café
produzido na Zona da Mata cumpriu esse requisito (REGIÃO DAS MATAS DE MINAS,
2014).
Ao certificar as propriedades produtoras de café, as entidades promotoras visam a uma
melhoria na gestão das propriedades, na preservação do meio ambiente e na qualidade e
rastreabilidade do produto. Como consequência dos processos pelos quais o café passa, as
certificações implicam num aumento no valor agregado do produto, bem como facilitam a
inserção dos produtores no mercado internacional, onde a exigência quanto aos processos de
controle de qualidade e segurança alimentar são maiores. Em julho de 2013, pela primeira vez,
um lote de café cultivado em propriedades inscritas no “Certifica Minas Café” embarcou para
a Europa. O café desse lote recebeu uma premiação de R$3,00 por saca sobre o preço de
mercado (EMATER-MG, 2014b). É um valor considerável, se for levado em conta que, em
2012, a Zona da Mata produziu 5 milhões de sacas.
O avanço prova aquilo que todo mineiro já sabe: que o café da nossa região tem
qualidade e potencial, só precisa dos incentivos corretos para mostrar seus atributos para o resto
do mundo.
3.2. Leite da Zona da Mata e Campo das Vertentes
A partir de agora, analisa-se a produção de leite nas Mesorregiões da Zona da Mata e
Campo das Vertentes, do estado de Minas Gerais. Os Gráficos 4 e 5 mostram a participação
relativa de Minas Gerais na produção brasileira de leite, e da Zona da Mata e Campo das
Vertentes na produção mineira, respectivamente.
O Gráfico 4 mostra que Minas Gerais foi responsável por 29,7% da produção nacional
de leite no ano de 2000. Após uma trajetória de queda até 2011, a produção teve um pequeno
crescimento no ano seguinte, sendo o estado responsável por 27,6% da produção leiteira do país
em 2012.
16
Gráfico 4 – Participação (%) de Minas Gerais na Produção brasileira de leite (2000 a
2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Gráfico 5 – Participação (%) da Zona da Mata e Campo das Vertentes na produção
mineira de leite (2000 a 2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
26.00%
26.50%
27.00%
27.50%
28.00%
28.50%
29.00%
29.50%
30.00%
11.00%
11.50%
12.00%
12.50%
13.00%
13.50%
14.00%
14.50%
CV+ZM
17
A partir do Gráfico 5, é possível observar que para o ano 2000, a Zona da Mata e Campo
das Vertentes respondiam por aproximadamente 13,6% da produção estadual, entretanto, após
grandes oscilações nos últimos anos, tal produção foi de aproximadamente 12,2% em 2012.
Para fins de comparação, a Tabela 2 traz dados de ordenha e produção de leite para os
anos 2000, 2006 e 2012. Cabe ressaltar que a escolha dos anos, assim como adotado para a
produção cafeeira, se dá pela maior abundância informacional.
Tabela 2 – Dados de ordenha e produção de leite (2000, 2006, 2012)
Ano 2000 2006 2012
Região Produção
(mil litros) Vacas L/vaca
Produção
(mil litros) Vacas L/vaca
Produção
(mil litros) Vacas L/vaca
Brasil 19.767.206 17.885.019 1.105 25.398.219 20.942.812 1.212 32.304.421 22.803.519 1.416
Minas Gerais 5.865.486 4.414.779 1.328 7.094.111 4.805.390 1.476 8.905.984 5.674.293 1.569
Zona da Mata 587.832 403.002 1.458 707.049 453.197 1.560 776.617 492.576 1.576
Campo das
Vertentes 259.058 139.689 1.854 295.017 141.442 2.086 359.671 172.539 2.084
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Entre 2000 e 2012a produção nacional aumentou 63,42%, e a estadual (Minas Gerais)
51,84%. Por outro lado, a Zona da Mata e Campo das Vertentes tiveram um crescimento um
pouco menos expressivo no mesmo período: 32,12% e 38,84%, respectivamente. Em termos de
rebanho e produtividade3, as três divisões geográficas tiveram aumento nos treze anos
analisados (2000 a 2012).
Em adição aos dados de produtividade apresentados, as Figura 5 a Figura 7trazem os
mapas de concentração para verificar o rendimento da produção do leite em cada município das
regiões para os anos de 2000, 2006 e 2012, respectivamente.
Em geral, através dos mapas e da tabela, o Campo das Vertentes se mostra uma região
de destaque na produção leiteira em Minas Gerais, concentrando municípios com altas médias
de rendimento no ano 2000. Entretanto, com o passar dos anos, esses bons resultados se
espalharam também pela Zona da Mata, como se pode observar nas Figura 6 e Figura 7, para os
anos 2006 e 2012, respectivamente.
3Entende-se por produtividade aqui quantidade produzida (litros) por vacas ordenhadas (vaca).
18
Figura 5 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2000)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Figura 6 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2006)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
19
Figura 7 – Rendimento médio da produção leiteira da Zona da Mata e Campo das
Vertentes (2012)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Apesar de animadores, os resultados acima ainda estão longe do ideal e apontam para
uma atual crise de produtividade leiteira no Brasil. Para se ter uma ideia, segundo IBGE (2012),
em 2012, a produtividade das vacas brasileiras foi de 1.416 litros de leite por vaca por ano. Já
para os Estados Unidos, por exemplo, foi de 9.593 litros (ICAR, 2012).
Esse prognóstico se confirma quando se cruzam os dados da produção de leite e do
tamanho do rebanho dos dois países. O Brasil, dono do segundo maior rebanho bovino do
mundo, possuía aproximadamente 215 milhões de cabeças de gado em 2012, contra 91 milhões
dos Estados Unidos. Apesar disso, o Brasil produziu aproximadamente 32 milhões de litros de
leite nesse ano, bem abaixo dos mais de 90 milhões dos Estados Unidos, hoje o maior produtor
do mundo (IBGE, 2012; ICAR, 2012).
Essa discussão pode ser facilmente transportada para o âmbito regional. Entre 2000 e
2012, a produtividade da Zona da Mata se manteve praticamente inalterada, indo de 1.458 litros
por vaca para 1.576 nesses doze anos (Tabela 2). Em parte, isso se deve ao relevo muito
acidentado e montanhoso das regiões, que assim como no caso das lavouras de café, dificulta o
aumento no volume e a mecanização da produção.
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O Campo das Vertentes teve um resultado mais animador, indo de 1.854 litros por vaca
para 2.084 no mesmo período (Tabela 2). Isso se deve em parte à parceria da Universidade
Federal de São João Del Rei (UFSJ) com entidades como Empresa de Pesquisa Agropecuária
de Minas Gerais (EPAMIG), EMATER-MG, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), IMA, entre outras.
De fato, apesar do baixíssimo grau de especialização dos rebanhos brasileiros, a
pesquisa científica em bovinocultura está a todo vapor no país. A EMBRAPA - Gado de Leite
já dispõe de diversas técnicas que prometem aumentar a produtividade do leite nos próximos
anos.
Dentre as técnicas mais modernas destacam-se: a automação, consistindo da robotização
da mão-de-obra e do desenvolvimento de sensores para o monitoramento de parâmetros físicos,
químicos e biológicos do rebanho; a nanotecnologia, podendo ser aplicada, por exemplo, na
criação de antibióticos nano estruturados para o controle da mastite; a seleção genômica, que
permite o melhoramento genético de raças leiteiras pela identificação de alelos indesejáveis
relacionados a doenças hereditárias; e biotécnicas reprodutivas, como a inseminação artificial
e a fertilização in vitro.
Certamente, os pequenos produtores – maioria na Zona da Mata e Campo das Vertentes
– não têm recursos para arcar com essas técnicas. Como mencionado, as regiões ainda contam
com o agravante do relevo extremamente acidentado, que dificulta a mecanização. A
EMBRAPA vem desenvolvendo outros procedimentos mais acessíveis como: a elaboração de
dietas voltadas para raças e climas específicos e rações especializadas que aumentam a
produção e melhoram as características do leite.
Como quase sempre, a libertação da “crise” de produtividade do leite por aqui passa
pelo treinamento e por incentivos corretos aos pequenos produtores dessas duas microrregiões.
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4. Considerações Finais
Em termos gerais, constatou-se neste estudo que a Zona da Mata e o Campo das
Vertentes, regiões historicamente relevantes na produção nacional de café e leite, vêm perdendo
sua importância nos últimos anos em detrimento principalmente de duas mesorregiões:
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; e Sul e Sudeste Mineiro.
Esse declínio é explicado em parte pelo fato de que as cadeias produtivas do café e do
leite das regiões apresentam um severo gargalo na produtividade, o que impede que elas se
tornem mais competitivas.
Uma vez que esses dois gêneros compõe a base do setor agropecuário da Zona da Mata
e do Campo das Vertentes, onde um grande número de municípios considerados pequenos têm
suas economias totalmente apoiadas nesses produtos, é de suma importância que a atual “crise”
do setor agropecuário regional seja superada.
Uma forma de contornar tal problema é pelo controle de qualidade, caso das
certificações de produção dada a produtores de café exemplares. Como abordado, atualmente,
há duas certificações que abrangem a Zona da Mata, o Certifica Minas Café e o Marca Região
de Minas, ambas sediadas em Manhuaçu. A primeira é uma iniciativa do governo de Minas
Gerais, a segunda é uma parceria público-privada.
Em suma, espera-se que as certificações impliquem em um aumento no valor agregado
do produto. Adicionalmente, tais certificações podem facilitar a inserção do produto no
mercado internacional, exigente nos processos de controle de qualidade e segurança alimentar.
De qualquer maneira, a situação da produção cafeeira no Brasil ainda é razoavelmente
favorável, uma vez que o país ainda é o maior produtor do gênero no mundo. A produção
leiteira, todavia, encontra-se em uma situação mais crítica. Para que se tenha uma ideia, o
rebanho bovino brasileiro é duas vezes maior que o rebanho estadunidense, mas sete vezes
menos produtivo.
Entre 2000 e 2012, a produção de leite da Zona da Mata e do Campo das Vertentes
cresceu a taxas mais baixas que as nacionais e estaduais. Particularmente na Zona da Mata, a
taxa de produtividade da produção manteve-se praticamente inalterada em doze anos. A
situação do Campo das vertentes foi um pouco mais animadora, principalmente devido às
parcerias da UFSJ com entidades agropecuárias diversas.
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Curiosamente, a pesquisa científica em bovinocultura está a todo vapor no país. A
EMBRAPA - Gado de Leite já dispõe de diversas técnicas que prometem aumentar a
produtividade do leite nos próximos anos, levando em consideração a acessibilidade aos
pequenos produtores, maioria na Zona da Mata e Vertentes.
O café e o leite continuam sendo as produções agropecuárias mais importantes da região,
contudo sua manutenção e crescimento demandam estudo, investimento e incentivo em
produtividade, para não somente representarem o maior cultivo e produção na região, como
também maior fonte de renda para os produtores locais.
Referências
EMATER-MG – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.
Balanço Financeiro 2011. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011.
_____ – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.
Certifica Minas Café deve atingir a marca de 1.700 propriedades certificadas em
2014a. Belo Horizonte, Minas Gerais,2014. Disponível em: < http://zip.net/bpqMpV>
_____ – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.
Programa é desenvolvido pela Emater - MG para adequar as propriedades cafeeiras
às normas internacionais. Belo Horizonte, Minas Gerais,2014b. Disponível em: <
http://zip.net/bqqMJ0>
_____ – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.
Relatório de Atividades 2011. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE: estatísticas de
produção pecuária. Brasília, Distrito Federal, 2012. Disponível em: <www.ibge.gov.br>
ICAR – International Committee for Animal Recording. Yearly milk enquiry.Roma, 2012.
Disponível em: <www.waap.it/enquiry>
IMEA – Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária. Diagnóstico da cadeia
produtiva do leite no Estado de Mato Grosso: relatório de pesquisa. Cuiabá: Famato,
2011.
REGIÃO DAS MATAS DE MINAS. Manhuaçu sedia o lançamento da marca Região das
Matas de Minas, que abriga 36 mil cafeicultores. Manhuaçu, Minas Gerais, 2014.
Disponível em: <http://zip.net/bgqLJp>