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1. Apresentação do grupo
O
Núcleo de Estatísticas sobre a Universidade (NEU) tem como objetivo realizar
pesquisas empíricas quantitativas e fornecer subsídios para as mais diversas discussões sobre a universidade pública. Trata-se de um grupo auto-organizado, formado apenas
por estudantes, cujo início se deu em um contexto de debates sobre o novo projeto
político-pedagógico da Faculdade de Direito da USP, e cuja motivação é derivada da
constatação, por parte do grupo, de que todas estas discussões teriam muito a ganhar
com o conhecimento da dimensão numérica da realidade à qual se referem. Acreditamos
que com a cooperação e confiança do corpo discente e a constante atenção ao rigor
metodológico é possível construir um debate mais qualificado e pautado na realidade.
Atualmente, o NEU conta com seis integrantes, tendo todos e todas ajudado na
elaboração deste relatório: Heloisa Bianquini Araujo, Rafael Viana Ribeiro, João Pedro
Favaretto Salvador, Matheus Zuliane Falcão, Rafael Edelmann e Vitória Oliveira.
2. Introdução e justificativa
Este relatório foi construído ao redor de dois objetivos principais: (i) obter um perfil
socioeconômico dos e das estudantes da Faculdade de Direito da USP; e (ii) realizar um
mapeamento das demandas materiais do corpo discente. Para tanto, realizamos um
survey eletrônico, divulgado pela rede social Facebook, com a duração de cinco minutos.
Esse questionário poderia ser respondido sem o preenchimento do nome, desde que
fosse fornecido o número USP, essencial para a comprovação de que o/a respondente
de fato é aluno da FDUSP. O
survey
foi divulgado tanto através de grupos de Facebook quanto através de mensagens eletrônicas enviadas diretamente aos alunos.
Decidiu-se que o recorte da pesquisa se limitaria a integrantes da turma 189. A
razão para isso é o fato de que esta turma teve uma forma de ingresso diferente de todas
as anteriores. Enquanto turmas que precedem a 189 tiveram seus e suas estudantes
selecionados apenas pelo exame da FUVEST, sem qualquer tipo de reserva de vagas, a
turma 189 teve 20% de seus e suas estudantes selecionados por outro exame, o ENEM
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(que, ao contrário da FUVEST, tem abrangência nacional), e estes mesmos 20% de vagas
foram reservados para egressos/as de instituições de ensino públicas.
A abrangência do ENEM pode ter como resultado o maior ingresso de alunos de
outros estados além de São Paulo, e a reserva de vagas para escolas públicas também
pode causar uma mudança de procedência social dos/as ingressantes, pela entrada de
mais pessoas menos favorecidas financeiramente. Portanto, justamente pela seleção da
última turma ter-se realizado de forma sui generis em relação a todas as outras, o que
provavelmente causou e causará algum tipo de mudança no perfil socioeconômico dos e
das ingressantes, e pela grande probabilidade desse modelo de processo seletivo ser
mantido durante os próximos anos da FDUSP, a turma 189 foi selecionada como recorte
de pesquisa.
Acreditamos que a relevância dessa pesquisa reside no ineditismo dos dados que
ela se propõe a organizar (como dados sobre gastos financeiros dos e das estudantes),
bem como no suporte empírico que ela pode proporcionar a qualquer discussão que
tangencie ou entre diretamente no tema da permanência estudantil. Acreditamos também
que ela mapeia as necessidades principais do corpo discente da FDUSP e dos/as
estudantes com bastante precisão (distinguindo renda própria, renda familiar, localização
da família, gastos com moradia, transporte, dentre outros) e considerável confiabilidade
(a amostra tomada, de 149 respondentes, corresponde a aproximadamente 32,4% do
total de ingressantes pela turma 189).
3. Metodologia utilizada
Tendo em vista a iminência de momentos de extrema relevância para o debate
acerca da permanência estudantil na FDUSP, além do contexto de greve estudantil, a
metodologia adotada por esta pesquisa foi a do survey (questionário) eletrônico, já que
ele possibilita que os e as respondentes possam responder às questões não
presencialmente. Ele consiste em um questionário a ser preenchido com uma série de
questões bem definidas e de rápida resposta. O método foi escolhido por ser o mais
viável para colher grandes volumes de dados de um grande número de pessoas com
rapidez (ainda mais proporcionada pelo survey estar em formato digital), sem relevantes
perdas em precisão. O preenchimento do formulário se deu por meio da plataforma de
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elaboração de formulários eletrônicos desenvolvida e gratuitamente proporcionada pela
Google (Google Forms) , sendo que os alunos levariam cerca de 5 minutos para responder
a todas as questões. Os dados recebidos em razão do preenchimento dos questionários
alimentaram uma base de dados que está disponível na íntegra, exceto pelo número USP
dos e das respondentes (substituído por um identificador numérico), no link a seguir:
http://bit.ly/263x4Jj
.
4. Apresentação e análise dos dados
Após a identificação do ou da estudante, por meio do número USP, pergunta-se o
período em que ele ou ela está matriculado, bem como se a forma de ingresso foi pelo
SISU ou pela FUVEST. A aproximação das porcentagens da amostra com as
porcentagens reais (as porcentagens estabelecidas pelos processos seletivos são de
48,9%/51,1% de alunos no período diurno e noturno, respectivamente, e 20% de alunos
tendo entrado pelo SISU) comprova a confiabilidade e a possibilidade de generalização
do espaço amostral. A variação no caso do período foi de 5,6% em relação às
porcentagens reais, e a variação por forma de ingresso foi de 5,5%.
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http://bit.ly/263x4Jj
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A próxima pergunta referia-se à idade dos e das ingressantes. Para obtermos os
perfis de quem ingressa em cada um dos processos seletivos, cruzamos os dados de
processos seletivos com os de faixa etária.
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De acordo com o gráfico, os e as ingressantes pela FUVEST possuem um perfil
esmagadoramente jovem: 78,4% dos ingressantes estão na faixa de idade de 16 a 20
anos. Já o ingresso pelo ENEM, apesar de ocorrer em sua maioria também por pessoas
muito jovens (55,3% estão na faixa de 16 a 20 anos), possui um perfil mais diversificado:
as outras faixas de idade respondem por 44,6% dos ingressantes.
A próxima pergunta era “Onde você mora?” , perguntando qual a localização do
domicílio dos e das respondentes, tendo como opções: (i) capital; (ii) região
metropolitana de São Paulo; e (iii) outras cidades.
Observa-se que, dentre os e as ingressantes do SISU, há uma maior porcentagem
de moradores/as da região metropolitana de São Paulo, de 23,7%; a mesma porcentagem fica em 14,4% para ingressantes da FUVEST.
A próxima pergunta foi sobre em que bairro os e as respondentes moram. A partir
disso, foi possível verificar em que zonas da cidade de São Paulo se distribuem os e as
estudantes. Observa-se que há uma quantidade relativamente grande de pessoas que
moram no centro: é possível que isso tenha relação com a localização da FDUSP (fica na
subprefeitura da Sé, região central de São Paulo).
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Na página seguinte, há um mapa (disponível em versão interativa no link:
http://bit.ly/1SGyFOv ) sobre a distribuição de estudantes provenientes do SISU e da
FUVEST nos bairros da capital e na região metropolitana. É importante atentar-se a
algumas informações para a compreensão do gráfico. Estudantes que passaram via
FUVEST estão representados/as em azul; os/as do SISU, em laranja.
Além disso, o tamanho dos círculos corresponde a um dado: o menor tamanho de
círculo representa um/uma respondente; os círculos maiores representam mais de
um/uma respondente, sendo 5 (cinco) o máximo de respondentes representados/as por
um mesmo circulo dentre ingressantes do SISU, e 14 (quatorze) o máximo de
respondentes simbolizados/as por um mesmo círculo dentre ingressantes da FUVEST. À
primeira vista, mesmo com a ressalva de que círculos maiores representam vários estudantes residentes no mesmo bairro, o número de pontos não parece corresponder
ao número total de respondentes. Isto se dá porque algumas respostas foram
descartadas, por não fornecerem informações que nos permitissem localizar o bairro
dentro do mapa da região metropolitana de São Paulo. Além disso, os pontos foram
colocados na posição central dos bairros declarados, podendo haver alguma
discrepância entre a localização do ponto e a localização real do/da respondente
É possível observar uma concentração razoável de estudantes na área central da
cidade, com destaque para os bairros de Vila Mariana, Bela Vista e Jardim Paulista.
Contudo, pode-se afirmar que a presença de estudantes em bairros não pertencentes ao
Centro Expandido não é desprezível: há uma concentração no Jabaquara, e diversos 1
pontos em pontos mais periféricos (ao menos em termos geográficos) da cidade, como
nos bairros do Rio Pequeno, Pirituba e Raposo Tavares (na Zona Oeste), Campo Limpo,
Vila Andrade, Capão Redondo, Sacomã, Cursino e Cidade Ademar (na Zona Sul),
Mandaqui e Tucuruvi (na Zona Norte), e Artur Alvim, Itaquera e São Miguel (na Zona
Leste). O mesmo pode ser dito em relação à presença em outras cidades da região
metropolitana, como Osasco, Carapicuíba, São Bernardo do Campo, Santo André, São
Caetano, Guarulhos e Cajamar (esta não foi enquadrada no mapa por falta de espaço).
1 Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego): “O Centro Expandido da cidade de São Paulo é uma área da cidade localizada ao redor do centro histórico, e delimitada pelo chamado minianel viário, composto pelas Marginais TIetê e PInheiros, mais as avenidas Salim Farah Maluf, Afonso d’Escragnolle Taunay, Bandeirantes, Juntas Provisórias, Presidente Tancredo Neves, Luis Inácio de Anhaia Mello e o Complexo Viário Maria Maluf. Esta região da cidade concentra a maior parte dos serviços, empregos e equipamentos culturais e de lazer da cidade, assim como a população de maior renda, salvo exceções.”
Esta área é delimitada para a realização da Operação Horário de Pico, popularmente conhecida como “rodizio”, que é uma restrição municipal à circulação de automóveis em função do número final das placas.
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http://bit.ly/1SGyFOv
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A pergunta posterior foi “Com quem vocêmora?” , e teve como opções: (i) sozinho;
(ii) com amigos/colegas; (iii) com a família/parentes; (iv) com outros estudantes, em
moradia estudantil da Universidade de São Paulo (CRUSP, Casa do Estudante etc); e (v)
com outras pessoas, em pensão. Os resultados apurados encontram-se no gráfico a
seguir.
Observa-se que, em relação a ambos os perfis de ingressantes, a maioria mora
com a família ou parentes. É interessante notar que, dentre os moradores de moradia
estudantil, quase todos são provenientes do SISU.
A pergunta seguinte pretendeu investigar se os e as estudantes, em sua maioria, já
eram de procedência local ou se vieram de outros lugares para realizar o curso de Direito
na FDUSP. A pergunta, de múltipla escolha, tinha como opções:
(i) vim de outra cidade
para estudar na USP; e (ii) já era da capital/região metropolitana. As respostas podem ser
visualizadas no gráfico exposto na página seguinte:
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A partir do gráfico da página 8, nota-se que o SISU serviu para diversificar o perfil
de ingressantes que já vieram de outra cidade, tendo uma maior variedade de pessoas
de outras regiões, com destaque para a região Sul.
Enquanto as questões mostradas anteriormente buscavam captar o perfil
socioeconômico de ingressantes, as questões a seguir são focadas especificamente em
dados de renda e nas demandas materiais dessas pessoas. A primeira indagação feita
nesse sentido foi: “Você trabalha ou estagia?” :
Como é possível observar, as porcentagens de (i) alunos/as que estagiam; e (ii)
alunos que não estagiam são praticamente as mesmas para ingressantes do SISU e da
FUVEST. A maioria não estagia, o que pode ser explicado pelo fato de que a pesquisa foi
feita entre estudantes do primeiro ano, e, como a maioria está numa faixa etária bastante
jovem (16 - 20 anos) e mora com a família (mais de 70% de respondentes, tanto para
SISU quanto para FUVEST), provavelmente não há a necessidade de complementar a
renda. Mais detalhes sobre estes aspectos serão fornecidos a seguir.
O próximo gráfico está relacionado à pergunta de múltipla escolha “No seu
emprego, você é…”, que continha as alternativas: (i) empregado/a do setor privado com
registro em carteira (CLT); (ii) empregado/a do setor privado sem registro em carteira; (iii)
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autônomo/a regularizado/a;
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autônomo/a não regularizado/a (informal);
(v)
funcionário/a público; (vi) empregador/a; (vii) profissional liberal; (viii) estagiário/a
remunerado/a no setor público; (ix) estagiário/a remunerado/a no setor privado; (x)
trabalhador/a familiar sem remuneração regular; e (xi) não estou empregado/a.
As porcentagens do gráfico acima são relativas apenas às pessoas que declararam
trabalhar ou estagiar no questionário. É notável a quantidade de funcionários públicos,
que são a maioria tanto dentre ingressantes do SISU que trabalham ou estagiam (50% do
total) quanto dentre o total de ingressantes (29%) do total. Ingressantes da FUVEST possuem um perfil ocupacional mais diversificado, com predominância de autônomos
não regularizados (26,3%). Empregos informais são mais comuns dentre quem fez
FUVEST (47,3% de todas as ocupações) do que dentre quem fez ENEM (25%). Os
estágios representam 22,6% das ocupações de primeiroanistas.
A próxima questão foi: “Se você estagia, qual o valor que recebe no estágio
(contando vale transporte e vale alimentação)?”. A questão era opcional (vários
respondentes poderiam não estagiar por estarem no primeiro ano) e teve apenas 7
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respondentes. Apesar da amostra ser muito pequena, é oportuno utilizá-la
ilustrativamente, sem pretensões de generalização, apenas para que se tenha noção da
remuneração recebida por um/a estagiário/a primeiroanista:
A questão seguinte foi:
“Somada a renda mensal de todos os membros do seu
domicílio, em qual faixa de renda domiciliar você se enquadra? (se sua família não mora
com você mas te ajuda em suas despesas, considere a renda da família)”. Os
ingressantes foram separados por modalidade de ingresso, e os resultados estão
adiante:
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É possível observar que a renda de ingressantes do SISU é substancialmente mais
baixa em relação a ingressantes da FUVEST, sendo bem mais da metade dos que
possuem a a faixa de renda mais baixa do gráfica, bem como muito menos da metade
dos que possuem a faixa de renda mais alta.
Além disso, existe uma quantidade substancial de estudantes com renda familiar
que pode ser considerada baixa: 18,4% possuem renda familiar entre R$ 881,00 a
3520,00. Há também uma porcentagem grande de estudantes (22,7%) que estão na faixa
de renda de R$ 3251,00 a 6160,00, o que, a depender do tamanho da família e das
necessidades dos/das integrantes dela, pode ser pouco.
Posteriormente, para avaliar as demandas individuais dos e das estudantes,
perguntamos o seguinte: “Qual a sua renda pessoal (o que você recebe, contando salário
de emprego ou estágio, bolsas de auxílio, dinheiro enviado pelos pais etc)?”. As respostas
obtidas estão ilustradas nos gráfico a seguir. Como a pergunta era aberta, consideramos
apenas as respostas que continham um valor numérico exato: foram descartadas
respostas como “depende” ou “ganho entre R$ 1000,00 e R$ 2000,00”. Além disso, não
foram incluídas respostas com o valor “0”, afinal, é bastante improvável que alguém de fato não tenha qualquer renda; a explicação mais plausível é que este tipo de resposta
seja de estudantes que não trabalham e não possuem fonte de renda pessoal, sendo
sustentados pela família.
O primeiro gráfico mostra a distribuição dos valores fornecidos por respondentes
que preencheram valores menores ou iguais a R$ 1000,00, referindo-se a um universo de
57 respostas:
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Tais valores podem ser provenientes de muitos lugares: podem representar o
valor de uma mesada, o valor recebido por um estágio, ou mesmo o valor de bolsas ou
auxílios da USP. Por isso, é importante entender que este gráfico não possui, sozinho,
grande força explicativa, devendo ser comparado a outros gráficos, como o de faixas de
renda mensal familiar, o de valores recebidos nos estágios e o de fração de pessoas que
recebem auxílios da Universidade de São Paulo. As mesmas ressalvas são válidas para
os outros gráficos, exibidos a seguir, sobre renda pessoal mensal.
O segundo gráfico refere-se a renda pessoal mensal como um todo (sem o limite de
R$ 1000,00 considerado anteriormente; e, para não tornar a visualização do gráfico ruim,
excluímos uma resposta, que declarava renda pessoal mensal de R$ 17000,00).
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curso quando receberam o survey. A questão foi: “Você sente a necessidade de estagiar
por motivos financeiros em um futuro próximo?”. Os resultados encontram-se no gráfico
a seguir, discriminados pela modalidade de ingresso do/da ingressante:
Considerando o total de respondentes, 54,3% das pessoas declararam a
necessidade de estagiar por motivos financeiros. É notável a disparidade das respostas
entre ingressantes da FUVEST e do SISU: mais de 70% dos respondentes do SISU
confirmaram ter esta necessidade, contra pouco menos de 50% dos respondentes da
FUVEST.
Depois, foi questionado o seguinte: “Você recebe algum tipo de bolsa ou auxílio
financeiro?”. Dos/das 149 respondentes, apenas 7 assinalaram respostas do tipo “sim”:
três marcaram
“Sim, da Universidade de São Paulo”;
dois marcaram
“Sim, de ONGs ou outras instituições privadas”, e um marcou “Sim, de programas do governo
federal/estadual/municipal.”
É interessante comparar as respostas a esta pergunta com as respostas dadas à
questão seguinte: “Você já tentou se inscrever para alguma bolsa da USP?”. Dentre o
mesmo número de respondentes da questão anterior, seis pessoas assinalaram “Sim, e
consegui” e dez assinalaram “Sim, e não consegui”; os/as restantes responderam “Não”.
A diferença entre o número de pessoas que responderam “Sim, da Universidade de São
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Paulo” na questão anterior e as que responderam a essa questão “Sim, e consegui” pode
ter diversas razões; dentre elas, destacamos: (i) incompreensão dos/das respondentes
acerca da pergunta anterior; e (ii) alguns estudantes podem ter conseguido auxílio do
SAS relativo ao semestre seguinte, mas não auxílios emergenciais correspondentes ao
primeiro semestre. Além disso, é possível observar uma demanda por auxílios da USP
que não foi satisfeita.
A pergunta seguinte foi “Se você recebe uma bolsa da USP, que tipo de bolsa é?”.
Dos/as 149 respondentes, apenas quatro marcaram respostas indicando o recebimento
de alguma bolsa da USP: três respostas referiam-se ao auxílio-moradia financeiro, e uma
referia-se a bolsa de monitoria/atividade de cultura e extensão. As ressalvas que fizemos
em relação às respostas da questão anterior também são cabíveis a estas respostas.
A questão “Você paga aluguel (nas questões sobre aluguel, considere como parte
do aluguel o valor do condomínio e do IPTU)?” tem suas respostas mapeadas no gráfico
abaixo (a porcentagem da fatia “Sim, moro com minha família e contribuo para o
pagamento do aluguel” não coube no gráfico, e é de 3,4%):
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Segundo o gráfico, 20,2% dos/das estudantes são, de alguma forma,
responsáveis pelo pagamento do aluguel de suas residências. A pergunta seguinte, com
o objetivo de mapear as necessidades materiais do corpo discente, buscou apurar qual o
valor pago pelos aluguéis. Tivemos 27 respostas que trouxeram valores fixos:
Nota-se, a partir do gráfico, que os valores desembolsados em aluguéis giram em
torno de R$ 500,00 a 1500,00.
Depois das questões sobre moradia, foi abordado o tema do transporte. Em
primeiro lugar, procurou-se apurar os meios mais usados para o transporte até a
Faculdade. Os resultados estão na imagem a seguir:
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A opção “Bicicleta, skate, patins”, cuja porcentagem não coube no gráfico, teve
1,3% de respondentes. As opções “Táxi/uber” e “Van/fretado” não chegaram a ser
assinaladas por qualquer um/uma dos respondentes. Os dados mostram uma preferência
esmagadora pela utilização de transporte público.
Dentro do tema, a pergunta posterior foi: “Você gasta seu dinheiro para se
transportar até a Faculdade?”, cujas respostas foram:
As respostas “Não (outros motivos, como por exemplo, ir de carona com os pais ou
com amigos)” representaram 5,4% do total. Segundo o gráfico, a quase totalidade do
corpo discente possui gastos com transporte. A próxima questão buscou mapear a
extensão de tais gastos: “Se você gasta, quanto gasta mensalmente com transporte para
ir à Faculdade?”. No gráfico da página seguinte, tais valores estão consolidados. Foram
consideradas apenas as respostas que forneciam um número exato (ou seja, descartamos respostas do tipo “gasto entre R$ 100 e 200”; mas consideramos respostas
como “aproximadamente 100 reais”) e acima de 1. Além disso, foram arredondados
valores que contavam centavos.
Observa-se, a partir da figura, que 75,8% das pessoas que possuem gastos com
transportes desembolsam valores entre R$ 51,00 e 200,00, sendo esta demanda material
facilmente mensurável.
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A pergunta seguinte buscou mensurar valores gastos na alimentação, sendo esta
uma pergunta aberta, cujas respostas estão organizadas abaixo. As observações feitas
acerca de quais respostas foram consideradas quando se perguntou valores gastos com
transporte cabem a estes dados (bem como aos dados de saúde e higiene básica que
serão mostrados logo adiante).
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Pode-se observar que a maioria dos/as respondentes (49,6%) marcaram valores
entre R$ 1,00 e 200,00. Quanto a este dado, é importante fazer duas ressalvas sobre
valores muito baixos:
(i)
algumas pessoas podem declarar gastar pouco com comida por
fazerem suas refeições em suas casas, junto com a família, a qual arcaria como um todo
com os gastos com alimentação; (ii) nem sempre o que os/as respondentes declaram
gastar corresponde às necessidades e demandas reais, podendo ser valores menores
que o necessário para sua alimentação. Foi recebida, inclusive, uma resposta em que o/a
discente declarava passar fome quando estava na Faculdade.
Sobre alimentação dentro da Faculdade, é importante saber que a FDUSP oferece
apenas duas refeições diárias, ao contrário do campus do Butantã, que também oferece
o café da manhã; além disso, ela não oferece refeições aos finais de semana, feriados e recessos. Se um/uma estudante almoçar e jantar por 20 dias (normalmente, esta é a
quantidade de dias úteis em um mês) no bandejão da FDUSP, ele ou ela gastará R$
76,00. Lembrando que outros gastos diários com alimentação são necessários, como o
já mencionado café da manhã, bem como eventuais refeições à tarde ou à noite.
O gráfico a seguir mostra valores gastos em produtos de saúde e higiene básica, e
revela que a maioria dos/as respondentes gasta até R$ 100,00 com este tipo de produto:
A pergunta posterior, “Você é pai ou mãe?” teve apenas duas respostas positivas,
dentre 149 respondentes. Todos eram pais.
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A penúltima pergunta, aberta e cuja resposta era opcional, era: “Qual a renda que
você acredita que seria a mínima necessária para você viver com dignidade?”. A pergunta
usou o termo “você” para aproximar os/as respondentes da problemática da questão. A
partir das respostas, foram cruzados dados de renda pessoal mensal e de renda mínima
que os/as respondentes alegaram necessária. Os resultados estão nos gráficos a seguir,
separados por respondentes egressos/as da FUVEST (em vermelho) e do SISU (em
amarelo):
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Tanto a renda ideal quanto a renda real são mais elevadas no gráfico da FUVEST.
Além disso, é interessante observar que, em ambos os gráficos, as rendas consideradas
ideais para uma pessoa viver com dignidade concentram-se entre o intervalo de R$
500,00 a 3000,00.
Por fim, o questionário trouxe uma pergunta bastante aberta e opcional (não
precisava ser respondida para o envio do questionário), com o objetivo de medir a
percepção dos e das estudantes sobre suas condições materiais e sobre a pertinência e
possível importância da Universidade como garantidora da permanência estudantil.
Dentre as 62 respostas recebidas,
cinquenta e três expressaram uma visão positiva
sobre a pauta da permanência estudantil, sua melhora e expansão;
sete respostas não
abordaram de fato o tema; e apenas
duas expressaram uma visão contrária à importância e à necessidade de melhora e expansão dos programas de permanência
existentes. Além disso,
trinta e nove
respostas continham críticas sobre as políticas de
permanência atuais e sobre a forma com que essa questão vem sido tratada na FDUSP e
na USP como um todo.
A seguir, reproduzimos integralmente as respostas que abordaram o tema da
permanência, apenas ocultando nomes de pessoas que foram citadas:
“A faculdade deveria fazer de tudo para que o aluno não precise trabalhar ou
estagiar durante o curso - pelo pouco que vi, Direito é uma área de conhecimento que se
beneficia muito de dedicação e esforço.“
“ A USP tem critérios muito rígidos de concessão de bolsas. Quase ninguém
consegue preenchê-los. Além disso, durante greves dos funcionários as bolsas são
suspensas, o que leva a uma insegurança muito grande de quem depende de bolsa. O
que realmente funciona é o bandejão, pois todos têm acesso.“
“A USP e a Faculdade de Direito deveriam, na medida de suas capacidades,
ampliar instrumentos de permanência para quem não tem recursos suficientes.”
“ Fraca política de permanência , sem incentivo, e mascarada por uma sensação
de ‘fazemos o que é possível’”.
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“Já possuo outra graduação e trabalho na área. Só consigo morar em SP por
causa disso, pois meus pais teriam q fazer um esforço para me manter aqui com a renda
deles. Caso não trabalhasse, dependeria de fazer algum estágio para manter a
graduação, ainda mais considerando os preços de SP. Todo mundo em casa trabalha
e por isso aumenta a renda total.”
“ Permanência estudantil não pode se resumir a bolsas. Acredito que a
comunidade discente tenha consciência disso, porém o corpo docente não. E mesmo
elas faltam.”
“Não tenho necessidade de permanência estudantil. Moro em São Paulo com
meus pais. Porém,
acredito que para uma pessoa que venha do interior é muito difícil viver em São Paulo sem ajuda de custos. A Casa dos Estudantes que é uma
opção de moradia para os alunos de Direito não possui condições adequadas para os
moradores e a faculdade não ajuda com a manutenção desta. A ajuda de custos prestada
pela faculdade é insuficiente, tendo em vista o custo de vida numa cidade como São
Paulo.”
“Deveria ser melhor discutido, levado mais a sério .”
“ A necessidade de o Centro Acadêmico bancar a única medida de
permanência que contempla alunos da FD (Butantã é inviável, pela distância e
dificuldade de conseguir) diz muito sobre a postura da Faculdade sobre isso.” [falando
sobre a Casa do Estudante]
“Pelas palestras assistidas vejo que falta apoio de todos os tipos para a casa do
estudante.”
“A Faculdade de Direito e a Universidade de São Paulo tem sistemas pífios de
permanência estudantil. No entanto, a Universidade, ainda que precariamente mantêm o
Crusp, enquanto a FDUSP delega ao centro acadêmico, entidade privada de
representação dos estudantes, a função de garantir moradia aos seus estudantes.
Essa situação é inadmissível.”
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“USP: dificuldades de conseguir os auxílios e o acesso é dificultado à FDUSP por
causa da distância com a Cidade Universitária. FD: não tem nada relacionado a
permanência estudantil.”
“ A permanência estudantil é extremamente negligenciada dentro dessa
faculdade/universidade.”
“Sou um pouco ignorante sobre o assunto. Mas pelo o que eu ouço falar a
permanência estudantil não é boa na faculdade. Não há auxilio efetivo por parte da
instituição para os necessitados (não como deveria ter).”
“ A Faculdade não vê importância na permanência estudantil. Fui aprovada para receber uma bolsa e nunca recebi o pagamento. Meu caso não chega a ser
crítico, pois moro com minha mãe, mas já tenho grandes dificuldades, imagino então para
aqueles que dependem mesmo das medidas de permanência estudantil da Faculdade,
elas são pouquíssimas e muito restritas, a pessoa acaba praticamente privada do acesso
à educação.”
“Acredito que haja falta de incentivo à permanencia estudantil e que a questao de
estagios deve ser avaliada pra que permita-se estagios, mas que busque impedir aqueles
que atrapalhem a formação dos estudantes.”
“Só olharmos para a situação atual da Sanfran para perceber que a permanência
passa longe das prioridades da faculdade... “
“A critica a forma como a USP trata a questão da permanência se resume a dois
pontos:
1. Devido a quantidade irrisória de auxílios disponíveis (diferente do que afirma o/a
prof. [nome omitido] ) as bolsas não se direcionam a quem precisa delas, mas a quem
MAIS precisa. Sendo assim, por mais que ela garanta a permanência de uma parcela
extremamente necessitada, ela exclui uma parcela que também precisa urgentemente das
bolsas (caso não precisasse não estaria recorrendo a elas), e afirmo isso com base no que
me foi dito quando requeri um auxílio moradia, a assistente social disse que eu me
enquadrava na situação de necessidade do programa, que imagina que seria muito difícil
manter-me só com o que meus pais podem me mandar (analisando meus gastos
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mensais), mas que infelizmente existem pessoas numa situação ainda mais difícil que a
minha então a prioridade seria delas e possivelmente não sobraria bolsa para atender a
minha faixa socioeconômica. 2. A burocratização no modelo de avaliação que eles
fazem para requerir auxílios também é falha. Conversei com pessoas que precisam
urgente de uma ajuda de custo mas não conseguiram provar que de fato estão
precisando pelo modelo como é feita a triagem econômica. Entendo que a situação
financeira de uma família está MUITO além de considerar a renda per capita dos
integrantes. E no que diz respeito a Faculdade de Direito não há o que se falar sobre a
questão da permanência porque a faculdade ignora totalmente as necessidades dos
estudantes. Não há espaço para permanência numa faculdade elitista como é a São
Francisco. A única forma de permanência que os alunos encontram é exterior a
faculdade, é através dos estágios, que sim, comprometem o aprendizado, mas é a única fonte de renda para quem precisa, nesse momento de cortes de bolsa pela USP. Se eles
argumentam que a política de proibir estágios visa a valorização das extensões,
porque não fornecem bolsas para alunos hipossuficientes que integram os grupos
de extensões da faculdade em vez de partir para medidas tão radicais? Não há
desvalorização das extensões pela maioria dos alunos, argumentar isso é ridículo. As
extensões só não estão cheias porque nem todos podem se dar ao luxo de passar tardes
no páteo em formação. Quem desvaloriza as extensões é a própria faculdade, é o diretor,
é a comissão de graduação e os membros da congregação.”
“O critério de seleção deve ser mais flexível. Nem sempre a análise da renda
familiar é suficiente para determinar se há ou não a necessidade de apoio da
Universidade.”
“ Crítico muito a USP não custear a casa do estudante, uma vez que é de
grande importância para a permanência estudantil de diversos alunos da FDUSP.”
“Acredito que apenas porque não sou da periferia não quer dizer que sou rica. É
muito difícil para minha família sobreviver em São Paulo com dois salários mínimos
e, apesar do meu interesse pela área de pesquisa e em extensões diversas, estou
enviando currículo para diversos lugares, pois necessito complementar a renda familiar.
Desta forma a faculdade desaparece do primeiro plano, que se torna ganhar
dinheiro.”
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“A entrada em uma universidade pública é algo realmente difícil, pelo menos para
um estudante advindo de escola pública. Conseguir entrar na USP, é um desafio maior
ainda. Um processo longo, árduo e, em certa medida, destrutivo. A dificuldade de se
manter estudando para o vestibular, sem contar com trabalho remunerado, é realmente
grande, desencoraja e desmotiva o estudante. Após esse processo, tendo o êxito de ter
conseguido entrar na universidade, o estudante depara-se com mais uma barreira: a de se
manter dentro faculdade. Primeiro se recorre às bolsas e fica claro que são escassas,
necessitando de certos pré-requisitos que, em suma, nem todos se encaixam, mesmo
precisando de auxílio. Logo, a segunda opção a que se procura é o estágio. Este, além de
possibilitar o conhecimento prático do ensino e demonstrar ao estudante o cotidiano do
profissional da área do Direito, proporciona uma remuneração ao aluno pelo seu trabalho.
Isto, além de garantir o auxílio à permanência do aluno na universidade, não suprido por esta, possibilita o acesso à cultura, saúde de qualidade, fomenta o estudo - já que, em
geral, livros jurídicos possuem valor elevado, vide a feira do livro da faculdade de direito -
e permite um curso melhor aproveitado pelo estudante. Diante disso, desconsiderando
vários pontos desse relato e ignorando a realidade social em que a universidade se insere,
a faculdade de direito decide, através do PPP, retirar do aluno a possibilidade de estagiar,
caso queira, ou precise. Sem dúvidas uma decisão contrária à inclusão e aos pontos aqui
defendidos.”
“A faculdade deveria se comprometer a fazer uma analise séria e comprometida da
realidade de seus alunos com o intuito de calcular bolsas direcionadas a alunos com
hipossuficiência econômica que os permitam viver com dignidade na cidade de SP, tendo
acesso não só às necessidades básicas, mas também ao lazer e à cultura.”
“Acredito que a ausência de programas com o foco na permanência seja o maior
problema. Acredito que se houvesse um programa de bolsas PARA PERMANÊNCIA (e
não de incentivo à Iniciação científica), ainda que cobrasse o desenvolvimento de algum
artigo por semestre, ou uma pesquisa ao longo de 2 anos p ex, a política seria realmente
eficiente e produtiva.”
“Negligencia, mantendo o elitismo há 189 anos.”
“Apesar de não precisar de nenhum auxilio de permanência estudantil, vejo que
existem pessoas que seriam beneficiadas e teriam uma maior tranquilidade para cursar a
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faculdade caso a bolsa de permanência fosse mais acessível. O que ouço por ai e que o
numero de estudantes que precisam de auxilio é muito maior do que número
contemplado pelas bolsas já existentes. Talvez isso se deva a má gerencia dos gastos da
faculdade ou mesmo da universidade como um todo, contudo, ate onde eu sei, os
estudantes não tem acesso aos dados administrativos da faculdade então não podemos
saber como o orçamento é aplicado. Sugiro que seja proposto algum tipo mecanismo
que garanta transparência dos gastos da universidade/faculdade. ”
“Aumentar a permanência para esta conseguir suprir as necessidades dos alunos
que precisem.”
“ A permanência estudantil na USP é vista com muito descaso
, pois poucos se preocupam.”
“ É urgente que o número de bolsas seja maior e que o valor das bolsas seja
incrementado. ”
“A USP não trata a questão com a urgência que a mesma requer.”
“ Acho que a FDUSP fecha os olhos para os horizontes que se abriram em todo
o país no que diz respeito à políticas de inclusão social na faculdade , tratando o
assunto con negligência.”
“ A bolsa de permanência estudantil não contempla as reais necessidades de
um estudante e, além disso, as solicitações de bolsas demoram para serem atendidas.”
“-A Casa do Estudante, que hoje é financiada pelo Centro Acadêmico XI de Agosto,
deveria receber verbas diretamente da USP. - É preciso reformar e ampliar a Casa do
Estudante. -É preciso criar uma bolsa Vivência Estudantil no valor de um estágio no setor
público, aproximadamente R$650, para que alunos hipossuficientes não precisem estagiar
nos primeiros anos de faculdade. Dessa forma, esses alunos aproveitaram mais os
estudos do Direito e estariam disponíveis para as atividades extracurriculares e extensões
da USP e da FDUSP. ”
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“A permanência estudantil é absolutamente necessária para que alunos de baixa
renda consigam se manter na universidade. Para que a USP se concretize como
verdadeira universidade pública, deve investir em permanência. ”
“Por mais nobre que seja a iniciativa, é impossível saber do que precisam os alunos
enclausurado num departamento.”
“Pelo que percebi até o momento, não há políticas fortes em termos de
permanência e mesmo o pouco auxílio fornecido (casa do estudante, eventuais bolsas,
etc) é fornecido de forma negligente, sendo pouco (ou quase nada) efetivo.”
“A permanência estudantil deveria ser uma das prioridades da gestão universitária atual, no entanto sofre um processo de precarização acentuado, o que é extremamente
prejudicial à formação de uma universidade pública efetivamente.”
“ Acredito que a São Francisco, assim como toda a USP, deveria dar mais
atenção a questão da permanência, oferecendo mais bolsas, entre outras medidas.
Vejo que a USP é extremamente elitizada e branca e gostaria de uma faculdade mais
plural e democrática.”
“A casa do estudante precisa ser melhor financiada e deveriam haver mais bolsas,
uma vez que as do PAPFE não atendem a toda a demanda.”
“A minha permanência estudantil pessoalmente não foi tratada, meus pedidos de
bolsas foram negados, mesmo minha rendo sendo inferior a salário mínimo per capita, a
única bolsa a qual teria direito, por motivos alheios a minha vontade não pude receber por
conta da burocracia para o recebimento e por ser menor de idade.”
“Só acredito que é um absurdo não haver bolsas e eles ainda quererem cortar
estágios.”
“Embora eu não tenha me aprofundado quanto à situação, a questão da
permanência estudantil franciscana surge, frequentemente, com certo descaso,
principalmente ao que se refere na questão de moradia — o que acredito ser o cerne da
impossibilidade de inserção de classes mais baixas nas Universidades públicas.”
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“Não existe permanência estudantil, mesmo morando na casa do estudante é com
passa livre, a bolsa-auxílio seria insuficiente. Esses auxílios e cotas do ENEM são só
uma migué. A USP é elitista, racista e homofóbica, tal como sempre foi desde o Império,
no caso da FDUSP e de Vargas, na universidade como um todo.”
“Faltam muitas oportunidades de bolsa para estudantes que se encontram em
necessidade. Não apenas estudantes de outros estados, mas que moram muito longe da
faculdade e isso prejudica completamente sua qualidade de vida. A maior parte dos
estudantes vão atrás de bicos por falta de qualificação a fim de ajudar a renda familiar e,
assim, ficam com menos tempo ainda para se dedicar aos estudos. Além disso, sempre
existem questões de opressão familiar por motivos religiosos, de saúde, por LGBTfobia,
entre outras e isso não é levado em conta da mesma forma que a renda. A FDUSP não divulga, nem aborda os alunos com questões de permanência que existem na
universidade. Falta quantidade substancial de auxílios permanência, uma vez que, agora
20% das vagas são para estudantes oriundos de escola pública. Se antes o perfil do
ingressante ainda era de classe média ou média alta, isso não tem como estar mais longe
da verdade no momento. Uma quantidade segura e razoável para se ter em mente, seria a
de conceder algum auxílio permanência a pelo menos metade dos ingressantes, claro que
com critérios bem definidos e não aleatoriamente. Caso sobrassem bolsas, seriam
devolvidas à SAS como normalmente já o são. O descaso da FDUSP quanto à moradia
estudantil financiada pelo XI de Agosto é alarmante e já é mais que urgente que a
verba da unidade sirva para manter a Casa do Estudante. Dessa forma, a FDUSP
deixará de estar um passo atrás da Medicina e da Poli, que destinam verbas
próprias para bolsas de permanência estudantil, inclusive financiando moradias
estudantis. Com toda a certeza esses 1000 reais a cada estudante mudarão
completamente seus estilos de vida e o desempenho em suas graduações e, finalmente,
cumprirão com o compromisso pela permanência que deve ser seguido pela
universidade.”
“Faltam bolsas de permanência estudantil, a realidade da faculdade é totalmente
descompassada com a realidade dos alunos ingressantes de escolas públicas.”
“Hoje em dia em não preciso de políticas de permanência estudantil, mas na minha
primeira graduação fui moradora do CRUSP e posso afirmar que as iniciativas de
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permanência estudantil foram cruciais naquele momento da minha vida , pois pude
concluir a graduação com um pouco de tranquilidade.”
“Necessita oferecer mais bolsas de iniciação a pesquisa e trabalho.”
“ A USP e a Faculdade de Direito deveriam oferecer atividades remuneradas na
própria instituição. Não me importaria de auxiliar no funcionamento da instituição para
poder ter condições mais humanas de viver em São Paulo.”
“Tratam o assunto com descaso e descompromisso. Não há clareza nas motivações
das decisões institucionais em relação ao investimento e destinação de verba. Além de
faltar um suporte pedagógico e psicológico atuante que auxilie os alunos, esses são
deixados à própria sorte.”
“Há uma rejeição ao tema 'permanência estudantil' por parte de alguns órgãos da
universidade, sendo que esse é um assunto para ontem. A permanência estudantil
deveria ser valorizada, acolhida, pautada e estimulada, porém o que vemos muitas
vezes é o descaso. ”
“Retorno do auxilio transporte, principalmente para alunos que vem de outras
cidades/Auxilio mais concretos envolvendo extensão e pesquisa - não tenho interesse em
estagiar/trabalhar, acredito que não precisarei, apenas em caso de necessidade, ao qual
trocaria facilmente por um programa de iniciação cientifica remunerado, por
exemplo/Discutir formas de bolsas mais concretas e alternativas à USP para FD, como já
ocorre na POLI e na Pinheiros.”
“A USP não incentiva a permanência!”
“De acordo com o que venho acompanhando das reuniões/pautas da faculdade, há
um descaso com aqueles que necessitam de, por exemplo, Bolsas de Permanência. Os
critérios para consegui-las não parecem ser vinculados à realidade (principalmente pelo
alto custo de vida em São Paulo); além disso, há muitos que estão apenas um pouco
acima do limite estipulado, não sendo então contemplados pelo benefício solicitado.”
“Não, acho que tanto a USP quanto a FD oferecem grande número de
incentivos à permanência estudantil . Dentro do quadro atual de recessão econômica
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do nosso país, bem como de corte de investimentos públicos, espero sinceramente que
sejamos bem sucedidos em não sofrer o corte desse tipo de programa.“
“Acho que a FD tem outras coisas mais sérias para se preocupar, como o ensino
em si.”
5. Conclusão
A partir dos dados trazidos neste relatório, inúmeras conclusões são possíveis. As
variáveis presentes em nosso banco de dados (cujo link está disponível no capítulo 3 -
Metodologia utilizada) podem ser cruzadas e relacionadas de diversas maneiras. Nosso
objetivo não é de forma alguma esgotar a discussão sobre permanência estudantil. Pelo
contrário: o propósito que norteou a elaboração deste documento foi justamente fornecer
uma primeira (mesmo que restrita) base empírica para o debate.
A partir dos gráficos sobre renda familiar mensal e renda individual mensal, é
possível inferir que, apesar da Faculdade de Direito da USP ter um perfil elitizado, há uma
parcela significativa do corpo discente que conta com baixa renda familiar, bem como
individual: 18,4% dos/as respondentes possuem renda familiar entre R$ 881,00 a
3520,00. Além disso, pode-se apontar que dentro dessa porcentagem há uma
participação significativa e proporcionalmente maior de estudantes selecionados/as pelo
ENEM: 30,77% destes/as estudantes possuem renda familiar baixa (de R$ 881,00 a
3520,00), contra 14,79% dentre os ingressantes pela FUVEST.
Além disso, por mais que poucos respondentes tenham declarado estagiar
(possivelmente devido ao recorte de pesquisa ser restrito a primeiranistas), uma
porcentagem expressiva de estudantes vê o estágio como possibilidade de satisfazer
suas necessidades financeiras: 54,3% dos/as respondentes relataram sentir necessidade
de estagiar por motivos financeiros em um futuro próximo. Isto pode ter relação com a
falta de esperanças do corpo discente em relação a bolsas e auxílios da Universidade de
São Paulo: apenas 4,9% declararam receber algum tipo de bolsa; e, dentre respondentes
que tentaram se inscrever para uma bolsa da USP, 55,5% não tiveram sucesso.
As demandas materiais abordadas no survey (moradia, transporte, alimentação e
saúde/higiene) são facilmente mapeáveis e quantificáveis. Os gastos com moradia giram
entre R$ 500,00 e 1500,00; os com transporte ficam em torno de R$ 50 a 200,00
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(provavelmente gastos com transporte público - 91,3% dos/as respondentes disseram
ser este seu meio principal de locomoção até a Faculdade); despesas com alimentação
frequentemente não passam dos R$ 200,00; e despesas com produtos de saúde e
higiene básica são aproximadamente R$ 100,00.
Sobre tais dados, em especial os de alimentação, consideramos pertinente repetir
as ressalvas que fizemos no momento da análise de dados:
“Quanto a este dado, é importante fazer duas ressalvas sobre valores muito baixos:
(i)
algumas pessoas podem declarar gastar pouco com comida por fazerem suas
refeições em suas casas, junto com a família, a qual arcaria como um todo com os gastos
com alimentação;
(ii)
nem sempre o que os/as respondentes declaram gastar corresponde às necessidades e demandas reais, podendo ser valores menores que o
necessário para sua alimentação. Foi recebida, inclusive, uma resposta em que o/a
discente declarava passar fome quando estava na Faculdade.
Sobre alimentação dentro da Faculdade, é importante saber que a FDUSP oferece
apenas duas refeições diárias, ao contrário do campus do Butantã, que também oferece
o café da manhã; além disso, ela não oferece refeições aos finais de semana, feriados e
recessos. Se um/uma estudante almoçar e jantar por 20 dias (normalmente, esta é a
quantidade de dias úteis em um mês) no bandejão da FDUSP, ele ou ela gastará R$
76,00. Lembrando que outros gastos diários com alimentação são necessários, como o já
mencionado café da manhã, bem como eventuais refeições à tarde ou à noite.”
Por fim, acreditamos que um dos principais indicadores do sucesso ou fracasso de
das políticas de permanência estudantil implantadas pela Universidade de São Paulo
estejam na avaliação que o corpo discente faz delas. Dentre as 62 respostas que
recebemos, há relatos, sugestões e reclamações dos mais diversos tipos: 53 pessoas
mostraram uma visão positiva sobre permanência estudantil; 7 não abordaram o tema;
apenas 2 expressaram opiniões contrárias quanto ao aprimoramento e expansão destas
medidas; além disso, 39 respondentes criticaram o tratamento dado, tanto na FDUSP
como na USP, à pauta da permanência estudantil. O que surpreende, dado que as
necessidades materiais do corpo discente são facilmente mapeáveis, e seriam mais ainda
se houvesse alguma iniciativa institucional para colher tais demandas.
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Com este relatório, esperamos ter contribuído de alguma forma para uma visão
calcada na materialidade das demandas estudantis, bem como para o desenho de
políticas públicas que tenham como objetivo satisfazer estas necessidades mais básicas
e urgentes. O Núcleo de Estatísticas sobre a Universidade coloca-se à disposição para
explicar e discutir quaisquer dados e afirmações contidas neste relatório.
Nota: Sobre permanência estudantil, recomendamos um relato bastante extenso e
detalhado feito por um aluno da USP, mostrando sua luta e as inúmeras dificuldades
pelas quais ele passou para obter moradia e auxílios da Universidade. O texto se chama
“A experiência universitária como uma interdição violenta de direitos”, foi publicado pela
revista Carta Maior, e está disponível no link a seguir (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/A-experiencia-universitaria-co
mo-uma-interdicao-violenta-de-direitos-II-o-inferno-da-permanencia/13/30238 ).
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http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/A-experiencia-universitaria-como-uma-interdicao-violenta-de-direitos-II-o-inferno-da-permanencia/13/30238http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/A-experiencia-universitaria-como-uma-interdicao-violenta-de-direitos-II-o-inferno-da-permanencia/13/30238
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